Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

ORWELL & JORNALISMO
Ubiratan Brasil

Jornalismo em tempos de guerra

‘Literatura e política sempre caminharam muito próximas na obra de George Orwell. E não apenas em títulos clássicos como A Revolução dos Bichos e 1984, mas principalmente em artigos escritos diretamente para a imprensa. Entre 1942 e 1948, ele colaborou com exatos cem textos para o jornal britânico Observer, compreendendo um período crucial na história da humanidade, ou seja, os anos finais da 2ª Guerra Mundial e o início da guerra fria. Uma seleção desses artigos figura no livro Literatura e Política – Jornalismo em Tempos de Guerra, que a Jorge Zahar Editor afortunadamente acaba de lançar.

Escritor brilhante e crítico cultural do mesmo naipe, Orwell vivia, na época, envergonhado do Império Britânico, especialmente depois de presenciar a violência do colonialismo inglês na Birmânia. O sentimento, aliado à sua preocupação com o perigoso crescimento do totalitarismo, norteia boa parte dos textos que, para a edição brasileira, foram selecionados por Arthur Ituassu, professor de Relações Internacionais da PUC do Rio. ‘A arte de Orwell é certamente engajada’, escreve ele no prefácio, ‘mas isso não significa prejuízo para a arte, que assim não obedece ao pensamento político, mas, de fato, o constitui’.

Apesar de escrever o primeiro artigo em fevereiro de 1942, Orwell mantinha uma relação anterior com o Observer. No ano anterior, ele conheceu David Astor, proprietário e futuro editor do jornal, e logo uma sólida amizade se estabeleceu – Astor admirava a ‘absoluta franqueza, honestidade e decência’ de Orwell e, por isso, convidou-o a escrever para o jornal. Assim, criou uma coluna, Fórum, e encarregou o escritor de inaugurá-la.

O autor de 1984, no qual exibe frases antológicas como ‘Liberdade é escravidão’, inicia a colaboração de forma incisiva. Com um artigo pioneiro, A vez da Índia (que inicia a seleção desse livro), Orwell defende radicalmente a independência da Índia, marcando decisivamente a posição política do Observer em relação ao assunto. Resultado: irritados, inúmeros leitores abandonaram a fidelidade ao jornal.

É curioso notar que, como outros teóricos políticos, Orwell tinha mais simpatia pela humanidade que pelo ser humano individual. É o que explica a série de temas abrangentes que vai da Guerra Civil Espanhola ao anti-semitismo, da evacuação de crianças desamparadas à Guarda Civil britânica, da qual fora um membro diligente.

Em muitos de seus escritos, é possível observar uma certa irritação, só dominada pelas boas maneiras. Orwell exasperava-se ao escrever, chegando, muitas vezes, ao limite. Ciryl Connolly, velho amigo e responsável pela seção de resenhas literárias, recusou, certa vez, um artigo por julgá-lo radical demais. Irritado, o escritor reclamou e disse que não colaboraria para jornais ‘que não permitiam… ao menos o mínimo de honestidade’.

A situação foi contornada por Astor, mas Orwell só voltaria a colaborar na seção de livros um ano depois. O próprio ato da escrita, aliás, era intenso, nervoso. Um amigo, George Woodcock, conta que Orwell escrevia direto na máquina de escrever, sem emendas ou revisões. Segundo sua teoria, o escritor vivenciava o assunto sobre o qual tratava e muitas vezes reproduzia no papel toda as horas que passara anteriormente, em conversa com alguém de sua predileção.

Enquanto escrevia para o Observer, George Orwell trabalhava também na escrita de A Revolução dos Bichos. E, segundo Johnathan Heawood, autor do prefácio da edição mundial, as críticas que recebeu durante esse período proporcionam um fascinante contraponto ao livro. ‘Tanto no romance quanto em seu jornalismo literário, Orwell lutou contra as contradições intrínsecas ao socialismo, que o levaram às duras conclusões que o isolaram igualmente da esquerda e da direita’, escreveu.

Sua exasperação tanto refletia nos textos enviados ao Observer como na luta que travava com editores para a publicação de A Revolução dos Bichos. Rejeitado por diversos editores tanto por ser muito hostil aos comunistas como, ao contrário, por ser complacente com eles, o livro só foi publicado depois de muitas polêmicas.

As crônicas de Orwell, muitas vezes, confundia-se com a realidade. Arthur Ituassu destaca a crítica feita aos liberais no texto Os Fins e os Meios, em que o escritor lembra que ‘bom senso e boa vontade não são suficientes; há também o problema da superação da vontade doentia e da ignorância invencível’.

Em março de 1945, Orwell foi enviado por Astor para acompanhar a derrocada alemã na guerra. O escritor acompanhou os aliados até a cidade de Colônia, que encontrou devastada. ‘Após anos de guerra, é um sentimento demasiado estranho afinal pisar o solo alemão’, escreveu ele, em Ordenando o Caos em Colônia. E arremata com um triste sarcasmo: ‘A raça superior está por toda a parte, percorrendo o caminho em suas bicicletas, entre as pilhas de entulho ou lançando-se com jarros e baldes para cima do carro-pipa’.

O escritor só interrompeu a cobertura por conta da morte da mulher, Eileen, fato que o obrigou a voltar para a Inglaterra. A colaboração com o Observer continuou até que, abatido pela tuberculose, ele morreria em 1950.L

Literatura e Política, George Orwell, Jorge Zahar, 240 págs., R$ 29,60′



PERFIL / CLÁUDIO LEMBO
Paulo Moreira Leite

‘Se não pude deixar de ser ridículo, pelo menos tentei ser divertido’

‘‘Se não pude deixar de ser ridículo, pelo menos tentei ser divertido’, diz o governador Cláudio Lembo, enquanto acompanha um visitante até a saída do gabinete no Palácio dos Bandeirantes, que a partir de 1º de janeiro será ocupado por José Serra. Aos 72 anos de idade, escalado para ser uma nota de rodapé da gestão de Geraldo Alckmin, Cláudio Lembo transformou um mandato-tampão de nove meses – ‘uma coisa absolutamente ridícula’, como define – numa gestão transparente.

