Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Nossa Caixa e Palocci
dominam as manchetes


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 27 de março de 2006


A QUEDA DE PALOCCI
Editorial


Palocci Sai, A Crise Fica


‘A 280 dias do fim do mandato, ruiu o pilar remanescente da plataforma sobre a qual foi montado o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Antonio Palocci Filho, o emblema da conversão tardia mas incondicional do petismo à ortodoxia de mercado, não resistiu aos indícios de conduta indevida e deixou o Ministério da Fazenda. Mas a saída de um ministro cuja carga se tornou insustentável não livra o governo da crise.


O escândalo do uso criminoso de braços do Estado para intimidar Francenildo Costa -o caseiro que refutou Palocci- ganhou ontem seu capítulo mais estarrecedor. O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, disse à Polícia Federal que solicitou os extratos com dados bancários de Francenildo e, de posse dos papéis, os entregou a Palocci: o ministro da Fazenda e o dirigente da Caixa, envolvidos pessoalmente na violação do sigilo de um cidadão!


Quer dizer que não passava de empulhação toda a pantomima armada para ‘apurar’ o crime -com menções a laptops perdidos e recuperados e prazos de inquérito de 15 dias. Foi, no máximo, uma tentativa, afinal frustrada, de ganhar tempo e encontrar no baixo funcionalismo um voluntário ao sacrifício.


O governo Lula e o petismo governista perderam definitivamente a noção de limites institucionais. Que outra concepção de Estado senão a totalitária, em que se esfacelam as fronteiras entre coisa pública e partido, pode gestar tamanha afronta a uma Constituição democrática?


Em momentos como esse, em que um Poder exorbita de suas prerrogativas, as demais esferas da República precisam agir no interesse do reequilíbrio institucional. O Congresso, o Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público e a burocracia do Executivo devem reagir e colocar um freio à sanha autoritária que atropela as garantias básicas dos cidadãos em nome da manutenção do poder.


Palocci e Mattoso saem, mas ambos e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva devem muitas explicações sobre o ocorrido nesses últimos dias de março. Lula sabia do ato criminoso urdido no alto escalão de seu governo? O Brasil exige uma resposta.’


DENÚNCIA CONTRA ALCKMIN
Editorial


Alckmin Deve Explicações


‘Ao tornar-se o presidenciável tucano, há duas semanas, Geraldo Alckmin prometeu ‘um banho de ética’ na política federal. Vacilou na primeira chance de mostrar ao eleitorado brasileiro como trataria suspeitas de mau uso da máquina numa hipotética Presidência.


Foi insatisfatória a reação do governador de São Paulo aos indícios de que a sua gestão interveio na publicidade da Nossa Caixa para beneficiar deputados estaduais. O enunciado lacônico de Alckmin -’o governo não interfere em banco público’- não dirime as suspeitas levantadas por mensagens eletrônicas reveladas em reportagem desta Folha.


O governador disse ter ficado convencido de que a suspeita ‘não tem a menor veracidade’ em conversa com o presidente da Nossa Caixa. Não se sabe o que o dirigente do banco teria afirmado a seu superior, mas, se erro houve, a direção da estatal foi no mínimo conivente, e sua palavra deveria ser confrontada com a de outros envolvidos em investigação isenta.


Se ‘não há ingerência política em banco público’, por que o assessor de Comunicações do governador escreveu ao gerente de marketing da Nossa Caixa para lembrá-lo do ‘orçamento de nossa campanha’? Por que dele cobrou o envio do ‘plano’ do banco ao publicitário que cuidava de contas da estatal? O afastamento do encarregado de imprensa do Bandeirantes, além de soar como uma confissão de que havia, sim, algo de errado, não esgota essas questões.


Não parecem conformes a padrão ‘eminentemente técnico’ contratos de publicidade cujos destinatários sejam tratados, nas mensagens entre publicitário e banco, como ‘lixões’. Pedir ajuda para ‘acalmar o deputado’ tampouco se coaduna com propaganda tecnicamente orientada.


Dizer que as anomalias não serão investigadas por tratar-se de valores pequenos é comungar do ideário que livrou o beneficiário do ‘valerioduto’ Professor Luizinho (PT-SP) da cassação. É preciso encarar os fatos, investigar e esclarecer as suspeitas. Não está em jogo apenas o interesse legítimo dos paulistas, mas a palavra empenhada por um governador que pretende tornar-se presidente.’


CRISE POLÍTICA
Folha de S. Paulo


Jornais apostam em saída de ministro


‘Para o jornal britânico ‘Financial Times’, é ‘inevitável’ a saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda até o dia 31 de março, limite para que os políticos com cargos executivos saiam para se candidatar. ‘O pretexto é conveniente’, diz o jornal em reportagem publicada hoje, já que a situação de Palocci se tornou ‘indefensável’ desde que ‘ficou evidente’ que ele mentiu à CPI.


‘Como o mercado vai reagir se ele sair?’, questiona o jornal. ‘Não vai, aparentemente.’


O jornal espanhol ‘El País’, ao anunciar ontem a saída de outros ministros, afirmou que a estas se somará, ‘provavelmente’, a saída de Palocci, ‘cuja permanência se fez insustentável’.


No sábado, o jornal publicou que ‘o futuro do superministro […] pode ter os dias contados se continuar o processo de destituição solicitado ontem [sexta] na Câmara’ pela oposição.’


