Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

GOVERNO
Ricardo Brandt

Negócios de Lobão só prosperam

‘Os negócios da família do senador Edison Lobão (PMDB-MA), indicado para assumir o comando do Ministério de Minas e Energia, prosperaram nos últimos dez anos, depois de ter sido governador do Maranhão. Ele comandou o Estado entre 1991 e 1994, com o apoio de seu maior padrinho político, o também senador José Sarney (PMDB-AP). Seu filho Edison Lobão Filho, que assumirá sua cadeira como suplente pelo DEM do Maranhão, caso ele seja nomeado, é o melhor exemplo de como os negócios da família cresceram nesse período.

Conhecido como Edinho, ele foi levado para o governo pelo pai em 1991, como seu secretário particular. Um político que na época integrava o mesmo grupo relatou que Lobão Filho era responsável por todas as decisões do governo e principalmente por contratações.

Foi nesse período, segundo apurou o Estado, que filho do senador negociou a compra do Sistema Difusora de Rádios e TV – o segundo maior do Estado, perdendo apenas para o grupo Mirante, da família Sarney. A empresa, que hoje é retransmissora do SBT no Estado, foi adquirida do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA). O negócio teria custado US$ 1 milhão.

Na época, Lobão Filho justificou o patrimônio dizendo que acumulara dinheiro com uma padaria que tinha na região de Serra Pelada. Essa explicação lhe rendeu o apelido de ‘Edinho dos pães de ouro’, segundo políticos locais.

A marca Difusora expandiu os negócios. A família tem atuado no ramo da construção, como uma incorporadora, erguendo prédios nos pontos mais caros da capital. Também já participou do setor de venda de carros, com uma grande revendedora da Ford em Imperatriz (maior cidade do interior), e foi cotista da empresa Cayman de destilaria, que já foi uma das maiores devedoras do INSS no País. Os Lobão também são conhecidos por serem os distribuidores da Schincariol no Estado.

AMIZADES

Nascido em Mirador, no interior do Maranhão, Lobão sempre teve vida modesta e chegou a ser professor, antes de ir para Brasília. Entrou para a política ao se aproximar do então presidente Ernesto Geisel (1974 a 1979), durante o regime militar.

Sua primeira eleição, em 1979, para o cargo de deputado federal, foi influenciada diretamente por essa amizade. Pouco conhecido em seu Estado, até então, Lobão era um novato discreto, mas visto como alguém com bons contatos em Brasília. Como jornalista, tinha trabalhado no jornal Correio Braziliense, mas também na revista Maquis, do udenista Amaral Netto. Em 1983, com relações já consolidadas com Sarney, Lobão reelegeu-se deputado. Em 1987, conquistou uma vaga no Senado.

Em 1990, quando foi lançado candidato ao governo do Maranhão, Lobão contou com apoio direto de Sarney, após convencê-lo de que seu nome era o melhor para substituir Sarney Filho na disputa, e enfrentar o principal candidato, João Castelo, que contava com o apoio de Fernando Collor. Lobão levou a eleição para o segundo turno por poucos votos e acabou virando o favoritismo de Castelo graças à presença de Sarney.

POLÊMICA

Apesar de não colecionar inimigos políticos, ele sempre causou polêmica, como em 1985, na disputa do PDS (antiga Arena) para indicar o candidato à Presidência da República. O partido tinha dois pretendentes: Sarney e Paulo Maluf. Apesar de já ser aliado de Sarney, Lobão preferiu apoiar Maluf, que venceu a disputa e foi o candidato oficial no Colégio Eleitoral. Outros episódios polêmicos foram o apoio de Lobão à candidatura de Silvio Santos para a Presidência ou, já no Senado, sua defesa da liberação dos cassinos.

Muito ligado a Sarney no Maranhão, Lobão tem uma carreira cheia de pequenos pontos ainda não explicados. Como em 1988, quando teria votado duas vezes no lugar do deputado Sarney Filho (PV-MA), ausente do plenário, na sessão do Congresso Constituinte de 9 de fevereiro. O caso foi arquivado por falta de provas.

Em 1993, seu nome chegou a ser citado pelo economista José Carlos Alves dos Santos por ter supostamente negociado a liberação de verbas do então líder do esquema dos anões do Orçamento, deputado João Alves (PPR-BA). Ele negou tudo.

O senador ainda é alvo de uma acusação da Procuradoria-Geral da República, pelo desmatamento de uma área de preservação em Brasília. Procurados, Lobão e o filho não foram localizados.’

 

FRANÇA
O Estado de S. Paulo

Justiça autoriza livro no qual ex-mulher faz ataques a Sarkozy

‘A ex-primeira-dama francesa Cécilia Sarkozy fracassou ontem sua tentativa de proibir na Justiça a publicação de um livro no qual ela afirma que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, é ‘ridículo e mulherengo’. O livro Cécilia foi escrito pela jornalista Anna Bitton, ex-amiga da ex-primeira-dama. Cécilia afirmou que as declarações publicadas por Bitton foram feitas em confidência. Cécilia e Sarkozy divorciaram-se em outubro, após 12 anos de casamento.

A ex-primeira-dama, de acordo com Bitton, diz que o ex-marido não tem capacidade para ser presidente, é mesquinho e não ama os filhos. O ataque de Cécilia vem no momento em que a vida pessoal do líder francês ganha destaque nos jornais franceses. Desde novembro, Sarkozy mantém um namoro com ex-modelo e cantora Carla Bruni. Numa entrevista coletiva na quarta-feira, Sarkozy não desmentiu o boato de que se casaria no dia 9, e disse apenas que o seu relacionamento com Carla é ‘sério’.

Na quinta-feira, o site 20minutes afirmou que Carla, que já mora no Palácio do Eliseu, estaria grávida. ‘Carla submeteu-se a um ultra-som que confirmou a gravidez’, segundo o site.’

