‘Há três meses, a agência Reuters soltou despacho anunciando que o ‘New York Times’ não era mais o primeiro em prestígio global, segundo uma consultoria européia.
Era uma pesquisa em 50 países com empresários, políticos etc. O ‘NYT’ desabou para o sétimo lugar, deixando a dianteira com o ‘Financial Times’, depois ‘Wall Street Journal’.
A razão eram ‘escândalos’ de reportagens sem base, inclusive as que anunciaram as armas de destruição em massa do Iraque, feitas por Judith Miller e depois desmentidas pelo jornal.
A pesquisa já havia terminado quando começou a segunda fase do caso, com a prisão de Miller por não revelar a fonte que vazou o nome de uma agente da CIA -o que é crime.
Tratada como heroína pelo próprio ‘NYT’, em mais de 15 editoriais, a jornalista presa se viu aos poucos enredada por uma campanha blogueira.
Duas semanas atrás, quando deixou a prisão ao entregar o nome da fonte, que autorizou a divulgação, o episódio só fez crescer em controvérsia, com novas críticas ao ‘NYT’ sobre o que se dizia ser uma farsa.
A autorização da fonte já teria sido dada um ano antes.
E ontem, após muito adiar, o jornal deu sua versão do caso, que por semanas foi o centro da especulação política nos EUA -a começar do concorrente ‘Washington Post’.
A própria Judith Miller fez um longo relato, em tom pessoal. Dela, sobre um registro com o nome da agente secreta, que apareceu em suas notas:
– Simplesmente não consigo lembrar de onde veio, quando escrevi ou por que o nome foi escrito de forma errada.
Em vez de ‘Valerie Plame’, ela escreveu ‘Valerie Flame’ ou ‘chama’, o que rendeu piadas nos blogs. A repercussão foi em tudo desfavorável ao ‘NYT’, de novo, no confronto sem fim da blogosfera com a mídia.
Entre outros, questionaram parcial ou inteiramente a versão do jornal Arianna Huffington, Mickey Kaus e Jay Rosen, entre os principais blogueiros do país. Sem falar dos concorrentes ‘WP’, CNN, Fox News etc.
A crise no maior jornal do mundo avançou pelo próprio, com a coluna de Frank Rich, a de maior repercussão hoje, abordando o caso pela primeira vez sob o título ‘É Bush-Cheney e não Rove-Libby’.
Bush e Cheney são presidente e vice dos EUA. Rove assessora Bush, Libby é chefe-de-gabinete de Chenney -e a suposta fonte apresentada por Miller.
Para Rich, em resumo, o caso é sobre ‘proteger a mentira que levou os EUA ao maior desastre estratégico na história’.
Ele e outros não esqueceram as reportagens ‘atestando’ as armas de destruição em massa no Iraque, que deram a Bush a desculpa para a invasão.
OPORTUNIDADE
Portais de ‘media criticism’ evitaram. Mas o Blue Bus destacou -e a Globo respondeu de imediato ao blog, voz independente na crítica de mídia.
Trata-se do e-mail do repórter global Carlos Dornelles, revelado sexta por Daniel Castro, na Folha. Escreveu Dornelles, sobre o silêncio do ‘Jornal Nacional’ quanto às supostas vertentes tucanas do valerioduto:
– Não demos. Seria uma ótima oportunidade para mostrar que estamos fazendo uma cobertura jornalística da crise política.
TRÊS PODERES
Saudado ontem ao longo da blogosfera, Josias de Souza estreou o blog na Folha Online destacando as ambições eleitorais do presidente do Supremo e as acusações do presidente da CPI dos Correios ao ministro da Justiça, que estaria dificultando descobrir a fonte do valerioduto. Daí para as dificuldades de Aldo Rebelo na Câmara dos Deputados, ele que apelou ao Poder Executivo, a Lula, enfim, para conseguir pagar os salários.
Logo, logo
O britânico ‘Sunday Times’ veio ontem com a notícia tão aguardada de que Sir Ian Blair, o chefe da polícia de Londres que comandou desastrosamente o episódio em torno da morte do brasileiro Jean Charles, admite renunciar ‘logo, logo’ ao cargo. É o que a família Menezes não se cansa de pedir.
A revolução
Segue a idolatria de Gilberto Gil no exterior. O britânico ‘Guardian’ fechou a semana com mais um perfil do músico, ‘O ministro da contracultura’. Elogiou a ‘revolução que vem sendo construída no governo’, com Gil no meio:
– O campo de batalha é a propriedade intelectual.’