‘Fiz uma administração que não guardava segredos: os problemas surgiam, eu tomava providências e informava à população.’ E era fácil agir assim? ‘Para mim era fácil’, responde. Divertido com a chance de apontar o lado bom de uma situação ruim, Lembo esclarece: ‘Todo governante tem em mente um cargo para ocupar no futuro e por isso tem medo de dizer a verdade, que é amarga e agride as esperanças da sociedade. Mas eu não tenho futuro nessa posição e posso dizer tudo sem receio.’

Quando lhe perguntam sobre as chances de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer um segundo mandato melhor do que o primeiro, ele diz: ‘O Lula sabe que precisa ajudar o Brasil a crescer. Mas terá de encarar a realidade de que o governo não tem recursos para fazer tudo. Será preciso, por exemplo, privatizar as estradas e cobrar pedágio. O Brasil poderá crescer se ele tiver coragem para isso.’

No Palácio dos Bandeirantes, Lembo escancarou a crise na segurança exibida pelos ataques da facção criminosa PCC. Herdou uma máquina policial em guerra interna. Decidiu apoiar o secretário de Segurança, Saulo Abreu, contra Nagashi Furukawa, da Administração Penitenciária, depois que este tentou convencê-lo, num telefonema dramático às cinco da madrugada, de que os chefes do PCC deveriam ser transportados para ilhas isoladas do Atlântico, onde viveriam como selvagens, recebendo alimentos jogados de helicópteros. Furukawa nega. ‘Não é verdade’, responde.

Embora aliado leal de Geraldo Alckmin, não lhe entregou a alma durante a campanha presidencial, exibindo aos contribuintes paulistas um rombo de R$ 1,7 bilhão. Também manteve uma relação de imensa cortesia com Lula, a tal ponto que, nos calores da eleição presidencial, sua assessoria decidiu esconder da imprensa todas as fotos que mostravam um encontro dos dois na Baixada Santista – as imagens retratavam o governador e o presidente ora abraçados, ora de braço dado, ora conversando animadamente, num tom de confraternização considerado excessivamente amistoso para adversários de palanque. Mas Lembo não fez o jogo de Brasília quando o governo tentou enviar tropas do Exército para São Paulo. Enfrentou o ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, com um decreto de Estado de Emergência que ameaçava até cancelar as eleições no Estado.

TOVÁRICH

Hoje um quadro confiável do conservadorismo paulista, Lembo teve um batismo político surpreendente. Com 12 anos de idade foi aluno de marxismo numa escola do Partido Comunista Brasileiro, que funcionava na redação do jornal Hoje, nas vizinhanças da casa onde viveu os primeiros anos, no bairro da Liberdade. Vendeu jornais do partido, discutiu a luta de classes e vendia bônus para ajudar as finanças. Nas aulas de formação política, ouvia lições de um professor que, para sublinhar suas conexões com Moscou, numa época em que o prestígio de Josef Stalin vivia seu apogeu, não gostava de chamar os jovens alunos de ‘camaradas’, preferindo empregar o russo ‘továrich’.

‘Eu achava essa mania de falar russo um pouco ridícula e fui me afastando’, conta. ‘Era muito ridículo.’ Bastante à vontade em sua espaçosa mesa de trabalho, onde bebe água mineral diretamente do gargalo de uma garrafa de plástico, Lembo olha pela janela, numa tarde de temporal paulistano, e avança num monólogo íntimo: ‘As ditaduras são ridículas. Todas.’

‘Se o Brasil não tivesse uma democracia, estaríamos numa guerra civil. O povo precisa de uma válvula de escape.’ Há pelo menos três décadas Cláudio Lembo ocupa uma posição peculiar na política do País. Nunca foi o personagem principal de grandes mudanças, mas diversas vezes ocupou a posição de coadjuvante respeitado. Nos anos 70, trabalhou para incluir a voz rouca do líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva nos diálogos sobre a democratização promovida pelo regime militar. Nos anos 80, participou das principais articulações que ergueram a Nova República, firmando a partir daí a condição de político competente o suficiente para encarar missões difíceis, mas desprovido das ambições excessivas que geram constrangimento entre aliados.

Advogado de banco, no 31 de março de 1964 freqüentava o Sindicato dos Bancários, onde os comunistas tinham uma influência conhecida, mas não nutria simpatias pelo governo João Goulart. Estava ao lado dos militares que derrubaram Jango, mas ficou longe da Marcha da Família com Deus pela Liberdade organizada em apoio ao novo regime. ‘Tinha muita gente de chapéu’, ironiza, sugerindo um certo elitismo no movimento. ‘Não combinava comigo.’

Foi chamado para prestar serviços relevantes à ditadura depois que a Arena dos militares passou a tomar surras eleitorais do MDB. Escalado para presidir a Arena paulista, tornou-se a referência da abertura política em São Paulo. Sondou empresários de prestígio e personalidades variadas. Instruído por Petrônio Portella, o ministro da Justiça que coordenava as articulações, encontrou-se com d. Paulo Evaristo Arns, o cardeal que denunciava a tortura no porão militar, conquistando respeito entre a oposição democrática e irritação nos quartéis na mesma proporção. Depois dos contatos iniciais, o nome de d. Paulo foi vetado pelos militares e excluído das articulações. Até hoje Lembo agradece a postura de d. Paulo, que jamais foi a público denunciar o veto. ‘Ele foi muito elegante ao manter o segredo’, diz.

Lembo encontrou-se com Lula e família no clube de campo dos metalúrgicos, em São Bernardo. Mais tarde, a caminho de uma audiência com Portela, Lula telefonou para saber se ele queria ler um documento que iria entregar ao ministro. Ele recusou: ‘Não me cabia o papel de censor. Soube que pediu o fim das intervenções do governo nos sindicatos, mas não o fim dos atos institucionais. Era um sindicalista.’

