Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 5 de junho de 2006
TV PAGA
Net corta BBC e TV5
‘Você acha o canal A&E mais interessante que a TV5 ou que a BBC? Pois a Net, que agora priva os assinantes do sistema analógico de acessar essas duas emissoras, informa que ‘face ao tamanho que a Net tem de assinantes, o número de interessados nesses canais (TV5 e BBC) era mínimo’. Assim disse o diretor de Produtos e Serviços da operadora, Márcio Carvalho.
Quem quiser continuar assistindo à BBC, à TV 5 e também à TVE pela Net terá de se curvar ao sistema digital. Esses canais foram tirados do ar do sistema analógico e só voltam a ocupar suas respectivas faixas no line up da Net – 59, 30 e 27 – quando o assinante solicitar à operadora a conversão de seu decodificador para o sinal digital.
Como consolo aos órfãos da BBC e da TV5 que não estão dispostos a se converter ao sinal digital, a Net oferece uma substituição duvidosa: o A&E e o The History Channel, ‘canais de interesse mais genérico’, fala Carvalho.
Com todo respeito aos canais que entram em cena agora, não há como buscar neles a opção de ser informado por telejornais franceses e ingleses, para não falar em outras perdas. Mas este talvez seja mais um indício do (pouco) interesse cultural da platéia brasileira que paga para ver.’
MEMÓRIA / JÚLIO DE MESQUITA NETO
Dez anos sem Julio de Mesquita Neto
‘Diretor-responsável do ‘Estado’ entre 1969 e 1996 teve papel destacado na luta pela liberdade de imprensa
Em 5 de junho de 1996 morria Julio de Mesquita Neto, um dos mais respeitados jornalistas de sua época, então diretor-responsável de O Estado de S. Paulo. Notável pela sua luta incansável contra a censura do regime militar nos anos 60 e 70, Julio de Mesquita Neto teve uma carreira pontuada por várias atividades dentro do jornalismo, interagindo intensamente com a vida política do País.
Democrata convicto, ainda estudante de Direito participou ativamente de atos públicos contra a ditadura de Vargas em 1943, sendo um dos signatários do ‘Manifesto à Nação’, documento de contestação ao regime de força distribuído à população pelo Centro Acadêmico XI de Agosto.
Sua estréia no jornalismo ocorreu em 1948, como repórter esportivo. Publicou depois artigos sobre História, Ciência Política e Economia. Em 1950 teve grande repercussão o estudo minucioso que fez sobre a decadência do sistema ferroviário brasileiro.
A partir de 1955, dedicou especial atenção a uma iniciativa que marcaria época no jornalismo cultural brasileiro. Por inspiração de seu pai, Julio de Mesquita Filho, o crítico literário Antonio Candido foi convidado para projetar o Suplemento Literário, um encarte de sábado do Estado que se tornaria o principal veículo do debate intelectual brasileiro nos anos 50 e 60, dirigido por Décio Almeida Prado.
No ano seguinte fez um curso sobre novas técnicas jornalísticas na Universidade de Columbia, em Nova York, tendo sido um de seus colegas o também falecido jornalista Roberto Marinho. Em 1959 foi eleito diretor da empresa, assumindo na prática as funções de diretor de redação de O Estado de S. Paulo. Dez anos depois, em um momento crítico da vida brasileira, tornou-se o diretor-responsável, logo após a morte de Julio de Mesquita Filho.
Estava em vigor desde o final do ano anterior o Ato Institucional nº 5 e o País vivia a fase mais dura do regime militar. Julio de Mesquita Neto se notabilizaria então pela coragem demonstrada ao enfrentar a censura.
Era apenas o começo de uma luta tenaz contra o obscurantismo vigente. Como membro da Associação Interamericana de Imprensa (SIP), Julio de Mesquita Neto apresentava relatórios contundentes sobre a supressão da liberdade de informação imposta pela ditadura.
Em 1973, com o início do debate sobre a sucessão do general Médici no comando do regime militar, a censura ficou ainda mais rígida. Nesse momento, censores passaram a atuar diretamente nas redações dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, vetando a publicação de matérias consideradas ‘subversivas’. No princípio, dispostos a deixar claro aos leitores que seu noticiário estava sob censura, os dois jornais passaram a preencher o espaço das matérias proibidas com assuntos que não tinham relação com as páginas onde eram publicadas. Como os jornais não podiam anunciar que estavam sob censura, essa era uma maneira de comunicar ao público a interferência arbitrária do governo.
Primeiro, publicaram-se cartas de leitores e artigos sobre jardinagem no lugar das notícias proibidas. Uma das cartas, escrita na própria redação, falava sobre a ‘inexistência de rosas azuis’ e foi publicada no alto direito da primeira página, no lugar de uma matéria vetada que informava sobre a renúncia do ministro da Agricultura, Cirne Lima. Ao lado, foi publicado um anúncio da Rádio Eldorado intitulado Agora é samba. Muitos leitores entenderam o recado, mas houve quem se entusiasmasse com a campanha pelo cultivo de rosas azuis. Era necessário tentar outro caminho para chamar a atenção dos leitores.
Em junho de 1973, Julio de Mesquita Neto sugeriu a publicação de poemas nos espaços das matérias censuradas. No dia 29 daquele mês, na página reservada aos editoriais (Notas e Informações) saía o primeiro poema em local destinado a texto proibido: Y-juca Pirama, de Gonçalves Dias, ocupava o espaço do editorial intitulado A censura no cinema, que comentava o absurdo recolhimento de dez filmes anteriormente liberados, alguns deles financiados pelo próprio governo através do Instituto Nacional do Cinema e do Ministério da Educação.
Durante o mês de julho poesias e textos teatrais tiveram forte presença em O Estado de S. Paulo: Olavo Bilac teve o poema O Caçador de Esmeraldas publicado 27 vezes, enquanto A Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, figurou em 13 edições. Diversos outros poetas foram prestigiados, até que no dia 2 de agosto de 1973 foi publicado pela primeira vez um trecho de Os Lusíadas, de Camões. Vinha para tapar o vazio deixado por um editorial vetado que criticava a eventual indicação de um militar para ocupar o Ministério da Justiça. Desse dia até 4 de janeiro de 1975, os versos de Camões seriam publicados mais 655 vezes, artifício que passou a ser reconhecido como um código de denúncia da censura.
Ao ser investigado por um IPM (o famigerado Inquérito Policial-Militar praticado na época), Julio de Mesquita Neto foi interrogado formalmente pelo oficial encarregado:
– O senhor é o diretor-responsável pelo jornal O Estado de S. Paulo?
– Não! – respondeu.
O inquisidor repetiu:
– O senhor é o diretor-responsável pelo jornal O Estado de S. Paulo?
– Não! – reafirmou Julio Neto diante do surpreso argüidor.
– Então, quem é?
– O ministro da Justiça, professor Alfredo Buzaid, que todas as noites tem um censor na tipografia do jornal.
Em 1974, a Federação Internacional de Jornais (atual WAN, World Association of Newspapers) outorgou o Prêmio Pena de Ouro da Liberdade a Julio de Mesquita Neto. Era o reconhecimento da comunidade internacional de jornalistas à luta travada no Brasil pelos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde contra a censura. Mas, como o assunto era censura, nem mesmo o discurso de agradecimento lido em uma cerimônia realizada em Copenhague pôde ser veiculado no dia 4 de setembro de 1974. Em seu lugar os leitores encontraram mais uma republicação do Canto Segundo de Os Lusíadas.
No ano seguinte Julio de Mesquita Neto foi eleito presidente da Associação Interamericana de Imprensa, estendendo então sua luta a outros países americanos nos quais a imprensa também estava amordaçada. Um grande reconhecimento à constante defesa da liberdade de imprensa veio em 1985 quando recebeu o título de Cavaleiro da Legião de Honra da França.
Atento às mudanças verificadas nos meios de comunicação, promoveu uma reformulação gráfica inovadora no Estado entre 1991 e 1993, quando o jornal ganhou cores e o título passou a ser impresso em azul, decisão tomada através de votação feita pelos leitores.
Além de considerar o jornal como o ‘espelho das idéias e lutas que movem a sociedade’, Julio de Mesquita Neto gostava de ressaltar o papel primordial do jornal impresso, como ficou registrado em artigo publicado em 1989: ‘Pelo fato de não ser serviço concedido, o jornal tem a possibilidade – e o dever – de dizer aos poderosos a verdade.’’
COPA 2006
A Copa da alta definição
‘Foi um marco e tanto, em 1938, quando o Brasil ouviu a Copa do Mundo transmitida diretamente da França. Era só um locutor, chamava-se Leonardo Gagliano Neto, o pobre coitado ficava no meio da geral, entre os torcedores. Havia geral na Europa, naquele 1938, o Brasil tinha o mestre Leônidas e quase, por muito pouco, chegou à final. Foi uma espécie de 82: a Itália venceu e saiu campeã.