Kennedy Alencar


Palocci diz não descartar que assessor tenha vazado dados


‘O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, negou ontem, em conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sua participação na quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, mas admitiu a possibilidade de sua assessoria ter participado do vazamento do segredo à imprensa. Lula marcou reunião hoje à tarde para tomar uma decisão sobre a situação de Palocci.


O ministro deve sair em breve. A única chance de Palocci continuar no cargo seria ficar provado rapidamente que não houve participação sua na quebra e no vazamento do sigilo de Francenildo.


A Folha apurou que a Polícia Federal colheu indícios de que um integrante da assessoria especial da Fazenda participou pelo menos do vazamento. Um auxiliar presidencial afirmou não saber se a suposta participação da assessoria no vazamento seria suficiente para Lula tirar Palocci hoje ou se seria usada como forma de tentar isentar o ministro.


O assessor da Fazenda sob suspeita é Marcelo Netto. Um dos mais influentes auxiliares do ministro, Netto cuida da área de comunicação. Em conversas reservadas, ele nega participação no episódio do caseiro.


O presidente receberá hoje mais informes da Caixa Econômica, onde o sigilo foi quebrado, e da Polícia Federal, que investiga a violação. Membros da cúpula do governo acham ‘improvável’ a permanência de Palocci. Em reunião com Lula na quinta-feira, o próprio ministro admitiu que perdeu ‘as condições políticas’.


Ontem, porém, disse a Lula que setores da imprensa fazem campanha contra o governo em aliança com a oposição e que não dariam trégua ao presidente mesmo com sua saída da Fazenda. Esse argumento foi visto por colegas de ministério como forma de tentar ficar no cargo.


Segundo a Folha apurou, a presidente cobrou ontem de Palocci explicações de modo mais contundente do que na semana passada. O ministro pediu para não ser humilhado. Parte da cúpula do governo entendeu o pedido como forma de ganhar tempo para ‘saída honrosa’. Outra parte, porém, viu tentativa de continuar.


Sondagem a Mattoso


O presidente da Caixa, Jorge Mattoso, recusou sondagem de emissário de Palocci no início da semana passada para assumir a culpa sozinho e livrar a Fazenda. Mattoso depõe hoje à PF e deve deixar o cargo.


O caseiro diz que Palocci freqüentou a casa que ex-auxiliares dele alugaram em Brasília para fazer lobby e dar festas com garotas de programa. Palocci disse à CPI dos Bingos que nunca foi à casa. Em reuniões do governo, admitiu ter ido à casa para atividade de caráter privado, mas nunca para participar de suposta corrupção.


Em reunião na semana passada, Lula disse que, se o problema fosse a suposta ida ou não de Palocci à casa, manteria o ministro no posto a qualquer custo. O presidente afirmou que a vida pessoal de seus auxiliares é assunto deles e de suas famílias.


Palocci corre contra o tempo se quiser manter o direito de concorrer a deputado federal. O ministro deve deixar o posto até o dia 1º de abril, como exige a lei. Fora do ministério, Palocci perderia o foro privilegiado (responder a eventuais processos judiciais no Supremo Tribunal Federal). Caso se eleja em outubro, recuperaria esse direito em 2007.


O ministro teme que um juiz de primeira instância acate eventual pedido de prisão feito por promotores e policiais paulistas que investigam supostas irregularidades do tempo em que ele foi prefeito de Ribeirão Preto.


Lula está muito abatido, segundo auxiliares. O presidente se julga devedor de Palocci, que conduziu a política econômica sob forte pressão, inclusive do PT. No entanto, diz que não pode passar à história como conivente com violação de sigilo bancário. Lula teme que o episódio tenha reduzido sua vantagem nas pesquisas em relação ao seu principal oponente na corrida presidencial, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).


Cotados


Desde quinta-feira, o presidente analisa nomes para a Fazenda. Ontem, o mais cotado era o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega, tem menos força. Outros nomes em análise são os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal. Lula não descarta nomear um banqueiro ou empresário, mas seria surpresa.’


CASO NOSSA CAIXA
Lilian Christofoletti e José Ernesto Credendio


Alckmin nega uso de banco e diz que caso não será investigado


‘O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse ontem que ‘não tem veracidade’ a denúncia de que ele teria direcionado recursos de publicidade da Nossa Caixa para favorecer políticos aliados na Assembléia Legislativa. Segundo o tucano, o caso não será investigado.


Alckmin renunciará ao cargo na próxima quinta-feira para disputar a Presidência da República.


‘Conversei com o presidente da Nossa Caixa [Carlos Eduardo Monteiro]. [A denúncia] Não tem a menor veracidade. O governo do Estado não interfere em banco público e o critério de distribuição da mídia do governo é eminentemente técnico’, disse Alckmin.


Ontem, a Folha publicou documentos que mostram que o dinheiro de publicidade do banco foi usado em jornais, revistas e programas mantidos ou indicados por Wagner Salustiano (PSDB), ‘Bispo Gê’ (PTB), Afanázio Jazadji (PFL), Vaz de Lima (PSDB) e Edson Ferrarini (PTB).


Correspondências eletrônicas obtidas pela reportagem indicam que as ordens partiram do assessor especial de Comunicação de Alckmin, Roger Ferreira.


‘A investigação foi feita pela Nossa Caixa, que enviou tudo ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado. Não há ingerência política em banco público nem em empresa estatal’, disse.


Com relação aos e-mails obtidos pela Folha, Alckmin disse que os mesmos foram repassados por pessoas terceirizadas, que não falam em nome do governo.