DEMOLIÇÃO

Por uma dessas coincidências estranhas que a vida pública proporciona, em 1971 Lembo viveu um encontro doloroso com as trapaças da política. Era o homem de confiança do prefeito Olavo Setúbal, cuja administração decidiu demolir o palacete Santa Helena, inaugurado em 1925 como um dos cartões postais da cidade. A coincidência é que Leonino Secondo Lembo, pai do chefe de gabinete de Setúbal, foi o executivo que administrou a construção do palacete a ser destruído. Tinha tanto amor pela obra que registrou todas as etapas da construção, num acervo fotográfico pessoal. ‘Eu estava ao lado do Olavo Setúbal na demolição’, recorda Lembo. ‘Tinha pedido para ele não fazer aquilo, mas não adiantava. A opinião da tecnocracia era muito forte na época. Imagine se diante do metrô alguém iria se preocupar com um edifício histórico.’

Vinte e cinco anos depois da demolição, a Imprensa Oficial e o Senac publicaram o livro Palacete Santa Helena, Um pioneiro da Modernidade em São Paulo. As fotos feitas por Leonino Lembo ilustram a obra, ao lado de plantas e mapas. O filho de Leonino, no posto de vice-governador, assina a orelha, num texto que fala de chão de mármore, peças de bronze e de cristal com palavras feridas: ‘Buscaram os construtores do Santa Helena a eternidade. Encontraram as picaretas bárbaras da segunda parte do século 20.’

Nascido numa família de dinheiro miúdo, Lembo tem aquela formação dos homens que se tornaram cultos pelo próprio esforço. Teve um tio pedreiro, outro que era tipógrafo. O pai – que tocava violino nas horas vagas – trabalhou dos 13 aos 80 anos numa única empresa. Em casa lia-se muito, especialmente jornais. Esse costume, diz o governador, fazia os homens daquele tempo mais preparados para tomar decisões na vida, numa condição diferente daquela de hoje, quando as pessoas deixaram de ler jornais ‘para ver TV, o que é muito diferente de ler. A TV é fundamental, mas não cria a possibilidade de reflexão. A não-leitura dos jornais cria uma nova forma de ignorância, de pessoas alfabetizadas’.

JÂNIO

Da mesma forma que assumiu responsabilidades maiores no regime de 1964 quando os sinais de naufrágio já eram visíveis, Lembo tornou-se amigo de toda a vida de Jânio Quadros, quando o ex-presidente amargava a condição de político cassado e desmoralizado por uma nuvem de anedotas folclóricas. Ele se apresentou a Jânio com a cara e a coragem, ao avistá-lo durante um almoço de domingo num restaurante da Alameda Santos, na região da Avenida Paulista. ‘Ele jamais foi compreendido pela nossa academia, que desistiu de entendê-lo depois de 1985, quando ficou com raiva da derrota de Fernando Henrique Cardoso na disputa em São Paulo’, conta.

Secretário de Negócios Jurídicos da prefeitura durante o mandato de Jânio, ele recorda dois pedidos de renúncia que o prefeito lhe entregou – e preferiu guardar no bolso. ‘Ele fazia isso em momentos de tensão e muito cansaço, ou de stress, como os jovens dizem hoje. Era aquele cansaço da luta política, de quem diz: ‘vou embora’. Mas não era para valer.’ Até hoje Lembo está convencido de que Jânio imaginou que iriam agir dessa maneira em 1961, quando Oscar Pedroso Horta levou a carta de renúncia para o Congresso e encerrou seu mandato. Quando se pergunta a Lembo se Jânio poderia ser definido como louco, ele responde: ‘Não. Mas tinha alguma tendência. Não era uma pessoa linear.’

PRESTES

‘Se tenho uma tola vaidade, é a de não ter me furtado a dialogar com ninguém’, afirma. Recorda um período da abertura em que suas credenciais conservadoras ajudavam a desdramatizar entrevistas feitas na TV com políticos que vinham do exílio. ‘Fiz a primeira entrevista ao vivo com Luís Carlos Prestes’, conta, referindo-se ao secretário-geral do PCB. E lembra da amizade com o secretário-geral do PC do B. ‘Fui amigo do João Amazonas.’

Longe do palácio Lembo começará a escrever um livro, o 12º de sua autoria – nenhuma obra-prima, admite. Ele quer falar sobre aspectos específicos da política, como as dificuldades de levar uma vida pessoal. ‘O homem público completo é destituído de todo direito individual, pois deve estar aberto ao exame da sociedade’, explica. Outro tema envolve ‘os limites do poder, muito maiores do que se pensa’, afirma. ‘As pessoas que têm poder imaginam que podem muito, quando sempre podem pouco.’ Lembo acredita que o poder estimula a vaidade e acha que muita gente começa a sentir-se um escolhido por Deus. ‘Essa é a sensação de poder. E esse é o maior erro.’ São visões que sugerem amargura e decepção. Cláudio Lembo assegura que nada têm a ver com sua experiência pessoal.’



INTERNET
O Estado de S. Paulo

Google lança serviço de busca de patentes

‘O Google lançou ontem em modo de teste o serviço Google Patent Search (www.google.com/patents), ferramenta que permite pesquisas em uma base de dados de aproximadamente 7 milhões de patentes registradas nos EUA. O serviço inclui todas as invenções aprovadas de 1790 a meados de 2006 e traz algumas imagens.’



CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS
Nicola Pamplona e Rosângela Dolis

Parcerias criam pacotes de serviço

‘Há seis meses, Juliana Fernandes Villas Boas contatou a Net para assinar os serviços de TV e de banda larga da empresa. No fim, ela acabou levando também um telefone fixo, num pacote de R$ 79,90 mensais, o mais barato e que trazia bom desconto em relação ao preço individual dos três serviços. ‘Eu não sabia que a Net tinha telefone fixo também e fui convencida a comprar o pacote com os três serviços pelo desconto e pelos preços das tarifas do telefone’, diz Juliana.

A Net pôde oferecer o serviço de telefone fixo e, em conseqüência, o mix com os três produtos – o Net Combo – somente depois da entrada da Telmex, dona da Embratel, como sócia da empresa. O telefone ganhou o nome de Net Fone Via Embratel, que funciona via cabo e pode ser adquirido independentemente de assinatura da banda larga ou da TV. A TVA também oferece os três serviços, mas o telefone não funciona de forma independente da banda larga.

