Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo


IMPRENSA NA JUSTIÇA
O Estado de S. Paulo


ANJ denuncia caso de censura prévia em Mato Grosso do Sul


‘A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou nota ontem para denunciar
caso de censura prévia praticada pelo Justiça de Mato Grosso do Sul. A nota,
assinada pelo vice-presidente da ANJ, Júlio César Mesquita, ‘lamenta e condena’
decisão do juiz-substituto da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, Adriano da Rosa
Bastos, que proibiu 12 veículos de comunicação do Estado de divulgar qualquer
informação sobre ação penal contra um acusado de estupro, sob a alegação de que
o processo está sob segredo de Justiça. Para a entidade, a decisão é uma
‘afronta à Constituição’.


‘O segredo de Justiça diz respeito às partes de um processo e aos agentes
públicos nele envolvidos. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já se
pronunciaram a respeito, deixando claro que jornalistas e meios de comunicação
que têm acesso a uma informação, mesmo oriunda de processo sob segredo de
Justiça, não podem ser proibidos de divulgá-la’, ressalta a nota da ANJ. ‘A
proibição é censura prévia. No caso de Mato Grosso do Sul, houve ampla e geral
censura prévia, dado o grande número de veículos atingidos.’


OUTRO CASO


A ANJ também classificou como ‘preocupante’ decisão do desembargador Luiz
Antônio de Godoy, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, de confirmar
liminar da juíza Tonia Yuka Kôroko, da 13ª Vara Cível de São Paulo, proibindo o
jornalista Juca Kfouri de ‘ofender’ o deputado estadual Fernando Capez. ‘Nunca é
excessivo assinalar que a Constituição determina que não se pode proibir
previamente a divulgação de informações ou opiniões’, diz a nota.’


 


ROUBO NO MASP
O Estado de S. Paulo


O saque do Masp


‘Deixando de fora o Iraque, um país cronicamente saqueado e em condições
quase nulas de preservar algum bem de valor artístico, o Brasil assume o
destacável terceiro lugar – atrás apenas de Estados Unidos e França – no ranking
dos países com maior número de obras de arte furtadas, segundo os dados da
Interpol. Um acordo foi assinado, há dez anos, entre essa organização policial
internacional e o governo brasileiro, mas apenas 35 das 933 obras furtadas em
nosso território, nesse período, foram recuperadas. E, certamente, esse terceiro
lugar ainda é mais significativo se compararmos a enorme diferença quantitativa
dos acervos norte-americano e francês com o brasileiro.


A maneira como foi feito o furto, na madrugada de quinta-feira, de dois
valiosos quadros do Museu de Arte de São Paulo (Masp) – o Retrato de Suzanne
Bloch, de Pablo Picasso (com valor estimado de US$ 50 milhões), e O Lavrador de
Café, de Cândido Portinari (com valor estimado de US$ 5,5 milhões) -, tem lances
que de tão inusitados lembram o que o senso comum costuma associar à escola
pictórica do surrealismo. Durou apenas 3 minutos e foi executado sem o uso de
nenhuma tecnologia moderna – bastaram um macaco hidráulico, um pé-de-cabra e uma
velha marreta – o maior e mais ousado furto de obra de arte já realizado no
País. As autoridades policiais têm certeza de que os ladrões são os mesmos que
fizeram duas tentativas anteriores, fracassadas, de levar obras do mais
importante museu de arte da América Latina (e do Hemisfério Sul), com acervo de
8 mil obras avaliado em R$ 17 bilhões.


Sem seguro, sem sensor, com sistema de segurança obsoleto e alarme que ficou
quase dois meses desligado, porque, quando soava, incomodava os circunstantes –
é assim que tem sido ‘protegido’ esse enorme patrimônio artístico brasileiro,
concentrado no prédio da Avenida Paulista, projetado pela arquiteta Lina Bo
Bardi, que é um dos principais marcos arquitetônicos da cidade. Na primeira
tentativa, em 29 de outubro, os ladrões chegaram às 6 horas. Dois homens
disfarçados de vigias dominaram dois seguranças, tentaram chegar ao acervo do
segundo andar, forçaram a entrada, o alarme disparou e eles fugiram. Três dias
antes do furto das duas telas, provavelmente os mesmos ladrões, como suspeita o
delegado do 78º Distrito Policial, usaram um maçarico para entrar por uma porta
dos fundos do museu, mas foram surpreendidos pelos vigias e fugiram pela Avenida
9 de Julho. Estranhamente, a polícia não foi avisada dessa ocorrência.
Finalmente, na madrugada de quinta-feira, se aproveitando da inacreditável
ausência de seguranças – já que os da noite tinham saído antes de os do turno
diurno chegarem -, os ladrões entraram e levaram os dois quadros que estavam em
salas diferentes. As câmeras de segurança registraram apenas os vultos dos
invasores – não dando para distinguir suas feições porque carecem de dois
dispositivos modernos que custam R$ 30 mil, que o Masp não pode pagar.


Pode-se imaginar o impacto negativo que tem sobre a opinião pública
internacional o descaso das instituições brasileiras com nosso patrimônio
artístico-cultural, que tem sido saqueado sistematicamente nos últimos tempos, a
revelar uma inacreditável negligência tanto dos depositários, públicos e
privados, das obras de arte como dos órgãos encarregados da segurança pública.
Pouco importam, nesse momento, as conjecturas que se fazem sobre tratar-se de
ladrões ‘profissionais’ ou amadores, sobre o roubo ter ou não sido ‘encomendado’
e se está ou não conectado com a atividade de grandes quadrilhas internacionais.
A impressionante desproporção entre as 933 obras furtadas em dez anos e as 35
recuperadas já dão conta de como é fácil e lucrativo o saque continuado de nosso
patrimônio cultural.


