Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

O Globo

‘Somente quando Kerry reconheceu a derrota, imprensa chamou Bush de presidente reeleito

A imprensa brasileira espelhou a cautela com que a mídia americana tratou a apuração das eleições. Apenas por volta das 14h (hora de Brasília), quando John Kerry reconheceu a derrota, as versões on-line dos grandes jornais do país deram George W. Bush como vitorioso. ‘Kerry reconhece: Bush reeleito’ disse o ‘Globo Online’ que, no entanto, ao meio-dia já anunciava a provável vitória do atual presidente, tendo como fonte a Casa Branca.

Às 12h, a ‘Folha Online’ ainda via alguma chance para Kerry, informando que o democrata acreditava numa ‘virada em Ohio’. Às 14h38m, o site noticiou: ‘Por telefone, Kerry assume derrota a Bush’. Às14h, a versão online do ‘Estado de São Paulo’ anunciava o telefonema: ‘Kerry telefona para Bush e aceita a derrota’.

Os jornais impressos saíram com edições iniciais cautelosas, mas, devido ao horário, baseadas na primeira pesquisa que correu o mundo, da Zogby. O GLOBO registrou nesta versão (‘Votação em massa anima Kerry’) o otimismo que àquela altura tomava conta da campanha democrata. E nem em sua versão principal, fechada às 2h, baseada em projeções e ainda sem resultados seguros, pôde bancar a eleição de Bush: ‘Voto em massa acirra a disputa’, dizia a manchete do GLOBO.

O ‘Estado de S. Paulo’ publicou manchete inicial semelhante, repercutindo a pesquisa: ‘Boca-de-urna aposta em Kerry’. Mais tarde, com a evolução da apuração, o jornal atualizou o título: ‘Bush x Kerry: batalha dramática’. A ‘Folha de S. Paulo’ também fez duas edições, abordou a votação em massa (‘EUA têm recorde de eleitores e filas’) e da mesma forma não pôde dar a projeção de vitória de Bush na edição final.

Os blogues jornalísticos brasileiros também acompanharam o desenrolar dos acontecimentos. O do jornalista Ricardo Noblat, por exemplo, às 21h12m de anteontem, influenciado pelas pesquisas, afirmava: ‘Kerry está chegando lá’. Antes, publicara: ‘Bolsa cai porque Kerry pode ganhar’. Às 2h44m, percebendo que o democrata perdera a Flórida, reconheceu: ‘Bush ganhou’.’



Folha de S. Paulo

‘Não cortem as veias, pede Michael Moore a americanos após eleição’, copyright Folha de S. Paulo, 6/11/04

‘O cineasta Michael Moore divulgou ontem mensagem em seu site comentando a reeleição de George W. Bush. O texto do maior ícone da oposição a Bush traz ‘17 razões para não cortar os pulsos’.

Entre os motivos listados estão: a lei proíbe Bush de disputar a Presidência novamente; a única faixa etária em que a maioria votou por Kerry foi a de jovens adultos, ‘o que prova mais uma vez que seus pais estão sempre errados e que suas opiniões não devem ser ouvidas’.

Mas há quem seja otimista em relação ao segundo mandato. O premiê britânico, Tony Blair, companheiro de Bush na coalizão que invadiu o Iraque, disse que o presidente pretende agora recuperar as relações com a Europa, estremecidas após a ação militar.

‘Acredito que ele queira fazer isso. Ele o dirá a seu modo e no devido momento’, disse Blair.

O premiê disse que algumas pessoas na Europa estavam em ‘estado de negação’ quanto à vitória de Bush. ‘A eleição já aconteceu, a América já falou e o resto do mundo deveria escutar’, disse Blair, que, contudo, acrescentou: ‘É importante que a América ouça o resto do mundo também’.

