‘O diário americano The New York Times agradeceu ontem à jornalista Judith Miller, sua colunista, por ter preferido ir para a prisão a revelar à Justiça as fontes de uma informação confidencial, ‘agindo em nome da liberdade de imprensa e do direito de informar’. Miller foi detida na quarta-feira, por ordem da Justiça, por ter-se negado a dizer quem lhe revelou o nome de uma agente da Agência Central de Inteligência (CIA), Valerie Plame. Ela pode ficar na cadeia até outubro.
O inquérito federal foi instalado para averiguar se altos funcionários da Casa Branca cometeram crime quando vazaram ao colunista conservador Robert Novak, o nome de Valerie, em julho de 2003. Dias antes, o marido dela, o ex-embaixador Joseph Wilson, impugnara como falso um dos argumentos usados pelo presidente George W. Bush para justificar a invasão do Iraque.
Miller não escreveu sobre o caso e não é acusada de nenhum crime. Já o repórter Matthew Cooper, da revista Time, também estava ameaçado de cadeia pela mesma razão, concordou em revelar à Justiça o que sabe.’
CRISE POLÍTICA
Guilherme Evelin e João Domingos
‘Jefferson tem contas abertas, sessão vira guerra’, copyright O Estado de S. Paulo, 8/7/05
‘O homem-bomba continua a detonar crises nervosas. O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), mesmo ausente da reunião de ontem da CPI dos Correios, foi o personagem central de uma das sessões mais tumultuadas e constrangedoras da história do Congresso, em que o decoro foi esquecido e sobraram xingamentos, gritarias e conclamações à briga física entre deputados e senadores. A votação das quebras dos sigilos de Jefferson e uma carta redigida por ele, a pretexto de corrigir uma entrevista ao programa de Jô Soares na TV Globo, foram o estopim da baixaria parlamentar.
Na carta, Jefferson retificou declarações dadas na entrevista, em que colocara sob suspeita integrantes da CPI de também receber o mensalão.
Segundo o ex-presidente do PTB, ele queria na verdade se referir a membros do Conselho de Ética da Câmara, como os deputados Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos Rodrigues (PL-RJ), Sandro Mabel (PL-GO) e Pedro Henry (PP-MT). No último parágrafo da carta, Jefferson questionou, porém, ‘a isenção da senadora Ideli Salvatti, do PT, membro da mesma executiva a quem acuso de fazer o pagamento do citado mensalão por meio de Delúbio Soares, com conhecimento de José Genoino, Marcelo Sereno e Silvio Pereira, além do ministro José Dirceu’.
Segundo a assessoria de Jefferson, ao fazer a referência a Ideli, houve no texto uma troca do pronome relativo ‘que’ pelo ‘quem’. As acusações sobre o mensalão não eram dirigidas à senadora, mas à executiva do PT. Lida durante a sessão pelo presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), a carta provocou a ira de Ideli. Indignada também com Delcídio, rival nas disputas internas do PT, a senadora subiu nas tamancas. Deixou a sua cadeira e, dedo em riste, dirigiu-se à mesa da CPI para exigir uma resposta da comissão e uma acareação entre ela e Jefferson. ‘Santa Catarina é a terra de Anita Garibaldi (heroína da Revolução Farroupilha). Se ainda não apareceu um homem para enfrentá-lo, agora apareceu uma mulher’, desafiou.
A revolta da senadora incendiou, de uma vez, os ânimos de uma sessão que já vinha quente. Histérico, o senador Sibá Machado (PT-AC) tentou, aos berros, comandar uma retirada da bancada do PT da sessão da CPI em protesto contra a carta de Jefferson, mas não foi seguido nem pela própria vítima das novas investidas do acusador-geral da República.
‘Não, eu quero é que a CPI tome a decisão de me proteger’, recusou Ideli. Por sugestão do deputado Maurício Rands (PT-PE), prevaleceu a decisão de envio da carta ao Conselho de Ética para compor o dossiê contra o ex-presidente do PTB. Questionado por Ideli, Delcídio deu o troco ao falar antes da abertura do depoimento da secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio. Culpou a bancada do PT pelo tumulto da sessão por causa da decisão ‘extemporânea’ de quebrar os sigilos de Jefferson, proposta em requerimento por Ideli.
