‘Quando a BBC World entrou com a notícia, no começo da manhã no Brasil, anunciou ‘um incidente importante’ que levou à suspensão de todo o metrô de Londres:
– A causa não está clara, mas a polícia diz que pode ser um pico massivo de energia.
Não demorou e a a explosão do ônibus, como o ataque à segunda torre em Nova York em 2001, confirmou que não era um ‘pico de energia’.
A BBC World passou então a reproduzir a BBC1, o sinal da rede pública, assim como a CNN passou depois a reproduzir a ITN, o canal britânico.
E logo a cobertura se mostrou diferente de tudo.
Os canais de notícias BBC, CNN e Sky News, de Rupert Murdoch, depois de muitas imagens repetitivas, começaram a mostrar cenas de vídeo sem foco, entrecortadas.
Na tela, a explicação ‘mobile phone image’. Eram cenas de curta duração captadas por celulares e enviadas pelos próprios usuários. Em uma delas se via, entre corpos pelo chão, o ônibus que explodiu.
Na maior parte, eram imagens escuras do metrô, onde o ataque fez mais vítimas.
Para além da TV, os celulares invadiram os moblogs, os blogs de telefones móveis, e depois os demais sites com fotos na mesma linha, do metrô.
A principal delas, tirada perto da estação King’s Cross e reproduzida em toda parte, veio acompanhada de um comentário do londrino Adam Stacey, que cobria o rosto:
– O trem parou e começou a ser tomado pela fumaça.
Ele enviou a foto de lá mesmo para o moblog, ficou intoxicado, mas ‘passa bem’.
Fora os canais de notícias e blogs, também os sites britânicos de imprensa se abriram ontem à colaboração.
Além de destacar os blogs dos próprios repórteres, os sites de BBC, ‘Guardian’ e ‘Times’ -que, diz a agência Reuters, bateram recorde de audiência- solicitavam nas páginas iniciais que os internautas enviassem relatos e fotos.
As descrições deles, editadas então sob títulos como ‘Suas histórias’, traziam declarações na linha ‘estavam chorando e gritando’ e ‘horror diante dos ferimentos’.
No final da tarde, horário do Brasil, o site do ‘Guardian’ já adiantava os textos que sairiam na edição de hoje.
Para registro, apesar de todo o esforço em Londres, veio do site alemão da ‘Der Spiegel’ a identificação do comunicado, num site em árabe, assumindo a autoria do atentado.
Além de britânicos como Harry’s Place e perfect.co.uk, também blogs brasileiros, como Blue Bus, seguiram o ataque em ‘live blogging’.
Para Marcelo Tas, ‘a melhor cobertura’ estava na blogosfera e portais. Para Tiago Dória, em sua página de mídia:
– O que se percebeu é que a mídia foi mais aberta à participação, algo visto no tsunami, mas de forma tímida. É uma maneira que os meios encontraram para enriquecer a cobertura e praticar o jornalismo participativo ou cidadão, tão discutido atualmente na web e nos meios acadêmicos.’
REFERENDO
Demétrio Weber
‘Armas: consulta popular será em 23 de outubro’, copyright O Globo, 8/7/05
‘BRASÍLIA. O eleitorado brasileiro decidirá no dia 23 de outubro se o comércio de armas de fogo e munição deve ou não ser proibido no país. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), promulgou ontem o decreto legislativo que regulamenta o referendo. Prevista no Estatuto do Desarmamento, a consulta popular corria o risco de ser adiada para 2006 por causa da demora da Câmara em aprovar a regulamentação, o que só ocorreu anteontem à noite.
Ontem mesmo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou que há tempo suficiente para organizar o referendo e divulgou o cronograma da votação. Na semana que vem, o TSE já lançará campanha institucional na TV para esclarecer o funcionamento do referendo, o primeiro realizado após a Constituição de 1988.
Eleitores responderão a uma pergunta nas urnas
No dia da votação, os eleitores serão chamados a responder a seguinte pergunta: ‘O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?’. A exemplo do que ocorre nas eleições, o voto será opcional para maiores de 16 anos e obrigatório a partir dos 18 anos.
A campanha a favor e contra a proibição do comércio de armas será feita por frentes parlamentares organizadas no Congresso e registradas no TSE — uma a favor e outra contra. As duas frentes parlamentares serão multipartidárias e, um mês antes do referendo, terão direito a propaganda gratuita em rede nacional de rádio e TV. Organizações não-governamentais e entidades deverão associar-se às frentes parlamentares.
O presidente em exercício do TSE, ministro Luiz Carlos Madeira, disse ontem que a duração dos programas em rede nacional e demais regras da propaganda gratuita só serão decididas após 19 de julho, quando reassume o cargo o presidente do tribunal, ministro Carlos Velloso.
