MORDAÇA
Censura à imprensa fere Carta de 1988
‘‘A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.’ É o que está no Artigo 220. Vinte anos depois do surgimento daquela que iria reger todas as demais leis do País, a liberdade de expressão se vê ameaçada por decisões judiciais que impedem a publicação de reportagens ou pune empresas jornalísticas.
De dezembro do ano passado para cá, ao menos cinco reportagens foram proibidas de serem publicadas pela Justiça, em primeira instância. O jornal Folha de S. Paulo e a revista Veja foram condenados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por publicar reportagens com candidatos à Prefeitura de São Paulo. Na quinta-feira, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) derrubou as decisões.
No caso de censura prévia mais recente, o Grupo Estado foi calado na semana passada pelo juiz substituto Ricardo Rezende Silveira, da 10ª Vara de Justiça Federal, a pedido do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). ‘É pior que retrocesso, é um avanço indevido do Judiciário em áreas onde não deveria interferir’, diz o ex-governador Cláudio Lembo, professor da Universidade Mackenzie.
DITADURA
As últimas decisões são encaradas como precedentes perigosos, que podem colocar à prova a liberdade de imprensa e o direito à informação, garantidos pela Constituição Brasileira de 1988. ‘A defesa da liberdade de imprensa deve ser preocupação de todo o povo brasileiro, particularmente dos que tiveram, como eu, a responsabilidade de escrever a Carta Magna’, afirma o deputado Mauro Benevides (PMDB-CE), vice-presidente da Assembléia Constituinte, que teve Ulysses Guimarães na presidência.
Anos antes da promulgação da lei maior, o deputado José Genoino (PT-SP) viveu na pele o rigor da ditadura militar, que proibia com truculência, por meio do Ato Institucional nº 5, direitos básicos, como a livre expressão e o pensamento crítico. Quarenta anos depois da criação do AI-5, Genoino teme que o Judiciário leve o País a um retrocesso. ‘Essas decisões são abertamente inconstitucionais. É censura prévia.’
Ele próprio, alvo de uma série de denúncias publicadas pela imprensa em 2005, diz que impedir a publicação de reportagens é uma afronta ao direito constitucional. ‘A matéria não pode ter juízo prévio. Se ela está equivocada, a empresa ou o jornalista respondem depois da publicação.’
Em 1968, ano em que o AI-5 foi instituído, reportagens censuradas eram substituídas por receitas de bolo ou versos de Camões. Mas o ‘inimigo’ era conhecido. O ato institucional caiu em 1978, quando o País já se preparava para a abertura à democracia.
Hoje, para o constitucionalista Celso Botelho de Moraes, as decisões judiciais são um espelho do próprio governo. ‘Acho que se esse tipo de decisão virar costume, a imprensa vai ficar amarrada.’
E, para o advogado Everson Tabaruela, presidente da Comissão de Direito Político e Eleitoral da OAB São Paulo, a discussão vai além: ‘Não é só liberdade de imprensa, é o direito do cidadão à informação que está sendo tirado.’’
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Ajufe vê exagero nas críticas
‘A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) acredita que o juiz federal substituto Ricardo Rezende Silveira, de certa forma, também virou alvo de censura, por causa das ‘críticas pesadas’ que vem recebendo desde a proibição da publicação de uma reportagem sobre o Cremesp.
‘A decisão do juiz está dentro do exercício que a Constituição garante. Se ela não satisfaz, as partes têm o direito de recorrer’, disse o vice-presidente da Ajufe da 3ª Região, Nino Toldo. Para ele, as entidades de classe exageraram. ‘A Ajufe se posiciona contrária às críticas excessivas em relação à pessoa do magistrado.’
Toldo, que evitou falar especificamente sobre a ordem contrária à publicação da reportagem, disse apenas que a decisão de Silveira não foi censura prévia, mas uma medida para que Cremesp e Grupo Estado fornecessem mais explicações. ‘Uma pessoa que tem sua imagem manchada, se recorrer, até sair a indenização, já maculou.’’
