Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O terrorismo chegou ao Brasil?


Leia abaixo os textos desta quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas


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O Globo


TERROR NO RIO
Merval Pereira


A sociedade ameaçada


‘A interferência do presidente Lula no debate sobre os atentados que vêm acontecendo no Rio nos últimos dias, definindo-os como atos de terrorismo e sugerindo até mesmo uma legislação mais rigorosa para combatê-lo, deu uma nova dimensão à atitude dos governantes diante de um problema que já assola o país há muito tempo e que até agora tentava-se minimizar como um problema restrito a certos estados, como Rio e São Paulo.


O prefeito do Rio, Cesar Maia, porém, enxerga nessa oficialização da existência do terrorismo um desserviço de Lula, que teria colocado o Brasil no roteiro internacional do terrorismo, quando a ausência dele era um diferencial a favor do país nas disputas para sediar eventos políticos e esportivos do porte do Pan do próximo ano ou a Copa do Mundo de 2014.


Reabre assim o prefeito do Rio a discussão sobre as características dos atentados no Rio, como se a definição de terrorismo atraísse mais prejuízos à cidade e ao país do que os próprios acontecimentos. Sua intenção é claramente política, e se poderia dizer até mesmo que, com boa intenção, pretende com isso não prejudicar ainda mais a percepção internacional da cidade e do país.


Eu mesmo tive essa reação inicialmente, para tirar dos atos criminosos qualquer tipo de cunho politico que os pudesse justificar. Quando, em 2005, houve a chacina de 30 pessoas na Baixada Fluminense, eu classifiquei o ato de terrorismo. Escrevi então: ‘Se a situação que estávamos vivendo era comparável a uma guerra civil não declarada, agora passamos a um estágio mais avançado da barbárie, com o uso do terrorismo por parte dos que deveriam cuidar de nossa segurança.(…) Desta vez, chegamos ao paroxismo, o terror puro e simples instalou-se como tática de ação dos policiais que enfrentam a ação repressora do Estado, na figura do comandante do 15º Batalhão, de Duque de Caxias, tenente-coronel Paulo Cesar Ferreira Lopes’.


Como a ação era de policiais, que deveriam ser os guardiões do Estado, contra o próprio Estado, considerei que a definição de terrorismo era adequada naquela ocasião, e relembrei que o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, se empenhava para que fosse aprovada uma definição oficial de terrorismo que tivesse ‘uma força moral clara’.


A partir desse empenho, passou a ser entendido como ato terrorista ‘qualquer ação que tencione provocar a morte ou causar sérios ferimentos a civis ou não-combatentes, com o propósito de intimidar a população ou compelir um governo ou uma organização internacional a fazer ou a se abster de fazer qualquer ato’.


A disputa de gangues por seus espaços no crime organizado não me parece que possa ser chamada de terrorismo, mas se os atos no Rio contra representações oficiais de segurança pública – delegacias, postos de bombeiros, cabines de PM – foram ataques de criminosos que identificam no aparato legal o ponto de apoio às milícias que vêm dominando as favelas e as comunidades carentes, delas expulsando os traficantes de droga, antes de termos atos de terrorismo, temos uma subversão total da ordem pública, com as forças de segurança dando apoio a milícias clandestinas. De qualquer maneira, o fato de o presidente Lula ter assumido tão ostensivamente a frente do combate ao que chamou de terrorismo é um momento importante, que tem consequências lógicas irreversíveis.


Mais uma vez vou me utilizar de um comentário especial para refletir o imenso interesse que esse debate vem despertando entre os leitores da coluna. O jornalista Alberto Dines, no seu Observatório da Imprensa, ressalta que a afirmação ‘é inédita, ousada’. E destaca que ‘o problema não é semântico, é político. Combater o terrorismo é atributo do Estado brasileiro. Terrorismo é ameaça à segurança nacional. O governo terá que agir – e agir com energia – mesmo que a opção tenha sido anunciada num arroubo oratório’. Dines concorda com a definição de terrorismo, pois para ele ‘o banditismo é uma forma de luta ostensiva contra o poder do Estado e contra os paradigmas do estado de direito. É, pois, uma ação política inequívoca, mesmo que expressa sem palavras ou manifestos, apenas através da brutalidade’.


