TELES
Michelly Chaves Teixeira
Acordo com credores aproxima Intelig da TIM
‘A solução de pendências judiciais envolvendo a Intelig pode abreviar a conclusão das negociações com a TIM, que já manifestou interesse na infraestrutura de rede da operadora de longa distância. Nesta semana, a Intelig, controlada pelo grupo Docas Investimentos, e os bancos UBS e Deutsche chegaram a um termo comum para encerrar disputas judiciais no Brasil e no exterior.
Com o acordo homologado na 38ª Vara Cível de São Paulo, cujos termos não foram revelados pelas partes, ficam extintas ações judiciais de execução que totalizavam aproximadamente US$ 260 milhões. Os passivos legais da Intelig constituem um dos principais empecilhos para os analistas estimarem o valor da empresa e, com isso, avaliarem o impacto do negócio sobre as ações da TIM.
As ações de execução que foram extintas – uma de US$ 17 milhões e outra de aproximadamente US$ 40 milhões – foram movidas por UBS e Deutsche, porque a Intelig não quitou empréstimos concedidos pelas instituições financeiras, os quais tinham ativos da operadora como garantia.
Os bancos também tinham se manifestado na Justiça contra a venda da Intelig para a Docas Investimentos, fechada em 2008, por entenderem na época que ‘a transferência do controle afetava o conteúdo da garantia ao empréstimo’, explicou o advogado Sergio Sobral, do escritório Castro, Barros, Sobral, Gomes Advogados, que atua em nome de UBS e Deutsche no caso. O acordo selado entre as partes também encerra a ação judicial referente à troca de controle da Intelig.
Segundo Sobral, a solução de uma controvérsia tão complexa em apenas um ano mostra que a Justiça brasileira reserva ‘proteção mais do que suficiente aos direitos dos credores’. Ele diz que o fato de a Justiça ter bloqueado, no início do quarto trimestre de 2008, os ativos financeiros da Intelig acelerou o processo. E reconhece, também, que as tratativas entre a operadora e a TIM podem agora ser finalizadas em um tempo menor.
A Intelig preferiu não destacar um porta-voz para comentar o caso, mas enviou nota na qual diz que ‘após um longo período de negociações, houve um consenso sobre o valor real da dívida remanescente que a operadora mantinha com os bancos credores UBS e Deutsche Bank’. No comunicado oficial, a empresa diz que ‘a conclusão dessas disputas representa um importante marco na história da Intelig Telecom, permitindo à empresa melhores condições financeiras para suportar o seu plano de crescimento’.
Presente no mercado de telecomunicações desde 2000, a Intelig foi comprada no início de 2008 pelo Grupo Docas, do empresário Nelson Tanure.’
LITERATURA
Ubiratan Brasil
‘Meu testemunho é impreciso’
‘A palavra sempre teve um peso valioso para a escritora Nélida Piñon – nenhum livro seu sai da gráfica sem um cuidadoso preparo. ‘Já cheguei a fazer nove versões de uma mesma história’, comenta Nélida, que utilizou o mesmo procedimento para Coração Andarilho, seu primeiro livro de memórias lançado agora pela Record (352 páginas, R$ 38).
Filha de uma brasileira e de um pai nascido na Galícia, ela descobriu o mundo (real e literário) quando viajou pela primeira vez para a Europa, aos 12 anos. ‘Isso me deu uma condição de dupla cultura, de ser mestiça, e me ajudou a enxergar o mundo’, conta Nélida, que estreou na literatura em 1961, com Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo. E, embora tenha colecionado amigos ilustres (Mario Vargas Llosa, Toni Morrison, entre outros) e prêmios (foi a primeira autora de língua portuguesa a vencer o Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras), Nélida dedica-se, em Coração Andarilho, às memórias de sua primeira infância, como o fato de ter nascido em casa e não em um hospital, onde a mãe temia não reconhecer a própria filha. E também dos avós galegos, que lhe ajudaram a expandir a visão de mundo. Memórias afetivas, despreocupadas com os fatos, como comenta na seguinte entrevista, realizada por telefone.
O que a levou a escrever essas memórias?
Eu sempre soube que chegaria o momento das memórias. Fui uma menina que muito cedo despertou para a literatura, uma vocação estranha, enigmática, uma paixão por algo aparentemente sem contorno. Convivendo com essa literatura, descobri os motivos de ela fazer parte da minha vida. Existe uma harmonia profunda entre quem sou e por que ela me tocou. Assim, eu queria esclarecer minha gênese e minha formação.
Mas por que esse desejo se manifestou agora?
Não, já faz muito tempo que penso nisso mas nos últimos dois anos ficou mais forte. Eu sabia que viria mas não sabia quando. De repente, larguei um romance ainda em produção (já escrevi 60 páginas de uma história forte, contundente) porque as lembranças foram chegando. Tenho material para até três livros de memória. Resta saber se vou querer publicá-los. E, nesses dois anos, sobretudo no último, o livro nasceu com uma força, com evocações muito extremadas.
Seus livros sempre recebem muitas versões. E com esse de memórias?
Também, porque o livro não nasce pronto: surge com um grande arcabouço, mas a linguagem que vai ser seu semblante vem com o trabalho. Só é preciso se preocupar com o afã, pois pode asfixiar a emoção do texto. Sempre digo que o crítico não mata um escritor, mas ele próprio se suicida ao esterilizar o texto, torná-lo artificial, liquidar o mínimo de melodramático que é fundamental para o campo da emoção. E nas memórias fiz muita revisão – a linguagem, que julgo bem elaborada, revela a emoção. Mas meu testemunho é impreciso, nascido dos meus desacertos.