Os novos pacotes representam mais um caminho pela convergência nos serviços de telecomunicações, aponta o presidente da consultoria Telecos, Eduardo Tudes. ‘A tendência é que as empresas de telefonia comprem as de TV a cabo, tornando-se grandes distribuidoras de informação’, avalia.

O grupo Embratel tem participação na Net e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) analisa a aquisição, pela Telefônica, de parte do capital da TVA.

O negócio é bom para ambos os segmentos, diz o consultor, já que a busca por clientes de telefonia pode contribuir com a expansão das redes de TV a cabo, muito limitadas hoje no País. Por outro lado, as companhias telefônicas ampliam seu leque de negócios, ameaçados pela ascensão da telefonia pela internet, chamada Voz sobre Internet Protocol (VoIP).

Segundo o economista Laerte Martins, o mercado deve registrar crescimento de 10% em 2007, o que significa que uma em cada 10 empresas substituirá a telefonia convencional pelo novo sistema. Há hoje no Brasil 125 empresas que prestam serviços de VoIP, que podem reduzir os custos com comunicações de grandes empresas. Entre consumidores comuns, cresce o uso de softwares como o Skype, por exemplo, para chamadas de longa distância pela internet.

Segundo dados do IBGE, o setor de comunicações registrou uma retração de 0,7% no terceiro trimestre deste ano, provocada por um menor uso da telefonia fixa. De acordo com a Teleco, o segmento de telefonia fixa perdeu R$ 400 milhões em faturamento no mesmo período, fechando o trimestre com receita de R$ 14,2 bilhões.

CONSUMIDOR

Para o consumidor, dizem especialistas, há a vantagem de ter mais opções para escolher o serviço favorável ao perfil de consumo. Quando a Net lançou o Combo em março, por exemplo, os preços tinham descontos de 25% a 39% sobre o preço dos serviços em separado na mesma empresa, segundo Márcio Carvalho, diretor de Produtos e Serviços da Net. Sem considerar a despesa telefônica, cálculos mostram que o consumidor economiza até 26% quando assina serviços de outras empresas e migra para o Net Combo. Por exemplo: quem paga a empresas diferentes um total de R$ 268,10 por mês para ter o Speedy (1 mega), da Telefônica, provedor, TVA Digital com canais do HBO e identificador de chamada para linha da Telefônica.

Opção semelhante do Net Combo custa R$ 199,90. A economia nesta opção é de R$ 68,20, ou de 26% – o pacote inclui Net Vírtua (2 megas), com provedor gratuito, TV por assinatura digital com canais do Telecine e o identificador de chamada e outros serviços inteligentes na linha telefônica.

‘Em vez de optar pelo desconto, a maioria dos clientes prefere dar um ‘up grade’ na programação da TV por assinatura’, diz Carvalho. Para incluir também os canais HBO, o preço sobe para R$ 244,90, com economia de R$ 23,20, ou de 8,6%.

O pacote é oferecido com várias opções de TV e velocidades de banda larga com preços que variam de R$ 79,90 a R$ 349,90. A opção está disponível em 10 cidades: São Paulo, Campinas, Santos, Sorocaba, Rio, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Belo Horizonte e Brasília.

IMPERFEIÇÕES

O consumidor José Junqueira fez a opção pelo Net Combo e alerta para deficiências. O Net Fone não funciona quando há falta de energia e é freqüente a falta de linha por cerca de duas horas por semana.

Outra crítica é ao ‘modem’, equipamento que dá linha ao Net Fone. Ele diz que são freqüentes as interrupções no seu funcionamento, e o aparelho só volta ao normal quando é desligado e ligado novamente na tomada. Carvalho, da Net, diz que a empresa está fazendo atualizações no aparelho e nos cabos para solucionar essas falhas.

O processo de consolidação pelo qual vêm passando as empresas de telecomunicações também rende frutos aos clientes. Controladas pelo mesmo grupo, Telemar e Oi, por exemplo, passaram a oferecer um plano conjunto de serviços que reúne, em uma só conta, telefone fixo, celular e internet banda larga. A tecnologia é diferente da adotada pela Net e pela TVA, mas promete melhores condições para o cliente.

No plano Oi Conta Total, o consumidor paga uma taxa fixa mensal e tem direito a falar um número específico de minutos em telefone fixo e celular, além de obter acesso à internet. Segundo especialistas, a empresa se aproveita de ter os três tipos de serviços nas regiões em que atua para abocanhar a clientela dos concorrentes, que precisam ter contas diferentes para telefone fixo e celular.

Esta semana, a Telefônica anuncia estratégia semelhante com a Vivo, operadora de celulares na qual divide o controle acionário com a Portugal Telecom. Segundo a promoção, clientes Vivo que tiverem serviços de internet Speedy, da Telefônica, poderão realizar gratuitamente ligações locais entre telefones fixos e celulares Vivo. É uma parceria tímida, mas aponta para uma convergência maior entre os dois segmentos.

‘A tendência é que o mercado se concentre em três grandes grupos com operações nas duas áreas’, diz Tudes, da Telecos, citando Telefônica com Vivo; o grupo do mexicano Carlos Slim, que controla Embratel e Claro; e a Telemar, que poderia adquirir a Brasil Telecom.’



CASO PIMENTA NEVES
Laura Diniz

STJ revoga prisão de Pimenta Neves

‘A ministra Maria Thereza de Assis Moura, do Superior Tribunal de Justiça, revogou anteontem à noite a ordem de prisão contra o jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, condenado pelo assassinato da ex-namorada, a jornalista Sandra Gomide, em 2000. A ministra entendeu que, como cabem recursos contra a condenação, ele pode responder o processo em liberdade. A liminar atendeu a pedido protocolado pela defesa na terça-feira, quando Pimenta teve a prisão decretada pelo Tribunal de Justiça (TJ).

Para o advogado da família de Sandra, Sergei Cobra Arbex, a decisão foi injusta. ‘Parece que a ministra fundamentou a liminar em um acórdão (decisão) do Supremo Tribunal Federal segundo o qual não se pode prender antes do trânsito em julgado (quando não cabem recursos). Mas o acórdão não diz isso. Com todo respeito, ela não leu.’