Dines ironiza a situação que fez o presidente Lula tomar uma posição a partir de um debate iniciado pela imprensa, através desta coluna, a mesma imprensa que ele desdenha ao dizer que tentou monopolizar a opinião pública contra ele e a ‘verdadeira’ opinião pública se manifestou nas urnas a seu favor.


Além da mudança de atitude do governo federal, também o novo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, assumiu pedindo ajuda da Força Nacional de Segurança e das próprias Forças Armadas, num sinal de que, pelo menos por enquanto, não teremos empecilhos políticos para o combate efetivo ao tráfico de drogas e de armas, seja ele considerado terrorismo ou não.


Mesmo que não seja necessária uma nova legislação para combater o crime organizado, como apontam diversos especialistas, será preciso que a famosa ‘vontade política’ faça com que as leis já existentes sejam aplicadas. O Poder Judiciário, que se pronunciou contra


mudanças na legislação através do ministro Marco Aurélio de Mello, tem que assumir sua parte nesse combate, tornando a lei dos crimes hediondos mais eficaz, inclusive aumentando a aplicação sua pena máxima, e não se limitando a pequenos ajustes.


Um conjunto de situações que envolvem desde o sistema bancário e a lavagem de dinheiro, à atuação dos advogados e a leniência com os presos, permite que a situação de desmando chegue aonde chegou. É a sociedade brasileira como um todo, através de suas instituições, que está sendo ameaçada pelo crime organizado, e tem que reagir em conjunto.’


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Folha de S. Paulo


SADDAM EXECUTADO
Carlos Heitor Cony


Saddam e a forca


‘Com exceção dos Estados Unidos e da Inglaterra, paladinos da civilização ocidental, parece que todos os outros países condenaram a execução de Saddam Hussein, no último dia do ano que passou.


Pessoalmente sou contrário à pena de morte, mas há que se respeitar as leis de um país que atualmente é mais ou menos soberano, como o Iraque. Ali há pena de morte para os criminosos. Saddam Hussein foi um criminoso.


Não fiquei chocado com o enforcamento dele, mas pela maneira como foi executado, diante de testemunhas, carrascos e câmeras de televisão. A mídia internacional se cevou com a transcrição dos diálogos entre Saddam e seus algozes. Houve xingamento de parte a parte, expressões de ódio que mutilaram a solene austeridade de uma execução civilizada -embora na minha opinião nenhuma execução mereça a classificação de civilizada.


Por pior que tenha sido -e Saddam foi pior em vários sentidos-, ele merecia o respeito a que qualquer condenado tem direito. Seus inimigos dentro e fora do Iraque já o haviam linchado moralmente, além de o terem submetido a um julgamento polêmico.


Não podia ser absolvido, como na realidade não foi. A partir do momento em que a Justiça local o condenou a morte, ele tinha direito ao respeito que se deve àqueles que vão ser executados. Há mesmo um ritual, que inclui a assistência religiosa, a última refeição, o último trago de uma bebida, o último cigarro, a venda nos olhos ou o capuz, no caso dos enforcados.


No caso de Saddam, ele recusou o capuz, mas não se recusou a insultar aqueles que o insultavam no momento mesmo de sua morte. Um espetáculo bárbaro, um rito medieval e uma agressão violenta à sensibilidade de um mundo civilizado.


 


Folha de S. Paulo


Suspeito de ter gravado execução é preso


‘Um guarda suspeito de ter gravado clandestinamente a execução do ditador Saddam Hussein foi detido, anunciou ontem o governo do Iraque. As imagens, que mostraram a humilhação de Saddam por seus algozes, causaram revolta entre os iraquianos do ramo sunita, o mesmo do ditador.


