ELEIÇÕES
Marta usa ‘vagabundo’ na despedida da TV
‘Na despedida do horário eleitoral gratuito ontem à noite, Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (DEM) adotaram estilos opostos. Enquanto a petista recheou sua propaganda com aliados do PT, o prefeito ocupou sozinho seus dez minutos finais na campanha. Marta partiu para o tudo ou nada e exibiu na TV as imagens em que o prefeito expulsa, aos gritos de ‘vagabundo’, um manifestante de uma unidade de saúde, em fevereiro do ano passado.
Advertindo os eleitores sobre a importância de se ter uma cara só, a campanha do PT apresentou Kassab ‘e as duas faces da moeda’. Dizia o locutor: ‘O prefeito quer ser simpaticão, beijoqueiro, mas…’ e exibiu as cenas do destempero emocional do adversário.
A decisão do PT de deixar para o último dia de campanha na TV a exibição do episódio polêmico foi tomada para evitar que o DEM conseguisse na Justiça Eleitoral direito de resposta.
Fora a exploração do episódio, Marta trouxe seu principal cabo eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de outros aliados, como deputados federais petistas e políticos como o governador da Bahia, Jaques Wagner.
Os depoimentos de personalidades como o escritor Fernando Morais e o ator Sérgio Mamberti também foram levados ao ar pelo marqueteiro João Santana. ‘Marta tirou São Paulo da maior crise e fez um governo sem dinheiro’, disse Lula. ‘Quero diminuir as desigualdades e reduzir os impostos e continuar o que comecei. Por isso, peço um voto de confiança’, disse a ex-prefeita.
O PT também não deixou de mostrar, a exemplo do que fizera nos últimos dois dias, uma série de ‘contradições’ do adversário, além de explorar a ligação de Kassab com os ex-prefeitos Celso Pitta e Paulo Maluf. Kassab foi secretário de Planejamento na gestão de Pitta.
Em seguida, foi a vez do prefeito e candidato à reeleição se despedir do eleitorado no último programa da TV.
Kassab abriu o programa, assinado por Luiz Gonzalez, fazendo um agradecimento aos paulistanos e exibindo seus principais projetos à frente da prefeitura. O candidato do DEM assumiu o comando da maior cidade do País em 2006, depois de o tucano José Serra ter saído para disputar o governado de São Paulo.
Em tom emotivo, o programa exibiu depoimentos de pessoas beneficiadas pelos programas Mãe Paulista, Remédio em Casa e pelo Plano de Urbanização de Favelas, além da Vila do Idoso.
‘A hora é da união. Quero fazer um governo acima dos partidos. Temos equipe, apoio político e as contas da cidade estão rigorosamente em dia’, afirmou Kassab para, na seqüência, apresentar algumas de suas prioridades. Entre elas, listou a construção de três novos hospitais, respectivamente nas zonas norte, leste e sul, e do investimento em metrô, além de na melhoria da educação. ‘São Paulo precisa de emprego, desenvolvimento e educação. Por isso, peço o seu voto. Eu acredito em São Paulo’, disse Kassab.
Em ritmo de festa, também foi tocado um samba e o jingle Sorria, que marcou a campanha do prefeito.’
Eduardo Kattah
Debate mantém clima de guerra
‘O clima de guerra e troca de acusações que marcou a reta final do segundo turno da campanha em Belo Horizonte manteve-se no debate da TV Globo entre os candidatos Márcio Lacerda (PSB) e Leonardo Quintão, ontem à noite.
O momento mais tenso foi registrado no início, quando o candidato do PSB cobrou do peemedebista explicações sobre a denúncia de que ele e seus parentes usaram doleiros para enviar recursos ao exterior por uma conta investigada no esquema do Banestado, conforme matéria publicada pelo jornal Estado de Minas.
‘Não tenho nada a declarar a esse respeito, porque eu estudei oito anos nos Estados Unidos. Tive contas estudantis, isso é mais do que normal’, respondeu Quintão, que divulgou o número de seu CPF para sugerir que não tem pendências. ‘Fui vereador em Belo Horizonte, fui deputado estadual, sou deputado federal. Nada que desabonasse até hoje a minha vida. Infelizmente eleitor, nessa reta final, tem aparecido coisas. E você quem decide se acredita ou não.’
O socialista também levantou suspeita ao dizer que, nos últimos dois anos, como deputado federal, Quintão foi um dos quatro parlamentares que mais aumentaram seu patrimônio. Quintão rebateu afirmando que Lacerda declarou à Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 55 milhões, o maior entre os candidatos a prefeito das capitais.
Nas considerações finais, o peemedebista reiterou que, caso eleito, trabalhará em parceria com os governos Aécio e Lula e prometeu dobrar recursos do orçamento participativo. Atacou, porém, a campanha milionária do adversário e disse que lutava contra duas forças políticas poderosas, sustentadas pelos ‘palácios’. Lacerda ressaltou o projeto político do governador e de Pimentel, seus aliados.’
