Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo


HQ
Sérgio Augusto


Os 70 anos do mais velho herói dos quadrinhos


‘Na sexta-feira passada, os tambores rufaram em Bengala. Na Floresta Negra,
os pigmeus Bandar festejaram os 70 anos de seu ídolo e senhor; no que foram
imitados pelos demais nativos da região: os Wambesis, os Llongos e os Oogaans. O
Fantasma é agora um septuagenário, um herói da terceira idade. Em Bengala,
contudo, todos continuam acreditando que ele deveria soprar umas 400 e poucas
velinhas. Menos, é claro, Diana Palmer Walker, a única que sabe que seu marido
não é um ‘espírito que anda’, um imortal.


Incomum mortal, mocinho sem superpoderes, exceto os sobrenaturais que os
supersticiosos bengaleses lhe atribuem, o atual Fantasma é o 21º de sua estirpe.
Como já nos surgiu adulto, com cerca de 30 anos, na realidade estamos festejando
o seu centenário, certo?


Nem certo nem errado. Com os mitos, sejam de onde forem, as contas nunca
batem, a aritmética vai sempre pro brejo, junto com a lógica.


Concretamente o que se está celebrando são os 70 anos da publicação das
primeiras tiras do Fantasma, no American Journal de 17 de fevereiro de 1936. O
resto é fantasia. De incalculável longevidade. Se o primeiro da dinastia surgiu
no início do século 16, seus descendentes não duraram, em média, mais de 20-25
anos; pouquíssimo. Daí o recálculo feito pelo inglês Nick Landau, estudioso da
linhagem, para quem o Fantasma original teve 15 e não 20 descendentes. Faz mais
sentido.


Como o atual Fantasma casou-se em 1977, seu filho já está beirando a mesma
idade que ele tinha quando enfrentou os piratas Singh, em sua primeira aventura
em quadrinhos. Mais dia, menos dia, o filho enterrará o velho na cripta, vestirá
sua malha, enfiará nos dedos os dois anéis (o da Marca do Bem, no anular da mão
esquerda, e o da Marca da Caveira, no anular da mão direita), prestará o
Juramento da Caveira (‘Juro que devotarei minha vida à tarefa de destruir a
pirataria, a ganância e a injustiça. E meus filhos e os filhos de meus filhos me
seguirão’), e assumirá o trono da Caverna, deixando à sua irmã, Heloise, a
incumbência de cuidar da mãe, hoje uma senhora de 66 anos. A menos que Heloise
se revele mais talhada que Kit para perpetuar o mito. O que não seria uma
novidade no histórico familiar: Julie, a filha do 16º Fantasma, assumiu durante
algum tempo a identidade do justiceiro mascarado.


Com traços de Tarzan, Robinson Crusoe, Pimpinela Escarlate, Zorro – e uma
pitada das exóticas intrigas policialescas de Sax Rohmer, o artífice de
Fu-Manchu -, o Fantasma foi o primeiro herói mascarado dos quadrinhos e sua
indumentária, um fetiche para três ou quatro gerações de leitores. Os americanos
o conheceram em preto & branco até 28 de maio de 1939, quando, ao estrear
nas páginas dominicais, o personagem criado por Lee Falk (desenhado por Ray
Moore) ganhou cores finalmente. Sua malha, descobriu-se então, era violeta e
preta. Até aquela data, acreditara-se mundo afora que ele vestia outras
tonalidades, predominantemente o vermelho, já que em diversos países, Brasil
inclusive, o personagem deixou de ser publicado em preto e branco no mesmo ano
em que o American Journal o lançou.


Posso jurar que seu lançamento no Brasil se deu em 28 de março de 1936, nas
páginas do Correio Universal, publicação carioca independente, que circulava aos
sábados em 220 jornais do país. Fundada por Mauricio Ferraz, era sua mulher,
Helena Ferraz de Abreu, que, com o pseudônimo de Alvaro Armando, chefiava a
redação. Foi ela quem acrescentou um apócrifo e descabido ‘voador’ ao nome de
Fantasma. Induziu-a ao equívoco a aisance com que o personagem saltava de
alturas vertiginosas. Não procede, portanto, a informação de que o Fantasma só
chegou ao Brasil em 2 de dezembro de 1936, no nº 169 da Gazeta-Edição Infantil,
com uniforme rubro-negro e em três tiras a que deram o título de Uma Alma do
Outro Mundo.


