Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Nelson de Sá

‘É o momento de FHC.

Segundo a Globo News, Severino Cavalcanti, novo presidente da Câmara, confirmou ontem que ‘poderá apoiar’ o ex-presidente da República em 2006, contra Lula.

Nos relatos das revistas no fim de semana, sobre a eleição na Câmara, lá está o ex-presidente na articulação da ‘aliança’ que sustentou Cavalcanti.

E lá está o próprio FHC, em longa entrevista de capa no ‘Correio Braziliense’, com eco nos sites e blogs, elogiando a ‘independência’ do Congresso e discorrendo sobre as chances do PSDB em 2006.

Citou os governadores Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Ele próprio, não:

– Estou fora. Primeiro, porque há outros. Segundo, porque já fui. Além disso, precisa ter uma motivação grande.

FHC deixou de fora José Serra, que ‘tem hoje um compromisso em São Paulo’.

Também com eco nos sites e blogs e até nas rádios, FHC foi lembrado anteontem pelo ‘New York Times’, em editorial, como bom nome para presidir o Banco Mundial.

Segundo o jornal americano, ‘não faltam bons candidatos no mundo, como os ex-presidentes Ernesto Zedillo, do México, e Fernando Henrique Cardoso, do Brasil’.

Citou outros, para encerrar lamentando que os EUA vão acabar apoiando um americano, como é da tradição.

Semanas atrás, FHC já havia sido lembrado no americano ‘Miami Herald’ para presidir a OEA, Organização dos Estados Americanos. E até de ONU andaram falando.

A vaidade lendária deve andar próxima do descontrole.’

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‘Pirataria’, copyright Folha de S. Paulo, 18/02/05

‘O site do ‘New York Times’ noticiou ontem o lançamento da ‘maior iniciativa da Microsoft Corp. até hoje contra a pirataria de software no Brasil’. A empresa só vai permitir a atualização de software por usuários que se cadastrem num site especial.

O anúncio vem semanas depois de Bill Gates, da Microsoft, pedir e não obter audiência com Lula, no Fórum Econômico. E vem dias depois de o presidente da Sun Microsystems postar carta a Lula em seu blog. A mensagem ecoou no Filtro, no blog de Pedro Dória e em outros, por aqui.

Jonathan Schwartz, da Sun, diz que seguiu ‘com especial atenção e otimismo’ a participação de Lula nos fóruns e que considera ‘suas iniciativas voltadas à inclusão digital corajosas e sábias’. E ‘aplaude’ a adoção do software livre, que beneficia ‘todos os setores da população e não apenas os privilegiados e influentes’.

Pior-melhor

Os blogs de Paulo Markun e Ricardo Noblat postaram ontem, respectivamente, que ‘falta registrar a responsabilidade dos cardeais da oposição na eleição do rei do baixo clero’ e que ‘o PSDB apostou conscientemente no quanto-pior-melhor’.

Markun acrescentou:

– Que argumentos terão os luminares do PSDB e do PFL para terem votado em Severino?

Noblat acrescentou que a oposição ‘talvez venha a se arrepender -e será muito tarde’.

Voto secreto

Do blog tucano E-agora, no dia da vitória de Severino:

– Assim que eu parar de rir vou pensar melhor nas implicações da derrota do governo.

Do mesmo site, ontem:

– Certos analistas jogam nas costas do PSDB a ‘culpa’ pela eleição de Severino. Ora, o voto é secreto. A menos que os tucanos se tornem ‘réus confessos’, não passa de ilação… Se os tucanos não forem ao ataque e Severino se revelar um desastre, vão bater nessa tecla até que cole.’

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‘A raiz da ferida’, copyright Folha de S. Paulo, 17/02/05

‘Lula, pelo que divulgou o Jornal Nacional anteontem, não voltou antes da hora para o Brasil por causa da derrota na Câmara -e sim pelas mortes diárias no Pará.

