TV PÚBLICA
Relator da MP da TV Pública quer restringir publicidade
‘No esforço para garantir a aprovação da medida provisória que cria a TV Pública, inaugurada em dezembro passado, o relator da matéria na Câmara, Walter Pinheiro (PT-BA), vai propor restrições à publicidade veiculada pela emissora. O relatório proibirá ‘autopromoção’ do poder público, com divulgação de obras ou de distribuição de benefícios sociais. No caso da iniciativa privada, a propaganda se limitará ao nome da empresa e à inscrição ‘apoio cultural’. Não serão permitidos slogans ou textos de exaltação dos produtos.
Pinheiro vai encampar a reivindicação de deputados e senadores e incluir no conselho curador da TV Pública representantes indicados pela Câmara e pelo Senado, não só pelo presidente da República. Também proporá a criação do cargo de ombudsman, encarregado de fazer uma crítica diária, ‘na TV, durante uns três minutos por dia’.
‘A idéia é engessar um pouco mais, criar amarras para evitar a autopromoção dos governos e caracterizar como TV pública, e não estatal. O governo não poderá fazer propaganda de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), por exemplo’, diz o relator. Outra coisa, ressalva, será a ‘cobertura jornalística’ de acontecimentos que envolvem o poder público.
Para a propaganda de empresas privadas, Pinheiro diz que o objetivo é evitar a concorrência com as TVs comerciais. ‘A empresa aparecerá com sua marca, como apoiadora de um programa. Mas a publicidade não estará vinculada ao serviço ou ao produto que a empresa oferece. A TV Pública vai fazer o que a TV comercial não faz’, afirma. Outra proposta do deputado será a transmissão de programas educativos sem interrupção para propaganda.
No fim do ano passado, Pinheiro anunciou a intenção de ampliar os recursos da TV Pública, o que permitirá que ultrapassem os R$ 350 milhões anuais do Orçamento previstos na lei. O deputado confirmou que vai propor que seja autorizada a aplicação de parte da verba do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) na nova emissora. ‘Com os recursos via Fistel, não fica dependente do Orçamento da União.’ Para ele, se os recursos forem exclusivos do Orçamento, os governos poderão ‘estrangular ou liberar’ verbas segundo seus próprios interesses.
O Fistel arrecada cerca de R$ 3 bilhões por ano, pagos pelas operadoras de telecomunicações em dois impostos, a Taxa de Fiscalização de Instalação e a Taxa de Fiscalização de Funcionamento. Os recursos são divididos entre a agência reguladora, Anatel, e o Tesouro Nacional.
O relator informou que está ‘tentando conversar com PSDB e DEM’ para tentar diminuir a resistência à TV Pública. O problema, reconheceu, é que ‘tem gente que acha que a TV não tem que existir de jeito nenhum’. Para os governistas, não haverá dificuldades em aprovar a MP na Câmara porque a base tem ampla vantagem sobre a oposição. No entanto, eles têm dúvidas sobre a votação no Senado, escaldados com a derrota na prorrogação da CPMF.
Pinheiro pretende apresentar o relatório no dia 11 de fevereiro e negociar durante uma semana com base e oposição para que a MP, que tranca a pauta, seja votada no dia 18.’
RÁDIO
O Estado de S. Paulo
Dois rádios digitais: um ótimo e outro ruim
‘Vivi duas experiências interessantes sobre rádio digital, em viagem recente aos Estados Unidos: uma ótima e outra ruim. Comecemos pela boa experiência. É provável que o leitor tenha conhecimento dos serviços de rádio digital por assinatura via satélite. Há duas empresas que exploram esses serviços e operam nos Estados Unidos, desde 2003. A primeira é XM, com 170 canais, programação totalmente diversificada, com música pop, jazz, clássico, ópera, notícias, esportes, serviços e outros. A segunda é a Sirius, com 193 canais.
Meu primeiro contato com o rádio digital via satélite ocorreu há dois anos, numa viagem de carro, na Califórnia. Há duas semanas repeti a experiência, comprovando a evolução dos serviços, com canais regionais exclusivos para orientação dos viajantes, informações sobre a situação das estradas, sobre eventuais acidentes, localização de postos de gasolina, restaurantes e hotéis.