O caso do Masp é especialmente lamentável, primeiro, pela importância que tem
o museu para o Estado e o País, e, segundo, pela situação financeira
cronicamente periclitante em que se encontra, graças a gestões pouco criativas e
eficazes – para dizer o menos. Quando se imaginava que tentativas de apoio
oficial poderiam encaminhar soluções concretas para o saneamento administrativo
do museu, vem esse desfalque abrupto de um patrimônio insubstituível. São Paulo
não merecia este ‘presente’ de Natal.’


 


Jotabê Medeiros


Contra crise, diretoria do Masp propõe fechar vão livre com grades


‘A crise aberta com o roubo das obras de Picasso e Portinari do Museu de Arte
de São Paulo (Masp) reacendeu também um antigo desejo da direção da instituição:
cercar com grades o vão livre. ‘Nós sempre pedimos ao patrimônio histórico para
fechar o vão livre. Todos os parques da cidade hoje têm grades. Aqui, todo dia
tem gente dormindo aí embaixo, drogados. Temos de chamar a Defesa Civil
constantemente. Mas o patrimônio histórico nunca permite que instalemos grades’,
diz o tesoureiro da instituição, Luiz Pereira Barretto.


O Masp vai reabrir na quarta-feira sem esquema especial de segurança (veja ao
lado). A direção do museu aguarda ainda os resultados da investigação policial
para definir os rumos que a instituição tomará daqui por diante. Nem foi ainda
convocada uma reunião do Conselho Deliberativo do museu, instância que é
‘responsável solidária’ pela instituição. Juridicamente, isso quer dizer que os
conselheiros podem ser responsabilizados por danos ao acervo ou ao patrimônio do
Masp.


INTERVENÇÃO


Muitos observadores e especialistas questionam a capacidade do Masp em
gerenciar essa nova crise e temem pela integridade do acervo. O embaixador
Rubens Barbosa, que foi conselheiro da instituição e saiu há um ano, porque
divergia vigorosamente de Júlio Neves, defende que o Ministério Público ajuíze
uma ação civil pública contra a direção do museu e peça uma intervenção. ‘O que
está acontecendo é a gota d?água de um processo de má gestão. A direção diz que
não tem dinheiro, mas não tem dinheiro porque não tem credibilidade. É o resumo
da ineficiência de uma gestão que já vai para 14 anos’, diz Barbosa.


‘Acho que, com a comoção da população, deveria ser exigido do poder público
uma intervenção no Masp, para evitar o roubo do próximo Picasso’, diz Andrea
Calabi, outro ex-conselheiro, que se desligou há um ano da instituição. Tanto
Barbosa quanto Calabi acham que não foram reconduzidos ao Conselho Deliberativo
por divergirem da gestão Neves.


Calabi diz que chegou à conclusão de que o conselho é meramente ‘decorativo’
e ‘inócuo’, uma vez que não elege a diretoria e também não é consultado sobre
gestão e decisões relativas ao acervo. ‘É uma responsabilidade volátil, ninguém
sabe quem elege o presidente.’


Ele também pede que seja tornada pública uma auditoria encomendada pelo museu
à Deloitte. Segundo Calabi, a ‘decadência’ do Masp está fazendo com que o mundo
perceba sua fragilidade administrativa e torne mais difícil o intercâmbio de
obras de arte, um dos requisitos essenciais para montagem de exposições.’


 


Museu reabre 4ª, mas sem reforço na segurança


‘O presidente do Masp, Júlio Neves, antecipou a reabertura do museu para a
próxima quarta-feira, o que indica que o trabalho da Polícia Civil no museu já
está concluído. Nota do superintendente do museu, Fernando Pinho, divulgada na
quinta-feira, após o furto das obras de Picasso e Portinari, informava que ‘o
Masp estará fechado e assim permanecerá até a finalização da perícia policial’.
A instituição não terá aumento do efetivo de segurança (60 homens, segundo o
museu, trabalham em regime de rodízio na ronda do prédio) e também nenhum novo
equipamento (como alarmes ou sensores).


O museu funciona da seguinte forma: nas quintas-feiras, das 11 às 20 horas;
terças, quartas, sextas, sábados, domingos e feriados, até 18 horas (a
bilheteria fecha com uma hora de antecedência). Os ingressos custam R$15
(inteira) e R$ 7 (estudante com identificação da instituição). Às terças, é
gratuito – grátis também para menores de 10 e maiores de 60 anos.’


 


Silvia Amorim


Presidente do Masp admite falha na segurança


‘O presidente do Museu de Arte de São Paulo (Masp), Julio Neves, admitiu
ontem que o sistema de segurança do museu está obsoleto e culpou a falta de
recursos pela demora na sua substituição. Segundo o arquiteto, os equipamentos
que ‘vigiam’ o maior acervo de obras de arte da América Latina foram adquiridos
há sete anos e, nesse período, não tiveram atualização.


‘O Masp tem 60 anos de atividade. Durante 30 anos, não tivemos nenhum
equipamento de segurança. Os que temos hoje foram objetos de doações e compras
que conseguimos fazer no começo de 2000’, disse Neves. As câmeras de vídeo, por
exemplo, não têm dispositivo infravermelho, que permitiria identificar pessoas
no escuro.


Questionado se a demora na modernização ocorreu por falta de dinheiro, ele
foi categórico. ‘Exatamente. Nós ainda não tínhamos os recursos para poder
fazer.’ Na madrugada de anteontem foram roubados dois quadros do acervo do museu
avaliados em R$ 100 milhões: O Lavrador de Café, de Portinari, e o Retrato de
Suzanne Bloch, de Picasso.


Neves afirmou que há 15 dias foi informado que o governo federal aprovou
projeto do Masp para captação de R$ 8,1 milhões junto à iniciativa privada pela
Lei Rouanet. O processo levou dois anos, segundo o presidente. ‘Já captamos uma
parte desses recursos. Espero, até o fim do ano, conseguir o restante. Temos
recebido telefonemas de empresas que querem ajudar.’


