RENANGATE
‘Homem é mesmo muito besta!’, diz Verônica Calheiros
‘Três relatores, 12 horas de debates e 15 representantes de 7 partidos não foram suficientes na semana passada para desempatar as dúvidas que rondam o Conselho de Ética do Senado sobre o decoro parlamentar do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em compensação, o decoro conjugal do senador produziu comentários animados entre os parlamentares. Da casa oficial onde mora em Brasília, a mulher de Renan, Maria Verônica Calheiros, observou a espiral política que paralisou a pauta do Congresso Nacional e reduziu tudo em uma notável reflexão doméstica: ‘Não sei como meu marido caiu nessa… Homem é mesmo muito besta!’
Verônica Calheiros é uma mulher de 43 anos. Fala com um timbre de voz infantil e prefere frases longas. Fez faculdade de Artes Plásticas, é evangélica e gosta de cuidar de suas mais de mil matrizes de orquídeas. Integra a crise no papel da esposa que perdoou uma retumbante traição do marido – uma espécie de Hillary Clinton tropicalizada. ‘Escolhi lutar pela minha família e faço o que for preciso para isso’, disse ela ao Estado, em conversa por telefone.
O presidente do Senado está com o escalpo à prova sob suspeita de ter recebido dinheiro do lobista de uma empreiteira para pagar a pensão da filha que teve com a ex-amante, a jornalista Mônica Veloso. Como a acusação veio à tona por conta do caso extraconjugal, o Brasil foi convidado a acompanhar os detalhes de um novelão político-conjugal.
A primeira-dama do Senado assumiu seu papel por conta própria, há um mês. No dia em que Renan Calheiros fez seu pronunciamento no Senado, ela saiu às pressas da ginástica, passou em casa para colocar um terninho preto e sentou na primeira fila para vê-lo falar. Depois, foi abraçá-lo. ‘Ninguém nunca foi para a tribuna fazer o que ele fez. Ele foi inédito. E eu também fui inédita.’
Há quem diga no Congresso que Verônica defende o marido publicamente para ajudá-lo a tirar o foco do escândalo político e transformá-lo em mero bafafá extraconjugal. Ela afirma que simplesmente enxerga o caso de alcova que abalou o Congresso como uma daquelas tentações que rondam o poder em Brasília. ‘Renan foi a maior vítima nisso tudo. Ele e a criança. Ele, claro, também tem culpa, porque todo ser humano é falho. Mas todos sabem que existe um assédio em cima dos representantes do poder. Fiquei surpresa por ele ter caído…’
A BATALHA DE VERSÕES
O novelão dos Calheiros que atinge o Senado conta com capítulos tão complicados que às vezes a coisa fica meio barroca. E a guerra de versões pega fogo.
No estofo de suas denúncias, Mônica Veloso disse que testemunhou muita coisa porque teve uma relação de três anos com o senador. Verônica diz que é mentira. ‘Durmo com meu marido toda noite! Isso foi uma coisa rápida, no período em eu estava viajando, me preparando para ajudar na campanha política do meu filho (Renan Calheiros Filho, eleito em 2004 prefeito da cidade de Murici, em Alagoas).’
Mônica disse que foi ameaçada, a tal ponto que precisou registrar boletins de ocorrência. Verônica afirma que é mentira. ‘Eu soube dessa história toda por uma carta anônima e acredito que foi ela quem mandou. Perguntei a Renan e ele me contou tudo, antes de a criança nascer. Depois disso recebi telefonemas anônimos. Cheguei a mudar o número do telefone de casa, mas ela descobria. E quando ela soube que esperava uma menina ainda telefonou para me contar, porque eu só tive filhos homens… Fiquei tão abalada com tudo isso que engordei mais de 20 quilos.’
Mônica disse que resolveu denunciar o ex-amante só porque estava sendo apontada como ‘pessoa desclassificada’. Verônica afirma que é mentira. ‘Depois que ela engravidou, sumiu e só reapareceu com quatro meses. Renan assumiu a criança depois de um teste de DNA e pagou pensão, mas ela queria mais dinheiro. Ele me disse que ela estava ameaçando fazer chantagem, procurar a imprensa e contar tudo. Ela não fez nada por amor, fez por interesse. No primeiro encontro já estava gravando tudo.’
E, por fim, Mônica disse que todas as suas despesas foram pagas em dinheiro vivo pelo lobista da construtora Mendes Júnior Claudio Gontijo. Mas nesse ponto Verônica já é mais econômica: ‘Eu não sabia quanto nem como ele dava dinheiro para ela. Mas o Cláudio é só nosso amigo, eu que fiz a aproximação. Quando Renan era deputado federal, convidei Cláudio e a mulher dele na época para jantar com a gente. Com o tempo nós fomos nos aproximando.’
BOBOS E CHATAS
Na semana em que Mônica Veloso mandou seu advogado contar no Senado como Renan Calheiros lhe mandava dinheiro vivo por meio do representante de uma construtora que toca obras públicas, a primeira-dama Verônica Calheiros seguiu sua rotina de ginástica e orquidários, mas continuou a defender a tese de que seu marido ‘pode até ter sido ingênuo’, mas foi vítima de uma mulher capaz de usar o poder do útero contra a República.
