Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

…CONTINUAÇÃO

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‘Donde es la fiesta?’, indagou ao chegar ao Rio

‘‘Donde es la fiesta?’, indagou um animadíssimo Gabriel García Márquez a um perplexo Chico Buarque, na sala de desembarque do aeroporto Tom Jobim, no Rio. Nos dias anteriores, o jornalista Fernando Morais pedira a Chico que hospedasse Gabo em sua casa da Gávea, porque o escritor queria ficar incógnito no Brasil. Vindo de Manaus, ele e Mercedes Barcha desembarcaram na ala nacional, enquanto Chico e Marieta Severo, então sua mulher, os esperavam na ala internacional. O encontro foi marcado pela inquestionável pergunta: ‘Donde es la fiesta?’

Chico contou ao Estado que o equívoco quase se tornou constrangedor. Nos dias anteriores, ele e Marieta Severo, então sua mulher, programaram muitos almoços e jantares a quatro. Mandaram comprar camarão, coco, bacalhau, ingredientes de feijoada – tudo para apresentar a cozinha brasileira a Gabo, conhecido gourmet. E, no primeiro momento, o escritor alardeou sua disposição de sair às ruas, ver e ser visto, exatamente ao contrário do que tinha sido sugerido a Chico.

Na primeira noite, Chico e Marieta levaram Gabo e Mercedes para casa. ‘Já era tarde. Eu disse a ele que naquela noite não tinha nenhuma festa programada e nós conversamos até bem tarde’, recordou Chico. Para a noite seguinte não havia desculpa. Chico o levou para a varanda do Antonio’s, então um dos bares mais badalados do Leblon, e o Rio ficou sabendo que Gabo estava aqui. Mais grave: ficou sabendo que estava hospedado na casa de Chico Buarque. No dia seguinte, a imprensa inteira amanheceu em frente à casa.

A odisséia durou três dias. No quarto, Gabo resolveu mudar-se para o hotel Marina All Suites, de onde se posicionava melhor para as festas. Chico diz que ficou numa sinuca de bico, até porque ele não tem o hábito de circular na noite carioca sem restrições. A alegria ficou por conta da filha Sylvia, que cedeu seu quarto para Gabo e Mercedes. Ela passaria anos se vangloriando (‘Um Nobel dormiu no meu quarto’), contou Chico.

O cineasta Ruy Guerra conheceu Gabo em 1972, em Barcelona, quando fazia o roteiro de um filme sobre Canudos com Mário Vargas Llosa. O peruano o apresentou a um homem sem dizer seu nome. Ruy acabou bebendo uísque na casa do estranho, que lhe propôs fazerem um filme juntos. Pegou um exemplar de A Incrível História de Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada, fez uma dedicatória – ‘Quando tudo era ainda um projeto’ – e assinou, para alívio de Ruy: ‘Gabriel García Márquez’.

Ruy filmaria outras obras do colombiano – A Fábula da Bela Palomeira, O Veneno da Madrugada e uma minissérie baseada em contos dele. Em Palomeira, Gabo atrasou os diálogos e Ruy foi ao México cobrá-lo. Gabo propôs trabalhar juntos; sentou-se ao computador e sentenciou: ‘Dita!’. Ruy riu da situação em que um prêmio Nobel se dispunha a ser seu datilógrafo.

Ruy se preocupou quando filmou O Veneno da Madrugada sem que Gabo lesse o roteiro. Em público, Gabo rotulou o filme como extraordinário. A um amigo, tempos depois, diria: ‘El cabrón (Ruy) destrozó mi libro pero hizo una película maravillosa’.

Ruy acha que dificilmente Cem Anos de Solidão virará filme um dia. ‘É muito difícil escrever um roteiro que conte toda a história. Só se for uma minissérie’, conta, lembrando que uma vez Gabo chegou a cogitar da idéia, mas desistiu depois de concluir que o filme quebraria os limites do imaginário.

De outra vez que esteve no Brasil, Gabo e Mercedes foram jantar no Arlecchino, antigo restaurante italiano de Ipanema, com Eric Nepomuceno e sua mulher Marta. Quando chegaram, Eric propôs uma mesa ao fundo, para ‘esconder’ Gabo; mas Mercedes optou por uma mesa na entrada, na qual Gabo ficaria de costas para a porta.

No meio do jantar, entrou apressado o cartunista Ziraldo; conversou com Eric, falou de lado com Mercedes e Marta, e mal cumprimentou o outro homem da mesa. Disse que ia para o andar superior, porque tinha ouvido falar que Gabriel García Márquez estava jantando ali. Evidentemente, não encontrou Gabo no segundo andar e até hoje não sabe que passou por ele no primeiro.’

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Record lança nova tradução de Cem Anos

‘O Brasil lerá, a partir de outubro, o texto de Cem Anos de Solidão com as modificações feitas por Gabriel García Márquez para a grandiosa edição lançada no mundo hispânico pela Real Academia Espanhola da Língua (à venda na Livraria Letraviva, www. letraviva.com.br). A Editora Record acaba de conseguir autorização da agente de Gabo, Carmen Balcells, em Barcelona, para lançar o novo texto no Brasil, informa Sérgio Machado, dono da editora. O escritor Eric Nepomuceno está fazendo a nova tradução e o lançamento será em 21 de outubro, data dos 25 anos de concessão do Nobel de Literatura a Gabo.

A edição trará um prefácio assinado por Eric, que é grande amigo de Gabo, já fez vários trabalhos com ele e conviveu com o colombiano por muitos anos no México. Como grande novidade, a nova edição brasileira trará a árvore genealógica da família Buendía, um dos grandes sucessos da edição espanhola da Real Academia, lançada no Congresso de Língua Espanhola, há um mês, em Cartagena de Indias, pelo rei da Espanha, numa grande homenagem a Gabo.

A Record está negociando velozmente para obter os direitos de alguns dos artigos que enriqueceram a edição espanhola. O maior interesse é sobre o belíssimo texto do escritor mexicano Carlos Fuentes, também amigo de Gabo. O resumo do ensaio A História de um Deicídio, publicado na edição espanhola, está descartada pela Record, porque os direitos do livro de Mário Vargas Llosa pertencem a outra editora no Brasil.

Eric não se assusta com a tarefa grandiosa. Ele diz que tem uma dificuldade emocional para traduzir Gabo, seu amigo há quase 40 anos. ‘Tecnicamente é fácil. O fluxo da prosa de Gabo é puro espanhol clássico. Ele recorre freqüentemente a palavras do espanhol arcaico, que é muito parecido com o português arcaico’, diz ele. A possível dificuldade é com os regionalismos colombianos. Aí o que vai resolver é a proximidade com o autor.

Gabo não gosta de instruir tradutores. Ruy Guerra conta que, nos quatro filmes de suas obras, perguntou-lhe apenas uma vez o que significa determinada situação. Ele respondeu: ‘Lo que quieras.’ Na tradução brasileira de Cem Anos de Solidão, Gabo expressa claramente sua impaciência com as dúvidas da tradutora e, em certos momentos, deu a ela pistas equivocadas.

Faz isso apesar do seu conhecido preciosismo. Em 1982, levou 42 dias para finalizar o discurso de 15 páginas que faria depois de receber o Prêmio Nobel de Literatura. Adiante, disse que tinham sido as 15 páginas mais difíceis da sua vida.

Cem Anos de Solidão chegou ao Brasil em 1968, quando a Editora Sabiá, que pertencia aos escritores Rubem Braga e Fernando Sabino, comprou os direitos do livro e lançou as primeiras edições. Em 1972, quando a Sabiá foi comprada pela Editora José Olympio, os direitos foram junto. Em nova transferência, os direitos passaram para a Record, que comprou a José Olympio em 1977 – há exatos 30 anos, portanto.

Como os registros da Sabiá se perderam, ninguém sabe quantas edições e quantos exemplares foram lançados por ela. Sérgio Machado, dono da Editora Record, disse ao Estado que, segundo cálculos não precisos, Cem Anos de Solidão já vendeu mais de 500 mil exemplares no Brasil. O livro está na 60ª edição da tradução convencional feita, à época, pela tradutora Eliane Zagury.’

Antonio Gonçalves Filho

O Veneno de Gabo perde poder letal na tela do cinema

‘Quarta adaptação de uma obra de García Márquez feita pelo cineasta Ruy Guerra, O Veneno da Madrugada (DVD Universal, R$ 44,90), é um filme que brinca com a narrativa literária. Guerra tenta ‘esculpir o tempo’ – para usar uma expressão de Tarkovski – contando a história de La Mala Hora (1961) de três diferentes maneiras, sendo uma delas a verdadeira e as duas restantes imaginárias (ou falsas). Para isso, subverte a ordem cronológica dos eventos e recorre a uma linguagem antinaturalista, fazendo com os atores dublem a si mesmos. Reforça esse artificialismo carregando no cenário construído – que retrata um vilarejo latino-americano -, e amalgamando os rostos dos atores com o ambiente, como numa tela de Morandi alterada por iluminação maneirista (escala cromática incluída). Ou seja: como construção cinematográfica, O Veneno da Madrugada é impecável. Já como desconstrução literária, pouco acrescenta à narrativa de García Márquez.

