Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

ELEIÇÕES NOS EUA
EFE

Disputa anima shows de humor

‘A disputa entre o democrata Barack Obama e o republicano John McCain só deve terminar na terça-feira, mas há alguns americanos que já se consideram vitoriosos nessa eleição: os humoristas. Com um farto material para trabalhar – as gafes e o currículo dos candidatos, os mitos e estereótipos reforçados pelas campanhas – quase todos os programas de sátira aumentaram sua audiência nos últimos meses e ainda são vistos e revistos na internet.

Um bom exemplo é o Saturday Night Live, da rede de TV NBC. ‘Os deuses vieram nos fazer uma visita’, disse o diretor do programa, Lorne Michaels, quando McCain escolheu a governadora do Alasca, Sarah Palin, para companheira de chapa. As imitações de Sarah feitas no show pela atriz Tina Fey – cuja semelhança física com a candidata é espantosa – dispararam os índices de audiência.

‘Entendo tudo de Rússia’, disse Tina, interpretando Sarah e debochando da sua falta de experiência em política externa. ‘Vejo esse país da minha janela.’ No dia 18, quando a própria Sarah participou do show, ele foi visto por mais de 17 milhões de pessoas – algo que não ocorria há 14 anos.

O Daily Show, uma paródia dos telejornais apresentada por Jon Stewart, e o The Colbert Report, que satiriza os programas de comentário político da direita americana, alcançaram os índices de audiência mais altos de sua história recente. ‘Para nós é o equivalente às Olimpíadas’, diz Doug Herzog, presidente da rede que transmite os dois shows.

O apresentador David Letterman, da NBC, conseguiu levar Obama e McCain para seu programa de entrevistas. É verdade que o republicano resistiu. Sua aparição estava inicialmente marcada para 24 de setembro, mas, nesse dia, McCain ligou para Letterman alegando que teria de ir a Washington para tratar da crise econômica.

O apresentador ficou furioso quando descobriu que o candidato estava a alguns quarteirões de seu estúdio, prestes a dar uma entrevista para outro jornalista da mesma rede. Ele pediu que fosse colocada no ar a imagem de McCain, preparando-se para entrar ao vivo no outro programa, e ironizou: ‘Quer carona para o aeroporto?’’

 

 

INTERNET
Renato Cruz

Projetos coletivos são futuro da web, diz fundador da Wikipédia

‘Jimmy Wales é o criador do projeto de colaboração na internet de maior sucesso em todo o mundo. Em 2001, ele criou a Wikipédia, enciclopédia que permite a participação de qualquer internauta na sua construção. Segundo o serviço Alexa, é o oitavo site mais visitado do mundo. A enciclopédia deve receber pelo menos 684 milhões de visitantes este ano. Ela tem 75 mil colaboradores ativos (que não recebem nada pelo trabalho), com mais de 10 milhões de verbetes em mais de 250 línguas.

‘Eu acho que o modelo de wiki pode ser aplicado em muitas áreas’, disse Wales, em entrevista por telefone. ‘É uma coisa que cresce continuamente. Acho que vão acontecer muitas coisas interessantes em vídeo e música nos próximos anos. Ainda não temos projetos colaborativos de larga escala nessas áreas, são mais trabalhos individuais. Acho que vão surgir, nos próximos anos, projetos maiores. Isso não aconteceu porque ainda não temos as ferramentas necessárias para tornar isso possível.’

No próximo dia 10, Wales vai participar de um evento em São Paulo sobre conhecimentos livres, que marcará a chegada da Wikimedia (organização sem fins lucrativos responsável pela Wikipédia) no Brasil. ‘O português é uma das maiores linguagens na Wikipédia, com muito conteúdo gerado no Brasil’, explicou Wales. Ontem, existiam mais de 436 mil verbetes em português. O fundador da Wikipédia calcula que o grupo principal de colaboradores do site no Brasil tem de 50 a 100 pessoas.

EFEITOS DA CRISE

Além da Wikipédia, que é sustentada por doações, Wales criou a Wikia em 2004, que permite às pessoas criarem sites colaborativos, com mais de 10 mil comunidades. No começo do ano, Wales criou o buscador Wikia Search. ‘Tenho dedicado bastante do meu tempo ao projeto de buscas’, disse o executivo. Recentemente, a Wikia Search lançou o WiseApps, um conjunto de ferramentas que permite aos desenvolvedores criar pequenos aplicativos de busca, com tecnologia da Wikia, para colocar em outros sites.

Este mês, a Wikia reduziu em 10% sua força de trabalho, ficando com cerca de 40 pessoas. ‘Olhamos a situação econômica do próximo ano e tentamos focar a energia de forma diferente’, disse Wales, acrescentando que eles tiraram gente da operação e estão contratando para o comercial. ‘No final, devemos ficar com o mesmo número de pessoas.’

Ele disse que ainda é difícil dizer qual será o impacto da crise nos anúncios da internet. ‘Acho que não será o segmento mais afetado da publicidade’, afirmou. ‘Anunciar na internet é mais eficiente e acho que a situação será melhor do que em formas menos eficientes de publicidade.’