‘Ele não é promíscuo, apenas errou, contou tudo a quem devia ter contado e se desculpou. Eu escolhi perdoar, mas antes disse a ele: ‘Se você estiver apaixonado por ela, eu seguro a barra, meu filho’. A princípio, sou contra separações. Mas não vou segurar um vaso todo colado porque uma hora as peças se soltam. Tenho base, tenho história política, tenho tradição de esquerda, atuei no PC do B. Casei aos 17 anos com o homem que amava e entre nós existe amor e companheirismo.’
Mas e as denúncias de que ele recebia dinheiro de lobista?
‘Não existe nada disso. Ela fez isso para me desestabilizar, desestabilizar meu casamento. Mas estou aqui, do lado dele.’’
MÍDIA & ESCÂNDALOS
A marca indelével do escândalo
‘Incredulidade. Eis o sentimento que estaria a corroer Renan Calheiros depois de o Conselho de Ética do Senado adiar, na quarta-feira, a votação do processo por quebra de decoro parlamentar de que é alvo. Renan é acusado de recorrer a um lobista da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão e aluguel à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.
Numa tentativa de contragolpe, apresentou notas de negociações com gado que mostraram sinais de frieza. A Polícia Federal entrou na jogada e não garantiu a autenticidade dos documentos. O Senado ardeu. Seu presidente continua se beliscando, dizendo-se vítima de ‘processo esquizofrênico’.
O diagnóstico da incredulidade parte do carioca Renato Lessa, 53 anos, cientista político e professor do Iuperj. ‘Os oligarcas sempre se surpreendem quando a informalidade parlamentar colide com o formalismo jurídico’, avalia. Ou seja, certos parlamentares estão tão acostumados à blindagem política que, quando a lei que eles próprios criaram impera, demoram a absorver o golpe. ‘É o momento para rever o foro privilegiado, ainda desmerecido, porém fundamental na reforma política’, resgata Lessa.
Enquanto isso, o licenciado senador Epitácio Cafeteira propôs de casa a instalação de uma CPI para aprofundar as investigações. Para Lessa, os aliados querem radicalizar o cenário lembrando que o escândalo pode alcançar outros membros do Senado se o Conselho de Ética não se apressar na absolvição. Mas já se faz tarde. Renan, pelo menos, está maculado. Nesta entrevista ao Aliás, Lessa fala do impacto dos escândalos na carapaça dos políticos, da confusão entre público e privado, de votos bizarros e outras nossas dificuldades com a vida republicana.
Quando se trata de escândalo político, por que alguns envolvidos se afogam sob as acusações enquanto outros sobrevivem a elas?
Há uma distribuição errática de punição e de perdas. É difícil atribuir isso a um único fator, precisamos avaliar caso a caso. Muitos envolvidos conseguem voltar, outros são barrados eleitoralmente, mas, de modo geral, mesmo os que retornam não o fazem na posição que ocupavam quando na crista da onda. Voltam com discrição, pelo menos por um tempo. Não observo casos de ‘retornados’ que obtiveram o prestígio e o protagonismo que tinham antes de cair em desgraça.
Mas políticos como Collor, ACM e Maluf permanecem à tona.
Compare o ACM pré e pós-painel. Compare o Maluf pré e pós-escândalo. O Maluf hoje é praticamente um anônimo, um sujeito que claramente precisa da imunidade parlamentar. Collor foi eleito pelo Estado dele, tinha recursos políticos e econômicos para isso, aproveitou-se de uma confusão política às vésperas da eleição, foi eleito legitimamente, mas hoje integra de maneira notável o baixo clero do Senado. O fundo do baixo clero. As opiniões dele não têm a menor relevância para qualquer debate que o Congresso possa vir a realizar. Os escândalos provocam um impacto no peso político dessas pessoas. Mesmo quando conseguem provas de sua inocência, como no caso de Ibsen Pinheiro e Alceni Guerra, fica uma mácula.
É o que deve ocorrer com o senador Renan Calheiros?
Renan está caindo em desgraça, mas tem uma trajetória de sobrevivência. Possuía ligações com o MDB, chegou a participar do Grupo Autêntico, porém só passa a ter protagonismo nacional quando integra o grupo que inventa a candidatura de Collor na república de Alagoas. Soube, no entanto, se afastar de Collor no momento da derrocada porque tinha um patrimônio político próprio em seu Estado. Foi o único da turma que conseguiu se descolar do escândalo e ainda ser rapidamente incorporado ao governo do FHC como parte da elite parlamentar. Entre aqueles que submergiram estão Cleto Falcão e o próprio Kandir, que depois volta deputado pelo PSDB, mas muito apagado politicamente. Renan soube sair do barco numa hora apropriada para o patrimônio político dele.
Renan disse que renúncia não faz parte do dicionário dele. Ao se apegar à presidência do Senado, não corre o risco de se afogar de vez?
Mas a presidência do Senado é tudo o que ele tem.
O bem mais valioso não seria o mandato?
A presidência é maior do que o mandato, sobretudo num Senado partidariamente fragmentado e no qual a produção da maioria depende, em grande parte, do poder de agenda do presidente. A produção não depende só dos líderes, mesmo porque eles são fraquíssimos. Imaginar que a senadora Ideli Salvatti tenha a capacidade de articular a maioria da Casa, realmente é complicado. A presidência é um papel estratégico, que rende a Renan gratidão e uma perspectiva de futuro político que não teria se fosse apenas um senador. O apego à presidência também pode vir da incredulidade com a gravidade do que vem acontecendo com ele. Ao observar o comportamento dos políticos, supomos uma racionalidade impecável, que nem sempre existe. Renan parece ouvir uma voz íntima que diz ‘Por que eu?’, se tantos fazem o mesmo ou pior. O curioso nessa suposta quebra do decoro do senador é que tudo começou com a exposição pessoal da vida dele. Renan esteve envolvido na tentativa de fazer algo parecido com Lula em 1989, mas, na época, a culpa ficou para o irmão de Collor. Agora vemos uma espécie de justiça trágica e cíclica.