 

CHINA
O Estado de S. Paulo

Executivo é morto por filmar manifestação

‘O executivo chinês Wei Wenhua, de 41 anos, foi espancado até a morte por seguranças municipais, quando tentava filmar um confronto entre eles e a população, na segunda-feira. Os chineses protestavam contra a instalação de um depósito de lixo em Tianmen, na Província de Hubei. A polícia está investigando o caso e já prendeu 24 seguranças suspeitos.’

 

SALINAS
O Estado de S. Paulo

Mexicanos deixam TV para depois

‘O grupo mexicano Salinas, que acaba de anunciar sua chegada ao País no varejo popular no Nordeste com a rede Elektra, não nega nem confirma o interesse em se associar a uma emissora de TV brasileira. No fim de 2007, seu presidente, Ricardo Salinas, esteve no lançamento do canal de notícias 24 horas da Rede Record. Foi a senha para o início da especulação. Consultada sobre o interesse na parceria, a assessoria do Grupo informou que estão abertos a oportunidades de negócios, mas no momento seus esforços se concentram na rede Elektra e também do Banco Azteca, que desembarcará no País no primeiro semestre deste ano.’

 

TELECOMUNICAÇÕES
Nilson Brandão Junior

Acordo dificulta venda da Oi a múltis

‘O BNDES e os principais sócios do Grupo Oi (ex-Telemar)estão negociando um acordo para evitar que a empresa seja revendida para companhias estrangeiras, após a reestruturação que está sendo feita agora. Na atual reestruturação, os grupos La Fonte, de Carlos Jereissati, e Andrade Gutierrez, de Sérgio Andrade, comprarão a parte de sócios e se tornarão os principais controladores da Oi. Em seguida, a Oi comprará a Brasil Telecom.

Uma das justificativas políticas para a realização do negócio – que implica em mudanças de lei e empréstimos do BNDES aos grupos La Fonte e Andrade Gutierrez – é possibilitar o fortalecimento de um grande grupo nacional para fazer concorrência aos mexicanos da Telmex e os espanhóis da Telefónica. Críticos do negócio dizem, porém, que a Oi poderia ser revendida mais tarde para empresas estrangeiras.

Pelo acordo que está sendo negociado com os sócios da Oi, o BNDES deverá ter um direito de preferência de compra caso a empresa seja renegociada. Além disso, o BNDES teria um prazo para encontrar um investidor nacional caso um estrangeiro faça, no futuro, uma oferta pela Oi.

A exigência do governo é considerada uma condição sem a qual o negócio não sairá, disse ao Estado uma fonte que acompanha as negociações. De maneira simplificada, o banco teria pelo menos nove meses, prazo que pode ainda vir a ser ampliado, para efetivar esse direito de compra e buscar outro parceiro nacional. Ainda que os donos da Telemar venham indicando que estão no negócio para ficar, a idéia é afastar ao máximo o risco apontado por alguns de se repetir o que aconteceu com a AmBev, fruto da união da Brahma e Antarctica, historicamente financiadas pelo banco. Depois da união, a belga da Interbrew entrou no negócio e passou a compartilhar o controle com os sócios brasileiros.

Na prática, deverão ocorrer operações na Oi e na Brasil Telecom ao mesmo tempo. Numa delas, os sócios Andrade Gutierrez e La Fonte vão se consolidar no controle da Telemar, numa operação de até US$ 2 bilhões, basicamente na compra da participação de outros acionistas, dentre eles GP Participações, Opportunity e Citigroup.

Metade destes recursos será em capital próprio e a outra metade será financiada justamente pelo BNDES. O assunto está sendo tratado pelo presidente do banco, Luciano Coutinho, com um grupo de assessores.

Em paralelo, a operadora de telefonia fixa e celular Oi vai adquirir o controle da Brasil Telecom (BrT), representado pela holding Solpart, por R$ 4,850 bilhões. Segundo a mesma fonte, a Oi tem caixa suficiente para a operação e, como é ‘ pouco alavancada’, pode levantar financiamentos bancários facilmente. As estimativas são de que atualmente o caixa da operadora tenha perto de R$ 6,5 bilhões. Assim, num primeiro momento, a BrT seria uma empresa controlada da Oi. A fusão dos dois negócios numa nova empresa de grande porte, nas mãos de acionistas privados nacionais , se daria em seguida.

Ainda assim, o controle dessa nova empresa também incluirá o BNDES além dos fundos de pensão Previ, Petros e Funcef, fundações do Banco do Brasil, da Petrobrás e da Caixa Econômica Federal (CEF). Como correm o risco de ficarem diluídos na nova estrutura, os fundos negociam um aumento no capital do novo negócio, via compra de uma parte da fatia acionária do BNDES, além de direitos dentro do acordo de acionistas, como quórum qualificado para determinadas decisões.

Para alguns analistas, o direito de preferência em caso de oferta externa pode ser insuficiente. Uma analista disse que existirá sempre o risco de o BNDES não encontrar um sócio para ‘salvar’ a Oi de uma oferta internacional. Ele reconhece que um ativo deste porte poderá despertar o interesse dos grandes grupos internacionais. A outra alternativa aventada dentro do governo é a criação de uma ‘golden share’, com direito de vetar decisões, um antídoto considerado mais amargo.’

 

Telefónica e Telmex têm reivindicações para o governo

‘A preparação da compra da Brasil Telecom pela Oi (antiga Telemar) está sendo observada de perto pelos grupos Telefónica, da Espanha, e Telmex/América Móvil, do México, que são hoje os dois principais jogadores no mercado brasileiro de telecomunicações. A interpretação até agora é de que o processo tem mais incertezas do que aparenta e que existe a possibilidade conseguirem mudanças de regras favoráveis ao seus interesses nesse movimento.

A principal, e mais difícil, seria a participação dos grupos internacionais no processo de consolidação. O governo tem justificado seu apoio ao negócio com um discurso nacionalista, de criação de uma grande operadora brasileira para contrabalançar a presença dos mexicanos e dos espanhóis.

Fora isso, existem outras pendências regulatórias que os dois grupos têm interesse em resolver. O contrato de concessão da Telefónica proíbe que ela assuma o controle da TVA, onde tem participação, no Estado de São Paulo, sua área de concessão. Ela também não pode ter o controle da TIM, da qual é acionista, por causa dos 50% que detém na Vivo. A Embratel, que pertence à Telmex, é minoritária na Net por causa do limite ao capital estrangeiro no setor de TV a cabo.

