FENAJ / CORPORATIVISMO
‘Presidente deveria jogar fora essa lei autoritária’
‘Ugo Giorgetti é cineasta, mas tem uma coluna de futebol. Chico e Paulo Caruso, formados em arquitetura, fazem caricaturas e charges sobre gente e situações que viram notícia. A mesma arte de Cássio Loredano, que não passou do ginásio, mas percorreu todas as mesas de redação de jornal até encontrar a sua vocação. José Ferreira Neto – o Neto de oito clubes, do Ponte Preta ao Santos, passando pelo São Paulo, Palmeiras, Corinthians e Atlético Mineiro – é comentarista esportivo. Nenhum deles tem diploma de jornalista, mas todos trabalham na imprensa.
Até agora tranqüilos no exercício de uma atividade que lhes deu projeção nacional, esses comentaristas e ilustradores correm o risco de perder o emprego, se o presidente Lula sancionar o projeto de lei, já aprovado pelo Congresso, que atualiza a regulamentação da profissão de jornalista. De acordo com o novo texto, eles não poderão fazer comentários e ilustrações, se seu trabalho for considerado de conteúdo jornalístico – interpretação que, em casos polêmicos, será resolvida na Justiça.
‘Esse projeto de lei é fruto da tirania dos burocratas, pois alguns profissionais não têm por que fazer curso superior’, disse Giorgetti. Diretor de 10 filmes, entre eles Boleiros 1 e Boleiros 2, ele escreve sobre futebol no Estado, embora não seja jornalista. ‘Eu teria de escrever sobre cinema, mas, outro absurdo, não posso dar aula de cinema na universidade, porque não sou formado nessa área.’ Se o projeto sobre a profissão de jornalista for sancionado, observa o cineasta-comentarista, será uma lei difícil de se cumprir.
‘É uma lei amadora e autoritária, uma porcaria, que o presidente deveria rasgar e jogar fora’, disse Chico Caruso, compartilhando em tudo a opinião de seu irmão gêmeo Paulo, arquiteto de formação e caricaturista de profissão como ele – Chico nas páginas de O Globo e Paulo no Jornal do Brasil e na TV Cultura.
Aos 35 anos de profissão, os dois irmãos estão convencidos de que ilustrador não tem de estudar jornalismo, mas história da arte e linguagem visual. ‘É uma desmoralização exigir diploma de profissionais que exercem essa atividade por talento’, adverte Paulo Caruso.
Outro ilustrador, o Loredano dos Sinais Particulares da página 2 do Estado, argumenta com uma experiência de vida para provar que sua arte não se ensina em faculdade. ‘Comecei em jornal como revisor e passei por todas as funções – repórter, redator, diagramador, secretário de redação e secretário gráfico – até descobrir a minha vocação de caricaturista.’
Aos 58 anos, que completará na segunda-feira, Loredano tem a convicção de que nenhum curso superior lhe ensinaria essa profissão. ‘Caricatura é fácil ou é impossível’, observa, revelando que, antes de acertar na carreira, tentou ser cantor de rádio e jogador de futebol. A exigência de diploma de jornalista para ilustrador e outras funções que podem e têm sido exercidas por profissionais de outras áreas, desconfia Loredano, ‘parece mais lobby de faculdades do que defesa de mercado’.
‘Se me impedirem de escrever em jornal ou de fazer comentários em rádio e em televisão, eu vou entrar na Justiça para defender meus direitos de cidadão’, anuncia Neto, 17 anos de futebol e 10 de comentarista, com espaço no Estado, na Rádio Transamérica e na TV Record.
Ex-jogador sem nenhum diploma de curso superior, Neto está seguro de que sabe mais de esporte do que muito jornalista formado. ‘Comentarista tem de entender do riscado e, se estou há tanto tempo na área, é porque entendo’, disse Neto, acrescentando ao seu os exemplos de Tostão, Falcão e Casagrande. ‘Temos direito adquirido e, se formos impedidos de trabalhar, vamos lutar por eles’, promete.’
IMPRENSA & CIÊNCIA
Saúde, ciência e mídia
‘O desenvolvimento tecnológico em várias áreas da ciência, em especial na biotecnologia moderna, tem alcançado avanços significativos. No entanto, devido à interpretação às vezes apressada e não criteriosa dos resultados e observações científicas e à rapidez com que alguns profissionais almejam a sua divulgação na mídia, têm ocorrido incoerências. Informações incorretas têm levado parte da população a falsas ilusões, eventualmente com prejuízos importantes para o ser humano.