Correu a versão de que emissários de Renan estariam ameaçando denunciar parlamentares ‘desertores’ que também teriam ligação com empreiteiras e relações secretas fora do casamento.
Acredito em tudo isso e até em coisas piores. Porque falamos até agora de varejo. O senador que viajou com a namorada, isso é peanuts, bobagem, besteira, punguista. O senador Renan Calheiros sabe muito mais do que isso. Ele é testemunha, desde o governo Collor, de como se montam as coalizões majoritárias no Brasil. Há coisas mais grandiosas, conversas mais pesadas. Claro que é grave o senador perder o mandato por envolvimento com lobista. Mas isso é pequeno diante de projetos estratégicos, valores que se cobram para apoiar uma política de governo, por exemplo. Renan é um arquivo vivo da República recente. Ele prestaria um grande serviço ao País se trocasse seu eventual opróbrio imediato por uma admiração de longo prazo.
A incredulidade tem a ver com o corporativismo arraigado do Senado?
A incredulidade também vem da crença de que ‘eles não vão fazer isso comigo’. São um grupo fechado, coeso, em menor número que a Câmara, pessoas que estabelecem relações afetivas e cúmplices em mandatos longos, face a face. É uma concepção da essência da política como totalmente oligárquica, personalista, uma extensão da vida privada. Ocorre que esses amigos são pouco dados à questão de natureza ética e de etiqueta que possa defendê-los. Vide o comportamento de baixíssimo nível do senador sem voto Wellington Salgado (PMDB-MG). Ao mesmo tempo, a solidariedade dos amigos não é invulnerável a eventos que acontecem na dinâmica autônoma do processo de investigação. Alguém pega uma nota fria e diz que tem que investigar. Começa uma seqüência que você não controla mais. E tem o barulho de fora. Mesmo que não seja a sociedade organizada que grite ‘queremos sangue, queremos sangue’, é o editorial, a caixa postal lotada de e-mails de protesto, uma declaração à imprensa… A solidariedade dos amigos pode se transformar na solidariedade dos muy amigos em função do cálculo de realismo político.
Algum parlamentar próximo do presidente deve esperar apoio de Lula num episódio desse tipo?
Não é bom que esperem apoio do presidente. Não seria incredulidade, mas estupidez imaginar que Lula entraria nessa.
Após a derrota no Conselho de Ética, a tropa de choque quer prolongar ao máximo o processo apostando que o escândalo será esquecido dentro de 60 ou 120 dias. Essa investigação tende a esmorecer com o tempo?
Não tenho certeza disso. Acho que pode acabar de uma maneira muito ruim para Renan, exatamente por ser ele o presidente do Senado. Não descartaria renúncia e perda de mandato. Aliás, quanto mais se estende o processo, mais se dá oportunidade para que fatores fora de seu controle apareçam. Como vai apagar dos autos aquilo? Temos uma combinação de informalidade oligárquica com formalismo jurídico. Quando os dois entram em contradição, a informalidade não é mais capaz de deter as conseqüências automáticas do formalismo jurídico. Os processos avançam.
O senador afirma ser vítima de um processo esquizofrênico. Quem parece esquizofrênica é essa combinação de informalidade oligárquica com formalismo jurídico.
Existe um hábito antigo da elite política, um hábito arraigado, que é se considerar acima das regras que ela própria fabrica. Um exemplo notável disso tem se dado nos últimos escândalos no Congresso. Ao mesmo tempo que desenvolve formas de observação, comissões de ética, mecanismos para cassação, a elite parlamentar não presume que tais regras sejam aplicadas em cada um de seus membros. Existe uma espécie de intoxicação coletiva que lhes transmite a sensação de estar acima de qualquer mecanismo de punibilidade e de investigação. Não faz muito os conselheiros do senador Renan Calheiros, entre eles o ex-presidente Sarney, diziam, entre aspas aqui, que Renan deveria jogar todo o seu peso político para resolver a parada do dia seguinte. Criam de um lado um mecanismo formal perfeito de investigação e de punição, mas sabem que, na informalidade, derrotam politicamente o que é juridicamente correto.
Mas o foro privilegiado é um mecanismo formal…
O foro privilegiado deveria ser o item número 0 de qualquer reforma política séria. Quando se discute reforma política, há uma associação direta entre ela e a legislação eleitoral. Aí vem essa feira de alternativas: lista fechada, lista aberta, distrital misto, distrital puro, distritão. Fica uma conversa próxima àquela sobre a escalação da seleção para a Copa de 2014, com todo mundo atirando numa preferência. A reforma política, num sentido mais adulto, não é a preferência estética por um modelo eleitoral alemão, belga ou dinamarquês. Abrange mecanismos que possam alterar o diabo da distribuição do poder político. E um deles, que me parece fundamental, é o foro privilegiado. O que ele faz? Cria uma espécie de blindagem jurídica em torno dos parlamentares para qualquer questão, para qualquer questão, inclusive de natureza criminal.
Desde quando existe o foro privilegiado?