Para a Wikipédia, ele prevê crescimento do tráfego e dificuldades maiores para conseguir doações. ‘Acho que a crise pode ter um efeito interessante na audiência da internet. As pessoas vão sair menos, porque é mais caro, e devem passar mais tempo na rede. Deve haver um aumento de tráfego.

Ao mesmo tempo, a Wikipédia é uma empresa sem fins lucrativos, nós dependemos de doações, e pode ficar um pouco mais difícil de conseguir doações no próximo ano. É uma coisa em que precisamos ficar de olho.’’

 

 

MERCADO EDITORIAL
Sérgio Augusto

Crise? Compre um livro e se divirta

‘Quando a economia vai bem, sempre aparece alguém para anunciar a ‘morte do livro’. Com a economia mundial na maior sinuca desde a Depressão, era de se esperar que até nos precisassem a data do enterro. Mas, apesar da recessão à vista e da alta dos custos de papel e impressão, a mais recente profecia sobre o futuro do livro não fala em morte, e sim em ressurreição. ‘Os livros podem recuperar o terreno supostamente perdido para outras formas mais dispendiosas de entretenimento’, previu há dias o britânico Laurence Orbach, há 32 anos à frente da editora Quarto.

Armado de números, Orbach minimiza os efeitos do aperto no consumo (‘as vendas de títulos publicados continuam firmes e até subiram em algumas categorias’) e antevê um horizonte cor-de-rosa para quem se dispuser a investir em seu ramo de negócios: ‘Livros não dependem de publicidade, ao contrário das empresas de comunicação.’ Também ganham na relação custo-benefício. Nos primeiros nove meses deste ano, as vendas da Quarto subiram 17% e seu lucro em operações paralelas foi de 15%. Qual o segredo? Livros de catálogo, relevantes por longo tempo, chova ou faça sol.

Foram livros de catálogo que asseguraram o ‘muito bom ano’ que a Companhia das Letras viveu até agora, segundo Luiz Schwarcz. Cauteloso, mas otimista, Schwarcz acredita que as editoras e o comércio de livros possam de fato ser menos atingidos pela crise. ‘Livros são relativamente baratos, custam em média entre R$ 20 e R$ 40, e sua venda não depende de financiamento ao consumidor, como no caso dos eletrodomésticos’, acrescenta Roberto Feith, da Objetiva. ‘As vendas de automóveis já foram afetadas, as de livros, não’, ressalta Feith. Sem triunfalismo, pois sabe que o movimento nas livrarias depende, basicamente, do poder de compra da classe média, e há uma retração econômica agendada para 2009. ‘Este ano foi muito bom e penso que o Natal ainda será, mas 2009 deve ser mais difícil.’

Mais cético, Paulo Roberto Pires, diretor editorial da Agir, receia que ao menos uma marola do tsunami econômico-financeiro nos atinja. ‘Em nosso laguinho editorial, uma marola já faz um estrago danado’, salienta, fazendo questão de acentuar a excepcionalidade da editora de Orbach: ‘A Quarto faz packaging, isto é, vende livros prontos, com direitos zerados, para serem impressos para diversos países ao mesmo tempo, um modelo no qual a também inglesa DK é mestre.’

Na segunda-feira, a Doubleday Publishing Group, divisão da Random House que engloba quatro selos editoriais, dispensou 16 funcionários ou 10% de sua equipe. Era mais um sinal de que, ao contrário das estimativas de Orbach, a indústria de livros não vai bem das pernas. Ao menos nos EUA, epicentro da atual crise econômica, não vai. As vendas das cinco maiores editoras americanas subiram 0,5% na primeira metade de 2008, mas o movimento nas livrarias declinou em junho e deverá cair mais até o fim do ano, confirmando as ominosas avaliações de uma reportagem de Boris Kachka, publicada em 14 de setembro pela New York Magazine, com o lacônico título de ‘The end’ (o fim). Oculto por elipse, o complemento ‘of publishing’.

O ‘fim da indústria editorial’ tal como a conhecemos já estaria se processando a pleno vapor, espreitada de perto (perto até demais) pelo Kindle, o livro eletrônico da Amazon. Embora desencadeado antes das recentes turbulências no mercado financeiro, estas só contribuíram para dar razão aos seus oráculos. Wall Street ainda parecia navegar em águas plácidas quando as vendas de livros começaram a estagnar e uma expiação em regra teve início. Cabeças coroadas rolaram pelas mais cobiçadas portas das editoras, autores VIP foram avisados de que contratos milionários e generosos adiantamentos sobre hipotéticas estimativas de retorno tornaram-se coisa do passado – de um passado bonançoso, que, acredita-se, não volta mais.