Rádio era um bocado comum, e transmissões ao vivo de outros países da América Latina já tinham acontecido. Mas aquela voz vinda do outro lado do oceano conforme dizia as coisas dava mostra de um avanço tecnológico soberbo. De certa forma, 1938 teve mais cara de século 20, de o mundo estar muito mais próximo, do que qualquer momento anterior. A tecnologia de ondas curtas, que permitiu às rádios de Rio e São Paulo retransmitirem o áudio para todo o País, em muito pouco tempo ficou comum nos próprios aparelhos receptores. A 2ª Guerra, muito brasileiro acompanhou-a pela BBC.
Mas o marco foi a quase vitória em 1938, e aquelas transmissões de jogos do outro lado do Atlântico. O Brasil tem disso: Copas do Mundo representam marcos na tecnologia de comunicação. Não só o preço de aparelhos de televisão aumenta horrivelmente nestes tempos como é a época perfeita para testar um novo tipo de produto.
A chegada da televisão ao país se desencontrou da copa – em 1962, só havia rádio. Em 66, ouvia-se pelo rádio e, uns dias depois, a tevê os repetia. A primeira transmissão ao vivo, por satélite, da história brasileira foi a Copa de 1970. Mas Pelé tinha companheiros de melhor quilate que os de Leônidas.
E como às vezes revoluções tecnológicas vêm em seqüência, as primeiras transmissões em cores e ao vivo aconteceram logo depois, em 1974.
Muito pouco aconteceu entre lá e cá. Quer dizer: houve a internet, evidentemente. Com a rede, houve acompanhamento de jogos por texto. Reportagens escritas em cima do lance. Até, na última Copa, se arriscou a transmitir o vídeo. Com banda larga, parece que melhora. Mas o que se ganha? A primeira transmissão de rádio, em 38, permitia algo muito concreto: acompanhar o jogo. A primeira transmissão de tevê ao vivo é, evidentemente, outro ganho. Como também é o acréscimo de cores.
Num país como o Brasil, transmissão de vídeo pela internet, mesmo com qualidade, não é ganho – todo mundo pára para ver o jogo, ninguém precisa fingir que está trabalhando na frente do computador. E televisão é muito melhor. Então onde a tecnologia estará melhorando a percepção de Copa do Mundo?
A primeira resposta é celular. Transmissão dos jogos por celular permite locomoção. Um médico que precise atender a uma emergência, por exemplo, não estará de todo descolado do ópio pátrio. Não é de forma alguma perfeito: a tela, pra quem a tem, é pequena como os diabos. E os aparelhos são para poucos, caros. Televisão colorida também era.
Esta Copa de 2006 é um marco mundial muito semelhante ao que foram, para o Brasil, as Copas de 38, 70 e 74: é a televisão digital, de alta definição, que será usada para uma transmissão de grande porte pela primeira vez. Tevê que captura mais sobre a realidade do que a norma corrente não é, como muitos dizem por aí, boa em tudo. Quem já viu o rosto gracinha da moça Cameron Diaz numa destas, sabe. Os buracos de espinha a gente dispensa.
Mas, numa transmissão esportiva, faz todo sentido. E não é preciso ir muito longe para entender disto. Em 66, enquanto a Europa já assistia à Copa ao vivo e em cores e, cá no Brasil, esperávamos uns dias para ver aquilo em preto-e-branco, um gol daqueles de bate na trave acima, bate na linha abaixo, quica para fora decidiu o jogo final. A Inglaterra levou, os alemães têm a espinha atravessada até hoje. Nada contra: tivesse vindo o resultado justo, os caras eram tetra. Perto demais para a margem do conforto.
Só quem viu pela tevê ficou na dúvida. Na imagem granulada dos aparelhos de televisão, mesmo com replay, a decisão do par juiz-bandeirinha ficou no ar. Terá sido? É irônico que seja a BBC que vai estrear, no mundo, a primeira transmissão de HDTV justamente com uma Copa na Alemanha. Porque, fosse HDTV em 66, o mundo todo saberia num segundo que o juiz entregou a Copa para o país errado. Governos já caíram por muito menos.’
Diego Assis
Do telex ao blog, Kfouri viu de perto a evolução do jornalismo na Copa
‘Para Juca Kfouri, a história das Copas do Mundo vai bem além daquela que foi escrita dentro de campo nestes 76 anos de existência do torneio. Prestes a enfrentar sua sétima cobertura, o jornalista experimentou – e segue experimentando – na pele uma verdadeira revolução na forma como a informação é transmitida dos gramados para os quatro cantos do planeta.
De sua estréia em 1982, como repórter da revista Placar na Espanha, até hoje, quando se prepara para uma cobertura completamente multimídia, muita coisa mudou:
‘Em 1982, eu mandava as matérias por telex. Dava a matéria para um teletipista no centro de imprensa, ele perfurava uma fita e mandava para o Brasil. Mas às vezes não tinha tempo, conectava com São Paulo no telex do hotel e ‘batucava’ o que fosse’, contou o jornalista de 56 anos, em entrevista ao Link, em seu apartamento em Higienópolis.
Duas Copas depois, já na Itália, Kfouri testemunharia seu primeiro salto tecnológico significativo: desta vez, podia ‘batucar’ tranqüilamente seus artigos numa máquina de escrever e enviá-los por fax à redação.
‘Ah, aquilo já era uma mão na roda’, lembra, saudoso. ‘A gente escrevia 4 ou 5 horas antes do (fuso horário do) Brasil, acabava e ainda tinha de esperar alguém chegar na Abril para pegar o fax. O problema é que, às vezes, faltava papel…’
A revolução estava só começando. Em 94, nos Estados Unidos, os computadores finalmente entravam em campo, possibilitando que não só os textos, mas também as fotos fossem transmitidas digitalmente. Quatro anos depois, na Copa da França, com um telefone celular numa mão e um laptop na outra, Kfouri descobriu que já podia até a transmitir as matérias ‘de um trem em movimento’.
Mas nada – nem a descoberta tardia do rádio em 2000, quando passou a apresentar seu programa diário sobre futebol na CBN – poderia ter preparado o jornalista para o que viria em seguida: os blogs.
‘Eu virei um escravo do blog’, confessa ele, que desde setembro de 2005, quando estreou seu diário virtual no UOL, não consegue mais pensar em outra coisa. ‘Eu nunca imaginei que à essa altura fosse descobrir uma mídia nova tão apaixonante. Como sou um pouco obsessivo, eu não me limito a ser um blogueiro 24 horas por dia: eu também respondo pelo menos 10% dos comentários que recebo todo dia! E isso faz com que as pessoas voltem ao blog com mais freqüência.’
Mais do que ampliar a interatividade com o público, a adesão aos blogs levou Kfouri a reconsiderar algumas das práticas mais elementares do seu ofício. A do ‘furo’, por exemplo. Se, nos tempos das revistas semanais ou mesmo de jornalismo diário, Kfouri chegou a montar verdadeiras ‘operações’ para rodar uma matéria exclusiva sem que ninguém visse, na blogosfera, uma informação quente tem de ser passada para frente em questão de minutos.
‘O blog te dá instantaneidade. Mas, quando eu tenho o ‘furo’, é uma coisa frenética. Porque botar no blog pode ser uma coisa que demore 3 minutos, mas são 3 minutos de adrenalina lá em cima’, revela, enquanto acende outro cigarro.
‘É o tempo que leva até eu publicar no blog, ler e, de repente, mexer. Ou porque eu grafei uma palavra errada ou porque fiz uma construção que não está clara e precisa melhorar.’
Ou porque não apurou direito? Pausa. Pensa. Diz que está difícil lembrar de algo realmente grave… Até que o filho caçula entra na sala, senta-se ao lado do pai para assistir aos últimos minutos do jogo do Barcelona e entrega: ‘Você deu aquela (legenda) dizendo que era o Daniel Carvalho, quando na verdade era o Dudu Cearense.’ Bingo!
‘É o salto alto. Botou salto alto, na internet, vai errar’, reconhece Kfouri, explicando que o mal-entendido se deu porque a foto em questão havia sido enviada por uma fonte que, de fato, não tinha certeza da identidade dos jogadores retratados.
Em outro episódio, o jornalista lembra que recebeu em primeira mão – mas não publicou – o vídeo com as embaixadinhas ‘mágicas’ de Ronaldinho Gaúcho que mais tarde virariam mania na internet.
‘Confesso que isso é um pouco da minha ligação com o texto. Eu poderia ter colocado, mas tinha de ligar no UOL para eles me ajudarem a postar, etc., etc. Mas sei que durante a Copa do Mundo vão querer muito isso.’
Pois é, sr. Kfouri, 2006 é o ano do vídeo na web. ‘Sei que vou ter de incrementar com essas coisas. Comprei até uma webcam para pôr no meu laptop. Mas é mais para ver a neta, entendeu? É uma coisa apaixonante.’’