A pressão das agências financiadoras, o ego de alguns poucos cientistas e a procura de notícias de impacto pela mídia podem levar a anúncios de resultados na área de saúde e biotecnologia não comprovados ou até fraudulentos. Um exemplo recente é o do escândalo do pesquisador sul-coreano Huang Woo-Suk, que abalou a comunidade científica e a opinião pública, pela fraude, nos falsos resultados publicados, de clonagem humana por transferência de núcleos de células somáticas de pacientes, em óvulos de doadoras. O trabalho, publicado na prestigiosa revista Science, foi amplamente divulgado e depois desmentido. O desejo de fama rápida dos protagonistas, e dos que os financiaram, levou à fraude, que em última análise foi prejudicial a toda a comunidade científica, à mídia e à sociedade. Enfim, a clonagem de embriões humanos não só é complexa e desnecessária, como eticamente inaceitável.
Os estudos das células-tronco utilizam uma tecnologia promissora, pelo seu grande potencial na medicina. São células somáticas indiferenciadas, multipotentes, capazes de se diferenciar no tecido em que forem implantadas, podendo reparar tecidos traumatizados ou órgãos deficientes. Elas já foram utilizadas com bons resultados em várias doenças e tecidos humanos prejudicados. Freqüentemente, porém, notícias na mídia sobre células-tronco não correspondem inteiramente à verdade. O congelamento de células umbilicais de recém-nascidos é freqüentemente inócuo, gerando falsas ilusões para as famílias, pois nos casos de doenças genéticas do doador as células têm as mesmas alterações ou a sua preservação por muitos anos pode invalidar a sua utilização nos adultos. O uso de células-tronco é auspicioso, mas é necessária a comprovação de sua eficiência e segurança a médio e longo prazos. As células não-diferenciadas podem, eventualmente, ser eliminadas no receptor ou, então, sem os controles de regulação gênica, dar origem a tumores.
A terapia gênica objetiva o tratamento de doenças, por manipulação gênica ou introdução, por vetores virais, de genes adequados. Mas, apesar de promissora, não foi ainda possível nenhum tratamento definitivo, nem mesmo em deficiências de um simples gene, aparentemente por causa da rejeição imunológica ou da tecnologia ainda insuficiente. São necessários estudos mais extensos, multidisciplinares, antes que ela possa ser aplicada de forma consistente, na prática médica.
No caso de vacinas, por engenharia genética, cujo potencial é fantástico, apenas a vacina contra hepatite B é utilizada, universalmente, sem restrições. No Brasil, ela foi desenvolvida no nosso Laboratório de Genética do Instituto Butantan, com a colaboração de N. Granovsky, e é atualmente produzida para todo o País. A precipitação no anúncio de novas vacinas, ainda não testadas nas três fases clínicas, que levam vários anos de acompanhamento e avaliação, atende, mais freqüentemente, a interesses econômicos dos laboratórios do que à própria população. Várias vacinas promissoras não têm ainda sua eficiência comprovada.
Vacinas só de DNA, isto é, de seqüências gênicas de vírus e bactérias, inoculadas nos indivíduos, levam à síntese de proteínas imunogênicas, que podem ser eficientes para proteção ou terapia. Usadas experimentalmente em animais, a sua eficácia ainda não foi comprovada, além do fator segurança, pela eventual incorporação do seu DNA ao genoma humano.
É preciso enfatizar que a divulgação das informações deve ser sempre acompanhada de análise criteriosa das restrições e dos problemas envolvidos, para que não gerem falsas expectativas, que poderão ser utilizadas por maus ou pseudoprofissionais com interesses pessoais, às vezes escusos. Os cientistas devem divulgar o que fazem e os resultados de suas pesquisas para a sociedade, que, em última instância, financia o seu trabalho. No entanto, devem assumir a responsabilidade de difundi-los acompanhados de crítica e análise criteriosa. Por outro lado, a mídia deve pautar o conteúdo das informações a serem anunciadas após uma consultoria crítica adequada, a exemplo do que este jornal rotineiramente faz.
Outro fator importante é a responsabilidade do governo e das agências financiadoras, que devem adequar os recursos racionalmente e de acordo com os interesses da comunidade e da Nação. Recursos exagerados em alguns tópicos de modismo prejudicam o investimento em projetos que são tão ou mais importantes e freqüentemente de custos mais compatíveis. A política de investimentos e auxílios para projetos prioritários é inadequada e passa por solução de continuidade, o que se reflete na posição internacional de país pouco desenvolvido. Exemplo disso é o baixo índice de patentes do Brasil, comparado a outros países. O registro de novas patentes, no mundo, cresceu em 9,5% em 2005, em relação a 2004. Nos países em desenvolvimento, chegou a 20%. No entanto, no Brasil o crescimento de só 0,7% é ínfimo, comparado com 116% no Chile, 100% na Argentina, 45% na China e 31% na Romênia.
