Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nelson de Sá


‘Em seu blog, o representante da Transparência Internacional, Claudio Weber Abramo, avisou desde cedo:


– Não é ‘índice de corrupção’, mas um indicador de opinião a respeito da corrupção.


Não adiantou. Veio a Globo e começou, no início da tarde:


– O Brasil está mais corrupto, segundo a Transparência.


O blog também avisou que a lista de países cresceu e ‘não faz sentido comparar a posição anterior com a deste ano’. E mais:


– A combinação dos efeitos de países que ‘sobem’ e ‘descem’ sobre os demais leva a deslocamentos ‘inerciais’. Não bastasse isso, as ‘notas’ do ranking são afetadas por uma margem de erro extraordinariamente alta, superior a 10%.


Não adiantou nada. Voltou a Globo e seguiu na versão:


– A nota do Brasil caiu… No ranking, a posição desceu…


Mais do blog de Abramo:


– Houve alguma piora? Não necessariamente.


E mais da Globo, até o ‘JN’:


– Mostrou uma piora.


Do blog, para encerrar:


– Moral da história: pelo oitavo ano, a percepção internacional sobre corrupção no Brasil não mudou. Não mudou porque, persistentemente, não se promovem as reformas necessárias para coibir a corrupção.


Daí para o presidente da Transparência Internacional, Peter Eigen, na BBC Brasil:


– Apesar do ceticismo do nosso representante no Brasil, eu tinha esperança de que as coisas iam mudar no governo dele.


Não mudaram. Seguiu Eigen:


– Lula faz discursos fantásticos no exterior, são palavras que geram entusiasmo e confiança. Mas e na prática? É claro que eu estou decepcionado com Lula.


Para encerrar, mais Eigen:


– Sei que há coisas muito positivas acontecendo na área econômica, na área social, mas não é suficiente. O Brasil é um país maravilhoso, com grande potencial, que é desperdiçado, em parte, por causa da corrupção.


No fim do dia, na BBC, o outro lado do ministro Waldir Pires:


– Nunca no Brasil se combateu tanto a corrupção quanto no governo do presidente Lula. Gostaria de convidar Peter Eigen a visitar o Brasil. Talvez ele tivesse informações mais corretas do que algumas manchetes.


O problema foi que o relatório entrou em cena quando o espetáculo já era a pressão sobre o Supremo para não atrapalhar a cassação de José Dirceu. Da Globo, no cerco ao símbolo:


– Ele pede que o processo seja suspenso porque na época das denúncias era ministro e não pode ser processado por quebra de decoro parlamentar.


Enquanto avançava a especulação sobre os votos dos ministros, hoje, o blog de Fernando Rodrigues noticiava, sobre outro símbolo do escândalo:


– Delúbio Soares já redigiu a carta pedindo a desfiliação do PT. Deve entregá-la no sábado. A saída, vamos dizer, espontânea é desejada ardentemente pelo Palácio do Planalto.


SOBE-E-DESCE


No alto da primeira página do ‘Valor’, ontem:


– As ações da Taurus, uma das três maiores fabricantes mundiais de armas curtas, subiram 16% como resultado da pesquisa que apontou empate no referendo.


Na reportagem, o registro de que ‘desde 99 a receita da empresa apresenta aumento médio anual de 12%.


O site da Forjas Taurus, de sua parte, está em campanha, com a home destacando enunciados como ‘Vote Não!’ ou ‘Referendo: mais um passo antidemocrático’.


Concorrência 1


Em artigo no londrino ‘Guardian’, o ativista e blogueiro Georges Monbiot escreveu ontem sobre ‘O preço da carne barata: a doença, o desmatamento, a escravidão e a morte’.


O texto parte da aftosa para dizer que a carne brasileira é barata demais e então defender os ‘produtores britânicos’ -que, diz, ‘estariam extintos não fosse pelos subsídios’. Ele conclamou ao boicote ao bife brasileiro.


Concorrência 2


Já o ‘Clarín’ saudou as crises da aftosa no Brasil e da gripe aviária na Europa, dizendo que a Argentina pode exportar US$ 400 milhões a mais no ano.