Márcia De Chiara
Fabricantes de TV correm para fixar marca
‘A corrida dos fabricantes de eletroeletrônicos para fixar a sua marca às vésperas de mudança no padrão tecnológico dos televisores, como as telas de plasma, cristal líquido (LCD) e a entrada da TV digital, provocou uma enxurrada de promoções nas últimas semanas. O pano de fundo é a Copa do Mundo, mas os apelos são os mais variados, como a possibilidade de ganhar um segundo produto igual ou complementar, como home theater, mediante o pagamento de R$ 0,01 ou R$ 1. Há lojas que condicionam a promoção à vitória do Brasil na Copa.
A questão é que apareceu mais um fator a ser avaliado pelo na hora da compra. Antes bastava comparar preços. Agora deve-se levar em conta vantagens adicionais, como a aquisição de um segundo produto por um valor simbólico e até a chance do País ser campeão. ‘É difícil fazer uma análise econômico-financeira dessas variáveis’, observa o matemático José Dutra Vieira Sobrinho. Ele lembra que o risco do Brasil não ser campeão é elevado e não dá para mensurá-lo. Além disso, não dá para saber até que ponto os preços devem cair depois da Copa. Cogita-se que pode chegar a 50% para TV de plasma.
A indústria nega o acúmulo nos estoques. A Semp Toshiba, por exemplo, vendeu de janeiro a maio deste ano, 1,2 milhão de TVs. No ano passado inteiro foram 2,1 milhões. A companhia informa que não tem TV de plasma para entrega. A Eletros, que reúne os fabricantes, revisou de 10,8 para 11 milhões o total de aparelhos fabricados este ano.
O varejo confirma que faltam alguns modelos de TVs de plasma. Mas os varejistas observam que há excesso de produto no mercado. ‘Existe estoque na indústria’, diz Michael Klein, diretor administrativo-financeiro das Casas Bahia. A rede foi a primeira que lançou a promoção de oferecer um segundo TV de plasma de 42 polegadas por R$ 1, se o Brasil for campeão. Depois a empresa fez promoções semelhantes com geladeiras e fogões. ‘A indústria também está estocada com fogões e refrigeradores’, observa Klein.
Satisfeito , o empresário conta que o tíquete médio de vendas aumentou 25% com a campanha, de R$ 440 para R$ 550. No mês passado, o faturamento cresceu 5% em relação ao ano anterior. ‘Sem a promoção iríamos empatar.’ Passada a Copa, a intenção é criar novos apelos. ‘Notamos que as pessoas compraram TVs de plasma em sociedade, já pensando na chance de ganhar o segundo aparelho.’
CONCORRÊNCIA
‘A campanha do R$ 0,01 é do Extra’, lembra a gerente de eletroeletrônicos do Grupo Pão de Açúcar, Rita Belizzia. Segundo ela, a empresa já fez campanhas assim muitas vezes. Nas últimas semanas, depois que a Casas Bahia lançou a promoção de R$ 1, o Extra contra-atacou com a de R$ 0,01. Na compra de um TV de plasma de 42 polegadas, o consumidor paga R$ 0,01 e leva um home theater. A premiação não está condicionada à vitória do Brasil. Rita conta que o resultado surpreendeu. Tanto é que a rede iniciou outra de áudio e vídeo, que vai até dia 18 deste mês, com descontos de até 30% sobre o preço de etiqueta ou o parcelamento em 24 vezes e juros de 2,99% ao mês. ‘Negociamos com a indústria e o mercado está comprador’, diz.
O diretor da Americanas.com, Ronney Pastro, conta que desde o início do ano a empresa vem negociando com a indústria as ofertas para a Copa. O site está fazendo saldão de TVs, com descontos de até 25% e frete grátis. A intenção é ter produtos em oferta até o fim da Copa.
O Wal-Mart, em que a campanha de oferta de TVs de plasma cutucou a concorrência destacando que não era necessário nem R$ 1 nem R$ 0,01, muito menos o Brasil ganhar a Copa para levar um DVD, registrou no mês passado crescimento de 150% nas vendas em relação a maio de 2005. O esforço é manter o ritmo , antes que o mote da Copa perca o fôlego.’
TELEVISÃO
Ana Paula Padrão aprova troca
‘Silvio Santos mudando a programação não chega a ser exatamente uma novidade mas, desta vez, existe um novo elemento em cena: o crescimento além das expectativas da Record, que obrigou o SBT a moldar uma estratégia de reposicionamento no mercado. Um pouco fora de hora, é verdade, porque estamos em época de Copa do Mundo. Esta estratégia aposta no jornalismo e no núcleo de teledramaturgia. Hoje estréia o novo telejornal ancorado por Carlos Nascimento, SBT São Paulo, e a novela Cristal, aposta do núcleo de teledramaturgia. No meio do sanduíche, vem o SBT Brasil , com Ana Paula Padrão, que muda de horário pela terceira vez e será exibido às 18h30.
Ao Estado, a apresentadora disse que aprova a reformulação. Um de seus objetivos sempre foi distanciar o telejornal da novelinha infanto-juvenil Rebelde, que agora vai ao ar às 20h. ‘A grade fica mais coerente, principalmente porque o SBT Brasil entra depois de um outro telejornal,’ diz. ‘ O difícil era estruturar um espelho com uma audiência infanto-juvenil no começo ou no fim. Isso nos obrigava a começar com assuntos mais leves, por exemplo’, explica. O contrato de Ana Paula prevê um horário entre 18h e 21h para o programa. ‘Definido isso, o que me interessa é qualificar a audiência.’ O telejornal tem se mantido na casa de 6 pontos no Ibope.
COPA
Sem os direitos de transmissão, exclusivos da Globo, o SBT envia uma equipe de 30 pessoas para a Alemanha – mais da metade já está lá. O evento trouxe novos anunciantes e um bloco inteiro do telejornal está sendo dedicado ao assunto. Ana Paula Padrão só embarca se o Brasil for para a final. ‘Minhas passagens estão compradas desde janeiro’, assegura.’
Sônia Filgueiras
Júri ao vivo: novo recurso
‘A Associação dos Advogados do Estado de São Paulo (Acrimesp) fez ontem uma última investida para tentar garantir que o julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Daniel e Christian Cravinhos, marcado para hoje, seja integralmente transmitido ao vivo pelos veículos de comunicação. A Acrimesp interpôs ontem, às 18 horas, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), um novo mandado de segurança com pedido de liminar para reverter a decisão do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, que proibiu as transmissões do júri pela mídia.
A Acrimesp protocolou o mandato menos de uma hora depois de o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ter negado pedido idêntico. O ministro Nilson Naves, relator do pedido, concluiu que o STJ não tem competência para processar e julgar mandados de segurança contra atos de outros tribunais ou seus respectivos órgãos.
Com o recurso ao STF, a Acrimesp levou a briga para abrir a transmissão ao vivo à última instância. Segundo o advogado Ademar Gomes, presidente do conselho da associação, é esperada uma decisão do STF hoje pela manhã, antes do início do júri, marcado para as 13 horas.
A proibição foi feita com base em uma portaria do TJ editada em 1970. ‘É uma portaria antiga, da época da ditadura. Ao mesmo tempo, a Lei 5.250, de 1967, garante a publicidade’, diz Gomes.
HISTÓRICO
No dia 26, o site do Tribunal de Justiça entrou em colapso duas horas depois de abrir acesso às inscrições dos interessados em disputar um dos 80 lugares que seriam sorteado entre o público interessado. Mais de 5 mil pessoas acessaram o site em duas horas.
O juiz do caso, Alberto Anderson Filho, entendeu que, como o julgamento é público e havia muito interesse da população, a imprensa poderia fazer essa ponte. Então, em decisão pioneira, autorizou os meios de comunicação a captarem áudio e vídeo no plenário e transmitirem em tempo real.
Dois dias depois, o TJ restringiu a gravação para apenas o início e o fim do julgamento. Em seguida, houve a proibição de qualquer captação de áudio e vídeo por parte da imprensa.’
INTERNET
Site de vendas já movimenta R$ 1,3 bi por ano
‘José Carlos Moreira consegue vender mais de 200 produtos eletrônicos por mês sem conhecer o rosto de nenhum de seus clientes. No máximo, troca um e-mail ou telefonema. Sua vitrine é a internet, com a qual consegue faturar mais de R$ 20 mil por mês. ‘Estou há cinco anos no Mercado Livre e pretendo continuar mesmo quando tiver meu próprio site pronto, pois o investimento deles em mídia é alto e meu produto aparece.’
Assim como ele, mais de dez mil pessoas só no Brasil vivem de comprar e vender todo tipo de produto no site Mercado Livre, uma espécie de bazar virtual que se tornou um fenômeno da internet na América Latina. As vendas do site crescem 40% ao ano, mais do que qualquer rede de comércio tradicional. Se fosse um supermercado, estaria entre as 20 maiores redes do País.