Willy Beçak, pesquisador científico, foi coordenador-geral dos Institutos de Pesquisa da Secretaria da Saúde, diretor-geral do Instituto Butantan, fundador e presidente da Fundação Butantan’
ECONOMIA & INTERNET
Internet física e aduanas
‘No Brasil, em janeiro de 2005, exportadores e importadores levavam em média, respectivamente, 39 e 43 dias para cumprir os procedimentos exigidos em suas operações. Este foi um dos dados apresentados no ano passado pelo relatório Doing Business 2006, elaborado pelo grupo Banco Mundial.
Como um dos indicadores usados num estudo mais amplo sobre as condições de fazer negócios em 154 países, o levantamento feito pelo Banco Mundial consistiu na compilação de todos os procedimentos exigidos na exportação e importação de uma cesta padronizada de bens. Cobriram-se todos os procedimentos, desde o momento em que uma firma inicia a preparação dos correspondentes documentos até o momento em que a carga chega ao destino, exclusive seu translado físico internacional.
Comparando-se os números do Brasil com os dos outros abordados, o País revela-se mais lento e custoso, nessa área, que seus concorrentes diretos. Não vale, é claro, comparar com os cinco dias para exportar ou importar na Dinamarca! Somos mais lentos e exigimos mais assinaturas que Argentina, China, México, Coréia do Sul, Chile, Colômbia, Filipinas, Portugal, Venezuela e outros de longa lista.
Um dos resultados gerais da pesquisa foi o de que os momentos mais intensivos em infra-estrutura física – portos e translado terrestre – são responsáveis por apenas 25% do tempo gasto, enquanto no caso das importações os documentos pré-chegada explicam 59% desse prazo. Embora alguma carga burocrática tenha sempre que existir por motivos justificáveis (segurança, pagamento de tributos, etc.), o fato é que há freqüentemente a presença de ‘pesos mortos’, procedimentos que permanecem em vigência mesmo após esgotada sua funcionalidade – quando alguma pode ser apontada -, quer por inércia ou por interesses particulares. E tais pesos mortos custam caro.
No caso das exportações de manufaturados, por exemplo, os custos das transações comerciais em boa parte das economias em desenvolvimento vêm a ser mais altos que os correspondentes às tarifas sobre elas aplicadas na União Européia e nos EUA. Estima-se que os custos com a burocracia superem 10% do valor das exportações desses países.
Alguns estudos chegam a indicar que, em média, um dia adicional de prazo no transporte de bens por via terrestre ou aérea chega a custar 0,5% do valor da carga. Ou seja, cortar 10 dias nos prazos de exportação permitiria uma poupança de 5% dos custos do exportador.
Além disso, ineficiência nos transportes de produtos e nas aduanas implica a necessidade de que empresas imobilizem capital sob a forma de estoques maiores de insumos ou produtos finais, acrescentando-se aí entre 4% e 6% aos custos de produção. Para não falar de custos com a corrupção, cuja oportunidade aumenta com o número e com a complexidade de procedimentos e exigências.
Não é por acaso que, em 2004, 25 países em desenvolvimento realizaram profundas reformas aduaneiras e em seus sistemas de transporte. Além de reverem procedimentos, passaram a recorrer mais ao uso da informática e da internet para a tramitação burocrática, bem como moveram-se em direção a políticas de inspeção mais eficientes, baseadas em avaliação de riscos, como as que são adotadas nos países da OCDE.
A revista The Economist, em sua edição de 15 de junho passado, trouxe um dossiê – a ‘internet física’ – sobre a revolução nos transportes de mercadorias, mostrando como o ‘achatamento’ do mundo não é um fenômeno circunscrito aos serviços e ao manejo das tecnologias de informação. Na verdade, o ‘just-in-time’, a resposta flexível e rápida a clientes, bem como o acesso fácil a fornecedores, são fatores competitivos num número cada vez maior de ramos produtivos na economia global, algo que se vem fazendo acompanhar por verdadeira revolução na logística de transporte e comércio de bens físicos. Tudo isso, é claro, é incompatível com fricções desnecessárias nas aduanas e na logística.