SEM ALARME


Parte desses recursos, disse Neves, será usado para modernizar a segurança do
museu. Em cerimônia ontem, em São Paulo, ao lado do governador José Serra (PSDB)
e do ministro da Cultura, Gilberto Gil (PV), o arquiteto admitiu que o Masp não
tem alarme sonoro nem sensor por aproximação às obras de arte. ‘O sistema que
temos não conta com esse tipo de alarme. Quando compramos, não havia isso. Vamos
adequar agora.’


Apesar das deficiências, o presidente do Masp negou que a segurança fosse
falha. ‘O que a gente tem, outros museus do País tem igual, mas não melhor. O
sistema funcionava, tanto que houve duas tentativas de roubo e não conseguiram
nada.’ Mas ponderou: ‘Agora vamos fazer tudo que tem que ser feito’. O arquiteto
prometeu buscar no exterior o que há de mais moderno.


Neves não descartou a participação de funcionários do Masp no roubo. ‘É muita
leviandade de minha parte adiantar alguma coisa que está sendo objeto de
investigação. Mas acho que tudo é possível de acontecer’, afirmou.


O arquiteto desconfia de que o roubo tenha sido resultado de uma encomenda.
‘Acho estranho três pessoas entrarem para assaltar, pegarem uma obra numa ponta,
atravessarem o salão inteiro, onde estavam dezenas de obras muito mais valiosas,
e não terem mexido em nenhuma’, comentou.


Ele disse estar confiante na localização dos dois quadros. ‘Acredito que,
neste momento, todas as galerias do mundo já estejam com os dados das duas
obras. Então, temos esperança e desejo de que isso seja recuperado.’


INSTITUTO DE MUSEUS


Gil eximiu o Ministério de responsabilidades no caso. Ele acredita que o
roubo tenha sido feito por ‘gangues internacionais’. E a aproveitou para
anunciar a criação do Instituto Brasileiro de Museus para cuidar dos mais de
2.500 museus do País.’


 


Carina Flosi


Promotor cogita possibilidade até de barrar mostras


‘O promotor Arthur Lemos, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco), designado pelo Ministério Público para acompanhar as
investigações da Polícia Civil, informou ontem que o MP pode determinar uma
‘atitude drástica, como a cessação de qualquer exposição no Masp’, caso sejam
constatadas graves irregularidades no museu. ‘O Gaeco ainda vai encaminhar à
promotoria fatos e históricos quanto à deficiência na guarda dos quadros para
eventual procuração ou até ação mais drástica.’’


 


TELECOMUNICAÇÕES
O Estado de S. Paulo


Janela de oportunidades


‘O bem-sucedido leilão de concessão de 44 lotes de licenças para exploração
da terceira geração da telefonia celular (3G), pela Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel), realizado nos dias 18 a 20/12, permitirá apurar R$
5,338 bilhões – R$ 700 milhões para o Fundo de Universalização da Telefonia
Celular e o restante para o Tesouro, como revelou o presidente da agência
reguladora, Ronaldo Sardenberg -, com ágio médio de 86,67% sobre os preços
mínimos indicados. Realizada num momento econômico favorável, a licitação
mostrou o quanto o País teria a ganhar se estivesse pronto para repetir a
experiência em outros setores de infra-estrutura, onde é aguda a falta de
investimentos, que os investidores privados estão dispostos a fazer.


Êxito semelhante ao das licenças 3G já havia ocorrido em outras duas
licitações promovidas neste ano. Na primeira, em outubro, foram privatizados
sete trechos de rodovias federais. Na segunda, em dezembro, foi concedido o
direito de concessão da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira.


As licenças 3G distribuídas pelo País foram disputadas pelas maiores
companhias do setor, destacando-se a Claro, responsável pelo maior dos ágios
oferecidos (273,92%), que pagará R$ 612 milhões pela concessão para explorar
parte das áreas do Rio, Espírito Santo, Bahia e Sergipe, e a TIM, que ficou com
três das áreas mais disputadas (em São Paulo e na Região Norte), pelas quais
pagará ágios de 34,13% a 222,6%.


Está em jogo, nas licenças 3G, o direito de explorar um setor dinâmico da
economia. Com os celulares 3G, os usuários terão acesso a plataformas de banda
larga que permitirão conectar-se à internet de alta velocidade, facilitando a
transmissão de dados, a conversação com o uso de vídeo e a recepção do sinal de
TV digital. Em dois anos, o serviço terá de ser oferecido em 80% da área urbana
das capitais e, em quatro anos, a todas as cidades com mais de 200 mil
habitantes. Até 2016, 60% dos municípios com população inferior a 30 mil
habitantes terão de receber a cobertura.


Haverá conseqüências muito positivas para os usuários da telefonia celular,
para o Tesouro e para os fornecedores de materiais para a telefonia.


O vultoso aporte para a caixa do Tesouro, em janeiro, é um dinheiro extra,
que não constava dos orçamentos oficiais. Corresponde a um mês e meio da
arrecadação que seria propiciada pela extinta CPMF. Justifica-se plenamente,
portanto, o comentário do superintendente de serviços privados da Anatel, Jarbas
Valente, de que os recursos do leilão ajudarão a cobrir parte das despesas que o
governo pretendia fazer se dispusesse da CPMF.


Mas o Tesouro ainda terá a vantagem dos recolhimentos de tributos sobre as
novas atividades e sobre os bens que serão fornecidos para a telefonia 3G.


Além disso, Sardenberg previu o próximo leilão de telefonia – da banda H –
para o primeiro semestre de 2008. ‘Já estamos recebendo apelos das companhias
para rapidamente fazermos o leilão da banda H’, disse ele. Confirmada a
disposição dos investidores de pagar caro pela telefonia celular, o leilão da
banda H – ‘se não houver muitas exigências’, como declarou o presidente da
Anatel – poderá propiciar mais R$ 1,4 bilhão de arrecadação para o governo.


