Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

ESPORTE
Jamil Chade e Andrei Netto

TV vai pagar US$ 3 bi por olimpíada carioca

‘Depois de tomar uma decisão política e esportiva de dar os Jogos de 2016 ao Rio, o Comitê Olímpico Internacional se debruça sobre um novo desafio: lucrar com o evento. Ontem, um dia depois da escolha, redes de televisão já iniciaram os contatos com a entidade e com o Rio para definir como será a distribuição dos direitos de transmissão. Fontes do COI revelaram ao Estado que esperam negociar acordos que chegarão a US$ 3 bilhões até 2016 apenas para os organizadores da Rio-2016. Outros US$ 300 milhões ainda iriam para o COI.

Hoje, mais de 80% do orçamento do COI vem exatamente da venda de direitos de imagem dos Jogos Olímpicos para redes de TV. Pela nova regra do organismo, apenas 8% dos lucros ficam com a entidade com sede na Suíça. O restante irá para a sede dos Jogos. Nos últimos 20 anos, o valor dos direitos de cada olimpíada se multiplicou por 30, tirou o COI da ameaça de falência e transformou o evento no mais rentável do mundo.

Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, disse que se reuniu durante duas horas, ontem pela manhã, com o diretor-presidente da NBC Sports, Dick Ebelson, pedindo conselhos no que diz respeito à cobertura televisiva de 2016. O Rio sabe que terá de promover uma aproximação com a rede. O Estado apurou que, nas últimas semanas, redes de TV nos Estados Unidos se reuniram com integrantes do COI para tentar convencê-los a votar em Chicago.

Mario Pesconto, integrante do COI, admite que esse será ‘um dos principais desafios’ para a entidade e para o Brasil durante os sete anos. O Duque de Luxemburgo, membro também da entidade, sinalizou que esse seria um problema.

Os ataques da derrotada Chicago já começaram. ‘Todos os membros do COI sabem que Chicago seria a Olimpíada mais lucrativa’, afirmou Doug Logan, CEO da federação de atletismo dos Estados Unidos. ‘O COI pagou muitos dólares para dizer não aos EUA’, disse.

Mas, para o órgão, o Rio tem dois pontos positivos: o primeiro é a população jovem sul-americana. Hoje, a média de idade do público que assiste os Jogos pela TV é de 47 anos. O evento no Rio pode ajudar a atrair os jovens de volta para assistir ao evento. O segundo trunfo é o fato de a capital fluminense estar praticamente no mesmo fuso horário dos Estados Unidos, o que irá permitir a transmissão dos evento no horário nobre para o público americano.

RECESSÃO

Mas a crise financeira fez o COI mudar sua estratégia para os Jogos de 2016. A entidade rompeu acordo de mais de 50 anos com a rede de emissoras que transmitia a disputa para os países europeus. Agora, quer negociar individualmente com cada um dos países do continente para multiplicar seus lucros.

O rompimento do contrato teria ocorrido diante da crise e da proposta considerada como insuficiente por parte das emissoras. A EBU (União de Emissoras Européias) havia pago 348 milhões pelos direitos de transmitir os Jogos de Pequim. Para 2012 em Londres, o pagamento será de 614 milhões. Os valores oferecidos para 2016 não foram anunciados. Mas o COI não aceitou.

Para o presidente eleito da EBU, Jean-Paul Philippot, a crise financeira fez com que a oferta fosse menor. ‘A oferta da EBU reflete o preço máximo que serviços públicos podem pagar pelos direitos’, afirmou. Com 75 membros em 56 países, entre eles a BBC, a EBU era a tradicional parceira do COI para fazer os jogos chegarem a 650 milhões de pessoas. O evento era repassado principalmente à emissoras públicas de países europeus. Mas com a crise, recessão e pacotes dos estados para salvar bancos e indústrias, pouco sobrou para elevar preço pago para os Jogos Olímpicos.

A opção da entidade, por isso, foi de acabar com o contrato e abrir a possibilidade para canais privados e ainda canais fechados. Cada país da Europa terá agora de negociar um pacote separado, o que deve fazer o rendimento do COI aumentar. Na Itália, a Sky já ganhou o contrato para 2016, acabando com o controle da RAI. Já a FOX Turquia bateu a TV estatal TRT.

O Comitê também está com dificuldades para conseguir atingir sua meta de obter US$ 1 bilhão em patrocínios para os próximos quatro anos. Já confirmou que a Johnson & Johnson está retirando seu contrato com os Jogos. Kodak e Lenovo também já anunciaram que não renovarão seus contratos. A entidade alega que está em negociações com outros patrocinadores, mas admite que o momento não é o mais fácil para fechar acordos. Até agora, os patrocinadores do COI até 2013 são a Acer, Atos Origin, Coca-Cola, GE, McDonald’s, Omega, Panasonic, Samsung e Visa.’

