Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

VITÓRIA DE SERTÃO
O Estado de S. Paulo

Sem transmissão de rádio e TV, mulher recebe notícia pelo ‘Estado’

‘Há 30 anos, Maria de Lurdes vibrou com transmissão do rádio da luta de seu marido Miguel de Oliveira na conquista do título dos médios-ligeiros, em Mônaco. Sem a cobertura das emissoras de rádio e televisão do Brasil para o combate de Sertão, Sara dos Santos Pereira ficou agoniada, sozinha, esperando o telefone tocar na madrugada de ontem, na Rua Oswaldo Cruz, em São Caetano. ‘Ele ganhou? Verdade?’, foi a reação da cabeleireira, ao saber da reportagem do Estado o resultado do combate, que acontecia em Mashantucket, Connecticut, Estados Unidos.

‘Nossa, estou passando um nervoso terrível faz horas, sem saber o que se passa tão longe daqui’, disse Sara, que só se tranqüilizou quando soube que Sertão havia terminado a luta sem nenhumna contusão séria. Sara não vai até o Aeroporto de Cumbica, hoje, pela manhã, recepcionar o marido. ‘Ele me pediu para ficar em casa. Vou arrumar tudo e preparar o almoço para ele.’

A conquista do título mundial é encarada por Sara como a grande oportunidade de o casal melhorar de vida. ‘É o primeiro passo para ajeitar o nosso dia-a-dia’, disse Sara.

Sara é a quarta mulher de Sertão, que tem três filhos, um com cada uma de suas ex-mulheres. Um deles mora em São Paulo e dois em Cruz das Almas, juntamente com seus pais.

O aluguel de R$ 450,00 que Sertão paga num quarto, sala, cozinha e banheiro nos fundos de um estabelecimento comercial está atrasado, mas será quitado com o dinheiro da bolsa paga pela vitória de ontem.

SEM ACORDO

A luta de Sertão foi transmitida ao vivo para os Estados Unidos pela ESPN 2. Na grade da ESPN, o evento esteve disponível, primeiramente, para passar ao vivo também para o Brasil. Depois passou para VT na madrugada de domingo e por fim saiu da programação.

O empresário Artur Pellulo, que promove a carreira de Sertão nos Estados Unidos, tentou negociar com as emissoras de canal aberto, mas não teve sucesso. Pellulo pediu US$ 50 mil – a bolsa de Sertão foi de US$ 25 mil – pelo evento, mas SBT, Record e Bandeirantes não aceitaram pagar este valor. Novas negociações serão feitas este ano. Pois Sertão deverá defender seu cinturão mais duas ou três vezes. Além do novo campeão dos penas da FIB, Acelino Popó Freitas luta em abril. Seu combate deverá ser transmitido pelo sistema pay-per-view da Globosat.’

 

DIOGO MAINARDI
Melchíades Cunha Júnior

O insuportável Diogo Mainardi

‘(Diogo não se incomodou nem um pouco com a possibilidade de o título acima ser dado a esta matéria. Ele próprio, em entrevista à Gazeta do Povo, reconheceu que nos últimos meses se transformo numa ‘pessoa bastante insuportável’. É um título chamativo, concordou. Especialmente para provocar a atenção de quem não gosta dele. Na certa, essas pessoas vão devorar as linhas que se seguem, em busca de sangue. Resta saber se ficarão saciadas.)

Um agente provocador com cara de galã do cinema italiano? Um dom-quixote que cutuca feras com lança curta? Um sujeito atrevido que só quer saber de sair bem na fotografia? Um direitista que defende George Walker Bush e a invasão do Iraque? Uma mente brilhante que zomba com estilo dos malfeitos de políticos, artistas e empresários brasileiros? Tem gente que concorda, no todo ou em parte, com o que está dito acima.

O certo é que, depois de uma conversa de mais de três horas, a impressão que fica dele é a de uma figura zen, de fala educada, expressa em frases bem torneadas. Confessa, por exemplo, que sofre feito um iniciante em jornalismo para escrever sua coluna na Veja. Passa dias e mais dias da semana pesquisando temas e a forma de abordá-los nos 2/3 de página de que dispõe na revista. O mesmo sofrimento se repete ao receber a pauta do que será debatido no programa semanal de tevê a cabo Manhattan Connection, da GNT, onde contracena com Lucas Mendes, Caio Blinder e Ricardo Amorim. O consolo é saber que a internet fornece respostas para quase tudo do que precisa para não fazer má figura. Um outro é que, de seu escritório, com um virar de cabeça, ele dá de cara com a bela paisagem do Atlântico se esparramando pelos continentes ocidentais.

De nome inteiro Diogo Briso Mainardi, ele nasceu na hoje agonizante Maternidade São Paulo, na Rua Frei Caneca, em 22 de setembro de 1962. Uma de suas características mais marcantes: não liga a mínima para o que dizem seus críticos e detratores – que não são poucos. Diz isso com tamanha convicção e serenidade que fica difícil supor que ele não esteja sendo sincero. O pai é filho de italianos e a mãe filha de portugueses (o sobrenome Briso foi inventado pelo avô materno, que o achou bonito e teve por bem incorporá-lo aos descendentes, entre eles Diogo e seu único irmão, o cineasta Vinicius).

Nada mais brasileiro que um descendente de italianos e portugueses, não é? Mas o rapaz implica com o Brasil (até escreveu um romance chamado Contra o Brasil) e abomina São Paulo – a cidade onde nasceu. Também se fica sabendo, entre outras coisas, de seu extremado amor pelos filhos, em especial por Tito, de 5 anos, como se verá mais adiante.

Uma das histórias protagonizadas pelo filho do publicitário Enio Mainardi, tão polêmico quanto ele: acusado de subversão da ordem constitucional, foi absolvido no Supremo Tribunal Federal, num processo relatado pelo ministro Celso Mello e que lhe fora movido por um advogado inconformado com as críticas do rapaz ao presidente Lula.