Pressão


E continua o jogo de empurra das negociações, na Organização Mundial do Comércio.


A França tentou tirar o poder do comissário Peter Mandelson para negociar cortes nos subsídios europeus à agricultura, mas perdeu. Era a manchete no site do ‘Le Monde’, ontem à tarde.


De sua parte, no ‘Guardian’, Mandelson dizia que ‘alguns membros da União Européia’ precisam se informar mais sobre o estágio das conversas.


E nos EUA, segundo as agências, George W. Bush se encontrou com o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, e voltou a cobrar cortes nos subsídios, em favor dos ‘países em desenvolvimento’.


TROCA


Da agência russa Novosti à chinesa Xinhua, passando pelos telejornais todos, o astronauta brasileiro correu mundo. No ‘Valor’, ontem, a manchete esclarecedora de que ‘o astronauta é só o lado espetacular’ da história:


– O negócio cobiçado pelos russos é o programa do Satélite Geoestacionário, cujo custo chega a US$ 1,5 bi.’



FSP CONTESTADA


Painel do Leitor, FSP


‘Fundos de pensão’, copyright Folha de S. Paulo, 19/10/05


‘‘Como presidente de uma entidade representativa do sistema de fundos de pensão que adota práticas modernas de controle e compliance, ao lado de um escrupuloso regime ético, e que tem dirigentes sujeitos a rigorosas normas disciplinares, desejo manifestar a nossa mais viva discordância em relação ao conteúdo da notícia a respeito de solicitação do Ministério Público ao TCU para que proceda a investigação nos fundos (‘TCU investiga ação suspeita de grandes fundos de estatais’, Brasil, 16/10). Causa-nos, uma vez mais, indignação a tendência da notícia em generalizar supostas irregularidades no curso ainda das investigações. Defendemos a apuração e a punição de eventuais culpados, mas nos parece um exagero imaginar que possíveis desvios possam ter-se convertido em procedimento usual num sistema que dá tantas mostras de se pautar pela transparência e por modernas técnicas de governança. Dessa forma, é inaceitável o tom adotado no texto, que lança suspeitas para todos os lados, trazendo preocupação a centenas de milhares de famílias participantes de fundos. Decisões quanto a investimentos são tomadas a partir de estudos tecnicamente complexos. É importante ter em mente que uma única pessoa não mais decide sozinha, sendo deliberações e responsabilidades compartilhadas.’ Fernando Antonio Pimentel de Melo, presidente da Abrapp -Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (São Paulo, SP)


‘A respeito de reportagem publicada no último domingo, a Petros -Fundação Petrobras de Seguridade Social- esclarece que não recebeu nenhum questionamento do TCU a respeito das operações citadas pelo jornal. Mesmo ciente de que ao TCU não cabe fiscalizar uma entidade de direito privado como a Petros, a diretoria atual da fundação jamais deixou de responder qualquer tipo de requerimento de informação, inclusive desse órgão. Os assuntos alvos da reportagem não foram temas de solicitação de informação -nem do TCU nem do Ministério Público- de 2003 até a presente data. Nos últimos três anos, nada foi constatado de irregular na fiscalização da venda de imóveis e nos investimentos feitos em ações da Coteminas, todas operações anteriores a 2003. Reafirmamos a absoluta regularidade com que os negócios da Petros têm sido conduzidos na presente administração. Também reiteramos o nosso compromisso com a transparência e um relacionamento aberto com a imprensa.’ Washington Luiz Araújo, gerente de Comunicação Institucional da Petros (Rio de Janeiro, RJ)’



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Carlos Franco


‘Investimento em mídia poderá crescer 12%, prevê Rede Globo ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 19/10/05


‘A reestruturação das empresas de comunicação social no Brasil está entrando na reta final e o próximo ano será de crescimento e novos desafios, por conta das regulamentações na área de difusão digital e conteúdo. Só que os novos desafios vão ocorrer em ambiente de crescimento, impulsionado pela Copa do Mundo e pelas eleições.