O desafio não é, portanto, o de preparar um leilão de privatização, nem o de
definir práticas capazes de assegurar-lhe o êxito (como a de leiloar em primeiro
lugar as áreas mais disputadas) e tampouco o de atrair interessados. Mas, sim, o
de convencer os membros do Partido dos Trabalhadores (PT), que estão solidamente
instalados na administração federal, inclusive nas estatais, das vantagens de
acelerar o processo de concessões de serviços à iniciativa privada, deixando de
lado preconceitos ideológicos.


A privatização da telefonia 3G – que o presidente Lula saudou, como já
qualificara de ‘espetacular’ a privatização rodoviária – comprova que o governo
do PT, devidamente ‘empurrado’, teria condições objetivas de agir com presteza
para atenuar o atraso da infra-estrutura que continua atrapalhando o ‘espetáculo
do crescimento’.’


 


Gerusa Marques


Teles vão universalizar banda larga


‘O governo saiu vitorioso da queda-de-braço com as concessionárias de
telefonia fixa – Telefônica, Oi, Brasil Telecom, CTBC e Sercomtel -, e conseguiu
delas o compromisso de instalar uma rede de banda larga em todo o Brasil até
2010. As empresas também vão levar internet em alta velocidade a todas as 55 mil
escolas urbanas da rede pública. O acordo, que vem sendo negociado desde meados
do ano, foi aprovado ontem pela Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel).


A obrigação de instalar a rede de banda larga foi incluída pela Anatel em uma
proposta de mudança no Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU) da
telefonia fixa. Com isso, as concessionárias terão de levar a infra-estrutura de
internet em alta velocidade a 3.439 municípios até dezembro de 2010. Hoje,
apenas 2.125 municípios dispõem desses serviços.


A proposta de alterações no PGMU será encaminhada ao Conselho Consultivo da
agência, que deverá opinar sobre o assunto, e ao Palácio do Planalto. A
instalação da infra-estrutura de banda larga nos 3.439 municípios substitui a
obrigação contratual que as concessionárias haviam assumido de instalar Postos
de Serviços de Telecomunicações (PSTs).


A substituição dos PSTs incluía inicialmente só a infra-estrutura de banda
larga até a sede da cidade, mas o governo insistia que as empresas assumissem um
‘compromisso público’ de atender também às escolas. ‘O governo percebeu que dava
para negociar uma proposta mais arrojada’, disse a superintendente de
Universalização da Anatel, Enilce Versiani. Pelo acordo, o atendimento às
escolas será feito gratuitamente, pelo período de 18 anos, enquanto durarem os
atuais contratos das concessionárias.


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, que participou das negociações
coordenadas pela Casa Civil, disse que a avaliação do governo sempre foi a de
que as concessionárias de telefonia também poderiam ter lucro com essa
estrutura, alugando a rede de fibras óticas para outras empresas que queiram
prestar serviços de banda larga no interior.


Dos 3.439 municípios, 20% terão de ser atendidos até junho, e outros 20% até
dezembro de 2008. Em dezembro de 2009, 80% do total já terá de dispor de banda
larga, e todos os municípios terão de ser atendidos até o fim de 2010.


A superintendente da Anatel disse que a mudança das metas não causa
desequilíbrio financeiro às concessionárias. Segundo ela, o dinheiro que será
aplicado na construção da infra-estrutura de banda larga já seria gasto com os
PSTs. Ela estima que o custo dessa infra-estrutura se situe entre R$ 800 milhões
e R$ 1 bilhão.’


 


Alta velocidade


‘Acordo: Anatel e empresas fecharam o compromisso de instalar uma rede de
internet em todo o Brasil até 2010. Hoje, 2.125 municípios já contam com o
serviço. Outros 3.439 ainda precisam ser atendidos


Prazos: Pelo acordo, 20% desses municípios terão de contar com a estrutura
até junho do ano que vem. Outros 20% terão a banda larga no máximo até dezembro.
No final de 2009, o serviço deve chegar a 80% do total de municípios que ainda
não o tem. E todos devem ter a banda larga até o final de 2010


Escolas: Além de levar banda larga às cidades, as empresas também devem levar
internet de alta velocidade às 55 mil escolas urbanas da rede pública.’


 


O Estado de S. Paulo


Net compra a operadora de TV paga BigTV


‘A Net Serviços anunciou ontem a aquisição da BigTV, operadora que atua em 12
cidades, incluindo duas capitais em que a líder do setor ainda não atua – João
Pessoa (PB) e Maceió (AL). O valor da transação foi negociado de tal forma que
pode oscilar entre R$ 200 milhões e R$ 290 milhões, dependendo da agilidade de
aprovação pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O pagamento será
feito com caixa da empresa.


‘O objetivo é fortalecer a presença da Net no mercado, ampliando a área de
atuação da empresa, principalmente nas regiões da Grande São Paulo, interior do
Paraná e Nordeste’, informou o presidente da empresa, Francisco Valim, em nota.
Além de João Pessoa e Maceió, a BigTV atua ainda nas cidades paulistas de
Valinhos, Botucatu, Jaú, Sertãozinho e Marília, além das paranaenses Ponta
Grossa, Cascavel, Cianorte e Guarapuava.


A BigTV tem 107 mil assinantes de TV paga e 56 mil de banda larga, o que
colocará a Net com 2,5 milhões e 1,34 milhão de clientes em cada serviço,
respectivamente. No segmento de TV paga, a incorporação da BigTV representará
crescimento de 4,5%, e de 4,3% na banda larga. A BigTV não atua em telefonia
fixa, área em que a Net tem 469 mil clientes.


Com a aquisição, a NET passa a deter 48% do mercado de TV paga e 18% do
mercado de internet banda larga, ampliando a atuação de 79 para 91 cidades.’


 


INTERNET
Renato Cruz


Internet se torna a terra dos serviços e produtos grátis


‘A internet está se tornando a terra dos produtos e serviços gratuitos. Para
isso, os sites adotam um modelo que é comum na mídia tradicional, em que a
gratuidade é sustentada pela venda de espaço publicitário. O avanço tecnológico
tem aumentado a capacidade das redes de banda larga, ao mesmo tempo que baixa
custos de armazenamento e processamento.


