O crítico literário Wilson Martins morreu no sábado (30/1) à noite, em Curitiba, aos 88 anos. Ele faleceu após passar por uma cirurgia para retirada da bexiga, no Hospital Nossa Senhora das Graças, na capital paranaense, cidade onde Martins era radicado havia muitos anos, apesar de nascido em São Paulo, em 1921.
O corpo do escritor será cremado hoje [segunda, 1/1], em cerimônia reservada à família, no Crematório Vaticano, na capital paranaense. Wilson Martins trabalhou em vários periódicos brasileiros, assinando seu rodapé de crítica literária no Estado de S.Paulo, onde teve seu primeiro emprego. Também escreveu no Jornal do Brasil, O Globo e Correio do Povo, entre outros.
Autor de diversas obras, destacou-se pela fundamental História da Inteligência Brasileira, com diversos volumes. Igualmente fundamental é a Crítica Literária no Brasil, história da atividade crítica no País. Com suas obras, Martins ganhou alguns dos principais prêmios literários nacionais, como o Jabuti e o Prêmio Machado de Assis.
Martins foi também professor de Literatura Francesa na Universidade Federal do Paraná e lecionou por 26 anos em Nova York. No entanto, apesar da sólida carreira acadêmica, era na crítica literária jornalística que se sentia mais em casa.
Por ele mesmo
Era um crítico de ‘linha de frente’, que analisa obras no calor da hora, assim que os livros saem do prelo, ao contrário de colegas acadêmicos, que esperam décadas antes de se pronunciar.
Foi no âmbito jornalístico que se tornou conhecido e amealhou respeito geral – mesmo daqueles que desaprovavam suas opiniões.
Martins nunca deixou de escrever o que pensava, como quando desaprovou o romance O Fotógrafo, de Cristóvão Tezza, que admirava, mas dizia conter palavrões em excesso.
Quando completou 80 anos, a editora Top Books lançou um volume em sua homenagem, significativamente intitulado Mestre da Crítica. Nele, escrevem colegas ilustres como Affonso Romano de Sant´Anna, Moacyr Scliar, Edson Nery da Fonseca, Antonio Candido e outros, tendo por tema a carreira do crítico Wilson Martins ou assuntos literários em geral.
Mas o melhor dos ensaios do livro é assinado pelo próprio homenageado. Com o título de ‘O crítico por ele mesmo’, Martins faz um resumo de sua vida profissional. O texto serve como testamento de uma carreira e também pode funcionar como inspiração a quem pretenda segui-la, apesar dos percalços atuais do jornalismo cultural.
‘Último crítico’
Martins se dizia educado pelo ‘sistema antigo, de rigor, disciplina e obediência, sem excessos de complacência’. Sua base cultural foi formada em especial pelo autodidatismo. Lia sem parar, desde criança, e, mais tarde, escrever sobre aquilo que lia lhe pareceu tão natural como beber um copo d´água.
Seu primeiro emprego como crítico foi no Estado, em substituição ao então mitológico Sergio Milliet.
Desde o início, Martins não negligenciou o fato de que para apreciar uma obra era preciso compará-la. E o cânone literário, hoje descartado como politicamente incorreto, seria a melhor tábua de comparação disponível. Mesmo porque ele não foi formado de maneira arbitrária, mas por um consenso que vem de um longo assentimento. Shakespeare, Proust, Machado de Assis não ocupam o lugar que ocupam por acaso.
O alvo dessas críticas de Martins era o multiculturalismo e o relativismo, que coloca toda e qualquer obra em pé de igualdade. Isso seria nivelar a cultura por baixo, segundo entendia. Portanto, é a qualidade da obra que deveria nortear a crítica, mesmo que seja tão difícil distinguir, no novo, o que é bom do que não é.
Tentá-lo, e chegar o mais próximo possível da ‘verdade’, é a tarefa do crítico, como ele a concebia. E apontar o que é bom em sua época, o maior desafio daquele que escreve sobre obras alheias. O crítico faz suas apostas. A posteridade julga as obras, e o próprio crítico. Nesse ponto, Martins valorizava seu ofício de crítico ‘de fronteira’, distinguindo-se claramente dos colegas de universidade.
Sempre provocativo, Martins se dizia ‘o último crítico literário em atividade’. Talvez tenha sido mesmo.
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Jornalista