LUTO
Morre jornalista e ex-senador Artur da Távola
‘O jornalista, escritor e político Artur da Távola morreu ontem à tarde, em casa, no Leblon, na zona sul do Rio. Ele tinha 72 anos e sofria de insuficiência cardíaca grave. Não resistiu ao terceiro enfarte – sofreu o último cinco anos atrás.
Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro Barros, como o jornalista foi registrado, morreu dormindo. Seu corpo foi encontrado pelo filho caçula, o ator André Barros, de 42 anos, por volta do meio-dia. ‘Eu estava vindo para cá, para a gente almoçar. Quando cheguei ele estava dormindo e percebi o que tinha acontecido’, disse André. ‘Ele estava bem. A morte de meu pai pegou todo mundo de surpresa’, completou.
A saúde do jornalista vinha se deteriorando desde o último enfarte. Em setembro do ano passado, foi submetido a uma cirurgia para colocação de um desfibrilador – aparelho que reanima o coração quando os batimentos baixam. Após a cirurgia, teve uma infecção e passou 100 dias internado. Recebeu alta em 24 de dezembro.
Quando seu estado de saúde se agravou, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), de quem era muito amigo, chegou a sugerir sua transferência para a capital paulista, a fim de que fizesse transplante de coração. Mas os médicos não recomendaram.
Nos últimos tempos, vinha retomando suas atividades. Ia à Rádio Roquette Pinto, da qual era diretor, pelo menos uma vez por semana. Os filhos André e Leonardo – Távola também era pai de Eduardo – contaram que ele acompanhava a programação de casa.
A família decidiu realizar o velório em casa, durante a madrugada. Hoje, o corpo seguirá para a Assembléia Legislativa, onde será velado, e o enterro está previsto para as 16 horas, no Cemitério São João Batista.’
‘Era um homem público diferenciado’
‘O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), disse ontem que Artur da Távola foi uma referência para sua geração. ‘Ele foi dos grandes homens públicos de seu tempo, uma grande referência para a minha geração’, declarou Aécio.
‘Fui seu colega na Constituinte e ele era dos formuladores políticos mais consistentes. Fica uma lacuna muito grande, mas ficam, sobretudo, seus exemplos, a capacidade que ele teve de conciliar uma militância muito efetiva com densa e profunda atividade cultural. Era um homem público diferenciado’, disse o governador.
O cineasta Zelito Viana disse que o amigo estava abatido pela doença nos últimos tempos. Locomovia-se de cadeira de rodas e havia diminuído o ritmo de trabalho. Viana revelou uma faceta pouco conhecida de Távola: cineasta. Chegou a dirigir um curta estrelado por Leila Diniz e musicado por Paulo Coelho. Também produziu filmes.
‘Foi uma das pessoas mais brilhantes que conheci. Transformou uma emissora pública (Rádio Roquette Pinto) em perfeitamente audível’, afirmou o jornalista Sérgio Cabral.’
Escritor ajudou a fundar PSDB
‘O ex-senador e jornalista Artur da Távola, pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros, foi um dos fundadores do PSDB. Também atuou como jornalista, colunista e escritor. Exerceu o primeiro mandato, de deputado constituinte do então recém-criado Estado da Guanabara, em 1960. Foi deputado federal, de 1987 a 1995, e senador, de 1995 até 2003.
Cassado pelo regime militar, exilou-se na Bolívia e no Chile. Em 1968, passou a escrever uma coluna sobre TV no jornal Última Hora, do Rio. Nos anos 70, a coluna começou a ser publicada no jornal O Globo.
Na Câmara Federal, seu trabalho como deputado constituinte foi marcado pela defesa de alterações nas concessões de emissoras de TV que permitissem a criação de canais vinculados à sociedade civil. Nesse período, foi um dos dissidentes que saíram do PMDB e fundaram o PSDB. Em 2001, ocupou o cargo de secretário da Cultura do Município do Rio, por nove meses. Em 1988, concorreu à Prefeitura do Rio de Janeiro. Era um político discreto e conciliador.