O livro de Gabo trata da vida medíocre de um povoado subitamente alvoroçado por bilhetes anônimos que colocam sob suspeita seus habitantes. Sob o tacão de um ambíguo alcaide (Leonardo Medeiros), empenhado numa vingança contra os remanescentes de uma poderosa família local, o povoado vê-se acossado por essas misteriosas mensagens fixadas às portas. Elas revelam segredos conhecidos por quase toda a população, mas mantidos por força da hipocrisia e do medo. Com um só golpe, Gabo tenta com seu livro atacar todos os males que afligem a América Latina: a herança do caudilhismo, o racismo mal disfarçado, o nepotismo e a corrupção.

No filme, o peso da carga formalista é maior na balança que o da carga ideológica. O hermetismo da narrativa circular aliado a uma superdosagem metafórica (chuva torrencial, vaca atolada e putrefata) acabam por distanciar ainda mais o espectador. Guerra perde a oportunidade de conquistar novos leitores para o amigo Gabo.

García Marquez representou e representa um desafio grande a todos os que se aventuram a adaptar seus livros para o cinema, de Arturo Ripstein (que dirigiu Ninguém Escreve ao Coronel) a Mike Newell, que filmou O Amor nos Tempos do Cólera. E nada indica que Kusturica vá se dar melhor com O Outono do Patriarca.’

VENEZUELA
Andrei Netto

Amorim admite mal-estar com Chávez

‘Londres – As relações diplomáticas entre Brasil e a Venezuela estão ‘fora da normalidade’, admitiu ontem, em Londres, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim – reforçando a aparente inconformidade do governo brasileiro em relação às críticas feitas pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao Congresso brasileiro. Na quinta-feira, em Caracas, Chávez definiu o Parlamento de Brasília como ‘papagaio de Washington’. Em entrevista coletiva, Amorim mostrou-se indeciso entre definir as declarações de Chávez como ‘um incômodo’ ou ‘uma preocupação’.

O ataque de Chávez ao Congresso foi desferido na quinta-feira, em resposta a uma moção da Comissão de Relações Exteriores do Senado que exortava seu governo a rever a não renovação da concessão de funcionamento para a emissora RCTV, que saiu do ar no domingo passado. ‘A esses representantes da direita brasileira eu digo: muito mais fácil seria que o império português voltasse a se instalar no Brasil do que o governo da Venezuela devolvesse a concessão a esse canal.’

Em Londres, Amorim reiterou que a interferência de autoridades estrangeiras em instituições brasileiras não é apropriada. ‘A independência, a dignidade, os princípios democráticos e nacionais do Congresso brasileiro não podem estar e não estão nunca em jogo. Certamente, não é apreciável que uma autoridade estrangeira, seja ela qual for, se manifeste sobre nosso Congresso. Minha expectativa, é a de que todos os arroubos retóricos possam refluir e as relações possam voltar à normalidade. Isso exige capacidade de contenção de todos.’

Indagado sobre qual seria a melhor definição para o desentendimento, o chanceler hesitou: ‘A retórica pode ter saído (da normalidade). Mas isso é uma coisa que às vezes dura um dia, dois dias. É uma nuvem que passa. Veremos.’

Na sexta-feira, em Londres, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi cauteloso, mas rebateu as críticas de Chávez. ‘Todos nós somos adultos e cada um tem responsabilidade pelo que fala. Eu penso que o Chávez tem de cuidar da Venezuela, que eu tenho de cuidar do Brasil, que o Bush tem de cuidar dos EUA e assim por diante. Cada país faz tudo da forma mais soberana que puder.’

A ebulição diplomática chegou ao ápice minutos depois, quando o Ministério das Relações Exteriores convocou o embaixador venezuelano em Brasília, Julio García Montoya, a explicar as declarações. Em nota oficial, o Itamaraty usou termos mais duros que o presidente: ‘O presidente Lula reafirmou seu total apoio às instituições brasileiras e expressou repúdio a manifestações que ponham em questão a independência, a dignidade e os princípios democráticos, que norteiam essas instituições.’

Amorim não deu detalhes sobre o a conversa entre García Montoya e o diplomata brasileiro Ruy Nogueira. Um relato por telefone foi feito imediatamente ao chanceler na noite de sexta-feira. De acordo com o chanceler, Chávez não telefonou para Lula. Indagado sobre se o líder venezuelano havia ligado a alguma outra autoridade brasileira, Amorim encerrou a coletiva: ‘O que tenho a dizer no momento é isto.’

Em Caracas, na sexta-feira à noite, o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, pediu ‘aos partidos de direita’ dos Parlamentos do Brasil e da Espanha – que também se manifestou contra o fechamento da TV – que se abstenham de fazer comentários sobre assuntos internos de seu país.’

Ruth Costas

Chávez busca monopolizar mídia

‘Caracas – A decisão que na semana passada acabou com as transmissões da Rádio Caracas Televisão (RCTV), a emissora mais popular da Venezuela, causou a revolta de boa parte dos venezuelanos, mas não chegou a ser uma surpresa. Há pelo menos cinco anos, o presidente Hugo Chávez está empenhado em construir um império da mídia estatal e criar mecanismos que reduzam o espaço ocupado pelos meios de comunicação privados. O líder venezuelano controla hoje seis emissoras de TV (incluindo a TVes, que substituiu a RCTV), oito estações de rádio, uma agência de notícias, centenas de sites e a maior provedora de internet do país – a Cantv, cujo processo de reestatização foi oficializado há três semanas. Além disso, Chávez tem o apoio de dezenas de jornais, patrocina mais de 150 rádios e 28 televisões comunitárias e assinou um contrato com a China para colocar em órbita um satélite que aumentará sua cobertura sobre o território nacional.

‘O governo não se esforça muito para esconder que sua meta é ter o controle total dos meios de comunicação e reduzir os espaços para a crítica’, disse ao Estado o cientista político Omar Noria, da Universidade Simón Bolívar. ‘A má repercussão do caso da RCTV na comunidade internacional e a reação que ele provocou internamente levam a crer que tirar a emissora do ar foi um erro tático no que até agora havia sido uma bem-sucedida e silenciosa estratégia para controlar a mídia.’

A data que marca o início da guerra entre Chávez e os meios de comunicação privados é abril de 2002, quando um golpe afastou o presidente do poder por 48 horas. Algumas emissoras – entre elas a RCTV – incitaram os venezuelanos a irem às ruas para apoiar o movimento insurgente e, enquanto as forças leais ao governo reagiam, colocaram no ar apenas desenhos animados. O episódio convenceu o presidente de que as TVs, rádios e jornais estavam entre seus maiores inimigos e se ele quisesse se manter no poder, precisaria construir uma rede de veículos de informação estatal que contasse a sua versão dos fatos.

Os investimentos para revitalizar a emissora estatal Venezolana de Televisão (VTV), no ano seguinte, consumiram quase US$ 100 milhões e fizeram a audiência subir para 10% (a maior entre as estatais, mas ainda 4 pontos porcentuais abaixo da Globovisión, o canal de notícias que não poupa críticas ao governo).

Foram instalados mais transmissores para aumentar a cobertura para quase 80% do território nacional e comprados equipamentos de tecnologia digital. Hoje, o destaque da emissora são os noticiários e programas de opinião, alguns tão ou mais virulentos que os das televisões opositoras, que, a bem da verdade, também estão longe de primar por qualquer neutralidade. Em um deles, chamado La Hojilla, um apresentador ‘desmascara’ uma a uma as notícias dos jornais e emissoras opositoras num cenário feito de retratos de Chávez, Fidel Castro, Che Guevara e Simón Bolívar.

Recuperada a VTV, os passos seguintes foram fomentar a criação de rádios e televisões comunitárias por todo o país, investir numa agência de notícias chavista e lançar as emissoras Vive TV e Telesur, cujo presidente, Andrés Izarra, defende ‘uma hegemonia comunicacional para implementar o socialismo’.

‘Nunca na história da Venezuela um governo havia controlado tantos veículos de informação como hoje’, disse ao Estado Marcelino Bisbal, diretor de pós-graduação em Comunicação da Universidade Católica Andrés Bello.

Segundo o ministro das Comunicações, Willian Lara, o objetivo da criação de tantas rádios e TVs é ‘socializar os meios de comunicação’, fazendo com que a população possa se expressar e se ver refletida nos programas transmitidos por eles. No entanto, chama a atenção a quantidade de propaganda do governo nesses canais e o fato de não oferecerem espaço para opiniões dissidentes, quando 40% dos venezuelanos não votaram em Chávez nas últimas eleições presidenciais.

Muito mais difíceis de justificar, as estratégias para sufocar a imprensa crítica ao governo foram aplicadas paralelamente ao processo para agigantar a participação do Estado no setor e lançaram mão de quatro instrumentos principais: uma nova legislação, as licenças necessárias para se utilizar o espectro radioelétrico venezuelano, ameaças abertas e devassas fiscais das empresas de comunicações.

No que diz respeito à legislação, um dos grandes marcos foi a reforma no Código Penal, que, em março de 2005, aumentou as multas e sanções para os ‘delitos de opinião’, como difamar ou injuriar membros do governo. A partir de então, a punição prevista para quem ofende o presidente, por exemplo, passou a ser de mais de três anos de prisão. No mesmo ano, foi aprovada a Lei de Responsabilidade no Rádio e na TV (Lei Resorte), criando regras tão amplas e ambíguas que na prática permitem ao governo determinar arbitrariamente o que vai ou não ao ar. ‘As TVs estatais também não conseguiriam se enquadrar em todas as categorias e normas estabelecidas pela nova lei, mas só as privadas são ameaçadas com processos na Justiça, que poderiam levar à suspensão de suas concessões’, disse ao Estado o especialista em meios de comunicações, Andrés Cañizáles.