O livro permitiu descobertas?
Sim, muitas. Uma delas foi descobrir a figura de meu pai, Lino. Eu não falava publicamente sobre ele enquanto vivo, apenas entre familiares. Mas o livro revela minha dor de perdê-lo. A cena do enterro é muito simbólica, pois representou uma espécie de carta de alforria. Eu tirei o privilégio dos homens da família de escolher o caixão do meu pai. Foi muito duro. A partir dali, com minha mãe abaladíssima, tive de assumir todas responsabilidades. Tanto que ela estranhou o fato de eu não ter chorado durante os dois primeiros anos após a morte dele. Até o dia em que escrevi uma grande carta para o meu pai, explicando minhas razões a ela. Eu precisava ser forte – afinal, não é fácil ser escritora, ser brasileira, sobreviver com dignidade e de acordo com aspirações maiores.
Como a experiência de ter quatro avós galegos enriqueceu sua vida?
Foi fundamental. Eu me tornei uma mulher cosmopolita, múltipla, arcaica (digo isso pois tenho 5 mil anos de história nas costas) depois da minha primeira viagem à Europa. Eu lia muito, mas meus limites eram o Rio de Janeiro e São Lourenço, pátrias da minha imaginação. Quando quebro esse paradigma geográfico, com minha mãe explicando que a Espanha não era um bairro do Rio, começo a ver que minha fatalidade histórica era atravessar o Atlântico e fazer o caminho contrário dos imigrantes. Com isso, a geografia se tornou fundamental na minha vida. Nenhuma paisagem é vazia para mim, mas impregnada de mitos, conceitos, história, transações, pecados, transtornos, crise. Assim, quando admiro alguma paisagem, sei que não estou vendo apenas uma imagem mas sabendo que há muito mais por detrás dessa visão. Toda analogia é possível e isso é importante para a poética do texto, assegurando uma liberdade criativa. A metáfora do cotidiano está ao meu alcance.
As viagens foram importante para sua aprendizagem de vida?
Sim, demais. Continuo viajando muito, mas hoje advogo a grandeza do cotidiano, da casa. Tenho convívio íntimo com os objetos, com a comida, com a sucessão dos fatos corriqueiros. Admiro o trivial da vida. Com isso, consigo ao menos administrar a vaidade. A literatura tem coerência com minha vida. Espero ter forças para continuar a criar sem medo.
Você carrega seus personagens para a vida real?
Não, separo os momentos. Meu cordão umbilical com a casa e com a vida não está cortado. Claro que prefiro escrever sozinha, mas não sou uma escritora augusta, aquela em que a vida tem de parar por estar impregnada pela grandeza da criação. Eu aceito as pausas da vida.’
TELEVISÃO
Patrícia Villalba
Acordo Ortográfico dá o tom no novo Soletrando
‘Jiboia sem acento agudo, tranquilo sem trema, e enjoos sem acento circunflexo vão dar o tom especial da terceira edição do quadro Soletrando, que estreia hoje, às 14h30, no Caldeirão do Huck, da Globo.
A competição entre 27 alunos de escolas públicas que representam os Estados brasileiros é um sucesso surpreendente, que combina jogo, o charme da Língua Portuguesa e histórias de superação, de grande apelo entre os telespectadores.
O vencedor será conhecido no dia 13 de junho, após nove eliminatórias e três semifinais. A primeira etapa foi gravada na semana passada, mas a complicada produção do quadro, que envolve 2.189 escolas e mais de 400 mil alunos, começou há oito meses. O vencedor recebe o Troféu Monteiro Lobato e uma bolsa de estudos de R$ 100 mil.
Ao Estado, o apresentador Luciano Huck diz que a intenção do quadro – inspirado na competição americana Spelling Bee – não é levantar bandeiras, mas divertir. E se essa diversão vier, inconscientemente, com a valorização do professor e do estudo, melhor ainda. ‘Neste ano, entre os competidores, estão dois meninos de 11 anos, que começaram a ver o quadro com 8 anos. Então, já tem uma geraçãozinha Soletrando, e isso é ótimo’, diz ele, que já vendeu mais de 150 mil unidades do jogo inspirado no programa.
Nesta entrevista, em seu escritório no Projac, o apresentador dá detalhes sobre a terceira edição do quadro, que tem como tema o Acordo Ortográfico.
Qual o seu envolvimento com os candidatos até o momento em que o jogo começa?
Nenhum, para ser o mais imparcial possível.
É curioso como os candidatos têm sempre uma boa história de vida, que faz do quadro mais do que uma competição.
Cara… Quando você joga a isca sabendo o que você quer, o que vem é sempre bom. Neste ano tem personagens incríveis: uma filha de pais analfabetos; uma outra, do Amazonas, que os pais são japoneses e não falam português. Ela agradece em japonês e ama a Língua Portuguesa.
A popularidade do quadro vem das histórias de superação ou do interesse pela Língua Portuguesa?
O Soletrando é uma mistura de um monte de coisas. Está no DNA do Caldeirão descobrir personagens, eu gosto de ouvir a história das pessoas. É muito interessante ver, num país onde o professor não é respeitado, crianças de 11 anos, nas situações mais adversas, que são leitoras vorazes. Daí, você mistura isso com a regionalidade, porque cada um tem um sotaque. O diferencial foi termos transformado isso num formato televisivo. É único no mundo.
Como o Acordo Ortográfico entrará no programa?
Levantamos a bandeira da reforma. A primeira rodada do jogo terá sempre palavras reformadas. E o professor Sergio Nogueira explica uma a uma.
E você, já está sabendo tudo sobre as mudanças?
Não… Só sei que estreia perdeu o acento.’
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