Essa discordância é o único reparo que faço ao release que a Opera Graphica
Editora distribuiu à imprensa, promovendo dois livros sobre o Fantasma
aparentemente à altura do seu aniversário: o álbum O Fantasma – Sempre aos
Domingos, com as primeiras páginas dominicais do personagem, nunca antes
reunidas num único volume, e a biografia oficial do herói, coordenada por Franco
de Rosa, editada por Roberto Guedes, a partir de pesquisa de Marco Aurélio
Lucchetti (o maior expert em quadrinhos do Brasil), com artigos avulsos de
Gonçalo Junior (autor do ótimo A Guerra dos Gibis, editado pela Cia. das
Letras), Nabu Chinen, Luiz Sampaio, entre outros.


Kit Walker. Assim se chamam todos os Fantasmas. Kit, apelido de Christopher.
Walker, andante em inglês, é pseudônimo: o verdadeiro sobrenome do pai do
primeiro Kit, ou seja, do primeiro Fantasma, era Standish. Navegante famoso, que
estivera ao lado de Cristóvão Colombo na descoberta da América, sir Christopher
Standish cismou de fretar um navio, descer o Tâmisa e rumar para mares
desconhecidos, acompanhado do filho, Kit, quase um homem feito. O navio cruzou o
Cabo da Boa Esperança e, depois de meses e meses de conturbada navegação,
atingiu o Golfo de Bengala (a Baía de Bengala fica no nordeste do Oceano
Índico), onde piratas o pilharam, só restando vivo o jovem Kit, que,
aproveitando-se de um providencial tufão, escapou numa jangada.


À deriva por vários dias, afinal chegou a uma praia, cujos habitantes, os
pigmeus Bandar, que nunca haviam visto um homem branco, o receberam como uma
divindade. Em poucos dias o cadáver do pai bateria na mesma praia, sendo cremado
segundo as tradições dos pigmeus. Do esqueleto calcinado Kit salvou o crânio. À
noite, na presença dos Bandar e sob o clarão de uma fogueira, Kit, com mão
direita sobre o crânio e a esquerda erguida, fez o Juramento da Caveira. Nascia
ali o primeiro Fantasma.


Depois viriam mais 20 (ou 15, pela genealogia de Nick Laudau), com pitorescas
e inacreditáveis inserções históricas: um deles, o terceiro da linhagem,
casou-se com uma sobrinha de Shakespeare e atuou na primeira montagem de Romeu e
Julieta no Globe Theatre; outro enfrentou o pirata Barba Negra, resgatando de
suas garras Natala, a bela rainha da Navarra, que virou sua mulher; o nono
Fantasma desposou uma princesa mongol; a futura companheira do 13º
Espírito-Que-Anda era irmã do corsário Jean Lafitte; o 16º foi caubói no Velho
Oeste, conheceu um tal de Samuel Langhorne Clemens (que mais tarde ficaria
famoso como Mark Twain) e casou-se duas vezes: a primeira no Texas, a segunda em
seu hábitat, a Floresta Negra, com Annie Morgan, mãe do Kit da vez, o 17º
Fantasma, aquele que por uns tempos foi substituído por sua irmã gêmea, Julie,
curiosidade só revelada (e transformada em quadrinhos) no segundo semestre de
1952.


Ao longo de tanto tempo, a família acumulou relíquias cobiçáveis por qualquer
museu, todas guardadas na Sala dos Grandes Tesouros, a pedido de quem as doou ao
Fantasma. Estão lá a lira de Homero; a áspide que picou Cleópatra; a taça de
diamantes de Alexandre, o Grande; as espadas Excalibur (do rei Artur) e Durandal
(de Rolando); a coroa de louros de Júlio César; a coroa de ouro de Carlos Magno.
Pilhado pelo herói, absolutamente nada. Por uns tempos quem montou guarda nesse
Topkapi selvático foi o cão-lobo Capeto, que já deve ter morrido há muito tempo
– a menos que, a exemplo do dono, se eternize através de seus descendentes.