UM ASSUNTO DELICADO

Existe pecha mais infamante que a de dedo-duro? Pois ele foi assim chamado, pelo veterano Alberto Dines, tido, com justiça, como um dos pais-fundadores da virada, para melhor, do jornalismo brasileiro. Um breve histórico: em sua coluna na Veja, edição de 7 de dezembro último, Mainardi citou nomes de jornalistas influentes, entre eles o do próprio Dines, como comprometidos e/ou a serviço do governo Lula ou do petismo. No site do Observatório da Imprensa, uma espécie de ONG por ele comandada, Dines deu uma primeira resposta: ‘Diogo Mainardi apenas se assumiu como representante nativo do macarthismo. A classificação é do próprio. Macarthismo mainardiano não passa de uma combinação da ancestral caça às bruxas com um despudorado narcisismo. Estes tipos de ‘dedo-durismo’ e delação não existem apenas em ditaduras e tiranias. Estão em toda parte, das gôndolas de Veneza aos bares da moda. Trata-se de um vírus mutante que pode manifestar-se ora como palhaçada, ora como megalomania ou, na sua versão mais recente, como furor inquisitorial.’

Diogo continuou no ataque de seu front no semanário, e Dines voltou a atirar: ‘É preciso reconhecer que Diogo Mainardi está prestando um enorme serviço ao jornalismo brasileiro. E quiçá mundial. Mais algumas tentativas de ressuscitar o macarthismo e o rapaz será convidado para a ceia de Natal da Casa Branca. À direita de Dick Cheney.’

(Em seus arrazoados, Dines poderia ter lembrado, como contraponto, que até pouco tempo as redações brasileiras adotavam uma espécie de pensamento único em relação ao PT. Poucos jornalistas tinham coragem de sair do armário para criticar, intramuros, Lula e seu partido. Desde Lenin, o esquerdismo, e não a esquerda, é considerado uma doença infantil. Daí não ser razoável confundir antiesquerdismo com reacionarismo, coisa que Dines não fez, aliás. O certo é que a queda do Muro de Berlim desnorteou muita gente que se diz de esquerda, e animou outro tanto que nunca aceitou o ‘socialismo real’ que era servido nos países do leste europeu. Aqui, a onda antipetista começou a ganhar volume com a revelação do escândalo Waldomiro e, com Roberto Jefferson, virou uma tsunami. O PT perdeu o encanto. A exemplo do que dizia o jardineiro português de Nélson Rodrigues a propósito do sábado, o Partido dos Trabalhadores é uma ilusão.)

IRONIAS

A polêmica prosseguiu, é claro. Provocados pelo site Comunique-se (feito por e para jornalistas), poucos nomes da lista de Mainardi aceitaram a luva. Vale registrar a verve com que um dos citados, o articulista Luiz Garcia, de O Globo, saiu-se da provocação: ‘Merda! Ele descobriu tudo!’

Nesta conversa com o Estado, Diogo fez ironia sobre sua polêmica com Dines. Disse que vai cobrar direitos autorais, já que foi ele próprio quem se classificou de ‘dedo-duro’. E repetiu: jornalistas traem sua missão quando se comprometem com o governo de plantão. E ninguém mais feroz do que ele quando se trata de um governo chefiado por Luiz Inácio Lula da Silva. Ele quer que o presidente não seja meramente derrotado em outubro, mas impiedosamente massacrado. Diz que Serra já ganhou a eleição, e adverte que daqui a três anos provavelmente estará pregando a sua derrubada.

Outra história de repercussão intensa no meio jornalístico, protagonizada por nosso homem. Ele decidiu por conta própria não respeitar uma revelação em off – uma instituição sagrada do jornalismo, qual seja a de não publicá-la, num compromisso tácito equivalente ao do padre confessor da Igreja Católica – que obteve do deputado José Janene, do PP, envolvido no mensalão do valerioduto. Em sua coluna na Veja, transcreveu o teor da conversa que teve com o parlamentar, quando o dito-cujo entregou o deputado cassado José Dirceu. O ex-chefe da Casa Civil de Lula, segundo a inconfidência de Janene, de fato cooptava deputados para votar a favor dos projetos de interesse do governo Lula. ‘Eu imaginei que o Janene não fosse falar comigo. Ele falou porque queria me usar como garoto de recados. Outros repórteres são obrigados a fazer esse papel, para manter fontes, para conseguir interlocutores políticos. Eu não tenho o menor interesse em ter interlocutor político de qualquer partido. A minha coluna não se baseia nisso’, explicou-se Mainardi na entrevista referida lá em cima.

PARAJORNALISMO?

O jornalista Luís Nassif, em sua coluna na Folha de S. Paulo, disse que Diogo não faz jornalismo, mas parajornalismo. Os dois trocaram insultos de seus postos na imprensa, cuja malignidade maior ou menor pode ser aferida nos sites de pesquisa da internet.

Mas Mainardi concorda que nem sequer pode ser chamado de jornalista, já que não possui o registro profissional que a lei exige. Revela não dispor de qualquer diploma de curso superior. Depois do colegial, fez apenas o primeiro ano do curso de Economia da PUC de São Paulo e, durante sua estada na Inglaterra, freqüentou por tempo igual a London School of Economics, na qualidade de aluno ouvinte. Lembra não ser um exemplo isolado. Diz que Ivan Lessa e Paulo Francis – seus modelos de jornalista – têm um currículo escolar tão pobre quanto o seu.

Não foram poucas as rajadas de críticas ferozes endereçadas ao colunista, desde que passou a dispor de um espaço certo na Veja – dois terços de página, não mais do que três mil toques, ou caracteres do teclado de um computador. Considera os ataques recebidos como parte do ofício a que se propôs. E ele o exerce com um estilo que é também malhado por seus detratores, que o classificam de um subproduto de Francis. Brigas com cachorros grandes, de outras áreas extra-imprensa, também engordam o seu currículo. Dois exemplos: as que trava com o banqueiro Daniel Dantas e com o empresário Carlos Jereissati, irmão do presidente nacional do PSDB, que lhe move um processo na Justiça.

Seus escritos estão sempre entre os temas mais comentados na seção de leitores da revista. No Google, há 75 páginas com registros a seu respeito. Cada página remete a dez conteúdos. E ele acha que já chegou ao auge como colunista. Improvável.