A rede permitiu também que pessoas de todo o mundo colaborassem em projetos
coletivos, como a Wikipédia ou o próprio sistema operacional Linux. Também
ajudou a tornar mais direta a relação entre artistas e o seu público, que
passaram a oferecer sua produção pela rede, muitas vezes com novos tipos de
licenças de direito autoral, como o Creative Commons. Sites como YouTube,
MySpace e WordPress apagam a divisão entre audiência e autores, permitindo a
todos se tornarem produtores de conteúdo.


‘O modelo de venda de assinaturas já não faz mais sentido’, disse Alexandre
Hohagen, diretor-geral do Google Brasil, acrescentando também que, ao optar pela
venda de anúncios, as empresas de tecnologia miram um mercado muito maior que o
de licenças de software. No ano passado, o mercado publicitário brasileiro
movimentou R$ 17,44 bilhões, segundo o Projeto Inter-Meios. Foi duas vezes e
meia maior que o de software, que ficou em R$ 6,97 bilhões, excluindo serviços
(número da Associação Brasileira das Empresas de Software). Apesar de os
anúncios na internet ainda representarem uma parcela pequena do total das
receitas publicitárias – em 2006, foram vendidos R$ 361 milhões em anúncios para
a internet no País -, esse é o segmento que mais cresce.


Chris Anderson, autor do livro A Cauda Longa, escreveu na edição especial
anual da Economist que 2008 será ‘o ano do gratuito’. Segundo ele, o modelo
dominante atualmente na internet é fazer dinheiro com coisas de graça. Uma parte
das empresas imita a estratégia da mídia tradicional, de vender audiência para
os anunciantes.


Outra parte segue o que ele chamou de modelo de amostra grátis: ‘É tão barato
oferecer serviços digitais online que não importa se 99% de seus clientes usam a
versão grátis de seus serviços, contanto que 1% paguem pela ?versão premium?.
Afinal, 1% de um número grande pode ser também um número grande.’


É possível conseguir livros eletrônicos de graça na internet, em sites como a
Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa e o Projeto Gutenberg. O
Apontador e o Google Maps permitem encontrar endereços e traçar rotas. O Skype
faz chamadas gratuitas na internet, até mesmo com vídeo. O Joost possibilita
criar uma grade personalizada de televisão via rede mundial. O BrOffice oferece
uma alternativa ao Microsoft Office, e pode ser baixado de graça pela internet.
No Google Docs, não é necessário nem baixar o software: o internauta faz seus
textos e suas planilhas direto no navegador de internet.


Mundialmente, existem 1,2 bilhão de usuários de internet. No Brasil, são 40
milhões. Pode parecer pouco, mas a internet brasileira já é maior do que era a
internet mundial em 1996. ‘A internet brasileira incluiu de 6 milhões a 8
milhões de usuários em 2007’, apontou Hohagen.’


 


‘Sexo’ perde para a ‘Receita Federal’ na lista do Google


‘Zeitgeist é uma palavra em alemão que significa ‘espírito do tempo’. O
Google chama de zeitgeist a relação de palavras mais procuradas. Este ano, foi
divulgada a lista por países. No Brasil, ‘sexo’ vem em oitavo lugar, depois de
‘Receita Federal’, provavelmente por causa da restituição do Imposto de Renda.
Os três primeiros colocados foram ‘Orkut’, ‘Yahoo’ e ‘UOL’.


Os termos que tiveram maior crescimento foram ‘Enem’ (Exame Nacional do
Ensino Médio), ‘BBB 7’ e ‘aquecimento global’. A palavra ‘Lula’ foi mais buscada
por internautas da Paraíba, seguidos dos residentes do Distrito Federal e de
Pernambuco. São Paulo ficou em nono lugar. Os Estados que mais buscaram ‘sexo’
no Google foram, pela ordem, Rondônia, Maranhã, Mato Grosso e Paraíba.’


 


LIVROS
Ubiratan Brasil


Uma declaração de amor ao lugar onde se vive


‘Convidada por amigos para passar uma temporada em Portugal, a escritora
Monica Ali descobriu-se fascinada pelo Alentejo, região que tenta se livrar do
estigma de ser historicamente a área mais pobre do país. O cultivo da cortiça
utilizada na fabricação de rolhas, o azul vibrante que colore portas e janelas
originalmente brancas, as mulheres que passeiam vestidas de preto, rezando
cabisbaixas – imagens tão poderosas que, já de volta a Londres, não lhe saíam da
mente enquanto ensaiava a escrita de seu segundo livro.


‘Eu tentava me concentrar no primeiro capítulo de uma história que se
passaria na cozinha do restaurante de um hotel, no norte de Londres, mas só me
vinham cenas do Alentejo’, conta Monica que, convencida de estar dominada pela
região portuguesa, deixou aquela trama inicial descansando na gaveta e partiu
para a criação de Azul Alentejo, lançado agora pela Rocco (152 páginas, R$
38).


Atitude arrojada para quem enfrentava o dilema do segundo romance. Aclamada
pela revista literária Granta como um dos 20 novelistas mais importantes da nova
geração de escritores ingleses, Monica Ali desfrutava do enorme prestígio
trazido por Um Lugar Chamado Brick Lane, romance de estréia lançado em 2004 que
conta a história de uma costureirinha de 18 anos prometida pelo pai a um senhor
de 40. Ou seja, condenada a uma vida sem horizonte. O trabalho de criação foi
facilitado pela sua trajetória: nascida em Daca, Bangladesh, em 1967, ela vive
desde os 3 anos na Inglaterra, tentando se equilibrar na corda bamba entre o
mundo ocidental e o oriental.