‘O desafio do pequeno vendedor é aparecer na rede. Estamos entre os cinco maiores anunciantes da internet no Brasil e compramos mais de 100 mil palavras por mês para links patrocinados em sites como Google e Yahoo’, conta Stelleo Tolda, presidente do Mercado Livre na América Latina. A receita tem dado certo: segundo o comScore Media Metrix, instituto americano especializado em medição de audiências na internet, foi o oitavo domínio da rede mais visitado no Brasil no mês de janeiro, com 836 milhões de páginas visitadas.
Em toda a América Latina, são comercializados no site um celular e uma câmera digital a cada dois minutos. Neste ritmo de vendas, esperam que o valor de suas vendas ultrapassem R$ 1,5 bilhão na região até o final de 2006. Para crescer, Tolda explica que o modelo de venda também mudou: ‘O site começou apenas com leilões e raridades. Hoje mais de 80% das vendas são com preço fixo e de produtos novos.’
CRESCIMENTO
Inspirado no Ebay, um site de leilões dos Estados Unidos, que se tornou um dos maiores casos de sucesso de negócios pela internet, o Mercado Livre foi criado em 1999. Seus criadores foram o argentino Marcos Galperin e outros seis empreendedores que se conheceram durante um curso de MBA na universidade de Stanford, nos EUA.
O brasileiro Stelleo Tolda era um deles e hoje comanda as operações da empresa no Brasil, enquanto os outros executivos continuam espalhados nas filiais de outros países, como Argentina e México.
O faturamento Mercado Livre não é divulgado, mas se forem considerados apenas os ganhos em comissões supera R$ 70 milhões. A empresa não só sobreviveu ao estouro da bolha da internet, como soube tirar proveito dela. Primeiro recebeu, em novembro de 1999, U S$ 7,6 milhões dos investidores JP Morgan, Flatiron Fund e Hicks, Muse, Tate & Furst.
Já em maio de 2000 conseguiu arrecadar US$ 46,5 milhões, por meio de bancos e fundos de investimentos como Goldman Sachs, Santander e GE, além do JP Morgan e Hicks, Muse. ‘Nesta segunda vez já se previa que que a bolha da internet iria estourar e nos avisaram que talvez fosse o último investimento que receberíamos’, conta Tolda.
Hoje, seu controle não está mais somente nas mãos de seus criadores, mas também com a empresa que serviu de inspiração. Em outubro de 2001, o Ebay se tornou o maior acionista da empresa, com 19,5% das ações. Com dinheiro em caixa, o Mercado Livre comprou seus principais concorrentes, os sites Local e Arremate.’
História de um detento
Ricardo Anderaos
‘Em 1996, quando tinha 14 anos de idade, o egípcio Alaa Abdel-Fattah foi para um acampamento de verão num resort à beira do Mar Vermelho. O evento era organizado por uma instituição que promove a união de jovens egípcios e palestinos na defesa da democracia, da liberdade de expressão e dos direitos humanos.
Nessa viagem Alaa conheceu a pequena Manal Hassan, então com 13 anos de idade. Os dois se apaixonaram. De volta para o Cairo, começaram a namorar. Ambos são filhos de famílias de classe média. O pai do rapaz, Ahmad Seif, é um conhecido advogado. Sua mãe, Leila Souief, é professora de matemática na Universidade do Cairo. Os dois são ativistas políticos, críticos do regime do presidente egípcio Hosni Mubarak.
O relacionamento dos dois jovens foi ficando cada vez mais sério. No ano 2000, os pais de Manal convidaram o namorado de sua filha para acompanhá-los numa viagem à Europa. Em Paris, a jovem Manal descobriu a arte de Picasso. Já Alaa foi fisgado pela onda do software livre. Começou a estudar computação obsessivamente e, em um ano, já conseguia ganhar os primeiros trocados trabalhando como programador.
Em 2003 eles se casaram. Alaa começou a ganhar cada vez mais dinheiro com os computadores. Ao mesmo tempo, combinava a paixão pelo ativismo político com a defesa do software livre. O casal passou a viajar pelo Egito dando palestras sobre a internet e liberdade de expressão.
Criaram um provedor para abrigar blogs de vários ativistas egípcios. Seu próprio blog www.manala.net, cujo endereço é uma combinação dos nomes dos dois, tornou-se uma das mais populares vozes em defesa da democracia no Egito e contra a política norte-americana para o Oriente Médio. Para Alaa, a adoção do software livre é uma maneira de protestar contra os EUA.
‘O apoio norte-americano ao Estado de Israel e sua intervenção no Afeganistão e no Iraque disseminaram um desejo de boicotar seus produtos. A maior parte dos egípcios não quer gastar nem um centavo de seu dinheiro com produtos americanos’, afirmou Alaa em entrevista ao site Slashdot no ano passado.
Para ele isso explica o crescimento de organizações como a Linux-egypt.org, que ele ajudou a criar, e que promove o uso de software livre no lugar de produtos de empresas norte-americanas como Microsoft e Oracle. ‘Muitos egípcios querem parar de usar produtos Microsoft, especialmente se têm de pagar por eles. Isso também é cada vez mais comum nas empresas e agências governamentais do país’, afirmou.
No ultimo dia 7 de maio, diversas ONGs e movimentos políticos egípcios fizeram uma grande manifestação no Cairo contra a aproximação entre o presidente Hosni Mubarak e George W. Bush, que pretende fazer do Egito um ponto de apoio para sua política de ‘democratização’ do Oriente Médio. É muita ironia, já que os principais aliados dos EUA na região, como Arábia Saudita e Egito, têm governos que estão longe de ser considerados democráticos…
Durante essa manifestação, a polícia prendeu mais de 600 pessoas, na maioria membros da Irmandade Muçulmana, um dos principais movimentos fundamentalistas egípcios. Alaa e diversos outros ativistas pró-democracia que militam nas trincheiras do software livre também foram presos. Segundo sua esposa Manal, Alaa continua preso por causa do blog. ‘Eles sabem exatamente quem somos. A polícia tem dossiês sobre cada um de nós’, disse em entrevista à agência de notícias Associated Press em seu apartamento num subúrbio do Cairo, ao lado da grande pirâmide de Gize.
Entretanto, mesmo preso, Alaa continua a atualizar seu blog. Sua mãe Leila Soueif revela que ele escreve os posts do blog à mão, em pequenos pedacinhos de papel. ‘Ele não tem computador e não está autorizado a mandar nada escrito para fora da prisão sem passar antes por um censor.’
Como então ele consegue atualizar o blog? ‘Bem, use a sua imaginação’, diz sua mãe, com um sorriso nos lábios. Já aqui, no Brasil, o ‘vazamento’ de informações de dentro para fora das prisões tem caráter bem menos nobre do que esse.’
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O Globo
Segunda-feira, 5 de junho de 2006
OPUS DEI EM AÇÃO
Demagogia e seriedade
‘O uso de drogas ilícitas no mundo vem crescendo, apesar dos esforços de controle. No ranking da cocaína, por exemplo, o Brasil exerce triste liderança. O país é hoje o maior mercado consumidor da droga da América do Sul e provavelmente o segundo maior das Américas. O Brasil, infelizmente, tem não apenas uma crescente demanda doméstica, mas é um corredor de distribuição mundial de drogas. Ademais, o aumento no consumo das drogas sintéticas tem sido significativo. Ao contrário das drogas tradicionais, feitas à base de plantas, as drogas sintéticas são feitas com produtos químicos facilmente obtidos em laboratórios improvisados. A repressão é, por isso, muito mais difícil.
As conseqüências da assustadora escalada das drogas podem ser comprovadas nos boletins de ocorrência de qualquer delegacia de polícia. De fato, o tráfico e o consumo de drogas estão na raiz da imensa maioria dos assassinatos. E o que é pior: a idade das vítimas e dos criminosos é cada vez menor. A detenção de crianças, algumas com menos de 10 anos, com papelotes de cocaína e cigarros de maconha, é uma triste rotina nas rondas policiais.
Observa-se, lamentavelmente, um crescente movimento a favor da descriminação das drogas, sobretudo da maconha. Bandeira freqüentemente agitada em alguns setores da mídia e em redutos de profissionais da saúde, a descriminação não ajudará em nada. Ao contrário. Como afirmou o respeitado psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad), ‘os artigos recentes mostram de uma forma inquestionável que o consumo de maconha aumenta em muito o risco dos jovens desenvolverem doenças mentais’. E sublinhou o especialista: ‘Do meu ponto de vista, essa geração que consome maiores quantidades de maconha do que a geração anterior pagará um alto preço em termos de aumento de quadros psiquiátricos.’
A verdade, caro leitor, precisa ser dita. Não se podem admitir argumentos politicamente corretos quando o que está em jogo é a vida das pessoas. O hediondo mercado das drogas está dizimando a juventude. Ele avança e vai ceifando vidas nos barracos da periferia abandonada e nas baladas dos bares e boates freqüentados pela juventude bem-nascida. A prevenção e a recuperação, únicas armas eficazes a médio e longo prazos, reclamam um apoio mais efetivo do governo e da iniciativa privada às instituições sérias e aos grupos de auto-ajuda que lutam pela reabilitação de adictos.
