Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Nelson de Sá


‘Fim de tarde e entra o repórter na Globo, ao vivo:


– No depoimento tranqüilo, que já dura sete horas, Palocci reiterou várias vezes que permanece no cargo porque conta com o apoio do presidente Lula.


E corta Fátima Bernardes:


– Há pouco, ao ouvir perguntas sobre a situação do ministro, o presidente respondeu, ‘está mais firme que nunca’.


A ‘superterça’ que não houve acabou ali. Depois, na síntese da escalada do ‘Jornal Nacional’:


– O ministro Antonio Palocci diz que fica no cargo enquanto o presidente Lula quiser. E o presidente afirma que Palocci está mais firme do que nunca.


O diálogo virtual de ambos por TV, rádio e web ocupou o dia todo, começando com o ministro, nos enunciados do Valor On Line à agência Reuters:


– Palocci, do Brasil, diz que só Lula pode dizer se ele fica.


E mais tarde, na manchete do Globo Online, ‘Lula: Palocci mais firme do que nunca’.


Mas a conversa prossegue, avisa o blog de Josias de Souza:


– Palocci condiciona permanência a meta de superávit.


Em meio ao diálogo dos dois, entrou falando ‘o mercado’.


Nos sites, os enunciados sobre a alta do dólar justificavam com o depoimento, evidência de que ‘o mercado’ quer Palocci.


Mas para o site da Bloomberg o dólar subiu ‘depois que o Banco Central vendeu os chamados contratos de swap no esforço de conter a demanda por real’. Nem menção ao depoimento.


Se ‘o mercado’ exige Palocci ou não, há controvérsias. Mas o correspondente do ‘Financial Times’ não quer outra coisa.


Em reportagem traduzida no UOL e com eco da BBC Brasil à rádio Band, Jonathan Wheatley anuncia, a partir do título:


– A estabilidade econômica do Brasil está amarrada intimamente ao ministro da Fazenda.


No texto, o apocalipse: ‘o impacto de sua saída nos mercados financeiros seria grave’; ‘os pilares da estabilidade poderiam desmoronar’; ‘qualquer mudança nas políticas geraria volatilidade entre investidores’ etc.


E hoje tem mais Palocci, para acabar com os nervos de alguns, como relatou o Valor On Line:


– Há seis horas falando, o ministro repetirá quarta a maratona na Câmara, na comissão destinada a avaliar o Fundo de Desenvolvimento e Manutenção da Educação Básica (Fundeb).


E tem mais Palocci a caminho.


Como adiantou o blog da Folha Online, o convite saiu depois que ‘o governo, minoritário na CPI do Fim do Mundo, cooptou o voto de Augusto Botelho, do PDT’. Deu a Globo, depois:


– A oposição e o governo fecharam acordo para que Palocci seja convidado e não convocado a depor na CPI dos Bingos. A data será definida por Palocci.


Enquanto o depoimento corria ‘tranqüilo’ e o ministro colhia ‘vitória’ na CPI dos Bingos, a Folha Online dizia que ‘dois governadores tucanos reservaram elogios a Antonio Palocci’.


Aliás, dois presidenciáveis, Aécio Neves e Geraldo Alckmin.


Na manchete da Carta Maior, fechando a ‘superterça’, ‘José Dirceu ganha uma semana em cenário cada vez menos hostil’.


Segundo o site, ele ‘se mostra cada vez menos vulnerável’.


GUERRA E TV


Há dias as manchetes de televisão e imprensa nos EUA ecoam a conclamação, feita por um respeitado congressista, de retirada das tropas do Iraque. E ontem se anunciou que o americano preso há três anos por suposta ameaça terrorista foi indiciado, afinal. Mas, como destacou até o governista ‘Washington Post’, ‘por acusações sem relação com qualquer ataque terrorista potencial’.


Em meio ao vexame sem fim da guerra, o tablóide inglês ‘Daily Mirror’ anunciou em manchete que George W. Bush ‘planejou bombardear a TV árabe Al Jazira’, segundo um memorando secreto, e só desistiu por oposição do primeiro-ministro britânico Tony Blair. A Casa Branca ridicularizou o tablóide. Mas o ‘WP’ observou que o escocês ‘The Scotsman’, bem mais respeitável e, aliás, favorável à guerra, também deu o memorando.