Em Bruxelas (Bélgica), no término de uma cúpula da União Européia, os líderes dos 25 países-membros divulgaram ontem uma nota em que manifestam a intenção de uma cooperação renovada com os EUA. ‘A União Européia anseia por trabalhar com o presidente Bush para combinar esforços, incluindo em instituições multilaterais, para promover o império da lei e criar um mundo justo, democrático e seguro’, diz o documento.

Já o presidente francês, Jacques Chirac, apesar de também manifestar o desejo de conciliação, salientou que é imperativo que a Europa se fortaleça, de modo a deixar o mundo ‘multipolar’. Com agências internacionais’



O Estado de S. Paulo

‘Pela internet, Moore ironiza a vitória de arquiinimigo’, copyright O Estado de S. Paulo, 6/11/04

‘O cineasta americano Michael Moore reagiu com um texto irônico em sua página na internet à reeleição do presidente George W. Bush. O criador do filme anti-Bush Fahrenheit 11 de Setembro, que dias antes da votação ficou em silêncio, apresentou ‘17 razões para as pessoas não cortarem os pulsos’.

Segundo ele, a razão principal é que, após um segundo mandato de quatro anos, Bush não pode candidatar-se novamente.

Entre os seguintes 16 motivos, Moore destaca por exemplo que o apoio ao presidente republicano foi dado por 58% dos eleitores brancos. ‘Em 50 anos já não haverá uma maioria branca. Cinqüenta anos não é tanto tempo.’

Ele também diz que a reeleição traz uma vantagem: ‘Adoramos as filhas gêmeas de Bush e não queremos que desapareçam.’

Moore também recorre à ironia ao analisar o fato de que paralelamente às eleições em 11 Estados a maioria dos eleitores rejeitou o casamento entre homossexuais. ‘Graças a Deus. Pensem em todos os presentes de casamento que não teremos mais de comprar.’

Moore destaca que o triunfo de Bush foi supostamente o mais apertado de um presidente em funções desde o de Woodrow Wilson em 1916.

Já que nos EUA há cerca de 200 milhões de pessoas com direito ao voto, 3,5 milhões de votos a mais para Bush não podem ser considerados um triunfo arrasador, argumentou o cineasta.’

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‘‘Como podem 59 milhões serem tão estúpidos?’, pergunta jornal’, copyright O Estado de S. Paulo, 5/11/04

‘‘Como podem 59.054.087 pessoas serem tão estúpidas?’ questionou o tablóide britânico Daily Mirror, referindo-se ao número de americanos que votaram em George W. Bush na terça-feira. O também britânico The Independent publica em sua capa a manchete ‘Mais quatro anos’, em letras garrafais e palavras espalhadas entre fotos com cenas da guerra do Iraque, dos abusos na prisão de Abu Ghraib e de ataques a aldeias civis no Afeganistão. ‘Oh, my God!’ (Oh, meu Deus!), manchetou The Guardian. ‘E agora, mais quatro anos’, conformava-se nas páginas internas.

Na França, o Le Monde, em editorial, perguntava ‘Por quê?’, especulando que, além das questões de segurança, a causa da vitória de Bush, principalmente em Ohio, talvez fosse explicada pelo fato de o ‘o Partido Democrata ter perdido contato com as classes trabalhadoras’.

‘Oops. Eles fizeram isso outra vez’, era a manchete do diário alemão Tageszeitung. Na Espanha, o jornal El Mundo publicou uma charge na qual Osama bin Laden levantava o braço de um vitorioso Bush. ‘O impacto do 11 de Setembro, o temor do terrorismo e a expectativa de uma liderança forte prevaleceram sobre o desejo de mudança porque a maioria dos americanos prefere respostas simples para problemas complexos’, analisou El Mundo em editorial.

Na Austrália, The Sydney Morning Herald destacou: ‘A verdadeira era Bush começa agora’, destacando que Washington deve intensificar seu unilateralismo e radicalizar reformas econômicas internas complexas, como a privatização da previdência social.