 

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À beira-mar plantado, cultivando a estima pelo silêncio

‘O visitante fica com inveja, sem a menor vontade de parar de contemplar a paisagem que se oferece do imenso living room do apartamento do terceiro andar, um legítimo Vieira Souto, onde mora Diogo, sua mulher Ana e seus filhos Tito, de 5 anos, e Nico, de 6 meses. Ana é de Veneza, historiadora, especialista em arte bizantina; desempregada, por suposto. O metro quadrado da Vieira Souto é o mais caro da orla carioca. Ninguém se refere a ela como avenida, e ninguém também está interessado em saber quem foi esse homem que dá nome a esse logradouro de Ipanema. Recorde-se que, pouco depois da morte de Tom Jobim, surgiu um movimento na cidade para dar o nome do compositor à avenida, que começa no Arpoador e só troca de nome quando a Praia de Ipanema passa a ser chamada de Praia do Leblon. De qualquer forma, um apartamento ali é chamado de um ‘Vieira Souto’. ‘Esqueçam essa história de trocar o nome para Tom Jobim’, aconselhou-se na época aos líderes mudancistas. Não se falou mais no assunto. A família Vieira Souto deve ter gostado. Mas isso também não tem a menor importância. Vieira Souto é mais do que uma placa; virou sinônimo de coisa chique, cara e exclusiva.

O apartamento é alugado. O prédio tem apenas quatro unidades, uma por andar, já que construído na época em que o gabarito máximo permitido para a região era de quatro pavimentos. (Ou seriam cinco?) JK morou num desses prédios, não muito longe de onde mora Diogo. O living room é amplo e com decoração mínima, estilo clean: dois imensos sofás brancos separados por uma mesa de centro retangular, quadros na parede com fotos do Rio antigo, e um televisor grande de tela plana. O casal Mainardi deve ter pensado que, por mais coisas atraentes que colocassem no living, elas se chocariam com a paisagem oferecida pelos janelões: o mar aberto, pontuado pela silhueta das Cagarras, encostando na linha do horizonte. A vista se oferece desde o fundo do living, e também do pequeno escritório do locatário. Para quem se aproximar dos janelões, o panorama se enriquece com a visão da praia e dos corpos de dezenas de garotas de Ipanema, neste meio de tarde de um janeiro em que o sol se abriu e o céu ficou azul, pondo fim a uma temporada de chuvas intensas e diárias.

O colunista de Veja e debatedor do Manhattan Connection, da GNT, diz que ganha bem, mas que gasta tudo. Só com o aluguel e condomínio já lá se vão mais de R$ 6 mil; o filho Tito consome outro tanto – fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, escola… No fim das contas, não sobra um centavo para a poupança. Revela que vive sem esbanjamentos, que não tem automóvel, que praticamente não sai do quarteirão onde mora, que não se desloca mais do que dois quilômetros à direita de seu prédio, pela orla, ou por Ipanema adentro, e que quando tem que ir a lugares mais distantes vai a pé ou de bicicleta.

Diogo tem amigos famosos. Considera isso uma sorte. De São Paulo, cita o hoteleiro-restaurateur Rogério Fasano e o jornalista Mário Sérgio Conti, que foi quem o levou para Veja. Do Rio, Millôr Fernandes e Danuza Leão, com os quais janta com uma certa regularidade. Diz que, ao vivo, Millôr e Danuza são tão interessantes quanto aparentam ser para quem os lê. Explica que nesses encontros fica calado, escutando. Concorda com a observação feita por Paulo VI, quando de sua visita a Nazaré, de que é preciso ter estima pelo silêncio. Em seu caso, acha que é de caso pensado. Por isso, ouve mais do que fala, classificando seu mutismo de contemplativo, não de isolamento. Ressalta que a melhor coisa que fez na vida foi calar a boca na hora certa. Isso lhe valeu, entre outros ganhos, um convívio afetuoso com o falecido Francis e com os vivíssimos Ivan Lessa e Millôr – seus eternos paradigmas.’

 

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Polemista, no ataque e na defesa

‘Em sua entrevista ao Estado, Diogo Mainardi se defendeu e também deu sua opinião sobre pessoas e acontecimentos. Alguns exemplos:

LULA

‘Hoje em dia sou muito cumprimentado por homens e mulheres. A maioria me diz: ‘Vai lá, acaba com o Lula, bate nele, você está batendo até pouco.’ Em 2005 eu defendi que o Lula fosse tirado da presidência, e acho que ele deve ser responsabilizado penalmente. A questão é se ele vai ou não para a cadeia. Não é sobre se ele vai ganhar a eleição ou não. Eu considero ilegítimo o seu mandato atual e acho que ele nem poderia ser candidato à reeleição, por tudo o que aconteceu. A recandidatura Lula, se ocorrer, é fruto de uma maquinação entre o PSDB e o PT. Ele foi salvo pelo PSDB, que não teve peito para propor seu impeachment.’

SERRA E ALCKMIN

‘Se for candidato, o Serra já levou a eleição. O nível de rejeição, o ódio que a classe média tem hoje em dia pelo Lula é algo que não pode ser contornado. Todos esses votos vão para o candidato com melhor chance não apenas de derrotar, mas de esmagar o Lula. E Serra é o único que pode fazer isso. Acho até que o Alckmin pode ganhar do Lula. Mas eu quero alguém que o esmague. E meu projeto futuro será derrubar o Serra daqui a três anos. Por que não? Acho uma estupidez o voto nulo em outubro. É preciso dar uma punição exemplar ao PT e ao Lula.’

GORE VIDAL

‘Eu o conheci em São Paulo, quando fui convidado pelo Luiz Schwarcz para ser seu intérprete quando ele veio ao Brasil fazer a promoção de seu livro de ensaios chamado De Fato e Ficção. Foi um dos primeiros lançamentos da Companhia das Letras, para quem eu já fazia uma espécie de consultoria em literatura anglo-saxônica. Na Itália, voltei a conviver com ele, e a grande frase a respeito desse convívio quem fez foi o próprio Vidal. Assim que ele me conheceu, ele me disse: ‘Olha, você não precisa se preocupar, porque você é velho demais para mim.’ Velho porque eu tinha 22 anos… Nessa época ele não era casado. Ele tinha o secretário dele, com o qual ele jura não ter tido nenhum tipo de relação.’