Ontem, em uma entrevista destacada na mesma Globo, o presidente da Comissão Pastoral da Terra, d. Tomás Balduíno, mostrou por que o presidente anda mais preocupado com a sua base católica do que com sua base parlamentar.

Balduíno apontou o dedo para o próprio Lula, dizendo que as mortes seguidas poderiam ter sido evitadas, se tivesse ouvido a irmã Dorothy Stang:

– Ela vinha reclamar solução dos problemas daquela terra em conflito. Do avanço sobre aquela área pelo poder econômico, com conivência iníqua do Estado, até da Polícia Civil. Era isso. E não foi ouvida.

Tem mais. Lula pode mandar as tropas que quiser, como destacavam os telejornais em manchete, anteontem. Do aliado histórico de Lula:

– Para mim é paliativo. Porque não pode ficar essa tropa lá o tempo todo. No dia em que for embora, volta a mesma situação. Virou uma ferida. Tem que ir à raiz da ferida, que é a falta de estrutura governamental, oficial, Incra, Ibama.

Num momento em que até Severino Cavalcanti diz saber ‘que o presidente Lula está cansado de alguns ministros’, o rosto que marca a ação do governo federal no conflito é o do governador do Acre.

Jorge Viana ‘representou o presidente’ por dois dias, em Brasília e no Pará.

No JN, a ‘reintegração de posse’, com mortos e feridos

As mortes seguidas no Pará, sob o olhar do governo estadual, movem o governo federal, a Igreja Católica, a mídia estrangeira e até a Globo -que deu afinal a cara do governador Simão Jatene no JN.

Já as mortes dos sem-teto em Goiás, sob fogo da polícia estadual, estão longe de provocar reação de proporções semelhantes. No JN, ontem, as cenas e cifras da operação de ‘reintegração de posse’ eram aterrorizantes, já a partir da escalada de manchetes:

– Dois mortos, mais de 20 feridos, 800 detidos.

Mas, ainda na escalada, vinha a desculpa:

– A polícia de Goiás cumpre uma ordem judicial para desocupar um terreno invadido.

Não importa que as imagens mostrassem crianças de joelhos diante de policiais armados. Era uma ordem da Justiça, nada a fazer.

Eram ‘cerca de 4 mil famílias, que invadiram a área há nove meses’. O mais que o governo federal produziu, de sua parte, foi:

– O ministro Nilmário Miranda, dos Direitos Humanos, vai pedir a apuração das mortes.

Deformação

A TV Câmara mostrou desde o início, com a defesa do aumento de salários, e logo Globo News e Band News entraram, ao vivo. Era Severino, em sua primeira entrevista coletiva.

Foi show com direito a bater com a mão na mesa e se revoltar contra ‘a deformação que estão fazendo do deputado Severino Cavalcanti’, ele mesmo.

O udenista…

Para Severino, ele só trocou de partido uma vez. As legendas é que foram mudando. Ele é o mesmo desde a UDN, passando por Arena, PDS, PP.

É como udenista que ele se vê, nos costumes (‘não posso acreditar em relações de homem com homem’) e no suposto rigor com o dinheiro público. Disse que devolveu milhões, em seu último cargo na Mesa.

… e o governista

Mas o que fez manchete nos telejornais, da coletiva, foi seu apoio à prorrogação do mandato de Lula e o anúncio de que não vai atrapalhar:

– Não podemos criar empecilhos a que o governo cumpra as metas traçadas.

Bloomberg e outras agências destacaram porém que ‘Cavalcanti se opõe à independência do Banco Central’.

Sentido

De sua parte, o PT fazia nova terapia em público. E o fazia na Globo, telejornal após telejornal. José Genoino, no Bom Dia Brasil, acordou afinal para o motivo da derrota:

– [Foi] uma oposição no sentido conservador, diante da candidatura do Luiz Eduardo.

Que é, afinal de contas, advogado de sem-terra.’