Os serviços da XM e Sirius passaram a ser rentáveis no ano passado, especialmente depois que a indústria automobilística decidiu apoiar o projeto, incorporando o receptor de rádio via satélite aos carros novos de melhor padrão. Ambas operadoras cobram uma mensalidade de US$ 12,95, sem qualquer limitação de uso.
No pequeno receptor acoplado ao rádio do carro, são mostradas informações sobre a música, autor e intérprete. A qualidade de som equivale à dos melhores CDs. Nenhuma interferência, tudo límpido, para satisfazer até o ouvinte mais exigente de música clássica.
Para alcançar massa crítica e reduzir custos, XM e Sirius decidiram fundir-se e aguardam a aprovação do negócio pela Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês).
O RÁDIO ABERTO
Muito menos positiva foi minha experiência com o rádio digital das emissoras abertas, em AM e FM, com o uso do padrão In Band on Channel (Iboc) ou HD Radio, criado pela empresa Ibiquity. Nesse padrão, o mesmo programa é transmitido simultaneamente, no mesmo canal, tanto no modo analógico quanto no digital.
O maior problema do padrão Iboc é a sua falta de estabilidade ou homogeneidade. Ironicamente, alguns radiodifusores dizem que ‘ele é ótimo, quando funciona’. Ouvindo algumas emissoras americanas, pude comprovar que o melhor resultado ocorre nas cidades pequenas, em regiões planas e sem grandes obstáculos. No entanto, várias emissoras de AM desligam o sistema digital à noite para evitar interferências.
Em FM, ocorre, entre outros, o problema do atraso (delay) de 8 segundos do sinal digital, em relação ao analógico. Como o alcance do sinal digital é menor do que o analógico, nos limites de sua propagação, a sintonia oscila entre um e outro, com grande desconforto para o ouvinte.
É bom lembrar que, das quase 15 mil emissoras de rádio dos Estados Unidos, apenas 10% aderiram ao sistema híbrido Iboc, quase 6 anos após sua introdução naquele país. Muito menor ainda é a proporção de usuários que decidiram adquirir um receptor digital, cujo menor preço oscila entre US$ 130 e US$ 150.
NO MUNDO
A introdução do rádio digital tem sido um desafio em todo o mundo. Para que a tecnologia pudesse produzir o melhor resultado seria necessário criar uma faixa de freqüência exclusiva para as transmissões digitais. Essa estratégia exigiria a troca de todos os receptores analógicos por digitais.
A idéia de usar o mesmo canal para transmissões analógicas e digitais, adotada pela empresa Ibiquity, parecia ser, em princípio, a grande saída. Mas essa tecnologia ainda não está madura e apresenta os problemas descritos aqui. Na Europa, são propostas novas faixas de freqüência exclusivas para o rádio digital, o que, no entanto, obriga à troca geral dos receptores. Conclusão: ainda temos de esperar uma solução melhor que as disponíveis no mundo atual.
JUSTIÇA
Para finalizar, uma notícia que diz respeito a esta coluna. A Justiça Federal rejeitou pelo mérito a ação movida pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, contra este colunista. Por sentir-se ofendido com as críticas feitas em artigo aqui publicado, na edição de 4 de fevereiro do ano passado, especialmente quanto ao processo de escolha do padrão de TV digital, o ministro ingressou com queixa-crime na Justiça Federal. E o fez mesmo depois de utilizar espaço equivalente, de meia página, cedido pelo Estado, para sua resposta, na edição do domingo seguinte (11/2/2007). Ao julgar o mérito da ação, a juíza Janaína Rodrigues Valle Gomes, da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, acaba de rejeitá-la por falta de justa causa.
Em sua sentença, a juíza recorda que, conforme a lei, ‘não constituem abusos de liberdade de expressão a crítica a atos do Poder Executivo e seus agentes, bem como a crítica inspirada pelo interesse público’, e que, na referida coluna, ‘não se intentou ofender a dignidade’ ou o decoro da autoridade, ‘mas desqualificar sua gestão e atuação como ministro de Estado, tendo o artigo ressaltado expressamente que a vida pessoal do cidadão Hélio Costa não interessava’. Da sentença ainda cabe recurso.’