No ambiente criado pela nova lei, foram neutralizados veículos que no passado eram críticos, como a Venevisión, do magnata Gustavo Cisneros, e mais de 50% dos programas de opinião da TV aberta foram tirados do ar. As únicas que se mantiveram na oposição foram a RCTV, de alcance nacional, e a Globovisión, limitada a Caracas e redondezas, e todas as TVs foram obrigadas a transmitir publicidade do governo gratuitamente.

A não renovação da licença, como ocorreu com a RCTV, é o mecanismo mais simples para pôr nos eixos as rádios e TVs que vez ou outra ainda caem na tentação de criticar o governo. No caso da RCTV, a justificativa era a de que os seus diretores eram golpista e não cumpriram com seus compromissos legais e fiscais, mas a lista de supostas infrações pode variar muito. ‘Se o governo quiser nos tirar do ar, sem dúvida vai encontrar algum modo de fazê-lo’, disse ao Estado Sheina Chanj, repórter e âncora da Globovisión.

Hoje, cerca de 150 rádios AM estão na expectativa de que o governo tome uma decisão sobre a sua permissão para operar na Venezuela. Segundo o ministro das Telecomunicações, Jesse Chacón, mesmo que elas consigam o aval, as concessões terão um horizonte muito mais curto – de apenas 5 anos, contra 20 anos do passado. ‘O objetivo é estimular a autocensura, lembrando às emissoras que elas deverão passar pelo crivo do governo em breve’, explica Noria, da Universidade Simon Bolívar.

As ameaças feitas por Chávez e seus ministros às rádios e TVs, terceiro mecanismo de controle da mídia, muitas vezes incluem um lembrete desse prazo. ‘Se vocês não abaixarem o tom, terei de freá-los’, disse Chávez na terça-feira, dirigindo-se à Globovisión. No dia seguinte, o Ministério Público convocou o presidente da emissora, Alfredo Ravell, e o apresentador Leopoldo Castillo para prestar depoimento pois, segundo especialistas em semiótica, eles teriam tentado incitar o assassinato do presidente passando mensagens subliminares durante um programa.

‘São acusações que beiram o insólito’, disse ao Estado Carlos Correa, diretor da organização Espaço Público, que monitora os ataques contra a imprensa na Venezuela. Para ele, o fato de as contas das empresas de comunicação serem reviradas em busca de quaisquer irregularidades não seria um problema não fosse o contexto nos quais essas devassas fiscais são anunciadas. Ocorre que Chávez costuma ordenar que sejam feitas inspeções nas empresas durante suas declarações na TV, logo após criticar aspectos da cobertura e da linha editorial desses veículos. ‘Dessa forma, ele mesmo deixa claro que esse não é um mecanismo para melhorar a arrecadação fiscal, mas um instrumento de repressão’, diz Correa.

Para completar, as condições de trabalho estão ficando cada vez mais perigosas para os jornalistas venezuelanos – incluindo os das TVs estatais, hostilizados nas manifestações pró-RCTV da semana passada. Não raro os repórteres e cinegrafistas são agredidos nas ruas. A oposição acusa o governo de apoiar os agressores. Nenhuma denúncia foi comprovada. ‘O que existe, sem dúvida, é uma estranha tolerância com relação aos agressores’, diz Correa. ‘Com certeza, isso não ajuda a criar um ambiente propício para a pluralidade e debate de idéias na Venezuela.’’

O Estado de S. Paulo

Chavistas fazem passeata ‘antiimperialista’ em Caracas

‘EFE – Milhares de partidários do presidente venezuelano, Hugo Chávez, saíram às ruas de Caracas para ‘uma grande marcha antiimperialista’. A manifestação era um apoio à ‘democratização da televisão e do rádio’ e à decisão do governo de não renovar a a licença da Rádio Caracas Televisão (RCTV), que qualificaram de ‘golpista’.

Sob o lema ‘a liberdade de expressão agora é de todos’, a marcha foi convocada pelo governo num comunicado transmitido, na véspera, nos veículos de comunicação locais.

Trabalhadores, sindicalistas, estudantes, ministros e funcionários do governo integraram a passeata, que começou por volta do meio dia (horário local). Todos vestiam roupas vermelhas, a cor do chavismo. ‘Hoje a Venezuela democratiza a comunicação e dá um passo a frente’, disse o ministro de Telecomunicações, Jesse Chacón.

Os manifestantes saíram de diversos ponto de Caracas para se encontrar na Avenida Bolívar, no centro da capital, onde se encontraram com Chávez, num grande comício.

Em seu discurso, o presidente venezuelano criticou os protestos que, na semana passada, tomaram conta de Caracas e de outras quatro cidades venezuelanas, em defesa da liberdade de expressão e contra o fechamento da RCTV: ‘O império norte-americano quer que o mundo acredite que os estudantes venezuelanos estão contra o governo revolucionário. Tudo isso é uma gigantesca manipulação’. A RCTV, que fazia oposição a Chávez, saiu do ar no domingo, após o governo não renovar sua licença de transmissão. Seu sinal foi substituído pelo da emissora de serviço público TVes, patrocinada pelo governo.’

Demétrio Magnoli

O PT, o PSOL e o manifesto liberticida

‘Os eventos de 18 anos atrás que culminaram com a queda do Muro de Berlim, na antiga Alemanha Oriental, já foram narrados sob todos os ângulos. Mas há detalhes que quase escaparam ao registro histórico. Um deles é o seguinte. Quando se alastravam as manifestações populares contra o regime comunista, alguns dirigentes do PT participavam, na Alemanha Oriental, de um curso de formação política promovido pelo SED (Partido Socialista Unificado, como se chamava o partido comunista no país). Um dia, os manifestantes cercaram a sede do SED, exigindo o fim do sistema de partido único. Dentro do edifício, os petistas ouviam aulas sobre o futuro socialista da humanidade ministradas por um poder em adiantada putrefação.

O episódio não é totalmente irrelevante, ainda mais à luz dos acontecimentos desta semana. Domingo passado, um minuto antes da meia-noite, o sinal da emissora venezuelana RCTV saiu do ar em definitivo, dando lugar às transmissões de mais uma tevê estatal. Nas ruas de Caracas, policiais reprimiam manifestantes que protestavam contra o fechamento da emissora, decidido pelo governo de Hugo Chávez. Horas antes, em Brasília, a embaixada da Venezuela recebia um manifesto de apoio ao ato de Chávez assinado pelo PT e pelo PSOL. Os dois principais partidos de esquerda do Brasil, que vivem às turras, encontraram um eixo programático comum: a supressão da liberdade de opinião daqueles que não concordam com um governo ‘socialista e revolucionário’.

‘Esta empresa privada, além de veicular todas as baixezas típicas de uma TV comercial, faz propaganda aberta contra o processo revolucionário, tendo sido protagonista do golpe fascista de 11 de abril de 2002.’ O trecho do manifesto entregue na embaixada sintetiza os argumentos do governo Chávez para interromper a concessão da RCTV. A emissora, de fato, apoiou o golpe, mas isso foi há cinco anos – e num país cujo presidente emergiu para a vida política por meio de um golpe militar frustrado. O jornalismo da RCTV não esconde sua oposição ao governo e, realmente, editorializa o noticiário. Contudo, na Venezuela atual, o governo dispõe, para incensá-lo, de uma emissora pública ainda mais tendenciosa e de uma poderosa emissora privada cada vez mais dócil ao chavismo.

Chávez apresenta o seu ‘socialismo do século 21’ como uma entidade a ser inventada, diferente de todos os socialismos anteriores. A diferença é decrescente, no que concerne ao pluralismo político. Mas subsiste ao menos uma diferença crucial: o regime venezuelano não parece seduzido pela idéia de estatização geral da economia e mantém excelentes relações com grandes magnatas – entre os quais Gustavo Cisneros, o bilionário mexicano que controla a rede Venevisión. No passado, a acusação de ‘golpismo’ foi dirigida também contra Cisneros. Agora, sua rede aparece como principal beneficiária da audiência liberada pelo fim da RCTV e das verbas de publicidade oficial em emissoras privadas.

Manifestos partidários de apoio a um governo estrangeiro não são documentos banais. Mas nem todos os manifestos se equivalem. É razoável hipotecar apoio a um governo legítimo (ou apenas legal) contra um golpe de força – como o golpe antichavista de 2002. Coisa diferente é prestar homenagem a um governo – qualquer governo – que usa o poder para banir a divergência. O ato do PT e do PSOL deve ser classificado como manifestação de áulicos e de liberticidas.

Os cortesãos brasileiros de Chávez se imaginam ‘socialistas’ e ‘revolucionários’, tal como o alvo de sua corte. Eles se enxergam partícipes da corrente histórica que tem por fonte a obra de Karl Marx. Sugiro-lhes que leiam o que vai a seguir: ‘Tanto a liberdade é a essência do homem que mesmo seus oponentes a implementam, enquanto negam sua realidade; eles querem se apropriar, para si mesmos, como um mais que precioso ornamento, daquilo que rejeitaram como ornamento da natureza humana. Nenhum homem combate a liberdade; no máximo, combate a liberdade dos outros. Portanto, todos os tipos de liberdade sempre existiram, apenas que às vezes como privilégio especial, às vezes como direito universal.’