Há conversas do então gerente de marketing do banco, Jaime de Castro Jr., com a agência de publicidade Contexto (contratada pela Nossa Caixa) e com o assessor de Comunicação de Alckmin.


‘Pessoas terceirizadas de agência não falam em nome do governo. O Roger [Ferreira] vai continuar [no governo]’, afirmou Alckmin, visivelmente irritado.


Com relação à auditoria que apontou irregularidades em 91,73% dos pagamentos feitos pela Nossa Caixa a duas agências de publicidade, Alckmin disse que realmente houve um erro, mas que as providências foram tomadas. ‘Um funcionário foi demitido a bem do serviço público.’


O chefe da Casa Civil de Alckmin, Arnaldo Madeira, negou que haja uso político das verbas de publicidade. ‘A orientação do governo foi sempre a de fazer a distribuição tecnicamente. Todos sabem que o governo de São Paulo não gasta muito dinheiro em publicidade.’


Indagado ontem sobre o caso, o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), provável candidato à sucessão de Alckmin no governo do Estado, foi sucinto: ‘Eu não soube disso, não li os jornais hoje’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo vende futebol brasileiro para a China


‘A TV Globo concluiu na semana passada negociação inédita em que venderá 82 jogos por ano, até 2008, dos principais torneios de futebol do Brasil para a maior rede de TV da China, a CCTV.


Pela primeira vez, os telespectadores chineses poderão acompanhar, ao vivo ou não, pela CCTV-5 (o canal da CCTV especializado em esportes), jogos do Campeonato Brasileiro, que começa em abril, da Copa do Brasil, e das edições de 2007 e 2008 dos Estaduais do Rio e de São Paulo.


O acordo com a CCTV é importante porque marca a entrada de um produto distribuído pela Globo num dos maiores mercados do mundo. Mas o faturamento que a Globo obtém com a exportação do futebol brasileiro ainda é irrisório para o conjunto de suas receitas. Não deve ultrapassar, neste ano, mais de US$ 2 milhões. Mas é um negócio que, acredita a Globo, tem potencial de valorização, apesar da falta de ‘espetáculo’ no futebol brasileiro (jogos disputados por grandes clubes em gramados bonitos e estádios lotados).


A Globo paralisou em 2002 a venda para o exterior de direitos de TV do futebol brasileiro. Em 2005, readquiriu os direitos para exportação e lançou o pacote ‘Brazilian Magic Football’, em que oferece 82 jogos por ano dos principais torneios brasileiros.


As vendas da Globo recomeçaram em janeiro. O negócio com a China é o mais importante realizado até agora.


OUTRO CANAL


A seguir 1


Júlia (Glória Pires) e Vitória (Cláudia Abreu) vão se estranhar nos capítulos da semana que vem de ‘Belíssima’. Vitória, mesmo sem querer, começará a ceder a André (Marcello Antony). E Júlia, por mais que queira esquecer o ex que a roubou, não consegue e fica com ciúme da amiga. Acaba a acusando de traição.


A seguir 2


Já Safira (Cláudia Raia) receberá uma ‘oferta’ de seu ex-marido Freddy (Guilherme Weber) para que se casem novamente. Em troca, Freddy propõe pagar as dívidas da família Murat, o que os livraria de serem despejados do casarão em que moram. Safira a princípio se ofende, mas a necessidade fala mais alto.


Ex-segredo Vai se chamar ‘Estrelas com Angélica’ o novo programa que Angélica apresentará aos sábados, a partir do dia 8.


Efeitos 1 Para promover a exibição no próximo dia 2 de ‘Chico Buarque – Futebol’, oitavo programa da série produzida pela DirecTV, o canal Multishow está exibindo um vídeo em seu site (www.globosat.com.br) em que o cantor e compositor aparece dando uma de Ronaldinho Gaúcho.


Efeitos 2 Assim como Ronaldinho em um vídeo promocional da Nike, Chico Buarque faz embaixadas e acerta três bolas na trave (uma a menos do que o craque do Barcelona). É montagem.


E-mail – dcastro@folhasp.com.br’


Folha de S. Paulo


Atriz Ariclê Perez morre em SP aos 62


‘A atriz Ariclê Perez morreu na noite de ontem, depois de cair da janela do apartamento em que morava, no décimo andar de um prédio em Higienópolis, na região central de SP. Ela tinha 62 anos. A polícia investiga a causa da morte.


Perez viveu dona Júlia Kubitschek, mãe do presidente Juscelino Kubistschek, na minissérie ‘JK’ (Globo), que terminou na sexta.


A atriz iniciou sua carreira no teatro, em 1967. Foi casada com o diretor Flávio Rangel (1934-88), nome importante do Grupo Opinião e do TBC. É autora da peça ‘Criador e Criatura’. No cinema, seu último filme foi ‘Quanto Vale ou É por Quilo?’ (2005).’


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O Globo


Segunda-feira, 27 de março de 2006


INTERNET
Carlos Alberto Teixeira


Sonhos de consumo realizados


‘Alguns brinquedos tecnológicos aparecem na vida da gente e, diante do fascínio que nos acomete, ficamos a pensar como é que conseguimos viver até então sem estes badulaques. Em duas viagens que fiz recentemente aos Estados Unidos, aproveitei para queimar umas economias com upgrades de hardware. Existe uma lojinha de uns chineses muito boa gente lá em San Francisco chamada Central Computers. Eles têm uns preços de arrebentar, tudo legalizado direitinho e com garantia. Não tem outra: pode rodar à vontade pela cidade e não vai encontrar preço melhor. É claro que às vezes na Fry’s Electronics há umas ofertas de tirar o fôlego, mas, como é longe do centro, é preciso alugar carro para ir até lá, ou então gastar horas intermináveis de ônibus, o que acaba não valendo a pena.