INTERNET
Esgotada, a gigante pede ajuda
‘Oh, como os poderosos despencaram! Esta pode ser uma maneira estranha para caracterizar uma empresa que anunciou sua disposição de despender US$ 44,6 bilhões para fazer a maior tomada hostil de controle de sua história. Uma empresa que provavelmente vai gerar cerca de US$ 60 bilhões em receitas quando seu ano fiscal terminar, em junho. Uma empresa cuja fatia de mercado no campo dos seus principais produtos é ainda grande, apesar de recentes incursões da parte do seu brilhante concorrente.
Não tendo conseguido desafiar o Google na área que mais lhe interessa – publicidade online -, viu sua alternativa reduzida à compra do mais próximo, embora ainda distante, concorrente do Google.
Em muitos aspectos, a empresa tornou-se aquilo que Bill Gates temia – vagarosa, burocrática, lenta na sua resposta às novas formas de concorrência -, como ocorreu com a IBM quando a Microsoft convenceu a gigante tecnológica da época a usar o seu sistema operacional . O PC da IBM foi introduzido no verão (nos Estados Unidos) de 1981. Já se passaram quase 27 anos e o produto básico da Microsoft ainda é o seu sistema operacional, hoje chamado Windows – e o seu aplicativo Office, que roda no Windows.
Produtos que renderam bilhões de dólares anuais para a empresa. A mais recente versão do Windows, que entrou no mercado há quase um ano, já está instalada em 100 milhões de computadores. Contudo, em tecnologia, com seus 27 anos, há um forte sentimento de que, embora a empresa tenha aplicado um enorme esforço durante anos para proteger seu monopólio, o mundo a ultrapassou.
Em particular, o mundo da tecnologia hoje está centralizado na internet, onde o reinado supremo é do Google, e a Microsoft nunca conseguiu fazer sérias incursões nesse campo. Há alguns anos, lançou seu próprio serviço, o MSN. Empenhou-se para desenvolver um instrumento de busca que pudesse competir com o do Google.
Desenvolveu uma infra-estrutura de publicidade para colocar anúncios em outros websites – outra especialidade do Google – e gerar suas próprias receitas de publicidade. Em ambos os casos, continuou atrasada e sem lucrar. Por exemplo, apenas 4% das buscas na internet, em todo o mundo, são feitas com o instrumento de busca da Microsoft, comparado com as mais de 65% realizadas com o motor do Google.
‘Das cinco maiores divisões’, disse Brent Thill, analista de software do Citigroup, ‘a divisão online é a única que dá prejuízo. O problema são os engenheiros de software da Microsoft, seu DNA é muito diferente do DNA de alguém que desenvolve ativos online. É uma mentalidade diferente’
Além disso, as velhas estratégias que antes funcionaram tão bem para a Microsoft – quando o mundo ainda girava em torno do Windows – não têm mais lugar neste novo mundo. Em meados da década de 90, quando a Netscape representou uma ameaça para a sua hegemonia, a Microsoft criou seu próprio browser, o Internet Explorer, tornando-o parte integrante do Windows. E usou seu monopólio no campo do desktop para revidar. Finalmente a Netscape foi vencida – e o Departamento de Justiça processou judicialmente a Microsoft por violações antitruste.
Hoje a Microsoft não tem nem o poder de fogo nem agilidade para competir com o Google. Seu monopólio do sistema operacional não lhe dá nenhuma vantagem nessa batalha. As pessoas podem usar o sistema operacional da internet e o seu navegador para acessar a internet – e o Google – ou pode usar o sistema da Apple. Realmente não importa.
Entretanto, a cada nova mania na internet, como a atual febre das redes sociais, a Microsoft é pega de surpresa e precisa correr para entrar no jogo. Mas é sempre assim quando as empresas ficam muito grandes – e é por isso que as verdadeiras inovações partem das pequenas companhias, que não têm uma concepção das coisas predeterminada nem os lucros do monopólio para protegê-las.
A aquisição do Yahoo – supondo que realmente aconteça, já que estamos ainda muito longe de uma conclusão – propiciará a grande mudança para a Microsoft? Tudo é possível, imagino. Falei com vários especialistas em tecnologia que estão convencidos de que ela tem algum sentido.