Segundo um analista, os dois grupos devem se opor às mudança necessária no Plano Geral de Outorgas (PGO). Além disso, o mercado espera que os grupos busquem novas oportunidades de aquisição no País. Um alvo potencial, segundo um analista, seria a GVT, concorrente da Brasil Telecom.

No ano passado, quando veio a público uma proposta de fusão entre Oi e Brasil Telecom, a Telefônica chegou a defender que houvesse tratamento isonômico. Ou seja, a empresa está disposta a adquirir outra operadora fixa. O grupo espanhol disputa com o bilionário Carlos Slim Helú, do grupo Telmex/América Móvil, o controle do mercado latino-americano de telecomunicações.’

 

Negócio deve marcar a saída de Daniel Dantas do setor

‘As operações de reestruturação do controle do Grupo Oi e de venda da Brasil Telecom (BrT) deverão marcar a saída do banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, do setor de telecomunicações. O empresário foi procurado para vender suas posições. De princípio, teria aceitado deixar a BrT, mas se recusado a sair da Oi.

Depois da indicação de que o negócio todo poderia não sair caso não deixasse também a Oi, o banqueiro teria dado um sinal positivo para fechar negócio. As indicações teriam vindo de Brasília e dos principais negociadores da operação.

O Opportunity tem participações nas empresas que compõem a complexa cadeia societária da Brasil Telecom e da Oi. Na BrT, ele tem 6,1% da Solpat, holding controladora da companhia, com 18,78% do capital total – via fatia de 9% na empresa-veículo Zain Participações.

Já na Telemar, faz parte da Lexpart, holding que participa do capital da Telemar Participações, controladora do Grupo Oi. A Lexpart tem 10,275% da controladora.

Apesar de deixar os dois negócios, as brigas judiciais envolvendo os acionistas da BrT continuam tramitando na Justiça.’

 

PLANETA DIÁRIO
Ubiratan Brasil

Filhos ilustres do Pasquim

‘A primeira piada já figurava no título – como um jornal podia se chamar O Planeta Diário se era mensal? Na verdade, era o segredo do sucesso: apesar do tamanho (tablóide) e da espessura pouco avantajada (16 páginas), cada nova edição era quase disputada a tapas nas bancas, obrigando a circulação, que era de 10 mil exemplares na época do lançamento (dezembro de 1984), saltar para 80 mil em poucos meses. ‘Chegamos a ultrapassar a marca dos 100 mil, o que foi devidamente comemorado’, lembra o desenhista, contrabaixista e escritor Reinaldo, criador do jornal ao lado de Hubert e Cláudio Paiva. Tal festejo foi um jantar, pago quando finalmente o caixa apresentou o primeiro lucro.

Um sucesso merecido – surgido em uma época em que o País começava a se livrar do longo período de ditadura militar, O Planeta Diário trazia um humor totalmente descompromissado com engajamento político. ‘Na verdade, nossa intenção era ser engraçado e o mais absurdo possível’, comenta Hubert, lembrando que o Planeta ironizava a própria imprensa no que ela apresenta de mais condenável, ou seja, fórmulas gastas, frases feitas, lugares-comuns. Um bom exemplo desse escracho pode se apreciado agora na antologia O Planeta Diário, recentemente lançada pela Desiderata (348 páginas, R$ 69), editora que foi incorporada pelo grupo Ediouro.

O projeto de criar um jornal de humor era antigo. Sempre que Hubert, Reinaldo (que hoje integram a trupe do Casseta & Planeta) e Cláudio Paiva (atualmente na redação do seriado A Grande Família) se encontravam, o assunto não variava. Eles já colaboravam no Pasquim, a mais famosa publicação humorística da imprensa nacional, mas, com a abertura política, o jornal pendia mais para política que para a sátira.

Até o dia em que Paiva sugeriu que o trio recriasse O Planeta Diário, famoso jornal dirigido por Perry White (‘o velho homem de imprensa’) e no qual Clark Kent dava duro como repórter, quando não estava salvando o mundo como Super-Homem.

Reunidos em um dos quartos do apartamento de Paiva (que funcionou como redação durante um período), no bairro carioca da Gávea, eles partiram para o achincalhe, não salvando ninguém. Basta ver a capa do primeiro número, reproduzido nesta página – um dos títulos já revela um dos alvos principais do humor: ‘Nelson Ned é o novo Menudo’. Em um dos números seguintes, a história continuava: ‘Nelson Ned pisoteado no show do Menudo’. Ainda na primeira edição, outro título provocador: ‘Maluf se entrega à polícia’. ‘Com isso, rompemos com o humor mais ideológico e introduzimos a babaquice’, conta Hubert.

Nem o Super-Homem escapava – voando ao lado do logotipo do jornal, ele aparecia gritando: ‘Krigh-ha, Bandolo!’, o que, na verdade, era o grito do Tarzã. O Planeta Diário imitava os tablóides dos anos 1950, recheado de fotos antiquadas e gravuras pirateadas de revistas que o trio descobriu nos sebos do Rio. Já o conteúdo era impiedoso com qualquer figura nacional conhecida. Esperidião Amin, por exemplo, mais conhecido pela calvície que por ter sido governador de Santa Catarina, era tema de uma matéria em que inaugurava um ‘aeroporto de mosquito’. ‘Olho para trás (sem trocadilho, por favor) e vejo piadas que ainda funcionam, principalmente as com o Botafogo’, diverte-se Hubert.’

 

Ubiratan Brasil

Sucesso na TV foi a pá de cal do Planeta

‘Alvos principais das brincadeiras e sátiras do Planeta Diário, as personalidades reagiam com prudência: ou entravam no clima, ou preferiam o silêncio. Tanto uma como outra, na verdade, não eram soluções fáceis. O poeta Ferreira Gullar, por exemplo, foi tema de praticamente uma edição inteira do jornal, em que os redatores propunham a seguinte discussão: ‘Você acha o Gullar um gato?’