A detenção ocorreu um dia após autoridades iraquianas anunciarem a investigação das gravações não-autorizadas do enforcamento do ditador, feitas aparentemente com celular. O filme oficial, divulgado pelo governo, pára antes do enforcamento e não tem som.


De acordo com o assessor de Segurança Nacional iraquiano, Mouwafak Rubaei, o suspeito -que não teve sua identidade revelada- também é acusado de vazar as imagens para os meios de comunicação.


O procurador-geral do Alto Tribunal Penal iraquiano, Munqeth Farun, afirmou que só havia duas testemunhas com celulares no momento da execução e que ‘eram altos funcionários do governo’. Farun, porém, não quis identificá-los.


Autoridades iraquianas disseram que os autores dos insultos proferidos contra Saddam pouco antes do enforcamento também estão sendo investigados. Saddam foi enforcado no dia 30 de dezembro pela morte de 148 xiitas, em 1982.


Ontem, o general William Caldwell, porta-voz do Exército norte-americano, criticou a maneira como a execução foi conduzida. ‘Se nós fôssemos fisicamente responsáveis naquele momento, teríamos feito as coisas de outra maneira’, disse.


Os outros dois condenados pela morte dos 140 xiitas-o ex-chefe da Inteligência e meio-irmão de Saddam, Barzan Ibrahim, e Awad Hamed Bandar, ex-chefe da Corte Revolucionária da ditadura- devem ser enforcados em breve, segundo informações oficiais. Uma autoridade iraquiana disse à Associated Press que a execução dos dois ocorreria hoje.


Ibrahim e Bandar deveriam ter sido mortos no sábado, junto com Saddam. As execuções, porém, foram adiadas para que Saddam fosse ‘executado em um dia especial’, de acordo com Rubaie.


Ontem, a alta comissária para os Direitos Humanos da ONU, Louise Arbour, disse que pediu ao presidente iraquiano, Jalal Talabani, que impedisse a execução dos condenados. ‘As preocupações que eu mostrei, há somente alguns dias, a respeito da justiça e imparcialidade do julgamento de Saddam podem ser aplicadas também no caso desses dois réus.’


Arbour já havia pedido a comutação da pena de morte contra Saddam, sem sucesso.


Um vídeo com imagens de cinco pessoas seqüestradas em novembro no Iraque -quatro americanos e um austríaco- foi entregue ontem à Associated Press. Nas imagens, feitas há cerca de duas semanas, um americano afirma que não será solto ‘até que os prisioneiros das prisões americanas e britânicas sejam liberados’.


Também ontem, o presidente norte-americano, George W. Bush, confirmou que anunciará em breve uma nova estratégia para a guerra.


Com agências internacionais’


 


POLÍTICA CULTURAL
Rafael Cariello


Exibidor e produtora criticam cota de tela para 2007


‘O presidente da Abraplex (Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Operadoras de Multiplex), Valmir Fernandes, criticou a nova cota de tela válida para 2007, tratou-a como um ‘contra-senso’ e disse que a associação estudaria a possibilidade de medidas judiciais contra a determinação do governo.


A ‘cota de tela’ determina o número de dias de exibição obrigatória de filmes nacionais nos cinemas, é definida a cada novo ano pelo governo, e, para 2007, aumentou a obrigatoriedade de dias de produções brasileiras em grandes complexos (acima de nove salas), enquanto diminuiu a cota em cinemas com até quatro salas.


Cinemas de apenas uma sala, que no ano passado eram obrigados a exibir pelo menos 35 dias de filme nacional por ano, em 2007 só serão obrigados a passar filmes brasileiros por 28 dias. A diminuição vale também para os de duas, três e quatro salas (de 84 para 70 dias; de 147 para 126; de 224 para 196).