Andy Kessler, investidor da área de tecnologia e escritor, qualificou essa proposta de compra como uma ‘jogada ofensiva inteligente’. Para Mark Anderson, presidente do Strategic News Service , ‘eles vão ficar com o número dois online na área de publicidade, num bom momento e a um bom preço’. Rob Enderle, do Enderle Group, disse que era apenas uma questão de tempo até que alguém apostasse na compra do Yahoo e ‘faz sentido que seja a Microsoft’.
Mas sejamos honestos. A Microsoft não está comprando exatamente a maior empresa. Mesmo depois da fusão com o Yahoo, o Google ainda terá duas vezes mais o mercado de busca do que seu concorrente. O serviço de colocação de anúncios do Google é superior tanto ao da Microsoft quanto ao do Yahoo. E o Yahoo vem tendo dificuldades nos últimos anos. Ele poderia também ter se adiantado na área das redes sociais, suas salas de bate-papo podiam ser usadas facilmente para alguma coisa que rivalizasse com o Facebook. Da mesma maneira que a Microsoft, deixaram escapar a oportunidade. O Yahoo é claramente uma empresa que perdeu a rota. Tenho dúvidas se a Microsoft pode mudar o foco da empresa e transformá-la numa concorrente viável do Google.
Também me pergunto o que o Yahoo vai ganhar com o negócio – além de um ágio para sua ação enfraquecida. ‘A aquisição vai ajudar a sua marca?’, indagou Mark Mahaney, que cobre o Yahoo para o Citigroup. ‘Não. Isso vai proporcionar a eles uma melhor tecnologia de busca? Não. Ela vai lhes dar uma maior força nas vendas de publicidade? Não. Suspeito que, neste momento, tudo isso está sendo questionado nas salas da diretoria’, acrescentou.
O que mais me surpreendeu na sexta-feira foram as expectativas da própria Microsoft com relação à compra. Falando claramente, eram bem reduzidas. Quando conversei com Yusuf Mehdi, vice-presidente sênior da Microsoft no campo de parcerias estratégicas, o homem que está liderando grande parte dos esforços online da empresa nos últimos anos, ele não falou uma única vez em esmagar a concorrência nem mesmo sobre equiparar-se com ela.
Uma aquisição do Yahoo, disse ele, ‘será bom para os consumidores que desejam um outro motor de busca, editores de web que querem um outro serviço de colocação de anúncios e anunciantes que também querem mais uma opção além do Google. ‘Por causa do grande volume e os seus algoritmos, o Google é eficiente. Mas as pessoas gostariam de uma segunda opção também confiável.’
Ele estaria dizendo que a Microsoft estaria contente em ser ‘essa segunda opção confiável?’ Demorei para acreditar. Mas, mesmo quando insisti, ele reiterou. ‘As receitas de publicidade online devem chegar aos US$ 80 bilhões dentro de alguns anos’, disse ele. ‘Isso significa uma tremenda oportunidade para todos os que estão no mercado. Existe espaço para outro protagonista confiável.’
Penso no outono de 2005, quando Bill Gates visitou o The New York Times e um editor lhe perguntou se a Microsoft ‘faria com o Google o que tinha feito com a Netscape’. ‘Não…’, respondeu rindo. ‘Faremos algo diferente.’ Não é bem assim.’
CARNAVAL
Vale tudo para aparecer na avenida. Principalmente para as empresas
‘Um estudioso do carnaval baiano há mais de dez anos já contabilizou 536 empresas que patrocinam, em algum nível, a festa em Salvador. No carnaval esticado da capital baiana, os hotéis costumam chegar aos sonhados 100% de ocupação.
No Rio, somente as 12 escolas de samba do grupo especial gastam em torno de R$ 60 milhões para os dois dias de desfile na Marquês de Sapucaí. Os badalados camarotes nas avenidas do samba, movidos a patrocínio e celebridades, que custam entre R$ 2 milhões e R$ 5 milhões, têm os seus convites disputados a tapa.
Toda essa movimentação demonstra o potencial de visibilidade e de negócios que as marcas podem obter nesse período, o que provoca a cobiça e a adesão crescente aos eventos em torno do carnaval. Está cada vez mais acirrada a disputa por espaço nas arenas comerciais dos quatro principais pólos carnavalescos do País: Rio, Salvador, Recife/Olinda e São Paulo.