A repercussão foi tamanha que o poeta não podia sair nas ruas cariocas sem que alguém o chamasse de gatão. Dizem que Gullar tinha se aborrecido mas, na época, Reinaldo desmentia: ‘Ele até gostou: com aquela campanha, arrumou um monte de mulher.’

A liberdade de escolha era o grande trunfo do Planeta Diário. A saraivada de golpes não perdoava a esquerda ou a direita. Em 1985, quando Jânio Quadros anunciava sua disposição de disputar o cargo de prefeito de São Paulo, o jornal colocou como manchete: ‘Jânio é um gênio.’ E, ao lado de uma foto da personagem do seriado Jeannie É Um Gênio, estampou: ‘O famoso gênio político brasileiro, Jânio Quadros, declarou anteontem que pretende voltar à Prefeitura de São Paulo. E acrescentou: ‘Boemiiiia, aqui me tens de regresso.’ Nem o candidato derrotado por Jânio na disputa, Fernando Henrique Cardoso, escapou – em uma entrevista fictícia, ele declarou: ‘Sou viciado em maconha e Deus é o ópio do povo.’

Reinaldo e Hubert reconhecem a influência do Pasquim na criação dos textos e na diagramação anárquica, mas preferem concentrar louvores para um de seus colaboradores, Ivan Lessa, a verdadeira fonte de inspiração. Auto-exilado em Londres, Lessa sempre atacou, com um humor ácido, todas as trapalhadas e breguices da sociedade e política brasileiras. Exemplos? ‘No Brasil, morre-se muito de médico.’ Ou ‘O brasileiro é um povo com os pés no chão – e as mãos também’. E ainda: ‘Todos os editoriais da imprensa brasileira têm dois dedos de testa e são escritos numa escola militar do Panamá.’

Hubert lembra que também o trabalho de quadrinistas paulistas, como Laerte e Glauco, inspiravam suas tiradas. ‘Embora parecesse com brincadeira de moleques, fazíamos tudo com paixão, carinho e cuidado.’ Era habitual, portanto, o humor vir da combinação entre texto e imagem. Acima do título ‘Wilza Carla explode na Terça-Feira Gorda’, por exemplo, saiu a célebre foto da explosão do ônibus espacial Challenger.

Até o formato da publicidade era utilizado como forma de humor. Em um dos números, por exemplo, uma fotomontagem apresentava uma lata com a foto de Aureliano Chaves, vice-presidente da República no governo de João Baptista Figueiredo (1979-1985) mais conhecido por utilizar, de forma peculiar, a língua portuguesa. Sobre a foto, os dizeres: ‘Diet Aureliano – Menas Calorias.’

A política, no entanto, foi responsável pelas raras freadas que o trio foi obrigado a fazer. Quando Tancredo Neves morreu, por exemplo, no dia 21 de abril de 1985, o País entrou em verdadeira comoção, que já se arrastava desde sua internação médica e o impedimento de tomar posse como presidente da República. ‘Quase fizemos uma piada, mas evitamos’, lembra Reinaldo. ‘Mas, fizemos um mês depois. O segredo era ter o timing certo para as brincadeiras.’

Em 1987, sob pressão judicial, o Planeta foi obrigado a renunciar ao uso da personagem Perry White e da imagem do Super-Homem, propriedades intelectuais da DC Comics. Em editorial, Perry (não mencionado pelo nome) conta que teria perdido o jornal (que, por outro lado, ainda mantinha seu nome original) em uma mesa de pôquer para suas filhas Georgette, Margarette e Anette White. O espaço do Super-Homem no cabeçalho foi ocupado nas edições seguintes por um busto da Escrava Anastácia.

O sucesso foi, curiosamente, a pá de cal do Planeta Diário, em 1992. Seus criadores logo migraram para a televisão e fundaram o Casseta e Planeta. ‘Aí neguinho já não queria mais pagar pela piada que ele tinha de graça na tevê’, explica Hubert.’

 

Livros fazem sucesso ao repetir a mesma fórmula anárquica

‘Se os criadores do Planeta Diário precisaram correr nas praias para vender os primeiros números do jornal, hoje eles correm dos fãs, especialmente nas tardes de autógrafo das bienais de livros, eventos onde lançam novos produtos. ‘Mesmo trabalhando na televisão, mantemos nossas coleções de livros, pois ali podemos desenvolver um humor que, na telinha, seria muito verborrágico’, comenta Hubert.

E os leitores adoram, como comprovam os números – segundo a editora Objetiva, que hoje lança os títulos do Casseta e Planeta, os 13 livros já editados venderam mais de 600 mil exemplares, com títulos peculiares como O Avantajado Livro de Pensamentos do Casseta e Planeta ou Seu Creysson, Vídia i Óbria. O mais recente (e 14º da fila), O Legítimo Livro Pirata de Casseta e Planeta, foi lançado em novembro, já iniciando a mesma trajetória. Aqui, eles aproveitaram a enorme repercussão alcançada pelas venda de cópias piratas do filme Tropa de Elite. ‘Afinal, somos como o crime organizado, ou seja, atuamos na legalidade’, brinca Reinaldo.

O livro, portanto, é resultado de uma brincadeira. ‘Nosso estúdio foi assaltado durante a noite e os ladrões levaram os rascunhos do livro, que foi editado de forma tacanha’, conta Hubert, justificando, assim, os diferentes tipos de letra no corpo do texto e os dizeres escritos com garranchos, na contracapa. Ali, por exemplo, estão frases pinçadas com a intenção de vender o produto, como ‘Este livro foi mais pirateado que meu filme’, atribuída ao Capitão Nascimento, e ‘É um ótimo produto pirata. Vende mais que banana. E não apodrece’, dita por um camelô da Avenida Paulista.