Fausto Macedo
Para Ayres Britto, TRE anulará multas
‘A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de alterar resolução da corte, permitindo aos veículos de comunicação que entrevistem candidatos ainda na fase pré-eleição, já terá reflexo nas recentes ações judiciais contra jornais e revistas punidos com multa – casos da Folha de São Paulo e da Editora Abril, multados pela publicação de reportagens com Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (DEM), rivais na disputa pela Prefeitura de São Paulo. ‘Certamente os Tribunais Regionais Eleitorais decidirão levando em conta essa interpretação que fizemos, segundo a qual entrevista com candidato não é propaganda eleitoral, muito menos antecipada, é transmissão de idéias, é revelação de propósitos, antecipação de plataforma de governo, portanto, matéria que se situa no âmbito da informação e não no âmbito da propaganda eleitoral’, declarou ontem o ministro Carlos Ayres Britto, presidente do TSE.
As sentenças que impuseram sanção em dinheiro (R$ 21,2 mil)às publicações são alvo de recursos ao TRE paulista, que ainda não os julgou. A ordem do TSE, que deverá ser acatada, foi dada na sessão de quinta-feira.
‘É decisão de boa qualidade, nessa perspectiva do aperfeiçoamento do processo democrático, liberar os jornais para entrevistas, inclusive com pré-candidatos, sem censura de conteúdo, com possibilidade portanto de os candidatos avançarem seus programas de governo, suas idéias’, destacou Ayres Britto. ‘Quanto à mídia de rádio e TV, também liberamos debates e entrevistas, porém com uma limitação: que seja conferida igualdade de oportunidade a todos os candidatos. Ótimo para a democracia.’
O ministro encerrou em São Paulo a 20.ª Reunião do Colégio de Corregedores da Justiça Eleitoral. Ao se pronunciar, ele falou a seus pares de ‘uma mídia eletrônica e impressa, ambas turbinadas, a pleno vapor’.
Os magistrados – 24 corregedores eleitorais – divulgaram ‘Carta de São Paulo’, por meio da qual anunciaram compromisso ‘com o princípio da moralidade’ e disposição de cobrar do Congresso ‘maior urgência’ na votação de dois projetos de lei e uma emenda à Constituição que incluem reputação ilibada e idoneidade moral entre as condições de elegibilidade dos candidatos. Os corregedores acreditam que tal medida poderá dar fim à polêmica sobre candidatos processados que estão ao abrigo de decisão do TSE – por 4 votos a 3, a corte máxima eleitoral deliberou que político só tem ficha suja quando condenado em definitivo.’
TELES
Associação critica fusão entre Oi e BrT
‘A Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp) avalia que, se a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não implantar metas de curto prazo que garantam a competição, a reformulação do Plano Geral de Outorgas (PGO) alcançará ‘o único objetivo’ de validar o processo de compra da Brasil Telecom pela Oi. O representante da Telcomp Luiz Barbosa Silva disse, durante audiência pública na Anatel, que haverá elevada concentração de mercado com a fusão das duas empresas. A fusão da Oi e da BrT, na opinião da Telcomp, limitará as possibilidades de competição.’
INTERNET
Presença da classe C avança na internet
‘A explosão na venda dos computadores ampliou o acesso à internet entre os jovens da classe C. Uma pesquisa do portal Terra mostrou que 49,4% dos jovens dessa classe, em três capitais do País, possuem acesso à rede mundial em casa. Contratado pela Terra, o Instituto Data Popular ouviu 600 pessoas em São Paulo, Recife e Porto Alegre. ‘A gente teve no ano passado uma quebra de paradigma, por causa da emergência da classe C’, disse Paulo Castro, diretor-geral do Terra. ‘A classe C é a fatia que mais vai crescer na internet.’
No ano passado, 37% dos internautas eram da classe C, 50% da classe A/B e 13% da D/E. Este ano, a expectativa é que a classe C chegue a 40%. A idéia do estudo era descobrir as diferenças entre os internautas de classe C para os de classe A/B. ‘A surpresa foi descobrir que não existiam diferenças significativas’, disse Castro. ‘O consumo de conteúdo, entretenimento e redes sociais é muito semelhante.’
O que acontece, segundo o executivo, é que os conteúdos de educação e de entretenimento são mais valorizados pelos jovens de classe C, porque eles têm menos acesso a alternativas fora da internet. ‘A classe A/B pode assistir séries na TV por assinatura, que a classe C não tem’, explicou Castro. Foram ouvidas pessoas entre 15 e 30 anos.