ARNALDO JABOR

‘Ninguém é mais divertido do que ele, e nada mais divertido para mim do que debocharem do Jabor. Ele se expõe, não tem medo do ridículo. Ele fala mal de mim, em particular. É claro que ele é muito mais divertido do que eu. Mas no jogo de cena público, ele não fala nada a meu respeito, ele não quer levantar a minha bola. Mas no primeiro ano e meio do governo, Jabor era lulista. Dizia que o Lula era pessoa digna, que soube resistir aos acadêmicos de esquerda e ao sindicalismo burro, que conseguia pairar acima de todo mundo. Jabor fazia o panegírico da figura Lula. Mas, ultimamente, ele e todo mundo metem o pau no Lula.’

JORNALISTAS

‘Eu estou me lixando de poder ou não ser chamado de jornalista. O Luís Nassif disse que eu sou um parajornalista, e eu acho uma definição perfeita. Ainda existem lulistas camuflados na imprensa. E eu gostaria de saber quantos jornalistas sabiam do esquema Marcos Valério antes que ele viesse à tona na entrevista do Roberto Jefferson. É inacreditável, para não dizer escandaloso, que o caixa dois do PT tenha ficado sem qualquer registro na imprensa por tanto tempo. Gostaria de saber se os jornalistas de Brasília falaram com seus chefes sobre os boatos que corriam a respeito, se fizeram alguma coisa para apurá-los. Sem falsa modéstia, fui dos primeiros a desmascarar o Lula e o PT. O jornalista no Brasil se considera o guardião da civilidade. Esse é o problema. Ele acha que pode determinar o que o leitor deve ou não deve saber. Acha que o leitor deve saber apenas o que ele, jornalista, acha que é bom para o processo civilizatório. Na política, o jornalista de Brasília tem informações privilegiadas, sabe de coisas que o leitor não sabe. Na economia, o de São Paulo é o mais informado; o do Rio sabe de mais coisas na área cultural.’

DELAÇÃO

‘Existia nas minhas palavras uma tentativa de romper essa onda corporativista, onde jornalistas não revelavam intenções recônditas de colegas. No caso Janene, sem dúvida cometi uma traição; no caso dos jornalistas, também. Mas existiu um trabalho de apuração. Eu obtive as informações e as transmiti de maneira grosseira, tentando dar a linha ideológica de cada jornalista que citei. Mas essas informações não saíram do nada. Eu uso muito o meu faro, que funcionou em alguns casos. Mas não fui leviano em nenhum momento, e não recebi até agora nenhum tipo de evidência que contrarie o que eu escrevi. Os piores insultos que me dirigiram fui eu mesmo quem os atribui a mim mesmo. Me acusam de dedo-durismo, de macarthismo, isso está lá no meu texto. Agora que estou sendo processado pelo Carlos Jereissati, ele usa as minhas frases contra mim, o que não deixa de ser paradoxal. Para demonstrar que sou injurioso, ele cita os meus artigos, onde eu faço auto-ironia, me autodeprecio.’

DINHEIRO

‘Não sou um homem rico, não tenho nenhuma propriedade. Meu pai? Coitado, torrou todo o dinheiro que ganhou. Ele foi rico. Apartamento em Nova York, em nome dele? Coitado, tá tudo penhorado ou vendido. Ele não tem nada. Moro aqui na Vieira Souto com o que ganho. Não tenho um tostão em caderneta de poupança. Eu gasto exatamente tudo o que eu ganho.’

IRAQUE

‘Acho que a guerra já deu resultados, como a derrubada do Saddam Hussein e a realização de eleições livres, três até agora. Ela vai fazer bem aos iraquianos. Não tenho dúvidas de que é possível criar lá uma democracia. Mas eu sempre disse que essa guerra vai fazer mal aos Estados Unidos.’’

 

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Coração paterno

‘O pequeno Tito chega à sala no colo da mãe e encara o visitante. São muito belos e sugestivos os olhos desse menino. Daí a pouco ele decide caminhar com as próprias pernas, com umas das mãos agarrada no braço da mãe. Embora não fale, é como se ele dissesse a todos os que o vêem naquele momento: ‘Vejam, já sou capaz de andar.’ E Tito cumpre uma pequena caminhada sem o andador. Sabe que ainda não chegou aonde quer chegar, aonde seus pais, os parentes, os amigos de seus pais querem que ele chegue num dia desses. A primeira caminhada, assim meio desajeitada como essa de agora, é uma conquista recente. Foi um momento mágico que os pais continuam a festejar nesta segunda segunda-feira da segunda semana de janeiro de 2006. O pai diz estar vivendo um porre de felicidade por ter gerado e por conviver com esse menino. Um porre que já dura cinco anos, nos quais se desconta apenas uma paroxística temporada no inferno, com cinco dias de duração. Por incompetência do obstreta da maternidade pública de Veneza, Tito ficou sem respirar por uns mínimos instantes, logo após ser retirado do ventre da mãe. Paralisia cerebral, foi a seqüela do descuido médico. Levado para a UTI, passou cinco dias brigando com a morte. A vitória do bebê deu início à temporada de mistérios gozosos de Diogo, rejuvenescida com o nascimento de Nico, há seis meses. São do pai este depoimento sobre seu primogênito:

‘Meu filho nasceu quase morto. Passado esse período na UTI, não tive mais sofrimento por um único segundo. É um moleque que só me traz amor, dedicação e prazer. E isso é perfeitamente explicável: é uma criança maravilhosa, inteligente, rápida, bem-humorada, que tem uma couraça sentimental absolutamente inatingível. Nosso intercâmbio é rico como jamais tive com nenhum ser humano. É recente que ele ande sem o andador. Com o andador ele faz quilômetros, é um andarilho. O prognóstico para o futuro é extremamente favorável. Hoje em dia a gente nem se pergunta mais. Eu e minha mulher sabemos que é um moleque que vai se virar na vida. De alguma maneira ele vai se virar…’

E por e-mail, Diogo Mainardi esboçou, a pedido, este breve auto-retrato:

‘Sou um otimista, um idiota panglossiano, acho que todas as dificuldades podem ser superadas. E, quando não podem ser superadas, pelo menos podem ser toleradas. Falta-me profundidade psicológica. Eu já disse: sou unidimensional, raso. Me vejo como um bode cubista: está tudo ali, achatado no mesmo plano. É assim que vejo os outros também: somos todos uns chimpanzés. Não dá para exigir uma intensa vida interior de chimpanzés. Importante, para mim, são as tarefas domésticas, sobretudo catar piolho na meninada.’