As grandes cervejarias – que têm no carnaval o pico de vendas do verão, com um consumo correspondente a cerca de 10% do volume anual – investem maciçamente para fazer merchandising em blocos, trios elétricos, desfiles, bandas e bailes.
O carnaval de Recife/Olinda, por exemplo, foi palco este ano de uma disputa que acabou na Justiça. A Schincariol havia acertado o patrocínio oficial da festa, mas a prefeitura se decidiu por uma nova concorrência, que, desta vez, foi vencida pela AmBev.
Sem tempo para reverter a situação, além de recorrer da decisão da prefeitura, a Schincariol resolveu fazer barulho e ocupar outros canais. Anunciou em grande estilo gastos de R$ 40 milhões para, entre outras ações de marketing, patrocinar o famoso bloco Galo da Madrugada, que arrasta mais de 1 milhão de foliões pelas ruas do Recife, e, assim, enfrentar a rival AmBev. Esta, por sua vez, pôs a marca líder Skol no patrocínio de Recife/Olinda. Antes, a empresa mantinha nessa praça a cerveja Antarctica, um rótulo que costuma brigar no mercado de preço menor.
‘Nosso objetivo é consolidar o atual momento favorável da empresa’, explica Marcel Sacco, diretor de Marketing da Schincariol. ‘O mercado passa por um forte crescimento. Por nossas projeções, o ano passado fechou com 13 bilhões de litros vendidos e não os 10 bilhões que estão sendo anunciados.’
BLOCOS AFROS
Não são apenas as cervejarias que brigam por exposição no carnaval. O Banco Itaú estreou como um dos patrocinadores da folia em Salvador, posto que, até então, era do arqui-rival Bradesco.
Sem acusar o golpe, o Bradesco manteve-se fiel cotista da transmissão dos desfiles das escolas de samba do Rio e de São Paulo, a cargo da Rede Globo. A grande festa, hoje capaz de registrar audiência internacional, tem os direitos de transmissão comprados pela emissora, que negocia com vários anunciantes. O valor de cada cota master foi orçado em R$ 16,49 milhões em 2008.
O Bradesco inovou para deixar sua marca no carnaval de Salvador este ano e assumiu o patrocínio de 20 blocos, entre eles os blocos afros, como o Olodum, Cortejo Afro, Filhos de Gandhy e Ilê Aiyê. ‘Normalmente os blocos afros têm menor visibilidade na mídia’, diz Luca Cavalcanti, diretor de Marketing do banco. ‘Por isso mesmo, são menos privilegiados nas ações de marketing das empresas, mas decidimos apostar nesse segmento como forma de valorizar a identidade do carnaval baiano.’
O carnaval da Bahia este ano arrebatou boa parte das atenções das empresas. Entre os patrocinadores oficiais estão, além de Itaú e NovaSchin, a empresa de telefonia Vivo, a rede varejista Ponto Frio e a indústria de eletroeletrônicos Semp Toshiba. Quando comparado ao carnaval de São Paulo, que tem os patrocínios oficiais apenas do Banco Nossa Caixa e da Sabesp, ou o de Recife/Olinda, que tem na AmBev seu maior investidor, fica clara a preferência pela animação baiana.
Para Maurício Magalhães, presidente da agência de eventos Tudo, do Grupo ABC, que participa da organização do carnaval baiano, uma das motivações para as empresas está na rápida expansão do evento. Neste ano, além dos já tradicionais circuitos centrais, sete outros bairros ganham desfiles de blocos e trios elétricos. ‘A cidade inteira fica mobilizada para receber mais de um milhão de pessoas, que ocupam a rede hoteleira, as casas de família que alugam quartos, e todo e qualquer lugar disponível para hospedagem’, diz ele. ‘Essa vitalidade atrai investimentos.’
RIO MAIS CARO
Nelson Cadena, colombiano de origem e baiano de adoção, diz que a capilaridade do carnaval baiano não tem similaridade. ‘Em Salvador, o carnaval realmente monopoliza as atenções pela alegria e disposição para a festa’, diz ele. ‘Talvez em Recife/Olinda haja alguma semelhança, embora em menor escala.’