‘Eu lutei contra esse requerimento porque ele foi apresentado fora do tempo, mas perdi. Seguindo um acordo da comissão, tive de colocá-lo em votação’, disse. A quebra do sigilo de Jefferson fora tomada em represália às declarações do deputado a Jô Soares. Para apoiar o requerimento de Ideli, a oposição passou a exigir a quebra dos sigilos do deputado José Dirceu (SP), do presidente do PT, José Genoino, do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do ex-secretário-geral Silvio Pereira.
A ação dos oposicionistas provocou revide do deputado Jorge Bittar (PT-RJ). A sessão ainda teve troca de ataques de colegas de partidos, entre deputados do PFL. ‘Isso virou um circo’, definiu deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).’
Folha de S. Paulo
‘Karina nega ter sido paga por entrevista’, copyright Folha de S. Paulo, 8/7/05
‘A secretária Fernanda Karina Somaggio negou ontem que tenha recebido dinheiro da revista ‘IstoÉ Dinheiro’ para conceder entrevista atacando o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, seu ex-chefe.
Ela disse que o jornalista Gilberto Mansur avisava o Valério de matérias que seriam publicadas.
Ao tentar desqualificar as acusações de sua ex-secretária, o publicitário disse à CPI que o repórter Leonardo Attuch, da ‘IstoÉ Dinheiro’, havia oferecido dinheiro a ela. O relato teria sido feito pela própria Karina a outra secretária, Adriana Fantine.
A secretária afirmou que o repórter da ‘IstoÉ Dinheiro’ não disse a ela que estava fazendo uma entrevista, que era somente uma investigação sobre seu chefe e que não teria gravado a conversa. Mesmo assim, a secretária aceitou tirar fotos para a revista. A revista afirma que a entrevista foi gravada e a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) apresentou um requerimento solicitando a gravação.
Ainda de acordo com a secretária, a revista em nenhum momento pediu autorização para publicar a entrevista.
Karina disse que um repórter, que não sabe o nome, ofereceu dinheiro a ela, mas que não era Attuch e nem da ‘Isto É Dinheiro’.
Karina disse ainda que Mansur era amigo de Cristiano Paz, sócio do publicitário, e conversava com Marcos Valério.
Nos saques da SMPB no Banco Rural o jornalista aparece como beneficiário de R$ 300 mil. Mansur agendou uma reunião de Valério com a direção da ‘Isto É’ e, em um primeiro momento, teria conseguido que a entrevista da ex-secretária não fosse publicada.’
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‘Sob suspeita, Gushiken perde força e deve deixar o governo’, copyright Folha de S. Paulo, 8/7/05
‘O ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica) colocou anteontem o cargo à disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em conversa na Granja do Torto.
Segundo assessores de sua pasta, Gushiken fez ontem uma reunião com auxiliares para dizer que sairia do governo. Em outras conversas, o ministro disse que a decisão está nas mãos de Lula. Se depender da vontade de familiares, ele deixará o cargo.
Foi um desgastado Gushiken quem tomou a iniciativa de pedir a reunião com Lula. Disse estar debaixo de um bombardeio, devido a reportagens a respeito de uma empresa da qual foi sócio (Globalprev, que assistiu a um salto no faturamento desde que o ex-associado migrou para Brasília), do aumento da publicidade da revista de um cunhado e de sua influência em fundos de pensão.
Afirmou ainda que, na hora em que Lula faz uma reforma em resposta à crise política, não quer ser gerador de fatos negativos.
Confiança
O ministro disse a Lula que nunca influenciou eventuais contratos de sua ex-empresa com entidades públicas ou privadas e que não teve responsabilidade no aumento de publicidade na revista de um cunhado. Já sua influência em fundos de pensão é um fato.
O presidente reiterou a confiança no ministro. Ambos avaliaram que o banqueiro Daniel Dantas, cujos interesses em fundos de pensão foram combatidos por Gushiken, estaria alimentando um lobby no Senado para enfraquecê-lo e rearticular seus interesses com o governo.
Na conversa, foram apontados como aliados de Dantas os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), César Borges (PFL-BA) e Heráclito Fortes (PFL-PI).
Desde a campanha de 2002, Gushiken barra o contato de Dantas com a cúpula do governo. Ele também minou o poder do banqueiro em fundos de pensão. Dantas fez pontes com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, dinamitadas por Gushiken.