BANDA LARGA
A pesquisa indicou que 77,2% dos jovens de classe C com internet residencial têm acesso de banda larga. É o caso de Tatiana Santos Azevedo, de 26 anos, que assinou a internet rápida em dezembro do ano passado. Ela mora no bairro Jardim São Gonçalo, em São Paulo. Ela se formou em 2006 em Ciências da Computação, com uma bolsa de estudos integral que recebeu num programa do Centro de Profissionalização de Adolescentes Padre Bello (CPA) e hoje trabalha como webdesigner.
O primeiro computador que ela teve era usado, comprado em 2002. A máquina que usa hoje, um notebook, foi adquirida há um ano, em 12 vezes, nas Casas Bahia. ‘Meu uso da internet mudou bastante com a banda larga’, disse Tatiana. ‘Quando comecei a desenvolver sites, trocava o dia pela noite, para economizar.’ Ela aproveitava a tarifa reduzida para acessar a internet discada.
‘Eu quero montar uma microempresa’, disse a webdesigner. Ela participa de um programa de empreendedorismo e microcrédito, da Fundação Abrinq. Tatiana já fez cursos gratuitos de programação e edição de imagens, via internet. ‘Agora estou começando um curso de inglês.’
Ela não costuma assistir a filmes e ouvir música baixados da internet. E nunca comprou nada pela rede. ‘Não sei se é falta de confiança’, comenta. ‘Sempre uso para pesquisa e para consultar a conta do banco.’ Tatiana usa bastante o MSN e o correio eletrônico, do Yahoo.
Segundo Castro, a pesquisa apontou um temor maior da classe C em usar o cartão de crédito na internet do que nos consumidores de maior renda. Para ele, isso não se deve à menor experiência de internet desses usuários, nem à dificuldade de acesso ao cartão. ‘O temor tem a ver com o limite do cartão de crédito’, explicou o executivo. ‘O bloqueio do cartão teria um efeito maior na vida do jovem de classe C.’ O jovem de classe C acha que teria dificuldade de convencer a empresa de cartão de crédito se fosse vítima de fraude.
Mesmo com um uso menor do comércio eletrônico, o jovem de classe C acessa bastante a internet para fazer pesquisa de preços, antes de ir ao varejo convencional. A pesquisa apontou que 49,2% consultam a rede antes de fazer compras.
LOCAL DE ACESSO
O computador e a internet são vistos pela classe como uma maneira de melhorar a qualidade de vida da família, auxiliando a educação dos filhos. Uma pesquisa do Comitê Gestor da Internet apontou as lan houses como o principal ponto de acesso dos internautas brasileiros. Na pesquisa do Terra, os centros pagos vieram em segundo lugar, com 23,6%.
‘Como a pesquisa foi feita em três regiões metropolitanas, ela não representa o Brasil’, reconheceu Castro. ‘São Paulo e Porto Alegre têm uma densidade de uso da internet acima da média brasileira.’ Dessa forma, a pesquisa serve mais como um retrato do internauta nas grandes cidades brasileiras. Um ponto interessante, segundo Castro, é que não houve diferenças significativas nos números das três cidades. ‘A diferença ficou entre cinco e dez pontos porcentuais.’
A entrada da classe C faz com que a rede mundial deixe de ser considerada um meio de comunicação elitista. ‘A internet é um bom veículo para anunciantes de bens de consumo em geral’, disse Castro.’
TECNOLOGIA
A revolução da microeletrônica faz 60 anos
‘A invenção do transistor é considerada a mais importante do século 20. Esse minúsculo dispositivo revolucionou a eletrônica e as comunicações. Sua invenção foi anunciada há 60 anos, no dia 30 de junho de 1948, pelos Laboratórios Bell, de Murray Hill, Nova Jersey. Quem visita hoje a sede desses laboratórios pode ver como era o primeiro transistor numa vitrine no saguão do prédio principal. Para muitas pessoas não passa de uma aranha sem nenhum charme. Para outros, no entanto, é algo tão significativo quanto o 14-Bis de Santos-Dumont ou o primeiro telefone de Graham Bell.