Ameaçada ou não por Bush, a Al Jazira virou sucesso e até modelo empresarial, ao lado da Fox News. Ontem o ‘Valor’ entrevistou seu diretor Nigel Parsons, sobre o lançamento próximo da versão em inglês do canal árabe.


OUTRA GUERRA


No mundo virtual, começou ontem outra ‘guerra’, na expressão usada da BBC ao ‘New York Times’. O início da venda do novo console de jogos da Microsoft, que se adiantou aos dos inimigos ‘gigantes’ Sony e Nintendo, a serem lançados em 2006, tomou o dia de parte da web -e de Bill Gates, que deu rara entrevista à Reuters e até posou para blog, fazendo a primeira entrega.


Apesar do ‘buzz’, as primeiras críticas, da Wired.com ao blog do ‘Guardian’, surgiram carregadas de restrições -e até de apostas nos inimigos, para o ano.’



***


‘Poucos amigos’, copyright Folha de S. Paulo, 22/11/05


‘Começa hoje, na descrição da Globo, uma ‘semana agitada para Palocci’.


Ele vai a duas comissões na Câmara e ‘pode ser convocado para depor na CPI dos Bingos’, do Senado. E hoje ‘a oposição promete mais crítica’.


Na Folha Online, ‘Congresso centra fogo em Palocci’.


O blog de Jorge Moreno vai além e fala em ‘superterça’ ou ‘um dia de Palocci para todos os gostos -frito, assado, cozido a vapor, até sushi de Palocci’.


Um dia antes e, na escalada do ‘Jornal Nacional’:


– O presidente Lula elogia o ministro da Fazenda, defende a política econômica e diz que divergências são saudáveis. Os ministros Palocci, Paulo Bernardo e Dilma Rousseff reaparecem juntos em público.


Foi um elogio contido, acentuando que ‘não tem política econômica do Palocci, tem política econômica do governo’ -e que ela não vai mudar por ‘pequenez eleitoral’.


Era o discurso, na avaliação da Globo News, ‘esperado por Palocci há mais de uma semana’. Ainda assim, ‘o ministro chegou atrasado e chegou com cara de poucos amigos’.


Entre os poucos amigos que falaram dele estavam o atual e dois ex-presidentes do Banco Central, num evento que ecoou por canais de notícias, rádios e sites noticiosos.


Ainda assim, dos dois ex, ao menos Affonso Celso Pastore declarou que ‘o Brasil poderia acelerar o corte de juros’.


Outro amigo de sempre de Palocci é ‘o mercado’.


Sob o título ‘Merril Lynch torce por Palocci’, o blog do UOL registrou que o boletim diário de mercados emergentes da corretora trouxe ontem na capa uma declaração de Lula:


– Palocci é e vai continuar a ser o meu ministro.


Por outro lado, o site da agência Bloomberg noticiou que a empresa de avaliação de risco Standard & Poor’s julga que ‘a perspectiva para o risco-Brasil é a melhor de todos os tempos’.


Os motivos? Aumento das exportações e, claro, redução de despesas públicas.


Mas não, para o ‘Wall Street Journal’ não é o ministro da Fazenda o escudo do presidente contra a crise política.


Em reportagem ilustrada por imagem de um Lula sorridente, o jornal afirma no título que ‘Da Silva desvia seus detratores’ e, no subtítulo, ‘Apelo populista do presidente equilibra o peso dos escândalos’.


A avaliação, no texto do ‘WSJ’, é que ‘as conclamações da oposição por impeachment dão em nada, e seus adversários políticos, que pensaram que o escândalo o sepultaria, estão desmoralizados’.


Além dos ‘resultados econômicos consistentes’, Lula ‘também apresentou resultados ao seu eleitorado: os pobres’. À frente de tudo, o Bolsa-Família, ‘a maior bandeira social do governo’.


Mais que por Palocci, o ‘WSJ’ ao que parece torce por Lula.