O Fantasma com o qual convivemos, o 21º, demorou cinco tiras para entrar em
cena. Para aumentar ainda mais o suspense, entrou de costas, saindo das águas do
Oceano Atlântico e escalando o casco do navio S.S. Trotter. Quem monopolizara as
tiras anteriores fora Diana Palmer, jovem e célebre exploradora, de volta à casa
dos pais após dois anos nos Mares do Sul. De olho na preciosa carga (200 quilos
de âmbar) que ela traz na bagagem, uma quadrilha de bucaneiros a seqüestra na
entrada do porto de Nova York. Se não fosse o Fantasma, Diana e o âmbar teriam
sumido para sempre.


Era a mulher perfeita para o solteirão da Floresta Negra: linda, inteligente,
destemida, cosmopolita mas sem frescuras urbanóides, exímia no dorso de um
cavalo e no manche de um avião, ex-campeã olímpica de natação, excelente mira e
faixa preta de judô. Uma super Jane. Durante a Segunda Guerra Mundial, ajudou os
aliados na contra-espionagem e o marido no combate a soldados japoneses e
espiões nazistas.Depois de atuar como enfermeira no Caribe e na África, assumiu
a direção da Divisão Afro-Asiática do Departamento de Direitos Humanos da ONU,
sua base de luta contra ditadores africanos, como os generais Kon e Tara, sempre
com o apoio do marido.


Só estas performances bastariam para desautorizar os que acusaram Fantasma de
testa-de-ferro do colonialismo europeu. Colonialista pode ter sido o pai do
primeiro Fantasma. Seu filho, netos e descendentes, foram, na pior das
hipóteses, anticolonialistas paternalistas, acatados árbitros de rivalidades
tribais e conflitos de castas na selva – e, acima de tudo, obstáculos à ganância
do homem branco e vigilantes ambientalistas. Também acusaram, injustamente, de
racista outra grande criação de Lee Falk, o mágico Mandrake; por causa de
Lothar, o gigantesco e negro escudeiro do herói, o Guran do Mandrake.


(Guran é aquele pigmeu Bandar cujo penteado parece ter servido de inspiração
ao paraibano Chico César, no início de sua carreira.)


É praxe na família Walker enviar o herdeiro do trono da Caveira para fazer
seus estudos na terra da mãe. Aos 12 anos, o 21º Kit Walker deixou Bengala para
morar com os tios em Clarksville, no Missouri, às margens do rio Mississippi,
levando consigo o inseparável Guran. Foi lá que Kit conheceu Diana, então uma
garota de 15 anos e atraentes olhos acinzentados. O reencontro, anos depois, a
bordo do S.S. Trotter, estava escrito nas estrelas.


Sucesso bem maior no exterior que nos EUA, o Fantasma (ou El Hombre
Emascarado, Fantóm, Mustannaamio, Phantomas, L’Uomo Mascherato, Fantoom,
Kizilmaske, Betaal) foi, até os anos 1980, o herói favorito dos escandinavos.
Fantomen na Suécia e Fantomet na Noruega, chegou a ser desenhado naquelas
paragens pelo finlandês Kari T. Lepp‰nen, que além de não ser menos talentoso
que os herdeiros de Ray Moore (Wilson McCoy, Bill Lignante, Sy Barry) tinha uma
imaginação quase tão fértil quanto a de Lee Falk. Adorava inventar aventuras
para ancestrais do atual Fantasma. Numa delas, o Espírito-Que-Anda defendia a
ilha de Malta contra invasores turcos.


Nas bancas e livrarias do Rio não encontrei um só gibi do herói. Na
Austrália, isso seria impossível. Os australianos idolatram tanto o Fantasma,
que o gibi por ele estrelado não é uma publicação mensal, mas quinzenal – desde
9 de setembro de 1948. Os desenhos estão agora a cargo de George Olesen e Graham
Nolan e as histórias continuam sendo atribuídas a Lee Falk. Como Falk morreu em
1999, tudo leva a crer que o criador resolveu imitar sua criatura,
perpetuando-se ad aeternum. Longa vida ao Fantasma!’




TIME WARNER SEM TED TURNER
O Estado de S. Paulo


Ted Turner deixa a Time Warner


‘NOVA YORK – O empresário Ted Turner, fundador da CNN, a primeira rede de
televisão exclusivamente dedicada às notícias, renunciará a seu cargo de
conselheiro da Time Warner em maio, informou ontem a companhia. O presidente
executivo da AOL Time Warner, Richard Parsons, anunciou a decisão de Turner em
um comunicado, no qual destaca que ‘a trajetória lendária de Ted Turner como um
pioneiro dos meios de comunicação fala por si mesma’.


