Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo


VENEZUELA
O Estado de S. Paulo


Brasileiro atenua apoio a Chávez


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem que tenha dado seu apoio
à decisão do governo venezuelano de não renovar a concessão da Rádio Caracas de
Televisão (RCTV), a única emissora de alcance nacional que se mantinha na
oposição ao presidente Hugo Chávez. No ar há 53 anos, a RCTV perdeu a sua
licença para transmitir pelo canal 2 no dia 27. O governo venezuelano justificou
a decisão acusando os diretores da emissora de serem golpistas e não cumprirem
compromissos legais e fiscais, mas ela provocou uma série de protestos de
organizações internacionais e países preocupados com a liberdade de expressão na
Venezuela.


Ao ser abordado sobre uma versão – divulgada por membros da oposição
venezuelana, mas não confirmada por documentos – de que a concessão da RCTV
vigoraria até 2022, Lula respondeu: ‘Se você me perguntar: Chávez cometeu um
delito? Se venceu a concessão de uma coisa qualquer, seja de um ponto de táxi ou
de uma emissora de televisão, o concedente tem direito de renovar ou não. Isso é
tão legítimo quanto conceder. Se não venceu, é arbitrariedade.’ Mas teve o
cuidado de sublinhar que ‘é preciso saber o que diz a Constituição do Chávez’.


O presidente destacou que no Brasil há regras claras sobre o tema de
renovação de concessões a emissoras. Bem-humorado, Lula dessa vez não se irritou
com a pergunta sobre um tema que escapa aos conteúdos tratados durante a reunião
do G-8 e das cinco economias emergentes, entre as quais o Brasil, no balneário
alemão de Heiligendamm. Preferiu sorrir ao ouvir a questão e explicar calmamente
que, na entrevista que concedeu à Folha de S. Paulo, anteontem, não disse que
havia apoiado a iniciativa de Chávez.


‘Eu não apoiei o Chávez nem no primeiro dia. Nem ontem. Nem hoje. A única
coisa que defendo é que aquilo é um problema da Venezuela’, afirmou. ‘Cada país
toma conta do seu nariz.’


Na entrevista, publicada ontem, Lula permitiu-se responder o que ‘faria no
Brasil’. Insistiu que o ‘mesmo Estado que dá uma concessão’ pode retirá-la e, no
caso da Venezuela, Chávez somente ‘teria praticado uma violência’ se tivesse
optado pela intervenção na RCTV depois do fracasso da tentativa de golpe de
Estado, em abril de 2002, apoiado pela emissora.


‘No Brasil vencem concessões sempre, que passam pelo Senado para que haja
renovação. Nos EUA há concessões. Algumas são renovadas. Vai da visão que cada
presidente tem da situação’, afirmou.


Na semana passada, em Nova Délhi, o assessor especial da Presidência da
República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, havia sido menos
diplomático do que Lula ao expor suas idéias – que influenciam os setores do
governo que tratam da política exterior.


Garcia defendeu as iniciativas de Chávez e afirmou que raros países têm tanta
liberdade de expressão como a Venezuela. À imprensa, Garcia afirmou que, ao
impedir a emissão da RCTV, ‘Chávez não fez nada de ilegal’ nem violou princípios
democráticos.


AL-JAZIRA


Em entrevista à emissora Al-Jazira, com base no Catar, transmitida ontem à
noite, Lula afirmou que sua relação com Chávez ‘não é só de chefes de Estado,
mas também de amizade, de companheirismo’. Segundo o presidente brasileiro, as
relações entre EUA e Venezuela só poderão melhorar depois da sucessão de George
W. Bush. ‘É uma briga que não consigo entender muito bem’,
disse.’


PASQUIM REEDITADO
Ubiratan Brasil


Os anos de chumbo na história do Pasquim


‘A transgressão parece, de fato, ser uma de suas marcas eternas: previsto
para trazer a seleção dos melhores trabalhos publicados entre os números 150 e
300, o segundo volume da Antologia do Pasquim (Desiderata, 368 páginas, R$ 75)
chega agora às livrarias com apenas um terço desse material. ‘Quando comecei o
trabalho, separei desde a edição de número 150 até a de 300. Entretanto, me
surpreendi com a extrema qualidade do material publicado. Por isso, encurtei o
período de cobertura até a publicação comemorativa de número 200, que contou com
as colaborações luxuosas de Plínio Marcos, Rubem Braga e Fernando Sabino’,
explica Sérgio Augusto, colaborador do Estado e um dos organizadores do volume,
ao lado de Jaguar.


De fato, são exatamente os anos de 1972 e 73 que integram esse volume,
período mais negro do regime militar, então regido pelo general Emílio
Garrastazu Médici. Fase marcada pela censura, perseguição e prisão, obrigando as
vozes contrárias ao governo a se esconderem na clandestinidade. O Pasquim, no
entanto, cujo primeiro número saiu no dia 26 de junho de 1969, sobrevivia como
um arauto solitário, utilizando a inteligência e o deboche como resistência.