Arbex disse que cobrará da ministra que julgue todos os recursos com a mesma agilidade com que julgou esse habeas-corpus. ‘Seu João (Gomide, pai de Sandra) me ligou revoltado. Eu disse para ele ter um pouco mais de paciência que ele (Pimenta) será preso em breve.’

Sobre a mudança de decisão da Justiça – prender no início da semana e soltar agora -, o desembargador José Renato Nalini, do Órgão Especial do TJ, explicou que se deve a diferentes visões sobre as mesmas leis. ‘A interpretação é um ato pessoal. O juiz é livre para se convencer, cada pessoa lê a lei a seu modo. Essa é a riqueza e a vulnerabilidade da Justiça.’

A nova decisão causou indignação entre os vizinhos do jornalista. ‘Todo mundo esperava que ele fosse condenado, mas, se não foi no começo, agora vai ser difícil’, disse a aposentada Maria Rodrigues. Para a jornalista Alice Canabo, a liminar é ‘uma palhaçada’. ‘Que lei é essa? Um juiz fala uma coisa e outro fala outra. Um absurdo, tem lei para uns e para outros não.’

Do ponto de vista técnico, porém, juristas e advogados ouvidos pelo Estado consideraram a decisão correta porque não se deve prender ninguém enquanto ainda se pode recorrer. ‘Senão, estariam antecipando uma sentença que, ao final, não se sabe se ele vai ter que cumprir’, explicou o criminalista Luis Guilherme Vieira.

A casa do jornalista, na Chácara Santo Antônio, na zona sul, permaneceu fechada o dia todo.

COLABORARAM CAMILLA RIGI E JÚLIA CONTIER’



RANKING CULTURAL
Melhores do ano

Daniel Piza

‘Algumas características da lista de melhores livros do ano voltam a se repetir. Primeiro, a não-ficção tem produzido número maior de obras de qualidade, como biografias e ensaios. Segundo, o mercado editorial brasileiro tem oferecido novas traduções e reedições de alto padrão. Mas isso não significa que não haja boa ficção. Os melhores romances estrangeiros que li no ano foram Neve, de Orhan Pamuk, Travessuras da Menina Má, de Mario Vargas Llosa, e Everyman, de Philip Roth, este ainda não traduzido. E acabo de ler uma coletânea de contos, Sinistros com Fogo, do americano David Means, que faz pensar em John Cheever e J.D. Salinger.

No Brasil, o gênero chamou mais atenção, embora num patamar abaixo: contos de Rubens Figueiredo, Paulo Bentancur e Menalton Braff ganharam neste final de ano a competição de veteranos como Rubem Fonseca (Ela) e Dalton Trevisan (Macho não Ganha Flor) – em ambos, concisas e irônicas histórias do universo masculino, prestes a explodir em erotismo e violência, mas sem o nível de suas melhores obras, assim como João Gilberto Noll em A Máquina de Ser. Quanto a romances, Cony e Moacyr Scliar também compareceram. Entre os jovens, Daniel Galera (Mãos de Cavalo) estreou bem e Michel Laub (O Segundo Tempo) amadureceu. Ano sem Milton Hatoum nem Bernardo Carvalho complica.

Duas biografias de brasileiros garantiram bom ano nessa gôndola: O Banqueiro do Sertão, de Jorge Caldeira, que explorou a riqueza de seu personagem, Guilherme Pompeu de Almeida, até a última moeda de prata; e O Inimigo do Rei, de Lira Neto, sobre José de Alencar e suas brigas com Dom Pedro II. E comecei a ler Montenegro, de Fernando Morais, sobre o fundador dos Correios e do ITA, e ainda não li a de Roberto Carlos por Paulo César Araújo. O gênero também foi pródigo em autores estrangeiros: além dos tiranos Stalin (Volkogonov e Montefiore), Mao (Halliday e Chang) e Lenin (Service), personagens como Tocqueville, Descartes e Hardy foram temas de livros elogiados no exterior que ainda lerei. E tivemos a autobiografia Things I Didn’t Know, de Robert Hughes, com sua deliciosa mescla de erudição e fofoca.

Foi um grande ano também para os ensaios, como o lindo Marca d’Água, de Joseph Brodsky, sobre Veneza; On Late Style, livro inacabado de Edward Said sobre o estilo tardio de músicos e escritores; a crítica de arte de Arthur Danto e John Updike; e as polêmicas de Christopher Hitchens e Paul Johnson. O destaque, no entanto, é para os literários: O Último Leitor, de Ricardo Piglia, A Biblioteca à Noite, de Alberto Manguel, A Voz do Escritor, de A. Alvarez, o segundo volume dos Ensaios Reunidos de Carpeaux e A Linguagem de Shakespeare, de Frank Kermode. O bardo inglês acaba de receber da Nova Aguilar uma das edições mais importantes em língua portuguesa, o primeiro volume de suas peças traduzidas por Bárbara Heliodora. Ficções de Gombrowicz, Felisberto Hernandez, Isaac Bábel, Roberto Bolaño, Yasunari Kawabata e Lawrence Durrell, entre outras, ganharam abrigo na língua nacional. A filosofia também: Benedeto Croce, Thomas Kuhn e, acima de tudo, as Passagens de Walter Benjamin.

A fotografia foi brindada entre quatro capas com Cidades Reveladas, de Cristiano Mascaro, Presenças, de Juan Esteves, as recordações de Paulo Autran em Sem Comentários e Brasil – Um Século de Futebol e Magia, que, num ano em que o esporte deveria ter se destacado, foi o melhor lançamento ao lado do Guia Cult para a Copa do Mundo. O jornalismo ganhou coletâneas importantes como a do Pasquim; no mundo, a principal foi The Looming Tower, de Lawrence Wright, sobre a política americana pós-11/9. A ciência foi prestigiada na forma de introduções como Big Bang, de Simon Singh, sobre a origem do Universo; de controvérsia sobre religião, como The God Delusion, de Richard Dawkins; e da questão ambiental, como A Vingança de Gaia, de James Lovelock.