P.S.: Diogo não quis deixar seu belo filho ser fotografado pelo jornal. Disse que iria consultá-lo, mas considerou improvável obter a concordância do menino. Explicou que Tito não gostara nada de ver sua cara estampada recentemente na Veja, em companhia do colunista e do irmão Nico.’

 

ENTREVISTA / NANNI BALESTRINI
Régis Bonvicino

‘A tecnologia inflacionou a palavra’

‘Poeta, romancista e artista plástico, Nanni Balestrini nasceu em 1935, em Milão. Hoje, vive entre Roma e Paris. É um dos fundadores do Gruppo 63, que lançou os poetas Novíssimi no panorama italiano, no início dos anos 1960. Foi editor da Feltrinelli, uma das mais importantes casas editoriais da Itália. Publicou uma dúzia de livros de poesia, entre eles La Aventure Complete della Signorina Richamond (Testo & Imago,1999) e Sfinimondo (Bibliopolis, 2004). Igualmente, publicou uma dúzia de romances experimentais, entre eles Vogliamo Tutto (Feltrinelli, 1971), Gli Invisibili (Bompiani, 1987), I Furiosi (Bompiani, 1994), sobre torcedores de futebol e, o mais recente, Sandokan, Storia di Camorra (Einaudi, 2004). Como artista plástico expôs em inúmeras galerias da Europa. Neste âmbito, publicou a coletânea Paesaggi Verbale, com prefácios e textos de Umberto Eco, Achille Bonito Oliva e Paul Virilio (Galeria Mazzoli, Modena, 2002). Nesta entrevista exclusiva, concedida por correio eletrônico, aborda questões relacionadas ao seu percurso, à arte de vanguarda, à política, ao império americano e à inflação eletrônica da palavra.

Sua experiência está voltada para a questão da vanguarda e, neste sentido, gostaria de saber o que pensa sobre a onda de experimentação e vanguardismo que tomou o mundo ocidental no pós-guerra?

As guerras sempre provocaram uma ruptura no processo normal e lento de transformação das idéias e dos comportamentos humanos. Desde as guerras napoleônicas do começo do século 19 até a Grande Guerra de 1914-18, na Europa, os conflitos têm sempre sido acompanhados pelo nascimento de novos modos de ver a realidade e de vivê-la. O fim da última Guerra Mundial (1939-45) redundou num enorme impulso para a pesquisa e a experimentação em todos os campos da arte, não apenas na Europa, mas no mundo inteiro.

Quais eram os princípios básicos dos Novíssimi e do Gruppo 63?

A Itália tinha sido um lugar central das ‘vanguardas históricas’, iniciadas com o Futurismo, no começo do século passado. Os 20 anos de fascismo, no entanto, sufocaram a vida cultural, impedindo, sobretudo, as trocas com as experiências dos outros países. O Gruppo 63 (do qual fizeram parte os poetas Novíssimi) nasceu principalmente da intolerância e da recusa, por parte de uma nova geração, da tradição literária, que se mostrava incapaz de interpretar a nova realidade daqueles anos. Foi, essencialmente, um instrumento coletivo de busca de novas formas de escritura, adequadas às grandes transformações em curso.

Esse grupo se relacionava com os beatniks e Black Mountains nos EUA, com o Oulipo na França, com a poesia concreta brasileira?

Uma das exigências imediatas e principais da nova geração foi a de retomar o diálogo com as situações de experimentação literária que, em outros países, haviam podido se desenvolver mais livremente, como a poesia experimental (concreta, visual e sonora) ou o romance dito pós-moderno (denominação que não considero exata). Alguns desses escritores foram convidados a tomar parte das reuniões do Gruppo 63 e isso contribuiu bastante para a formação de uma nova mentalidade na literatura italiana.

Hoje, acredita que essa onda tenha criado algo de original ou que se manteve, no fundo, tributária às primeiras vanguardas do século 20?

Estou convencido de que os anos 1960 foram extraordinários para a literatura, as artes visuais e a música. Um período comparável ao Renascimento italiano, ao Siglo de Oro espanhol, ou ao Romantismo europeu, com a vantagem que, dessa vez, havia se desenvolvido em nível mundial. As primeiras vanguardas do século haviam sido um momento violento, de quebra, haviam marcado o começo da modernidade, o nascimento da sociedade industrial, o alvorecer de um novo mundo, o que vivemos em certo sentido hoje, para o bem e para o mal. Com o segundo pós-guerra, no entanto, foi tomando corpo uma nova dimensão da vida humana, que transformou radicalmente as relações (de trabalho, família, sexo) e instaurou o domínio da tecnologia e do consumismo, com suas contradições e seus conflitos.

O conceito de vanguarda, combatido até hoje, faz algum sentido, estético, político ?

Penso que os grandes momentos artísticos sempre foram de vanguarda, ou seja, de ruptura com uma tradição já gasta: Dante e Cervantes, Bach e Mozart, Caravaggio e Cézanne mudaram radicalmente a percepção da realidade de seu tempo e por isso permanecem sempre contemporâneos. A contraposição entre vanguardas consideradas episódios minoritários e o fluir de uma tradição mainstream não existe. A verdadeira tradição só pode ser a história das vanguardas, uma história descontínua de grandes obras que determinaram uma ruptura, um salto. O resto mesmo que pareça dominar o presente, não tem valor, é destinado a dissolver-se dentro de algum tempo.

O senhor, que sempre teve uma atuação multimídia, como vê hoje a palavra, digamos, não eletrônica?

As novas tecnologias produziram, no meu entender, um enorme, excessivo incremento da circulação da palavra, uma inflação da comunicação, tanto oral quanto escrita, e contra isso a literatura tem de lutar, hoje. Não creio que os novos suportes eletrônicos possam modificar a natureza da arte da palavra, como, aliás, não aconteceu substancialmente no passado, por exemplo, com a invenção da imprensa. Se há novas possibilidades na evolução da música e das artes visuais, isso ocorre porque o som e as imagens são digitalizáveis, decomponíveis em unidades mínimas, enquanto a palavra tem a soleira do significado que não se pode superar (ultrapassar). Sondar as soleiras do significado das palavras e de seus conjuntos é a tarefa da literatura, da poesia. Mas os significados não são quantitativos, portanto, não são digitalizáveis, e isso afasta a influência nociva do meio eletrônico, na esfera da palavra. Os experimentos que eu fiz se referiam, ao contrário, às possibilidades combinatórias do computador, que, porém, são apenas uma extensão e uma agilização das manuais. Penso, então, que, no que diz respeito à palavra, o meio não é a mensagem.

