VEJA
Tânia Monteiro
‘É uma insanidade’, reage Lula
‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem com irritação ao ser indagado por jornalistas sobre a reportagem publicada pela revista Veja. ‘A revista não traz uma denúncia. Traz uma mentira. Eu considero isso um crime’, disse o presidente, que encerrou ontem sua visita a Viena. ‘A reportagem é de uma leviandade e grosseria que um ser humano comum não pode admitir, quanto mais um presidente da República. A Veja chegou ao limite da podridão da imprensa. Quem escreveu aquilo não pode dizer que é jornalista. É bandido, mal-caráter, malfeitor e mentiroso.’
Antes da entrevista, Lula tirou fotos com funcionários do Hotel Imperial, onde se hospedou, e com os repórteres, além de fazer em tom de brincadeira uma referência à primeira-dama: ‘Se tivessem me avisado antes que eu tinha US$ 38 mil, eu tinha comprado um presente para a dona Marisa.’
Na entrevista, Lula mudou o tom. ‘Acho que houve uma total irresponsabilidade. Vocês conhecem alguns dos jornalistas citados e sabem o que eles têm feito ao longo dos meses no País. Eu não acredito que dentro da Veja haja uma única pessoa que tenha 10% da dignidade e da honestidade que eu tenho’, afirmou. ‘Não posso admitir isso. É uma ofensa ao presidente, é uma ofensa ao povo brasileiro. Essa prática de jornalismo não leva o País a lugar nenhum. É uma insanidade o que foi publicado.’ E acrescentou: ‘Vamos ser francos: a Veja tem alguns jornalistas que já há algum tempo vêm merecendo o Prêmio Nobel de irresponsabilidade.’ Questionado se vai tomar providências contra a revista, o presidente respondeu que ainda não tinha lido direito a reportagem e, quando retornar a Brasília, decidirá.
A assessoria do Ministério da Justiça divulgou nota afirmando que ‘são totalmente infundadas’ as informações sobre a suposta conta de Marcio Thomaz Bastos.’
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Uma viagem ao admirável mundo novo de 2020
‘Numa conversa virtual deliciosa, entrevistei pela internet Peter Cochrane, ex-diretor de tecnologia da British Telecom, cientista, consultor e escritor inglês, discutindo com ele o tema de um seus artigos (‘Taking a look back from 2020’), em que faz uma viagem ao futuro. Eis aqui uma síntese de suas idéias, com minhas observações pessoais.
Estamos no dia 14 de maio de 2020, quinta-feira. A maioria das pessoas já usa o minúsculo aparelho de música digital MP8 player, presente preferido no Dia das Mães, que tem memória mil vezes maior que um iPod Nano, para armazenar fotos, livros tradicionais, documentos e programas de vídeo.
As mudanças ocorridas entre 2006 e 2020 foram duras e conflituosas, em especial a guerra entre usuários da tecnologia MP3 e a antiga indústria de gravação. O CD praticamente desapareceu em 2010, substituído primeiro pelas memórias rígidas em pastilhas de silício e, mais recentemente, pelo armazenamento holográfico. A pirataria tecnológica foi vencida, inclusive no Brasil, pela ação conjunta da educação, da tecnologia e dos sistemas de supervisão virtuais.
Os brasileiros se preparam para comemorar o segundo Centenário da Independência, ao longo de todo o ano de 2022, com shows de laser nos céus, todas as noites, de norte a sul. O Corinthians reforça o time para ser campeão também nesse centenário. Em minha imaginação, desejo que muita coisa tenha mudado para melhor neste Brasil de 2020, em especial na economia e na tecnologia.
O mundo aboliu os velhos e desconfortáveis sistemas de identificação biométricos, com interfaces que utilizavam nossas impressões digitais, íris ou fisionomia. Agora tudo é feito com a linguagem natural. Todo acesso se torna mais fácil e instantâneo, sem qualquer frustração, na terceira geração da web, a 100 Mbps, na internet-3.
Milhões de pessoas usam supercomputadores de bolso do tipo TeraFlop, que em 2006 custavam cerca de US$ 2 milhões e eram enormes. A miniaturização está chegando aos limites moleculares, como previu Gordon Moore, o fundador da Intel. Os microcomponentes avançados possibilitam novas conquistas nas áreas de computação molecular, nanotecnologia e de materiais programáveis.
É incrível o arsenal de produtos e tecnologias que temos à nossa disposição, como comunicações instantâneas, robótica, carros movidos a hidrogênio, aviões suborbitais, sistemas avançados de segurança pessoal e pública, redes de monitoração, cuidados médicos automáticos, robôs domésticos e industriais, estradas inteligentes e recursos avançados de multimídia na educação.