O primeiro sonho de consumo que realizei nesta leva foi um monitor LCD de 19 polegadas. O que eu tinha desde 2000 e que nunca me deu defeito era um monitor gigantão convencional Compaq de 17 polegadas. Mas o bicho esquentava feito o diabo e mesmo com ventilador de teto, trabalhar diante dele no verão era suadeira garantida. Pois olhe, leitora, se o seu monitor não é um LCD então comece a guardar grana agora mesmo e compre um. Este meu no chinês saiu por US$ 285, uma pechincha. Arranquei daqui da bancada o velho monitor fornalha que parecia mais um tanque de guerra de tão monstruoso. E entrou esta belezoca de telinha plana que pus lá longe da minha cara, um ViewSonic VA912b preto super estiloso. Com isso, abri espaço para um monte de papelada, livros e folhetos entre o teclado e o monitor. Tocar um DVD nessa telona nítida é um prazer, e pondo a mão atrás do lombo do dito cujo vejo que está apenas morninho, mesmo aqui neste sol a pino de Copacabana. Era algo que queria comprar há um tempão mas, como o monstrengo não dava defeito, fui protelando. Agora que sacramentei a compra, digo sem medo: não me arrependo.


O segundo arroubo consumista era bem mais justificável e dei vazão a ele sem culpa. Desde que comecei a me meter com computadores em 1979 venho guardando um monte de arquivos digitais que hoje para mim são preciosidades. Naturalmente, os meios de armazenamento foram se sofisticando ao longo desse tempo. Comecei com disquetes de 5 e 1/4 polegadas, depois disquetes de 3 e 1/2 polegadas, depois Zip disks de 100Mb, terminando com CDs e DVDs graváveis, todos sempre gerados em duas cópias, por medida de segurança. A cada mudança de mídia, eu ia fazendo a devida conversão dos arquivos, de modo que mesmo minha vetusta coleção de disquetes de 5 e 1/4 encontra-se hoje gravada nas pastas de CDs redundantes e guardados em locais diferentes.


Acontece que no início do ano escrevi para o FórumPCs um artigo cujo texto é mesmo de assustar: ‘Todos seus CDs e DVDs graváveis vão morrer’. E é verdade, mais cedo ou mais tarde vão mesmo. Com base em um estudo muito sério realizado sobre este tema, chegou-se à conclusão que, se forem armazenados nas mais rigorosas condições de preservação possíveis, CD-Rs, DVD-Rs, DVD+Rs só durarão entre 100 e 200 anos. CD-RWs, DVD-RWs, DVD+RWs e DVD-RAMs terão vida útil de no máximo 25 anos. E CD-ROMs e DVD-ROMs sobreviverão entre 20 e 100 anos. Considerando que aqui no laboratório as condições de armazenamento estão muito longe de serem consideradas rígidas, comecei a ficar com receio de perder meus entesourados arquivos e pus-me a avaliar opções mais seguras. Acabei optando por copiar todos os arquivos dos CDs e DVDs para um disco rígido parrudo e preservar as duas cópias em mídia de plástico, coexistindo com a cópia em HD. Trouxe então da terra do Tio Sam dois discões ATA de 300Gb Maxtor 6L300R0, devidamente acondicionados em belos invólucros metálicos USB externos NexStar 3, um azul e outro vermelho. Encontro-me no momento em plena fase de conversão, gravando um a um os meus quase 200 CDs do acervo. O HD da caixa azul é o que uso para este salvamento duplicado. Quanto ao vermelho, é apenas para backup do discão SATA principal da minha máquina, um Maxtor de 250Gb que toda noite é backupeado com um comandinho batch besta que digito no DOS: ‘bkp’, e que se utiliza de uma ferramentinha japonesa simples mas muito eficiente que só copia no backup arquivos novos ou que tenham sido modificados desde o último salvamento. Se a leitora se interessar, trata-se do CopyTo Synchronizer e foi desenvolvido pela Kish Designs.


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Convido a leitora a se deliciar com dez notas diárias sobre tecnologia no site Magnet. Dirigido pelo genial Heinar Maracy, da legendária Macmania, e avidamente alimentado por Fabio Cosman e Rodrigo Martin de Macedo, o site é editado por este que lhes escreve.


Os links de hoje estão em .’


CASO NOSSA CAIXA
O Globo


Alckmin se nega a apurar denúncia envolvendo o banco Nossa Caixa


‘SÃO PAULO. A menos de uma semana de deixar o governo de São Paulo para disputar a Presidência da República, Geraldo Alckmin (PSDB) foi atingido ontem por denúncias de direcionamento de verbas publicitárias do banco estatal Nossa Caixa. O esquema, segundo reportagem publicada ontem pelo jornal ‘Folha de S.Paulo’, beneficiaria políticos da base aliada e veículos ligados ao próprio PSDB.


O ‘banho de ética’ que Alckmin prometeu pode ser submetido agora a uma série de investigações na Assembléia Legislativa e no Ministério Público Estadual, segundo disseram ontem integrantes da oposição ao tucano.