Azul Alentejo, por outro lado, se concentra na pitoresca vila alentejana de
Mamarrosa – para alguns, lugar do qual é preciso escapar; para outros, um
refúgio ideal. Lá, onde o passado de Portugal ecoa, vivem homens e mulheres cuja
vida parece estagnada. Entre eles, Vasco, dono de um restaurante onde todos
acabam se encontrando e que planeja deixar a vila mas não consegue. Também Harry
Stanton, escritor que para lá se mudou inutilmente, em busca de inspiração.


O único bafejo de mudança vem com a notícia da volta de Marco Afonso
Rodrigues, homem bem-sucedido, símbolo das transformações vividas pelo país, que
retorna à terra natal. Os habitantes se agarram ao fato, esperançosos de alguma
possibilidade de mudança. Ao contrário do incensado livro de estréia, Azul
Alentejo dividiu a opinião da crítica. Monica, no entanto, está mais preocupada
com uma questão que lhe é muito cara: a relação com o lugar onde se vive. Por
e-mail, ela respondeu às seguintes questões.


Por que o livro se passa em Portugal, mais especificamente na região do
Alentejo?


Passei uma boa temporada no Alentejo. Tenho uma pequena casa lá – é uma
região bonita, muito pouco habitada, uma paisagem desarmoniosa, com belas
praias, florestas de carvalhos de cortiça, ovelhas, cabras e nada mais. Eu
pretendia escrever um livro completamente diferente até perceber que as
histórias daqueles portugueses me vinham à mente tão logo eu me sentava à mesa
de trabalho. Há um velho clichê sobre escrever (que é bem real): você não
escolhe seu material, mas é escolhido por ele.


É verdade que, inicialmente, você planejava escrever a história sob o ponto
de vista de Harry Stanton? Por que mudou?


Sim, eu acreditava que, assim, teria facilidade em construir uma estrutura
narrativa ao menos convencional. É mais fácil escrever a partir da perspectiva
de um autor e se concentrar em apenas um ponto de vista. Mudei meus planos
porque percebi que Stanton não representava meu impulso para escrever o livro –
o lugar é que era. Ou, por outro lado, o lugar era o personagem principal.
Assim, o desafio era dar voz a uma região e, a fim de desenvolver uma espécie de
coro, criar também uma série de vozes a partir do ponto de vista dos múltiplos
personagens. E, uma vez aceito o desafio, eu me diverti flexionando meus
músculos literários.


Depois de Um Lugar Chamado Brick Lane, que tipo de idéia a intrigou e a
motivou para escrever Azul Alentejo? Seriam dois livros completamente
diferentes?


Eles são, claro, distintos em diversas características, mas a base dos meus
interesses permanece a mesma. Parece que escrevi duas vezes sobre aldeias –
Brick Lane é, na verdade, uma pequena cidade transportada a um entorno urbano.
Pensando sobre isso hoje em dia, acredito que a razão seria o desejo de tomar
uma comunidade aparentemente sólida e examinar como as pessoas conseguem, mesmo
assim, viverem isoladas dentro desse entorno. Um Lugar Chamado Brick Lane é, em
última instância, um romance sobre deslocamentos da mesma forma que muitos dos
personagens de Azul Alentejo estão em busca de seu lugar – seja a disfuncional
família Pott, seja a garota portuguesa Teresa, que sonha fugir. São, para mim,
questões sobre pertencer ou não, assuntos do nosso tempo.


Em Um Lugar Chamado Brick Lane, você revela um grande conhecimento sobre a
natureza humana, mas, no novo livro, você toma novos caminhos. Como foi
isso?


Bem, é o tipo de questão que adoro – obrigada! Creio que o fundamental no
trabalho de um escritor é a empatia: se não puder caminhar com os sapatos do
outro, ao menos sinta o cheiro de seu calçado de couro. E leve o leitor ao longo
da jornada. Não pretendo ter um grande conhecimento da natureza humana, mas sim
tratar de fazê-la compreensível pois acredito ser esse o núcleo da obra de um
escritor. Observar o mundo com outro ponto de vista, isso é ter empatia com o
outro – atingir o verdadeiro propósito, o que considero o coração moral da
escrita.


Autores escrevem por diferentes razões, mas você acredita que toda escrita
deva ser inquisitiva?


Creio que um escritor necessita ser livre para escrever sobre o que deseja.
Da minha parte, não receitaria nada a ninguém. Dito isso, creio que há grandes
histórias socialmente inquisitivas que devem ser narradas desde a mais tenra
idade. Uma mudança social, é claro, força as pessoas a estarem às voltas com
questões básicas sobre como elas vivem.


Apesar das diferenças de história, há um paralelo na espera da cidade por
Marco com a famosa espera por Godot?


Ah, mas Marco chega de fato, ao contrário de Godot… Se bem que, para
aqueles que o conhecem, ele pode realmente não vir. Acredito que estamos sempre
enganando as outras pessoas (assim como a nós mesmos), à medida que avançamos.
Essa é a nossa singular capacidade como seres humanos: colocarmo-nos fora de nós
mesmos e contarmos uma história sobre nossas vidas que tenta botar ordem no
caos.


É possível afirmar que o conflito de Azul Alentejo acontece em um plano
metafísico, entre o impulso do desespero e o impulso da esperança?


Sim, entre esses dois impulsos e também na tensão entre o querer ficar e o
querer ir, entre tentar controlar nossas vidas e saber que muitas coisas estão
além do nosso controle. Não acredito que outros animais tenham esses instintos
contraditórios, apenas os humanos: desejamos segurança, mas também ansiamos por
aventura. Eis um fértil terreno para um romancista.


‘A impossibilidade de se ter o que deseja’ – essa é uma das características
da poesia de Fernando Pessoa. E Azul Alentejo explora o tema do exílio e da
fuga. Há algum paralelo entre esses trabalhos?