Na ilustração do ‘WSJ’, ontem, o ‘apelo de massa’ do presidente se mantém por sua ‘raiz populista’ e pelo ‘aumento nos gastos com os pobres’, como o Bolsa-Família


Abertura 1


O decreto que determina a abertura dos ‘arquivos secretos da ditadura’ vem ocupando a Globo longamente, desde o ‘Fantástico’ até os fartos elogios do emblemático Alexandre Garcia, no ‘Bom Dia Brasil’.


Mas foi nos blogs a maior repercussão, desde sábado, com a lista dos 28.555 nomes divulgados por Fernando Rodrigues no UOL e o apoio de Claudio Weber Abramo à ampliação do acesso à informação.


Abertura 2


Ecoou também pelo mundo. Os sites do ‘New York Times’ e de outros jornais americanos apelaram ao despacho da agência AP -observando que ‘os militares há muito tentavam impedir a liberação de documentos invocando a Lei de Anistia’.


Além dos despachos, a abertura rendeu reportagens desde o chinês ‘Diário do Povo’ até o espanhol ‘El País’, sob o título ‘Governo de Lula abrirá arquivos da ditadura militar’.


300 ANOS


A implantação do projeto de Netinho de Paula, de uma rede de televisão aberta voltada aos negros, quase não ecoou no Brasil, desde domingo -a não ser pela reação do apresentador ao ‘Pânico na TV’, ontem nos portais.


Já o britânico ‘Guardian’ cobriu não só o lançamento, anteontem, com o brado ‘nós estamos no ar!’, mas se engajou abertamente, a começar do título de sua longa reportagem, ‘A primeira televisão negra do Brasil luta contra um legado de 300 anos de escravidão’.’



EUA / MERCADO EDITORIAL


Floyd Norris


‘Alguém está interessado em comprar um jornal? ‘, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times , 22/11/05


‘Uma velha piada de Wall Street diz que um investidor, tendo acumulado uma grande posição num estoque ilíquido, decide que é hora de sair. ‘Sim, senhor’, responde o corretor quando o investidor ordena a venda.


‘Para quem?’ A situação atual da Knight Ridder, proprietária de jornais como The Philadelphia Inquirer e The Miami Herald, ressuscita a piada, ainda que dolorosamente.


O investidor é um gerenciador de recursos, até aqui bem-sucedido, chamado Bruce S. Sherman. Sua empresa, a Private Capital Management, investe dinheiro para instituições e indivíduos ricos.


A partir de 2000, ele enxergou valor nas ações de jornais. Pelo último relatório, seus clientes tinham US$ 4,2 bilhões em ações de nove companhias que publicam jornais. É cerca de um décimo do estoque total emitido por essas companhias e 14% dos US$ 31 bilhões que Sherman gerencia.


Ele é o maior proprietário de sete dessas companhias, com 15% da New York Times Co.; 26% da Belo, que publica The Dallas Morning News e The Providence Journal; e 38% da McClatchy, cujos jornais incluem The Sacramento Bee e The Star Tribune de Minneapolis.


Famílias controlam essas companhias por meio de ações com direito a grande número de votos. Mas a Knight Ridder, onde a fatia de Sherman é de 19%, não tem ações desse tipo.


Depois que Sherman avisou que poderia apoiar uma tentativa de substituir diretores, a diretoria da Knight Ridder concordou em pôr a companhia à venda.


CONCORRÊNCIA IMPLACÁVEL


O problema de Sherman é conhecido por muitos investidores que procuram ações baratas: onde eles vêem valor, outros vêem problemas.


Hoje, o consenso em Wall Street sobre os jornais é que eles são uma espécie agonizante, destinada a definhar sob a concorrência implacável de empreendimentos como o Google. Os lucros podem ser bons agora, mas não vão durar, pois a circulação diminui e os anunciantes procuram novas mídias. Um índice de ações de jornais está em baixa de 22% em 2005.


Os gerenciadores de recursos precisam divulgar relatórios trimestrais sobre as posses, mas não sobre as compras e vendas. Estimo, baseado nesses relatórios e supondo que as transações foram feitas com preços médios para cada trimestre, que os grandes lucros do início da década com os investimentos de Sherman em jornais transformaram-se hoje em grandes prejuízos.