Segundo a Time Warner, Turner não concorrerá à reeleição como conselheiro na
reunião de acionistas de maio, da mesma forma que outra conselheira da
companhia, Carla Hills, ex-secretária de habitação dos EUA. Turner, de 67 anos,
é o maior acionista individual da Time Warner, com cerca de 33,5 milhões de
ações, de acordo com os últimos dados disponibilizados pela empresa.


Em janeiro de 2003, Turner renunciou ao cargo de vice-presidente da empresa,
então chamada AOL Time Warner, e desde então o total de ações em seu poder, que
era de cerca de 105 milhões, diminuiu. Entretanto, os 33,5 milhões de títulos
ainda superam os 30,6 milhões de Carl Icahn, multimilionário que recentemente
desistiu da tentativa de assumir o controle da companhia.


Turner tinha se transformado em vice-presidente da Time Warner após vender a
esta empresa sua rede de televisão a cabo, a Turner Broadcasting Systems, que
inclui a CNN, em 1996, por US$ 7,5 bilhões. Depois da fusão da AOL com a Time
Warner, em 2001,Turner manteve o cargo, mas deixou de ter o controle operacional
sobre a Turner Broadcasting Systems.’




TELEVISÃO
Luiz Carlos Merten e Fabiane Bernardi


Globo estica novela, apesar do ibope


‘Anselmo Duarte, Cacá Diegues, Cláudio Assis e Bruno Barreto. O espectador
que se puser diante da TV vai poder assistir, a partir das 17 horas, no Canal
Brasil, a uma exibição da diversidade que tem sido a tônica do melhor cinema
brasileiro. Embora os filmes produzidos no País enfrentem dificuldades
parecidas, senão exatamente as mesmas, da operação financeira à exibição, ada
filme possui identidade própria e todos juntos põem a cara dos brasileiros na
tela.


Começa com o Retratos Brasileiros dedicado a Anselmo Duarte, ex-galã da Vera
Cruz e da Atlântida e, às 17h30, exibe O Pagador de Promessas, que ele realizou
e é, até hoje, o único filme brasileiro vencedor da Palma de Ouro (em 1962). Às
21 horas, passa o primeiro Orfeu de Cacá Diegues, Trem para as Estrelas, com
Guilherme Fontes na pele do músico que busca a namorada que sumiu no inferno da
cidade grande.


Ao Rio de Cacá segue-se, às 23 horas, o Recife de Cláudio Assis em Amarelo
Manga, que pode ser discutido, mas tem dois pontos altamente positivos – a
fotografia de Walter Carvalho e o desfecho documentário com todas aquelas caras
anônimas. É muito forte. Às 23h45, Sônia Braga dá sua receita de sensualidade em
Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto, que ainda mantém (desde 1976) o
recorde de público do cinema nacional. Nenhum desses filmes é igual ao outro. A
diveidade é nossa força.Nem a baixa audiência fez com que a Globo antecipasse o
fim de Bang Bang. A novela, prevista para sair do ar no dia 21 de abril, será
esticada até 5 de maio. Não porque seja um sucesso de audiência. É que João
Emanuel Carneiro, autor da substituta, Cobras e Lagartos, vem enfrentando
dificuldade em fechar o elenco, disputado entre Sinhá Moça, de Benedito Ruy
Barbosa, próxima novela das 6, e Páginas da Vida, de Manoel Carlos, próxima das
9.


Carolina Dieckman, por exemplo, foi anunciada como a Sinhá Moça por Ricardo
Waddington, mas acabou escalada para viver a vilã na trama das 7, de Carneiro.


Por esse motivo, a emissora carioca optou por suportar mais duas semanas de
desempenho fraco na faixa das 19 horas, em vez de comprometer a qualidade da
nova novela, que terá a dura missão de recuperar a audiência perdida – oscila
entre 25 e 28 pontos.


A confusão começou com a saída do autor Mario Prata, dono da sinopse inicial,
que deixou a novela por problemas de saúde. No fim, a trama caiu nas mãos de
Carlos Lombardi, que pegou o bonde andando e corre para entregar os
capítulos.’




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