Se você ainda precisa de sugestões para presente, há quadrinhos: o Kafka de Robert Crumb, que entende o humor do autor de Metamorfose, e o Mozart de Milo Manara, que entende o erotismo do autor de As Bodas de Fígaro. Mas a cada semana de seu ano havia um bom livro à sua espera.

DE LA MUSIQUE

A oferta musical não fica atrás. Nesta semana tenho ouvido Orphans, caixa com três CDs de Tom Waits, dos quais o segundo, Bastards, tem uma canção melhor que a outra, melodias em tom sépia como o do papel do encarte. Elvis Costello fez mais dois bons CDs, em destaque The River in Reverse, com Allen Toussaint, sobre os estragos do Katrina. Thom Yorke, The Raconteurs e Bob Dylan deram vida ao rock, e a canção mais pop do ano é sem dúvida Crazy, de Gnarls Barkley. Cantoras como K.D. Lang, Madeleine Peyroux e nossa Cibelle deram o ar de sua graça e voz, e a grande sensação foi uma harpista, Joanna Newson.

No jazz, além de Toots Thielemans e Branford Marsalis, o ano foi de novo de Brad Mehldau, que lançou três CDs, o melhor House on Hill. Chico Buarque e Caetano Veloso lançaram discos, mas o melhor da MPB foi Rosa, de Rosa Passos, além de Ode Descontínua, de Zeca Baleiro sobre Hilda Hilst, e os dois de Maria Bethânia. A canção do ano é Amendoeira, de Marcelo Camelo, gravada por seu tio Bebeto Castilho em CD do mesmo nome. Instrumental: Dois Panos para Manga, de João Donato e Paulo Moura. O belo momento do gênero no Brasil também foi consagrado pelo show em homenagem a Baden Powell que vi no Sesc Pompéia.

Na chamada música erudita, dois brasileiros me deram grande prazer: Nelson Freire tocando as sonatas para piano de Beethoven; Antonio Meneses com seu Schumann & Schubert. O ano de Mozart ganhou CDs bonitos como o de Anne-Sophie Mutter, a violinista, e concertos em São Paulo da pianista Maria João Pires e do maestro Marc Minkowsky. Perdi o Bach de Ilya Gringolts, também violinista, cuja técnica ‘seca’ me agrada muito. Mas não perdi o Quarteto Borodin celebrando Shostakovitch no Festival de Campos do Jordão, que o maestro Roberto Minczuk trouxe de volta aos bons tempos.

CADERNOS DO CINEMA

Os melhores filmes não ocuparam o mesmo degrau, mas, depois do pacote do Oscar – Crash, Capote, Munique -, deu para se divertir com Ponto Final, de Woody Allen, Volver, de Almodóvar, e Os Infiltrados, de Martin Scorsese. E, claro, com Era do Gelo 2. (Estou ansioso para ver os filmes novos de Clint Eastwood e Babel, de Iñárritu.) Gostei muito de Cachê, de Michael Haneke, em que o intelectual Georges (o sofisticadamente intenso Daniel Auteuil) tenta reprimir uma culpa de infância – a humilhação de empregado argelino – e acaba traindo seus preconceitos; parece um conto francês, cheio de subentendidos, com uma cena fortíssima que lança sombra sobre tudo que veio antes e depois. O cinema brasileiro se salvou com O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger, e O Céu de Suely, de Karim Aïnouz. Precisamos de mais filmes acessíveis e apurados como esses, cada um em sua dosagem.

A ARTE DE EXPOR

Fotos tiveram grande ano: Pierre Verger, Marc Ferrez, Mascaro e muitos mais. E dos Deuses Gregos na Faap e da arte pré-colombiana no CCBB até Calder no Brasil na Pinacoteca e os 50 anos da arte concreta, dos dinossauros do Araripe ao acervo do MAM na Oca, a cidade teve de tudo, inclusive o início de um Instituto de Arte Contemporânea com obras de Sérgio Camargo e Mira Schendel; e em 2007 recebe outra que apreciei muito no Rio, Aleijadinho e Seu Tempo. Mas a exposição do ano, para mim, foi a retrospectiva de Volpi no MAM. Ele e Iberê Camargo, que ganhou catálogo completo de gravuras (coordenado por Mônica Zielinsky), são meus artistas brasileiros preferidos.

O MUNDO É UM PALCO

Com bebê em casa, não pude ir o tanto que queria aos teatros. Mas, do que vi, a montagem mais satisfatória foi a de O Avarento, de Molière, por Felipe Hirsch, com Paulo Autran. E do repertório brasileiro, por falta de concorrência, A Pedra do Reino, de Antunes Filho, com o bom Lee Thalor.

POR QUE NÃO ME UFANO

E, por falar em tiranos, Pinochet morreu e ganhou estranhos comentários na imprensa brasileira, na linha ‘Melhorou a economia, mas’… A economia melhorou porque ele chamou a turma de Milton Friedman, que criou ferramentas monetárias e fiscais (como, no Brasil, Bulhões e Campos antes do milagre econômico do governo Médici), e depois quando se fez a reforma da Previdência e outras. Mas regimes autoritários, passado o surto dos primeiros anos, não conseguem sustentar desenvolvimento por muito tempo, e a prova está nas medidas tomadas já no período democrático para dar ao Chile a condição que tem hoje, apesar de problemas.

Pinochet, outro provinciano mimado, subintelectual e antimoderno, era um tirano completo. Se matou muito menos do que Mao, Stalin e outros, não foi menos execrável. Crueldade não cabe em números.

E-mail: daniel.piza@grupoestado.com.br Site: www.danielpiza.com.br



TELEVISÃO
Leila Reis

Da era pré-novela

‘Os ancestrais da teledramaturgia que consumimos diariamente hoje nasceram praticamente junto com a televisão nos anos 50. Eram os teleteatros, geralmente textos dramáticos consagrados que eram encenados ao vivo e, portanto, sujeitos a imprevistos incapazes de serem eliminados na edição.