Na reportagem, o jornal divulgou documentos mostrando que o Palácio dos Bandeirantes pressionou a Nossa Caixa a direcionar recursos. A lista de favorecidos pelo esquema envolveria desde deputados da base aliada até o ex-ministro da Comunicação Luiz Carlos Mendonça de Barros, cotado para compor a equipe econômica de Alckmin, caso ele seja eleito presidente.


Mensagens revelaram o caminho das verbas


Mendonça de Barros foi o criador do site ‘Primeira Leitura’, um dos veículos beneficiados, e dono da Quest Investimentos, empresa gestora de fundos que foi escolhida pela Nossa Caixa para gerir cerca de R$ 55 milhões de um novo fundo.


Mensagens eletrônicas trocadas entre os envolvidos revelam como era feito o direcionamento das verbas. As ordens partiriam do assessor especial de Comunicação do governo, Roger Ferreira.


O ex-gerente de marketing do banco Jaime de Castro Júnior foi demitido por justa causa em dezembro por causa das irregularidades. Ele teria comprovado agora, num dossiê de 42 páginas, as pressões, inclusive em trocas de e-mails com outros envolvidos. A sindicância interna da Nossa Caixa teria protegido outros envolvidos nas irregularidades, o que levou o ex-gerente a fazer a denúncia.


Alckmin disse ontem que não pretende investigar o caso, que, segundo avalia, ‘não tem a menor veracidade’. O governador frisou apenas que as investigações foram feitas pelo próprio banco, o que dispensaria novas apurações. Alckmin também afirmou que não demitirá nem punirá Roger Ferreira, apesar do conteúdo das mensagens eletrônicas.


– Não (vou investigar). A investigação foi feita pela Nossa Caixa. Ela fez a sindicância, concluiu, encaminhou ao Ministério Público e ao Ministério Público. Há 500 veículos de comunicação e nós estamos falando de cinco casos. Agora, concluir que tenha ingerência política em 500 veículos? É totalmente pulverizada a estratégia de comunicação- disse o pré-candidato.


Ainda segundo o governador, ninguém mais será punido pelo caso:


– Pessoas terceirizadas de agência não falam em nome do governo. (Roger) vai continuar no governo – disse.


Líderes tucanos que acompanharam Alckmin ontem admitiram que ele ficou abalado com a denúncia. Mesmo assim, declarou não haver nenhum problema no fato de a denúncia ter surgido na largada de sua campanha, cujo mote é a ética.


– Se tiver que corrigir, se corrige. Se for improcedente, se explica- disse.’


TELEVISÃO
O Globo


Ariclê Perez é encontrada morta em frente a seu apartamento em SP


‘A atriz Ariclê Perez, de 62 anos, morreu ontem depois de cair do 10 andar de seu apartamento no bairro de Higienópolis, na região central de São Paulo, onde morava há pelo menos dez anos. O delegado Rodney Charles Muller Martins, plantonista do 4ºDP (Consolação), disse que a principal linha de investigação é o suicídio, mas as hipóteses de assassinato e queda acidental não foram descartadas.


Quando a Polícia Civil chegou ao local, o síndico do prédio e policiais militares já haviam entrado no apartamento. Por isso, não se sabe se a porta do imóvel estava trancada ou não. O corpo de Ariclê Perez foi encontrado às18h40m em frente à porta da garagem do edifício Diana, no número 270 da Rua Maranhão.


Na televisão, o último trabalho da atriz foi em ‘JK’, onde interpretou Júlia Kubitschek, mãe do ex-presidente Juscelino Kubitschek na segunda fase da minissérie. No último capítulo, que foi ao ar na sexta-feira, o personagem apareceu em um flashback do protagonista, vivido por José Wilker, que relembrava a morte de sua mãe.


Certa vez a atriz disse que sua ‘carreira foi construída no teatro’. Viúva do diretor de teatro Flávio Rangel, Ariclê estreou nos palcos em 1967 com a peça ‘Electra’ e participou da primeira montagem brasileira da peça ‘Hair’.


Ela também esteve no espetáculo ‘Hoje é dia de rock’. A atriz teve grande sucesso na TV no início da década de 90 na novela ‘Meu bem, meu mal’, onde viveu Rosa Maria Gentil, contracenando com a comediante Zilda Cardoso e com Lima Duarte. Antes disso, só tinha trabalhado em duas novelas da TV Tupi, no fim da década de 70. A última, ‘Como salvar meu casamento’, não terminou porque a emissora acabou. Depois de ‘Meu bem, meu mal’, fez novelas como ‘Salsa e merengue’ e ‘Felicidade’, e minisséries como ‘Os Maias’ e ‘O memorial de Maria Moura’. Fez sucesso também com o personagem Elisinha no remake da novela ‘Anjo mau’.