Tenho acompanhado o excelente trabalho realizado por alguns serviços especializados.
O Grea (setor vinculado ao Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo – www.usp.br/medicina/grea) e a já mencionada Uniad (www.uniad.org.br) da Universidade Federal de São Paulo desenvolvem importantes esforços na recuperação de adictos.
Admiráveis têm sido as atividades promovidas pelos grupos de Narcóticos Anônimos (www.na.org.br) e Amor-Exigente (www.amorexigente.org.br) e a bem-sucedida estratégia adotada pelas comunidades terapêuticas. Sem uso de medicamentos e apostando num conjunto de providências que vão às causas profundas da dependência, essas comunidades têm obtido bons índices de recuperação. Visitei algumas dessas instituições. Registro, entre outras, uma entidade de referência: a Comunidade Terapêutica Horto de Deus, em Taquaritinga, São Paulo (www.hortodedeus.org.br).
As comunidades terapêuticas, ordinariamente, não recebem qualquer apoio dos governos. No entanto, no Brasil, hoje, são responsáveis por boa parte da assistência aos dependentes químicos e às suas famílias. Funcionam. Queixam-se os políticos da força do crime organizado. Multiplicam-se os discursos demagógicos e a transferência das responsabilidades. Apoiar pesadamente as comunidades terapêuticas seria, sem dúvida, uma maneira prática e estratégica de atacar a raiz da criminalidade. Esperemos que o governo Lula e os governos estaduais falem menos e façam mais.
CARLOS ALBERTO DI FRANCO é diretor do Master em Jornalismo.’
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 5 de junho de 2006
IGREJA & CENSURA
Código da Vinci
‘‘POR QUE, DEUS, o senhor permaneceu em silêncio? Como pôde tolerar tudo isso? Onde estava naqueles dias? Como pôde permitir esse triunfo do mal?’ O papa Bento 16, tido como conservador e dogmático, rezou com essas palavras, em voz alta em Auschwitz. Perguntou o que Jó, coberto de chagas, tendo perdido tudo, não teve a coragem de perguntar. Faz tempo que não ouvíamos uma pergunta assim, de verdade, que a ciência arrogante nem pensa em responder. Uma surpresa comovente que revelou um papa humano e simples. A primeira encíclica, ‘Deus é Amor’, já havia sido uma linda surpresa. Fácil de ler, trata do amor erótico e da amizade como caminhos para chegar à caridade, ao amor de Deus. Não menciona aborto, preservativos e outros temas polêmicos. Os conservadores têm feito surpresas agradáveis, enquanto os progressistas têm nos trazido apenas frustrações. Na semana passada foi lançado o filme ‘Código da Vinci’, baseado no livro, primeiro lugar na lista de best-sellers do ‘New York Times’ há 50 semanas. Romance sobre assassinatos misteriosos e códigos secretos que protegem o segredo sobre o local onde estariam escondidos os Evangelhos excluídos do Novo Testamento. Segundo esses textos, Jesus teria casado com Maria Madalena e tido filhos e descendentes que foram parte de uma dinastia real francesa. Os Evangelhos excluídos constituíam uma religião em que a mulher e o sexo têm papel preponderante. Enquanto o Novo Testamento teria criado uma religião ‘machista’ e para celibatários. Não há nenhuma evidência histórica que apóie o romance. Verdade que são Paulo sugeria aos cristãos que não se casassem. Mas era apenas por prudência, pois imaginava que o fim do mundo estava próximo. E tinha muitas amigas mulheres. Não está escrito nos Evangelhos que Madalena era prostituta. Essa versão surgiu apenas no período medieval. Há de fato uma dezena de Evangelhos excluídos do Novo Testamento. Porque eram muito posteriores aos tempos de Cristo e inverossímeis. Nenhum é feminista. Alguns são fortemente antijudaicos e teriam tornado o ódio racial contra os judeus ainda mais cruel. Impossível não ler o livro de enfiada. Tem o ritmo do ‘Caçador de Tesouros’ do Spielberg. A invenção da presença de uma mulher descendente de Jesus vivendo entre nós parece conto de fadas. No romance, ela tem nome, endereço e telefone.Vive num castelo na Escócia. Atende a ansiedade comovente que o papa demonstrou na oração. Seria um consolo para palestinos oprimidos, israelenses ameaçados, americanos em pânico e brasileiros apavorados. Pena que ela não mora no Brasil.’
UM ANO DE CRISE POLÍTICA
Berzoini nega mensalão e critica imprensa
‘Na luta pela sobrevivência política, o PT passou a negar a existência do mensalão. Um ano depois do auge da crise política mais grave para a legenda e para o governo Lula, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, classifica o esquema denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson de ‘engodo’.
‘Eu continuo dizendo que houve um engodo em relação ao que se convencionou chamar de mensalão. A história que o Roberto Jefferson construiu lá atrás foi a de um esquema para comprar consciências. Se houve mensalão, a imprensa patrocinou o maior show de impunidade do Congresso. Se fosse para comprar votos, teria que ser às centenas, e não às dezenas. E não existe nenhum movimento hoje da imprensa para cobrar o nome de quem seriam os mensaleiros’, disse.
Segundo Berzoini, os supostos mensaleiros, por essa lógica, não seriam somente os 19 denunciados pelo Conselho de Ética. Ele diz que não haveria razão para o então presidente da Câmara João Paulo Cunha e o então líder do governo Professor Luizinho serem mensaleiros, pois o primeiro nunca vota e o segundo, pelo cargo, vota sempre com o governo.
Na retrospectiva da crise feita por Berzoini, o PT cometeu, sim, erros. Mas o petista coloca quase tudo na conta do equivocado sistema político brasileiro, na prática de financiamentos de campanhas eleitorais e na habilidade da oposição para tentar destruir o ‘patrimônio ético do PT’.
‘Tenho a convicção de que, a partir de um problema de financiamento de campanha, com ilegalidades eleitorais, se estabeleceu um clima de um escândalo de corrupção sem precedentes, que interessa à oposição, e não à democracia’, avalia.
Mesmo que os petistas reconheçam, internamente, o tamanho da crise e suas conseqüências para a governabilidade e para as relações do partido com o governo num eventual segundo mandato de Lula, o PT só vai mesmo lavar a roupa suja em 2007. Se o fizer.
O ex-prefeito de Aracaju e candidato ao governo de Sergipe, Marcelo Déda, afirma que a realização do Congresso Nacional é ‘exigência da base partidária’ para refletir, depois das eleições, sobre o novo papel do PT, a agenda política, um projeto nacional e, sobretudo, onde e por que falharam os ‘anticorpos’ do PT contra a corrupção.
Exorcização
‘No próximo ano, independente do resultado das eleições, o partido terá que ter um encontro com si próprio e fazer uma profunda reflexão para preservar os acertos e identificar os seus equívocos’, defende Déda. Ao ir para o divã de forma definitiva, prega o ex-prefeito, o PT terá que ‘exorcizar fantasmas produzidos pela crise política’, melhorar o diálogo com a sociedade, a militância e os movimentos sociais.
Marcelo Déda considera justo e adequado adiar o debate, em função das eleições. Fazer essa discussão agora, disse, seria ‘comportamento de autoflagelação, que é mais adequado para seitas que para partidos políticos’. Já em 2007, o ex-prefeito defende que o PT descubra ‘o que falhou no sistema imunológico para que a crise acontecesse nessa proporção’.
Segundo Berzoini, o PT mostrou-se frágil e desarticulado para enfrentar a avalanche de ataques da oposição. Ele afirma que a crise não significou a perda do patrimônio ético do PT.
‘O PT não tem nenhum registro de deterioração do seu padrão ético como fenômeno partidário. Algumas pessoas cometeram atos ilegais ou condenáveis do ponto de vista político. Mas o partido não adotou nenhum padrão antiético.’’
ALCKMIN SOB SUSPEITA
Patrocínio no Carnaval expõe Nossa Caixa
‘Cem funcionários da Nossa Caixa desfilaram no Carnaval de 2006 em São Paulo com fantasias doadas pela escola de samba Leandro de Itaquera. Na passarela, eles ajudaram a engrossar o coro do samba-enredo sobre as obras do rio Tietê, uma exaltação ao pré-candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin.
A Nossa Caixa pagou R$ 1,5 milhão à Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, a título de patrocínio do Carnaval neste ano. Esse gasto supera o investimento de R$ 1,2 milhão com a nova campanha publicitária para divulgar os resultados do banco em 2005.
Na sexta-feira, o deputado-corregedor da Assembléia paulista, Romeu Tuma Júnior (PMDB), requereu ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo César Pinho, a abertura de investigação para apurar a suspeita de improbidade (liberação de verba pública sem a estrita observância das normas). O patrocínio do banco foi aprovado em 24 horas. A Nossa Caixa afirma não saber o valor repassado à Leandro de Itaquera.