Existem histórias saborosas sobre as gafes e as conseqüentes improvisações que heróicos pioneiros cometiam para salvar o espetáculo. Lima Duarte é um dos que vive contando histórias de armas que negavam fogo no ponto alto da cena e falas modificadas na era pré-videotape. Teatro de Comédia, Teatro de Vanguarda, Grande Teatro Tupi foram programas por onde passaram autores, diretores e autores que estão na ativa até hoje.

Nos anos 70 e 80, a Cultura investiu na transposição do teatro para a TV como os teleteatros e tele-romances, agregando outro valor à produção. O da criação de uma linguagem diferente, dando um salto em relação às experiências anteriores que nada mais eram do que teatro televisado.

Os textos de dramaturgos consagrados ou iniciantes eram a base para a criação de uma produção que não era cinema e nem teatro: nascia a teledramaturgia nacional.

Esse exercício pode ser testemunhado agora, pelo vídeo da Cultura nas noites de quinta (22h40), com a exibição da série Antunes Filho em Preto e Branco, que reúne 16 teleteatros dirigidos e adaptados pelo Antunes nos anos 70. Nelson Rodrigues (Vestido de Noiva), Jorge Andrade (A Escada), Dostoievski (Crime e Castigo), J.M.Synge (No Vale do Diabo), estão entre os episódios a serem exibidos.

Para não jogar simplesmente esse acervo no ar, a Cultura o embala em uma certa contextualização convocando especialistas – diretores teatrais, autores, críticos – para um debate em cada programa. Essa conversa coloca tudo em perspectiva: o aprofundamento no autor, a apresentação de informações sobre os atores, o trabalho de direção e aspectos da produção. A ilustração do discurso dos convidados, por meio da exibição de cenas do programa, é um recurso quase didático, funciona bem para o telespectador interessado em algo mais do que o mero entretenimento.

Não é o tipo de programa para paladares acostumados apenas ao trivial rápido, mas também não é sofisticado a ponto de não sabermos o que estamos provando. Pelo contrário, os teleteatros assinados por Antunes Filho, fora o fato de terem sido produzidos em preto-e-branco, são de uma modernidade surpreendente. Os enquadramentos têm uma diversidade incomum à época e os movimentos de câmera têm a agilidade a que fomos habituados pela era videoclipada em que vivemos.

E m Casa Fechada, de Roberto Gomes, exibida na estréia da série, as locações externas, gravadas em Paranapiacaba (Estado de São Paulo), são cinematográficas e conseguem imprimir o clima misterioso à história interpretada por Karin Rodrigues, Jofre Soares, entre outros.

É bom prestar a atenção em Vestido de Noiva (prevista para o dia 4 de janeiro). Fora a interpretação maravilhosa de Lílian Lemmertz (Alaíde) e Natália Thimberg (Madame Clecy), a utilização do recurso do flash-back torna a história de Nelson Rodrigues mais compreensível até que no teatro.

Com Antunes Filho em Preto e Branco a Cultura reafirma sua missão de levar ao vídeo entretenimento um pouco mais denso do que o de suas co-irmãs da rede aberta. E, como laboratório, oferece subsídios para a concorrência aprender como fazer coisas interessantes sem concessões à boa qualidade.’



***

Atração fatal

‘O que o panetone, o amigo-secreto, o salpicão de frango e os especiais de fim de an o na TV têm comum? Por mais que você relute e não goste, vai acabar provando um pouquinho deles nessa época.

Claro que há mais motivos para se lamentar o término de 2006 que os especiais de Xuxa e Roberto Carlos, mas, ao ligar a TV, há poucas chances de se escapar das arapucas natalinas e de réveillon que as emissoras armam para nós telespectadores na temporada. Quando mal percebemos, já estamos lá, presos nelas, quando não cercados pela família inteira acompanhando tudo, como uma boa e hipnotizada audiência costuma fazer.

Mas saiba que há vida além de Didi vestido de Papai Noel na Globo e filmes a la Rena do Nariz Vermelho no SBT. Sitcoms, musicais, longas-metragens e documentários inéditos, com boas propostas, podem salvar as suas festas. Assim como o brigadeirão de microondas daquela sua tia, que só aparece nessa época do ano.

Deixando a comilança de lado, vamos às novidades. Na Globo, Dom segue a linha explorada pela emissora à exaustão na teledramaturgia: a do misticismo. A trama, que vai ao ar no dia 21, após Páginas da Vida, conta a história de Téo (Bruno Gagliasso), jovem que descobre ter poderes paranormais. De autoria de Ronaldo Santos, João Brandão e Thereza Falcão, a produção traz ainda no elenco: Nelson Xavier, Zezé Polessa, Fernanda Paes Leme, Werner Schünemann e Camila Rodrigues.

Dom faz parte do pacote de produções que a Globo aproveita para desovar nessa época em que os titulares de seus respectivos horários entram em férias. São idéias que não têm espaço na engessada grade da emissora ao longo do ano letivo e que, se derem certo, podem ganhar espaço fixo na emissora. Foi assim com A Diarista e Sob Nova Direção, em 2003.

Na mesma onda vêm Os Amadores, no ar dia 22, após o Globo Repórter. Ok. A sitcom não é novidade, já foi ao ar entre os especiais de fim de ano de 2005, mas volta repaginada e vale como diferencial. A trama traz as aventuras de quatro homens completamente diferentes, que não se conheciam, morrem na mesma noite, voltam juntos do além e se tornam amigos. São eles Cássio Gabus Mendes, Otávio Müller, Matheus Nachtergaele e Murilo Benício. Fernanda Torres e Flávia Alessandra fazem uma ponta no especial.

No dia 23, Regina Casé vai comandar uma edição especial do Central da Periferia. Gravada na Praça da Apoteose, no Rio, a atração reúne Zeca Pagodinho, Marcelo D2, AfroReggae e convidados como Ana Maria Braga, Reynaldo Gianecchini, Pedro Cardoso e Juliana Paes.

Para não dizer que o bom velhinho ficou de fora, no domingo, dia 24, após o Fantástico, é a vez do especial Papai Noel Existe. Reginaldo Faria é o barba branca da vez.