Gushiken chegou a ser espionado por uma empresa (a Kroll), por orientação do Banco Opportunity, de Dantas.
Se se confirmar a saída, Lula perderá outro influente ministro após o afastamento de Dirceu da Casa Civil. Ao lado de Dirceu e do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, Gushiken é um poderoso auxiliar de Lula desde a campanha de 2002.
Nas discussões do governo, quase sempre se alinhou a Palocci -os dois foram trotsquistas e radicais do PT nos primórdios do partido. Teve choques de bastidor com Dirceu.
No início do governo Lula, os três (Gushiken, Dirceu e Palocci) integravam o chamado ‘núcleo duro’ do governo, ouvido por Lula para a tomada de decisões.
Amigo do presidente, Gushiken é um dos poucos auxiliares que têm conversas francas com Lula, nas quais deixa claro eventuais discordâncias.’
Fernando Rodrigues
‘Ex-diretor da Secom vira diretor da SMPB’, copyright Folha de S. Paulo, 8/7/05
‘Um ex-assessor do ministro Luiz Gushiken foi contratado em 2004 para ser diretor nacional de mídia da SMPB, agência de publicidade que tem como um de seus sócios Marcos Valério de Souza, acusado de ser um dos operadores do suposto ‘mensalão’.
O publicitário Alarico Naves Assumpção, 32, de Uberlândia (MG), foi contratado como assessor da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República) em 15 de agosto de 2003, segundo o ‘Diário Oficial’ da União. Foi alocado na diretoria de mídia. Sua exoneração, assinada por Gushiken ‘a pedido’, foi publicada em 30 de junho de 2004. A partir daí, ingressou na SMPB.
A diretoria de mídia da Secom é um dos organismos mais poderosos dessa pasta. É ali que são supervisionadas todas as campanhas publicitárias do governo federal, tanto da administração direta como da indireta. Essa diretoria também coordena o comitê de negociação de preços de veiculação de anúncios com os grandes órgãos de comunicação.
A administração de Luiz Inácio Lula da Silva gastou R$ 867,1 milhões no ano passado com propaganda. Se forem somados os custos de produção, patrocínio e publicidade legal (balanços, editais etc.), o valor sobe para algo em torno de R$ 1,2 bilhão a R$ 1,3 bilhão -o número exato não é divulgado, apesar de a Folha ter solicitado a informação à Secom desde o início do governo.
Alarico Naves Assumpção foi por quase um ano um dos quatro assessores da diretoria de mídia da Secom e tratou da coordenação de campanhas estatais federais. Na SMPB, foi fazer a mesma coisa que fazia na Secom.
Passagem pela DNA
O grupo de mídia de uma empresa estatal é sempre formado por profissionais contratados pelas agências licitadas -em geral, três. Enquanto esteve no Banco do Brasil, de 1998 a 2003, Alarico Naves Assumpção teve seu salário pago por duas agências. Primeiro, a Master, empresa conhecida de Curitiba (PR). Depois, pela DNA -outra agência que tem em seu quadro societário o empresário Marcos Valério de Souza.
Algumas dessas informações passaram a circular por Brasília nesta semana, dentro do âmbito da CPI dos Correios. Parte dos dados, entretanto, foram fornecidos pelo próprio Alarico à Folha. O publicitário se diz ‘perfeitamente tranqüilo’, pois afirma nem ter conhecido Marcos Valério.
A rigor, não há irregularidade no fato de um profissional do mercado publicitário entrar para o governo, e, em seguida, voltar ao mercado. O que chama a atenção nesse caso é a coincidência de Alarico ter trabalhado recebendo salário de uma agência de Marcos Valério (a DNA), depois ter passado pela Secom, e, agora, estar novamente em uma empresa (a SMPB) do empresário que é o pivô do escândalo do ‘mensalão’.
No dia 16 de junho, a Folha já havia revelado outro fato correlato. Telma dos Reis Menezes Silva, mulher do diretor de eventos da Secom, atua em Brasília defendendo interesses de Marcos Valério em contratos com órgãos públicos e empresas privadas.
Ela é publicitária e casada com Marco Antônio da Silva. É ‘contato’ da Multi Action Entretenimentos -a empresa pertence a Marcos Valério. O diretor da Secom disse não haver conflito de interesse entre sua função no governo e o trabalho de sua mulher.’