A criação de tipos permanentes sempre foi um trunfo dos humoristas. O Planeta Diário, por exemplo, conquistava os fãs com seus colaboradores fixos, como o colunista social Ibrahim (Abi Ackel), Buda (guia espiritual), Mongol (chargista político e débil mental), Dr. Kildare (que na infância apanhou do pai para estudar medicina), Locha (a quem Darcy Ribeiro revelou não ser mesmo Deus). E ainda Eleonora V. Vorsky, ‘mistura de Barbara Cartland e Agatha Christie, só que com o dobro de varizes’, autora de A Vingança do Bastardo, folhetim cujos capítulos foram publicados a cada edição a partir do número 2.

A novela fez tanto sucesso que logo saiu em livro (setembro de 1987) e cuja reedição foi recentemente lançada pela Desiderata. Trata-se de uma impiedosa paródia dos clichês da pulp fiction, unindo ‘ação, espionagem, romance, sexo, ficção científica, catástrofe, histeria, pânico, correria, pisoteamento, massacre’. Publicado até 1987, o folhetim se tornou uma das maiores atrações do jornal, transformando Vorsky (pseudônimo criado pelo escritor e roteirista Alexandre Machado) e sua personagem Prima Roshana em objetos de devoção.

A Vingança do Bastardo foi imediatamente seguido no Planeta Diário por outra série assinada por Eleonora V. Vorsky, Calor na Bacurinha, as memórias de Prima Roshana narradas em primeira pessoa, ainda sem previsão de relançamento.’

 

SHERLOCK HOLMES
Sérgio Augusto

Mistérios do mais genial detetive

‘Nem todo mundo começou, como eu, por aqui: ‘O sr. Sherlock Holmes, que costumava se levantar muito tarde, a não ser nas raras ocasiões em que passava a noite toda acordado, estava sentado à mesa do café.’ De modo geral, foi por aqui: ‘Em 1878 formei-me em medicina pela Universidade de Londres e fui para Netley, a fim de fazer o curso indicado para os cirurgiões do Exército.’

O certo era ter começado pelo parágrafo acima. Pois foi com ele que o dr. John Watson, após recapitular sua vida de estudante e suas desditas militares no Afeganistão, apresentou ao mundo Sherlock Holmes, na primeira história (Um Estudo em Vermelho) que Arthur Conan Doyle (1859-1930) escreveu sobre o mais famoso detetive de todos os tempos.

O outro parágrafo abria um clássico da Sherlockiana, O Cão dos Baskervilles, minha introdução a um dos universos literários (ou subliterários, na avaliação de muitos críticos) mais fascinantes e cultuados da prosa universal. Até então os relatos de Conan Doyle – ou, mais precisamente, do dr. Watson, narrador de todos eles – costumavam ser saboreados separadamente e fora de ordem.

Um Estudo em Vermelho foi o presente natalino de um anuário, o Beeton’s Christmas Annual de 1887. Holmes demorava uns bons parágrafos para dar o ar de sua perspicácia. E, por entender de medicina, como o dr. Watson, a primeira conversa entre os dois versava sobre os atributos conhecidos e desconhecidos da hemoglobina.

Já nesse encontro, o primeiro espanto de Watson com a privilegiada acuidade de Holmes, que, só de olhar seu futuro cupincha, sacou que ele estivera no Afeganistão e levara um tiro (na batalha de Maiwand). Gênio dedutivo como ele jamais existiu. Frio, calculista, o coração sempre dominado pela mente, para Holmes, as emoções obliteram a razão e a clareza de raciocínio. Arrogante e irônico (ele próprio dizia que seu negócio era saber o que as outras pessoas não sabem), teria sido o dr. Gregory House do seu tempo, se este se dedicasse aos mesmos afazeres de Adrian Monk, sem os transtornos obsessivos-compulsivos deste.

Ficou fácil ler a Sherlockiana completa como se deve, ou seja, em ordem cronológica e de cabo a rabo. Até em português, graças à Agir, que acaba de lançar uma edição de luxo, de capa dura, por R$ 129,90. Projeto gráfico de Victor Burton, é um mimo de 936 páginas, pesando em torno de dois quilos, o que na certa dificultará sua leitura na cama. Console-se: mais pesadinho seria se lhe tivessem acrescentado as soturnas ilustrações que Sidney Paget desenhou para as cerebrais aventuras de Holmes.

Soturnas, portanto, expressivas da Londres do final do século 19, sempre envolta em brumas, como convinha a malfeitores do naipe de Jack, o Estripador, e quejandos. ‘Talvez em parte nenhuma se respire a atmosfera da Londres vitoriana como num volume qualquer dos contos… de Conan Doyle’, concedeu Carpeaux, um dos críticos que os consideravam ‘subliterários’ (reponha o adjetivo no lugar das reticências, please).

Por desconhecer as investidas de Conan Doyle em esferas ‘mais elevadas’ da prosa – como sua história não ficcional da cavalaria (A Companhia Branca, 1891, ambientada no século 14), da guerra dos Boers e do expansionismo napoleônico (As Façanhas do Brigadeiro Gerard, 1896) – só posso julgá-lo, como a maioria dos mortais, por sua ficção detetivesca. Embora feita meio a contragosto e até com certo desleixo, para ganhar dinheiro e saciar a voracidade dos editores – ‘Virei um prisioneiro do sucesso’, queixou-se o autor inúmeras vezes -, continha todos os ingredientes indispensáveis à sedução ecumênica. Fora da esfera pop encontrou admiradores inimagináveis, como os poetas T.S. Eliot e W.H. Auden, Jorge Luis Borges, e o crítico Edmund Wilson.

Auden o considerava um gênio em estado de graça, ‘por ter logrado dar à curiosidade científica o status de uma paixão heróica’. Eliot não se limitou à louvação verbal: Macavity, o depravado gato de Old Possum’s Book of Practical Cats, livro de poemas que deu origem ao musical Cats, é uma homenagem ao professor Moriarty, o diabólico vilão de Holmes; no drama poético Morte na Catedral, há uma troca de palavras entre Thomas Beckett e o rei que é uma réplica de uma conversa de Holmes em O Ritual Musgrave.