Isto, que um signatário do manifesto liberticida qualificaria inadvertidamente como ‘pensamento burguês’, foi escrito por Marx, em maio de 1842, na Nova Gazeta Renana. É parte de uma série de artigos sobre a liberdade de imprensa – isto é, bem entendido, a favor da liberdade de imprensa. Embora dirigidos contra a censura prussiana, os textos não defendem a liberdade de imprensa em bases conjunturais, mas como um princípio inegociável. No mesmo artigo, existe a constatação de que, em todos os lugares, ‘documentos governamentais oficiais experimentam perfeita liberdade de imprensa’, e uma outra, que a complementa: ‘A verdadeira censura, baseada na essência mesma da liberdade de imprensa, é a crítica. Esse é o tribunal que se desenvolve a partir da liberdade de imprensa. Censura é crítica como monopólio do governo.’

Marx estava certo. O PT e o PSOL querem que a crítica seja monopólio do governo – do ‘seu’ governo, é claro. Quando firmam o manifesto, os dois partidos estão dizendo que são frutos podres da árvore tombada do stalinismo. Há algo de positivo no ato deplorável: o fim das ilusões, para quem ainda as nutria, sobre a natureza política dessas agremiações. Depois desse manifesto, só tolos rematados podem acreditar na sinceridade das proclamações democráticas de seus dirigentes.

Hoje, o PT não fala mais de socialismo – mas a palavrinha permanece no seu programa. O socialismo é o nome do PSOL. O PSOL não sabe dizer o que é o seu socialismo, como o PT também não sabia. Os dois, porém, sabem dizer uma coisa: o socialismo deles, como o ‘socialismo real’ que naufragou no leste europeu, viria a ser o reino da liberdade como monopólio dos que têm o poder. No fim das contas, aquilo que querem para a Venezuela não pode ser tão diferente assim do que querem para o Brasil.

PT e PSOL têm, nas suas fileiras, alguns parlamentares cujos nomes estão ligados, na percepção pública, à noção de democracia. Seria injusto atribuir responsabilidades automáticas pelo manifesto liberticida a figuras como Eduardo Suplicy, José Eduardo Cardozo ou Chico Alencar. Por outro lado, eles não podem se fingir de paisagem para sempre. Se não erguem a voz para cobrar a retratação das direções partidárias, tornam-se parte do programa de abolição das liberdades públicas. Nessa hipótese, seus nomes devem ser relacionados pelos eleitores na lista dos liberticidas – no caso, numa lista especial de farsantes liberticidas.

* Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP)’

CASO RENAN & MÔNICA
Gaudêncio Torquato

Vida privada e vergonha pública

‘Em seus escritos, Maquiavel relata a história de um rico romano que deu comida aos pobres durante uma epidemia de fome e, por isso, foi executado pelos concidadãos, sob o argumento de que pretendia fazer seguidores para se tornar um tirano. Há poucos dias, no Japão, o ministro da Agricultura suicidou-se, envergonhado por ter sido acusado de favorecer empreiteiras e receber propina. Um dia depois, o executivo de uma corporação subordinada ao Ministério imitou o gesto, suicidando-se ao se atirar da sacada de seu apartamento em Tóquio. O poderoso e respeitado Paul Wolfowitz é obrigado a deixar a presidência do Banco Mundial por promover e aumentar o salário da namorada, funcionária da instituição. Como se vê, os antigos romanos valorizavam ao extremo a boa conduta dos políticos. No Japão e nos EUA, a moralidade pública é um dever inalienável. Os exemplos mostram que a postura ética ocupa lugar de destaque na sala de estar do homem público desde tempos imemoriais, corroendo o perfil dos atores da cena política.

A relação entre moral e política é útil para nela inserirmos os últimos acontecimentos, que apontam tênue limite entre a privacidade e o desempenho dos nossos representantes. O caso mais revelador é o que atinge o senador Renan Calheiros, sobre quem recaem suspeitas de relações espúrias com empreiteiras. A questão adquire grande visibilidade por se tratar do presidente do Senado e do Congresso Nacional, o terceiro cargo na linha sucessória da Presidência da República. Tal condição fortalece o bastião de defesa do senador. O fato denota, ainda, a banalização de escândalos envolvendo altas personalidades. Comecemos pela pergunta que cala fundo: mesmo que não receba sanção e seja inocentado das insinuações, Renan terá condições de manter o mesmo vetor de força na Câmara Alta? A resposta é não. Pois terá menor independência perante seus pares. Poderá até não se transformar em ectoplasma, mas lhe faltará autoridade. O Senado também fica com a imagem abalada. Ponto para o presidencialismo imperial.

Chamou atenção o discurso abordando o ‘calvário’, termo que Calheiros usou para o affaire amoroso com a jornalista com quem teve uma ‘paternidade não programada’. O relato entra no figurino do que os franceses chamam faits divers, curiosidade que acabou atenuando o impacto do vendaval Gautama sobre a imagem do senador. Ora, quase todos os dias se estampam denúncias sobre assaltos aos cofres da República. Faz tempo que a bandeira moral é enxovalhada nas fontes da podridão. Mas são raros os ‘causos’ sobre relações extraconjugais e estampas de mulheres relacionadas com políticos. O adorno romanceado da crise faz festa no imaginário nacional. Nos EUA e na Inglaterra, a vida amorosa de políticos é nitroglicerina pura para a mídia. Já em países como a França, a intimidade é preservada, como foi a do falecido François Mitterrand e, mais recentemente, a de Nicolas Sarkozy, ambos com tumultuada vida familiar. Entre nós, a agenda extra-oficial de mandatários sempre pautou a História, desde Pedro I, que se apaixonou por Domitila de Castro Canto e Mello, a quem deu o título de marquesa de Santos. A crescente interferência da marquesa nos negócios do governo acabou corroendo a simpatia popular pelo imperador. Alguns presidentes foram grandes namoradores, mas a vida amorosa não lhes diminuiu a fama, como registram a história de Getúlio e a de Juscelino.

Voltemos ao evento recente. Restrito à intimidade, o caso Renan cairia, logo, no baú do esquecimento. Só assumiu conotação perigosa ante a insinuação de que uma construtora teria arcado com a pensão alimentícia da filha que teve fora do casamento. Nesse ponto, o segundo ‘pecado’ se encontra com a primeira suspeição (Gautama), induzindo à suspeita de favorecimento a empresas, o que – caso se confirme – poderia levar o senador a enfrentar a acusação de quebra de decoro. Tudo indica que não será crucificado, mas o episódio abre o sinal vermelho na estrada da relação entre empreiteiras e obras públicas. Renan cometeu equívocos. O primeiro foi usar a cadeira da presidência do Senado para se defender. A tribuna seria o lugar adequado. Dali falaria de igual para igual, dispensando a liturgia presidencial. Ao resgatar o tribuno Cícero, que defendeu o Senado de impropérios a ele dirigidos pela turba, cometeu outro equívoco. Havia, sim, entre os senadores romanos ‘adúlteros, assassinos, sedutores, libertinos e ladrões’, para ficarmos nos termos que inseriu no discurso.

Ademais, não há intenção deliberada de ‘restaurar esses tempos’ no Brasil. Trata-se de dar visibilidade a fatos que contribuem para conspurcar a imagem de mandatários comprometidos com ética e moral. A Constituição diz que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. Mas o homem público precisa compartilhar as vidas pública e privada com os eleitores. No Brasil há uma razão a mais: aqui o voto é atribuído à pessoa. Outra questão: é imoral uma empresa bancar despesas de um político fora dos pleitos eleitorais. Parlamentares têm o direito de pressionar por verbas para suas regiões. Mas abrem a porta da ilicitude quando usam a chave da propina.

A atual tormenta não melhorará os padrões políticos. A permissividade, a contemporização, o corporativismo, a protelação de reformas e a sensação de mesmice continuarão a permear as nossas crises. E não se espere suicídio no Brasil em função da vergonha pública. Se assim fosse, o cemitério estaria entupido de homens públicos.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político. E-mail: gautor@gtmarketing.com.br

João Ubaldo Ribeiro

O dr. Renan num boteco do Leblon

‘- Tu viu o Renan?

– Renan, que Renan? Não tem nenhum jogador chamado Renan, tu deve estar fazendo confusão outra vez.

– E quem foi que falou em jogador?

– Todo mundo está falando, tu não tá vendo aí o clima de jogo, neguinho de camisa do time, essa peça aí atrás, olha devagar que ela está com o macho dela, mas mulher é uma desgraça mesmo, não sei pra que ela tinha que vir aqui com esse shortinho e o escudo do time bem no meio da bunda, quer dizer, neguinho toma umas quatro, chega perto e pede para saudar o time ou dar um beijinho no escudo, o macho dela não gosta e aí já viu a confusão que dá, elas fazem isso de propósito. Mulher… Na minha opinião, a mulher de hoje em dia, aliás a mulher sempre, em toda a História…

– Mas tu é louco mesmo, hem cara? Eu te faço uma pergunta e tu primeiro vem com um jogo que não tem nada a ver e depois…

– Um jogo que não tem nada a ver? Ouvi bem? Tudo bem que tu é vascaíno e tem mesmo é que ficar no teu lugar, mas esse jogo…

– Eu não estou falando em jogo nenhum! E tu, que teu time fica empatando com o Botafogo e comemorando como se tivesse ganho a Copa dos Campeões? Sem essa de futebol, nós já combinamos que não vamos mais falar em futebol, pra não dar rolo novamente.

– Mas tu é que trouxe o papo, inventando um jogador aí que não tem, só se for nas divisões de base e, mesmo assim, não sei de nenhum Renan.