Nessa mesma vitrine, o visitante pode ver um exemplar da nota à imprensa distribuída pelos Laboratórios Bell, sobre a invenção do transistor e que foi publicada no dia 1º de julho de 1948 pelos grandes jornais dos Estados Unidos e do mundo, sem grande destaque. O New York Times, por exemplo, registrou o invento numa pequena nota, perdida no meio do jornal, em apenas quatro parágrafos.
No primeiro momento, poucos compreenderam a importância do transistor, além dos três cientistas que criaram esse dispositivo – William Shockley, Walter Brattain e John Bardeen. Na realidade, o protótipo estava pronto desde o dia 23 de dezembro de 1947, e funcionava perfeitamente, amplificando em 40 vezes a intensidade do sinal elétrico. Mas o dispositivo ainda não era de silício e, sim, de germânio.
A direção dos Laboratórios Bell, contudo, não se convenceu logo da importância nem do alcance do invento e só decidiu divulgá-lo seis meses mais tarde, depois de exaustivas demonstrações de seu funcionamento. Até mesmo o reconhecimento do mérito do invento pelo mundo científico demoraria quase nove anos. Finalmente, porém, vem a consagração: Shockley, Brattain e Bardeen ganham o Prêmio Nobel de Física de 1956.
MINIATURIZAÇÃO
Na indústria, poucos meses após seu lançamento, o novo componente começa a substituir as válvulas a vácuo de três pólos e deflagra o processo de miniaturização que tem marcado a microeletrônica nos últimos 60 anos. Com ele, se produzem componentes e equipamentos eletrônicos cada vez menores, mais rápidos e mais baratos – ou smaller, faster, cheaper, para usar as palavras inglesas que traduzem essas três características.
Nos anos 1950, a evolução tecnológica cria diversos tipos de transistores, sempre menores, montados sobre pastilhas de silício. E o mundo passa a ser inundado por rádios portáteis transistorizados – em especial os fabricados no Japão.
O transistor tem muitas funções: amplifica o sinal elétrico, comuta circuitos, estabelece conexões, redireciona a corrente e muitas outras. Na microeletrônica é o ponto de partida para uma série de avanços. Trabalhando separadamente, Jack Kilby e Robert Noyce inventam em 1959 o circuito integrado – dispositivo que reúne numa única pastilha algumas dezenas de transistores e outros componentes como os diodos, capacitores e resistores. Em 1970, Ted Hoof e Robert Noyce, da Intel, inventam o microprocessador, ou seja, a unidade de processamento central ou CPU dos computadores. O primeiro a ser comercializado em 1971 é o Intel 4004. Os mais recentes são Pentium ou o Intel Core2Duo.
Atualmente, os microprocessadores ou chips reúnem centenas de milhões de transistores. Os mais sofisticados e poderosos de hoje já quebram a barreira de um bilhão de transistores. Na realidade, a miniaturização dos componentes eletrônicos parece não ter fim. É claro que há limites, quando se alcançam as dimensões moleculares ou atômicas.
CUSTOS
Uma das características revolucionárias dos chips é sua constante queda de custo. Numa comparação ilustrativa, a revista BusinessWeek lembra que o número de transistores fabricados no ano de 2006 foi maior e mais barato do que todos os grãos de arroz produzidos no mundo.
Em 1965, os circuitos integrados abrigavam apenas algumas dezenas de transistores. Naquele ano, Gordon Moore, um dos fundadores da Intel, previu, por simples observação da evolução dos componentes, que os circuitos integrados dobrariam o número de transistores a cada 18 ou 24 meses. Acertou na mosca. É exatamente o que tem ocorrido nos últimos 40 anos. Essa previsão ganhou o nome de Lei de Moore.
Em 1975, os circuitos integrados já continham até 65 mil transistores. Em 1985, a IBM apresentou seu primeiro chip com mais de um milhão de transistores, na feira National Computer Conference (NCC), em Chicago. O Pentium 4 tinha mais de 55 milhões de transistores. Em 2002, os microprocessadores mais densos quebraram a barreira dos 100 milhões de transistores. Até 2009, surgirão os primeiros chips com mais de um bilhão de transistores.