Além de contar com uma equipe brilhante (Millôr Fernandes, Ivan Lessa,
Jaguar, Ziraldo, Henfil, Paulo Francis, Tarso de Castor, Sérgio Augusto,
Fortuna, Sérgio Cabral, Flávio Rangel são alguns nomes), o jornal entrou para a
história da imprensa brasileira ao adotar a linguagem coloquial, cujas gírias e
expressões (‘duca’, ‘pô’) serviam também para driblar a censura moral e
política.


Diferentemente da primeira antologia, esse segundo lançamento da coleção (que
poderá ter um total de no mínimo quatro volumes) privilegia o material produzido
pela trupe que formava o jornal. ‘Diminuíram sensivelmente as colaborações de
outsiders, o jornal se fechou entre sua própria patota. Ainda assim foram
incluídos em ocasiões sazonais artigos de Newton Carlos, Mário Prata e Tárik de
Souza’, conta Sérgio Augusto.


Foi também uma fase de mudanças de comando. Com a saída de Tarso de Castro no
fim de 1971, Millôr assumiu a presidência do Pasquim, deixada vaga por Sérgio
Cabral pouco antes. Sérgio Augusto e Ivan Lessa passaram a cuidar da edição de
textos, enquanto Jaguar ficou à frente da edição de humor e Caulos, da de arte.
O efeito foi imediato: se perdeu um pouco de sua anarquia inicial, O Pasquim
tornou-se mais profissional, mais bem editado e com uma linguagem mais apurada e
arguta.


Assim, a censura era driblada com lances geniais como interpretar a violentar
repressão do governo por meio de críticas a outros ditadores da época, como o
haitiano Baby Doc, o ungandense Idi Amin Dada e os militares que deram o golpe
na Grécia. Mesmo assim, recorda-se Sérgio Augusto, o jornal levou pelo menos
quatro prensas da censura na época, obrigando a equipe a trabalhar
apressadamente sobre as migalhas deixadas pelos censores para que a edição não
se atrasasse. E o recado era dado como mostra a capa da edição 161, com o
ratinho Sig dizendo ‘Um jornal que vai ou ra…’ e rudemente interrompido por um
enorme punho cerrado. Ou a manchete do número 163: ‘Deu zebra!!! Outro Pasquim
nas bancas!!!’.


As entrevistas coletivas, outra marca registrada do Pasquim, também integram
este volume com conversas com o cirurgião plástico Ivo Pitanguy (‘Você volta a
trabalhar logo depois do almoço?’ é uma das perguntas), o diretor de tevê Carlos
Manga (‘Auditório atrapalha um bom programa de televisão?’), o diretor de teatro
Zbigniew Ziembinski (‘O que significa a sua vocação para o palavrão, hem?’), e
até uma feijoada, entre outros.


Como o trabalho gráfico estava mais apurado, as páginas do jornal serviam
para a equipe praticar sua irreverência com frases que pontilhavam os cantos das
páginas ou mesmo comentavam determinado assunto da matéria – os artigos de Paulo
Francis eram os preferidos . Francis, aliás, já estabelecido nos Estados Unidos,
colaborava com matérias importantes como a entrevista com o polêmico escritor
negro e homossexual James Baldwin, militante a favor dos direitos civis das
minorias nos EUA, presente na antologia.


Os acontecimentos do dia-a-dia também tiveram ressonância no semanário, tanto
na repercussão da cobertura feita por outros jornais, como em seu aspecto
essencialmente informativo. É o caso, por exemplo, da nota de óbito da atriz
Leila Diniz, morta precocemente com a queda de um avião da Japan Airlines na
Índia. ‘Publicamos apenas a notícia com uma foto de Leila e uma ilustração do
ratinho Sig, chorando a perda’, recorda-se Sérgio Augusto.’


***


‘Choques de ego prejudicaram, mas a censura…’


‘Como esse volume, que compreende 1972-73, pode mostrar algum efeito ao
primeiro racha na redação, com a saída de Tarso de Castro? O que de fato mudou
no jornal com o comando do Millôr?


Quando o Millôr assumiu a presidência, o jornal já estava bastante mudado.
Menos anárquico, menos vai-da-valsa, feito com mais capricho, profissional, sem
prejuízo das qualidades básicas. Essa mudança ocorreu porque, com a saída do
Tarso, da Marta Alencar e do Sérgio Cabral, Jaguar e Ziraldo passaram a
participar mais da concepção e confecção do jornal. Quando, no final de 1971, os
dois me convidaram para assumir a editoria geral, com a bonificação de uma
secretária gostosa, egressa do curso de Comunicação da PUC, aceitei na hora. Meu
sonho era transformar o Pasquim num Village Voice, com muito serviço,
reportagens investigativas e classificados, mas não havia dinheiro para montar a
infra-estrutura exigida. E o jeito foi tentar aprimorar o que já existia. Com a
colaboração do Caulos e do Miguel Paiva, sobretudo do Caulos, que se revelou um
diretor de arte sofisticadíssimo para os padrões voluntariamente ‘avacalhados’
do jornal, o Pasquim adquiriu nova cara. Logo depois, chegou de Londres o Ivan
Lessa, montamos uma equipe legal, e aí foi a festa. O Pasquim ficou mais denso,
mais curtido. O Millôr funcionou mais como um superego e um saneador das
finanças do jornal. Fomos muito roubados pelas várias turmas que cuidaram da
administração do jornal desde o primeiro número.