– Mas quem botou futebol na conversa foi você, eu não falei em nenhum Renan jogador de futebol, eu quero falar é no Renan Calheiros.

– Me situa aí, tou manjando que esse cara é manjado. Renan Calheiros, tou sabendo, ministro aí, uma coisa dessas. Eu vou lá imaginar que tu vem de papo de político no domingo, só pra azedar o chope, tu não é brasileiro, não? Eu não me envergonho de ser o brasileiro, o carioca típico, tudo bem, cidadania, obrigação, pagar imposto, votar, etc. e tal, mas meu negócio é futebol e mulher, aliás mulher e futebol, aliás nem sei. Mulher e futebol, cara, dá uma sacada, ela fica empinando essa escultura aí, cara, agora ela virou de lado, a mulher é um AirBus de última geração, olha devagar, tu tá perdendo.

– Cara, não é por nada, não, mas eu fico admirado da tua alienação. Tou falando do Renan Calheiros, Renan Calheiros, presidente do Senado Federal, o Senado Federal! Tu não viu o pronunciamento dele no Senado?

– Ah, eu sei qual foi, tu vem com coisa da semana passada, quem é que vai lembrar assim? Foi o cara que fez um discurso negando uma porrada de coisas, sim, claro, Renan Calheiros, presidente do Senado, claro, é que às vezes eu confundo. Eu vi. Almocei tarde, na casa de minha irmã, e meu cunhado botou no canal do Senado. Eu gostei, achei o cara bom. Você veja, com aquela cara, hem? Olhando assim, você jura que ele é ex-seminarista arrependido, mas ele é espadachim, tu viu? Por esses assim eu confesso que tenho admiração, o que ele não deve ter traçado de gente por aí, hem? Deu azar nessa, mas se saiu muito bem, eu achei que ele se saiu muito bem.

– Eu não achei, houve certas coisas que ele não provou.

– Não precisa, ele já se sacrificou, ele se crucificou. Até em calvário ele falou. E de fato não é mole, não, o brasileiro compreende, a situação dele ficou muito chata. Já imaginou, o cara arruma um caso muito natural, sem compromisso, dá umas transadinhas normais e aí aparece esse pepino. Atire a primeira pedra quem já pelo menos não tomou um susto com um negócio desses, é a coisa mais comum, o brasileiro compreende.

– Mas não era isso que queriam saber, queriam saber era de onde saíram certos dinheiros que ele passou, por que é que ele diz que o auxiliar de transa dele era amigo da gestante, que é a palavra que ele mais usa para ‘namorada’, e a gestante diz que nem conhecia direito esse amigo e outras coisas assim.

– Ah, nesse caso, tenha a santa paciência, não concordo contigo. Pra mim o cara já sofreu o suficiente. Tu já pensou a moral dele dentro de casa? Ele será lembrado do episódio sempre que se julgue necessário, até o fim da existência dele na Terra. A mulher dele, ali em pé, assistindo tudo, dando abraço no fim, isso tem preço, cara, pode dizer que não quem quiser, mas eu sei, tem preço. Pensa bem, você é casado, te põe no lugar dele: é mole?

– É, não, não é mole. Tem razão, não é mole, não.

– Pois é, o brasileiro compreende, isso é coisa nossa. Tanto assim que todo mundo foi dar um abraço nele, querendo botar uma pedra em cima do assunto tão rápido quanto possível.

– E eu acho isso também muito suspeito. Os corruptos ou os que têm qualquer culpa no cartório ficam com medo de que se mexa muito nesse assunto e descubram coisas.

– Pois é, mas até nesse aspecto eu achei que ele marcou ponto. Você viu como ele defendeu a privacidade?

– Sim, eu até falei nisso. A questão não era a privacidade dele, era…

– Não era, mas ele deu jeito de parecer. É bom, esse cara. Tu pode pensar que eu estou delirando, mas acho que não estou. Vai aparecer uma hora dessas um jurista explicando que pegar alguém sendo subornado é violação de privacidade. Roubar em público é coisa de gentinha e dá pouco dinheiro, roubar mesmo é ato muito privado e, portanto, constitucionalmente protegido. Esse cara devia ser condecorado, ele de fato é um grande brasileiro típico.’

MÍDIA & ESPETÁCULO
Mario Vargas Llosa

Civilização rende-se ao espetáculo

‘Em algum momento, na segunda metade do século 20, o jornalismo das sociedades abertas do Ocidente começou a relegar discretamente a segundo plano aquelas que haviam sido suas funções principais – informar, opinar e criticar – para privilegiar outra que até então fora secundária: divertir. Ninguém planejou e nenhum órgão de imprensa imaginou que esta sutil alteração nas prioridades do jornalismo traria mudanças tão profundas em todo o âmbito cultural e ético. O que acontecia no mundo da informação era reflexo de um processo que abarcava quase todos os aspectos da vida social. A civilização do espetáculo havia nascido e estava lá para ficar e revolucionar até a medula as instituições e costumes das sociedades livres.

A que vem esta reflexão? É que há cinco dias não consigo deixar de deparar-me, em cada jornal que abro ou programa noticioso que ouço ou vejo, com o corpo nu da sra. Cecilia Bolocco de Menem. Não tenho nada contra os nus, menos ainda contra os que parecem belos e bem conservados, como o da senhora Bolocco, mas oponho-me ao modo perverso como essas fotografias foram tiradas e divulgadas pelo fotógrafo, a quem a façanha jornalística já rendeu, segundo os noticiários desta manhã, US$ 300 mil, sem contar a desconhecida soma que, pelo visto, de acordo com a especulação na imprensa, a sra. Bolocco lhe pagou para que não divulgasse outras imagens ainda mais comprometedoras. Por que tenho de estar informado sobre essas vilezas e negociações sórdidas? Simplesmente porque, a fim de não me informar sobre elas, eu teria de parar de ler jornais e revistas e ver e ouvir programas televisivos e radiofônicos, nos quais – não é exagero dizer – os peitos e o traseiro da sra. Menem ofuscaram tudo, das matanças no Iraque e no Líbano ao fechamento da Rádio Caracas Televisão pelo governo de Hugo Chávez e ao triunfo de Nicolas Sarkozy nas eleições francesas.

Estas são as conseqüências de aceitar que a primeira obrigação dos meios é entreter e a importância da informação é diretamente proporcional à dose de espetaculosidade que ela pode gerar. Se agora parece perfeitamente aceitável que um fotógrafo viole a privacidade de qualquer pessoa conhecida para expô-la despida ou fazendo amor com um amante, quanto tempo levará para que a imprensa deleite os entediados leitores ou espectadores sedentos de escândalo mostrando-lhes violações, torturas e assassinatos a ponto de acontecer?

O mais extraordinário, como indicador da letargia moral resultante da concepção do jornalismo, em particular, e da cultura, em geral, como diversão e espetáculo, é que o paparazzo que deu um jeito de levar suas câmeras até a intimidade da sra. Bolocco é considerado pouco menos que um herói, graças a seu grandioso desempenho, que, aliás, não é seu primeiro desse tipo – nem será o último.

Protesto, mas é idiotice de minha parte, pois sei que se trata de um problema sem solução. O bruto que tirou aquelas fotos não é uma avis rara, e sim produto de um estado de coisas que induz o comunicador e o jornalista a buscar (e fabricar, se não encontrar) o furo acima de tudo, a ocorrência audaz e insólita capaz de romper mais convenções e escandalizar mais que qualquer outra. E como nada mais escandaliza em sociedades onde quase tudo é permitido, é preciso ir cada vez mais longe na temeridade informativa, valendo-se de tudo, atropelando qualquer escrúpulo, desde que seja produzido o furo que dê o que falar.

‘ESCANDALIZE-ME’

Dizem que Sartre, em sua primeira entrevista com Jean Cocteau, lhe pediu: ‘Escandalize-me, por favor!’ É isso que o grande público do jornalismo espera hoje em dia. E o jornalismo, obediente, trata laboriosamente de chocá-lo e espantá-lo, porque essa é a mais cobiçada diversão, o estremecimento empolgante da hora.

Não me refiro apenas à imprensa marrom, que não leio. Mas essa imprensa, desgraçadamente, contamina há tempos com seu miasma a chamada imprensa séria, a ponto de as fronteiras entre uma e outra resultarem cada vez mais porosas. Para não perder ouvintes e leitores, a imprensa séria se vê forçada a dar conta dos escândalos e mexericos da imprensa marrom, contribuindo assim para a degradação dos níveis culturais e éticos da informação.

Por outro lado, a imprensa séria não se atreve a condenar abertamente as práticas repulsivas e imorais do jornalismo sujo, pois teme – não sem razão – que qualquer iniciativa que se tome para freá-las vá contra a liberdade de imprensa e o direito de crítica. A esse disparate chegamos: uma das mais importantes conquistas da civilização, a liberdade de expressão e crítica, serve de álibi e garante a imunidade do libelo, da violação da privacidade, da calúnia, do falso testemunho, da insídia e das demais especialidades do sensacionalismo jornalístico.

Vão responder-me que, nos países democráticos, existem juízes, tribunais e leis que amparam os direitos civis, aos quais as vítimas dessas violações podem recorrer. Sim, isso é certo na teoria. Na prática, raramente um indivíduo ousa enfrentar essas publicações – algumas das quais são muito poderosas e contam com grandes recursos, advogados e influências difíceis de derrotar – e se anima a lançar ações judiciais que em certos países são custosas, complicadas e intermináveis. Por outro lado, os juízes muitas vezes hesitam em punir esse tipo de delito, pois temem criar precedentes que sirvam para reduzir as liberdades públicas e a liberdade informativa.