Bem, os portugueses têm essa famosa noção de ‘saudade’ – um triste desejo por
algo indefinido, que há muito se foi mas que pode retornar algum dia, reforçado
pela noção reprimida de que nunca será, de fato, encontrado novamente. Essa é a
condição de todos os exilados e imigrantes, essa tristeza e desejo, além do
conhecimento de que o passado não é um país que possa ser reencontrado.


Globalização é um tema comum em seus dois romances. Que tipo de interesse
você tem nisso?


Sim, isso me interessa muito. A globalização tanto encolhe o mundo como abre
verdadeiros abismos, mesmo promovendo a proximidade. As pessoas podem estar
juntas mesmo habitando mundos diferentes. E, naturalmente, as desigualdades de
um mundo globalizado são muito mais provocadas pela necessidade de
exploração.


Azul Alentejo tem uma textura narrativa mais pesada que Brick Lane. Há alguma
razão para isso?


Espero que ainda sobreviva algum humor, ainda que oriundo de um caráter
obscuro. .. Se ele é de fato mais ‘dark’, não sei qual razão. Talvez sejam
aqueles sentimentos dos personagens que mais me tocaram. Você pode
culpá-los.’


 


Matthew Campbell


Triângulo amoroso gay excita os franceses


‘Uma ex-editora de revista está provocando furor nos círculos literários
parisienses com um livro de memórias expondo o ‘triângulo amoroso’ que ela
manteve com Françoise Sagan e o namorado da famosa escritora. O relacionamento
entre Annick Geille, ex-editora da Playboy francesa, e a voluntariosa e errante
Sagan era um segredo aberto em Paris. O primeiro relato detalhado sobre o caso
provocou nostalgia entre os literatos, saudosos da época em que os escritores
franceses eram aclamados mundialmente e pareciam ter vidas muito mais
excitantes.


‘Destas belas páginas exala o estranho perfume de um tempo perdido para
sempre’, escreveu um crítico sobre o livro de Geille, Un Amour de Sagan
(Pauvert, 255 págs., R$ 81,36, somente em francês). A história poderia ter saído
de um livro escrito pela própria Sagan: Geille queria que ela escrevesse um
conto para sua revista, mas a secretária da escritora respondeu que isso seria
‘muito, muito caro’. Quando Geille foi visitá-la, Sagan a convidou para seu
quarto e a embebedou com vodca. ‘Não nos desgrudamos durante meses – até mesmo
anos’, escreve Geille, que enfrentava um processo de divórcio quando as duas se
conheceram.


‘Tinha um quarto na casa dela e, pela manhã, vestia seu roupão.’ Geille
sentiu uma paixão instantânea por esta ‘frágil mulher que cheirava a baunilha e
cigarros de menta’. A atração era mútua. ‘Ninguém jamais vai magoá-la de novo’,
disse a ela Sagan, duas vezes divorciada, no primeiro encontro. ‘Tudo ficará
bem. Eu raramente me engano sobre as pessoas.’ No segundo encontro, não muito
depois, Geille perguntou a Sagan se ela acreditava no amor. ‘Está brincando?’,
respondeu Sagan. ‘Acredito na paixão. Em nada mais. Não mais que dois anos. Ou
talvez três.’ Mas as coisas estavam complicadas na família de Sagan. A autora,
que ganhou fama mundial ao publicar seu primeiro livro, Bom Dia, Tristeza, aos
18 anos, já tinha uma namorada. A estilista Peggy Roche passava a maior parte de
seu tempo com ela.


Como se não bastasse, Sagan também tinha um namorado, que era casado. Bernard
Frank, ensaísta obcecado por leitura e comida, aparentemente passava a maior
parte do tempo no sul da França e ligava tão pouco para as convenções quanto
Sagan.


‘Casais são entediantes, não acha?’, Sagan perguntou a Geille logo depois de
conhecê-la. ‘Fazer parte de um casal não os impediu (Roche e Frank) de ter
relacionamentos com outras pessoas e isso não interferiu em meu trabalho ou
minha liberdade.’ Um dia Geille estava jantando com Frank e imaginou que fazia
sexo com ele. ‘Eu não cederia logo, seria excitante’, escreveu. ‘Françoise não
diria nada, ela era totalmente favorável à livre circulação dos desejos, à sua
liberdade imprevisível.’ Naquela noite, eles tomaram drinques na casa de Sagan.
Ela acabava de voltar de uma viagem com Roche. As mulheres pareciam perceber que
Geille e Frank sentiam atração um pelo outro. ‘Assim que percebeu o que estava
acontecendo entre eu e ele, Peggy pareceu radiante’, escreveu Geille. ‘Ela
disse: ‘Agora você faz parte da família.’ Esse tipo de triângulo amoroso
elaborado, cruzando os gêneros – mostrado por François Truffaut no filme cult
Jules e Jim -, faz parte da mitologia cultural francesa. Por isso, o grande
sucesso do livro de Geille não surpreende. Un Amour de Sagan, escreveu a revista
Paris Match, tem ‘alto valor literário. (…) Nas mãos de um narrador mais
ingrato, o material teria caído na vulgaridade ou no sensacionalismo.’ Os
franceses, ao que parece, são fortemente nostálgicos – não apenas em relação à
antiga glória literária, mas também à liberdade sexual representada por Sagan,
que é tema de um longa-metragem francês que estreará em breve.


Além de sua vida amorosa não convencional, ela gostava de drogas e carros
velozes e dava maços de dinheiro para mendigos. A saúde frágil evitou que Sagan
comparecesse a um julgamento por fraude fiscal em 2002. Ela foi condenada a 12
meses de prisão com sursis.