Publicou 23 livros, entre crônicas e contos, e apresentou programas de rádio dedicados a música clássica e brasileira. Atualmente dirigia a Rádio Roquette Pinto FM.’
TELES
Gerusa Marques
‘BrT e Oi corriam o risco de sumir’
‘O conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Pedro Jaime Ziller, relator do processo de mudanças das regras na telefonia fixa que permitirão a conclusão da compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi, avalia que essa operação não trará concentração de mercado. Em fase de conclusão de seu relatório, Ziller disse que o novo Plano Geral de Outorgas (PGO), decreto presidencial que define as áreas de atuação das empresas, será um instrumento simples e objetivo, com foco no usuário e voltado para garantir a competição dos serviços. O conselheiro deixou claro que o PGO valerá para todas as empresas e que medidas compensatórias para permitir a conclusão da compra da BrT devem ser exigidas somente no processo de anuência prévia, quando a Anatel avalia o negócio sob o ponto de vista regulatório. Ziller faz parte do conselho diretor da Anatel desde 2003 e foi presidente da agência de janeiro de 2004 a janeiro de 2005. A seguir, os principais trechos da entrevista:
O momento é adequado para fazer mudanças de regras?
Desde 1997, quando foi feita a Lei Geral de Telecomunicações, muita coisa mudou. A legislação não comporta mais a realidade. Então, temos de ajustar as regras para garantir a competição, a entrada de novos competidores e proteger o usuário.
O que fica mais evidente é que as mudanças virão para permitir a fusão entre Oi e BrT. Como ficam as outras empresas?
Concordo que a compra da BrT é um dos catalisadores dessa mudança. Mas estão ocorrendo outros negócios, como a compra da Telemig Celular pela Vivo. Então, temos de atuar, independentemente da Oi. Vamos mexer no PGO para possibilitar mais transparência das empresas e permitir que uma empresa compre outra. Essa análise tem duas etapas: a da reformulação do PGO e a da anuência prévia para a compra. Quando vier o pedido de audiência prévia para a Oi consolidar o processo, nós vamos estabelecer condicionamentos para essa empresa.
Então essas exigências não virão no PGO?
Não tenho intenção de colocar isso no PGO. O PGO tem de valer para todo mundo, não pode valer só para uma empresa, isso é casuístico.
O seu relatório sobre o novo PGO vai entrar na pauta de votação do conselho diretor, na próxima quarta-feira, como espera o mercado?
Nesse momento, não pretendo levar. Vou levar o mais cedo possível, mas não será dia 14. Será dia 21 ou dia 28. A proposta tem de ser algo bastante consistente, que dê segurança jurídica ao conselho.
Qual é o objetivo principal da mudança de regras?
A Anatel representa o poder difuso do consumidor. Ela tem de garantir isso e também tem obrigação de garantir o equilíbrio econômico-financeiro do contrato. O usuário dos serviços de telecomunicações deve sempre levar parte das vantagens de uma consolidação.
O senhor pretende fazer um PGO mais detalhado?
Pelo contrário, pretendo manter o PGO simples e objetivo. Vamos mexer no PGO para atender ao mercado, tanto do ponto de vista do usuário quanto do ponto de vista do investidor, porque esse investidor quer escala, quer condições. Não pretendemos mexer em áreas. Se fosse para favorecer só uma empresa, mexeria nas áreas. O que será permitido é que um controlador possa ter mais de uma área.
Essa permissão não poderia gerar um risco de monopólio?
Não acho que seja tão fácil consolidar o Brasil em uma só empresa, pelos atores que estão aí, como a Telefônica e a Telmex. Acho que três é um número que está sempre estável. Você tem o bloco da comunidade européia, representado pela Telefônica. No bloco americano, a empresa que veio para a América do Sul foi a Telmex. Para virar uma empresa só, o mundo teria de estar todo consolidado.
Um desses grupos não poderia comprar essa nova empresa fruto da fusão?
Novamente, não me parece tão fácil assim. Na política atual, o Brasil quer fazer uma empresa nacional forte. Estamos vendo o esforço do BNDES e dos fundos de pensão. Isso está associado a outras coisas que estão acontecendo. O Brasil ganhou o investment grade e está deixando de ser um país em desenvolvimento para ser um desenvolvido, que precisa ter seus próprios negócios, e telefonia é estratégico.