É uma evolução da imunidade parlamentar, que é uma idéia razoável. Parlamentar precisa de imunidade e autonomia para proferir opiniões, para propor legislação que ache correta, a fim de que seu mandato tenha o mínimo de viabilidade. Mas, progressivamente, essas garantias acabaram incluindo dimensões que englobam a pessoa privada, detentora do mandato. Tem que haver uma distinção fundamental entre pessoa pública e pessoa privada. Frase do Renan Calheiros semanas atrás: ‘Eu nunca confundi o público com o privado’. Do jeito que a imunidade está hoje, o foro privilegiado trata de garantir proteção jurídica para qualquer tipo de questão, inclusive aquelas que afetem a pessoa privada. Qual é o problema disso? É que o Senado pode ser uma excelente alternativa para quem tem problemas com a lei. Determinada pessoa precisa se reeleger porque, caso contrário, terá de responder na Justiça em primeira instância. A supressão dessa possibilidade poderia, pelo menos, limitar o Congresso daqueles com trajetórias heterodoxas. Ou seja, a ambição de facínoras pelo poder talvez diminuísse com uma restrição dessa natureza. Isso é uma reforma política.
A confusão entre público e privado é da nossa essência?
Essa confusão é inerente à associação entre capitalismo e democracia. Não é exclusivamente nossa. Podemos ter agravantes e peculiaridades, mas o ponto é que temos vida pública e republicana associada ao legítimo ganho privado. Supor que essas duas coisas não vão se contaminar é um raciocínio absolutamente pueril. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, depois de eleito, foi comemorar a vitória no iate de um bilionário na Ilha de Malta. A relação do presidente norte-americano com os interesses petrolíferos do Texas são mais do que notórias. A questão é o que se faz politicamente com isso, qual é o grau de tolerância cívica e social. O nosso parece ser muito alto. Acho que uma das peculiaridades talvez brasileira seja uma aversão imensa, que percorre o País inteiro, à idéia de legalidade, aversão que passa por todos os extratos sociais, desde os mais pobres até as elites. É a idéia de que a legalidade, a lei e o direito são obstáculos, e que o poder social, na verdade, é dado pela capacidade de vencer esses obstáculos e até usar a lei e o direito a seu favor. Se não pago o IPVA e saio na rua com o meu carro, preciso, para isso, de uma polícia que seja comprável para que meu carro não seja apreendido. Isso cria uma atmosfera confusa porque contém, ao mesmo tempo, indignação e compreensão. Fico indignado com o Renan não porque aquilo esteja errado intrinsecamente, mas porque, se ele faz, eu também posso. É uma indignação terrível, não republicana.
Como é uma indignação republicana?
Numa indignação republicana, ninguém pode fazer isso, tem que ser preso, punido, perder o mandato, etc etc. Essa indignação republicana ainda é pequena. A nossa indignação é fundada na inveja. Além disso, se as elites fazem, por que nós aqui embaixo não podemos fazer o mesmo? Qual é o estímulo à ilegalidade que se tem se o Brasil não demarca o que é formal e o que é informal, o que é legal e o que é ilegal? Essas fronteiras são frouxas, tênues e muito interpenetradas. A observação do carnaval carioca dá uma noção de como o legal e o ilegal se misturam.
Os bicheiros tinham uma imagem de maior credibilidade do que a dos políticos.
É a idéia de confiabilidade de ganhar no que apostou. A prefeitura concede a uma entidade a organização do carnaval. Até aí o contrato pode ser legal, assinado em cartório, mas a entidade é dos bicheiros, e os bicheiros têm a ver com os traficantes, que têm a ver com não-sei-o-quê e não-sei-o-quê. Monta-se uma cadeia que começa no formal e vai até o banditismo sanguinário.
Nessa semana, durante a cerimônia de posse do professor Roberto Mangabeira Unger na Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, Mangabeira afirmou que, nas democracias, a profecia fala mais alto do que a memória. O senhor concorda com essa visão futurista da democracia?
Acho que ele disse isso para aliviar o mal-estar da cerimônia, já que foi crítico contumaz do governo Lula. Mas podemos estender essa reflexão. O que o presidente da República tem feito? Profecia. Vivemos sob a égide do presidencialismo de animação.
O que é isso?
O presidente vive dizendo falando coisas, contando piadas, sempre numa posição de interlocução com a platéia. É a idéia de que a República tem uma animação política, senão vira uma República de suecos. O papel do presidente tem sido este, falar para fora, o que o ajuda a manter, inclusive, sua incolumidade com relação às avaliações negativas para a política em geral. O quadro econômico favorece um pouco, mas contribui sobretudo esse lugar que o presidente assumiu, o de olhar para o futuro. É ele quem ocupa, nessa frase do Mangabeira, o lugar da profecia. O lugar da memória vai ser a capacidade maior ou menor da população de avaliar o trabalho do Congresso. Porque o Congresso não vem ocupando o posto de estabelecer a profecia, o projeto para o País. É o lugar que sofre a ação do presidente da República por meio de medidas provisórias, é o lugar onde acontecem os escândalos e a política se degrada. Não é o Senado que está sangrando, é uma concepção de política na qual o papel do Legislativo fica muito rebaixado.
O cidadão perdeu a fé no Estado de Direito?