Na segunda-feira, um dia antes das eleições nos EUA, o diário do Partido Comunista Chinês China Daily havia publicado um artigo do ex-chanceler Qian Qichen, acusando Bush de governar pela força e ter causado o aumento da ameaça terrorista no mundo. Ontem, o jornal trazia uma mensagem do presidente Hu Jintao felicitando o presidente americano pela reeleição. (Reuters)’

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‘O que deu errado com as projeções’, copyright O Estado de S. Paulo, 4/11/04

‘Na tarde de terça-feira, o resultado parecia claro. As pesquisas de boca-de-urna divulgadas pelas redes de TV indicavam que o senador John Kerry havia vencido em cada Estado-chave em disputa após oito meses de dura campanha. Aparentemente, o presidente George W. Bush teria apenas um mandato, como seu pai.

Mas, pouco antes dos noticiários vespertinos os assessores de campanha de Bush tinham advertido os repórteres e produtores: não acreditem em tudo o que vêem.

Então começaram horas de uma longa batalha de posições nas quais os assessores do presidente trabalharam furiosamente por trás dos cenários, e às vezes no ar, para impedir que as redes se pronunciassem com base nas informações de boca-de-urna. Os assessores de Kerry trabalharam para sustentar essas pesquisas. E as redes esforçaram-se para proclamar o vencedor tão rápido quanto possível sem cometer erros.

Todos os lados têm recentes lembranças de 2000, quando pesquisas de boca-de-urna erradas e tabulações de votos na Flórida levaram as redes a anunciar a vitória para Al Gore, depois para Bush, e então para ambos. Os assessores de Bush disseram que os anúncios apressados reduziram seus votos na Flórida, enquanto Gore disse que eles o levaram à recontagem como se ele já fosse um perdedor.

Mas o Pool de Eleição Nacional – o novo sistema de projeção de votos que está sendo usado pelas redes de TV e pela agência Associated Press, ao qual dezenas de grandes organizações de notícias estão subscritos, entre elas The New York Times – estava indicando que a precaução era talvez desnecessária.

Várias séries de pesquisas de boca-de-urna sobre o voto nacional e popular mostraram Kerry batendo Bush por 2 a 3 pontos porcentuais. Pesquisas anteriores nos Estados mostraram Kerry vencendo Bush na Pensilvânia e Ohio. E duas entre três pesquisas realizadas entre pessoas deixando os centros de votação na Flórida indicaram que ele também estava vencendo lá. (A terceira pesquisa mostrava os dois empatados.)

Em resumo, Kerry parecia estar perto da vitória nos três Estados que poderiam ter grande influência sobre a eleição.

Com base nessas pesquisas, havia uma sensação nos corredores do Canal Fox News de que a disputa poderia estar encerrada antes da meia-noite a favor de Kerry.

Na NBC, Brian Williams, correspondente e âncora do programa NBC Nightly News, disse: ‘As pessoas estavam pensando que deveriam ter feito reservas para ir a Boston amanhã.’

Enquanto o tom da cobertura das redes fez pouco para denunciar as informações internas, algumas pistas vazadas cedo indicavam que a noite poderia ser de Kerry. ‘Os democratas estão confiantes, os republicanos parecem um pouco apreensivos’, disse George Stephanopoulos, âncora do programa This Week, da ABC News.

E, no que poderia ter sido um deslize freudiano, Martha MacCallum, uma das apresentadoras da Fox News referiu-se a Kerry como ‘presidente Kerry’, logo após as 20h30.

Esses tipos de comentários e deslizes não passaram despercebidos nos centros de campanha de Bush, onde os assessores acreditavam que as pesquisas – particularmente na Flórida – não refletiam a realidade. ‘Elas eram realmente diferentes do que estávamos vendo e tornaram-se uma fonte para a cobertura vespertina baseada em um modelo defeituoso’, disse Nicolle Devenish, diretora de comunicações da campanha de Bush. ‘O mote que se seguiu foi ‘Equipe de Bush apreensiva; equipe de Kerry eufórica’. Essa cobertura foi baseada em uma falsidade.’