Wilson, que desprezava solenemente os ‘escritores de mistério’, punha Conan Doyle muito acima de todos os seus supostos herdeiros (‘é literatura de nível modesto, mas despretensiosa e digna’), preferindo filiar as intrigas de Holmes mais ao gênero contos de fada (de resto, divertidos: ‘amusing fairy-tales’) do que ao policial então representados por Agatha Christie, Raymond Chandler, Rex Stout e Dorothy Sayers.

Borges não apenas inspirou-se em Holmes na criação do detetive Isidro Parodi e no preparo do assassinato de Aaron Loewenthal por Emma Zunz, como dedicou ao ‘alto cavalheiro que resolve ninharias, repete epigramas, mas não sabe que é eterno’ um poema assaz lisonjeiro, que, a certa altura, diz: ‘Dos bons costumes que nos restam um é pensar/tarde após tarde em Sherlock Holmes.’

Há mais de um século tem sido assim. De uma observação de Holmes para o coronel Ross em Silver Blaze (está na pág. 286 da edição da Agir) Mark Haddon extraiu a idéia e o título do ótimo romance O Estranho Caso do Cachorro Morto, publicado pela Record em 2004. Este foi apenas um dos exemplos recentes da perene influência de Conan Doyle e seu herói, disseminada por quase três centenas de filmes e telefilmes, seiscentas e tantas radionovelizações, dezenas de peças, balés, oratórios, pastichos (como The Seven-per-cent Solution, de Nicholas Meyer), e até paródias, como a que Spike Milligan fez de O Cão dos Baskervilles, oito anos atrás, e a chanchada carioca Sherlock de Araque, com Carequinha e Costinha, lançada em 1958.

E as caronas que Michael Chabon, Alexis Lecaye e Julian Barnes, entre outros, tomaram?

Em 1989, Chabon publicou na Paris Review uma novela, sherlockiana até no título (Final Solution), na qual Holmes, referido sempre como ‘the old man’ (o velho), é tirado de seu remanso em Sussex, durante a 2ª Guerra Mundial, para descobrir o paradeiro do papagaio de um jovem judeu, refugiado da Alemanha. O jovem era mudo, mas o papagaio falava números sem parar. Seriam códigos nazistas ou contas em bancos suíços? Uma tarefa na medida para o velho (e aposentado) Holmes.

Em duas reinações literárias à clef, Lecaye juntou Holmes a Karl Marx e Einstein, ambas traduzidas pela Jorge Zahar Editor. Barnes contornou Holmes e foi direto ao escritor, no romance Arthur & George (traduzido em 2005 pela Rocco), montando uma nova dupla, expediente que remonta às raízes do gênero policial a que a Sherlockiana pertence. Holmes & Watson deram continuidade a uma linhagem iniciada pelo inspetor Dupin e o narrador dos crimes na Rua Morgue, criados por Edgar Allan Poe, o pai de todos.

Antes mesmo de Holmes & Watson houve Jack & Tom, dois amigos que encontravam um fantasma numa casa abandonada, no conto de horror The Haunted Grange of Goresthorpe (A Fazenda Assombrada de Goresthorpe), escrito por Conan Doyle em 1877, quando ainda um estudante de 18 anos do curso da anatomia da Universidade de Edimburgo (Escócia). Recusado pela revista Blackwood, o relato, de apenas 24 páginas, só viria a público em 2001, por iniciativa da Sociedade Conan Doyle. Jean, filha do escritor, proibira sua divulgação, por considerá-la, com razão, uma obra menor, imatura.

Se a influência de Jack &Tom sobre Holmes & Watson ainda é motivo de controvérsia, nenhuma dúvida mais resta sobre a ‘paternidade’ de Holmes. Seu modelo foi o carismático dr. Joseph Bell, professor universitário de Conan Doyle. Virtuoso na arte de ilações a partir de observações singulares e mestre em charadas criminais, Bell foi como um pai adotivo (ou sublimado) para o escritor, cuja deprimente relação com os pais de verdade – que até um romance (The Patient’s Eyes, de David Pirie) inspirou – levaria qualquer um ao divã de um analista. Ou à catártica criação de um detetive como Sherlock Holmes.

Quanto ao professor Moriarty, ‘o Napoleão do crime’, segundo Holmes, suspeita-se que tenha sido decalcado no supercriminoso Adam Worth. Essa, ao menos, é a tese defendida por Ben Macintyre em The Napoleon of Crime: The Life and Times of Adam Worth, Master Thief. Judeu alemão que se mudou para os EUA aos 5 anos de idade, em 1849, Worth foi de fato um ladrão genial. Casas, bancos, museus, nada lhe era inexpugnável. Aos 25, roubou quase US$ 1 milhão do Boylston National Bank, de Boston, cavando um túnel até sua caixa-forte a partir de uma loja contígua, que alugara para vender uma fajuta loção oriental. Qualquer semelhança com o entrecho de A Liga dos Ruivos (um dos mais saborosos mistérios desvendados por Holmes) e a comédia Trapaceiros (Small Time Crooks), de Woody Allen, não é mera coincidência.

Outra evidência: o valioso quadro que adorna uma das paredes da biblioteca de Moriarty em O Vale do Medo lembra uma pintura que Worth havia afanado e dependurado em seu gabinete.

São muitas coincidências, sem dúvida, mas Maintyre parece ter negligenciado um dado importante: que a carreira criminosa de Worth só se tornou pública, na Inglaterra, em julho de 1893, dois anos depois de Moriarty começar a infernizar a vida de Holmes e três meses depois de Moriarty morrer, com Holmes, no conto O Problema Final.

Como é sabido, Conan Doyle, tão saturado de seu herói quanto se enfastiara de patê de foie gras, resolveu um dia matá-lo. Em grande estilo, praticamente abraçado com sua nêmesis, o Napoleão do crime, nas cataratas de Reichenbach. Pressionado por todos os lados, sentiu-se na obrigação de ressuscitá-lo e inventar-lhe novos mistérios.