‘O carnaval do Rio é sólido e internacional, mas está cada vez mais caro e as escolas têm de apelar para enredos patrocinados, o que cria outro paradigma para a festa’, observa a publicitária Gal Barradas, vice-presidente da MPM Propaganda. ‘Mas há no Rio eventos paralelos que sempre surpreendem, como é o caso dos pacotes para turistas estrangeiros trabalharem nos barracões na confecção de fantasias.’
Cada vez mais os negócios do carnaval crescem e traçam uma verdadeira teia de patrocínios e ações de marketing que se esparramam pelos pólos carnavalescos capazes de reunir multidões ou dar visibilidade na mídia. Os investimentos das empresas, nem sempre revelados por questões de concorrência, se cruzam com os subsídios do Estado, que são administrados por uma rede de empresários/carnavalescos sem contabilidade oficial. Resultado: não há um número confiável que expresse a magnitude dos negócios do carnaval. Mas os envolvidos concordam que está na casa da centenas de milhões de reais.’
CINEMA
Um estudo sobre o espírito criativo e libertário do cinema
‘O número 2 da revista Reserva Cultural (Lazuli Editora, 74 págs., R$ 10,90) é sobre cinematografias. No tempo da uniformização da cultura e da globalização econômica, levadas a cabo por um ideário que não permite o dissenso, a publicação aposta na diversidade. O direito à expressão dos contraditórios tem de ser conquistado. O espírito criativo e libertário não nasce da inexplicada combustão, mas do ardor da batalha, sempre dolorosa, contra a dominação.
Apesar da mão onipresente, porém injusta, do mercado, da vocação de estrutura industrial a serviço da massa, o cinema promove pelo mundo possibilidades de respiro e renovação.
Tanto é assim que a matéria de capa se chama Atlas do Cinema Mundial. Seu subtítulo é mais do que explicativo: como os países reagem a Hollywood. O assunto candente foi debatido em seminário realizado recentemente no cinema Reserva Cultural (Av. Paulista, 900).
Ao lado de números sobre a produção cinematográfica pelo mundo, da França ao Egito, do Irã à Tailândia, aparecem as análises e as opiniões de cineastas, professores e críticos, entre os quais Carlos Reichenbach, Alejandro Jodorowsky, Ismail Xavier, Walnice Nogueira Galvão e os críticos do Estado Luiz Carlos Merten e Luiz Zanin Oricchio.
O debate se faz mais interessante porque não está confinado apenas a reflexões sobre questões estéticas, mas entra pela senda aparentemente mais comezinha: a inserção de uma arte em um mundo que funciona sob a lógica implacável da busca do lucro. A discussão passa por temas importantes como público, distribuição das películas e ocupação de salas. Nessa perspectiva, deixa de soar absurdo o questionamento sobre se o cinema pode seguir modelos de realização que envolvam o Estado ou a iniciativa privada.
SURREALISMO
Interessantes pelo que revelam sobre a contemporaneidade se aproveita do lançamento em DVD de Os Guardiães do Dia, de Bekmambetov, para falar de modo conciso sobre o cinema russo. Começando pelo pioneiro Eisenstein até Sokurov (Arca Russa), cineasta que produziu sobre os escombros da União Soviética sua reflexão, demonstra que o cinema anda preocupado com a relação entre pai e filho, que é a da procura. Walnice incute, por tabela, a dúvida sobre o porquê de os seres humanos estarem cada vez mais angustiados com a hegemonia e o autoritarismo.’
TELEVISÃO
Eles não pegam nem gripe
‘Não existe novela sem beijo. Já ator que nunca beijou em cena… Ah, isso tem aos montes. A lista dos ‘encalhados’ da teledramaturgia é grande e diversificada. Há celebridades que passam anos sem dar uma única e inofensiva bitoquinha no ar. Parece difícil imaginar a ‘seca’ de alguns personagens em tempos em que todo mundo dá beijos escancarados e vai para cama a toda hora nos folhetins. Mas ela existe e não escolhe raça, idade e beleza para atacar.