FSP
CONTESTADAPainel do Leitor, FSP
‘Árvores’, copyright Folha de S. Paulo, 18/10/05
‘‘Em relação ao editorial ‘Árvores trucidadas’ (Opinião, 15/10), reitero o que já disse à reportagem do jornal: a necessária poda para substituição dos arbustos -Yucca elephantipes, de origem mexicana- da rua Rui Barbosa poderia e deveria ter sido feita de outra maneira, informando previamente a população sobre a troca desses arbustos por árvores nativas, mais adequadas ao local, e evitando o impacto estético causado pela intervenção. Ao contrário do que afirma o jornal, eu sabia da realização do serviço, mas não o dia exato em que ele seria feito. Aliás, sobre o assunto, fui consultado no final da tarde de uma quarta-feira de feriado (12/10), sem tempo hábil para apurar detalhes do serviço. Imaginem quantas são as ações, por dia, de uma subprefeitura na cidade. Todas as podas de espécies nativas são submetidas, uma a uma, à aprovação da Secretaria do Verde e Meio Ambiente e, no caso da região central, são também por mim, uma a uma, posteriormente aprovadas. No caso em questão, como se tratava de arbustos não-nativos, tal procedimento era dispensável. Parece-me um exagero, porém, considerar isso um erro de comunicação interna da subprefeitura pela qual sou responsável, um sintoma de desarticulação e desacerto de toda a administração. É o mesmo que dizer que um único acerto seria sinal de excelência de toda a gestão municipal. Não é nem uma coisa nem outra. Quanto à reposição da vegetação, vamos escolher as espécies nativas mais adequadas ao local. Ali serão plantadas outras árvores, garantindo, de acordo com a diretriz da prefeitura, a ‘preservação das poucas frestas de área verde existentes’ em São Paulo, o que a Folha, com acerto, defende no editorial. Aliás, é o que temos feito, mais do que qualquer administração anterior, em toda a cidade.’ Andrea Matarazzo, secretário de Serviços e subprefeito da Sé (São Paulo, SP)
‘Jornal Nacional’
‘Não entendo por que a Folha publicou duas vezes, num intervalo de três dias, uma mesma notícia: a crítica que o repórter Carlos Dornelles fez a colegas da redação de São Paulo -em correio interno, não destinado à publicação. Nele, Dornelles chamava a atenção para a veiculação no ‘JN’ de reportagem sobre denúncia de tráfico de influência envolvendo Vavá, irmão do presidente Lula, no mesmo dia em que o telejornal deixou de noticiar que houve telefonemas entre as agências DNA e SMP&B para o comitê eleitoral de Serra, em 2002, tema de reportagem de ‘O Estado de S. Paulo’. Na primeira vez, a notícia saiu na coluna ‘Outro canal’, que publicou a maior parte de nossas ponderações; na segunda vez, em ‘Toda mídia’. Notícia velha agora é tema de jornal? Em ambas, omitiu-se que eu me manifestei em carta lembrando que foi o jornal ‘O Globo’, com ampla repercussão na TV Globo, que primeiro noticiou o envolvimento do PSDB mineiro com o ‘valerioduto’, em Minas, na eleição de 98. Da mesma forma, deixaram de registrar que Dornelles, frente à repercussão de sua mensagem aos colegas, emitiu uma nota em que diz: ‘A crítica que fiz é pontual e se refere àquela reportagem do jornal ‘O Estado de S. Paulo’ publicada na segunda-feira. Creio ser obrigação de todo repórter comentar e criticar o andamento de toda e qualquer cobertura, o que faço na TV Globo com liberdade’. As omissões, creio, devem ter sido por falta de espaço, problema crônico em nossos jornais. Mas a repetição da notícia me faz crer que a Folha considera anormal que haja divergências numa redação sobre se certos assuntos merecem ou não ser alvo de reportagem. Intriga-me que esse estranhamento venha de um jornal cujo ombudsman, como dever ser, às vezes é ácido em coluna publicada na internet. Quero crer que o ombudsman não seja o único na Folha autorizado a trocar idéias com colegas sobre o que o jornal publica ou deixa de publicar. Em sua crítica do dia 10 passado, o ombudsman escreve: ‘O caso do irmão do Lula é grave ou é mais uma picuinha da ‘imprensa golpista’ contra o governo petista? Uma coisa é o jornal ter cautela na divulgação da acusação, ainda mais quando não é apuração sua (caso do irmão do Lula). Outra é deixar o leitor sem a informação de sua importância e conseqüências caso venha a ser comprovada’. Eu entendi perfeitamente o que quis dizer o ombudsman, mas um colunista mal-intencionado poderia ver nas palavras dele uma pesada crítica a toda a cobertura da crise política na Folha. Não foi o caso no que diz respeito à observação do ombudsman da Folha; tampouco foi o caso no que diz respeito ao nosso repórter.’ Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo (Rio de Janeiro, RJ)’
CRIME NA ECA
‘Autor de facada citou suicídio, diz advogado’, copyright Folha de S. Paulo, 17/10/05
‘O aluno de jornalismo Fábio Le Senechal Nanni, 21, autor da facada que matou o colega Rafael Azevedo Fortes Alves, 21, na última sexta, dentro da USP, parou de tomar remédios antidepressivos por conta própria há cerca de três meses, segundo seus advogados.