O PGO vai impor condições para que a empresa não seja vendida?
Isso aí não é coisa do PGO, ele é genérico. Salvaguardas podem vir em um acordo de acionistas. E isso é comum. Ter um acordo de acionistas no qual um dos integrantes é o BNDES, que é um órgão de governo, é a mesma coisa de ter uma golden share.
O PGO pode fixar porcentuais máximos de participação de mercado?
Não vou entrar nesse mérito. Quem vai julgar se uma concentração é boa ou ruim é o Cade. Mas não sou favorável ao monopólio de jeito nenhum, principalmente no uso da rede.
Aí entra a questão da abertura das redes das concessionárias?
Para separar rede de serviço, tem de mexer na lei ou as empresas, por livre iniciativa, fazem a separação. Não pode ser uma exigência no PGO, mas pode fazer parte de uma negociação na anuência prévia.
Que limites o PGO poderia definir para as fusões?
É essa a resposta que estou procurando, dentro da linha de defesa do usuário, de defesa da competição e de garantir a universalização. Não é simples, estamos começando um novo rumo, que vai ter conseqüências.
Come é que os ganhos de escala com a fusão podem ser revertidos para baixar tarifa?
A lei já prevê. Todos os ganhos extras têm de ser compartilhados com os usuários. Eu acredito em queda de tarifas, porque melhora a situação da empresa para competir com outras.
Outros tipos de exigência, como levar banda larga às escolas rurais, podem estar nas negociações?
No PGO, não. Mas na anuência prévia tudo pode estar em negociação. A Anatel pode tomar decisões em prol da competição e pode impor condições.
Quando a Anatel encaminha o PGO ao governo?
Até o fim de maio colocamos em consulta pública, até o fim de junho fica em consulta, e até fim de agosto estaremos com o PGO aprovado.
Qual é a sua opinião sobre a fusão em si?
Eu sou favorável. A BrT e a Oi, do jeito que estavam, corriam o risco de sumir, era questão de tempo. As duas juntas valem R$ 20 bilhões, enquanto a Telefônica vale R$ 150 bilhões. Como é que uma empresa de R$ 7 bilhões vai enfrentar uma de R$ 150 bilhões? Uma empresa que tem abrangência nacional tem mais facilidade de competir, de baixar custos e baixar o preço dos serviços.
E no mercado brasileiro, como vai ser a distribuição?
As três empresas (Oi/BrT, Telefônica e Telmex) serão equivalentes. A Telefônica, por exemplo, cobre só o Estado de São Paulo, onde se concentra 35% do PIB. A outra (Oi/BrT) vai cobrir o resto, que é uma área enorme geograficamente, mais difícil de garantir a cobertura.
O senhor está dizendo, então, que não haverá concentração?
Os números realmente não dão concentração. Na telefonia fixa, Oi e Brasil Telecom têm maioria em suas próprias áreas. Mas uma não está na área da outra, elas atuam em áreas diferentes. Na telefonia móvel, Oi e BrT, juntas, terão 17% do mercado nacional, abaixo do que detêm atualmente a Vivo, a Claro e a TIM. Na corporativa haverá um pouco mais de concentração, mas também há muita concorrência, já que a Embratel é forte nesse mercado.’
ANTITRUSTE
Microsoft recorre de multa da UE
‘A Microsoft recorreu ontem contra a multa de 899 milhões imposta pela União Européia, depois que a empresa deixou de cumprir determinações antitruste anteriores. A multa foi imposta em fevereiro por causa da lentidão da Microsoft em tornar os seus sistemas operacionais mais acessíveis aos concorrentes. Em particular, a Microsoft foi acusada de usar sua influência sobre os sistemas operacionais dos PCs para afastar a concorrência nos mercados mais competitivos de ‘media players’.’