Como o presidente dessa escola, Leandro Alves Martins, é filiado ao PSDB, Tuma quer saber se a Liga repassou dinheiro público para promoção pessoal de Alckmin.
Um carro alegórico da escola exibiu bonecos de Alckmin e de José Serra (à revelia do ex-prefeito, segundo o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho). ‘Há fortes indícios de montagem, de uma orgia administrativa’, afirmou Tuma.
A Nossa Caixa alegou que ‘não tem mais nada a informar, além do que consta dos detalhados esclarecimentos já prestados à Assembléia Legislativa’
Assim como a calha do rio Tietê, a Leandro de Itaquera foi rebaixada de grupo com o enredo que homenageava a vitrine eleitoral do ex-governador. Em fevereiro, o carnavalesco da escola, Anderson Paulino, disse à Folha que o enredo foi ‘pedido’ de Alckmin. O presidente Leandro negou.
Tramitação acelerada
Depois de recusar uma primeira proposta da Liga, que pedira apoio de R$ 2 milhões, a Nossa Caixa aprovou o patrocínio nas vésperas do Carnaval.
O pacote incluía camarote VIP para 350 convidados, ‘alimentação, catraca, traslado e segurança’, além de fornecimento de 4.650 ingressos de arquibancada para os dias de desfile. A Nossa Caixa teria ‘menções sonoras’ durante o desfile e ampla veiculação do logotipo.
Em 20 de fevereiro, a gerente de marketing, Marly Martins, enviou solicitação da Liga à Presidência do banco, sob o argumento de que o Carnaval paulistano ‘tem se profissionalizado, tornando-se independente do poder público’. Ela apontou os ‘ganhos inquestionáveis à imagem do banco’.
Naquele mesmo dia, o presidente Carlos Eduardo Monteiro submeteu o pedido à diretoria executiva. A diretoria jurídica emitiu parecer favorável na mesma data, afirmando que ‘o patrocínio encontra amparo no ordenamento jurídico pátrio’.
No dia 23 de fevereiro, foi assinado o contrato, e a Liga forneceu um recibo, com a mesma data, correspondente à parcela de R$ 600 mil. Uma segunda parcela, de R$ 500 mil, seria paga em 2 de março (não foi enviada à Assembléia a comprovação do terceiro pagamento, de R$ 400 mil, em 4 de abril).
Segundo Tuma observou em seu pedido, essa antecipação de 73,33% do total da verba para uma associação privada afronta o Decreto 43.914, de 1999, que determina que ‘o prazo de vencimento das obrigações contratuais deverá ser de 30 dias’.’
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Alckmin não fala de denúncia e diz que cabe a banco decidir sobre patrocínios
‘O ex-governador Geraldo Alckmin e o presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, não quiseram comentar a abertura de investigação sobre o patrocínio do Carnaval de 2006 pelo banco estadual.
Segundo a assessoria de Alckmin, ‘a decisão sobre aplicação de verbas de marketing da Nossa Caixa, como de outras autarquias do governo do Estado de São Paulo, é de responsabilidade das próprias empresas, que são autônomas e independentes para tais decisões’.
Em depoimento à Comissão de Finanças e Orçamento da Assembléia Legislativa, em 25 de abril, o presidente da Nossa Caixa disse que o patrocínio gerou ‘uma contrapartida bastante boa em termos de marketing’. ‘Os nossos letreiros ficaram do lado fora [do sambódromo], para quem passa pela Marginal. Por mais de um mês, tivemos um enorme camarote, exposição’. Monteiro disse que o banco não recebeu as fantasias: ‘Funcionários receberam.’ Sua assessoria não respondeu às perguntas enviadas pela Folha nesta sexta-feira.
A gerente de marketing da Nossa Caixa, Marly Martins, também em depoimento na Assembléia, afirmou que ‘não houve custo nenhum para o banco’. ‘Vieram em torno de cem fantasias para o banco, no momento da negociação.’ Ela disse que foi um pedido dela, feito quatro dias antes do desfile. ‘O banco não teve gasto nenhum com a Leandro de Itaquera. Nós fizemos um patrocínio para a Liga das Escolas de Samba’, afirmou. Ela não soube dizer como foram divididos os recursos, pela Liga, entre as escolas de samba e informou que não houve solicitação do Palácio dos Bandeirantes.
Consultados, a Liga Independente das Escolas de Samba e o presidente da escola de samba Leandro de Itaquera, Leandro Alves Martins, não se manifestaram.’
TODA MÍDIA
Gritando que nem louca
‘A seleção chegou à Alemanha com as câmeras da Globo nos calcanhares. De Fátima Bernardes, início da noite, no fim do ‘Domingão do Faustão’:
– Eu tô gritando que nem louca, mas está difícil… Agora a gente vai falar com o Ronaldinho… A gente vai estar entrando ao vivo e mostrando o caminho deles, daqui até o hotel e até o final, se Deus quiser.
Do aeroporto para o hotel, com Pedro Bial dizendo no ‘Fantástico’ que ‘nossos guerreiros descansam’, a ‘cobertura total’ faz lembrar a primeira excursão dos Beatles pelos EUA. Até nos gritinhos.
SE NÃO O BRASIL, QUEM?
Ronaldinho como ícone da Copa, no ‘NYT’ de domingo
Abaixo das manchetes nos sites brasileiros, quase todas relativas à goleada sobre a Nova Zelândia, e com destaque também na Globo, a notícia de que ‘Ronaldinho e Brasil aparecem em capa de revista do ‘New York Times’.
Como sublinhou a Folha Online, o título da reportagem, ‘Most bonito’, algo como ‘o mais bonito’, era trocadilho com o slogan publicitário da Nike para a seleção. Mas o louvor saltava de texto em texto ao longo da revista ‘Play’ -sob enunciados como ‘Os semi-competidores’ ou, mais claramente, ‘Se não o Brasil, quem?’, em contraste com ‘As lendas’ do título sobre Ronaldinho e o Brasil.
OS DIVERSOS CANTOS
E prossegue a campanha ‘Como vencer o Brasil’, título de um texto da revista americana ‘Sports Ilustrated’ -que, após citar a defesa do time ‘bonito, mas frágil’ etc., encerrou com a ironia ‘é fácil, certo?’.
Além de Globo, ‘NYT’, ‘Sports Ilustrated’ e gigantes outros, começam a surgir os sites com cobertura ‘indy’. Os blogueiros de mídia Daniela Bertocchi e Tiago Dória linkam o Na Estrada da Copa, com vídeos e podcasting, lançado por dois brasileiros, um alemão e um angolano -os quatro já ‘na estrada’ para acompanhar ‘o encontro dos diversos cantos do mundo’ na Alemanha.
SOBRE BLOGS 1
Do agora blogueiro Marcelo Coelho, em seu primeiro post, ontem na Folha Online:
– Todo dia, antes mesmo de acabar de ler o jornal, sou atraído pela tela do computador: os e-mails, o UOL e a página em branco do word me convocam, sem que eu mesmo perceba o que estou fazendo. É provável que isso aconteça com um número cada vez maior de pessoas. Daí a vontade de fazer este blog.
SOBRE BLOGS 2
E do agora blogueiro Luis Nassif, no portal UOL:
– Depois de algum tempo de resistência, aderi aos blogs. Em parte, por acreditar que o futuro do jornalismo está na internet. Em parte, devido à enorme e revitalizante interação com o público.
Orgulhoso dos ‘e-mails consistentes’ dos leitores, prometeu interação.
– Espero cumprir um papel neste espaço precioso.’
INTERNET
Uso da web dispara e reduz custo de banco
‘A internet ganha cada vez mais a preferência dos clientes de bancos. Em 2005, as transações pela rede bateram de longe as realizadas pessoalmente no caixa, ampliando a vantagem constatada já em 2004. Comodidade e rapidez são os principais tópicos apontados para explicar o fenômeno.
Em 2005, as operações bancárias feitas pela internet totalizaram 5,85 bilhões. As feitas no caixa somaram apenas 3,72 bilhões. Há muito pouco tempo, em 2003, a realidade era bem diferente: naquele ano, as transações via internet chegaram a 2,63 bilhões, enquanto as no caixa bateram os 4,45 bilhões. Os dados pertencem a estudo feito pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
‘A internet trouxe várias comodidades para o cliente. Ele não tem mais que sair de casa para fazer suas operações bancárias. As pessoas podem agora até agendar pagamentos de contas, além de poder cuidar de suas contas mesmo viajando’, diz Luís Marques de Azevedo, consultor da Febraban.
Um rápido crescimento no número de pessoas com acesso ao internet banking também ocorreu nos últimos anos. De um universo de 8,3 milhões de pessoas em 2000, chegou-se ao número de 26,3 milhões no fim de 2005 -ano que registrou um aumento de 45,3% em relação a 2004.