A interrupção dos medicamentos, dizem os advogados, ocorreu porque os produtos estavam provocando muitos efeitos colaterais no estudante, como o aumento de peso, taquicardia, tremedeira e crises constantes de choro.
‘Recentemente, ele [Nanni] chegou a perder uma prova na faculdade porque não conseguia escrever, de tanto que suas mãos tremiam’, contou César Eduardo Bechara, um de seus advogados.
Diante desses problemas, o objetivo dos defensores do estudante é fazer com que ele restabeleça o tratamento psiquiátrico imediatamente para que preserve a sua integridade física e emocional.
Segundo o advogado Paulo Fernando Vella, na sexta-feira, dia em que foi preso, o estudante chegou a comentar com a polícia que iria cometer suicídio. ‘Essa é a nossa preocupação nesse momento. Ele estava muito agitado e nervoso. Temos medo de que atente contra a própria vida.’
Vella disse ainda que Nanni era acompanhado por psicólogos e psiquiatras desde os 15 anos. ‘Ele sempre teve um comportamento desequilibrado, obsessivo, maníaco-depressivo. Ele tinha crises de depressão constantemente.’
Anteontem à tarde, o psiquiatra Irineu César Silveira dos Reis visitou o aluno na carceragem do 91º DP. Por duas horas Reis conversou com Nanni para fazer a avaliação sobre seu comportamento.
Como Reis não é o médico que acompanhava Nanni no tratamento com antidepressivos, nenhum medicamento foi prescrito.
‘Vamos aguardar o laudo médico para saber como vamos caminhar na defesa. Também vamos pedir uma outra análise, feita por um especialista indicado pela Justiça’, afirmou Vella.
O psiquiatra foi a única pessoa com quem Nanni teve contato nesse final de semana. Nem a família nem os advogados puderam conversar com ele. O jovem será levado hoje da cela na delegacia para o CDP (Centro de Detenção Provisória) de Osasco, onde deverá ficar preso até a data do julgamento.’
Alencar Izidoro, Alexandre Hisayasu, Fabio Schivartche,
Fábio Takahashi, Gilmar Penteado, Laura Mattos,
Rogério Cassimiro, Simone Harnik e Victor Ramos
‘Estudante mata amigo a facada na USP’, copyright Folha de S. Paulo, 15/10/05
‘Um estudante de jornalismo foi assassinado ontem, com uma facada no peito, dentro da USP (Universidade de São Paulo), o maior centro universitário público do país. O autor do crime era um amigo com quem ele dividia a casa, uma república estudantil no Butantã, zona oeste da cidade.
Rafael Azevedo Fortes Alves foi esfaqueado por Fábio Le Senechal Nanni, também de 21 anos, pouco depois das 9h, dentro da redação da rádio USP, onde a vítima trabalhava como estagiário havia um ano. Ele foi levado para o Hospital Universitário, mas não resistiu ao ferimento e chegou morto.
O crime, que chocou a comunidade uspiana e levou amigos dos dois a uma vigília de choro e abraços no gramado da faculdade durante todo o dia, ainda intriga: o que levou Fábio a matar Rafael?
Segundo o agressor contou extra-oficialmente à polícia, ele foi ao local apenas para conversar com o amigo e resolver desavenças -sem mencionar quais eram. No depoimento formal, já orientado por dois advogados, disse que se manteria em silêncio até ser ouvido pela Justiça.
Estudantes da faculdade contam que Fábio já utilizou antidepressivos e era uma pessoa tranqüila, mas extremamente obsessiva por sua amizade com Rafael. Dizem que ele nunca havia manifestado alguma atitude agressiva.