Não sei se perdeu a fé, mas a percepção do cidadão sobre o que é o Estado de Direito também é muito baixa. Temos na Constituição institutos de liberdade individual do Estado de Direito que são extraordinários, dos mais desenvolvidos do mundo, mas a taxa de conhecimento e de usufruto deles por parte dos cidadãos é medíocre. Ao mesmo tempo, que tipo de experiência histórica nós tivemos? Nosso eleitorado foi configurado sem educação política, sem experiência política. Portanto, é um eleitorado que se manifesta de uma maneira muito bizarra. Não digo que as pessoas não sabem votar. Elas votam como podem.
O que o senhor entende por maneira bizarra de votar?
O Clodovil, por exemplo. Qual é o sentido de mandar Clodovil Hernandez para o Congresso? É a absoluta irrelevância do voto. Não imagino que alguém tenha a capacidade neuronal de supor que ele foi eleito para fazer alguma coisa. É fundamental distinguir as sociedades nas quais o exercício do direito ao voto é percebido como instrumento de luta política e conquista social. Temos espasmos importantes, em que a esperança se consolida. É como se alguns bastas fossem estabelecidos ao longo da história. Mas a democracia não se faz apenas a partir do fato de que todo mundo pode votar.
O governo sepultou a CPI da Navalha. De onde vem essa relação tão íntima das empreiteiras com o governo?
Não é a relação das empreiteiras com o governo, mas do poder econômico com a política, o que inclui o Legislativo e o Judiciário. É o modo como as instituições republicanas se relacionam com a vida privada, com a vida econômica. Isso no Brasil sempre foi complicado, é uma longa história. Quando falo em longa história não é para dissolver a gravidade do presente, mas para entender que existe uma inércia que reproduz isso como se fosse uma atmosfera. Quando é que se agrava? Agrava-se nos momentos em que você tem maior crescimento econômico, nos anos 50 e durante o regime militar, em que grupos econômicos, empreiteiras no caso, ligados ao esforço de crescimento acabam sendo interlocutores permanentes da elite política e financiadores de campanha. Esse é o piso a partir do qual uma série de interações e de relações acaba se desenvolvendo – prioridades, obras, configuração do orçamento. É uma caixa-preta. Conseguimos imaginar os contornos gerais, mas não sabemos as minúcias, as relações específicas que se dão dentro desses contornos. Talvez seja um dos segredos mais recônditos do coração da República.
Qual tem sido o papel da Polícia Federal nesse quadro republicano?
Na medida em que a PF tem uma denúncia de que alguém roubou alguma coisa, isso é um crime federal, ela faz o que tem de fazer. Mas parece que só a PF está cuidando dos efeitos deletérios da política. A política perdeu a capacidade de auto-regeneração. Para se auto-regenerar, teria, por exemplo, de restringir candidatos que tenham problemas com a Justiça, restringir o foro privilegiado. A política só toma medidas com relação a essas questões depois que a PF entrou. Polícia Federal e imprensa passam a ser os grandes superegos nacionais. A imprensa denuncia e a polícia investiga. Só que, dessa forma, a imprensa está deixando de propor uma reflexão mais geral sobre o País, algo de mais longo prazo, mais reflexivo. O leitor fica dependente de uma velocidade informacional exigida pelo escândalo, pelo fato notável, pelo acontecimento explosivo. As pessoas perdem o hábito de refletir.
A PF também estaria perdendo seu foco com tantos casos?
Assim como a imprensa não pode cobrir tudo, a polícia não consegue prender todo mundo. Você sempre vai ter hiatos, buracos neutros, para cada caso analisado haverá 500 não analisados. O mais grave de tudo são os operadores discretos do Congresso, que não são capturados por processos de investigação. Parecem ser impecáveis ou suficientemente atentos para não praticar quebras de decoro, mas nem por isso podem ser pensados como republicanos absolutamente puros, limpos. Esse é outro problema: o de perceber decoro ou quebra de decoro parlamentar como o indicador mais importante do desempenho parlamentar. A pior corrupção é a que não se vê porque essa é a corrupção bem-sucedida. Toda corrupção identificada é corrupção malsucedida, pois o sujeito é abatido em vôo. A corrupção bem-sucedida é aquela sobre a qual nunca vamos ouvir falar, nunca! O cara passa 80 anos incólume. Esse é o pior caso, e só a política pode lidar com isso.’
TV DIGITAL
Todo cidadão tem direito de gravar TV digital
‘No final de maio, eu e muitos brasileiros estávamos entusiasmados com a posição do ministro das Comunicações, Hélio Costa, quando ele defendia nosso direito de gravar programas de TV digital. ‘Proibir a gravação é inconstitucional’ – bradava Costa, na mesma linha dos demais ministros que compõem o Comitê de Desenvolvimento da TV Digital.
Esse comitê discordou publicamente da proposta das emissoras de TV de instalar bloqueadores nos aparelhos de TV digital para impedir a cópia de filmes, jogos de futebol e novelas. E pediu aos membros da Câmara do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) para que não especificassem nenhuma tecnologia capaz de inibir ou bloquear a possibilidade de gravação de programas digitais pelos telespectadores em suas residências.
Como cidadão e telespectador, minha concordância com o ministro durou, pois Hélio Costa mudou de posição, após almoçar na terça-feira com diretores de emissoras de TV, em sua residência, em Brasília.
‘Nós éramos contra porque achávamos que (bloquear gravação) era inconstitucional, mas se tiver uma cláusula que supere isso, tudo bem’ – explica Hélio Costa. Presente ao mesmo almoço, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, esclareceu, em nota oficial, no dia seguinte, que nada foi decidido pelo governo.