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‘O ‘tsunami’’, copyright Folha de S. Paulo, 16/02/05

‘A madrugada avançou com o blog de Ricardo Noblat, até as 6h23, quando a apuração na Câmara estava em 217 a 148, mas já era claro:

– É Severino!

O blog falou em ‘tsunami’, expressão que ecoaria depois pelas rádios, caso da CBN, portais, caso do iG, e demais blogs, caso do tucano E-agora.

‘Depois do tsunami’, a imediata e mais recorrente avaliação foi de derrota de Lula e PT. Para o comentarista Franklin Martins, na Globo:

– É a maior derrota parlamentar sofrida pelo governo.

No título da agência Reuters, foi uma ‘derrota maior’ de Lula. No da agência AP, foi ‘derrota maior’ do PT.

O Jornal Nacional foi mais contido em sua manchete:

– Uma derrota para o governo na Câmara.

Mas Kennedy Alencar, na Folha Online, foi além:

– Não é apenas a maior derrota sofrida por Lula e petistas no Congresso. É sinal de que a continuidade do projeto de poder do PT está ameaçada.

Um tsunami, como se vê, mas que não se limitaria à política, abrangendo a nação.

Para o cientista político Fabio Wanderley Reis, no UOL News, foi ‘a vitória da baixaria’.

O blog de Paulo Markun já foi destacando ‘os trezentos de Severino’, na coincidência do número de seus eleitores com a declaração célebre de Lula.

O blog de Marcelo Tas deu o variado currículo partidário do eleito (UDN, Arena, PDC, PL etc.) para questionar ‘Severino, o tsunami brasileiro’.

Blogs menos preocupados com política partidária, caso do coletivo Insanus, alertavam sobre quem é Severino.

Uma blogueira sublinhou a resistência do novo presidente da Câmara aos direitos dos homossexuais. E um projeto dele, postou outro blogueiro, ‘tipifica como crime a exibição [na TV] de cena de nudismo’.

Diante dos ataques e do catastrofismo, apareceram afinal defensores de Severino.

Para José Sarney, na agência Nordeste, seu colega pernambucano ‘deve ser respeitado’, pois tem ‘espírito público’.

Para Delfim Netto, que é do partido do vencedor, em entrevista à Jovem Pan, o novo presidente da Câmara ‘é homem treinado, com 30 anos de Congresso, e representará um parlamento harmonioso’.

Mais importante, ‘não prejudicará a relação com o governo’. Da Guiana para a Folha Online, Lula concordou:

– Eu já falei com o Severino hoje. O Severino sempre votou com o governo. O presidente Severino não vai criar nenhum obstáculo para nenhum projeto de interesse do governo.

FHC 2006

FHC dá inesperada entrevista à Globo News, ontem

No instante em que Lula enfrentava a sua ‘derrota maior’, o ex-presidente Fernando Henrique surgia na capa do ‘Valor’, sob o título:

– FHC admite que pode ser candidato.

Mas só em caso de ‘crise’, assegurou ele.

Durante o dia, depois, FHC falou mais, para Jovem Pan, Globo Online, Globo News. No canal de notícias, opinou sobre a ‘crise’ enfrentada por Lula:

– O Brasil é um país já muito amadurecido. As instituições são sólidas. Isso [a derrota na Câmara] não afeta governabilidade nenhuma.

No final do dia, começaram a surgir nos sites noticiosos outras declarações de FHC, dizendo não ser candidato e que o PSDB tem uma ‘riqueza de nomes competentes’ para a eleição presidencial do ano que vem. Citou, enfim, Geraldo Alckmin.

CESAR 2006, GAROTINHO 2006

Por coincidência, também ontem, dia em que ‘a continuidade do projeto de poder’ de Lula foi questionada, começou a campanha de Cesar Maia.

Os vários comerciais levaram à TV uma biografia que sublinha a suposta origem popular e até de esquerda do pefelista, para terminar com o bordão:

– O que o nosso país precisa é de governantes com mais coragem.