Débora Nascimento que o diga. A bela morena de olhos claros, que vive a personagem Andréia Bijou em Duas Caras, ainda não conseguiu dar seu primeiro beijo no ar. ‘A minha personagem tinha dois pretendentes, mas de repente ficou sozinha’, fala. ‘Estou ansiosa para dar o primeiro beijo. Já estou em minha segunda novela e até agora nada’, completa. ‘Acho que vou ficar para titia.’
Segundo a atriz, o fato de ainda não ter beijado em cena tem a ver com o rumo tomado por sua personagem na trama das 9 da Globo. Andréia Bijou é uma passista que tem de escolher entre o carnaval e a missão de se tornar mãe-de-santo da comunidade. ‘Essa escolha ganhou uma proporção maior na trama, aí o romance ficou de lado’, explica ela. ‘Mas tudo bem, quem sabe na próxima novela eu tiro o atraso’, brinca.
Gorete Milagres sabe o que é isso. A atriz saiu semana passada do time dos BVs, os bocas-virgens da TV. Após uma década no ar, Gorete deu seu primeiro beijo na ficção, como a personagem Jacira em Amor e Intrigas, da Record.
‘Me senti como uma adolescente. Estava nervosa, tremendo’, conta Gorete, que atribui tanto tempo sem beijar ao seu maior sucesso na TV, a personagem Filó. ‘Amo a Filó, mas ela fechava a porta para outros trabalhos’, explica a atriz. ‘As pessoas agora estão me enxergando como atriz. Esse beijo representa o fim de um preconceito’, decreta Gorete, em uma euforia que chegou a incomodar seu marido real.
Mas ainda há os que acreditam que beijo apaixonado é coisa apenas para mocinhos lindos e perfeitos. Os feios, desajeitados, engraçados e mais velhos não devem beijar na TV. Coisa que o autor Silvio de Abreu discorda.
Mestre em driblar o preconceito criando casais inusitados, Silvio acredita justamente no contrário. Acha que o público quer ver os beijos imprevisíveis e tirar os ‘encalhados’ da fila. ‘Se o público gosta do personagem, seja ele feio ou bonito, torce para que seja feliz e ache um grande amor.’ E beije muuuiiiito, é claro.’
Alline Dauroiz
Ele recheia o Garibaldo
‘Você pode até não conhecê-lo. Mas o artista plástico, ator e diretor Fernando Gomes faz parte da história da TV. E não apenas porque interpreta Garibaldo, da Vila Sésamo, o pássaro mais famoso do mundo.
Bonequeiro há 22 anos, ele criou, confeccionou e deu vida a muitos dos bonecos que encantam crianças desde os anos 80, como o Boninho, do Bambalalão; o X, do X-Tudo; o Júlio e toda a Turma do Cocoricó, programa que também dirige.
Fernando estima que, só para a TV, criou mais de 40 bonecos, tendo trabalhado desde o começo na Cultura, além de passar por Globo, Record e Bandeirantes.
Com tantos personagens na bagagem, parece frustrante não ser reconhecido pelo público. Ele garante que não. ‘No início da carreira tive um pouco de problema com isso e muitos amigos também entraram em crise. Depois percebi que gosto do que faço e faço muito bem. Hoje, ter uma identidade secreta é prazeroso.’
Muitas vezes, no entanto, quando esse ‘segredo’ é descoberto, Fernando passa por situações engraçadas. ‘Acontece de eu estar em uma loja e ter de ligar para o filho de alguém fazendo a voz do Júlio. Não deixa de ser um mico’, conta.
Para não decepcionar as crianças que o conhecem , o ator tem um truque: se apresenta como o amigo do personagem.
TESTES
Por todos os anos que está na Cultura, parece óbvio que seria de Fernando a missão de interpretar Garibaldo. Mas nem cotado ele estava para o papel.
Todos os manipuladores da emissora, além de atores de teatro de bonecos entraram na fila do teste. Quem escolheria o Big Bird brasileiro seria Kevin Clash, manipulador do Elmo americano.
‘Confesso que fui com uma ‘pegada’ mais parecida com a do Caroll Spinney (manipulador do Big Bird desde 1969). Ele fala de forma calma.’ E deu certo! O Garibaldo azul, de Laerte Morrone nos anos 70 era mais agitado e tinha a voz grave.