Na verdade, a questão não se limita ao âmbito jurídico. Trata-se de um problema cultural. A cultura de nosso tempo propicia e ampara tudo o que entretém e diverte, em todos os domínios da vida social. Por isso, as campanhas políticas e disputas eleitorais são cada vez menos um confronto de idéias e programas e cada vez mais eventos publicitários, espetáculos nos quais os candidatos e partidos, em vez de persuadir, tratam de seduzir e excitar, apelando, como os jornalistas marrons, às paixões rasas ou aos instintos mais primitivos, aos impulsos irracionais do cidadão, mais que a sua inteligência e sua razão. Isso foi visto não só nas eleições dos países subdesenvolvidos, onde é a norma, mas também nas recentes eleições na França e a na Espanha, onde abundaram os insultos e as desqualificações escabrosas.

A civilização do espetáculo tem, é claro, seus aspectos positivos. Não é ruim promover o humor, a diversão, pois sem humor, gozo, hedonismo e brincadeira, a vida seria espantosamente chata. No entanto, se esta se limitar cada vez mais a ser apenas isso, triunfarão a frivolidade, o esnobismo e formas crescentes de idiotice e grosseria por toda parte. Eis nossa situação, ou pelo menos a situação de setores muito amplos – que paradoxo – das sociedades que, graças à cultura da liberdade, alcançaram os mais altos níveis de vida, educação, segurança e ócio do planeta.

Algo, portanto, falhou em algum momento. E vale a pena reagir antes que seja tarde demais. A civilização do espetáculo na qual estamos imersos causa uma absoluta confusão de valores. Hoje, os ícones ou modelos sociais – as figuras exemplares – o são basicamente por razões de mídia, pois a aparência tomou o lugar da substância na apreciação pública. Não são as idéias, a conduta, as façanhas intelectuais e científicas, sociais ou culturais que fazem com que um indivíduo se destaque, ganhe o respeito e a admiração de seus contemporâneos e se transforme num modelo para os jovens. Quem se destaca são as pessoas mais aptas a ocupar as primeiras páginas da informação, seja pelos gols que marcam, pelos milhões que gastam em festas faraônicas ou pelos escândalos que protagonizam. A informação, como resultado, concede cada vez mais espaço, tempo, talento e entusiasmo a este gênero de personagens e acontecimentos.

É verdade que sempre existiu, no passado, um jornalismo excrementício, que explorava a maledicência e a falta de pudor em todas as suas manifestações, mas ele costumava ficar à margem, numa semiclandestinidade onde era mantido não por leis e regulamentos, e sim pelos valores e pela cultura reinantes. Hoje, esse jornalismo ganhou direito de cidadania, pois os valores vigentes o legitimaram. Frivolidade, banalidade, imbecilização acelerada são alguns dos resultados inesperados do fato de sermos, hoje, mais livres que nunca.

Isto não é uma argumentação contra a liberdade, mas contra um desvio perverso da liberdade que pode, se não o detivermos, suicidá-la. Porque a liberdade não desaparece só quando os governos despóticos a reprimem ou censuram. Outra maneira de acabar com ela é esvaziá-la de substância, desnaturalizá-la, escondendo-se atrás dela para justificar atropelos e tráficos indignos contra os direitos civis.

A existência desse fenômeno é um efeito colateral de duas conquistas básicas da civilização: a liberdade e o mercado. Ambas contribuíram extraordinariamente para o progresso material e cultural da humanidade, a criação do indivíduo soberano e o reconhecimento de seus direitos, a coexistência, o recuo da pobreza, da ignorância e da exploração. Ao mesmo tempo, a liberdade permitiu que essa reorientação do jornalismo em direção à meta primordial de divertir leitores, ouvintes e telespectadores fosse avançando em proporções cancerosas, estimulada pela competência que os mercados exigem. Se há um público ávido por esse alimento, os meios lhe dão. E se esse público, educado (ou melhor, mal-educado) por esse produto jornalístico, o exige em doses crescentes, divertir será cada vez mais o motor e o combustível dos meios, a ponto de essa predisposição deixar em todas as seções e formas do jornalismo seu carimbo, sua marca deformadora. Há, é claro, quem diga que ocorre justamente o contrário: o mexerico, o esnobismo, a frivolidade e o escândalo agarraram-se ao grande público por culpa dos meios, o que sem dúvida também é certo, pois uma e outra coisa não se excluem, complementam-se.

Qualquer tentativa de frear legalmente o sensacionalismo jornalístico equivaleria a estabelecer um sistema de censura, e isso teria conseqüências trágicas para o funcionamento da democracia. Em termos realistas, a idéia de que a Justiça, punindo caso a caso, pode impor limites à libertinagem e à violação sistemática da privacidade e do direito dos cidadãos à honra é uma possibilidade abstrata, totalmente desprovida de conseqüências. Pois a raiz do mal é anterior a esses mecanismos: está numa cultura que fez da diversão o valor supremo da existência, pelo qual todos os velhos valores, a decência, o cuidado das formas, a ética, os direitos individuais, podem ser sacrificados sem o menor peso na consciência. Por isso nós, cidadãos dos países livres e privilegiados do planeta, estamos condenados a continuar recebendo as tetas e bundas dos famosos, e suas velhacarias gongóricas, como nosso alimento de cada dia. TRADUÇÃO DE ALEXANDRE MOSCHELLA’

TELEVISÃO
José Roberto Sadek

Uma simétrica disputa pelo poder

‘A telenovela Paraíso Tropical, TV Globo, 21 horas, escrita por Gilberto Braga, entre outras características apresenta uma disputa pelo poder organizada com simetria matemática. O Grupo Cavalcanti é um conglomerado hoteleiro rico, e a maioria das tramas tem como personagens funcionários de seus vários escalões hierárquicos. Não competem as posições políticas herdadas da Revolução Francesa, esquerda e direita, socialistas e capitalistas, trata-se da oposição melodramática entre bons e maus. Neste caso, todos são capitalistas. As telenovelas são em geral melodramáticas, e a polarização entre bonzinhos e malvados é típica dos melodramas. E das telenovelas.

Isolado na presidência (e propriedade) do grupo está Antenor Cavalcanti (Toni Ramos), que o administra com mãos de ferro e modos bruscos. Está no vértice superior de um triângulo de poder. No degrau de baixo, ou nos dois vértices da base do triângulo, estão os dois principais candidatos à sua sucessão: Daniel Bastos (Fábio Assunção) e Olavo Novaes (Wagner Moura). Eles, suas relações de amizade e de trabalho configuram a oposição que permeia a telenovela pelo menos até agora.

Daniel, filho do caseiro de Antenor, não se mostra ansioso por ocupar a presidência da empresa, mas parecia ser o preferido, porque, além de sua reiterada competência, foi adotado pelo casal de patrões quando perderam seu filho num acidente. Tem, portanto, uma relação também afetiva com Antenor e sua mulher, Ana Luisa (Renée de Vielmond). Daniel sempre faz o bem, é simpático, trata bem todas as pessoas, não julga, defende os funcionários, procura ser justo e humano em todas suas decisões. É ingênuo e de boa-fé. Como diz Virgínia (Yoná Magalhães), ‘é o rapaz que toda mãe quer pra casar com sua filha’. As mulheres se derretem por ele, mas ele só pensa em Paula (Alessandra Negrini). Adora o pai, trata-o com afeto e respeito.

Olavo, com longínquo grau de parentesco com Antenor, chama-o de ‘tio’. Ambiciona a presidência do grupo, gosta do poder, é capaz de fazer e faz todas as manobras possíveis para sabotar Daniel e para parecer o candidato mais adequado à presidência e à geração de lucros para a empresa. É implacável, não liga para os funcionários, contrata bandidos para executarem suas trapaças. É inteligente, malicioso, pensa depressa, entende as segundas intenções com rapidez ímpar.

Tem uma namorada burra, que trata mal, e que serve apenas para que apareça socialmente acompanhado. Compra as pessoas e o amor, vai para a cama com prostitutas. Gosta de Bebel (Camila Pitanga), uma das mulheres cujos serviços contrata, mas nega estar louco por ela. Detesta o irmão, detesta a mãe, mas a atura porque, sendo afeita a golpes sujos, é, às vezes, útil aos seus planos. As relações de Daniel e de Olavo também são simétricas.

Daniel hospeda em sua casa um amigo da primeira infância em Paraty, Lucas (Rodrigo Veronese), um excelente profissional, bom caráter, romântico, ético, respeitoso. Olavo hospeda um recém-contratado de São Paulo, Fred (Paulo Vilhena), arrogante filho de pai rico que imagina ter carreira promissora e assegurada, que apenas olha lucros e sua posição elevada na hierarquia. Sem ter muita alternativa, pretende ajudar Olavo a chegar à presidência da empresa. Desconfia ter entrado numa enrascada.

Nas reuniões do conselho do grupo, dois diretores se destacam: Vidal (Otávio Muller) e Xavier (Roberto Maya). Vidal é um sujeito sensível, de boas maneiras, tímido, amigável, que se apaixona e não é correspondido. Xavier é utilitarista, apenas se preocupa com sua posição e com os lucros. Trata as mulheres como objetos que pode comprar e como troféus sobre os quais pode falar, é de um machismo primitivo. Parece fácil adivinhar que Vidal concorda com as propostas de Daniel, e que Xavier fecha posições com Olavo.