Numa entrevista na semana passada, o investidor manifestou confiança, lembrando dúvidas similares sobre suas compras de desprezadas ações de bancos no início dos anos 90.


‘Acredito no setor e acho que os múltiplos de fluxo de caixa que essas companhias vendem são oportunidades extraordinárias’, disse Sherman, acrescentando nunca ter visto um período em que a indústria dos jornais fora tão agressiva na recompra de ações como nos últimos anos.’



BUSH vs. AL JAZEERA


Fabio Victor


‘Bush quis atacar a Al Jazira, diz jornal britânico ‘, copyright Folha de S. Paulo, 23/11/05


‘O tablóide londrino ‘Daily Mirror’ disse ontem que o presidente dos EUA, George W. Bush, planejou bombardear a sede da TV Al Jazira, em Doha (Qatar), mas foi dissuadido pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair.


Baseado em fontes anônimas do governo do Reino Unido, o jornal informou ter acesso a um suposto memorando que relata uma conversa entre Bush e Blair em abril de 2004, durante visita deste à Casa Branca. A Al Jazira é acusada pelos EUA de disseminar o antiamericanismo no mundo árabe ao divulgar imagens da invasão do Iraque e mensagens de líderes terroristas da rede Al Qaeda.


Segundo o ‘Mirror’, Blair teria alertado Bush de que a reação internacional seria desastrosa, não só pelo número potencial de vítimas inocentes, mas também porque o Qatar é um aliado-chave dos EUA no Oriente Médio.


Apesar de o ‘Mirror’ ser sensacionalista e admitir a hipótese, defendida por outra fonte anônima do governo, de que Bush possa ter feito a proposta de brincadeira, alguns políticos deram crédito à informação. O ex-ministro da Defesa Peter Kilfoyle desafiou Downing Street a mostrar o memorando.’



O Estado de S. Paulo


‘Bush pretendia bombardear TV árabe, diz jornal ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 23/11/05


‘ALIADO: O presidente dos EUA, George W. Bush, pensou em bombardear a TV Al-Jazira, do Catar, mas foi dissuadido pelo primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, informou ontem o tablóide britânico ‘Daily Mirror’. Os EUA acusam a Al-Jazira de instigar a insurgência no Iraque, mas o Catar é forte aliado dos americanos. O jornal cita memorando ultra-secreto mencionado por fontes no governo britânico. Segundo uma fonte, Bush só estava fazendo piada. Mas outra garantiu que ele falava sério. A Casa Branca desmentiu a versão, definindo-a como bizarra. O Pentágono a considerou ‘completamente absurda’.’



O Globo


‘Bush quis bombardear al-Jazeera, diz jornal’, copyright O Globo, 23/11/05


‘O jornal inglês ‘Daily Mirror’ disse ontem que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pensou na possibilidade de bombardear a sede da emissora de TV al-Jazeera, no Qatar, mas foi dissuadido da idéia pelo premier britânico, Tony Blair. O diário afirmou que um funcionário do governo britânico está sendo processado por ter passado um documento confidencial revelando a intenção de Bush a um antigo funcionário de um ex-deputado.


Segundo o ‘Mirror’, a conversa de Blair com o presidente ocorreu em 16 de abril de 2004 na Casa Branca. Os Estados Unidos acusam a emissora qatariana de difundir sentimentos antiamericanos no mundo árabe e de funcionar como uma porta-voz oficiosa do chefe da rede terrorista al-Qaeda, Osama bin Laden, cujas mensagens ela freqüentemente leva ao ar.


Carro-bomba em Kirkuk mata 18 pessoas


O escritório do premier negou-se a comentar a acusação alegando nunca discutir documentos confidenciais vazados à imprensa. Em Doha, a direção da al-Jazeera disse conhecer a versão contada pela imprensa, mas não quis se pronunciar


A história teria sido vazada por David Keogh a Leo O’Connor, que trabalhara com o ex-deputado Tony Clarke. Tanto Keogh como O’Connor devem comparecer na próxima semana a um tribunal para responder às acusações. Keogh foi acusado de violar a Lei de Segredos Oficiais e O’Connor, de receber e revelar informação ilegalmente.