Raríssimas figuras do imaginário desfrutam um folclore comparável ao de Holmes, cujo prenome virou sinônimo de detetive e cujo legendário endereço (221-B Baker Street) tornou-se uma das maiores atrações turísticas de Londres, além de destino de centenas de cartas mensalmente enviadas por aficionados que se recusam a duvidar de sua existência no plano real. O endereço existe, mas apesar de ocupado por uma empresa de investimentos, no segundo andar alguém (não sei se ainda é uma ruiva chamada Sue Brown) cuida de respondê-las como se fosse o próprio detetive.

Conan Doyle morreu comprometidíssimo com mágicas e espiritismo, assunto explorado por Massimo Polidoro no livro Final Séance: The Strange Friendship Between Houdini and Conan Doyle, publicado em 2001, incutindo em alguns de seus admiradores a impressão de que sua alma vaga por aí, fazendo das suas, para o bem e para o mal. Haja vista a morte misteriosa de Lancelyn Green, quatro anos atrás. Autor de vários ensaios sobre Conan Doyle e ex-presidente da Sherlock Holmes Society lodrina, Green lutava com todas as suas forças contra o leilão de 13 caixas de manuscritos e memorabilia do escritor pela Christie’s, em março de 2004, quando o encontraram garroteado por um cordão de sapato amarrado a uma colher de pau.

Para a Scotland Yard, um caso de suicídio. Holmes não teria engolido essa.’

 

TELEVISÃO
Elaine Guerini

‘O meu maior desafio é fingir saber o que estou falando’

‘Katherine Heigl sabe perfeitamente que foi a sua beleza exuberante que lhe garantiu o papel da residente Izzie Stevens em Grey’s Anatomy. E não se desculpa por isso. ‘Mas estou longe de ser perfeita. Sou uma mulher de verdade, com medidas de gente grande’, disse a ex-modelo de 29 anos, que espera já ter provado que os predicados físicos não a desqualificam como atriz. Além de uma estatueta do Emmy, conquistada em setembro, ela garantiu a segunda indicação consecutiva para o Globo de Ouro de melhor coadjuvante (em seriado, minissérie ou telefilme) pelo desempenho como a loira confusa e insegura do Grace Hospital de Seattle.

‘Atuo há 17 anos e, de repente, tudo o que eu mais esperava aconteceu de uma só vez. Ainda me belisco para ter certeza de que não estou delirando’, contou Katherine, que usava um vestido preto de decote generoso quando recebeu a reportagem do Caderno 2, em hotel de luxo de Los Angeles. Bem-humorada, disse que continua sem entender os complicados termos médicos que saem da boca de sua personagem na série – apesar de Grey’s Anatomy estar no ar desde 2005, com exibição nos EUA na rede ABC e, no Brasil, no canal pago Sony. ‘Passei a admirar mais o trabalho de um médico, mas não me aprofundo. Meu maior desafio é fingir saber o que estou falando.’

Embora reconheça a importância do Globo de Ouro, Katherine concorda com o boicote dos atores à premiação da Associação dos Correspondentes Estrangeiros de Los Angeles – por conta da greve dos roteiristas de Hollywood. ‘Compareceria à festa se fosse obrigada por contrato com a ABC, o que não é o caso’, afirmou a atriz, que recebe da emissora um cachê estimado em US$ 125 mil por episódio. O salário ainda é menor que o da protagonista do seriado, Ellen Pompeo (Meredith Grey), que embolsa US$ 200 mil por semana. Katherine, porém, recebe mais convites para atuar no cinema.

Depois de Ligeiramente Grávidos (2007), que arrecadou mundialmente surpreendentes US$ 218 milhões, ela já filmou a comédia romântica Vestida para Casar e seu nome está cotado para o elenco de The Ugly Truth, em pré-produção. ‘Nas telas, espero exercitar outras facetas da minha personalidade e não reforçar tanto a imagem sexy’, contou a atriz, escalada para o papel de jovem solitária em Vestida para Casar. Nessa produção com estréia agendada para 11 de abril nos cinemas nacionais, sua personagem é a eterna madrinha de casamento e nunca a noiva. ‘Foi divertido pintar o cabelo de castanho, me vestir com discrição e simplicidade e pegar leve na maquiagem. Tudo para fugir do estereótipo da loira gostosa.’’

 

Fabiane Bernardi e Keila Jimenez

Triângulo polêmico

‘Mais uma polêmica promete agitar os próximos capítulos de Duas Caras. Tudo por causa da formação de uma família nada convencional: Dália (Leona Cavalli), Bernardinho (Thiago Mendonça) e Heraldo (Alexandre Slaviero) viverão um triângulo amoroso assumido na trama de Aguinaldo Silva.

Primeiramente, Dália transa com Heraldo. Depois, não resiste ao chefe de cozinha e acaba indo para a cama com ele também. Dias mais tarde, ela descobre que está grávida e resolve contar a verdade para os dois, já que não sabe quem é o pai.

Os três decidem não fazer o exame de DNA. A solução encontrada vai causar espanto em muita gente: o trio resolve viver juntos para criar o bebê.

A novela também terá mais duas novidades: em breve Júlia (Débora Falabella) descobrirá que está grávida de Evilásio (Lázaro Ramos) e Célia Mara (Renata Sorrah) revelará a verdadeira paternidade de Clarissa (Bárbara Borges). Célia logo contará a Branca (Suzana Vieira) que Clarissa é filha de seu marido, João (Herson Capri), e que, portanto, ela é herdeira da fortuna assim como a personagem de Alinne Moraes.’

 

Marcelo Rubens Paiva

A pequena estátua

‘Há algo de infantil (lúdico) no reino dos estúdios de tevê. Entramos envergonhados num mundo de faz-de-conta, em que atores fingem que são o que não são. Desvendamos segredos trancados a sete chaves, enquanto a grande massa continua acreditando nas ilusões e efeitos da telinha e confunde o real com o imaginário. Ela vive num sonho dopada pela mágica. Há algo de platônico no reino dos cenários, ruas e calçadas de mentirinha, casas de madeira que, na verdade, são vazias, sem móveis e utensílios; fachadas apenas, apoiadas por estacas, voltadas para a luz, câmera e ação. Há onipotência na descoberta de que a mentira é a base da arte, e o artista é como um mágico, cujo fundamento é a ilusão. E nos sentimos acanhados ao descobrirmos que eles nos enganaram direitinho.