 

LIBERDADE DE IMPRENSA
Roberto Almeida

Vice da SIP critica ‘contradição’ da Justiça do DF

‘O vice-presidente do Comitê de Liberdade de Imprensa da Sociedad Interamericana de Imprensa (SIP) para o Brasil, Sidnei Basile, lamentou ‘a contradição’ em que caiu o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), que se declarou incompetente na última quarta-feira para julgar a censura ao Estado, mas ao mesmo tempo manteve o jornal amordaçado e enviou o caso à Justiça do Maranhão. Para ele, que também é vice-presidente de relações institucionais da Editora Abril, a demora de 65 dias para analisar a questão é ‘imprópria, para dizer o mínimo’ e impede o ‘enraizamento da democracia’.

Basile acredita que o TJ-DF perdeu a oportunidade de estabelecer uma jurisprudência após o fim da Lei de Imprensa, derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 30 de abril deste ano. ‘Para que pudéssemos ter confiança no controle constitucional da liberdade de imprensa, seria necessário que os contenciosos fossem rapidamente decididos.’

O Estado está sob censura desde 31 de julho, quando o desembargador Dácio Vieira, do TJ-DF, informou ter acatado pedido de liminar de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Fernando conseguiu proibir que fossem divulgadas informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolvem o filho de Sarney em suposto esquema de loteamento de cargos no Senado por meio de atos secretos. A mordaça ao jornal, desde então, se mantém ativa. Cada matéria publicada sobre o assunto implica pagamento de pesada multa.

O comportamento do Judiciário neste caso é preocupante, anota Basile. A solução, diz ele, pode ser a edição de uma súmula vinculante por parte do STF que defina parâmetros claros sobre casos de censura.

‘Se o nosso convívio com o novíssimo regime constitucional for pautado por condutas assim do Judiciário, é bastante provável que o remédio seja uma súmula. Caso contrário, o regime constitucional da liberdade de imprensa terá sido um retrocesso, e não um avanço.’

OEA

Como representante da SIP, organização que congrega 1.400 publicações em todo mundo, o especialista aponta como saída possível a iniciativa da relatoria para liberdade de expressão da Organização dos Estados Americanos (OEA), que pretende educar juízes brasileiros de primeira instância sobre contenciosos envolvendo a imprensa. ‘Como a decisão vai se protelando, quem fica mal não é o Estado, é a Justiça. Não há nada a fazer a não ser lamentar a protelação’, sublinha.

Para Basile, a situação criada pelo TJ-DF impede a consolidação do papel constitucional da liberdade de imprensa e se transforma em mau exemplo, uma ‘infelicidade’. ‘É uma pena o tribunal não se afirmar a favor da liberdade de expressão e adiar uma solução, que tem de vir de qualquer maneira’, afirma. ‘O tribunal poderia ser parte da solução, mas se tornou parte do problema.’

O andamento do caso depende agora da publicação da decisão judicial que ordena o envio do caso de censura para a Justiça Federal de primeira instância no Maranhão. A defesa do jornal poderá, então, apelar para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou ao STF. Entidades internacionais em defesa do jornalismo como Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) e Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) tendem a acreditar em uma pronta solução por parte das instâncias superiores.

Basile, por sua vez, confia na queda da liminar. E ressalta que a posição do Estado frente à censura – repetição do que enfrentou durante o período ditatorial – é corajosa. ‘O comportamento do jornal O Estado de S.Paulo é absolutamente impecável, porque vive sob regime de cerceamento de liberdades e tem a obrigação de desafiar o poder reinante’, ressalta.’

 

ITÁLIA
O Estado de S. Paulo

Milhares protestam contra Berlusconi

‘Dezenas de milhares de italianos protestaram ontem em Roma contra o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que vem tentando coibir a publicação de notícias sobre seu suposto escândalo sexual envolvendo prostitutas. Berlusconi aprovou multas que somam US$ 5,8 milhões contra dois jornais italianos de esquerda – La Repubblica e L’Unita – por suas coberturas do escândalo. Ele também está processando vários jornais estrangeiros.’

 

INTERNET
Ethevaldo Siqueira

Brasileiro faz plano de banda larga dos EUA

‘O brasileiro Carlos Kirjner, nomeado pelo presidente Barack Obama para o cargo de conselheiro do diretor-geral da Comissão Federal de Comunicações (FCC na sigla em inglês), a agência reguladora das comunicações norte-americana, lidera uma equipe de mais de 200 especialistas que definirá as políticas, regras e recomendações que serão as bases do Plano Nacional de Banda Larga dos Estados Unidos.