As operações de pessoa física e jurídica feitas em 2000 via internet representaram 3,7% do total das transações bancárias. No ano passado, já haviam alcançado 17% do total.
Além da explosão do uso da internet, os postos de auto-atendimento também têm ganhado considerável terreno nos últimos anos. Em 2000, foram contabilizadas 6,16 bilhões de operações por esse meio. Em 2005, somaram 10,79 bilhões.
Para os bancos, essa informatização dos clientes é bastante vantajosa, com queda em seus custos operacionais.
‘As instituições financeiras só têm a comemorar essa mudança no perfil de seus clientes. Caem os custos operacionais e se reduz a necessidade de ampliar o quadro de funcionários. Esse movimento se refletiu também na diminuição no volume de cheques compensados, que eram mais onerosos para os bancos’, afirma Edson Carminatti, analista financeiro do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração).
O número de cheques compensados em 2005 caiu 7,93% se comparado a 2004. No ano passado, foram 1,94 bilhão de cheques compensados. Em 2000, foram 2,64 bilhões.
E isso tem ocorrido em um período em que cada vez mais pessoas têm acesso aos serviços bancários -a bancarização. De 2000 para 2005, o número de contas-correntes saltou de 63,7 milhões para 95,1 milhões.
Segundo informação do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, o custo médio para os bancos em um operação feita no caixa é de R$ 1,10. Quando a operação é feita por um meio eletrônico (internet ou caixa eletrônico), esse custo cai drasticamente, para R$ 0,10.
‘O canal internet representou um benefício excepcional para os dois lados. O cliente passou a poder fazer suas operações a qualquer momento e em qualquer lugar. E, para os bancos, o sistema é um filé mignon, explicando parte dos crescentes ganhos das instituições’, afirma Azevedo.
‘É indiscutível que os bancos tiveram grandes benefícios com essa mudança no perfil das operações. Além de custos menores, não tiveram de ampliar expressivamente o número de agências e funcionários para acomodar o crescimento da bancarização no país’, diz Carminatti.’
Folha de S. Paulo
Marcelo Coelho estréia blog com crônicas leves e críticas
‘Há 15 anos comentando livros, filmes, exposições, um pouco de política e dos fatos do cotidiano em sua coluna semanal na Ilustrada, o crítico Marcelo Coelho perdeu ‘o medo da informática e da internet’ e está no ar, desde ontem, com o blog ‘Marcelo Coelho – Cultura e Crítica’ (no endereço eletrônico http://marcelocoelho.fo lha.blog.uol.com.br).
‘Creio que o que escrevo se dirige a um público universitário, com interesse por ciências humanas e literatura. Mas, assim como na coluna, pretendo abordar coisas do cotidiano no blog, que me parece convidar a um tom de crônica mais leve’, explica Coelho, que estreou na blogosfera com um texto de apresentação, outros dois na seção de pais e crianças (‘com minhas experiências e dicas nessa ‘profissão’) e ainda comentários sobre declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O blog de Coelho terá também críticas e comentários sobre filmes, peças e exposições, poemas e uma seção de fotos, para a qual ele espera a participação dos leitores.
‘O assunto é bastante idiossincrático: faço uma coleção de imagens de cartazes de rua, captadas em câmera digital. Pretendo ver se mais gente pega essa mania’, torce ele.’
COPA 2006
Saudade do Galvão
‘LONGÍNQUO leitor, distante leitora, já estou na Alemanha e assisti pela televisão local ao amistoso entre Brasil e Nova Zelândia. Mas não vi o jogo sozinho. Em meu quarto havia vários amigos brasileiros que também estão aqui para a Copa. E eles ficaram falando o tempo todo, sem me deixar ver a partida direi.to. Preta reclamava toda hora do narrador: ‘Não dá para entender nada do que ele fala. Nunca pensei que fosse ter saudade do Galvão…’. Gulliver sentiu falta dos melhores momentos no intervalo: ‘Eles ficam dando notícias?! O que pode ser mais importante que os gols?’. Falando nisso, Raimundo, o rei do submundo, sentiu falta do longo grito de gooooool. ‘É como se fosse o João Gilberto narrando. Sou mais o Vicente Celestino.’ Bento, o agourento, disparou contra o adversário: ‘Se é para enfrentar um time desses, é melhor jogar contra os reservas’. Mas Batista, o otimista, logo contestou: ‘O importante é que fizemos 12 gols nos dois amistosos e não tomamos nenhum’. Lelê, que vai estrear um blog hoje (http://blogdo lele.blog.uol.com.br), corria pelo quarto driblando as cadeiras com uma bola imaginária enquanto Tico e Teco resmungavam que a fórmula da Copa é muito simples. Por fim, Zé Cabala adivinhou que o resultado do jogo seria 4 a 0 (é bem verdade que fez isso quando faltava só um minuto, mas não se pode negar que o mestre dos mestres acertou outra). Logo depois da partida entrou um pequeno programa esportivo de uns dez minutos, e aí sim houve alguns comentários sobre a partida. Uma bela loira, um ex-jogador alemão (Rudi Völler) e um comentarista falaram rapidamente e mostraram os gols. Mas o mais divertido ainda estava por vir: serviram caipirinha e comida brasileira para um grupo sentado numa longa mesa, e uma bateria de escola de samba vestida com a camisa do Brasil encerrou o programa. Pelo jeito, estamos melhores em futebol e em programas esportivos.’
Folha de S. Paulo
CBF ordena facilidades para a Globo
‘O homem que levou o Brasil para Königstein recebeu uma ordem da CBF: facilitar, ao máximo, as coisas para a TV Globo.
‘Foi uma exigência deles’, disse Jörg Pöschl, presidente do Königstein FC, clube da quinta divisão alemã e que receberá em seu campo a seleção.
Ontem, só funcionários da emissora puderam entrar na Arena Zagallo e, diz Pöschl, devem ganhar um lugar exclusivo nas dependências do clube. ‘Não preciso falar a você sobre a influência da Globo. Eles pagaram muito pela Copa.’
Ele teve a idéia de abrigar uma seleção da Copa em 2001. Pöschl, que era administrador do distrito de Falkstein, pertencente a Königstein, enviou a proposta à Fifa. Só recebeu a resposta em 2002. Uma delegação da cidade inspecionou o local, o aprovou e fez exigências, como a troca do gramado, em reforma que custou R$ 240 mil.
Hoje, os fãs já não terão acesso ao treino. Uma arquibancada, para mil pessoas, será usada apenas para os jornalistas.’
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‘New York Times’ dá capa de sua revista para Ronaldinho
‘Um dos jornais de maior prestígio no mundo, o ‘New York Times’ fez matéria de capa sobre o meia-atacante da seleção para sua publicação esportiva, ‘Play’.
Com foto do atleta, o título da revista é ‘We love this game’ (Nós amamos esse jogo), bordão usado pela NBA, a liga de basquete, um dos esportes nacionais. Ele é utilizado para exemplificar o bom desempenho brasileiro no futebol.
Dentro da publicação, ‘Most Bonito’ é o título usado para descrever Ronaldinho. São relatados belos lances do jogador, como seu gol contra o Chelsea.
Dois colunistas da Folha, Tostão e Juca Kfouri, são usados para explicar a boa fase do atacante. É destacada a comparação do primeiro de Ronaldinho com Pelé -o colunista chegou a discutir se o atleta já teria características comparáveis às de Pelé.’
TELEVISÃO
Novela da Record investe em fissura social
‘Assim como fez a Globo já nos anos 70, a Record vai investir em novelas que tratam de problemas sociais brasileiros, mas de uma forma mais contundente que a concorrente.
‘Senhor da Guerra’, nome provisório da trama que substituirá ‘Cidadão Brasileiro’ em janeiro, promete mostrar que a violência no Rio, onde será ambientada, é conseqüência da má distribuição de renda.
‘Vamos deixar bem clara a fissura social que existe, essa divisão de classes tão acentuada, os excluídos de um lado e os incluídos de outro. A história vai transitar entre esses dois universos, sem açucarar o que é amargo por natureza’, afirma o autor Marcílio Moraes.
Moraes adverte que ‘Senhor da Guerra’ será antes de mais nada um folhetim ‘que falará do amor de uma jovem humilde, guia de esportes de aventura, com um ricaço, gênio da matemática’. A violência e a desigualdade serão panos de fundo.
‘A novela não vai ser uma guerra civil, mas vai abordá-la com profundidade. Minha intenção é problematizar a violência um pouco mais do que já fazem’, diz Moraes, numa crítica direta à Globo, sua ex-casa. ‘As novelas da Globo estão muito repetitivas’, alfineta.
Segundo Moraes, ‘Senhor da Guerra’ terá personagens da zona sul e dos morros do Rio. Traficantes de drogas que dominam favelas também serão personificados, bem como os bons policiais e os corruptos.
TRIBUNAL AO VIVO 1 Band e Record passaram os últimos dias planejando a cobertura do julgamento de Suzane von Richthofen, que começa hoje no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo.