A produtora Sara Silveira, de filmes como ‘Dois Córregos’ e ‘Cinema, Aspirina e Urubus’, diz que o cinema nacional ‘vai sofrer um pouquinho mais’ com a decisão de diminuir a obrigatoriedade de dias nos complexos menores.


‘Os com menores números de salas são os que mais nos acomodam’, diz a produtora. ‘A gente perde um pouco, sim.’


Já a crítica de Fernandes, representante dos que sofreram com as modificações para os complexos com mais de nove salas, é mais incisiva. ‘O decreto é injusto e insensível com os problemas do setor’, ele diz.


Os complexos com nove salas tinham, no ano passado, que passar, no conjunto, pelo menos 448 dias de filmes brasileiros. Em 2007, terão que exibir 468 dias. Daí para cima, cresce sempre o número de dias. Nos cinemas com 11 salas, por exemplo, a cota passou de 462 para 506 dias.


‘O público do cinema nacional vem caindo há alguns anos’, diz Fernandes. ‘Deveria haver, portanto, uma redução para todos os complexos, grandes e pequenos. E os complexos grandes, que estão sendo aumentados, são justamente os que demandaram maiores investimentos. Não há explicação para que qualquer complexo sofresse aumento.’’


 


TELEVISÃO
Cássio Starling Carlos


‘Amazônia’ estréia em ritmo de ‘Titanic’


‘As imagens do capítulo de estréia da minissérie ‘Amazônia – De Galvez a Chico Mendes’ na noite de anteontem vieram devidamente justificar os números titânicos do investimento de cerca de R$ 20 milhões da Globo na produção, mas não só.


A primeira impressão de superespetáculo também saiu da inspiração no filme ‘Titanic’, subitamente transferido para as águas do Norte brasileiro.


Cenas aéreas do barco que atravessa os grandes rios da região rumo ao Acre reproduziram o teor grandioso da tragédia transatlântica reencenada por James Cameron em Hollywood, enquanto só faltou o Coronel Firmino (José de Abreu) gritar ‘eu sou o rei do mundo’. Sob os ares de epopéia, a dramaturgia elementar de Glória Perez pouco deu o ar de sua graça. Pois o monumental ameaçou a todo tempo engolir o melodrama sob as camadas da boa reconstituição de época.


Trata-se claro, de uma impressão de primeiro capítulo, pois o que se espera da autora é que transfira ao drama a função principal de manter o público entretido nas dezenas de episódios que tem pela frente.


Tarefa que Perez apenas esboçou na estréia, desenhando personagens já predeterminados a sofrerem nas mãos do destino ou do amor. Os primeiros foram representados no grupo de retirantes nordestinos que partiram rumo à idéia de paraíso e encontraram na extração da borracha no fim do século 19, no Acre, mais um inferno nas mãos de coronéis exploradores. O segundo se configurou na figura de Beatriz (Debora Bloch), amante traída por Galvez (José Wilker), que parte do Rio para Manaus e lá o revê nos braços de outra.


Outra subtrama foi conduzida por Delzuite (Giovanna Antonelli), filha do retirante Bastião (Jackson Antunes) e cobiçada por patrões e capatazes e, em breve, pelo filho mais velho do coronel dono do seringal.


A teia do melodrama, que fará a estrutura de núcleos se misturar e sobrepor por meio dos relacionamentos, se de- senrolou no esquema previsível do confronto entre ricos ambiciosos e cínicos e pobres ingênuos e entregues à própria sorte. Nessa luta de classes imaginada por Perez, a história fez o que pôde para ajudá-la.


Sob a forma de cartões-postais, a narrativa introduziu os locais centrais da ação (a Manaus e o Rio de Janeiro da época) e transformou o período em não mais que um cenário, no qual se reconstruíram com fausto no ‘Projacre’ o esplendor da vida das madames e a miséria dos explorados, uma encenação de ‘A Flauta Mágica’ no Teatro Amazonas e a luta pela sobrevivência no meio da selva.