E dar vida ao pássaro amarelo não é fácil. Só a cabeça do Garibaldo pesa mais de 2 kg e é Fernando quem a sustenta ereto e com a mão direita levantada. Enquanto Laerte Morrone enxergava por um buraco na fantasia, Fernando vê o cenário por meio de um monitor preso ao corpo por um colete. Além do calor, é claro. Por isso, ensaia sem fantasia e a cada quadro gravado, fica vestido, em média, quatro minutos.
‘Para mim Garibaldo é uma entidade. Nem imaginava um dia interpretá-lo. O prazer que sinto fazendo compensa as dificuldades. É um sonho realizado.’’
Etienne Jacintho
‘Tive uma queda por Criminal Minds’
‘Quando se fala em Joe Mantegna é impossível não recordar filmes de máfia como O Poderoso Chefão, sem contar a voz de Fat Tony em Os Simpsons. No cinema foi Bandini, personagem de Joe Fante, o comediante Dean Martin e até Fidel Castro. Agora, encarna um detetive especialista em perfis de criminosos na terceira e nova temporada da série Criminal Minds, que estréia dia 15, às 20 horas, no AXN.
Mantegna teve a dura missão de substituir Mandy Patinkin, que abandonou o elenco no dia em que as gravações iriam recomeçar. Quando os colegas ouviram o nome de Joe, respiraram aliviados, afinal, esse não é um ator qualquer. E a nova fase promete mais suspense na tela e mais tranqüilidade no set. Em uma conversa em Los Angeles, o ator falou ao Estado sobre sua chegada à série em meio ao turbilhão deixado por Patinkin.
Qual é a história de seu personagem em Criminal Minds?
É uma situação interessante, porque foi ele quem criou essa equipe com todo o cuidado e depois se aposentou. Ficou dez anos longe, foi para empresas privadas, ganhou dinheiro e agora está de volta a um mundo com computadores em um nível que não havia antes. Como um Frankenstein, ele criou um monstro e o abandonou – não que a equipe seja um monstro (risos)! Ele saiu quando era bebê e agora é um menino.
Você assistia a Criminal Minds antes de receber o convite?
Vi alguns episódios, como faço com séries de TV. Não sou muito de acompanhar, mas claro que, quando soube que iria me juntar ao elenco, fiz a lição de casa para me familiarizar com a série e seus personagens, para fazer pesquisas sobre o FBI e conversar com os roteiristas. Mas tive uma queda por Criminal Minds (risos)!
Por quê?
Estou muito fã e entendi porque a série faz sucesso, pois à medida em que assistia aos episódios, ficava mais intrigado. Gostei da história, do formato, dos personagens. Foi interessante e até educacional, pois a série mostra como lidar e reconhecer esses criminosos.
Por que aceitou o papel?
Há gente que tem essa profissão na vida real. Convivi com oficiais e militares toda minha vida, na minha família. Sempre dei apoio às pessoas que fazem esse trabalho ‘sujo’ – não estou falando de política; apóio quem está em campo, se expondo; as razões políticas são discutíveis. E pensei: ‘Vou interpretar esse personagem por uma hora e vou para casa.’ Há pessoas que vivem isso na real por 20, 30 anos. Vejo um ator com a mão cortada e é maquiagem. Eles não. Estamos imitando a vida e, se esses oficiais podem fazer isso de verdade, certamente posso agüentar o trabalho no set.
Patinkin teve uma relação dura com o tema pesado…
Não é difícil para mim separar-me dos meus personagens. E sei que vivemos neste gracioso planeta, mas há coisas horríveis à solta. Sou realista e não acho que somos sensacionalistas ao mostrar esse lado negro. O tema é pesado, mas os roteiristas escrevem as histórias de forma a mostrar que somos os últimos cavaleiros da távola redonda. Gosto dessa analogia. A série personifica esse mal do século 21, que são as pessoas que perseguimos como os serial killers, que por algum motivo ou doença cometem crimes. Nosso trabalho é descobrir por que eles têm esse comportamento e impedi-los. Estamos combatendo os dragões do século 21.
Como foi chegar ao set sob circunstâncias controversas?
Na verdade foi muito mais fácil do que você poderia imaginar. 50% desta equipe trabalhou comigo em Joan of Arcadia. Então, foi como voltar a uma antiga vizinhança.’
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