Esclareçamos a questão: gravar programas de TV, analógica ou digital, é um direito do cidadão, nos Estados Unidos, na Europa e na maioria dos países democráticos e desenvolvidos. Até recentemente, o telespectador brasileiro gravava livremente em videocassete seus programas favoritos, para vê-los ou revê-los mais tarde. Agora grava em DVD ou em discos rígidos. O mesmo critério deve prevalecer para a TV digital. Como assinante de TV via satélite Sky, gravo tudo, digitalmente, num Personal Video Recorder (PVR), com disco rígido de 160 gigabytes.
CUSTO DO CONVERSOR
Um dos argumentos utilizados pelo ministro das Comunicações é o da redução de custos do licenciamento de conteúdos e do próprio conversor. Como disse em entrevista na quarta-feira, a liberdade de gravar encarece os custos de licenciamento de filmes, programas, grandes coberturas esportivas ou novelas. Num receptor de TV digital, é usado um cabo de conexão, chamado High Definition Multimedia Interface (HDMI), para liberar o sinal para gravação. Para bloquear, usa-se outro dispositivo que inibe a capacidade de gravar, o High-Bandwidth Digital Content Protection (HDCP).
Supondo-se um total de 100 mil receptores digitais, o custo da licença, sem restrição para gravar, é hoje de US$ 0,31, por dispositivo.
Com restrição ou bloqueio de gravação, o custo cai para US$ 0,15. Confira esses valores no site HDMI ou no site Digital CP.
Talvez sem compreender bem esse mecanismo, o ministro das Comunicações afirmou quarta-feira passada que, se o Brasil inibir o direito de gravar, o custo dos conversores cairá 30%. Isso não é verdade, dizem os especialistas.
QUE É PIRATARIA?
Copiar programas em casa para vê-los mais tarde é um benefício que a TV digital proporciona a milhões de pessoas no mundo civilizado. Pirataria é outra coisa.
Os verdadeiros piratas têm quebrado praticamente qualquer código de proteção para fazer milhares de cópias.
O crime não está em fazer uma cópia de um programa de TV digital para uso pessoal e doméstico, mas em multiplicar essas cópias para revendê-las, sem remunerar os detentores de seus direitos. É essa pirataria que deve ser combatida.
O risco maior é o governo, com seu imediatismo, optar pelo caminho menos inteligente, constrangendo milhões, a título de combater a fraude.
Isso equivaleria a punir 99,999% da população, a pretexto de se evitar a pirataria, praticada por apenas 0,001% das pessoas. E vale repetir: os delinqüentes quebram quaisquer bloqueios.
Como sabemos, o Brasil é um dos campeões mundiais de pirataria, seja de conteúdos de CDs, de softwares ou de DVDs. A impunidade é total. Os produtos pirateados são vendidos ostensivamente, a qualquer hora do dia nas ruas de São Paulo, do Rio e de outras cidades. Isso, sim, precisa mudar.
COMBATE AO CRIME
Existem, pelo menos, três caminhos para se combater a pirataria. O primeiro e mais eficaz deles é a educação, embora só tenha seus melhores efeitos em longo prazo. Pais e professores deveriam ensinar as crianças a respeitarem a propriedade intelectual e os direitos autorais.
O segundo caminho é o uso de tecnologias avançadas para a detecção da fraude. O terceiro é uma legislação implacável com os fraudadores – mas que seja, efetivamente, aplicada e aplicável.
Nossa esperança é que o Comitê de Desenvolvimento da TV Digital, formado por dez ministros defenda a sociedade e os direitos do cidadão, nesta semana, e libere a gravação de todos os programas.’
TELEVISÃO
Vem aí mais um ‘Quem matou?’
‘Nas novelas dele, os bons são bons, os maus são muito maus e, apesar das surpresas, uma morte misteriosa sempre pegará a audiência pelo pé. Mestre em transformar parte de suas novelas em ‘whodunit’ (enredo policial em que todo mundo quer saber quem é o assassino) Gilberto Braga confirma a fama de serial killer das 8, assassinando mais um personagem, desta vez, em Paraíso Tropical.
Depois de matar Odete Roitman (Beatriz Segal) em Vale Tudo e Lineu Vasconcelos (Hugo Carvana) em Celebridade, entre outros, o autor planeja com requinte o fim de sua próxima vítima.
‘Haverá um assassinato misterioso, sim. Mas ainda não posso dizer quem é’, revelou Braga ao Estado.
‘Na sinopse, nós apontamos essa possibilidade do ‘quem matou?’. Ao longo da novela ficamos na dúvida porque pintaram duas possibilidades de trajetória para o personagem que será assassinado’, complementa o co-autor de Paraíso, Ricardo Linhares. ‘Agora, resolvemos executar a idéia inicial. Mas o assassinato é para os últimos 30 capítulos’, continua. ‘Quem morrerá será um dos principais personagens da novela e só existe um candidato. A brincadeira agora é ‘quem vai morrer?’.
Brincadeira essa que o Estado resolveu comprar e lançar em forma de bolão entre atores do elenco e também entre os leitores, via portal do jornal (veja boxes ao lado).
Apostas à parte, o fato é que um assassinato a essa altura da novela só fará bombar ainda mais a audiência de Paraíso, que progrediu quase 10 pontos nas últimas 10 semanas.
Para deixar todo mundo se perguntando ‘Quem Matou?’, Gilberto Braga deve seguir a fórmula simples: diálogo curto entre o candidato a morto e o assassino, close nos tiros, uma série de pistas falsas espalhadas pela novela e uma verdade convincente só revelada no finzinho do folhetim.