E tem, é claro, Garotinho, que nem apareceu muito na cobertura, mas que se podia ouvir nas declarações do peemedebista Michel Temer -ao comentar a derrota de Lula, na rádio Bandeirantes, ou a sua própria vitória sobre os governistas do partido, na bancada da Câmara, nos sites noticiosos.’



FSP CONTESTADA
Painel do Leitor, Folha de S. Paulo

‘Cartas de Leitores’, copyright Folha de S. Paulo

’18/02/05

Promotor

‘A liberdade provisória concedida ao promotor Thales Ferri Schoedl, assassino do jovem Diego Mendes Modanez, é inaceitável e imoral (‘Justiça dá liberdade provisória a promotor’, Cotidiano, 17/ 2). Alegar legítima defesa para alguém capaz de descarregar uma arma friamente (sete tiros no total) em dois jovens desarmados é um ato de espúrio sem propósitos que comprova que só há punição para fracos, desfavorecidos e humildes. Esse tal promotor teve acesso a uma formação e a uma educação extremamente privilegiadas, ou seja, tem recursos intelectuais e cognitivos que deveriam tê-lo levado a tomar uma outra decisão mesmo sob a pressão daquele momento.’ Rosa Zanforlim (São Paulo, SP)

Greenpeace

‘Em relação à entrevista com o antropólogo Michael Schellemberger (‘Ambientalismo sofre de esclerose, diz americano’, Entrevista da 2ª, 14/2), na qual o Greenpeace foi citado como ‘uma organização com muito dinheiro’, gostaríamos de esclarecer que o Greenpeace é uma organização ambientalista independente, que não aceita doações de governos, de partidos políticos ou de empresas. Nossa receita para financiar nossas quatro campanhas no Brasil (tóxicos, Amazônia, transgênicos e clima-energia) provém da doação de pessoas físicas, de franquia da marca, de doações de fundações e de associados estrangeiros. Temos cerca de 15 mil associados no país, um orçamento anual de R$ 7,4 milhões (em 2004) e empregamos 45 funcionários nos dois escritórios brasileiros (São Paulo e Manaus), o que absolutamente não caracteriza o Greenpeace como uma organização rica. Muito pelo contrário, com essa receita, temos de nos servir de muita criatividade para podermos divulgar nossa mensagem e lutar pela conservação do meio ambiente no Brasil. Nossas contas podem ser comprovadas nos relatórios anuais disponíveis no endereço www.greenpeace.org.br/quemsomos/relatorios/2003.pdf. Todos os números foram auditados pela empresa Rovai, Guisado, Tesseroli & Associados.’ Frank Guggenheim, diretor-executivo do Greenpeace Brasil (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Claudio Angelo- A reportagem não afirmou em nenhum momento que o Greenpeace Brasil é uma organização ‘com muito dinheiro’. A pergunta feita ao antropólogo foi a seguinte: ‘O que vocês fariam se tivessem tanto dinheiro quanto o Greenpeace?’.