Os relacionamentos dos dois vértices também são opostos. Daniel tem amigos, as pessoas confiam nele, gostam dele, querem tê-lo por perto. Olavo não tem amigos, tem cúmplices, se relaciona com marginais, resolve os problemas planejando golpes sujos e comprando as soluções.

A atenta direção de arte da telenovela colabora muito para o maniqueísmo: Daniel usa roupas esportivas, e, quando traja ternos, em geral são claros. Quando a situação exige escuros, suas camisas são brancas, sempre. Olavo, ao contrário, veste ternos escuros e sempre camisas escuras ou pretas. Até seu roupão de banho é preto. É evidente que Daniel e Olavo não se gostam, e, a estas alturas da telenovela estão em conflito aberto e agressivo. Daniel, de perspicácia um pouco lenta, ajudado por Paula, mais inteligente, acha que Olavo tramou sua prisão e foi o responsável pelo afastamento de sua grande paixão. Outras simetrias foram construídas pelos autores, reafirmando sua arquitetura dramática.

A mais óbvia é a das gêmeas Paula e Taís. A secretária Sheila (Patrícia Naves) sintetiza que ‘gêmeas são iguais com sinal trocado’. Assim é nas telenovelas. Taís é detestada e Paula, ‘minha (de Taís) irmã songamonga, boazinha’ é adorada. Uma faz o mal a outra o bem, uma é trambiqueira compulsiva, a outra é honestíssima. Estes pares iguais em aparência e opostos em ações não são inusitados na TV. Mulheres de Areia, telenovela de Ivani Ribeiro na TV Tupi, 1973, tinha as gêmeas opostas Raquel e Ruth (Eva Wilma). Em 1993, a TV Globo regravou a mesma Mulheres de Areia (manteve o mesmo nome), e desta vez o papel de gêmeas coube a Glória Pires.

Há também simetrias no baixo escalão do grupo. O casal Heitor (Daniel Dantas) e Neli (Beth Goulart) e o casal Gustavo (Marco Ricca) e Dinorá (Isabela Garcia). Os maridos, que trabalham no grupo Cavalcanti, estão em situações opostas: Heitor foi rebaixado e ficou no emprego só porque seu chefe, Fred, gosta de sua filha. Gustavo, por outro lado, está prestigiado e parece se encaminhar para uma promoção.

Nas esposas, repete-se o esquema. Dinorá, romântica, ansiosa, ingênua, inconseqüente, acha que a vida é como um comercial de TV ou como aparece nas telenovelas. Copia de revistas e programas populares de rádio situações para seduzir seu marido. Tudo que lhe importa são os filhos e o marido. Neli, opostamente, é calculista, fria, pouco liga para o amor, trata mal seu marido e tem na ascensão social seu objetivo máximo. Este mesmo dilema entre o amor e o pragmatismo, entre a relação pessoal e o dinheiro espelham o que se passa com Antenor.

Enquanto os exércitos dos bonzinhos e o dos mauzinhos de armas em punho começam a guerra, Antenor paira solitário acima das duas redes melodramáticas do bem e do mal, no vértice superior do triângulo de poder. Sofre influências dos dois lados, ora decide pelas propostas de Daniel, ora pelas de Olavo. Alterna entre ser humano e socialmente responsável e ser durão e frio administrador que visa apenas ao lucro. Estas ambigüidades fazem dele um personagem pouco melodramático, com conflitos e contradições. É o que chamamos de personagem redondo, coisa rara nas telenovelas, que usam e abusam de personagens maniqueístas, estereotipados, totalmente bons ou maus. Antenor, à sua maneira, oscila.

Antenor adora mulheres. É casado há 34 anos com Ana Luisa, tem uma amante fixa, Fabiana (Maria Fernanda Cândido), para a qual dia sim dia não jura que vai se separar da mulher para ficar com ela. Nas horas vagas, distrai-se com outras mulheres que aparecem pelo caminho. Com as duas Antenor é amoroso, cordial, galante, e, se explica com ‘prefiro as mulheres ingênuas porque são mais fáceis de serem convencidas’. Seu machismo não é grosseiro como o de Xavier. E ele é um mestre na arte do convencimento, com cenas memoráveis em que inverte as opiniões delas. Maneja-as com habilidade.

Mas seu equilíbrio é desfeito. Ana Luisa flagra-o na cama com Fabiana (capítulo 53) e seu mundo se desorganiza. Não sabe o que fazer, e, procurando salvar alguma delas, opta pela esposa, abandonando imediatamente Fabiana, que implora pelo seu amor de joelhos como num pastelão latino-americano. Apaixonada ela tenta um ineficiente suicídio. Antenor agiu não por uma necessidade interior, por uma impossibilidade de conviver com as duas, mas porque uma situação exterior forçou-o a escolher sem que estivesse pronto, sem que quisesse.

Ao mesmo tempo, na vida profissional, os dois pólos opostos, Daniel e Olavo, entram em conflito aberto. Parece proposital que os autores compliquem também sua vida profissional, acentuando ao máximo sua tensão interior. Antenor é forçado a sair da posição de árbitro acima dos demais para escolher o que fazer e em quem acreditar. Para o espectador as jogadas estão claras, mas para Antenor o emaranhado de argumentos do dois lados parece confuso. Desconfia de todos.

Sua trajetória dramática aponta para a escolha de um dos dois lados ou para a dissolução de seus dilemas, o que poderá levá-lo a outro estágio psicológico antes mesmo da metade da telenovela.

Em geral, as histórias deixam para resolver os conflitos importantes perto do fim, mas Paraíso Tropical tem como característica a rapidez em configurar e em desvendar situações. As últimas telenovelas deste horário tiveram pouco mais de 200 capítulos, e, se estivéssemos nelas, Daniel e Paula se reencontrariam perto do fim, lá pelo capítulo 180, por exemplo. Mas reencontraram-se no 54. O desarranjo na vida de Antenor (53) também estaria reservado para os últimos capítulos.

Antenor sofre com seus conflitos no trabalho e suas derrotas no amor. Confuso e só, sente-se traído e precisa se recompor como personagem. Introspectivo, diminui suas aparições e dá espaço para que outras tramas se desenvolvam e ocupem as atenções dos espectadores.

Atormentado pelas ambigüidades e incertezas, seu poder parece ter menor alcance. Tem menos ascendência sobre Olavo e Daniel e sobre os demais diretores. Fica isolado no poder, solitário, curiosamente uma queixa freqüente de vários presidentes da República.

O que vem pela frente nem mesmo os autores da telenovela sabem ao certo, mas há base dramática e consistência para termos um novo Antenor, parecido com o de antes, mas mudado. Será outra pessoa, não se sabe ainda qual. Por enquanto, ele volta a ser apenas um dos personagens regulares de Paraíso Tropical, mas poderá participar de novas aventuras. E ainda teremos muito mais de 100 capítulos desta telenovela.

José Roberto Sadek é doutor em Comunicações pela ECA-USP com tese sobre a relação entre filmes e telenovelas’

Etienne Jacintho

‘Falei muito ‘não’ à globo’

‘À beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, uma mulher grita: ‘Olha só, deixa a minha amiga em paz!’ O recado é para Chico Diaz, que posava para o repórter fotográfico do Estado. O ator conta que após encarnar o cafetão Jáder, em Paraíso Tropical, ouve as maiores gracinhas do público. E a maioria intercede ou pede por Bebel, personagem de Camila Pitanga. ‘Não maltrata, não!’ ou ‘arruma um programa para mim?’ são frases constantes. Chico ri da situação e confessa que está gostando da recepção do público, mesmo sendo reservado. Ele não é de aparecer e condena a indústria das celebridades. Gente simples.

Ao nosso encontro para esta entrevista, Chico chegou de bicicleta – com cadeirinha na frente, para carregar o filho de um ano. ‘Desculpe o atraso’, disse. ‘Fui levar meu filho na creche.’ E cinco minutos lá é atraso nesse universo onde repórteres estão acostumados a tomar chá de cadeira e a agüentar ataques de estrelismo? Chico sentou-se à mesa do quiosque, pediu uma água com gás e elogiou a paisagem. ‘Lindo, não?’, sugeriu, ao olhar para a Lagoa. ‘Mas você tem o Rio Tietê!’ Tudo bem, Chico, esta repórter agüenta a piadinha.

Você fez muito cinema e, na TV, fez muitos trabalhos com o Gilberto Braga. É escolha sua trabalhar com ele na TV?

O cinema me protegeu e foi me levando de uma forma constante e livre. Era rebelde e não me encaixava na TV de 20 anos atrás, mas fui me acertando. O Gilberto me procurou há um ano, apresentou o personagem e perguntou se eu queria. Foi um convite formalizado com antecedência, elegante, sofisticado e interessante. Não escolho o Gilberto. É ele quem me escolhe – na medida em que não seja pretensioso falar isso. Não tenho domínio no espectro televisivo para escolher. Estou começando na TV, apesar dos meus 48 anos. Este é um contrato formalizado, um sinal de maturidade minha.

O que fez com que você aceitasse viver o Jáder?

Nesse ano de conversa, mesmo querendo fugir do universo do submundo, da violência – falei para Gilberto que não queria, mas ele insistiu -, vi que tinha um canal aberto com ele se sentisse insatisfação. Já tinha falado muito ‘não’ para a Globo em relação a esse tipo de personagem.

Por que acha que sempre te oferecem esse tipo de personagem?