No cinema, Ariclê trabalhou em apenas três filmes. A estréia foi em 1971 em ‘Paixão na praia’, de Alfredo Sternheim. Em 1981, ela atuou sob a direção de Hector Babenco em ‘Pixote, a lei do mais fraco’, onde viveu uma das professoras do menor carente encarnado por Fernando Ramos da Silva. Seu último filme foi ‘Quanto vale ou é por quilo’, de Sérgio Bianchi, onde teve uma pequena participação, que lhe rendeu um prêmio de atriz coadjuvante no festival do Ceará. Um dos seus últimos trabalhos no teatro foi em 2002 na peça ‘Criador e criatura’, interpretando Capitu.’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 27 de março de 2006


ELEIÇÕES & MÍDIA
Carlos Alberto Di Franco


Pesquisas, marketing e jornalismo


‘A pré-campanha eleitoral está nas ruas. E as pesquisas, ferramentas que tentam antecipar as tendências do eleitorado e os prováveis eleitos, são a manchete do momento. A escolha dos governantes, não obstante o caráter pessoal e secreto do voto, não é, no processo de formação da opinião, um ato solitário. A opinião dos cidadãos se forma num ambiente de diálogo e interação. As pesquisas contribuem para o estabelecimento do grande debate cívico. Elas representam, portanto, uma manifestação concreta do direito à informação. Além disso, democratizam o noticiário. O processo eleitoral na Velha República não era distorcido apenas pela corrupção e pela fraude. A maior manipulação decorria da falta de acesso à informação. A livre circulação da notícia é capaz, por exemplo, de minimizar os efeitos manipuladores do poder econômico. O acesso à informação contribui, e muito, para o amadurecimento do eleitorado. Por isso, as pesquisas têm contribuído para o fortalecimento das democracias.


Mas a importância das pesquisas não elimina a necessidade do seu aprimoramento, sobretudo no que diz respeito à sua divulgação pela mídia. De fato, os problemas não costumam estar nas pesquisas (os institutos brasileiros de pesquisa têm uma tradição de seriedade e profissionalismo), mas na maneira como são interpretadas e divulgadas. Recente pesquisa feita para a Confederação Nacional da Indústria pelo Ibope foi destacada por manchetes equivocadas. Lula aumenta vantagem sobre Alckmin, indica pesquisa Ibope. Lula tem o dobro dos votos de Alckmin. Ora, caro leitor, quando a pesquisa foi feita, a candidatura Alckmin nem sequer tinha sido homologada pelo PSDB. As manchetes, involuntariamente, induziam o leitor ao erro. Já a pesquisa do Datafolha, posterior ao lançamento formal da candidatura do governador de São Paulo, mostrava um quadro bem diferente. Lula permanecia estável, mas Alckmin subira seis pontos. Culpa dos institutos? Não. Interpretação precipitada da imprensa, sim.


O protagonismo excessivo das pesquisas na mídia empurra para segundo plano a discussão das idéias, dos planos de governo e das políticas públicas. A participação da imprensa na divulgação dos resultados das pesquisas influi decisivamente na configuração da opinião pública e da vida democrática do Brasil. Impõem-se, por isso, cuidado redobrado e, sobretudo, bom adestramento técnico dos jornalistas a respeito do procedimento das pesquisas.


É um equívoco reduzir a cobertura política a uma mera reprodução dos índices fornecidos pelos institutos de pesquisa. Trata-se, certamente, de uma postura informativa que brota de uma reta intenção: transmitir um quadro isento do momento eleitoral. Tal decisão, no entanto, tem o seu reverso negativo e exige, talvez, uma mudança de orientação. O simples registro das pesquisas pode apresentar um quadro superficial da realidade. Ocultam-se, por exemplo, aspectos relevantes do perfil dos candidatos, seu passado político, as forças que o sustentam, suas idéias, a consistência de suas propostas.


Outra distorção, grave e recorrente, ameaça a qualidade da cobertura eleitoral: a passividade da imprensa diante da força do marketing político. Vende-se, freqüentemente, um produto fraco, mas embalado num pacote atraente. Mata-se a política e se cria o espetáculo. O candidato passa a ser valorizado não pelos seus méritos intrínsecos, mas pela sua performance nas pesquisas. Novas sondagens realimentam o clima do show eleitoral. Tem faltado à imprensa capacidade de criar sistemas e metodologias de trabalho que lhe permitam sair da superfície e dos apelos do marketing e se aprofundar, efetivamente, na discussão das idéias. Trata-se, estou certo, de papel irrenunciável do jornalismo de qualidade. Os jornais não podem ser simples transmissores, mas, também, contraponto, um espaço para uma reflexão mais séria.


A isenção deve ser um valor a ser procurado. Constantemente. Mas a neutralidade é uma falácia. A cobertura eleitoral de qualidade reclama um permanente esforço de imparcialidade, mas, ao mesmo tempo, não se pode renunciar ao sadio espírito crítico que está na entranha do bom jornalismo. Parece-me que o ângulo acertado para uma boa cobertura é focar a lente jornalística não nos políticos e em suas assessorias de marketing, mas nas demandas da cidadania. Os jornais precisam ir mais além dos resultados das pesquisas. Do questionamento dos diários, da análise interpretativa dos números revelados nas pesquisas, das reflexões provocadas pelas páginas impressas e dos debates travados no espaço público da mídia podem, sem dúvida, medrar importantes frutos para a democracia.


Foco no cidadão. Eis a melhor receita. É importante não perder a perspectiva de que os sujeitos de todo o processo eleitoral são as pessoas. No cerne dos institutos que pesquisam, do público que é pesquisado, das empresas que processam e divulgam a informação, dos leitores que recebem os dados e dos candidatos e partidos políticos que apresentam seus programas e plataformas estão pessoas individuais. Não se pode despersonalizar o processo eleitoral, sob pena de se eliminar a responsabilidade. Não são entes jurídicos, mais ou menos abstratos, que respondem pelo andamento das eleições. São pessoas concretas. Com nome e sobrenome.


Dessa realidade encarnada na pessoa derivam a estabilidade e a segurança do processo eleitoral.


Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia


E-mail: difranco@ceu.org.br


PROPRIEDADE INTELECTUAL
Beatriz Coelho Silva


Músicos querem representação no Congresso


‘Os músicos cariocas estão mobilizados para mudar as condições em que trabalham e fazem sua arte. As frentes de luta são duas: uma contra a atual direção da Ordem dos Músicos do Brasil (que regula o exercício da profissão) e outra a favor de uma representação deles no Congresso Nacional, a frente Pró-Música. Hoje, eles realizam um grande show, a partir das 16 h, nos Arcos da Lapa, no centro, onde serão lidos manifestos de protesto contra a OMB que, segundo eles, não defende seus direitos a contento. Já confirmaram participação no show o grupo Barão Vermelho, Sandra de Sá, Lenine, Zélia Duncan, Wagner Tiso, Victor Biglione, Téo Lima, Ivo Meirelles e Funk’n Lata.


O protesto não é recente, pois a direção da OMB é a mesma há mais de duas décadas e nem sempre os associados são avisados das eleições. Mas tomou forma de mobilização quando o maestro e compositor Eduardo Camenietzki, professor da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, protestou contra a antecipação das eleições de 2005. Imediatamente, o fato repercutiu entre músicos como Chico Buarque, Caetano Veloso, Ivan Linz, Lobão, Marco Pereira, Fernanda Abreu e Gabriel o Pensador, num sinal de que a situação une contrários dentro da música brasileira.


Correndo paralelo, Ivan Lins e Francis Hime, dois hitmakers que sempre tiveram atuação política, procuraram deputados federais para apresentar uma pauta com as sete principais reivindicações dos músicos. Eles já falaram com Chico Alencar (PSOL-RJ), Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), Gustavo Fruet (PSBD-RJ) e José Eduardo Cardozo (PV-SP). ‘Estas questões vêm sendo discutidas há pelo menos três anos em reuniões que desaguaram nas câmaras setoriais do Ministério da Cultura’, explicou Francis Hime ao Estado. ‘Assim como temos esta representação no Executivo, é necessário um contato com o Legislativo, pois há reivindicações que dependem de mudanças em leis e já há projetos esparsos no Congresso.’


A pauta aborda aumento da verba da cultura para 2% do orçamento, novas regras para eleições na OMB, incentivo à regionalização dos meios de comunicação, repressão à execução paga de músicas, mais fontes de recursos para projetos musicais e a volta do ensino de música à escola. Hime reconhece que algumas reivindicações não serão atendidas de imediato. ‘Até por conta do ano eleitoral, os deputados avisaram que não poderão dedicar a essas questões o empenho merecido e os resultados talvez só cheguem em 2007. Distribuímos tarefas entre nós mesmos para, na próxima reunião com deputados , já termos subsídios para a atuação deles no Congresso.’


Hime contou ainda que os deputados avisaram que era necessário que os músicos com grande visibilidade devem aproveitar essa capacidade para chamar a atenção da sociedade. ‘Eles disseram que é assim que funciona. Se a sociedade toma conhecimento, pressiona e as reivindicações são atendidas’, diz o compositor.’


TELEVISÃO
Adriana Dias Lopes, Viviane Kulczynski E Bárbara Souza


Morre, aos 62 anos, em São Paulo, a atriz Ariclê Perez


‘Morreu ontem, em São Paulo, a atriz Ariclê Perez, de 62 anos. Ela havia acabado de interpretar a mãe do presidente Juscelino Kubitschek, dona Júlia, na segunda parte da minissérie JK, da Rede Globo. O último capítulo foi ao ar na sexta-feira.


De acordo com o boletim de ocorrência, registrado no 4º Distrito Policial, região da Consolação, a atriz morreu ao cair da janela do escritório de seu apartamento, no 10º andar de um prédio em Higienópolis, centro da capital.


Um sobrinho de Ariclê, cujo nome não foi divulgado, deixou a delegacia às 20h30 sem falar com a imprensa. Segundo as informações passadas por ele ao delegado de plantão, Dodney Charles Muller Martins, a atriz estava sozinha em casa. O acidente teria ocorrido pouco antes das 19 horas. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas não chegou em tempo de prestar socorro. O sobrinho confirmou que não havia sinais de arrombamento no apartamento e que também não teria percebido a falta de objetos. Será aberto um inquérito para investigar a morte.


A delegada Elizabeth Sato, do 78º DP (Jardins), esteve no local e acompanhou o trabalho de remoção do corpo pelo Instituto Médico Legal (IML), às 22 horas. Segundo ela, a atriz não deixou nenhum bilhete que pudesse explicar as causas de um provável suicídio, não ligou para nenhum parente e deixou a casa arrumada, apenas com a mesa do café da manhã como estava.


A queda chocou moradores e funcionários do prédio e da vizinhança. O zelador César Moura, de 32 anos, que trabalha no prédio ao lado, foi o primeiro a perceber a queda. ‘Eu ouvi um estouro parecido com um rojão ou uma bomba. Procurei a origem do barulho e encontrei o corpo dela caído na frente de uma das garagens’, contou. Moura trabalha há 11 anos ali e disse que era um fã de Ariclê. ‘Eu a via sempre passando pela rua. Ela era sempre muito gentil’, contou.


A CARREIRA E OS AMIGOS


Natural de Campinas, Ariclê Perez Rangel iniciou sua carreira em 1976, na novela Canção para Isabel, exibida na extinta TV Tupi. Sua primeira participação na Globo, foi em Meu Bem, Meu Mal, em 1990. Na emissora fez ainda as novelas Felicidade, Salsa & Merengue e Anjo Mal. Participou de Memorial de Maria Moura, Os Maias, A Casa das Sete Mulheres e Um Só Coração, além de JK.