Não faltou também o toque paradisíaco de Brasil para acentuar o efeito de espetáculo, com imagens da selva em tomadas que repetem a estética de Jayme Monjardim em ‘Pantanal’. Resta saber se no tom dos próximos capítulos dominará a epopéia com ares políticos sobre a injustiça social ou os romances em ritmo de folhetim.


Ou seja, se Glória Perez desta vez vai se safar da empreitada como um clone de Dias Gomes ou de Janete Clair.’


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O Estado de S. Paulo


SADDAM EXECUTADO
O Estado de São Paulo


Guarda que filmou execução é preso


‘AP e NYT – Autoridades iraquianas prenderam ontem um guarda da prisão onde Saddam Hussein foi executado, acusado de ser o responsável pelo vídeo mostrando o enforcamento do ex-ditador. Segundo o conselheiro de Segurança Nacional do Iraque, Mowaffak al-Rubaie, mais dois suspeitos deveriam ser presos na madrugada de hoje.


O guarda, que não teve sua identidade revelada, depôs sobre as imagens, que mostram Saddam (um sunita) sendo insultado por funcionários xiitas. O vídeo, aparentemente feito pelo celular, vazou para sites e TVs menos de 24 horas depois do enforcamento, no sábado.


As imagens provocaram a fúria dos sunitas – que avaliaram a execução como uma vingança, e não um ato de justiça – e intensificaram as tensões sectárias com os xiitas. ‘O enforcamento não foi uma linchamento sectário, como os sunitas estão dizendo. Mas creio que o comportamento de alguns dos presentes foi inaceitável’, afirmou Rubaie. ‘Acredito que algumas pessoas se infiltraram na prisão – algo que deve ter sido planejado por TVs árabes’, completou.


Há temores de que mesmo sunitas moderados acabem se voltando contra o gabinete do primeiro-ministro xiita, Nuri al-Maliki, diminuindo as chances de se formar um governo de união nacional. Nas imagens do vídeo, homens xingam Saddam e saúdam Muqtada al-Sadr, clérigo xiita. As provocações só acabam com o enforcamento.


Militares americanos disseram que, se fossem responsáveis pelo enforcamento, o teriam realizado de modo diferente. ‘Mas decisão não era nossa, e sim do governo iraquiano’, disso o general William Caldwell porta-voz do Exército dos EUA em Bagdá. Autoridades americanas revelaram que tentaram persuadir Maliki a adiar a execução para hoje, quando termina o Eid al-Adha – feriado do sacrifício e do perdão, evitando que o ato fosse interpretado como uma ofensa.


Em uma reportagem do jornal The New York Times, um funcionário do governo dos EUA afirma que Maliki apressou a execução de Saddam por temer que uma demora no enforcamento pudesse incitar insurgentes a realizar seqüestros em massa para barganhar a libertação de Saddam. Em entrevista ao Wall Street Journal, Maliki disse que preferiria deixar o cargo antes de encerrar seu mandato, em 2009.


Ainda ontem, foi divulgado um vídeo gravado há duas semanas em que aparecem quatro americanos e um austríaco, funcionários de uma empresa de segurança, que haviam sido seqüestrados em novembro no sul do Iraque. Sem aparentar maus-tratos, eles disseram que os seqüestradores pedem a libertação de iraquianos presos pelos EUA e pela Grã-Bretanha.’


 


OESP, 132 ANOS
O Estado de S. Paulo


‘Estado’ faz 132 anos, 127 de vida independente


‘São 132 anos de existência e 127 anos de vida independente. O jornal O Estado de S. Paulo, que chega hoje à sua edição nº 41.351, foi fundado em 4 de janeiro de 1875 por um grupo de idealistas republicanos, sem nenhuma ligação partidária.