Em entrevista exclusiva a esta coluna, concedida na semana passada, Carlos Kirjner antecipou algumas linhas do plano a ser submetido ao Congresso em fevereiro de 2010, cuja repercussão deverá ser muito grande em todas as áreas de telecomunicações fixas e móveis, TV aberta e por assinatura.

Somente neste ano o governo Obama está destinando US$7,2 bilhões em incentivos fiscais, ampla oferta de frequências e outros estímulos para acelerar a universalização da banda larga. A supervisão de todas as etapas de execução do plano caberá a uma comissão governamental. Tudo o mais será feito pela iniciativa privada, financiada por estímulos fiscais e modelos de parceria público-privada (PPP).

Carlos Kirjner diz que o plano norte-americano tem três objetivos: o primeiro é a universalização da banda larga. O segundo é o aumento do uso da banda larga pelos cidadãos e empresas. O terceiro é o uso de avanços tecnológicos que beneficiem diretamente a educação e a saúde.

Para Kirjner, a característica principal do plano norte-americano será a integração das redes com fio e sem fio. Uma condição essencial para o sucesso do plano será assegurar preços realmente acessíveis para o acesso à banda larga e, assim, contribuir ‘para a consecução dos objetivos nacionais nas áreas de saúde, educação, energia, segurança nacional e oportunidades de trabalho’. Com a nova rede nacional, um médico poderá transmitir em segundos arquivos de muitos megabytes de uma zona rural para grandes centros, possibilitando a realização de diagnósticos de imagem no menor tempo possível.

OS EXCLUÍDOS

‘Embora 63% dos adultos norte-americanos já contem hoje com acesso à banda larga – diz Kirjner – a exclusão digital nos Estados Unidos ainda é um problema grave, em especial entre as camadas mais pobres, as minorias étnicas e os idosos. Por isso, temos que universalizar o acesso à banda larga num período relativamente curto.’

Kirjner diz que a comissão não pensa na criação de nenhuma empresa pública ou estatal para operar a rede norte-americana de banda larga. ‘A universalização nos Estados Unidos é conseguida por intermédio das empresas privadas. Assim, pensamos em criar um ambiente que estimule as empresas privadas a investir e a inovar o máximo possível na criação de uma rede de banda larga avançada para a maioria da população norte-americana.’

A comissão só se definirá daqui a alguns meses pelos eventuais subsídios a serem oferecidos. Aliás, existem muitos mecanismos possíveis de incentivo. ‘Na realidade, diz Carlos Kirjner, o governo dispõe de vários insumos para fazê-lo. O primeiro deles é espectro. E vamos tentar liberar o máximo de banda de frequências para o mercado. Com isso, o custo de implantação das redes tende a cair.’

A velocidade média nominal da banda larga do assinante norte-americano é de 6 megabits por segundo (Mbps). Mas a velocidade real, efetiva, é de 3 Mbps. ‘Essa defasagem é um fenômeno mundial – diz Kirjner. A velocidade média, no entanto, deverá subir muito nos próximos anos.’

NOVO PARADIGMA

Carlos Kirjner relembra que, até há poucos anos, banda larga era um luxo. Hoje, por exemplo, a maioria das universidades só aceita matrículas e candidaturas de funcionários via internet. Das 500 maiores empresas da lista da revista Fortune, 87% só aceitam currículos online. ‘A exclusão digital aqui nos Estados Unidos está em vias de se tornar um problema social realmente grave. É para superar esse desafio que estamos elaborando o plano nacional de banda larga.’

Uma das prerrogativas mais positivas da FCC – avalia Kirjner – é a sua competência para fazer recomendações e sugestões para a atualização de leis e da própria regulação setorial, tanto ao Congresso como ao Poder Executivo. E, na opinião de diversos observadores, a Lei de Comunicações dos Estados Unidos, que é de 1996, já precisaria de alguns ajustes, diante de tantas transformações na tecnologia e no mercado.

Como é tradição americana, caberá ao mercado definir o que é melhor em matéria de tecnologia para os serviços de banda larga sem fio – se WiMax ou o celular 4G. Não cabe ao governo definir previamente que tecnologia será vencedora. As frequências são leiloadas sem nenhum vínculo a uma tecnologia determinada. E, nesse caso, tudo parece indicar que ambas as tecnologias irão convergir.

Vale lembrar que a FCC, como órgão regulador, cobre todas as modalidades de comunicações eletrônicas: telefonia, radiodifusão, TV por assinatura, TV via satélite, internet, conteúdos diversos, mídia e jornais. Não abrange, entretanto, a área dos correios, que tem agência própria.’

 

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