Como dizia a rainha da teledramaturgia Janete Clair, ‘Braga é melhor porque segue as regras do jogo’.’
Cristina Padiglione
Cotações perigosas
‘Criador do assassino em série que permitiu dois desfechos – vide A Próxima Vítima – e do ‘quem matou’ mais recente da Globo (por onde andaria Bia Falcão?), Silvio de Abreu aposta na morte do empresário rico do folhetim – ou não foram esses que Gilberto Braga matou em Celebridade e Vale Tudo?
‘Vou apostar que quem morre é Antenor Cavalcanti, Tony Ramos, porque é quem tem dinheiro e a morte dele beneficiaria e mudaria a vida de muitos personagens’, fala Silvio. ‘Agora, quem matou seria muito óbvio ser o Olavo, não é?’, indica Silvio. ‘Vou ficar com a Virgínia Batista, afinal, se ele morrer, o maior beneficiado será o pai dele, marido dela, e Virgínia é simpática, ninguém desconfia dela…’
BRINCANDO DE SER O AUTOR
A platéia também aposta na morte de Antenor. O Estado promoveu uma consulta pública por meio de seu portal e chegou ao personagem de Tony Ramos como o mais votado, com mais de 50% dos palpites, seguido por Olavo e Thaís. O mesmo Olavo é o mais cotado para matar, seguido, veja só, pelo mocinho Daniel e pela gêmea má, Thaís.’
Etienne Jacintho e Keila Jimenez
Nossa tese
‘Ninguém perguntou, mas nós também temos o nosso palpite. Belisário (Hugo Carvana) seria uma ótima vítima, uma vez que é o beneficiário do testamento de seu filho, Antenor Cavalcante ( Tony Ramos).Os candidatos a assassino seriam o próprio empresário, que notoriamente odeia o pai e a idéia de deixar para ele sua fortuna; Olavo (Wagner Moura) e seus cupinxas como Jáder (Chico Diaz), também interessado na herança; ou Virgínia (Yoná Magalhães) e/ou sua sobrinha, Gilda (Luli Miller), cansadas das armações do velho jogador. Em uma visão clássica, Antenor também tem grandes chances de morrer, uma vez que, como Odete Roitman de ‘Vale Tudo’ e ‘Lineu Vasconcelos ‘Celebridade’, é o empresário rico da história e tem envolvimento com quase todos os personagens da trama. As apostas estão lançadas – aliás, como tanto aprecia Belisári’
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Braga, o serial killer
‘Em 1989, o Brasil parou para descobrir quem matou a odiada Odete Roitman (Beatriz Segal) em Vale Tudo. Mistério resolvido: foi Leila (Cássia Kiss), que a mata por engano.
Há 3 anos foi a vez de a bolsa de apostas tentar descobrir quem matou Lineu Vasconcelos (Hugo Carvana) em Celebridade. Laura (Cláudia Abreu), a ‘cachorra’, era a assassina.
Precursora do ‘Quem Matou?’, Janete Clair assassinou Salomão Hayala (Dionísio Azevedo) em O Astro (1977). O assassino foi Felipe (Edwin Luisi). Será que ele entrou em Paraíso também para matar?
A Próxima Vítima (1995), de Silvio de Abreu, era centrada na investigação de 10 assassinatos em série. O autor: Adalberto (Cecil Thiré). Na reprise e no exterior, havia ainda a versão com Ulysses (Otávio Augusto) como serial killer.’
Bruna Fioreti
O detetive que se acha. E é
‘Nas ruas do Rio, Marcos Palmeira é, de novo, Mandrake, personagem-título da série da HBO em parceria com a Conspiração Filmes. A boa aceitação do advogado- criminalista-mulherengo criado por Rubem Fonseca trouxe a equipe de volta às gravações para mais cinco capítulos da primeira temporada. A maratona – em parte testemunhada pelo Estado – terminou em 17 de junho, mas Mandrake só deve ser exibida no segundo semestre. Para isso, Palmeira se manteve de stand by por dois anos. ‘Foi um acordo de cavalheiros e eu queria continuar.’
A série volta mais light: o foco passa para os diálogos inteligentes e cínicos, segundo o diretor José Henrique Fonseca, herdeiro do autor original. Violência e sexo estão mais sutis.
Muda também a forma de dirigir. Fonseca, em parceria com André Barros, agora está à frente de todos os capítulos. Antes cada episódio era tratado comum um filme diferente. ‘Usamos a mesma tinta da outra vez, mas pensamos a série como um todo’, diz Fonseca.
Bom para os atores. A empolgação passa para o elenco rotativo de Mandrake. Mônica Martelli, convidada que faz o papel principal do episódio 12, ficou à vontade no set para criar a espontânea Ligia, ‘um Mandrake de saias’, na visão da atriz. Mais um caso para o advogado resolver e, claro, se possível, levar a mocinha como troféu.’
Julia Contier
Faltam 4 dias para encontrar um sócio
‘Mariana Junqueira Reis e Tiago de Aguiar Pereira disputam R$ 1 milhão na final do programa Aprendiz 4 O Sócio, nesta quinta-feira. O vencedor será sócio de Roberto Justus em uma empresa em que o apresentador fica como majoritário, 51%, e o parceiro fica com 49%.