TRIBUNAL AO VIVO 2 Hoje, o ‘Primeiro Jornal’, telejornal matinal (8h) da Band, será transmitido ao vivo do fórum. Além de flashes durante todo o dia, a Band suspenderá sua programação das 13h às 15h para um especial sobre o caso Richthofen. A emissora interromperá programas para mostrar ao vivo a abertura do julgamento e a leitura da sentença.
TRIBUNAL AO VIVO 3 A Record também está preparada para mostrar o julgamento ao vivo. Até cancelou viagem de Celso Freitas à Alemanha para priorizar o caso.
MERCADO QUENTE O começo deste ano foi muito bom para a Globo. A emissora teve um faturamento líquido com publicidade de R$ 957,4 milhões no primeiro trimestre, 17,6% a mais do que no mesmo período de 2005, segundo relatório divulgado a credores.
REVISTA JURÍDICA 1 O Tribunal de Justiça de SP manteve na semana passada liminar que obrigou a Record a pagar a Boris Casoy os 11 meses que restavam ser cumpridos quando a rede rompeu com o jornalista, em dezembro. A Record vai recorrer ao STJ.
REVISTA JURÍDICA 2 Já o Tribunal Regional do Trabalho, na sexta, julgou ilegal decisão que determinava a prisão dos donos da Rede TV! por descumprimento de sentença judicial trabalhista.’
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Meio e Mensagem
Segunda-feira, 5 de junho de 2006
MÍDIA & GOVERNO
Governo investe em semanais para estudantes
‘Carta Capital, Época, IstoÉ e Veja receberão R$ 500 mil cada uma a fim de desenvolver publicações adaptadas para o ensino médio
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC), fechou contrato com as quatro grandes revistas brasileiras de interesse geral para que, a partir desta semana até o fim do ano, mais de 16 mil escolas de ensino médio de todo o Brasil recebam semanalmente uma publicação dirigida para aplicação no ambiente de ensino. As editoras Abril (Veja), Globo (Época), Três (IstoÉ) e Confiança (Carta Capital) foram chamadas para preparar edições mensais que contemplem os estudantes. Os títulos vão sintetizar os principais assuntos publicados em suas páginas a cada mês para o novo produto, transformando reportagens cotidianas em proposições pedagógicas para a sala de aula. O investimento de R$ 2 milhões do MEC, feito sem licitação, vai distribuir quase 780 mil revistas até as férias escolares de verão. Cada edição terá tiragem fixa de 32,3 mil exemplares.
O fato de essa aproximação do governo ocorrer sem concorrência, em um ano de eleições e com quatro grandes produtos editoriais que ajudam a formar a opinião pública, foi questionado por advogados ouvidos por Meio & Mensagem. ‘É uma improbidade administrativa’, diz Décio Itiberê, advogado de direito eleitoral e direito público, que considera a atitude ‘um modo de cooptar’ os veículos em seu favor. ‘Mesmo que esse procedimento acontecesse por meio de carta-convite, o teto de uma contratação assim, segundo a lei, é de R$ 80 mil anuais.’ Ele lembra que a carta-convite só é utilizada em situações emergenciais – o que não seria o caso -, e que se uma concorrência fosse aberta seria possível que apenas uma empresa produzisse o material por um custo menor.
‘É questionável. A sustentação é frágil porque a fundamentação legal apresentada não entra nos méritos da lei’, pondera o advogado especializado em publicidade e comunicação Salvador Scorza. Segundo ele, esse é um terreno delicado, porque ‘a letra da lei é fria’ e pode ser interpretada como convém a cada um. ‘Certamente o departamento jurídico do MEC tem conhecimento disso tudo, mas poderia ter havido mais transparência.’ A resolução publicada pelo ministério no Diário Oficial da União, no dia 1o de fevereiro, justifica o procedimento considerando que ‘a diversificação na seleção de matérias’, vindas de revistas de grande tiragem, vai viabilizar ‘o acesso do professor a fontes diferenciadas de informação’. O fato de essa iniciativa ter sido implementada sem licitação pública não é um problema na opinião do diretor de ações educacionais do FNDE, Rafael Torino. Para ele, como todas as semanais do País foram chamadas,o procedimento não se fez necessário: ‘Se quiséssemos escolher apenas uma delas, aí sim faria sentido’. Questionado se outros empresários da mídia impressa não teriam o direito de participar dessa oportunidade, o diretor respondeu: ‘Precisamos de notícias cotidianas e que estejam nas bancas’.
Frederic Kachar, diretor financeiro da Editora Globo, justifica a atitude do governo com base na idéia de inexigibilidade de licitação – ou seja, o fato de que apenas uma empresa teria condições de prestar o serviço em questão. ‘Somente essas editoras podem introduzir publicações de leitura semanal nas escolas’, argumenta. O advogado Scorza discorda desse raciocínio. Para ele, nada impediria que grandes jornais ou mesmo agências de notícias realizassem o trabalho: ‘As semanais não são a fonte original de todos os assuntos que estão na agenda da sociedade’. Kachar rebate declarando que ‘jornais são perecíveis e trazem a notícia de ontem, enquanto as revistas são mais profundas e permanentes’.
Cláudia Costin, vice-presidente da Fundação Victor Civita (responsável pela revista Sala de Aula, gerada a partir do conteúdo de Veja), sustenta a tese de que todas as semanais foram contempladas. ‘Não há outros produtos no País com essas características nem com a experiência de fazer um título chegar a todos os lugares do Brasil’, defende. Cláudia adianta que a Sala de Aula poderá ser vendida também em bancas ou para a rede privada de ensino ainda neste ano, de acordo com a demanda – mesmo caso de Época na Escola. Na Editora Três, o diretor de projetos institucionais, Expedito Grossi, não comentou o mérito da contratação: como resposta, ele enviou à redação de M&M a resolução do Ministério da Educação sobre o tema, publicada em fevereiro.
Quem menos gostou desse movimento foi a Carta Capital – que pode até ficar de fora do projeto. Ela foi a primeira das quatro revistas a procurar formalmente o governo oferecendo uma publicação didática para a rede pública, no começo de 2005. A Carta Capital Na Escola já estava praticamente pronta, em julho do ano passado, quando o MEC contatou suas três concorrentes para fechar o pacote conjunto. Sem disposição para esperar o Estado, em setembro a editora deu início à circulação do produto – que já está em sua sexta edição, vendido em bancas. Além disso, a Carta Capital Na Escola conta com anunciantes que teriam de sair de suas páginas caso o contrato com o MEC fosse fechado, pois ocupam um espaço maior do que o determinado pelo poder público. ‘Foi chato saber, no meio do caminho, que o governo incluiria ‘as outras’ no projeto’, conta a publisher da Editora Confiança, Manuela Carta. E não sabemos se queremos essa restrição publicitária; as edições já estão se sustentando’, acrescenta. Torino, do FNDE, confirma que a Confiança foi a primeira a procurar o governo. No entanto, ele acredita em um equívoco: ‘Talvez tenham entendido errado. Eles sabiam que não poderíamos dar exclusividade a uma só revista e criaram uma expectativa incorreta’.’
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Como serão as revistas
‘O diretor do FNDE, Rafael Torino, explica que o projeto se desenvolveu graças à demanda já evidenciada pelas escolas por receber esse tipo de produto, somada ao interesse das próprias editoras de se relacionarem com esse público. ‘Havia a idéia de comprar revistas para distribuição no ensino médio. Então, no começo deste ano, o movimento tomou forma para ser desenvolvido como projeto-piloto para 2006’, descreve. As editoras se alternarão na produção e no envio das publicações às escolas a cada semana, sendo responsáveis pela logística. O governo pagará R$ 2,85 por exemplar. ‘As empresas podem fazer outros repartes da tiragem para venda em bancas, por exemplo’, acrescenta Torino. A Abril estréia a circulação dos títulos estudantis nesta semana com a Sala de Aula – cuja manchete aborda a Copa do Mundo -, que exibe preço de capa de R$ 3,90.
O acordo fechado entre o MEC e as revistas prevê 64 páginas de conteúdo para cada produto, e as editoras têm liberdade para comercializar mídia em encartes centrais ou vendendo a segunda, a terceira e a quarta capas. Está proibida a promoção de bebidas. O número de estréia conta com um anúncio do Banco Real. Editorialmente, as quatro revistas podem inserir os assuntos que quiserem, desde que as proposições de atividades pedagógicas e os planos de aula acompanhem cada uma das matérias selecionadas para os estudantes. Uma comissão do MEC avalia o material, mas somente depois de sua distribuição. ‘Vivemos em uma democracia. Não podemos impor temas e nem poderíamos desenvolver esse projeto com apenas uma ou duas das editoras de publicações semanais do País’, discorre Torino. ‘É claro que nós sabemos o que cada revista pensa do governo Lula, mas,isso não impede que elas desenvolvam esses títulos especiais’, reconhece o diretor.’
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