Apelidada pelo escritor François Mauriac de ‘monstrinha charmosa’, Sagan foi
acolhida nos Estados Unidos pelo escritor Truman Capote e pela atriz Ava
Gardner. Quando ela morreu de embolia pulmonar em 2004, o site do Ministério da
Cultura francês publicou um obituário extraordinariamente lírico: ‘Ela guiava
seu Jaguar descalça e queimava seu dinheiro em clubes noturnos de St.-Tropez.
Desafiava a própria vida ao ser indulgente em seus prazeres, que acabaram por
matá-la.’ Dois anos depois da morte de Sagan, Frank morreu de ataque cardíaco
quando jantava num restaurante em Paris. Sua mulher disse que ele discutia sobre
política quando morreu. Roche já havia morrido de câncer. Quanto a Geille, ela
deve ter aprendido alguma coisa com Sagan. Ela é hoje uma escritora de
sucesso.’


 


MORTE
Ubiratan Brasil


Norton Nascimento morre aos 45 anos, em São Paulo


‘O ator Norton Nascimento estava nos estúdios do canal SBT quando se sentiu
mal e foi levado ao hospital Beneficência Portuguesa, onde ficou na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI). Lá, não resistiu e morreu ontem, às 8h05, em razão de
falência cardíaca por quadro infeccioso pulmonar. Ele estava com 45 anos, era
casado com a atriz Kely Cândia e tinha três filhos de um casamento anterior. O
início do velório estava previsto para a tarde de ontem, no Cemitério Memorial
Parque Paulistano, em Embu das Artes, onde acontece o enterro hoje, às 10
horas.


Nascimento se submeteu a um transplante de coração em 19 de dezembro de 2003
para correção de um aneurisma da aorta, um problema congênito. Quatro dias
antes, o ator foi internado na mesma Beneficência Portuguesa quando os médicos
descobriram a necessidade de um transplante cardíaco. Por causa de seu estado de
saúde delicado, ele entrou na fila de espera em caráter de prioridade.


A morte do médico Ricardo Veiga, que tinha características de porte
semelhantes às de Norton, permitiu a doação do órgão. Ele ficou 53 dias
internado até receber alta. Em 2004, o ator liderou uma campanha para doação de
órgão. O movimento deu resultado: na época, a secretaria da Saúde divulgou que o
transplante do ator resultou na doação recorde de cerca de mil órgãos naquele
ano.


Após o transplante de coração, o ator se dedicou a atividades em prol de
entidades assistenciais. Ele se converteu à igreja evangélica Renascer em Cristo
um mês antes de ser operado.


Nascido em 4 de janeiro de 1962, em Belém do Pará, Norton Nascimento fez
diversas novelas e também participações em séries de TV. Ele iniciou na
televisão em 1981 na novela Os Imigrantes, na Bandeirantes. Participou ainda de
As Filhas da Mãe (2001), Fera Ferida (1993), De Corpo e Alma (1992). Seu último
trabalho foi Maria Esperança, que foi ao ar neste ano pelo SBT. Em 2001, ele
recebeu o prêmio de melhor ator negro de novela, no 2º Festival Latino-americano
de Cine Vídeo e TV, por seu trabalho em A Padroeira. Entre as séries de
televisão, Nascimento apareceu em Chiquinha Gonzaga (1999), Agosto (1993), Sai
de Baixo (1997 e 2001), Brava Gente (2002) e Malhação.


Nascimento também participou de importantes filmes, como Carlota Joaquina,
dirigido por Carla Camurati em 1995, iniciando a chamada retomada do cinema
brasileiro – ele fazia o papel de Fernando Leão.


Sua participação mais importante foi em Até Que a Vida nos Separe, dirigido
em 1999 pelo publicitário José Zaragoza. Nascimento interpretou Pedro,
profissional de marketing e promoção em uma grande editora que mantém uma forte
ligação com amigos, interpretados por Alexandre Borges, Bety Gofman, Júlia
Lemmertz, Marco Ricca e Murilo Benício. O filme usa a cidade como cenário e faz
um tributo à amizade e ao comportamento brasileiro. Com a história, Zaragoza
mostra um mundo movido por dinheiro, sexo e poder. É nele que seus personagens
fazem algum sentido.


Em setembro deste ano, Norton Nascimento relatou que iria receber o pai do
doador de seu coração na platéia da peça teatral Adão e Eva. Ele também disse à
época que, entre remédios e vitaminas, tomava 12 pílulas ao acordar, 12 ao
dormir e três de tarde com intuito de suportar o dia-a-dia de compromissos.


Em 2006, ele apresentou, na TV Cultura, um documentário sobre os últimos 100
anos de política no Brasil. Participou também do Programa Doc Brasil, horário
dedicado pela emissora a documentários.’


 


TELEVISÃO
Julia Contier


HQ inspira novela


‘Alguns vilões de Beleza Pura, próxima novela das 7 da Globo, com
direção-geral de Rogério Gomes, foram inspirados em histórias em quadrinhos.
Isso porque a autora da novela, Andrea Maltarolli, é fã do gênero.


Norma, personagem vivida por Carolina Ferraz, será uma vilã de HQ. Ela não
mata ninguém e se dá mal na maioria das vezes. Em uma das cenas previstas, Norma
entra na clínica de estética do seu inimigo Guilherme (Edson Celulari) para
sabotá-la, vestida de mulher-gato. Como sempre, as coisas saem erradas e ela cai
em uma banheira de chocolate. Resultado: ela sai correndo pela cidade, sozinha,
pingando chocolate.


Outro personagem que viverá situações inspiradas nas HQ é o advogado José
Henrique, interpretado pelo novato Bruno Mazzeo. Certo de que é o herdeiro de
Olavo (Reginaldo Faria), ele quer a todo custo abrir seu cofre para pegar o
testamento. Em uma de suas tentativas frustradas de explodir o cofre, ele fica
coberto de fuligem, a parede em volta fica toda arrebentada e o quarto de Olavo
vira uma bagunça.


Beleza Pura, que substituirá Sete Pecados, tem estréia prevista para
fevereiro.’


 


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selecionados para a seção Entre Aspas.


Folha de S. Paulo – 1


Folha de S. Paulo – 2


O Estado de S. Paulo – 1


O Estado de S. Paulo – 2


O Estado de S. Paulo – 3


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