Nos últimos três anos, duas vezes sucursais da al-Jazeera foram atacadas pela aviação americana em países invadidos pelos EUA. Em abril de 2003, um jornalista da emissora morreu no bombardeio do escritório em Bagdá. O Departamento de Estado alegou ter sido um acidente. Meses antes, em novembro de 2002, o escritório em Cabul, no Afeganistão, também foi destruído por um míssil americano. Ninguém estava no local no momento da explosão e funcionários americanos alegaram ignorar que se tratasse de instalações da al-Jazeera.


Em Kirkuk, a explosão de um carro-bomba matou 18 pessoas e feriu 28 na estrada. Há duas versões para o ocorrido: numa, o atentado teria sido na principal estrada que liga a cidade a Bagdá e o terrorista teria detonado os explosivos ao passar por veículos da polícia; noutra, o terrorista teria jogado o carro-bomba contra a multidão num mercado. Em Tikrit, um morteiro foi lançado contra um palácio de Saddam Hussein no momento em que ele era devolvido às autoridades iraquianas. O embaixador dos EUA, Zalmay Khalilzad, e o comandante das forças americanas, general George Casey, tiveram de buscar abrigo, mas ninguém se feriu.’



AL JAZEERA EM INGLÊS


Tatiana Bautzer


‘Al-Jazeera fala inglês para concorrer com CNN e BBC’, copyright Valor Econômico, 22/11/05


‘Um talk-show de um marine que participou da invasão do Iraque numa rede de TV árabe. Impossível? Não para a rede de TV Al-Jazeera, que planeja para o primeiro semestre do ano que vem o lançamento de seu canal mundial em inglês, para concorrer diretamente com as redes internacionais CNN (americana) e BBC (britânica).


A Al Jazeera International vai levar ao ar um programa de entrevistas conduzido pelo ex-porta-voz do Pentágono para a imprensa internacional no Oriente Médio, capitão Josh Rushing, que foi um dos personagens do documentário ‘Control Room’ sobre a cobertura da rede árabe nas semanas anteriores à invasão do Iraque.


O Pentágono já acusou a Al-Jazeera de ‘incitar violência’ no Oriente Médio, condenou a apresentação de vídeos com execuções de soldados e a divulgação de imagens de corpos. Alguns de seus jornalistas foram presos em vários países sob acusação de terrorismo.


Rushing provocou irritação no Pentágono pela sua participação no documentário, no qual ele diz que a Al-Jazeera não distorce mais as informações do que a rede conservadora americana Fox, embora ambas estejam em lados opostos.


Mas a rede ganhou credibilidade e influência na região a ponto de os EUA financiarem o lançamento de uma TV concorrente em árabe. O lançamento do novo canal em inglês, inicialmente previsto para o fim do ano, agora está marcado para o segundo trimestre de 2006, afirma o diretor internacional da Al Jazeera, Nigel Parsons, em entrevista ao Valor. Os objetivos da rede são ambiciosos: atingir via cabo, satélite ou internet um universo de 30 a 40 milhões de residências em todo o mundo.


A nova rede pretende oferecer uma ‘agenda diferente’ ao público ocidental, cobrindo não apenas países do Oriente Médio e seu relacionamento com os Estados Unidos, mas também as regiões em desenvolvimento, como a América Latina.


A proposta do canal é ambiciosa, com 30 escritórios em todo mundo, 450 funcionários (cerca de 200 jornalistas) e quatro sucursais que vão ‘ancorar’ a programação dependendo do fuso horário.


As sucursais que comandarão a programação mundial serão Doha, no Catar (sede da rede), Kuala Lumpur, na Malásia, Washington, Estados Unidos, e Londres, Reino Unido. A cobertura da América Latina será coordenada pela sucursal de Washington, mas a rede planeja escritórios em Buenos Aires, Caracas, Lima e Rio de Janeiro.


O diretor do canal de notícias em inglês, Nigel Parsons, confirma a contratação de Rushing, mas prefere não entrar em detalhes sobre o programa de entre-vistas, confirmado ao Valor por outras fontes. ‘Ainda estamos fazendo projetos-piloto e nada está fechado’, disfarça Parsons.