Façamos um breve retrospecto dos principais avanços tecnológicos.
Em 2006, os Estados Unidos e a Europa perdem a corrida da banda larga com a Coréia do Sul, que já oferece a milhões de cidadãos até 100 megabits por segundo (Mbps), enquanto o Ocidente não chega a 1 Mbps.
Em 2007, o telefone começa a se transformar numa espécie de intercomunicador aberto 24 horas por dia. As companhias telefônicas mais tradicionais vão sendo adquiridas por empresas especializadas em Voz sobre protocolo IP (VoIP), como a Skype.
A partir de 2008, os serviços baseados em redes sem fio Wi-Fi e Wi-Max se espalham pelo mundo a custo zero para o usuário. A terceira geração do celular (3G) perde força, antes mesmo de ter conquistado o mercado. Chegam os sistemas auto-imunes que resistem a ataques de qualquer vírus, seja Cavalo de Tróia ou o brasileiro Sanguessuga.
Por volta de 2009, as redes sem fio já são totalmente baseadas na comutação de pacotes, com o protocolo internet (IP). Nasce a segunda geração de sistemas de informação auto-imunes, que monitora e persegue hackers, spammers e outros delinqüentes digitais. Sem utilidade, começam a desaparecer os departamentos de segurança da informação das empresas. Milhares de Chief Information Officers (CIOs) perdem o emprego.
Em torno de 2010, as companhias telefônicas são substituídas por centenas de minúsculas operadoras de redes. O Japão e a Coréia do Sul passam a oferecer serviços com velocidade da ordem de terabits por segundo. Sistemas de armazenamento doméstico chegam ao nível de um terabyte e as memórias RAM dos PCs chegam ao patamar de 20 gigabytes. Surgem as primeiras interfaces com comando vocal para ambientes ruidosos.
Em 2011, as redes IP passam a oferecer praticamente tudo: rádio, TV de alta definição, games, loterias eletrônicas, diagnósticos e tratamentos médicos, teletrabalho móvel, apoio à logística, vigilância, segurança, varejo, roteiros de viagem e muito mais.
Em 2012, surgem as primeiras redes mundiais de supercomputadores.
Em 2014, o mundo experimenta os maiores avanços na área de saúde, com implantes baseados em nanomateriais e programação biológica. A expectativa de vida média dos habitantes de países desenvolvidos atinge 100 anos.
Em 2015, a linguagem natural é utilizada na maioria das máquinas.
Que tal viver num mundo desses? Os sites de Cochrane são: www.cochrane.org.uk/ e www.silicon.com.’
MERCADO EDITORIAL
EntreLivros comemora um ano nas bancas Revista das revistas
‘A revista EntreLivros comemora seu primeiro aniversário com um balanço ultrapositivo do editor Oscar Pilagallo. E, ainda, descendentes pelo caminho. Além de ter se firmado como publicação cultural de prestígio, a Entrelivros lançou, no ano de sua criação, uma biblioteca básica com periodicidade trimestral. Ela circula em edição independente (Biblioteca EntreLivros) e traz textos assinados por especialistas. Já foram publicados três números (um sobre os gregos, outro sobre a Bíblia e ainda um terceiro sobre literatura árabe). A novidade foi um sucesso editorial da Duetto, que publica a revista. Tanto que, em junho, uma nova série chega às bancas e livrarias do país: EntreClássicos. Vai reunir tudo o que leigos queriam saber sobre Dante, Shakespeare, Cervantes, Goethe e Balzac.
Mais que novos produtos, essas séries independentes refletem a seriedade do compromisso editorial da EntreLivros, de traduzir a obra de grande autores para uma nova geração de leitores. Pilagallo diz que ainda não foi feita uma pesquisa para definir o perfil de seus leitores, mas as cartas enviadas à redação dão conta que a faixa atendida é bem elástica e inclui muitos leitores jovens. De modo geral, essas cartas são bastante elogiosas. No último número, dedicado a uma investigação sobre afinidades e diferenças entre os maiores poetas brasileiros do século 20 (que define Drummond e Cabral como antípodas), leitores sugeriram novas pautas e alguns até confessaram não ter resistido e roubado a primeira edição no consultório do dentista.