A TV vive de clichês. Desde Corpo Santo, na Manchete, e até em A Força de um Desejo, tinha um quê de violência. Essa violência ficou muito perto no Rio e comecei a ficar com medo de arma na mão e de não evoluir na minha carreira, repetindo o universo. E aí não fiz Aguinaldo (Silva), não fiz Manoel Carlos, em função disso.

Você fez laboratório para interpretar o cafetão?

Não. Confesso que um amigo da (Faculdade de) Arquitetura virou motorista de táxi em Copacabana e conhece a área. Saí com ele na noite. Tenho uma vivência de carioca, que está no sangue, personagens passados, além do texto. Quando recebi os 18 primeiros capítulos, havia o raio-X inicial de Jáder. Pude tirar base.

A figura do cafetão ainda existe em Copacabana?

Nem existe mais. São elas (as prostitutas) que se protegem ou um policial civil que transa com ela, um taxista que leva e traz… Não é Navalha na Carne, porrada. Joguei isso para o Gilberto e ele disse: ‘Chico, não quero saber da realidade. Meu negócio é clichê.’

Seu personagem é um vilão, mas as pessoas adoram. Por que isso?

Ah, modéstia à parte, isso é um certo trunfo meu. Já gato escaldado, sabendo que, se possível lapidar de outra forma, mostraria facetas humanas, não monolíticas, do que seria violento. E pensei em brincar. E Camila (Pitanga) e Wagner (Moura) são muito generosos.

Como é contracenar com os dois?

É bom porque o lado egóico do ator faz com que cada um defenda o seu. E eles têm um sentido lúdico. Cria-se uma atmosfera. Não é fácil, mas com eles têm jogo. Há pausas maiores e interpretações diferenciadas. Você propõe e o cara vem na sua; o cara propõe e você vai na dele.

Luiz Carlos Vasconcelos disse que tem biótipo brasileiro e sempre cai nos papéis populares. Você acha que isso acontece com você, mesmo sendo mexicano?

Tenho biótipo latino. Nasci no México, mas sou brasileiro. Vim para cá com 9 anos. Sou carioca com experiência latina. Por ter uma cara mais talhada, vou para o universo popular.

Mas isso não te cansa?

Ao contrário, me privilegia. Representar a maioria do País – o pescador do Rio Grande do Norte, o seringueiro do Amazonas, o retirante nordestino, o cara da fronteira do Paraguai – é bom. Tenho uma geografia na cara que me dá mais opções de trabalho. Se eu dependesse só da TV, talvez ficasse marcado, mas como o cinema tem uma geografia ampla, me sinto honrado.

Você é mexicano, seu irmão, peruano…

Meu pai é paraguaio; minha mãe é brasileira; meu irmão mais velho é brasileiro, de Ribeirão Preto; eu, mexicano; minha irmã, de Costa Rica; minha irmã mais velha é brasileira, do Rio; meus dois irmãos mais novos (um deles Enrique Diaz, ator e diretor) são peruanos. Meu pai trabalhava na Organização dos Estados Americanos e ficava dois anos em cada país.

E esses olhos azuis saíram de onde?

Isso não é opção minha (risos). Meu avô de parte de mãe tinha um olho bem mais azul do que o meu. Meu avô paterno também tinha olho claro, puxado, índio guarani.

Você considera Jáder seu maior papel em novela?

O maior não, mas o mais popular. É o horário das 8, Gilberto foi corajoso com o universo proposto e o resultado tem sido magnânimo.

Como as pessoas te tratam na rua?

Ao contrário de A Força de um Desejo, em que as pessoas eram muito agressivas – fiz um cara bronco, tosco, rude, violento -, nesse há um oxigênio contemporâneo e bem-humorado carioca que o torna mais leve. E o público reage de uma forma simpática.

E Jáder tem um certo sex appeal…

Ah, tem uma resposta boa desse lado também! Mas credito isso também ao brilho da Camila.

As pessoas intercedem pela Bebel?

Direto. ‘Não maltrata, não! Arruma um programa para mim?’ Há um carinho pela dupla. Na verdade, pelo trio. Estou feliz. Eu, que tenho um pé atrás nessa exposição demasiada, nessa febre de aparecer, de celebridades, dou o braço a torcer e estou feliz. Tem sido gratificante.

Você acha que o Jáder está mais para morrer ou para matar?

Ah, porque tem essa coisa de: ‘Quem matou fulano’, né? Não sei te responder. Mas suspeito seria de muitas coisas (risos).

Como você acha que está a profissão de ator hoje?

O mercado melhorou. Hoje há um crédito maior para o ofício. O parque cinematográfico cresceu em número e em qualidade, mas questiono a indústria de celebridades no que concerne ao real fundamento do ofício. Tivemos gerações que foram testemunhas da nossa história de forma atuante. Éramos tidos como classe pensante. Questiono se isso ainda rola. Fomos para a superfície e hoje se confunde muito quem está em função e quem não está.

Quando você começou a fazer TV, lá na Manchete, era muito diferente?

Era tudo diferente. Quando fiz minha primeira peça, não havia registro de ator. Na Manchete, quando a gente ia gravar, os caras tiravam o ventilador da tomada para não fazer barulho. Não tinha ar condicionado.

Você tem vontade de desempenhar outras funções, além da atuação?

Tenho vontade de dirigir cinema, mas me descobri muito preguiçoso, mas vamos ver, porque os atores estão dirigindo: Selton (Mello), Mateus (Nachtergaele), Paulo Betti, Norma (Bengell), Guilherme Fontes (risos)… É um upgrade, uma graduação, é orgânico a gente querer crescer.

Você é ator, casado com uma atriz. A Marieta Severo é sua sogra e o Chico Buarque é seu sogro. Como é a convivência familiar?

É bom! São gerações que já diagnosticam uma realidade artística; o Brasil através dessa ótica e de uma forma muito saudável. É um privilégio.

Você tem uma ONG?

Fundamos uma ONG no começo do governo Lula, a Mhud, mas me afastei um pouco. Meu nome está lá com o da Camila Pitanga, o do Wagner Moura, o da Dira Paes, em prol dos direitos humanos, mas baixei um pouco a bandeira.

E artista precisa ter esse compromisso social?

Tem que ter esse raciocínio porque senão viramos o confete do bolo. É preciso pensar o Brasil, a cidade, o bairro. Alguma função pensante a gente tem que ter, senão vira decoração.’

Leila Reis

A marca do Zorro

‘Nos primórdios da TV brasileira (entre o fim dos anos 50 e começo dos 60), muitos seriados enlatados (como era chamada a produção importada, que chegava dentro de latas) preenchiam boa parte da programação. Um dos seriados mais famosos foi Zorro, estrelado por Guy Williams, no papel de Don Diego de La Vega/Zorro, e Henry Calvin, como o Sargento Garcia. As mulheres eram completamente coadjuvantes nos seriados de ação.

As aventuras de Zorro voltaram esta semana ao vídeo (em forma de novela) e têm a missão de substituir os prosaicos conflitos dos jovens em Alta Estação, na Record. Mas não logo de cara. Utilizando estratégia inventada por Silvio Santos há umas duas décadas, a Record colou os primeiros episódios de Zorro aos últimos de Alta Estação para ‘transferir’ a audiência da novela juvenil para o seriado.

Curiosamente, Zorro parece não ter precisado da força, pois estreou com audiência maior do que a da novela. Nas três primeiras noites, registrou 9 pontos de média no Ibope (Grande São Paulo), contra os 6 ou 7 da novela.

Antes de uma aventura, o Zorro made in Colômbia é uma história de amor, na qual Esmeralda, filha do governador de Los Angeles, divide a cena com o herói mascarado por quem, claro, se apaixona. A mocinha é a protagonista, tanto que a atriz Marlene Favela tem mais destaque na propaganda do que o ator peruado Christian Méier, dono do papel-título.

Tirando os excessos peculiares a nossos hermanos – maquiagem carregada, bigodes e tapa-olhos -, o drama é bem feitinho. As cenas têm qualidade de filme, os cenários e figurinos são sofisticados, há um acabamento pouco encontrado nas similares mexicanas.

A novela agradou tanto quando estreou, que os produtores aumentaram o número de capítulos para capitalizar melhor o sucesso. Zorro faz bonito também nos Estados Unidos, Uruguai e Argentina, onde está sendo exibida. Então, a troca de novela não foi feita no escuro. A emissora sabia o que estava fazendo quando decidiu substituir uma legítima produção nacional por uma cucaracha. Parece querer mais audiência do que a sua Malhação do B lhe trouxe e, ao mesmo tempo, ter se convencido de que criou hábito no público de encontrar ficção no seu horário nobre.

Essa confiança está baseada nos resultados da audiência. Se Alta Estação não foi tão bem, não se pode dizer o mesmo de Luz do Sol e Vidas Opostas (exibidas sem intervalo entre si). Elas conseguiram a façanha de trazer para a emissora audiência de dois dígitos. Terça-feira, a primeira atingiu 13 e Vidas Opostas, 17 pontos de média no Ibope.

Isso quer dizer que o investimento sistemático no gênero – com a aquisição de equipamentos e contratação de profissionais experientes em todas as áreas – está começando a reverter audiência e prestígio junto aos anunciantes para a emissora.

E mesmo levando ao ar uma ficção claramente calcada no modelo da Globo, a Record está colaborando para uma certa diversidade do gênero que mais agrega audiência no Brasil. Missão da qual o SBT abriu mão por razões até agora pouco compreendidas.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 3

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