A boa audiência do programa, fez com que a emissora já começasse a pensar na próxima edição, Aprendiz 5 O Sócio, prevista para 2008. A Record promete seguir o mesmo formato de sociedade do atual, com algumas novidades ainda não divulgadas pela emissora.
A grande participação do público já era sentida antes mesmo de o programa estrear. O site da Record recebeu quase 30 mil inscrições de propostas de sociedade.
Depois de passarem por diversas provas e 14 episódios,os finalistas aguardam, junto com o público, os dois últimos episódios exibidos nesta terça e quinta-feira, a partir das 22h30.’
Mário Viana
Vilão de fato é aquele bom de se odiar
‘Novelista é que nem turista japonês: vem de bando. Quando anunciam uma novela do Aguinaldo Silva, a gente já pode contar com sete meses de Arlete Salles, Suzana Vieira e José Wilker dentro de casa. Se a novela é do Manoel Carlos, abra lugar no sofá para a Helena Ranaldi e para o José Mayer. Ah, deixe a poltrona pra Regina Duarte.
Com as duas obras que atualmente ocupam o horário nobre da Globo acontece a mesma coisa. Mesmo que Gilberto Braga, dessa vez, não tenha conseguido Malu Mader, sua musa de sempre, estão lá em Paraíso Tropical, Glória Pires, Isabela Garcia, Vera Holtz, Fábio Assunção e Hugo Carvana. Nova na turma, Camila Pitanga deve ter garantido um lugar nas próximas do Braga.
Novidade no horário das 7, Walcyr Carrasco abandona os carros fon-fon e as melindrosas para retratar uma São Paulo bem moderninha na recém-estreada Sete Pecados. Para tentar abraçar o sucesso, Carrasco chamou seus talismãs: a belíssima Priscila Fantin, a desenfreada Elisabeth Savalla e os paus-pra-toda-obra Ary França, Ary Fontoura, Suely Franco e Nicette Bruno. Como numa tática de guerrilha, estão todos espalhados nos diversos núcleos, para reforçar a voz do autor em cena.
Não é por mero espírito corporativo que autores buscam se cercar dos seus preferidos. É certamente a vontade de ter seu texto bem representado diante de milhões de telespectadores. Para Walcyr, não resta dúvida que é mais fácil escrever a hilária Rebeca quando sabe que pode contar com o despudorado exagero de Elisabeth Savalla. Para os atores, é um sossego trabalhar com um autor que escreve ‘para a sua boca’ – uma maneira de dizer que o texto foi escrito especialmente para aquela pessoa.
Está certo que isso não garante sucesso. Carlos Lombardi juntou a patota toda, de Marcos Pasquim a Beth Lago, e não conseguiu deslanchar Pé na Jaca, que nem era fraca. Mas Walcyr, pelo jeito, promete. Ok, é duro acreditar que a mimada Beatriz (Priscila Fantin) só ficou rica por causa da herança do pai – um arqueólogo, profissional que, raramente, jamais chegaria à presidência da Fiesp. Mas tudo é fantasia – ainda bem.’
Shaonny Takaiama
‘Não há por que eu ser julgada’
‘Dos modestos 3 pontos de ibope alcançados naquela estréia de SBT Brasil ao lado de Carlos Nascimento, Cynthia Benini viu sua audiência se multiplicar. Hoje, o noticiário desfruta pelo menos do dobro dessa platéia. Dito isso, fica fácil explicar por que ela não tem de provar nada a ninguém. Deixou para trás o rótulo de modelo-e-atriz e as cobranças por um tal jornal das pernas.
Como é dividir a bancada do SBT Brasil com Carlos Nascimento?
É maravilhoso. Eu estava querendo voltar ao jornalismo, aí surgiu essa oportunidade e eu agarrei com unhas e dentes. Eu tenho tido uma troca profissional superimportante. Não poderia estar dividindo a bancada com uma pessoa melhor.
Como você encarou as críticas no início do SBT Brasil, de que não teria formação jornalística para apresentar o telejornal ?
Acho que é falta de informação das pessoas porque eu estou dentro do meu direito de exercer o ofício de jornalista, que é a minha formação (Ela se formou em 1998 pela Fiam). Eu já trabalhei em vários outros canais como jornalista, na SporTV, na Superstation, TV Escola, Entertainment Television, já tive uma revista e também já desenvolvi conteúdo para internet.
Acha que as críticas podem estar relacionadas ao SBT Notícias Breves, que foi rotulado de jornal das pernas?
Sem dúvida. Na verdade não era todo dia que a gente aparecia de minissaia, era só algumas vezes, mas como a bancada era vazada, a gente ficava com as pernas à mostra, então acabou com essa conotação pejorativa. Mas isso nunca diminuiu o nosso trabalho porque a gente nunca deixou de dar uma notícia importante. O único problema é que a estética ficou mais marcada do que a informação. E aí as pessoas se basearam nisso para julgar o meu trabalho como jornalista. Eu já viajei o mundo e tenho bagagem suficiente para poder falar e escrever sobre qualquer assunto. Não há por que eu ser julgada dessa maneira.
Você acha válida a comparação que fizeram entre você e Sandra Annenberg por vocês duas terem sido atrizes ?
A Sandra tem uma experiência muito maior que a minha porque ela já está há mais tempo ancorando um jornal. E isso (o passado de atriz) não diminui ninguém, acho que dá uma bagagem para qualquer jornalista de poder sentar numa bancada, olhar para uma câmera e ter um trabalho de interpretação para poder passar para o público de uma maneira muito mais tranqüila.’
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