Na quinta-feira (20/7), no Hotel Transamérica em São Paulo, num seminário com iniciativa da Procomex, o grupo Banco Mundial vai apresentar resultados mais recentes de sua pesquisa sobre os ganhos do tempo aduaneiro. É fundamental que se desperte atenção para o tema.
*Otaviano Canuto, diretor-executivo no Banco Mundial e professor da FEA-USP, foi secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda. Home page: www.worldbank.org/eds15‘
TELEVISÃO
Lázaro Ramos dá voz aos negros
‘O programa Espelho, que o ator Lázaro Ramos estréia neste sábado, às 20 horas, no Canal Brasil, é um sonho antigo, de quando ele integrava o Bando de Teatro Olodum na Bahia. Na época, o espetáculo Cabaré da Raça fez muito sucesso por mostrar situações cotidianas de preconceito contra os negros, sem tomar uma posição explícita, mas levando todo mundo a pensar. ‘Este é meu jeito de falar. Encaminho o tema e cada um reflete como achar melhor’, conta Lázaro, que acumula as funções de apresentador e diretor dos seis episódios. ‘Misturamos dramatizações do Bando com entrevistas para falar de autoestima do negro, mercado de trabalho, os problema dos jovens e o negro na mídia.’
Ele entende bem do último item. Depois de fazer sucesso em filmes como O Homem que Copiava, Meu Tio Matou um Cara e Madame Satã, Lázaro estreou em novela na Rede Globo e é o primeiro protagonista negro do folhetim brasileiro, vivendo Foguinho, rapaz sem eira nem beira que sobrevive de pequenos golpes e expedientes. Um sucesso! Não por acaso, sua mulher, a atriz Taís Araújo, foi também a primeira protagonista negra de novela, em Da Cor do Pecado, na mesma Globo e com o mesmo autor, João Emanoel Carneiro. Só que, no caso dele, não estava previsto.
‘Quando me convidaram, não se falou em protagonismo. Só sabia que era um personagem muito legal, que tento fazer com a maior leveza. Mas ele não é o principal dentro da trama’, avisa o ator. Então, qual o segredo do sucesso, se Foguinho está longe de ser bom caráter? ‘Mas também não é um vilão, porque não busca o mal. Ele só quer ser aceito, amado como todos nós. E faz coisas que queremos fazer, mas não temos coragem. O público o acompanha porque quer saber no que vai resultar suas armações e também porque ele tem sempre um ar perplexo, de quem não sabe bem como e o que acontece ao seu redor.’
Há também o carisma de Lázaro Ramos, que dá a seu personagem clima chapliniano, o azarado que dá a volta por cima nas situações mais adversas. E sempre duvida do acerto do que faz, não ensina a ninguém o caminho porque está descobrindo. Nisso, Foguinho se parece com o apresentador e diretor Lázaro Ramos em Espelho. Ele levanta os assuntos, mas não tenta conduzir as entrevistas que faz. ‘Evitei até usar fichas para a conversa fluir mais espontaneamente’, diz. Mesmo quando o tom pesa, ele deixa rolar solto. ‘É uma forma de não dirigir o entrevistado, deixá-lo à vontade.’
Isso não tira o ritmo do programa, pelo contrário. No que vai ao ar hoje, ele entrevista o presidente da Fundação Palmares, Ubiratan Castro, carinhosamente chamado por ele de Ubiratan Gordo, que fala das minúcias e falácias da democracia racial brasileira. Há ainda o Bando de Teatro Olodum, e o ator Flávio Bauraqui declama poemas escritos por negros. Flávio ainda não estourou nos meios de comunicação como Lázaro, mas já mostrou seu talento em vários musicais no Rio, inclusive vivendo Cartola e Grande Otelo. Ele falará da atualíssima Eliza Lucinda ao simbolista Cruz e Souza.
Aí surge a questão. Num país mestiço como o Brasil, como definir que poeta é negro? ‘Lázaro escolheu os que se assumem como tal’, conta Flávio, que adorou a oportunidade de dizer textos na televisão. Lázaro vai além. Primeiro, sai na rua perguntando às pessoas que encontra se elas se consideram negras. As respostas são surpreendentes. ‘Na verdade, todo mundo é um pouco negro, mas as pessoas de pele mais escura tem menos privilégios’, define, adiantando que já sofreu com o preconceito. Hoje, famoso e bem sucedido, este tipo de agressão quase não acontece. ‘A não ser quando querem me ofender. Mas não me machuca mais. Ou melhor, machuca sim, mas eu já sei como responder.’