Diário de quatro páginas e 2.025 exemplares, chamava-se então A Província de São Paulo, nome que conservou até 31 de dezembro de 1889, um mês e meio após a queda da monarquia, atendendo ao apelo dos colecionadores que não gostariam de arquivar no mesmo ano exemplares com logotipos diferentes.


A Província foi uma inovação. O francês Bernard Gregoire agitou o mercado com sua criatividade, ao sair a cavalo pelas ruas, barrete branco na cabeça, uma buzina na mão e um maço de jornais debaixo do braço, anunciando as notícias do dia. A venda avulsa foi um sucesso. De 2.550 exemplares, em 1880, a tiragem saltou para 3.300 seis anos depois.


Em 1888, quando o nome de Julio Mesquita apareceu no alto da primeira página como diretor-gerente, o jornal comemorou a abolição da escravatura, uma causa que vinha defendendo desde a fundação. ‘Viva a República’ foi a manchete, de página inteira, na edição de 16 de novembro de 1889.


Durante a Primeira Grande Guerra, sobre a qual Julio Mesquita escreveu uma série de artigos (eles foram publicados em 2002 no livro A Guerra, em quatro volumes, pelo seu bisneto Ruy Mesquita Filho), a empresa lançou uma edição vespertina – O Estadinho – que circulou de 1915 a 1921. Seu diretor era Julio de Mesquita Filho, que iniciava a carreira de jornalista, enquanto o irmão, Francisco Mesquita, se dedicava à área administrativa.


Julio de Mesquita Filho e Francisco Mesquita, que assumiram a direção do Estado em lugar do pai, falecido em 15 de março de 1927, lutaram na Revolução Constitucionalista de 1932, depois de terem apoiado Getúlio Vargas em 1930. Foram presos e mandados para o exílio em Portugal, de onde voltaram em 1934, quando seu cunhado, Armando de Salles Oliveira, foi nomeado interventor e, em seguida, eleito governador. Por sua indicação, Julio de Mesquita Filho coordenou a comissão que planejou a Universidade de São Paulo (USP).


Com o Estado Novo, que consolidou a ditadura Vargas em 1937, Julio de Mesquita Filho foi preso 17 vezes e exilado, primeiro em Lisboa e depois em Buenos Aires. Estava na Argentina, em 25 de março de 1940, quando soldados da Força Pública ocuparam a sede do jornal, sob a alegação de que seus proprietários armazenavam armas para derrubar o governo. O Estado passou cinco anos e meio sob intervenção, período que não se conta em sua história de 132 anos. Só foi devolvido em dezembro de 1945, após a queda da ditadura.


Depois da morte de Julio de Mesquita Filho, em 1969, Julio de Mesquita Neto assumiu a direção do Estado, enquanto seu irmão Ruy Mesquita dirigia o Jornal da Tarde, fundado três anos antes. A imprensa começava a atravessar então os anos mais duros do regime militar. Os dois jornais não se dobraram diante da censura imposta pela ditadura. Recusando-se a fazer autocensura, que consistiria em substituir as matérias cortadas, o Estado publicava versos de Os Lusíadas, de Camões. No Jornal da Tarde, o espaço, que não podia ficar em branco, era preenchido com receitas de bolos e doces. A censura só acabou em 4 de janeiro de 1975. Com a morte de Julio de Mesquita Neto, em 1996, Ruy Mesquita assumiu o cargo de diretor.


*A comemoração dos 132 anos de existência de ‘O Estado de S. Paulo’, hoje, coincide com o aniversário de fundação da Rádio Eldorado (1958), do ‘Jornal da Tarde’ (1966) e da Agência Estado (1970). As demais empresas do grupo são Oesp-Mídia (1984), Oesp Gráfica (1988), Broadcast AE (1991) e Portal Estadão (criado em 2000)’


 


INTERNET
Valéria França e Laura Diniz


Vídeo de Cicarelli pode tirar YouTube do ar


‘O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo determinou ontem por liminar que o YouTube – o maior site de compartilhamento e distribuição de vídeos – seja tirado do ar no País. A decisão do desembargador Ênio Santarelli Zuliani tem como objetivo punir a empresa por não respeitar a decisão da Justiça de retirar do ar o vídeo da modelo e apresentadora de TV Daniella Cicarelli.