Loterias

‘Surpreendidos com a reportagem ‘Assessor do PT diz que GTech tentou recrutá-lo como lobista’ (Brasil, pág. A4, 13/2), informamos, por dever profissional, o seguinte: os repórteres mostraram-se mal informados acerca dos fatos tratados no texto -que resumiu o teor do interrogatório do senhor Rogério Buratti de setembro de 2004. Mal informados porque, desde maio de 2004, o senhor Marcelo Rovai é representado pelo escritório Delmanto Advocacia Criminal, tendo esses advogados, há quase um ano, oferecido a sua defesa preliminar, bem como peticionado por diversas vezes nos autos, inclusive o acompanhando na Polícia Federal em 6/10/2004, quando foi ouvido. Mal informados por desconhecerem o teor desse depoimento, no qual o senhor Marcelo Rovai desmentiu categoricamente as afirmações do senhor Buratti transcritas pela Folha -lembrando que os autos principais do inquérito não estavam sob segredo de Justiça. Como consta das declarações do senhor Rovai, o senhor Buratti jamais foi procurado por ele. Lembrou o senhor Rovai, inclusive, que, no período referido pelo senhor Buratti (25 de março a início de abril de 2003), as negociações com a CEF estavam fechadas, definidas e com data marcada para a assinatura do contrato, não se justificando, dessa forma, a contratação de quem quer que fosse para ajudar em um negócio que já estava concluído. Como declarou desde o início das investigações, colaborando de forma irrestrita, transparente e coerente, o que ocorreu foi o contrário, tendo ele sido vítima de extorsão, fato este precedido de abordagem feita pelo senhor Waldomiro Diniz, na qual este afirmou que a GTech seria procurada por uma pessoa que teria de ser contratada como consultora como condição para que fosse assinado o contrato com a CEF. Também trouxe para os autos cópia de seu passaporte, comprovando documentalmente mais uma inverdade destacada pela reportagem. Trata-se da alegação de que, entre 7 e 15 de abril de 2003, ele teria telefonado dos EUA para o senhor Buratti. Tal telefonema jamais ocorreu, pois o senhor Marcelo Rovai estava no Brasil. Outras inverdades do senhor Buratti foram desmentidas, como a alegação de que o senhor Rovai teria comentado que as ações da empresa estariam em baixa, o que não procede. As ações da empresa estiveram em crescimento até meados de 2004. Lamentamos o fato de o interrogatório de uma pessoa indiciada por extorsão -e que, nessa condição, não é, por lei, nem sequer obrigada a dizer a verdade- ter obtido o destaque de uma inteira reportagem, desconhecendo-se as declarações do senhor Marcelo Rovai, de outubro de 2004, nas quais, como vítima e sob o compromisso de dizer a verdade, desmentiu, inclusive com documentos, as afirmações do senhor Buratti transcritas na reportagem. Lamentamos o fato de o senhor Marcelo Rovai e seus advogados não terem sido procurados.’ Roberto Delmanto Júnior, Roberto Delmanto e Fabio M. de A. Delmanto (São Paulo, SP)

Resposta dos jornalistas Rubens Valente e Iuri Dantas – A GTech foi ouvida e, exatamente como diz o advogado do executivo, alegou ter sido vítima de ‘extorsão’. A empresa sempre se manifestou em nome de seus executivos. Não existe ‘desmentido categórico’ quando duas versões são conflitantes. O inquérito policial continua em andamento.’



17/02/05

Previdência

‘O texto ‘Previdência do setor público aumenta déficit’ (Dinheiro, 14/2), da jornalista Julianna Sofia, contém imprecisões e induz o leitor a um julgamento errôneo sobre a reforma da Previdência de 2003. Inicialmente, não cabe comparar simulações da época da tramitação da reforma, baseadas em hipóteses estáticas, com a trajetória efetiva para sugerir que a reforma não teria atingido seus objetivos. Uma das simplificações dos cálculos pressupunha que os salários futuros do funcionalismo seriam reajustados de acordo com a inflação, enquanto em 2004 houve ajustes acima da inflação -repassados aos aposentados e pensionistas. Em segundo lugar, o texto não usa os valores monetários corretos e não os ajusta à inflação para comparação. Apesar de o desequilíbrio do regime dos servidores federais -civis e militares- ter subido de R$ 27,1 bilhões em 2003 para R$ 29 bilhões em 2004, ao deflacioná-los, estes mudam para R$ 29,8 bilhões em 2003 e R$ 29,9 bilhões em 2004 (em R$ constantes de janeiro de 2005). Em percentagem do PIB, de 2003 para 2004, há uma queda de 1,74% para 1,65%, ou seja, no mínimo, houve estagnação do desequilíbrio entre ambos os anos, diferentemente do que afirma o título do texto. Os números apontam a importância da reforma para a sustentabilidade da previdência do funcionalismo. O efeito positivo será crescente ao longo dos anos. Com isso, haverá mais recursos para o desenvolvimento econômico e social do país e mais justiça social pela futura convergência dos regimes de previdência objetivos da reforma conduzida no governo do presidente Lula.’ Helmut Schwarzer, secretário de Previdência Social (Brasília, DF)