É possível dizer que o jornal não funcionava só porque era censurado?


Não funcionava como? Creio que você quer saber se o único obstáculo que nós
tivemos foi a censura. Creio que sim. Alguns choques de ego também prejudicaram,
aqui e ali, o jornal, mas a censura foi mesmo a nossa Nêmesis. Nunca saberemos
se o Pasquim teria sido muito melhor sem a censura. Ou se teria durado mais do
que durou se, desde o início, pudesse publicar o que bem entendesse.


Vem dessa época a fama de ser um jornal de oposição política, o que acabou
ofuscando sua tendência de satirizar a classe média?


A guinada política era inevitável, apesar da forte censura. Mas nem por isso
o jornal deixou de rir castigando os costumes. Nem de fazer humor pelo humor,
como o Ivan Lessa ou mesmo o Jaguar, que é um gênio do humor idiota, ou bête et
méchant, como se dizia na redação da velha revista de humor francesa Harakiri.


E as capas, ainda hoje modernas?


Sorte nossa contar com excelentes artistas gráficos como Ziraldo, Caulos,
Millôr, Jaguar e Henfil. Os méritos são deles.’


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Time decide futuro da AOL até o fim do ano


‘A Time Warner afirmou que tomará uma decisão sobre o futuro da AOL até o fim
do ano. O comentário é uma resposta às especulações de que a unidade pode acabar
ou se juntar a outra empresa. A companhia também informou que poderá ver uma
completa separação da Time Warner Cable em cinco anos, mas que nenhuma decisão
foi tomada. A AOL, divisão da maior companhia de mídia do mundo, passou de
provedora de acesso à internet para instrumento de vendas de anúncios
online.’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Cidadão vira Scars


‘Scars: assim foi batizada a novela Cidadão Brasileiro, de Lauro César Muniz,
para o mercado externo. O título estampa o folder da Record – e cada novela da
casa já tem o seu – para ser distribuído entre possíveis compradores
internacionais de conteúdo de TV.


Literalmente, Scars seria traduzida como ‘cicatriz’, ‘mácula’, ‘escoriação’.
A tradução de um título para o mercado internacional atende, antes de mais nada,
aos olhos comerciais de cada localidade. Não só os nomes de novelas são
adaptados, mas também alguns nomes de personagens das tramas.


Ainda no folder de Cidadão Brasileiro, o crédito de direção-geral é atribuído
a Ivan Zettel. Nenhuma menção a Flávio Colatrello, que assinou a direção-geral
até o meio da história e foi retirado de cena após desentendimentos com o
autor.


Já Escrava Isaura é apresentada aos gringos propriamente como The Slave
Isaura. Bicho do Mato virou Savage e Vidas Opostas, Opposite Lives. Há ainda
These Women (Essas Mulheres), What’s Up (Alta Estação), e Proof of Love (Prova
de Amor). Produções do Repórter Record também estão no catálogo de vendas para o
exterior.


Justin Timberlake paga mico


Justin Timberlake topou pagar mico no programa Saturday Night Live, que vai
ao ar hoje, às 23 horas, na Sony. Nos esquetes, o cantor veste-se de macarrão
instantâneo e também satiriza, com Jimmy Fallon, os irmãos Gibb, dos Bee
Gees.


Entre-linhas


Curinga na grade de programação da Record, o Pica-Pau foi empurrado para a
faixa das 19 h desde a estréia de Zorro. E o jornal SP-Record (cujo logotipo é
claramente inspirado no do SP-TV, da Globo) foi esmagado entre a novela e a
animação.


Na terça-feira, a série CSI Miami levou a Record ao primeiro lugar de
audiência por 40 minutos. Marcou 9 pontos de média, 10 de pico e 30% de
participação, segundo dados consolidados em São Paulo, entre 0h12 e 1 h.


Sem número suficiente de edições para iniciar uma temporada de reprises, o
programa Por Excelência, que Clodovil estreou há dois meses na TV JB, entrará em
recesso. Tudo em respeito ao frágil estado de saúde do deputado, internado esta
semana.


Sucesso entre os teens, a produção High School Musical ainda continua
rendendo audiência para o Disney Channel. No dia 17, às 20 h, vai ao ar no canal
pago High School Musical: O Show, que mostra a turnê que passou por 40 cidades
dos Estados Unidos e foi vista por mais de 600 mil pessoas.


Perfeccionista ao extremo, o diretor Luiz Fernando Carvalho ainda trabalha na
mixagem e finalização de edição da microssérie A Pedra do Reino, gravada há
coisa de seis meses. Estréia terça, na Globo.


A partir de segunda, Márcia Goldschmidt está de volta à Band com o talk show
Márcia, diariamente às 16h30.’


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