No Oriente Médio, o canal em inglês terá acesso integral ao material da rede em árabe – o canal melhor posicionado para cobertura dos conflitos na região.


Parsons diz que a percepção de que a Al Jazeera estimula a violência é restrito a ‘alguns setores conservadores americanos’ e que a rede faz apenas reportagens corajosas. ‘Acho engraçado que as pessoas sejam a favor da imprensa livre, mas queiram controlar o conteúdo’, diz o executivo.


A rede parece ter mesmo uma postura independente, porque algumas de suas reportagens irritaram os governos mais fechados da região, como o da Arábia Saudita, provocando a suspensão de contratos de publicidade por anunciantes árabes, que começaram a sofrer pressões.


Para a América Latina, Parsons diz que a intenção é cobrir a região com um ponto de vista alternativo – diferente do das grandes potências ocidentais (EUA e europeus) – em assuntos polêmicos como a campanha dos EUA contra o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e a influência americana nas constantes turbulências políticas na América Central. Parsons concorda, entretanto, que a relação da America Latina não é tão conflituosa com os EUA como a do Oriente Médio.


‘Não queremos ser um canal anti-americano. Vamos tentar cobrir a América Latina com profissionais latino americanos nos dizendo o que é importante para a população da região’, afirma o executivo. Ele explica que a rede tentará ser mais investigativa, ouvindo a população e não apenas fontes oficiais.


Recentemente, segundo Parsons, a área de esportes do canal em árabe tentou comprar direitos de transmissão de alguns campeonatos de futebol.


O executivo não dá muitos detalhes sobre os acordos de distribuição já fechados pela rede na região, dizendo que o mercado é ‘muito fragmentado’ em pequenos operadores de cabo. Em último caso, a distribuição em alguns locais pode começar pela internet, até que sejam fechados contratos com operadoras de cabo ou satélite. ‘Os acordos na América do Sul ainda são apenas verbais’, diz.


Na Ásia, os maiores mercados serão Índia e Paquistão, além do sudeste asiático. Ainda há muitas restrições a canais privados de TV no mercado chinês.


O emir do Catar, Sheikh Hamad bin Khalifa Al-Thani, controlador da Al Jazeera, não teve que injetar mais recursos para a montagem da rede internacional, segundo o diretor. A expectativa é atingir o equilíbrio do resultado operacional no período de três a cinco anos.


O primeiro canal foi aberto em 1996, com investimento de US$ 150 milhões. Os canais atuais, que já incluem um de esportes, além do noticioso em árabe, geram receita suficiente para sustentar a nova empreitada. A empresa ainda tem capital fechado e os investimentos e resultados da companhia não são públicos. ‘Houve muitos rumores sobre um possível lançamento de ações, mas por enquanto nossas finanças ainda são confidenciais’, diz.’



ARQUIVOS / EUA


José Meirelles Passos


‘Queda-de-braço pela verdade sobre Kennedy’, copyright O Globo, 23/11/05


‘Quarenta e dois anos depois do assassinato do presidente John F. Kennedy, a CIA continua se recusando a liberar documentos ligados ao crime. São papéis que, segundo especialistas, poderiam desvendar de vez o mistério que ainda envolve aquele evento.


Em moção apresentada a um tribunal federal, em Washington, a CIA está tentando bloquear a liberação de registros requisitados sob a Lei de Liberdade de Informação pelo jornalista Jefferson Morley. Eles dizem respeito a um personagem pouco conhecido mas, segundo ele, peça importante no quebra-cabeças.


Trata-se do ex-chefe da Seção de Guerra Psicológica da CIA em Miami, em 1963, George Joannides, já falecido. Ele guiava e monitorava um grupo de exilados cubanos que, três meses antes do crime, teve uma série de encontros com Lee Harvey Oswald, apontado como assassino.


As atividades de Joannides reforçariam as suspeitas de que a CIA esteve por trás do assassinato, e não a máfia ou a Rússia como afirmam alguns historiadores – e também colocariam por terra a versão oficial de que Oswald agira por conta própria.