Amigos havia dois anos, desde que entraram na USP (os dois estudavam na mesma sala no período da noite), Fábio e Rafael brigaram na madrugada de ontem em uma festa na Escola de Comunicações e Artes, onde fica a faculdade de jornalismo. Rafael foi dormir na casa de uma amiga. Fábio passou a noite na república.
O crime
Ontem de manhã, Fábio entrou na redação da rádio às 9h10 à procura de Rafael, que estava em horário de trabalho. Eles conversaram por dez minutos num tom de voz baixo. Quase sussurravam.
Em certo momento, Rafael levantou-se para afixar um papel no mural. Foi detido por Fábio com um tapinha no ombro. Segundos depois, com uma faca de cozinha, Fábio desferiu o golpe mortal. Não houve gritos, socos nem empurrões. Os funcionários da rádio só notaram que algo ocorrera quando Rafael, cambaleante e com a mão no peito, disse: ‘Ele me furou! Ele me furou!’.
Nesse momento, Fábio deixava a redação às pressas. Um repórter correu atrás dele pela rampa do prédio gritando ‘pega ele’. O vigilante Francisco de Assis da Silva, 40, que estava no térreo, deu uma rasteira no estudante e conseguiu detê-lo até a chegada da guarda universitária. Ao ser questionado se estava armado, o estudante disse que havia deixado a faca ao sair da redação. ‘Não me batam! Não vou reagir nem fugir’, afirmou Fábio, segundo o vigilante.
Enquanto isso, colegas de Rafael o colocaram numa maca e desceram para o térreo, onde foi socorrido cerca de cinco minutos depois, de ambulância. Ele morreu pouco antes de chegar ao Hospital Universitário, dentro do campus.
O corpo do jovem chegou ao Instituto Médico Legal no final da tarde de ontem. A mãe e a irmã passaram parte da tarde no hospital. Às 20h, a irmã, Isabele Azevedo de Souza, 26, chegou no IML -o corpo continuava no instituto até o fechamento deste edição.
A família doou as córneas de Rafael. Outros órgãos não puderam ser aproveitados porque o coração parou horas antes da autorização dos pais.
Fábio foi preso em flagrante e indiciado por homicídio doloso com duas qualificadoras -sem chance de defesa e motivo fútil-, segundo a delegada Ana Karina Marin. Mesmo sendo réu primário, pode ser condenado a até 30 anos de prisão. Sem direito a prisão especial -ele não concluiu o ensino superior- Fábio foi para a carceragem de outro DP.’
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‘Discussão começou na véspera’, copyright Folha de S. Paulo, 15/10/05
‘Amigos dos dois estudantes da USP lembram que, na noite anterior ao crime, Fábio e Rafael iniciaram uma discussão no intervalo da aula, que se estendeu pela madrugada durante uma festa realizada no diretório acadêmico da faculdade. Eles tiveram de ser separados pelos colegas.
O clima ficou tão tenso que Rafael nem dormiu em casa, uma república na Vila Indiana, onde morava com Fábio e mais dois colegas. Foi para a casa da amiga Beatriz Camargo Magalhães.
Beatriz afirma que os dois amigos estavam tão nervosos, durante a festa no diretório acadêmico, que pediu para levá-los para casa. Na porta da república, os dois voltaram a discutir. Fábio desceu e ficou em casa.
Um vizinho chegou a notar a movimentação na rua. Viu o carro de Beatriz e os rapazes discutindo, mas não imaginava a gravidade do desentendimento. ‘Nem sabia que eles moravam aqui, vi pela televisão. Há três semanas ainda houve uma festa’, afirmou José Ribamar, 34, estudante e funcionário de um supermercado.
Rafael, lembra Beatriz, deixou sua casa pela manhã na companhia de sua irmã. ‘Ele tinha dito que ia para Caieiras. Pelo menos, foi isso que entendi. Se soubesse que ia para a rádio USP, teria tentado impedir’, disse ela. ‘Agora me culpo por não ter feito mais.’
Amigos que moravam com Fábio na república afirmam que ele colocou fogo nas roupas do colega que estavam no varal do apartamento. As roupas foram encontradas pela manhã.
Segundo vários relatos de amigos, a discussão teria se iniciado porque Fábio insistia em conversar com o amigo. Na discussão durante a festa ‘Quinta e Breja’ -que acontece todas as quintas-feiras-, amigos dizem ter ouvido Fábio dizer que ‘precisava contar tudo’ para Rafael e ‘que não podia mais esperar’.’