São estas as questões presentes em Espelho, que terá programas novos aos sábados e reprises no domingo, às 13 horas, e às segundas, às 7 horas. No próximo, ele conversa com MV Bill, sobre o do jovem negro e favelado, com quem o rapper convive na Central Única das Favelas (Cufa) e outros trabalhos sociais que desenvolve. A atriz Ruth de Souza fala sobre a questão do negro na ficção e na publicidade dos meios de comunicação e os grupos Companhia dos Comuns e Olodum, ambos baianos, dramatizam temas. No último programa, o presidente da Biblioteca Nacional, o professor Muniz Sodré, negro e baiano como Lázaro, fala sobre a questão da autoestima.
A vontade de Lázaro é não esgotar o assunto nessa meia dúzia de edições de Espelho, apesar de ele ter condensado os temas das 23 edições previstas. Uma vez no ar, ele espera despertar novos debates. E suas ambições são grandes. ‘Quando buscava financiamento para o programa, alguém disse que era ideal para a tevê paga. Eu discordo. Acho que este programa é para a televisão aberta, para todo mundo ver e discutir até cansar a questão do negro no Brasil.’
(SERVIÇO)Espelho. Canal Brasil/ NET/ SKY e 79 na TV A. Sáb., 20h’
Cristina Padiglione
‘Confesso que chorei pelo que aconteceu’, diz Vanucci
‘Não foi a primeira vez que Fernando Vanucci se deixou trair pelas câmeras. Em 1998, o jornalista foi suspenso pela Globo por comer diante das câmeras. O espasmo protagonizado no domingo no Bola na Rede, da RedeTV!, entretanto, foi muito pior, conta ele ao Estado. Retirado do ar após dizer frases desconexas, Vanucci diz que foi efeito de remédio e não de embriaguez, como informa o título do vídeo que mostra a cena no portal Youtube.
Em que momento você percebeu que não teria condições de apresentar o programa?
Tive um contratempo familiar, por volta das 14 horas, o que aumentou mais a minha tensão – já que de domingo acordo em alerta por causa do programa, são duas horas ao vivo, das 18 às 20h -, a minha pressão subiu. Como estava em um almoço na casa de um amigo, resolvi ir para casa e, antes de sair para a emissora, às 17 horas, tomei dois comprimidos de 2 mg de Lorax. Juro que não pensei que fosse me dar qualquer coisa, fui trabalhar. Cheguei, gravei todos os offs e cinco minutos antes de começar o programa fui para o estúdio. Quando já estava posicionado, senti uma folga no corpo, como se fosse desmaiar, respirei fundo e acreditei que fosse um mal-estar passageiro, só que quando abriu o Bola, a sensação aumentou e percebi que não estava articulando direito, depois a visão dobrou (foi por isso que fechei o olho esquerdo para focar o teleprompter) e aquilo foi aumentando, quase que um apagão, um desencontro entre corpo e espírito. Cortaram e eu quase caí.
Você se ofendeu com a suspeita de que pudesse estar alcoolizado?
Na verdade, fiquei apavorado. Já tem um ano que venho passando por um pouco de depressão, parei de fumar, um amigo da minha idade teve um AVC (acidente vascular cerebral), outro morreu na mesma época. Isso tudo me trouxe um pouco de angústia. É por isso que meu cardiologista me receitou o Lorax para os momentos de pico de ansiedade (diga-se a verdade, 1mg). Não que eu tenha ficado ofendido, mas assustado, abalado mesmo.
O que fez logo após sair do ar?
Minha mulher, Alessandra Terra, me levou embora e foi me perguntando o que eu estava sentindo e se eu havia tomado algo. Até então, ela não sabia do Lorax. Quando contei, ela ligou para o pai dela, que é cirurgião cardíaco, que disse que o que eu estava sentindo era, possivelmente, os efeitos do remédio em excesso. Fomos para casa. Como estava mole, deitei, mas confesso que chorei pelo que estava sentindo e pelo que havia acontecido.
O que o afetou mais: o caso atual ou aquele em que você foi flagrado comendo bolacha no ar e que rendeu sua saída da Globo?
Não era bolacha e sim um pãozinho com manteiga que costumeiramente eu e a Mylena (Ciribelli) comíamos aos domingos nos estúdios, já que ficávamos a manhã toda fazendo o Esporte Espetacular. Sem dúvida, foi este (atual), até porque misturaram alhos com bugalhos e antes de fazerem a pergunta a mim falaram o que quiseram.’
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