Confira, leitor, a massa de novas tecnologias e produtos que o mundo ganhou depois de 1970, graças ao avanço da microeletrônica e, em especial, dos microprocessadores: computadores pessoais, videocassetes, CDs, câmeras digitais, DVDs, satélites domésticos, TV de alta definição, fibras ópticas, tomografia computadorizada, celulares, redes de banda larga e internet.’
O FUTURO DO JORNAL
Por uma história bem contada
‘Empresas extremamente prósperas do mundo da comunicação, como a Google e a Yahoo!, não empregam repórteres nem têm correspondentes e nunca apuraram uma única notícia. Mas ganham muito dinheiro distribuindo as informações obtidas, com altos custos, por outras empresas, como os jornais – sem pagar nada por elas. Este é um dos paradoxos da atual revolução tecnológica.
Alguns observadores, nem todos desinteressados, se apressaram a vaticinar o fim dos jornais. Bill Gates, da Microsoft, anunciou no começo da década de 1990 que, no prazo de dez anos, os diários desapareceriam, para desprestígio de sua bola de cristal. Periodicamente, novos profetas prevêem, no curto prazo, um mundo sem imprensa escrita, substituída por bits e bytes.
Realmente, a internet afeta não apenas as empresas jornalísticas. O que se profetiza precipitadamente como um futuro sem diários escritos em papel é, na verdade, uma profunda revolução que está mudando, rápida e caoticamente, todo o panorama global da informação e do entretenimento. Os jornais e também revistas, rádio, TV aberta e paga, livros, fonografia, cinema, espetáculos e até a maneira de escrever cartas.
Lourival Sant?Anna, repórter especial d?O Estado de S. Paulo, recolhe este tema no livro O Destino do Jornal. É um desdobramento da tese de mestrado defendida em 2007. Ele mostra um panorama da imprensa brasileira, vasculha o que é publicado no exterior e ouve diversos jornalistas e especialistas, mas seu objetivo principal é avaliar qual será o destino da imprensa e, em particular, de três jornais que ele considera os melhores do Brasil, ‘no sentido qualitativo’: Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo. Formam, segundo o autor, um conjunto relativamente homogêneo.
Sant?Anna levanta dados que apontam um declínio da imprensa diária no Brasil. A penetração dos jornais caiu. Em 2001 eram publicados 60,6 exemplares por mil pessoas; em 2005, esse número tinha caído para 43,3. Talvez mais expressivo seja o declínio da circulação. Em 2000 eram vendidos 7,8 milhões de cópias por dia; em 2006, 7,23 milhões. Como o número de jornais diários passou de 491 para 532 em 2006, ‘o dado sugere aumento no número de jornais de menor circulação’.
Registra também a drástica queda no ‘faturamento bruto dos jornais’, em valores corrigidos, de R$ 3,59 bilhões em 2000 para R$ 2,32 bilhões (2004), devido à migração da publicidade para outras mídias. (Na verdade, não se trata de ‘faturamento bruto’, mas de vendas de anúncios, uma vez que não inclui as receitas com assinaturas e venda em bancas.)
Entrevistas com leitores definem o jornal como ‘o meio de comunicação mais completo e investigativo, que estimula a pensar’. Mas também é considerado ‘chato de ler’ embora seja ‘educativo’. Há menções à dificuldade de leitura, ‘em razão de como a notícia é escrita’, a ‘linguagem é considerada pesada’, ‘às vezes você não entende o que quer dizer de forma objetiva’ e alguns lêem ‘por obrigação, mesmo’. O livro constata que houve um florescimento dos jornais locais, de menor porte, em detrimento dos de circulação nacional.
O ponto alto da obra são as entrevistas com os responsáveis pelas redações dos três jornais realizadas no fim de 2005. Obviamente, nenhum deles acredita que o jornal vai acabar, embora esperem tempos difíceis pela frente. Eles atribuem a queda da circulação no início desta década aos excessos cometidos nos anos de 1990, quando as empresas exageraram nas promoções, oferecendo ao leitor ‘anabolizantes’ na forma de coleções de livros, fascículos, filmes, CDs. Como diz o diretor da Folha, Otavio Frias Filho, ‘a política de promoções se esgotou’. Acreditam que os atuais níveis de circulação têm bases mais realistas. Sandro Vaia, ex-diretor d?O Estado de S. Paulo, vê a queda da venda como uma tendência mais ou menos inexorável. Rodolfo Fernandes, de O Globo, afirma que o jornal não vai ser mais mídia de massa.