Um de seus romances, I Furiosi, trata do futebol. O senhor se interessa por futebol?

O futebol não me interessa minimamente. Escrevi esse livro porque quis compreender o motivo pelo qual o futebol representa o maior fenômeno de agregação social entre jovens e adultos. É um livro sobre os torcedores, suas aventuras, para as quais o futebol não passa de um pretexto. O que conta para eles, sobretudo para os mais jovens, é viver com os amigos num grande festa coletiva, que os leve a esquecer a infelicidade do cotidiano, imposta pelo sociedade que vivemos, e a sonhar.

Gostaria que falasse sobre o mundo atual. Como vê a questão do império americano e quais seriam suas conseqüências sobre a arte?

O império, enquanto máxima realização do poder, escreve a história, domina a economia e determina os modos de vida. O artista tem a tarefa de opor-se a estas hegemonias, não tanto e não apenas no plano político e existencial, mas criando uma obra em que a crítica e a recusa exprimam formas (sons, imagens, palavras) antagônicas às do poder. E hoje o império americano, que nos oprime com sua ambição de domínio mundial, provoca a arte a dar vida a obras que tenham consciência do destino do gênero humano inteiro.

Gostaria que comentasse o slogan dos anos 1960: ‘Guerra no, guerrilla si’, projetado para os dias atuais.

As guerras, sempre ilegítimas, são os Estados que as fazem, com os exércitos. As guerrilhas são formas de defesa, de resistência informal contra os ocupantes (como a dos partisans na Europa, sob o nazismo), ou então, se direcionam contra ditaduras e governos não liberais. Em ambos os casos, trata-se de oposição legítima, mesmo se, desde sempre, os ocupantes e as ditaduras têm usado o termo ‘terrorismo’ para recusar a legitimidade e tipificar como crime as oposições armadas. Cabe constatar, ao contrário, que o verdadeiro terrorismo é o que eles praticam contra populações indefesas. Mesmo o uso da violência e das armas, por parte de uma oposição, em situações democráticas, em estados democráticos, que permitiria um livre confronto político, penso que deve ser considerado ilegítimo e, portanto, definível como terrorismo também.

O senhor militou na extrema esquerda e conviveu com a luta armada. Como se pode hoje fazer a síntese entre revolução e arte?

Pessoalmente nada tive a ver com a luta armada, que houve na Itália nos anos 1970, e com a maior parte dos movimentos de extrema esquerda de então, eu era contrário ao uso das armas. Considero que, além de um erro político, tenha sido ilegítimo pelos motivos que acabo de mencionar. Os espaços democráticos estavam fechados e estava se desenvolvendo um grande movimento popular de oposição fora dos partidos. Entretanto, um pequeno grupo, que se iludia com a idéia de obter uma vitória militar contra o Estado, permitiu que a repressão apagasse um decênio de lutas e que o rotulasse de ‘os anos de chumbo’ do terrorismo. Não creio que exista uma relação direta entre arte e revolução, se estivermos nos referindo à revolução política. Esta é um processo que se transforma no tempo, que pode se tornar involução, como aconteceu com a revolução francesa e com a soviética. Ao contrário, as verdadeiras obras de arte permanecem revolucionárias para sempre, o tempo não poderá corroê-las nem alterá-las.

Régis Bonvicino é poeta, autor, entre outros, de Remorso do Cosmos (Ateliê, 2003) e co-diretor da revista literária Sibila’

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O Estado de S. Paulo

Sábado, 21 janeiro de 2006

PESQUISA PRÉ-ELEITORAL
Mariana Caetano

Serra e Lula: empate técnico no 2º turno

‘Se o segundo turno da eleição presidencial fosse disputado hoje entre Luiz Inácio Lula da Silva e o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), o tucano teria 45% das intenções de voto contra 42% do presidente – o que configura empate técnico. Os dados são da pesquisa Ibope realizada entre 12 e 16 de janeiro. Os números mostraram Lula de volta à liderança do primeiro turno, também em empate técnico, e indicam forte redução da vantagem de Serra no round decisivo da eleição. Em dezembro, o tucano estava 13 pontos à frente de Lula no segundo turno.

Os resultados do segundo turno foram divulgados apenas na noite de ontem pelo Ibope, à revelia da Editora Três, que contratou a pesquisa. Na quinta-feira, a editora negou que tivesse encomendado levantamento sobre o segundo turno. Foram realizadas cinco simulações, três delas citando Lula, contra Serra, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho (PMDB). Apenas Serra leva vantagem sobre o presidente candidato à reeleição. E Lula ampliou a diferença sobre Alckmin e Garotinho. Ambos tentam garantir, respectivamente no PSDB e no PMDB, o direito de disputar a sucessão presidencial.

Lula tem 48% das intenções de voto contra 35% de Alckmin. Bate Garotinho por 49% a 30%. Nas outras simulações, Garotinho enfrenta Serra e Alckmin. O prefeito venceria o ex-governador ( 54% a 26%). Alckmin, com 37%, ficaria em empate técnico com o peemedebista. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos porcentuais, para mais ou para menos.

Omissão

A Editora Três, que edita a IstoÉ, onde foram publicados os dados da pesquisa ontem, omitiu vários dos resultados obtidos, não apenas sobre o segundo turno. Ao contratar o levantamento, a editora incluiu perguntas de avaliação do governo Lula e várias questões de interesse específico do pré-candidato do PMDB. O Estado teve acesso à integra do questionário no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma resolução do tribunal determina que sejam disponibilizados o questionário e os resultados, mesmo aqueles não divulgados. Na noite de quinta-feira, telejornais da Rede Globo anteciparam os números publicados na edição de ontem da IstoÉ e informaram que a revista não encomendara sondagem sobre o segundo turno.