As conclusões são do diretor-geral da Rede Globo de Televisão, Octávio Florisbal, que sucedeu a Walter Clark, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho e Marluce Dias no comando da maior emissora de televisão da América Latina, e que fez a palestra de abertura do MaxiMídia 2005, que vai até amanhã no Grand Hotel Meliá, em São Paulo. O evento, organizado pelo Grupo Meio & Mensagem, reúne, em feira e seminário, as maiores empresas de comunicação do País, mais profissionais de publicidade e propaganda.


Florisbal revelou que a TV Globo, num cenário conservador, prevê crescimento de 8% nos investimentos em mídia (emissoras de TV, rádio, jornais, revistas, outdoor e internet) ou o equivalente a R$ 22,4 bilhões, que chega a 10% (R$ 22,9 bilhões) num cenário que ele classifica de realista e a 12% (R$ 23,9 bilhões) ou mais numa aposta mais otimista.


Desse bolo, a TV deverá manter, por conta da Copa do Mundo, a maior fatia, que chegou a 61,8% no primeiro semestre deste ano, seguida de jornais (17,4%), revistas (8,3%), mídia exterior ou outdoor (4,4%), rádio (4,3%), TV a cabo (2,1%) e internet (1,7%).


Nem a previsão sombria do economista e diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo Roberto Giannetti da Fonseca de que o País caminha para um novo apagão de energia, a exemplo do que ocorreu em 2001 em 2007, arrefeceu o ânimo de Florisbal ou mesmo do diretor-geral do grupo de comunicação gaúcho RBS, Pedro Parente, que comandou então como ministro do governo Fernando Henrique Cardoso o plano de emergência do País durante o apagão 2001. Parente se mostrou, no MaxiMídia 2005, muito mais apegado às previsões de Florisbal do que propriamente às do antigo colega de governo Giannetti da Fonseca.


Segundo Florisbal, as classes C, D e E vão continuar consumindo no próximo ano, seja pelo estímulo da queda do juro ou da renovação dos empréstimos consignados, seja pela leva de novos empregos resultantes de eventos como a Copa do Mundo e as eleições, que tradicionalmente se traduzem em obras públicas e novos empregos. ‘E são os setores de consumo de massa que respondem por 70% da receita de publicidade na mídia’, afirmou. Para Florisbal, são as emissoras de televisão aberta e rádios as que mais se beneficiam desse consumidor em seus negócios.


Já os demais meios de comunicação, especialmente as revistas, a internet e as emissoras de TV a cabo, diz Florisbal, ainda dependem das classes A e B, que somam 8 milhões de pessoas com renda superior a R$ 5 mil ou 8% da população. ‘Aumentar a distribuição de renda é vital para os meios de comunicação, que respondem forte a qualquer ampliação na renda’.


Florisbal apresentou um cálculo, elaborado pelas Organizações Globo, de que, somando a receita de publicidade, mais a venda e os custos de circulação, os meios de comunicação no Brasil representam um negócio de R$ 80 bilhões, dos quais R$ 6,3 bilhões resultantes da produção de conteúdo, segmento que, acredita, passará por forte crescimento com as mídias digitais e interativas. ‘Se o governo regulamentar, de fato, o sistema em fevereiro, já teremos crescimento no próximo ano nesse setor que não inclui nas previsões para 2006’.


Sob o tema ‘Base Zero – Reinventando a Comunicação e o Marketing’-, o MaxiMídia pretende discutir também o impacto das novas tecnologias no consumo e na vida das pessoas. Florisbal disse que em todos os países a TV aberta não perdeu espaço devido à sua capacidade de produção de conteúdo local, que é ainda um desafio para a televisão a cabo, por assinatura.’




CASO JUDITH MILLER


Jim VandeHei e Walter Pincuds


‘Investigação põe aliados de Cheney sob suspeita’, copyright O Globo / Washington Post, 19/10/05


‘Enquanto se aproxima do fim a investigação sobre o vazamento do nome de uma agente da CIA, o promotor especial Patrick Fitzgerald concentra seu trabalho no escritório do vice-presidente Dick Cheney, disseram fontes ligadas ao caso. Fitzgerald reuniu provas que sugerem que tensões existentes há muito tempo entre Cheney e a CIA contribuíram para a revelação à imprensa do nome da agente Valerie Plame – o que é crime nos EUA.