Promulgação de decreto marca início da campanha
A promulgação ontem do decreto legislativo na presidência do Senado marcou ontem o início da campanha a favor da proibição do comércio de armas. Além de Calheiros, saudado como o idealizador da proibição, estavam lá o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o secretário de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, o presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), o senador José Sarney, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, além de parlamentares governistas e de oposição.
— O Estatuto do Desarmamento tira as armas daquelas pessoas que vão matar por casualidade: o homicídio passional, o homicídio do campo de futebol, a briga de trânsito, a briga entre marido e mulher ou a briga entre dois meninos — disse Bastos, reafirmando o combate à criminalidade propriamente dita passa por outras iniciativas, como o fortalecimento da Polícia Federal e a maior agilidade da Justiça.
Frente de Legítima Defesa tem 125 deputados
Calheiros citou estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), que mostra que 550 mil pessoas morreram vítimas de armas de fogo no Brasil entre 1979 e 2003, das quais 206 mil com idade entre 15 e 24 anos.
Contrário à proibição do comércio de armas, o deputado federal Alberto Fraga (PMDB-DF) preside a Frente Parlamentar de Legítima Defesa, que reúne 125 deputados, segundo ele. Fraga defende o direito de comprar armas, pois entende que o poder público não garante a segurança da população. Ele afirma que foram vendidas legalmente apenas 1.396 armas no país desde 2004, de modo que o problema estaria no comércio ilegal, que não será afetado pelo referendo. Fraga critica também o gasto que a Justiça eleitoral terá para realizar a consulta. Segundo o TSE serão gastos R$ 270 milhões. O deputado, porém, afirma que o custo será de R$ 564 milhões.
— Estão querendo impedir o cidadão de bem de se defender quando o Estado não consegue oferecer segurança. — afirmou Fraga.’
Mariângela Gallucci
‘Espaço aberto para lobby das armas’, copyright O Estado de S. Paulo, 8/7/05
‘Fabricantes e comerciantes de armas e munições poderão doar dinheiro para a campanha que as frentes parlamentares pró e contra o desarmamento farão nos próximos meses, informou ontem o presidente interino do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luiz Carlos Madeira. O TSE deverá analisar se empresas estrangeiras também poderão fazer doações.
Marcado para 23 de outubro, o referendo – que servirá para saber se a população brasileira quer ou não a proibição do comércio de armamentos – será semelhante a qualquer eleição. Apesar da demora na aprovação do decreto legislativo sobre o referendo, Madeira disse que a Justiça Eleitoral está em condições de realizá-lo. Durante o período de indefinição, o TSE tomou medidas, sem fazer gastos. Indagado se o TSE tem instrumentos para coibir o caixa 2 das campanhas, Madeira afirmou que essa não é uma tarefa da Justiça Eleitoral. ‘O problema do caixa 2 não é da Justiça Eleitoral. É da Polícia Federal e da Receita Federal. Caixa 2 provém, em regra, de sonegação’, disse Madeira.
O presidente interino do TSE afirmou esperar que as duas frentes parlamentares divulguem na internet a origem dos recursos das respectivas campanhas. Apesar de a divulgação não ser obrigatória, Madeira afirmou que a providência seria saudável. As frentes deverão ser formadas no Congresso e registradas no tribunal. Organizações da sociedade que quiserem participar terão de se agregar às frentes, explicou Madeira.
CAMPANHA NA TV
Um mês antes da realização do referendo, as duas frentes parlamentares terão direito de veicular programas eleitorais gratuitos. O tema dos programas terá de ser o discutido no referendo, ou seja, a proibição ou não do comércio de armas e munições. Eventuais desvirtuamentos poderão ser julgados e punidos pela Justiça Eleitoral. ‘As frentes têm de se responsabilizar pela propaganda. Não pode ser propaganda irresponsável’, disse Madeira.
Deverão ser gastos R$ 270 milhões para a realização do referendo. O presidente do TSE, Carlos Velloso, pretende aproveitar a ocasião para começar a fazer o recadastramento dos eleitores no Distrito Federal, Minas, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins.
A partir da próxima semana, deverão ser veiculadas propagandas nas quais os brasileiros que ainda não são eleitores serão chamados a se inscrever. O prazo para requisitar o título eleitoral vence já no dia 23 de julho. O voto é obrigatório a partir dos 18 anos e facultativo entre os 16 e os 18. Quem não estiver em seu domicílio eleitoral terá de justificar a ausência. Se a providência não for tomada, o eleitor terá de pagar uma multa irrisória, de 1 Ufir (R$ 1,60).’
SEXO NA REDE
Antônio Gois
‘Exibir sexo em sites é machismo, dizem pesquisadoras’, copyright Folha de S. Paulo, 8/7/05
‘A exposição e divulgação, por parte de adolescentes de classe média do Rio, de imagens de meninas que tiveram relações sexuais com eles é revelador de um machismo e de uma dificuldade de aceitar relações de gênero mais igualitárias. Essa é a opinião de especialistas e educadores que comentaram, a pedido da Folha, os dois episódios que se tornaram públicos nos últimos dez dias.