A modelo foi filmada com o namorado Renato Malzoni Filho numa praia de Cádiz, na Espanha, no ano passado. Solteiro, Tato é sobrinho de Paulo Malzoni, presidente do Grupo Victor Malzoni, controlador da rede Shopping Plaza, de São Paulo. O vídeo começa com carícias apaixonadas na areia e acaba numa suposta cena de sexo no mar.


As cenas foram divulgadas no YouTube e se espalharam pela internet. O casal entrou com duas ações na Justiça. Uma delas era indenizatória por danos morais e materiais contra as Organizações Globo de Comunicação, o IG Internet Group do Brasil Ltda e o YouTube Inc., na 25ª Vara Civil de São Paulo. Na outra ação, o casal pedia que o vídeo fosse retirado do ar. O pedido foi acatado pela Justiça uma semana depois que o escândalo estourou na internet. O Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu liminar obrigando os sites a tirar do ar as cenas que Daniella protagonizou com o namorado.


Caso não respeitassem a decisão, estariam sujeitos a multa diária de R$ 250 mil. Na época, o desembargador Zuliani entendeu que a exposição da intimidade do casal na praia de Cádiz não justifica a veiculação indiscriminada das imagens.


No ano passado, o vídeo de Daniella foi destaque em jornais, revistas e em programas de TV. Como a modelo é ex-mulher de Ronaldo, ídolo na Espanha, a emissora local TeleCinco, uma das maiores do país, veiculou os 4 minutos polêmicos.


O YouTube foi a única empresa que não cumpriu a determinação da Justiça. Calcula-se que o site esteja devendo uma multa aproximada de R$ 10 milhões. Na última quinzena de 2006, Tato Malzoni entrou com nova ação. Desta vez, pedia que o YouTube saísse do ar, já que as imagens tórridas do casal continuavam no site. ‘A liminar determina o bloqueio do site aos internautas brasileiros até que a empresa retire o link do vídeo de Cicarelli’, diz o advogado Rubens Decoussau Tilkian, que representa Tato.


A decisão é inédita e vista com bons olhos por peritos na área. Para o advogado Eduardo Nobre, especialista em direito da internet, trata-se de um precedente importante na área de tecnologia. ‘É grande o número de ações de pessoas que se sentem prejudicadas por textos e fotos divulgados na internet’, diz ele. ‘É uma medida necessária. Se alguém vê uma fotomontagem em que está nua e o site diz que não pode tirar do ar, não pode ficar por isso mesmo.’


Além disso, segundo Nobre, o site não cumpriu a primeira ordem, a de retirar o vídeo da modelo do ar, portanto, a Justiça precisava tomar uma medida mais enérgica. É uma forma de fazer valer a lei e preservar a intimidade do casal.


Para tirar o site do ar, a operação será complicada. Os provedores responsáveis pela divulgação de linhas americanas serão procurados pela Justiça. Estas empresas terão a obrigação de colocar um filtro que impeça os internautas de acessarem o YouTube. Na prática, o esquema é o mesmo que o governo chinês aplica para censurar alguns sites.


Há dois meses, o Google comprou o YouTube por US$ 1,650 bilhão. O site de vídeos é um negócio de sucesso. Desde sua fundação, em 2005, a cada dia, mais de 100 milhões de vídeos são visualizados no portal.


O Google foi procurado pela reportagem, mas a assessoria afirmou que a empresa brasileira não responde pelo caso. A questão, segundo a assessoria, estaria sob o comando da administração, que é americana.’


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