Já trabalhei em tevê. Conheci estúdios de vários tipos e gêneros. Apresentei um programa na TV Cultura em cujo estúdio vizinho gravavam Castelo Rá-Tim-Bum, versão Cao Hamburger (a mais bem produzida de todas). Muitas vezes, eu fugia dos produtores e me escondia no estúdio vazio e escuro do Castelo, com aquela árvore gigante de mentira no meio. No silêncio, eu dormia, torcendo para acordar um personagem de ficção.

O camarão de empada das minhas férias: depois de almoçar em Itanhangá, Rio de Janeiro, na casa do ator, produtor e diretor Paulo Betti, que fabricou a minha primeira ilusão – dirigiu a versão de Feliz Ano Velho para o teatro, a invenção de outro eu, Marcelo Paiva, na pele do ator Marcos Frota, experiência que, confesso, deixa qualquer um confuso, projeto que acompanhei da coxia – e produziu outras três mentiras minhas, as peças E Aí, Comeu?, Mais-Que-Imperfeito e Closet Show, recebi após a sobremesa o convite inesperado para conhecer o Projac, já que ele teria de gravar uma cena da novela Sete Pecados. Foi como se tivessem me oferecido uma droga digestiva, um pó de pir-lin-pin-pin; a pílula mágica para a viagem a outra percepção.

A Rede Globo perde audiência (13% em 2007, segundo Ibope). Perde o monopólio. Mas mantém o carisma. É responsável pela formação de gerações.

Criança, eu via as suas novelas com minhas quatro irmãs e representava os papéis românticos na sala com a caçula, repetia as falas de Janete Clair com entonação de Francisco Cuoco, Sérgio Cardoso, Jardel Filho. A minha primeira paixão foi (é?) uma funcionária da Globo: Elisângela, assistente do Capitão Asa, programa infantil dos anos 60, gravado nos estúdios do Jardim Botânico, ou melhor, no terraço da emissora. Depois de infernizar a minha mãe para me levar, participei de um programa. Me colocaram numa bancada com outras crianças. Todos rodeávamos a musa Elisângela – morena mignon, cabelos lisos pretos, rosto até hoje meigo, teen. Enquanto as crianças acenavam para irmãos e amiguinhos, eu não tirava os olhos da musa. Juro que uma criança de 7 anos pode amar, sim, mais do que qualquer outra coisa. Amei Elisângela até ver Sônia Braga mocinha contracenar com os monstros de pano de Vila Sésamo e ensinar a contar: ‘Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nooooove, deeeeeez!’ Será que elas estariam no Projac? Ainda ensinam a contar na tevê?

Eu só pensava em cruzar com Elisângela, Sônia Braga, Regina Duarte, Débora Duarte, Francisco Cuoco, Tarcísio Meira, maquiados, vestidos como seus personagens, cercados por colaboradores, assistentes, reverenciados pelos técnicos da emissora. Lembrei-me da igreja de Irmãos Coragem, do estaleiro de Selva de Pedras, do hall em que morreu a nefasta Odete Roitman. Imaginei como seria trabalhoso cruzar as guaritas da emissora, com seguranças que impedem o fã de entrar e a fantasia fugir. Paulo Betti havia dado apenas um telefonema. E, para a minha surpresa, entrei sem ser revistado e ainda parei na melhor vaga.

Fui recepcionado pela estátua do antigo inimigo da minha juventude, um dos homens mais odiados pela esquerda brasileira, no tempo em que se gritava ‘o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!’, do ‘fantoche da ditadura’, como dizia Leonel Brizola, do manipulador de notícias, jornalista dr. Roberto Marinho. Uma estátua pequena, de bronze, em que o midas segura uma claquete e sorri inocentemente. Uma estátua pequena demais. Do tamanho de uma criança. Por que tão pequena?

Nota-se que tentaram corrigir a gafe e colocaram pedras em baixo da estátua. Mas ela continua pequena, diante do império que construiu, que começou de forma ilegal, em 1965, durante a ditadura, financiado pelo grupo Time-Life, violando a legislação brasileira que impedia a participação estrangeira no setor de comunicações.

Por mais que muitos odiassem dr. Roberto, ele criou uma teledramaturgia sem sotaque mexicano, não foi seduzido pelo mondo cane de audiência barata, empregou Nelson Rodrigues e Elisângela. Se politicamente a sua herança é negativa (ignorou a luta contra a ditadura, as greves do ABC, acobertou o Caso Riocentro, ausentou-se no início das Diretas Já, sem contar o escândalo da contagem de votos Proconsult e a polêmica edição do debate entre Collor e Lula), como empresário merecia uma estátua maior. Pobre jornalista dr. Roberto Marinho.

Qual foi a primeira estrela que vi? Gianecchini. Que passou por mim, colocou a mão no meu ombro e desejou Feliz 2008. Reynaldo Gianecchini? Cadê Tarcísio? Nada. Nem Cuoco. Vi Gabriela Duarte na praça de alimentação. Vi um ator cabeludo de Malhação na fila do Bob’s. Eu sabia que era um ator cabeludo de Malhação, pois o programa passava na tevê pendurada na parede, no mesmo instante em que o ator pedia um milk-shake de Ovomaltine. Não vi Elisângela. Vi Eliana Fonseca, atriz e cineasta, minha colega de faculdade (ECA-USP). De quem tenho uma foto hilária pendurada na parede, mandando de pijama beijinhos para a câmera. ‘Eu não sabia que você estava na Globo, vou dar mais destaque àquela foto agora’, eu disse. Ela riu. Sabia da foto. Não sei se sabia que ela já estava em destaque na parede da sala.

Gianecchini, a nova cara da tevê brasileira: ex-modelo que não veio de escolas de teatro, que está em muitas propagandas e outdoors, eficiente, batalhador e cool. Perdeu-se a técnica de representar. Mas ganhamos em estética. A era da HDTV. Semana que vem tem mais.’

 

 

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