‘Sabendo que uma revista de cultura sempre tem dificuldades para se firmar, o fato de EntreLivros circular há um ano prova que ela veio mesmo para ficar’, comemora Pilagallo. É claro que os critérios de edição respondem também por esse sucesso. No número 13, que está nas bancas, é possível ler tanto os comentários sobre as duas biografias atualizadas de Drummond e Cabral como um crítica de Tony Judt (The New Yorker Review) que desmonta o livro do historiador americano John Lewis Gaddis sobre o período da Guerra Fria (The Cold War, Penguin, 333 págs., R$ 27,95), passando por uma entrevista com um dos grandes talentos da literatura brasileira, o premiado Bernardo Carvalho (Mongólia). Carvalho surpreende com a autocrítica de seus livros anteriores a Nove Noites e Mongólia, dizendo que os considera ‘mais estranhos, mais difícies e, d e um certo ponto de vista, mais radicais’.
O nível dos colaboradores e colunista de EntreLivros responde igualmente pelo êxito da revista. A entrevista de Carvalho foi conduzida pelo escritor Michel Laub. Milton Hatoum, o autor de Dois Irmãos, assina a coluna Norte, em que fala de suas afininidades eletivas em literatura. O filósofo e escritor italiano Umberto Eco (O Nome da Rosa) escreve o ponto final da publicação em sua coluna Ecco!, neste número dedicado à trágica ressonância dos clássicos gregos no mundo contemporâneo.’
TELEVISÃO
Bula bem seguida
‘Depois de uma certa desorientação, o SBT parece ter encontrado o caminho da audiência. O curioso é que esse caminho é iluminado por faróis estrangeiros. O concurso musical Ídolos e o reality show SuperNanny estão entre os programas mais vistos da emissora desde o começo de abril, com médias acima de 15 pontos no Ibope (na Grande São Paulo).
Ao contrário do que fez com o Big Brother – que copiou sem o menor pudor com Casa dos Artistas -, o SBT agora paga pelo formato desses programas importados e, ao que parece, segue a bula à risca. E se dá bem.
Claro que a marca SBT aparece nos dois programas. A luz, o cenário, os participantes não dão margem para o público pensar que está em outro canal. No caso da competição baseada no sucesso American Idol, a digital da emissora de Silvio Santos aparece no mal-ajambramento dos jurados Carlos Miranda e Arnaldo Saccomani, na pieguice das entrevistas dos dois apresentadores elétricos (uma clara intenção de parecer com a balançante MTV), no cenário do estúdio em que os candidatos são catapultados à fase seguinte ou excluídos de seu lote de fama.
Mas é um programa bom de se ver. Da mesma forma que o sazonal Fama da Globo, Ídolos chama a atenção porque abre as portas para jovens em busca do sucesso. Por mais que se tente forçar a barra em função do nome do programa, fica claro que os candidatos não são aspirantes à condição de ídolo. Querem ser reconhecidos como artistas e ganhar a vida à custa de seu talento. Ídolos pega porque a emoção que transpira não parece forjada como a de big brothers na frente do telão em dia de eliminação (‘é minha mãe, minha prima, meu irmão!’).
Com SuperNanny a razão do Ibope é diferente. Nos Estados Unidos e Inglaterra, a governanta Jo Frost também faz o maior sucesso disciplinando filhos rebeldes e pais displicentes na frente das câmeras. Para a versão nacional, o SBT seguiu a cartilha da dona da fórmula e contratou Cris Poli, uma argentina radicada no Brasil cuja estampa é meio governanta de reformatório, muito parecida com a original. Formada em Pedagogia e licenciada em Letras pela USP, Cris entra na casa de famílias com problemas e a ‘ensina’ a educar os filhos (de até 10 anos).
É claro que as famílias selecionadas (elas se oferecem para participar) têm crianças mais malcriadas do que a média e pais dispostos a seguir cegamente as orientações da superbabá. O programa é bem-feito porque, em uma hora, o telespectador acompanha uma história que vai do caos ao céu. E termina com a despedida da governanta, com cara de dever cumprido.
N ão é difícil imaginar a razão do sucesso de SuperNanny no Hemisfério Norte e aqui no Brasil. O conflito entre pais e filhos é universal e isso independe do fato de sermos mais pobres do que americanos e ingleses. Por mais caricata que possa ser, trata-se de uma terapia familiar ao alcance da massa.
Diferente do tempo em que o certo era o que os pais determinavam a partir de um código de valores muito seguro, o mundo de hoje é o reino do relativo, em que o certo e o errado se confundem. Então a representação de conflitos passíveis de acontecer perfeitamente na casa de qualquer um funciona como um espelho para o telespectador. Ao interferir na dinâmica da família em crise, a babá de TV acaba apontando caminhos para o pessoal do sofá.
Fora a delícia de ver o circo pegar fogo na casa do vizinho, o legal é que, entre mortos e feridos, se salvam todos no final.’
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