Os três diretores reconhecem que houve excessos nas redações nas décadas anteriores. Na Copa do Mundo em 1998, a Folha destacou para a França 32 jornalistas. ‘Uma loucura’, diz seu diretor. Após a profunda crise da imprensa no início desta década, que levou as empresas a vender ativos e fazer demissões, os três jornais não só recuperaram a saúde econômica, como alcançaram seus maiores índices de rentabilidade.
Onde os três jornais divergem é na política de circulação. Enquanto o objetivo da Folha é investir para ter amplo raio de circulação, em lugar de limitar seu alcance às áreas contíguas à cidade de São Paulo, O Globo ‘tem como sua definição estratégica ser um jornal da classe média do Rio, com prestígio e repercussão nacional’, afirma seu diretor. O Estado priorizou a circulação na cidade de São Paulo e reduziu a penetração no interior do Estado e, sobretudo, no restante do País, a um mínimo percebido como o necessário para manter sua característica de jornal de projeção nacional. Sandro Vaia afirmou que a empresa estava revendo essa decisão.
Dois especialistas entrevistados anunciam o fim do jornal, o que podia ser esperado, pois eles se concentram, profissionalmente, nos meios eletrônicos. Mas Ramón Salaverría, do Laboratório de Comunicação Multimídia da Universidade de Navarra, reconhece a incapacidade dos veículos ‘online’ de investir na produção de conteúdo de qualidade. Segundo Nicholas Negroponte, do Laboratório de Mídia do MIT, ‘o que está morto é o papel, não a notícia’. E demonstra impaciência com a durabilidade da palavra impressa: ‘O fato de que ainda se faça em papel é meio intrigante, mas será descontinuado rapidamente.’ Trata-se de uma profecia que poderá fazer companhia às previsões de Bill Gates.
Um dos atrativos dessa obra é a ausência de estridência. O autor, em lugar de gritar ou de pregar, prefere pesquisar, ouvir e analisar. É de se lamentar que as reduzidas dimensões do livro impeçam um debate mais aprofundado sobre a interligação do jornal em papel e ‘online’, que parece ser a tendência da imprensa pelo menos em um futuro de médio prazo.
É provável que se Sant?Anna realizasse hoje suas pesquisas, o panorama da imprensa brasileira mostrado no livro fosse bem diferente. No ano passado, por exemplo, a circulação dos jornais, de 8,07 milhões de exemplares por dia, foi a mais elevada de todos os tempos. E a receita com publicidade chegou em 2007 a R$ 3,11 bilhões, 15,2% acima do ano anterior; no primeiro trimestre deste ano cresceu 23,7%. Os jornais nunca ganharam tanto dinheiro.
Mas o futuro permanece incerto. A decisão, tomada anos atrás por motivos de custos, de reduzir a circulação além de um curto raio em torno de suas sedes, afeta sua influência e sua capacidade de participar da agenda de debates nacional, que é seu principal objetivo. Existe tecnologia disponível, mas o Brasil não tem hoje nenhum jornal que circule realmente em todo o País, embora os três aleguem ter ‘repercussão nacional’.
Outro fator decisivo para o futuro é a utilização do prestígio conseguido pelo jornal impresso para conquistar um espaço na internet. É o que estão fazendo jornais como The Wall Street Journal, The New York Times, The Guardian ou El País e El Mundo. Os diários brasileiros ainda se mostram tímidos no desenvolvimento da edição digital, que requer elevados investimentos sem retorno imediato. Mas eles têm a percepção de que a melhor resposta aos problemas atuais é apostar na qualidade e oferecer ao leitor ‘textos intelectualmente sofisticados, que tratem a notícia de forma multidimensional’, com diz Sant?Anna. Eu acrescentaria a importância de redescobrir a narrativa. Bernard Kilgore, o grande editor do The Wall Street Journal, disse que as narrativas de Homero, Ovídio e Mark Twain – eu acrescentaria Euclides da Cunha no Brasil – ainda são lidas hoje. Todo mundo gosta de uma história bem contada.