‘Os primeiros números mostram que Lula sai na frente, Alckmin ainda não decola e Garotinho é o candidato viável para quem não quer PT nem PSDB’, diz a chamada de capa da revista. O questionário aplicado, sem menção na IstoÉ, inclui perguntas como ‘Qual seria a principal ação que Garotinho poderia ter e que faria o (a) sr. (a) pensar em votar nele para presidente?’ Na lista, estão ações como ‘mostrar que é a favor dos pobres’ e ‘não misturar religião com política’, entre outras. Garotinho é evangélico.

As perguntas incluem uma avaliação sobre as características atribuídas ao ex-governador do Rio – competência, honestidade, autoridade – e a opção religiosa do entrevistado.

De acordo com a diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, o teor do questionário foi definido por orientação da Editora Três, que teria informado que faria perguntas temáticas, por candidato, em novas sondagens. Não há nenhum outro levantamento encomendado pela empresa. Márcia não soube dizer quem representou a editora na assinatura do contrato. A pesquisa foi faturada pela Editora Três, a um custo de R$ 126 mil.

Os eleitores de baixa renda e escolaridade são os principais responsáveis pela recuperação dos índices de intenção de voto no presidente Lula. ‘O desempenho dele entre as classes mais baixas já tinha segurado a queda nos índices de intenção de voto, em setembro, agora impulsiona a recuperação’, avalia a diretora do Ibope.’

 

Ricardo Brandt

Alckmin repete: ‘Pesquisa é retrato do momento’

‘O governador Geraldo Alckmin tentou amenizar ontem os resultados da primeira pesquisa Ibope feita após o início de sua ofensiva pré-eleitoral. Para ele, a sondagem é só ‘um retrato do momento’, que mostra que ‘não há voto definido’ entre os eleitores. O levantamento, realizado na semana passada, indicou uma queda no desempenho das candidaturas tucanas e uma recuperação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

‘A pesquisa, como a gente já sabe, é retrato deste momento. Ela mostra o que eu venho dizendo: que a campanha só vai começar com o horário de televisão e de rádio’, afirmou o governador, que participou ontem de um evento com prefeitos de estâncias turísticas de São Paulo, na cidade de Itu.

Em plena pré-campanha eleitoral para tentar reduzir sua desvantagem em relação a José Serra nas pesquisas e viabilizar seu nome como candidato do PSDB, Alckmin se esforça para não deixar transparecer que esperava um melhor desempenho. Em todas as suas falas ele tentou desqualificar o peso do levantamento.

‘A pesquisa mostra o mobilismo. Não há voto definido. Porque pesquisa, há dez meses da eleição, só tem valor estatístico’, argumentou Alckmin.

Para ele, quando as campanhas e as propostas dos candidatos começarem a ser apresentadas, o cenário deve mudar. ‘Hoje você tem um monólogo. Só o presidente fala. Fala até em cadeia de rádio e televisão’, alfinetou, em referência ao pronunciamento em que Lula destacou o pagamento da dívida com o Fundo Monetário Internacional. A fala do presidente foi contestada pela oposição no Tribunal Superior Eleitoral, com o argumento de que teria se caracterizado por propaganda eleitoral irregular.

Questionado sobre o papel do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no processo de escolha interna do partido, Alckmin voltou a afirmar que os tucanos devem caminhar para o entendimento. ‘O presidente Fernando Henrique é a grande referência do PSDB. Ele vai ajudar nesse bom entendimento e eu vou trabalhar para ser o candidato do entendimento’, afirmou. Nesta semana, o governador visitou dois cardeais tucanos: o presidente nacional da legenda, Tasso Jereissati, e o governador de Minas, Aécio Neves.

O governador comentou ainda com entusiasmo os resultados da enquete feita pelo Estado entre os deputados da bancada tucana. Nela, Alckmin aparece como o preferido pela maioria dos parlamentares para ser candidato à Presidência. ‘Isso mostra que nossa mensagem foi bem entendida pela bancada federal.’

BATE-BOCA

O governador reagiu ontem às críticas feitas pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), dizendo-se decepcionado. O senador atacou o veto de Alckmin a uma lei que proibia máquinas caça-níqueis em bares.

‘O senador lembrou os velhos tempos do PT da irresponsabilidade e da bravata’, criticou. ‘O projeto é inconstitucional. A competência não é do Estado, é federal.’

Mercadante rebateu ontem mesmo, lembrando que, quando o governo Lula proibiu os bingos no País, a oposição argumentou que o tema era de competência estadual. ‘Eu é que estou decepcionado. Se há um debate de constitucionalidade, que ele (Alckmin) deixe que o Supremo julgue’, disse Mercadante.’

 

JORNALISTA SEQÜESTRADA
O Estado de S. Paulo

Pai de jornalista e político sunita fazem apelos

‘Negociadores dos EUA corriam contra o tempo para tentar obter a libertação da jornalista americana Jill Carroll, enquanto vencia o ultimato dado pelos seqüestradores que ameaçaram matá-la até o fim do dia de ontem. Jim Carroll, pai da repórter do jornal ‘The Christian Science Monitor’, fez ontem um apelo desesperado pelas tevês árabes Al-Jazira e Al-Arabiya. ‘Quero falar diretamente com os seqüestradores de minha filha, já que talvez sejam pais como eu. Minha filha não tem poder para conseguir libertar ninguém’, disse Carroll. Os seqüestradores ameaçaram matá-la se os EUA não libertarem todas as iraquianas presas. Carroll lembrou que sua filha ‘é uma jornalista, uma pessoa inocente’. A mãe de Jill, Mary Beth Carroll, também fez na quinta-feira um apelo pela rede CNN. Adnan al-Duleimi, líder da Frente de Concórdia Nacional, uma aliança que reúne os três principais partidos sunitas, também pediu a libertação da repórter, de 28 anos, seqüestrada no dia 7 em Bagdá quando ia entrevistá-lo. Apelos também foram feitos em mesquitas de vários países.’

 

TV NOS EUA
Ken Belson

Anúncios invadem a TV por assinatura nos Estados Unidos

‘THE NEW YORK TIMES – A Comcast, maior operadora a cabo dos Estados Unidos, planeja apresentar um canal de vídeo à la carte que vai incluir propagandas na programação.

