VENEZUELA
Protestos marcam Dia do Jornalista na Venezuela
‘Opositores e chavistas fizeram ontem dois protestos simultâneos, que levaram milhares de manifestantes às ruas de Caracas: o primeiro contra os ‘ataques à liberdade de expressão’ e o segundo contra o ‘terrorismo midiático’. As manifestações marcaram o Dia do Jornalista e foram convocadas num momento em que o presidente Hugo Chávez ameaça tirar do ar a Globovisión, a única TV opositora que ainda transmite em canal aberto (mas apenas para as três maiores cidades).
‘Fechar a Globovisión seria dar um passo definitivo para transformar a Venezuela numa ditadura’, disse ao ?Estado? a funcionária pública Carmen Vino com a boca encoberta por uma mordaça vermelha. ‘Essa TV deve ser fechada porque não faz um jornalismo socialista e revolucionário’, discordou o administrador Luis Marrero.
Os opositores foram os primeiros a organizar sua passeata em apoio à Globovisión. Dias depois, Chávez anunciou que ‘comunicadores socialistas’ também iriam às ruas.’
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DM9DDB é a ‘agência do ano’
‘Depois de 32 troféus, com 7 Leões de Ouro, ganhos em diferentes categorias na 56ª versão do Festival Internacional de Publicidade de Cannes, o mercado publicitário brasileiro festeja mais um vitória. Este ano, uma agência do País, a DM9DDB, foi eleita, com 40 pontos em premiações e disputas, a Agência do Ano do Cannes Lions 2009.
No ano passado, o Brasil tinha ficado em segundo lugar, com a AlmapBBDO, que este ano também repetiu a classificação. A visibilidade obtida nessas competições projeta a boa imagem da criatividade nacional no negócio da propaganda globalmente.
O mérito pode até ser relativo, como dizem alguns profissionais do meio, em razão da menor presença das agências americanas e europeias na competição deste ano. Elas inscreveram menos peças em decorrência da grave crise global que afetou suas economias.
Outro fator considerado é a mudança operada no negócio da propaganda com o avanço de outros canais de comunicação, como os digitais, nas ações de construção de marca e distribuição de mensagens publicitárias. Condição que ainda não é contemplada nos critérios de classificação para o prêmio de Agência do Ano em Cannes.
No maior mercado do mundo no setor, o americano, a cada ano que passa esse cenário fica mais visível. Este ano, por exemplo, os americanos tiveram ótima performance em Cyber Lions, com 21 Leões em propaganda online, e péssima em anúncios impressos, onde ganharam apenas dois Leões em Press Lions.
Para ser Agência do Ano, a empresa tem que somar pontuação em 4 das atuais 11 categorias em disputa. E são elas as mais tradicionais na competição: anúncios impressos, outdoor, rádio e filmes.
Apesar das mudanças que vão dando nova configuração ao mercado, a favor das agências brasileiras, e da DM9DDB em particular, esta é a terceira vez que a agência ganha o prêmio. Ganhou em 1998 e repetiu a dose no ano seguinte. Além dela, o Brasil conquistou o mesmo título em 2000, com a agência AlmapBBDO, e em 2001, com a F/Nazca Saatchi&Saatchi.
Entre os publicitários, em especial os que estiveram na costa francesa no último ano, quando o festival registrou público recorde, o comentário habitual nos últimos dias era o quão espartana foi a atual edição. É uma interpretação influenciada pela redução da quantidade de participantes e a ausência de grandes badalações. Afinal, houve corte de 40% no total das inscrições de delegados, o que representou, pelo menos, o corte de quatro mil pessoas.
‘Você está passeando na orla e eles botam você, quase à força, para dentro das festas na praia. Falta gente, ao contrário do ano passado’, brinca Luciano Deos, jurado brasileiro na categoria Design, sócio do escritório Gad Branding & Design e pela segunda vez na orla francesa.
As festas, tradição no meio, este foram modestas. Como justificaram os próprios organizadores, não seria razoável esbanjar em ano de retração econômica. A pauta dos 52 seminários e 23 workshops que se sucederam ininterruptamente nos auditórios do Palais dês Festival, ao contrário, se mantiveram lotadas. Em especial as que trouxeram executivos ícones para o negócio da comunicação, como a do presidente da Microsolft, Steve Ballmer, ou a do Google, Eric Schmidt.