A dramaturga e escritora Maria Adelaide Amaral, que assinou o roteiro da minissérie JK com Alcides Nogueira, era amiga da atriz. Ficou chocada com a notícia da morte. ‘Não tenho o que falar. Me desculpe. Não consigo falar. Estou ferida de morte’, disse, bastante emocionada.


O ator José Wilker, que interpretou Juscelino na segunda fase da minissérie e contracenou com Ariclê Perez, soube ontem à noite da morte da colega. Ele estava em Brasília, onde passou o dia. ‘A gente nunca está preparado para receber uma notícia dessas’, disse ele, que conhecia a atriz havia 35 anos. ‘A última vez que a vi foi quando gravamos nossa última cena da série, justamente quando ela morria, no papel de dona Júlia. Foi uma cena de olhares profundos, de muita emoção.’


Há pouco tempo, Wilker lhe dera de presente um livro de crônicas, Como Deixar um Relógio Emocionado, que ela disse ter adorado e escolhido uma personagem para um dia levar ao palco. ‘Ela estava feliz, tinha planos. Não entendo’, desabafou o ator.


A diretora e atriz Bibi Ferreira, amiga de Ariclê, concorda com Wilker. ‘Estou muito surpresa. Encontrei Ariclê em fevereiro, ela foi à minha peça (Bibi in Concert 3). Estava alegre.’ As duas trabalharam em Piaf, na década de 80. Ariclê fazia o papel de Marlene Dietrich. Em 2002, fez Criador e Criatura – O Encontro de Machado e Capitu, também com direção de Bibi.’


JK NA GLOBO
Patrícia Villalba


Patriotismo dá o tom no adeus a JK na TV


‘Um dado no mínimo curioso é que das quase 6 mil pessoas que participaram da enquete no site da minissérie JK – ‘Você sabia que JK tinha passado por tantos problemas depois que saiu do governo?’ -, 87% responderam que ‘nem imaginavam’. O Brasil aprende história pela televisão, não há dúvida. Daí a minissérie JK, que a Globo exibiu até sexta-feira, ter sido tão didática ao explicar a época do presidente mais carismático que o País já teve.


Simpático, risonho e original, como diz a música de Juca Chaves, Juscelino Kubitschek foi tratado como santo pelo texto de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira – o ponto que mais incomodou. Em uma das cenas, quando o presidente conhece o Catetinho, os amigos dizem que há uísque para comemorar. ‘Mas tem de ser ‘caubói’, presidente, porque não temos gelo’, diz um deles. É quando se ouve um trovão e começa a chover granizo em Brasília – basta o presidente esticar o braço para fora janela para pegar gelo.


Mas estamos falando de teledramaturgia, não de documentário. E o que beira o exagero não é invenção da Globo, é uma devoção que existe há mais de 50 anos. Poderia estar lá um pouco escondida, mas persiste e, num apelo ao nosso mais arraigado patriotismo, ressurge. Vem como uma saudade de não apenas um bom político, mas de um tempo de oportunidades. Por isso, pode-se dizer que os autores escolheram tão bem os personagens que apoiaram a trama principal. Reais como a empresária Lilian Gonçalves, vivida por Mariana Ximenes, hoje profissional de sucesso que começou a vida vendendo pão de queijo nos canteiros de Brasília. E outros tantos fictícios, que procuravam fazer a vida e romper padrões, enquanto o próprio JK levava o País para o futuro.


Havia um preço a pagar, mas a minissérie não julgou o presidente. Mostrou alguns de seus erros políticos, é verdade. Mas sempre lhe deu o benefício da dúvida e pôs a sua boa intenção em primeiro plano.


Citar o tal ‘padrão Globo de qualidade’ já é quase clichê, mas não se pode deixar de reconhecer o tamanho da superprodução: o canteiro de obras barrento de onde brotou a capital foi reconstruído no Projac e algumas cenas, como a da inauguração de Brasília, movimentaram 700 pessoas, entre 200 da produção e 500 figurantes. Os figurinos de Emilia Duncan (femininos) e Paulo Lóis (masculinos) eram deslumbrantes e a imagem de Letícia Sabatella (Marisa) na escada da modista Maria Alice (Mila Moreira) sem dúvida sublime. Estiveram em cena 110 atores, muitos em interpretações notáveis, a começar pelo próprio José Wilker, que se deixava confundir com as imagens de época de Juscelino.


Letícia Sabatella como a amante devotada de Juscelino roubou a cena da titular Sarah, vivida por Marília Pêra. Os autores acharam por bem sintetizar todas as amantes do presidente numa só personagem. Mas na tentativa de preservá-lo, acabaram dando a esta única mulher uma importância que talvez nenhuma das namoradas de JK tenha tido.


A questão que ficou para o último capítulo era como seria tratada a morte do presidente, num desastre de carro que até hoje desperta dúvida. A última semana foi um calvário, com a perseguição, o exílio, os inquéritos militares, o boato de um acidente e até o acidente propriamente dito. Claro que se pode dizer que os fatos assim encadeados levantam suspeitas sobre o regime militar. Mas a minissérie foi discreta. Teve um final melancólico, onde se deixaram sobressair a comoção popular e o viés de ato pela redemocratização que o enterro de Juscelino teve, sem grande margem para teorias da conspiração.’


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