Dilemas do cotidiano das mulheres regados a bom humor são o recheio de Lu, sitcom que vai ao ar no dia 26, depois do Vídeo Show Retrô. Luana Piovani interpreta a história de três mulheres: Lucimara, Luciane e Lourdes. Luana, no papel dela mesma, é a quarta Lu, que aparece dando pitaco nas histórias das personagens. Os bonitões Marcello Antony e Reynaldo Gianecchini engordam o elenco.

Música, música, música

E eis que surge a grande estrela desse pacotão. No dia 28, às 22h,a Globo exibe Por Toda Minha Vida, especial sobre Elis Regina.

Fatos importantes da vida da cantora serão dramatizados em forma de docudramada, com base em depoimentos de personalidades que conviveram com Elis, como Nelson Motta e Gilberto Gil. Com direção de Ricardo Waddington, o especial traz a atriz Hermila Guedes (do filme O Céu de Suely) na pele de Elis já adulta. Quando mais jovem, a cantora será vivida por Bianca Comparato. A atração, que começou a ser gravada na semana passada, deve contar com a participação da filha de Elis, Maria Rita.

Música também é o mote do pacotão de fim de ano da Band. Hoje, às 22h, é a vez do especial do cantor Leonardo.

No domingo, dia 24, às 14h, o canal exibe o show do Palavra Cantada, ótima pedida para as crianças. Às 22h tem mais um sertanejo na área: o show Bruno & Marrone ao vivo.

No dia 25, às 21h30, é a vez de Floribella – O Musical.

Já na virada, no dia 31, quem comanda a festa é Daniella Mercury no show do Pôr do Sol, direto do Farol da Barra, em Salvador.

Na RedeTV!, o destaque é um show do Fatboy Slim, gravado na Inglaterra, que vai ao ar à meia-noite do dia 31.

A MTV também investe em música em seus especiais, pelo menos por enquanto. De Metallica a The Killers, não faltam shows na grade noturna do canal do dia 17 ao dia 31.

Na Cultura há musicais para todos os gostos e estilos. Gil (amanhã)e Milton Nascimento( dia 25) são destaque no Repertório Popular. No dia 23, as atenções se voltam para Zizi Possi no Ensaio, e o Bem Brasil com Arnaldo Antunes.

Já entre os documentário há o Ikatu Xingu, que conta com a participação da top Gisele Bündchen, e Auschwitz, premiada série da BBC sobre um dos mais famosos campos de concentração do regime nazista.

No entanto, se todas essas dicas acima não forem suficientes para transformá-lo em integrante em potencial do ibope natalino, pense que poderia ser pior. Pense no amigo-secreto fake entre famosos do Fantástico, na quarta edição do Esqueceram de Mim, no Natal do Barney ( aquele dinossauro roxo), nos melhores momentos da Praça É Nossa, na retrospectiva de Tom Cavalcante, na milionésima reprise do Natal do Castelo Rá-Tim-Bum e em Latino, aquele da Festa no Apê, comandando um show de réveillon na Band. E aí? Salpicão de frango, de novo, não parece mais tão ruim assim, vai?

Operação tapa-buraco

Para quem gosta da mesmice maquiada de Papai Noel e de roupinha branca, opções não faltam. Ivete Sangalo segue no comando da maratona de musicais do Estação Globo, no ar hoje e dia 24, às 13h30, com atrações que vão de Calipso a O Rappa. Uma espécie de Globo de Ouro reformulado.

Sob Nova Direção, A Diarista, A Grande Família e Casseta & Planeta, Urgente! ganham nesta semana seus especiais de Natal. Com destaque para os cassetas, que fazem uma sátira dos especiais de fim de ano da Globo e da corrida de São Silvestre.

Para quem gosta, na quarta-feira é dia de Xuxa Especial, logo após Páginas da Vida

No sábado, Ana Maria Braga comanda logo pela manhã o Natal do Mais Você. No domingo, véspera de Natal, o Esporte Espetacular faz uma retrospectiva esportiva, seguido pelo Natal de Didi e do Domingão do Faustão, abastecido pelo já conhecido troféu Melhores do Ano na Globo.

No dia 26, o Vídeo Show faz sua retrospectiva, logo após a novela das 9. No dia 29, Sérgio Chapelin apresenta, no horário do Globo Repórter, a Retrospectiva 2006. No dia 31, a rede encerra suas comemorações com a transmissão da São Silvestre e do Show da Virada. Tudo igual.

Na Cultura é o Cocoricó que ganha especial de Natal no dia 24 e de Ano Novo, no dia 31. No dia 24, à meia-noite, o canal exibe a tradicional Missa do Galo.

Na Record, quase todos os programas terão suas versões natalinas e de réveillon, com destaque para o Tudo é Possível, de Eliana, nos dias 24 e 31, Hoje em Dia, no dia 25, e o Show do Tom, nos dias 23 e 30. Márcio Garcia e seu Melhor do Brasil colocam os famosos para disputarem a gincana do gongo – aquela em que calouros são gongados – na edição natalina do 23. Estrelas da emissora disputam um prêmio em dinheiro, a ser doado a uma instituição beneficente, mostrando suas habilidades artísticas em outras áreas que não as suas.

Os principais programas da grade da Band, como o Boa Noite Brasil, Sabadaço, A Noite é Uma Criança, Bem Família, Pra Valer, De Olho nas Estrelas e Programa Raul Gil também terão seus especiais a partir desta semana, com destaque para Natal de Floribella, no dia 24, às 23h30.

O Pânico na TV! garante a diversão dos dias 24 e 31 na RedeTV!, com seus especiais de Natal e réveillon. Vale para rever os melhores momentos de Vesgo e Silvio este ano. Um pouquinho antes, às 18h, o canal faz uma retrospectiva dos melhores momentos do esporte em 2006.

No dia 25, às 22h, Luciana Gimenez comanda o Natal do Superpop e no dia 1º, o Ano Novo da atração, com direito a longo branco, é claro.’



******************

Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Agência Senado

Veja

No Mínimo

Comunique-se

Revista Imprensa

Último Segundo

Primeira Página