Resposta da jornalista Julianna Sofia – Os números citados pelo missivista divergem dos dados da reportagem, que se baseou em informações oficiais repassadas pelo Ministério do Planejamento. A justificativa do secretário para a discrepância entre as projeções do governo e a trajetória efetiva do déficit fazia parte do texto.

Transposição do São Francisco

‘A propósito do artigo do sr. Marco Antonio Villa (‘Transposição: uma idéia ultrapassada’, ‘Tendências/Debates’, pág. A3, 16/2), desejo, em nome do Ministério da Integração Nacional, informar e esclarecer: 1) a omissão de governos passados, que não garantiram a segurança hídrica à população de 12 milhões de pessoas que vivem nas pequenas, médias e grandes cidades do semi-árido setentrional, não torna ultrapassado o projeto de integração da bacia do São Francisco às bacias do Nordeste setentrional, mas revela o descompromisso dos que não estiveram à altura do presidente Juscelino Kubitschek, lembrado como benfeitor dos nordestinos; 2) experiências bem-sucedidas de integração de bacias realizadas nos EUA, na Europa e na China revelam a correta solução que o presidente Lula está determinado a empreender; 3) quanto à opinião subjetiva do senhor Villa sobre o Ministério da Integração Nacional e seu titular, o ministro Ciro Gomes, esclareço que esta pasta: a) deixou de ser um balcão de varejo; b) elaborou a Política Nacional de Desenvolvimento Regional; c) elaborou a proposta de criação das novas agências regionais de desenvolvimento; d) deu nova diretriz aos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste, cuja conseqüência para a região nordestina é esta: em 2002, último ano do governo anterior, o FNE aplicou R$ 254 milhões; em 2003, R$ 1 bilhão; em 2004, o recorde de R$ 3,2 bilhões; para 2005, o FNE tem R$ 4,9 bilhões para financiar micro, pequenos, médios e grandes empreendimentos; e) concluiu barragens e adutoras cujas obras se arrastavam havia até 15 anos; f) implementa o Programa de Mesorregiões, que financia no espaço sub-regional os Arranjos Produtivos Locais; g) implementa novo modelo de gestão para projetos de irrigação com o objetivo de pôr para produzir 50 mil hectares hoje improdutivos; h) elaborou, com o Ministério do Meio Ambiente, o Programa Amazônia Sustentável e conclui o Programa de Desenvolvimento Sustentável do Semi-Árido, também com o MMA; i) reorganizou a Secretaria Nacional de Defesa Civil, que hoje conta com um Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres.’ Egídio Serpa, assessor especial do ministro da Integração Nacional (Brasília, DF)

Impostos

‘No texto ‘Historiador vê novo clima antiimposto’ (Dinheiro, pág. B2, 16/2), eu não quis afirmar, em relação à manifestação contra a MP 232, que se trata de ‘uma revolta de ricos’. O que eu quis dizer é que o movimento abrange amplas camadas sociais, entre as quais profissionais liberais e assalariados terceirizados pelas empresas, todos prejudicados pela pretendida nova tributação.’ Boris Fausto, historiador (São Paulo, SP)