Em um deles, dois jovens, hoje com 17 anos, filmaram um deles mantendo relações sexuais com uma menina, também adolescente, sem que ela soubesse que estava sendo filmada. As imagens foram divulgadas na internet.
O outro caso também foi parar na internet e envolve três alunos do colégio Santo Inácio. Dois estudantes fizeram fotos -e divulgaram por e-mail- de uma aluna em cena de sexo oral com um deles em um dos banheiros do colégio. Os casos estão sendo investigados pelo Ministério Público.
Para Maria Luiza Heilborn, professora do Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e coordenadora do Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos, apesar de chocante, esse tipo de atitude entre jovens do sexo masculino não surpreende.
Heilborn coordenou uma pesquisa com 4.634 jovens de três capitais -realizada pela UERJ e pelas universidades federais da Bahia e do Rio Grande do Sul- e diz que esse tipo de comportamento foi detectado no levantamento.
‘Observamos que permanece um sexismo e um machismo bastante acentuado entre jovens de classe média. As meninas já podem ter relações sexuais sem estarem numa relação estável, mas ainda existe um julgamento moral principalmente sobre essas adolescentes que não têm um único parceiro sexual fixo’, diz.
Heilborn afirma que verificou, a partir dos resultados da pesquisa, que entre jovens de menor poder aquisitivo havia uma relação mais respeitosa com as garotas.
Para Sônia Corrêa, pesquisadora da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, houve uma revolução sexual silenciosa que permitiu às mulheres quebrarem vários tabus, mas que não foi acompanhada na mesma intensidade pelos homens.
‘Esses episódios mostram que os meninos estão usufruindo dessa liberação sexual por parte das mulheres, mas há um jogo duplo. Na aparência, eles se mostram mais liberais, mas, na alma, continuam com a mesma masculinidade convencional, com a concepção das mulheres como objetos.’
As duas pesquisadoras concordam também que a divulgação das fotos pela internet revela uma cultura de profundo desrespeito à privacidade. ‘Podemos dizer que essa menina que teve o vídeo divulgado foi vítima de uma forma de violência sexual’, diz Heilborn.’
Fernanda Pontes
‘Jovens que filmaram sexo são soltos’, copyright O Globo, 8/7/05
‘Os dois adolescentes acusados de produzir e divulgar um vídeo de uma menor mantendo relações sexuais com um deles saíram ontem de madrugada do Instituto Padre Severino, na Ilha do Governador. O desembargador Silvio Teixeira, da 5 Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, deferiu o pedido de hábeas-corpus apresentado pelos advogados dos jovens. De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio, o desembargador entendeu que a internação provisória dos menores constitui uma possível ilegalidade e eles devem aguardar a representação em liberdade. O advogado da adolescente, Roberto Fernandes, considerou a medida adotada pela Justiça como lamentável. Segundo ele, a jovem vai se mudar para o interior do estado:
— Os menores precisavam ter consciência do mal que fizeram para essa menina. A internação no instituto seria uma medida sócio-educativa, até porque eles estão de férias escolares e não perderiam aulas. Achei lamentável a decisão do desembargador — disse.
Segundo ele, o caso dos jovens tornou-se ainda mais grave porque, além de 22,2 gramas de maconha encontrados dentro do computador de um deles, peritos acharam imagens de outras meninas:
— A prática criminosa dos garotos foi reincidente, eles tinham filmado outras meninas em situação semelhante. Os adolescentes não poderiam ser soltos antes dos 45 dias previstos pela Justiça.
De acordo com o promotor da 2 Vara da Infância e da Juventude Felipe Cuesta, os adolescentes podem voltar ao Instituto Padre Severino caso a Procuradoria de Justiça da 5 Câmara Criminal entre com recurso pedindo a suspensão do hábeas-corpus. Em depoimento à 2 Vara da Infância e da Juventude, anteontem, os menores confirmaram que produziram o vídeo sem o consentimento da adolescente, mas negaram a divulgação das imagens pela internet. Eles disseram que enviaram as cenas por e-mail para outro menor, que teria colocado o vídeo na rede mundial de computadores.
A mãe de um dos jovens acusados disse ontem ao ‘RJ-TV’, da Rede Globo, que as imagens de seu filho e do amigo dele estão sendo deturpadas e a medida de internação dos dois foi exagerada:
— O Tribunal de Justiça resgatou a normalidade necessária para a serena condução desse processo e, ao término do qual, acredito que será esclarecida a verdade.
O advogado Ivan Santiago, que representa um dos acusados, disse ontem que o TJ ‘pôs fim à arbitrariedade patrocinada pelo Ministério Público estadual que, antes de buscar ouvir os menores e desprezando as apurações que estão ainda sendo realizadas, pleiteou, e obteve, a internação provisória’.’