Em sessões de interrogatório – inclusive com a repórter do ‘New York Times’ Judith Miller – Fitzgerald pressionou testemunhas a dizer o que Cheney poderia saber sobre o esforço feito contra o ex-diplomata e crítico da guerra no Iraque Joseph Wilson IV, inclusive a revelação da ocupação de sua mulher na CIA (o vazamento da identidade de Plame seria uma retaliação ao fato de Wilson ter desmentido um dos argumentos do governo para a guerra no Iraque). Mas o promotor tem se concentrado mais no papel de altos assessores de Cheney, entre eles seu chefe de Gabinete, Lewis Libby.


Durante a investigação, um ex-funcionário da CIA contou a promotores sobre esforços do escritório de Cheney e de aliados do vice-presidente para obter informações sobre Wilson. Com a aproximação do clímax do caso – fontes disseram que ainda esta semana poderá haver indiciamentos – está cada vez mais claro que Cheney e seus assessores estão profundamente envolvidos nos acontecimentos que cercam a identificação de Plame por jornalistas, entre os quais Miller.’



Paulo Sotero


‘Rumores: Cheney pode sair’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/10/05


‘Rumores sobre a renúncia do vice-presidente Dick Cheney e sua substituição pela secretária de Estado, Condoleezza Rice, agitaram ontem os meios políticos em Washington. A movimentação ilustra a tensão com que a administração de George W. Bush aguarda o anúncio das conclusões das investigações iniciadas no ano passado pelo promotor federal Patrick Fitzgerald para determinar se houve crime na revelação a jornalistas da identidade de uma agente da CIA, Valerie Plame.


O nome dela e seu vínculo com a CIA foram divulgados por um jornalista conservador, Robert Novak, em julho de 2003, uma semana depois de seu marido, o ex-embaixador Joseph Wilson, ter denunciado publicamente a falsidade de um dos argumentos usados por Bush para demonstrar que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa e justificar a invasão do Iraque. Novak identificou ‘dois funcionários de alto escalão da administração’ como fontes. As maiores suspeitas recaem sobre o conselheiro presidencial Karl Rove, o principal estrategista político da Casa Branca, e o chefe do gabinete de Cheney, I. Lewis Scooter Libby.


Provocados por um artigo de primeira página do Washington Post, segundo a qual o gabinete de Cheney é o principal alvo das investigações conduzidas por Fitzgerald, os boatos ganharam impulso depois que passaram a ser repetidos por funcionários de alto escalão da administração e conselheiros do Partido Republicano. No início da tarde, políticos conservadores que normalmente não dariam curso a rumores prejudiciais ao governo de seu partido especulavam em voz alta sobre a viabilidade política da escolha de Condoleezza para eventualmente substituir Cheney na vice-presidência. ‘Mas ela não é a favor da legalidade do aborto?’, perguntou um deles, chamando atenção para uma posição da secretária de Estado que a desqualificaria ante a ultradireita do partido para disputar a sucessão de Bush, em 2008.


A tese segundo a qual o promotor federal implicará Cheney, direta ou indiretamente, na violação de uma lei de segurança do Estado encorpou-se depois que a jornalista Judith Miller, do New York Times, confirmou que Libby falou-lhe em pelo menos três ocasiões sobre Valerie e sua ligação com a CIA. A repórter, que passou 85 dias presa por se recusar a revelar a fonte que, no final, acabaria revelando, afirmou também que o chefe de gabinete de Cheney, agindo por meio de seu advogado, teria tentando influenciar seu depoimento. Isso consiste, potencialmente, em ato de obstrução à Justiça. Segundo o Post, ironicamente, foi a insistência de Cheney para que a CIA provasse que o Iraque estava adquirindo armas proibidas que levou a agência a acatar uma sugestão de Valerie para que seu marido, Joseph Wilson, viajasse em 2002 para o Níger para apurar se Saddam tentara comprar urânio no país.’