Matías M. Molina é diretor de Análise de Informação Internacional da CDN – A&T e autor de Os Melhores Jornais do Mundo (Editora Globo)’
TELEVISÃO
Essa dupla é de tirar o fôlego
‘LOS ANGELES – McDreamy de um lado, McSteamy de outro. Foi assim que esta jornalista entrevistou Patrick Dempsey e Eric Dane, debaixo da escada do Seattle Grace Hospital, no set de Grey’s Anatomy, em Los Angeles. Inveja? Esta página reproduz, de alguma forma, a sensação. Para que lado olhar?
Patrick, como é fazer todo esse sucesso só agora e não antes, nos seus 20 anos?
Patrick: É inacreditável! Estou curtindo cada vez mais. Percebo o quanto é especial. Quando você tem 20 anos, pode ir pelo caminho errado, perdendo tudo. Então, agora, sou grato e tento seguir no caminho certo. Uns dias estou bem com isso, outros não. E esse é o conflito. Acho que é isso o que acontece quando você está mais velho. Você percebe o quão especial o sucesso é e tenta fazer o máximo para aproveitar enquanto pode. Digo isso porque você tem mais oportunidades e as escolhas que você faz irão definir o que virá depois.
Vocês se lembram quando surgiram as marcas McDreamy e McSteamy e quando elas ficaram tão populares?
Patrick: Não fazia idéia de que tomaria essas proporções. Não imaginava que se tornaria ‘franquia’.
Eric: O meu apelido só ficou famoso por descuido. Ele já era McDreamy e eu, automaticamente, ganhei o apelido no segundo que me chamaram de McSteamy.
Por que ninguém mais chama vocês pelos nomes de seus personagens… É McDreamy para cá, McSteamy para lá…
Eric: Esta é a beleza do negócio (risos)!
Patrick, o que não é tão McSonho em você?
Patrick: Ah, isso não vou dizer! Isso é tudo uma projeção de quem sou, sabia? É isso aí! Sinto, mas vocês vão ter de lidar com isso (risos)…
Você não se cansa do rótulo?
Patrick: Depende do dia, mas é melhor do que ser ignorado (risos)!
Eric, McSteamy teve um problema com as enfremeiras neste 4.º ano…
Eric: Sim, sou um filho da p…!
Você acha que McSteamy vai mudar mesmo?
Patrick: Não vejo esse futuro!
Eric: Toda a temporada foi uma descoberta – quem é ele, como ele se adapta, o que pode fazer para consertar os erros nos relacionamentos…
Patrick: E houve uma reviravolta. Você (aponta para Eric) sendo uma boa pessoa (risos)! Há uma humanidade em McSteamy, algo que não havia aparecido antes. O oposto do cara que é … O quê? Um filho da p…?
Eric: Sempre me disseram: ?Não importa o quão podre você interprete esse cara, sempre faça de uma forma que seus atos sejam justificáveis em algum mundo estranho… Acho que Sloan sempre teve esse respeito inerente por Meredith desde o segundo em que a conheceu.
Eric, qual seria a mulher ideal para Sloan?
Eric: Tenho algo divertido para dizer sobre isso, mas não vou dizer.
Patrick: Vai! Fala!
Eric: Não sei, de verdade. Apesar de achar que Addison (Kate Walsh) se encaixa nos critérios de Sloan, acho que poderia ser qualquer mulher (risos)! Tenho certeza de que ele gosta de todas!
Na terceira temporada, vocês tiveram problemas – a saída de Isaiah Washinton (Preston Burke), acusado de homofobia por T.R. Knight (George O?Malley) -e se reergueram. Como está o clima no set?
Patrick: Está ótimo. Acho que aprendemos com isso. Vários elementos desestabilizaram o ambiente aqui, mas todos foram resolvidos. Estamos muito melhores como time.
Eric: Mesmo com os problemas, o trabalho não foi atingido no ano passado. O trabalho é mais importante do que questões externas.
Qual seria seu conselho, Patrick, a alguém como McDreamy?
Eric: Vá a clubes de strip-tease (risos)!
Patrick: Não acho que isso o faria feliz por muito tempo. Acho que ele tem de ser honesto com si. E identificar o que está acontecendo com ele.’
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