16/02/05

Assassinato no Pará

‘Ao contrário do que informou a Folha ontem na chamada ‘Há um ano, freira morta já pedia que PF agisse no Pará’ (Primeira Página), a presença da Polícia Federal na região é efetiva desde o início de 2004, com a instalação de uma unidade em Altamira, conforme compromisso assumido pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos em audiência pública realizada na área em novembro de 2003. A informação foi levada ao conhecimento do jornal pela assessoria do Ministério da Justiça anteontem. O posto avançado da PF, além de basear operações e ações de inteligência na região, está servindo de apoio às investigações sobre o crime que vitimou a freira Dorothy Stang no dia 12. Ainda diferentemente das informações divulgadas pelo jornal na chamada e nas notas ‘Em Pessoa 1’ e ‘Em Pessoa 2’ (‘Painel’, pág. A4. 15/2), no encontro da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Terra e da irmã Dorothy com a assessoria do ministro -em meio a uma reunião na secretaria Especial de Direitos Humanos, em junho de 2004-, uma série de problemas da região foi levantada. Já naquela época a assessoria intermediou o contato da religiosa com a Superintendência da Polícia Federal no Pará e foi enviada uma missão da PF à região, conforme demanda da freira. O Ministério da Justiça tomou providências efetivas após o relato sobre Anapu. Além do envio da missão, a superintendência da PF auxiliou a irmã Dorothy em contatos com o comando da Polícia Militar do Estado e com o Ministério Público. O governo federal sempre esteve atento aos conflitos da Terra do Meio. A partir dos contatos em 2003, a Polícia Federal cumpriu ordens de prisão contra suspeitos de graves violações aos direitos humanos na área e iniciou uma ampla investigação de inteligência no Estado -que ainda está em curso. As ações promovidas após o contato de junho de 2004 resultaram também em operações conjuntas com o Ibama.’ Léia Rabelo, assessoria especial de Comunicação Social do Ministério da Justiça (Brasília, DF)

Nota da Redação – Leia a seção ‘Erramos’.’



PRÊMIO FOLHA
Folha de S. Paulo

‘Folha premia reportagem de trabalho escravo’, copyright Folha de S. Paulo, 19/02/05

‘A reportagem sobre o trabalho escravo em grandes empreendimentos agrícolas voltados para a exportação e em modernas fazendas de criação de gado, de autoria da repórter Elvira Lobato, foi a vencedora do Grande Prêmio Folha de Jornalismo de 2004.

Publicada em 18 de julho de 2004, sob o título ‘Agronegócios e pecuária de ponta usam trabalho escravo’, a reportagem baseou-se em levantamento da Folha com base em 237 relatórios de fiscalizações do Ministério do Trabalho realizadas em 2000 e 2003. A repórter visitou os municípios de Marabá, Xinguara, Curionópolis e Redenção, no sul do Pará, considerada uma área endêmica de trabalho escravo.

Elvira Lobato entrevistou empreiteiros de mão-de-obra rural, trabalhadores nômades resgatados pelos fiscais do governo, dirigentes sindicais, lideranças religiosas e prefeitos. Ouviu empresários e fazendeiros acusados de explorar o trabalho escravo.

O Prêmio Folha foi criado em 1993 e é entregue anualmente como reconhecimento aos melhores trabalhos produzidos por profissionais da Empresa Folha da Manhã S/A, que edita a Folha e o ‘Agora’. Há premiações bimestrais e uma seleção final, quando são anunciados, além do Grande Prêmio, os vencedores de seis categorias. No ano passado, concorreram 343 trabalhos.

Outras categorias

O ganhador do Prêmio Folha na categoria Reportagem foi o repórter Mario Cesar Carvalho, com a série publicada nos meses de novembro e dezembro sobre a intervenção do Banco Central no Banco Santos. As reportagens tratam dos negócios do controlador do banco, Edemar Cid Ferreira, também colecionador de obras de arte, e revelam operações, sob investigação, envolvendo empresas do banqueiro e de familiares instaladas em paraísos fiscais.

O Prêmio Folha de Jornalismo na categoria Edição foi dado aos jornalistas Sérgio Malbergier e Marcos Guterman, com a ‘Cobertura dos atentados de 11 de março em Madri’. O trabalho premiado foi publicado na edição de 12 de março de 2004, com textos e imagens sobre os ataques contra trens na Espanha.