TELEVISÃO
Salto de qualidade abre segunda fase de Direções
‘História singela – uma menina do interior persegue o sonho de casar vestida de noiva – tratada com profundidade e delicadeza, com boas atuações e ângulos de câmera bem sacados. As muitas tomadas externas resultam em imagens não só bonitas como dramaticamente densas e expressivas. O teleteatro A Noiva, que vai o ar amanhã, às 23 horas, na TV Cultura, poderia ser exibido em qualquer rede de televisão nacional, em horário nobre, e tem potencial para agradar ao grande público. Mas só poderia ter sido criado na TV Cultura e por um motivo simples: é fruto de um projeto de risco – a série de teledramaturgia Direções, realizada em parceria com a TV Sesc.
Houvesse a obrigação de acertar – criar um produto ‘de olho’ no ibope – e não teria ido ao ar a primeira fase da série, que reuniu, ano passado, 16 diretores teatrais da cidade. Eles criaram ficções de meia hora, exibidas com um making of, agora retirado, para aumentar a duração das histórias. Não houvesse a liberdade de experimentar, não se veria o evidente salto de qualidade no trabalho de Rodolfo García Vázquez, diretor do grupo Os Satyros, responsável pela criação de A Noiva, que tem texto de Ivam Cabral.
Vázquez havia participado da primeira fase com O Vento nas Janelas, que tinha a qualidade esperada por quem acompanha o trabalho da companhia. Desta vez, surpreende, a equipe se supera. Atriz dos Satyros, Cléo de Páris é a protagonista, ‘a noiva’, e tem atuação introjetada, plenamente adequada à linguagem da televisão, em contracena com o experiente ator Gero Camilo. Norival Rizzo e Bárbara Bruno estão entre os atores ‘convidados’ que se unem a outros do grupo, como Silvanah Santos.
Fruto da parceria entre a Fundação Padre Anchieta e o Sesc São Paulo, Direções confirma a importância das TVs públicas não voltadas para o mercado. Na primeira fase, como seria de se esperar, o resultado apresentou altos e baixos. Em entrevistas ao Estado, a maioria dos criadores externou o desejo de, terminada a experiência, reiniciá-la imediatamente, para aprimorá-la a partir da instrumentalização adquirida.
Mais uma vez, Os Satyros abrem a segunda fase da série, da qual participam oito diretores selecionados da primeira. São eles: André Garolli, A Longa Viagem; Bete Dorgam, Uma Escada para a Lua; Débora Dubois, O Homem do Saco; Eduardo Tolentino, O Telescópio; Georgette Fadel, Vou-me; Maucir Campanholi, Crepúsculo, e Samir Yazbeck, O Fingidor.
Talvez nem todos alcancem o salto de qualidade de A Noiva. Não importa. Segundo Paulo Markun, presidente da Fundação Paulo Anchieta, o projeto ‘se inspira no bom teatro, capaz de inovar, pesquisar e romper padrões’. Ruptura é é algo que surge de tempo em tempos e pede bases sólidas – adquiridas com aprimoramento constante. Só assim brota a renovação. Tomara que Direções não perca de vista seus objetivos iniciais, a liberdade de experimentar.’
Keila Jimenez
Pânico em crise
‘Piadas velhas, excessos, audiência estagnada, perda de integrantes… Uma das atrações mais ousadas de sua geração, o Pânico na TV!, pode estar passando por uma crise.
O programa da RedeTV!, que chegou a atingir média de audiência na casa dos 9 pontos no ano passado, hoje não passa dos 6 pontos no horário. Um dos indícios da má performance é a saída do diretor Ricardo Barros na semana passada. Há anos no comando da atração, Barros – que diz ter saído em paz com os humoristas – deixou o programa sem maiores explicações. Quem assumiu a vaga foi o produtor Alan Rapp.
Outras perdas que o Pânico não conseguiu superar até agora foram as saídas de Vinícius Vieira e Carlos Alberto Silva (Gluglu e Netinho respectivamente). O programa está tentando descobrir novos talentos – contrataram até um morador de rua – mas ainda não preencheu o espaço deixado pela dupla, que foi para a Record em dezembro.
Sem grandes novidades, o Pânico voltou a apostar na Dança do Siri, aumentou a participação das seminuas Panicats em gincanas bizarras, mas promete reformulações para junho. Agora é esperar.’
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