Preocupados com que o tom – e a divulgação da pesquisa de boca-de-urna na internet – pudesse afetar a votação na Costa Oeste, a equipe de Bush continuou com seu trabalho.

‘As pessoas na Costa oeste estavam vendo o que estava acontecendo na Costa Leste’, disse Devenish.

Os assessores de Bush tinham algumas evidências para respaldar suas alegações. As pesquisas de boca-de-urna nacionais estavam mostrando muito mais mulheres votando do que homens – uma anomalia que não parecia fazer sentido.

‘Ou a pesquisa está errada ou os dados demográficos do eleitorado mudaram drasticamente’, disse Mark McKinnon, estrategista de Bush.

Um funcionário do Pool Nacional Eleitoral, que falou sob anonimato, disse que muitas mulheres foram representadas na pesquisa de boca-de-urna nacional, eleitores que tendem a votar nos democratas. Mas, segundo ele, o mesmo problema não apareceu nas pesquisas estaduais, que eram muito mais importantes e indicavam que Kerry estava na frente. Produtores e três grandes organizações de notícias disseram ter chegado à mesma conclusão.

Mas, após o fechamento das urnas, os assessores de Bush disseram ter notado mais anomalias.

Todas as redes hesitaram em noticiar a vitória de Bush em Virginia e Carolina do Sul em parte porque as pesquisas mostravam que Kerry estava na frente dele em Virginia por um ponto e estava em seus calcanhares na Carolina do Sul, segundo Matthew Dowd, estrategista-chefe da campanha de Bush.’

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‘Talese vota pela 1.ª vez, Moore agita…’, copyright O Estado de S. Paulo, 4/11/04

‘Levou mais de 50 anos, mas o escritor e jornalista Gay Talese finalmente votou. O cronista do cotidiano de Nova York, de 72 anos, disse ter-se registrado recentemente para votar pela primeira vez na vida porque apóia o candidato democrata John Kerry.

‘O país está em declínio… Nós temos de ter uma mudança de direção’, disse Talese, explicando por que ele finalmente decidiu participar do processo político.

Mais conhecido por seus livros, O reino e o poder, sobre seus anos como repórter do New York Times, e Honor Thy Father, sobre a família de mafiosos Bonanno, Talese disse que nunca antes sentiu necessidade de votar. Ele não estava impressionado pela escolha dos candidatos, muitos dos quais achou vulgares e sem princípios.

A falta de familiaridade de Talese com o voto foi revelada durante um painel de discussão realizado no domingo em Manhattan. Sua participação pegou de surpresa os debatedores e o público de cerca de 250 pessoas. ‘Bem vindo à cidadania – já era hora’, exclamou o editor do New York Times, Arthur O. Sulzberger Jr, antes de cumprimentar Talese.

Celebridades

Outra personalidade que se empenhou pela vitória de Kerry, o cineasta Michael Moore, diretor de Fahrenheit 11 de Setembro, participou ativamente da supervisão da votação em Talahassee, na Flórida, palco da disputa decisiva na eleição que levou George W. Bush à Casa Branca em 2000.

O ex-ator e atual governador republicano da Califórnia Arnold Schwarzenegger, esperou com sua mulher, Maria Shriver, na fila para votar em Los Angeles. Nesse Estado os eleitores responderam a 15 outras questões, em temas como financiamento a pesquisas com células-tronco ou mudanças no seguro saúde.

Também ficou na fila o cantor de rap Sean P. Diddy Combs, que votou numa escola em Nova York. Combs atua numa entidade não lucrativa que busca educar e motivar os eleitores entre 18 e 30 anos a participar do processo eleitoral.

O ex-presidente democrata Bill Clinton e sua mulher, a senadora Hillary Clinton, votaram em Chappaqua, no Estado de Nova York. Newsday, Associated Press, France Presse’