***


‘Judith Miller se licencia de jornal ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 18/10/05


‘Sob uma chuva de críticas a sua conduta profissional e à tolerância de seus editores diante do que um analista, Gregg Mitchell, da revista Editor & Publisher, chamou de ‘crimes contra o jornalismo’, a repórter Judith Miller, no New York Times, entrou ontem de licença, sem data marcada para voltar.


Vários de seus colegas, dentro e fora do NYT, disseram que o afastamento marca provavelmente o fim de sua carreira de mais de 30 anos no mais influente jornal dos EUA. Miller passou 85 dias presa por se recusar a prestar depoimento numa investigação sobre o vazamento da identidade de uma agente da CIA, Valerie Plame, por funcionários de alto escalão da administração Bush, que é crime federal nos EUA. Na época, ela alegou que agiu em defesa do princípio da confidencialidade das fontes, essencial para a prática do jornalismo.


No dia 29, no entanto, ela decidiu falar, afirmando que fora liberada do compromisso por sua fonte, I. Lewis Scooter Libby, o chefe de gabinete do vice-presidente americano, Dick Cheney. O advogado de Libby explicou, contudo, que a permissão de seu cliente estava disponível desde o início.


A informação reforçou a impressão de muitos de seus colegas de que a repórter, que estava profissionalmente na berlinda e causara enorme embaraço ao NYT com cinco reportagens sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque que se revelaram furadas, optou por ir para a cadeia e posar de mártir para tentar salvar sua carreira e proteger um preceito do jornalismo. ‘Não está claro que princípio Judith achou que estava protegendo (ao não falar), o qual permitiu também que ela prestasse depoimento’, afirmou Tom Rosenstiel, diretor do Projeto para Excelência em Jornalismo.


As críticas, que vinham sendo feitas em surdina, extravasaram no fim de semana depois que Miller publicou um relato no NYT sobre o depoimento de quatro horas que prestou ao promotor federal Patrick Fitzgerald, no dia 30. O texto da jornalista, que incriminou Libby como autor do vazamento do nome da agente, mas registrou também inexplicáveis esquecimentos sobre a identidade de uma segunda fonte oficial que identificou Plame, veio acompanhado de uma reportagem de mais de uma página assinada por três repórteres do NYT contendo várias informações desabonadoras sobre a repórter e a conduta da direção do jornal. Em lugar de elucidar os motivos de Miller, os dois artigos levantaram novas questões éticas sobre a jornalista e as decisões da administração do jornal no episódio.


A mais surpreendente destas refere-se à informação dada pelo próprio jornal segundo a qual o editor responsável, Arthur O. Sulzberger Jr., e o diretor de redação, Bill Keller, que apoiaram Miller durante seu período de encarceramento, deixaram à repórter praticamente todas as decisões legais sobre o caso, sem exigir que ela lhes falasse sobre as conversas com Libby ou mostrasse suas anotações. Limitado por esse fato, o jornal acabou tomando furo numa história em que era protagonista central, pois noticiou a libertação de Miller em sua versão online um par de horas depois do Philadelphia Inquirer.


‘É difícil imaginar por que eles (Sulzberger e Keller) não se asseguraram de que ela (Miller) não estava sendo usada por funcionários da administração Bush que podem ter violado a lei’, escreveu Farhad Manjoo, na revista eletrônica Salon.


A pergunta é justificada por dois fatos conhecidos: Miller era uma repórter com franco acesso aos altos escalões do governo Bush, era conhecida entre seus colegas por sua militância em favor da tese segundo a qual Saddam Hussein possuía um arsenal de armas de destruição em massa e foi afastada da cobertura sobre o Iraque por Keller, em maio de 2003, depois que suas reportagens revelaram-se erradas.


Manjoo deixou no ar também a possibilidade de a jornalista ter agido em conluio com suas fontes. Jay Rosen, professor de jornalismo da Universidade de Nova York, elogiou os editores do NYT por sua coragem ‘de dizer algumas verdades desconfortáveis sobre si mesmos’, mas foi duro com Miller. Segundo ele, o comportamento dela foi ‘sórdido’ e ela ‘não tem mais credibilidade’.’