O ‘Guia da Folha SP 450 anos’ ganhou o Prêmio Folha de Jornalismo na categoria Serviço. De autoria dos jornalistas Beatriz Peres, Suzana Singer, Luiz Rivoiro e Luciana Carvalho, o guia foi publicado em 18 de janeiro de 2004 com sugestões de lazer, cultura, restaurantes, hotéis e locais de compras, além de roteiros, mapas e capítulos dedicados à história e à arquitetura da cidade de São Paulo.

O Prêmio Folha de Jornalismo na categoria Arte foi concedido ao ‘Novo projeto gráfico do Folhateen’, de autoria de Massimo Gentile, Márcio Freitas e Thea Severino. Foram premiados pelas mudanças introduzidas no Folhateen a partir 14 de junho de 2004.

Antônio Gaudério ganhou o Prêmio Folha de Jornalismo na categoria Fotografia, com a foto publicada na primeira página da Folha, na edição de 24 de abril de 2004. A foto mostra os corpos de 8 dos 29 garimpeiros mortos em conflito com índios cintas-largas enterrados em vala comum no cemitério de Espigão d’Oeste (RO).

O vencedor do Prêmio Folha de Jornalismo na categoria Especial foi o repórter Igor Gielow, enviado especial a Jerusalém, Ramallah e Faixa de Gaza, em novembro de 2004. Ele concorreu com a série de reportagens sobre a morte do presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina) Iasser Arafat.

Foram ainda premiadas nos bimestres as reportagens ‘Teles querem Embratel para cobrar ‘pelo teto’, de Mario Cesar Carvalho e Elvira Lobato, e ‘Folha acha ‘anjo’ do maratonista Vanderlei’, de Guilherme Roseguini.

A comissão julgadora do Prêmio Folha de Jornalismo 2004 foi composta por Vinicius Torres Freire, secretário de Redação, Marcelo Beraba, ombudsman da Folha, Ana Lucia Busch, diretora-executiva da Folha Online, Contardo Calligaris e Pasquale Cipro Neto, colunistas da Folha.’

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‘Saga de piauiense reflete problema vivido em fazendas’, copyright Folha de S. Paulo, 19/02/05

‘‘Não tenho mais nada, além desses braços para trabalhar’, disse o piauiense Trajano Leal Alves, 44, à repórter Elvira Lobato. ‘Tatu’, como é conhecido, foi resgatado três vezes pelo Ministério do Trabalho, nos últimos 20 anos, vítima de exploração de mão-de-obra escrava no meio rural. Ele foi localizado em Redenção, no sul do Pará, e narrou sua saga de nômade à procura de emprego.

‘Sua história é uma versão ampliada dos problemas vividos por migrantes analfabetos que, como ele, saem do Maranhão e do Piauí (principais fornecedores da mão-de-obra análoga à escrava) em busca de ocupação em outros Estados e acabam caindo num círculo vicioso do qual não conseguem se libertar’, relata a repórter, no trabalho premiado.

‘Tatu’ tem seis filhos, que vivem espalhados por Tocantins e Maranhão. Deixou sua terra natal, Uruçui, ainda criança. Começou a trabalhar na lavoura aos 11 anos, em Goiás, na companhia do pai. Aos 18 anos, virou ‘peão-de-trecho’, trabalhador nômade que faz serviços temporários em fazendas, sem carteira assinada nem endereço fixo.

Edmilson Dantas de Santana, 45, citado pelo Ministério do Trabalho como maior ‘gato’ (empreiteiro de mão-de-obra rural) do sul do Pará, é outro personagem da reportagem vencedora do Grande Prêmio Folha de Jornalismo de 2004.

Apanhado pela fiscalização duas vezes, em 2003, por manter trabalhadores em situação análoga à de escravos, Dantas disse à repórter que seu tempo de agenciador está acabando. ‘Ficou muito arriscoso’, afirmou, referindo-se ao aumento da fiscalização.’