– A CIA já reconheceu que tem um documento sobre as atividades de Joannides no verão e no outono de 1963, mas diz que não vai liberá-los por razões de segurança nacional. Isso só reforça as teorias de conspiração – disse Morley.


Um grupo de 24 intelectuais que há anos pesquisa o assunto, entre eles o escritor Norman Mailer e o cineasta Oliver Stone, escreveu carta de apoio a Morley, procurando forçar a Justiça a não considerar o pedido da CIA. O argumento básico é de que, ao negar a liberação dos papéis, a agência desrespeita uma lei de 1992 que ordena que todos os documentos relacionados ao assassinato sejam revistos e revelados.


‘A posição da CIA é espúria e indefensável. A agência desafia o Congresso e mina a confiança pública na comunidade de inteligência’, diz um trecho da carta.’



ARGENTINA


Ariel Palacios


‘Jornalistas argentinos são pressionados por Kirchner ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 23/11/05


‘Uma pesquisa sem precedentes na história do jornalismo argentino indicou que quase metade dos profissionais da mídia do país já foi alvo de pressões do governo do presidente Néstor Kirchner. A pesquisa, feita pela consultoria Giacobbe e Associados, a pedido do Fórum do Jornalismo Argentino, diz que 45,4% dos 300 jornalistas entrevistados admitiram que receberam telefonemas ou foram alvo de pressão de algum integrante do gabinete Kirchner ou dos governos provinciais (a imensa maioria, aliada do presidente). O medo de pressões é tão grande que poucos meios de comunicação argentinos publicaram o resultado da pesquisa.


O governo Kirchner seria, na visão de 38,7% dos jornalistas, o que mais pressionou os profissionais da área desde a volta da democracia, em 1983. Para 16,3% dos entrevistados, o ex-presidente Carlos Menem, que recorria com freqüência aos tribunais para processar jornalistas, também exerceu grande pressão.No entanto, 25,5% dos questionados disseram que todos os governos pressionaram de forma similar.


A maior fonte das ‘recomendações’ para que os jornalistas não publiquem determinados assuntos, segundo a pesquisa, é o chefe do Gabinete de Ministros, Alberto Fernández, e seus assessores. Ainda segundo a pesquisa, 55,7% dos jornalistas definem o jornalismo argentino como ‘controlado’. Outros 27,3% preferem usar o termo ‘complacente’. Só 1,4% o definiu como ‘independente’.’



LIBÉRATION EM CRISE


O Estado de S. Paulo


‘‘Libération’ anuncia cortes e enfrenta greve ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 22/11/05


‘A direção do jornal francês Libération apresentou ontem aos representantes dos trabalhadores um plano de reorganização que prevê a eliminação de 38 dos 330 postos de trabalho da equipe e a terceirização de outros 14. Dos 38 postos que serão suprimidos, 28 correspondem à redação, enquanto os 14 que serão terceirizados são dos setores de informática e comercial, segundo fontes sindicais.


O plano foi mal-recebido pelos funcionários, que, em assembléia, votaram quase unanimemente por uma greve de 24 horas, como um protesto pelos cortes. Como muitos jornais franceses, o Libération, ícone da esquerda francesa – um dos seus co-fundadores foi o filósofo Jean-Paul Sartre – vem enfrentando uma delicada situação financeira, fruto da concorrência com a internet e com os jornais diários gratuitos.


O jornal recebeu em janeiro uma injeção de capital de 20 milhões, depois de os funcionários terem votado favoravelmente à entrada de um herdeiro da família Rotschild no seu bloco da acionistas. Serge July, que fundou o jornal juntamente com Sartre em 1973 e permanece como principal executivo, havia dito em janeiro que o dinheiro de Edouard de Rothschild ajudaria o diário a melhorar as vendas, a distribuição, o conteúdo editorial e as operações na internet.


Atualmente, Edouard de Rothschild detém 38,8% do capital do Libération. O resto do capital se divide entre o grupo Pathé (16,77%), o acionista histórico Communication et Participation (10,06%), o grupo industrial Suez (2,53%), o jornal espanhol El Mundo (1,01%), o diário belga La Libre Belgique (1,01%) e o semanário francês Le Nouvel Observateur (0,77%).’