Na área da premiação, também não houve redução do ímpeto em relação aos anos anteriores. Pelo contrário, houve fartura. Foram entregues 674 troféus, ante 579 do ano anterior. No total, foram mais de 22 mil peças inscritas, ante 28 mil no ano passado.
OBAMA
Era uma vitória mais do que anunciada. Desde que o case de marketing político que elegeu o presidente americano Barack Obama foi inscrito, ninguém duvidava que saísse com, pelo menos, um Leão do meio publicitário em Cannes. E assim foi. Só que não se limitou a um troféu, mas abocanhou os dois Grand Prix da mais cobiçado disputa, que são os prêmios em Titanium and Integrated.
Nessa categoria, criada em 2003 e na qual o Brasil nunca foi contemplado, são escolhidos os projetos e grandes sacadas de comunicação que inovam os processos de levar mensagens publicitárias aos consumidores.’
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Campanhas polêmicas são premiadas
‘Duas campanhas publicitárias, muito comentadas na atual edição do Festival Internacional de Publicidade realizado em Cannes, foram motivo de discussão do júri de Titanium and Integrated, o mais observado por seus pares.
Uma por ter obtido o reconhecimento negado em outras categorias, até pelo fato de ser considerada de moral discutível, já que aconselhava a troca de um amigo na rede social Facebook por um sanduíche, o Woopper, da rede de fastfood Burger King. Ganhou um Titanium para a agência americana Crispin Porter + Bogusky.
A outra é a campanha australiana para incentivar o turismo na região de Queensland, denominada ‘o melhor emprego do mundo’, que nasceu como um anúncio classificado e se alastrou graças à mídia jornalística. Pelo inusitado da exposição e pelo baixo investimento virou coqueluche em Cannes no meio dos executivos de marketing.
A campanha ganhou vários prêmios, entre eles três Grand Prix, em diferentes categorias, mas não levou nenhum na considerada nobre, embora estivesse na lista prévia. Os jurados não se empolgaram.’
LITERATURA
Bandeira desdobrado
‘O poeta Manuel Bandeira mantinha no Rio de Janeiro uma rotina saborosa – visitas a exposições de arte, encontros com artistas estrangeiros que passavam pela cidade, sessões de cinema para admirar a beleza de Greta Garbo, leitura de clássicos diversos, troca de cartas com escritores amigos. São os hábitos mundanos da sociedade carioca que se sobressaem de uma leitura ligeira de Crônicas Inéditas 2 (480 págs., R$ 69), segundo volume organizado por Júlio Castañon Guimarães com praticamente todos os 130 textos em prosa escritos pelo poeta entre novembro de 1930 e janeiro de 1944 e que a Cosac Naify lança nesta semana. Não é esse aspecto, porém, que interessa no livro. ‘O quotidiano carioca boêmio e musical ocupa parcela reduzida das crônicas’, observa Guimarães, no posfácio da edição. Na verdade, acredita ele, as colaborações do poeta para a imprensa são peças de um amadurecido exercício, o desenvolvimento de uma longa, inteligente e refinada reflexão.
Nascido no Recife, Bandeira (1886-1968) é o escritor homenageado da 7ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que começa na quarta-feira e, até domingo, terá uma série de eventos relativos à obra do poeta (veja no quadro ao lado). No rastro da celebração, além do segundo volume de crônicas, a Cosac Naify lança ainda Apresentação da Poesia Brasileira (504 páginas, R$ 69), projeto com que Bandeira pretendeu apresentar os poetas nacionais ao leitor estrangeiro; e sua tradução da peça Macbeth, de Shakespeare (208 páginas, R$ 49). A editora Nova Aguilar, por sua vez, prepara o lançamento da nova edição de Poesia Completa e Prosa (1.074 páginas, R$ 290), portentoso volume organizado por André Seffrin. Ele também é responsável por fixar a poesia de Estrela da Vida Inteira (Nova Fronteira, 464 páginas, R$ 69), que ganha novo projeto de capa e gráfico, além de vir com um CD de áudio contendo leituras de poemas pelo próprio Bandeira.