O novo canal, chamado Exercise TV, é a última tentativa de empresas de televisão à cabo para gerar renda por meio de programação à la carte, maior parte da qual é dada de graça aos consumidores, se houver aparelho de transmissão digital.

Já os clientes da Comcast que assistem reprises de programas de televisão à la carte normalmente assistem os anúncios que passam com o programa original. Mas os clientes podem adiantar os anúncios. Empresas de televisão à cabo também estabeleceram áreas onde as empresas podem colocar anúncios mais longos, parecidos com Informerciais.

Na Exercise TV, os anúncios vão ser integrados aos programas. A Comcast vendeu direitos exclusivos de publicidade à New Balance, fabricante de tênis, por milhões de dólares. Isso vai permitir que a empresa coloque seus produtos e o logotipo dentro e em torno dos programas, inicialmente uma seleção de 90 episódios de fitness.

Matt Strauss, vice-presidente de programação e desenvolvimento de conteúdo na Comcast, disse: ‘Todo mundo está tentando encontrar a economia do sistema à la carte quando 95% disso são entregues de graça.

O que estamos vendo é essa nova tecnologia para abrir as portas para o desenvolvimento de novas formas de conteúdo e marcas.’ Jake Steinfield, líder na programação de fitness, fez uma aposta na nova rede, que também vai estar disponível para clientes da Time-Warner. Strauss disse que esperava convencer outros anunciantes relacionados a se tornarem patrocinadores.

Até agora, a Comcast gerou pouca renda de propaganda das milhares de horas de programação à la carte que entrega, embora a audiência tenha aumentado profundamente. No ano passado, os assinantes assistiram 1,4 bilhão de programas à la carte, duas vezes mais do que no ano anterior.

Craig Leddy, analista na Points North Group, disse que empresas de televisão a cabo podem afastar os espectadores se colocarem muitos anúncios nos seus programas à la carte e as tornarem muito parecidas com as televisões comerciais.’

 

CARTUNISTAS DA AMÉRICA DO SUL
Exposição reúne 25 chargistas sul-americanos

Claudia Pereira

‘Maitena é um dos nomes mais conhecidos no mundo quando o assunto é charge. O leitor certamente deve conhecer essa cartunista argentina pela série Mulheres Alteradas, que retrata os dilemas e agruras da mulher moderna. Ela é uma das integrantes da exposição do Centro Cultural da Caixa, Cartunistas da América do Sul, que será aberta hoje para o público e traz trabalhos de 25 artistas que têm como ofício mostrar de forma sagaz, irônica, contraditória e até ingênua suas percepções sobre a realidade.

Não importa a forma, sejam ilustrações, charges, histórias em quadrinhos, tiras, caricaturas, cartoons, o certo é que desde Honoré Daumier e Araújo Porto-Alegre, que já produziam caricaturas no início do século 19, essa forma bem-humorada de se criticar a sociedade tomou grandes proporções, sendo que hoje em dia salões de arte são dedicados a isso e muitas editoras encontraram na publicação desses trabalhos um grande filão.

A mostra é uma parceria do Itamaraty com o Centro Cultural da Caixa para promover uma integração cultural maior com os países vizinhos. O público poderá conhecer nomes não tão famosos, mas igualmente talentosos, de chargistas vindos de quase todos os países sul-americanos. Angeli, Chico Caruso, Millôr e Jaguar do Brasil; os argentinos Nik, Caloi e Maitena; Aetós, do Chile; Pepón e Vladdo, que mostram de forma crítica a realidade socioeconômica da Colômbia, entre outros.

Originalmente montada em Brasília, a mostra, antes de seguir viagem pela América do Sul, passará também pelo Rio de Janeiro.

A exposição mostra que é possível haver um intercâmbio cultural entre esses países, queríamos apresentar algo que fosse sério, mas não sisudo. A escolha de uma exposição com cartunistas foi ideal, pois essa é a base dos trabalhos desses profissionais, serem sérios, mas não sisudos’, comenta Manuela Bogéa, coordenadora do projeto. ‘Queremos mostrar ao público que a crítica e a realidade social desses lugares podem ser muito mais próximas do que imaginamos.’

Serviço

Cartunistas da América Latina. Centro Cultural da Caixa. Pça. da Sé, 111, 3107-0498. 9h/21h (fecha 2.ª). Grátis. Até 26/2. Começa hoje para o público’

 

IRRITANDO FERNANDA YOUNG
Taíssa Stivanin

Fernanda Young capitaliza fama

‘A saia-justa que mais fez jus ao nome do programa está de volta, pelo direito à indignação. Fernanda Young, uma polêmica e divertida verve para alguns e apenas uma mala para outros, começa a gravar seu programa-solo na GNT em fevereiro. Se tudo der certo, a atração estréia em março na grade. Fernanda, que fez parte do último bem-sucedido time do Saia Justa – que se transformou com as novas integrantes em um sonolento debate de nada sobre coisa alguma –, é a segunda integrante a comandar uma atração-solo depois de Rita Lee, com seu Madame Lee.

A escritora está à frente de um talk show temático, batizado de Irritando Fernanda Young. Capitalizando a fama de briguenta, mal-humorada e polêmica (que sabe lá se não é mais uma jogada previsível de marketing), o programa está moldado para que a apresentadora se irrite e derrube tudo pela frente com suas respostas e jeitos esculhambados.

Na sinopse, é definido como um ‘talk show temático, com pitadas de fake reality e de crônica bem-humorada’. O talk show fica por conta dos convidados que vão participar do programa, mas a escritora não vai entrevistá-los. Será um bate-papo sempre sobre o mesmo tema: irritação e como a gente se aborrece pelos mesmos motivos que todo mundo na vida. O ‘fake reality’ é uma espécie de cobertura de fatos do cotidiano da apresentadora, que vai mostrá-la no carro, em casa, no cinema, e em outros lugares, irritando-se com algo que não funcionou ou não saiu como ela queria.

Como crônica, o programa ainda trará dicas de como irritar pessoas – sim, é isso mesmo – e recordará fatos irritantes da história. Para fechar o circo, a atração terá um pocket show, uma espécie de show de talentos, para deixar a apresentadora mais irritada. Então tá.’

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O Estado de S. Paulo

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