Como os bancos e as financeiras que andaram quebrando nas últimas semanas, os conglomerados que se apossaram da indústria de livros foram vítimas de executivos desmedidamente ambiciosos e da insaciável ganância de seus acionistas. Buscar superávits de dois dígitos num ramo de negócios acostumado a 5% de lucratividade média revelou-se uma colossal insensatez. Absorvidas pelas cinco grandes corporações do ramo, pequenas editoras abriram mão de sua política editorial, ampliando a mesmice e contribuindo para um empobrecimento generalizado.

‘O mercado teve suas opções drasticamente reduzidas’, analisou um poderoso agente literário. ‘A concorrência estreitou-se, escravizando as editoras a best sellers e à pilantragem retórica dos marqueteiros. Mas nem esta está dando mais certo. Até memórias de celebridades televisivas já não vendem tanto quanto algum tempo atrás, e é possível que os livros sobre cães e gatos, a coqueluche do momento, já estejam na linha de tiro. Ninguém sabe o que fazer. Resenhas favoráveis, jabás e recomendações na contracapa perderam seu condão combustivo. Ninguém sabe mais onde estão os leitores, nem como cativá-los.’

Em 1993 o escritor Philip Roth estimou a existência, nos EUA, de uns 120 mil ‘leitores sérios’ (aqueles que lêem todas as noites), número que, a seu ver, cairia pela metade em 10 anos, e assim sucessivamente. Se procedente o cálculo, só cerca de 45 mil americanos vão para a cama com um livro todas as noites, atualmente. Suponho que a média brasileira não seja apenas bem inferior, mas descomunalmente inferior. Pena, porque a leitura, para cunhar uma frase original, só nos enriquece. Independentemente de gêneros.

A ficção é mais enriquecedora, defende o crítico James Wood, que publicou este ano um dos melhores ensaios da década: How Fiction Works. A ficção nos liberta, alardeia Russell A. Berman. Concordo, mas não pelos motivos arrolados por ele em Fiction Sets You Free, um dos livros mais tendenciosos dos últimos tempos, um clássico do determinismo econômico, furadíssimo se olharmos para o passado e pateticamente datado se nos fixarmos no caos presente. Publicado em 2007, despertou polêmicas periféricas em redutos que ainda levam a sério a salmodia neoconservadora, mergulhando em seguida no buraco negro do esquecimento, até ser exumado no Times Literary Supplement da semana passada, onde levou um merecido corretivo.

Berman é um autêntico oxímoro: um materialista dialético de direita. Sem, no entanto, a inteligência, o brilho, e muito menos a obra, do maluco-beleza Ezra Pound. Como o mais doutrinário ideólogo marxista, não consegue dissociar a literatura das condições econômicas sob as quais é produzida. Mas para concluir que a literatura melhor prospera – e mais libertária e enriquecedora resulta – quando produzida em países onde triunfou a economia de mercado. E todas aquelas obras-primas surgidas em regimes feudais e ditatoriais? Dostoievski não viveu no tempo dos czares?

Há quatro anos, Berman publicou uma catilinária bushista contra o antiamericanismo europeu, com base nos clichês habituais (os europeus têm uma ‘arraigada inveja moral’ dos americanos, não toparam invadir o Iraque porque ‘negligenciam o genocídio’, apegam-se a idéias sócio-econômicas retrógradas, etc), de que Fiction Sets You Free é uma continuação. Para ele, ser contra os EUA, ainda que pontualmente, é ser contra o capitalismo e, por conseguinte, o humanismo, a imaginação, o empreendedorismo, a própria literatura. Toda obra ficcional, a seu ver, ‘cultiva a proeza imaginativa da visão empresarial’. E quem desaprova o comercialismo na literatura ‘está, no fundo, hostilizando os mecanismos do mercado’, assumindo uma ‘postura elitista’, o pejorativo da moda. Nem Ayn Rand, creio, foi tão longe na defesa de idéias recém-pervertidas pelos Gordon Gekkos de Wall Street.’

 

 

TELEVISÃO
Julia Contier

Biênio de Pica-pau

‘Silvio Santos tem o Chaves. Na Record, o curinga da programação chama-se Pica-Pau, que completa este mês dois anos na emissora. Independentemente do horário em que for exibida, a animação das antigas incomoda a concorrência e garante a vice-liderança à Record desde a sua estréia, em novembro de 2006.

No ano de 2006, o desenho foi ao ar entre as 18 h e as 18h30 e registrou 6,9 pontos de média no ibope. Mudou de horário, aumentou seu tempo de exibição e sua média de audiência em 2007 registrou, das 17h55 às 19h25, 9,9 pontos. Este ano, o programa alcançou, até setembro, média de 11,6 pontos, das 18h40 às 19h30. E a sarcástica ave ainda dá as caras na sessão de desenhos, nas manhãs de sábado e de domingo.

Segundo estudo realizado pela emissora, 25% do público que assiste ao Pica-Pau tem entre 4 e 11 anos e 21%, mais de 50 anos. Outro dado importante é que 53% da audiência do desenho pertence à classe C e 54% do público é mulher.

No próximo ano, Pica-Pau enfrentará mais mudanças de horário na emissora, por conta da chegada da versão nacional da novela Rebelde.’

 

 

 

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