Mais conhecido como poeta, Manuel Bandeira teve, contudo, um papel decisivo em outras áreas da cultura, como crítico literário e de artes visuais, professor, compositor, autor de histórias infantis e tradutor de clássicos da literatura – além de Shakespeare, traduziu Schiller e Proust. ‘Não vejo isso exatamente como confluência de estilos, mas como um trabalho no sentido de afinar-se consigo mesmo, aquela conquista solitária que é se encontrar na sua linguagem’, comenta André Seffrin, em entrevista ao Estado. ‘Ele foi aos poucos descobrindo a própria voz, que, a partir de Ritmo Dissoluto ou de Libertinagem, assumiu seu perfil mais bandeiriano, a face, digamos, mais característica do Bandeira que conhecemos. E foi a partir dos anos 1930 que ele realmente se encontrou, inclusive como cronista, mais sintonizado com seus temas e sua linguagem.’
De fato, em Crônicas Inéditas 2, é possível notar uma preocupação mais detalhada sobre assuntos que escolhia como tema. Já no primeiro texto, Iniciação em Marcel Proust, Bandeira confessa seu fracasso inicial ao tentar (e não conseguir) ler a obra do escritor francês. ‘Há sempre que vencer os arames farpados das incidentes proustianas’, justifica ele que, como Andre Gide, conseguiu depois ultrapassar tais resistências para então sentir ‘sua prosa de ritmo uniforme e toda amarrada de conjunções e incidentes restritivas ou explicativas, ?uma espécie de vida sentimental e contínua?’.
O volume traz ainda um importante questionamento crítico que, de certa forma, envolvia seu próprio trabalho – numa crônica sobre a poesia de Machado de Assis, Bandeira comenta ser arriscado igualmente para um poeta lançar-se à prosa. ‘Entra ele nesse caso numa competência muito mais ingrata que a dos seus confrades: a competência consigo próprio.’ E, como exemplo do dilema, ele demonstra que, apesar de uma dúzia de poemas apresentar a mesma qualidade de seus melhores contos e romances (como O Desfecho, Círculo Vicioso e Mundo Interior), era na prosa que o Bruxo do Cosme Velho aproximava-se da genialidade. Entretanto, apesar dessa distância, alguns poemas de Machado, principalmente Uma Criatura, anunciam o pessimismo irônico e o estilo nu e seco que dominaram a segunda fase do escritor. ‘Toda a sua amarga filosofia estava expressa e esgotada naqueles poucos e admiráveis poemas’, escreveu o poeta.
Leitor atento dos clássicos e dos novos, Bandeira sentiu-se à vontade, em Apresentação da Poesia Brasileira, para revelar um panorama crítico dos autores, escolas e movimentos que marcaram o gênero no País, de José de Anchieta ao concretismo. O homem certo para tal ofício, na avaliação do crítico Otto Maria Carpeaux, que assina o posfácio da obra. Para ele, poesia é a arte verbal de comunicar experiências inefáveis. ‘E a de Bandeira era a gravíssima doença (pulmonar) que lhe destruiu a mocidade, e a que, no entanto, conseguiu dominar.’ Assim, a poesia brasileira cruzava, naquele momento, com a expressiva realização da experiência pessoal de Bandeira.
Para a segunda parte do livro, o poeta organizou uma antologia com 125 poemas de 55 autores, dos grandes clássicos, como Álvares de Azevedo, até bissextos, como Pedro Nava, e talentos em ascensão, como Ferreira Gullar. ‘Bandeira costumava ser muito claro e sincero em seus apontamentos, seja em matéria de jornal ou revista (em crônicas, em ensaios), seja na correspondência com amigos, em parte ainda inédita’, observa André Seffrin. ‘Costumava apontar com extrema clareza o que a seu ver não funcionava num poema ou num romance. Ganhou alguns inimigos por conta disso.’
Era implacável também ao escolher textos para traduzir. Bandeira considerava Macbeth, ‘senão a mais profunda, a mais sinistra e sanguinária tragédia de Shakespeare’. Em sua tradução, o poeta manteve os diálogos em verso, além de destacar, na introdução, expressões que considerava preciosas, como ‘uma história contada por um idiota, cheia de ruído e fúria e sem nenhum sentido’.’
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