CRISE GLOBAL
Daniela Milanese
Tombo depende dos países emergentes, diz a ‘Economist’
‘O desempenho dos países emergentes na atual crise vai determinar a gravidade da recessão mundial, avalia a revista The Economist. O abalo nos emergentes nas últimas semanas é o tema de capa da edição desta sexta-feira. A revista traz uma análise da situação desses países e conclui que todos serão afetados pela turbulência, mas alguns estão mais preparados, como o Brasil.
‘A crise de crédito será severa, mas a maior parte dos emergentes pode evitar a catástrofe’, comenta a Economist, lembrando que no último ano esses países conseguiram se manter longe do furacão que passou pelos países desenvolvidos. Seus bancos não estavam expostos ao subprime e as exportações subiam com a alta das commodities. ‘De Budapeste a Brasília, a abundância de crédito estimulou a demanda doméstica.’
‘Mas isso acabou’. Como o capital estrangeiro começou a ir embora e a confiança evaporou, os mercados de ações emergentes passaram a despencar e o crédito secou. Assim como no mundo rico, os governos lutam para limitar os estragos.
A publicação cita que a Rússia está gastando US$ 220 bilhões para estabilizar o seu setor financeiro, enquanto a Coréia do Sul decidiu garantir US$ 100 bilhões em depósitos bancários. Países como a Hungria e a Ucrânia estão recorrendo ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
A revista também menciona a ‘medida desesperada’ da Argentina ao estatizar o sistema de previdência, ‘aparentemente para prevenir-se de uma quebra’. Outro ponto de preocupação é a China, que cresceu 9% no terceiro trimestre, abaixo dos costumeiros dois dígitos.
‘As economias emergentes estão em diferentes condições, mas o impacto somado de tudo será enorme.’ Como responderam por três quartos da expansão global nos últimos 18 meses, eles devem determinar o tamanho da recessão.’
BIOGRAFIA
Uma garota da pesada
‘A mulher que hoje exibe com orgulho sua gravidez na praia, que freqüenta bares e botecos sem restrições, que pode soltar palavrões em conversas animadas sem causar espanto, a mulher que, enfim, goza de plena liberdade deveria acender uma vela por noite para Leila Diniz. O conselho é do escritor e jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, autor da biografia Leila Diniz – Uma Revolução na Praia (280 páginas, R$ 39), que a Companhia das Letras envia hoje para as livrarias.
Musa da revolução social dos anos 1960, a atriz não precisou levantar bandeira nem queimar peças íntimas para chacoalhar o conservadorismo da época – bastou ser ela mesma. E, se desfrutou bem a vida, também pagou caro por isso. Ao dizer abertamente, com todas as palavras e palavrões, o que a maioria só afirmava às escondidas, Leila, que praticava a liberdade sexual em uma sociedade nada tolerante, despertava amor e ódio.
É o perfil dessa mulher que toma contorno a cada página lida (em alguns momentos, devorada) de Leila Diniz. Esqueça, no entanto, aquele relato minucioso, em que cada gesto, cada suspiro, até mesmo o pensamento mais íntimo do biografado é revelado – Ferreira dos Santos dedicou-se durante dois anos e meio a pesquisas e entrevistas, buscando entender a modernidade trazida espontaneamente pela atriz, mas, como bom repórter, privilegiou o retrato da alma.
‘Conversei com praticamente todas as pessoas que tiveram algum contato com Leila’, conta o jornalista que, no início da carreira, chegou a entrevistá-la, o que ajudou a reconstituir com segurança a forma com que a atriz se expressava entre os amigos. Segundo ele, uma fonte valiosa são os diversos diários escritos por Leila, hoje bem guardados pela amiga Marieta Severo. ‘Diversas editoras já fizeram ofertas para publicar o material, mas Janaína, filha da Leila, ainda resiste em aceitar pois considera muito íntimo o teor dos escritos.’
Mas o despojamento com que Leila Diniz desfrutou seus 27 anos, vida tragicamente interrompida por um acidente de avião na Índia, em 1972, permitiu com que Ferreira dos Santos entendesse o que representaram os efeitos do furacão Leila, artífice de uma mudança radical no comportamento das mulheres que hoje vivem melhor.’
***
‘Leila tinha vocação para revolução’
‘Com um sorriso estonteante e capaz de gestos impensáveis, como posar grávida de biquíni, Leila Diniz era a estrela com vocação para revolução. ‘O curioso é que ela não se preocupava com isso’, garante Joaquim Ferreira dos Santos. ‘Leila queria apenas que cada um vivesse bem e não fosse cobrado por ser revolucionário ou careta.’
É essa vontade desbragada de viver que os amigos guardam como melhor recordação. Maior até que sua carreira artística. Leila teve uma boa passagem pelo cinema (14 filmes entre 1966 e 1972), o que contribuiu para que se afirmasse como grande atriz. Veio do teatro rebolado, participou de telenovelas (Ilusões Perdidas e O Sheik de Agadir) até começar no cinema com pequenas participações em O Mundo Alegre de Helô (1966), de Carlos Souza Barros, e em um dos contos de Jogo Perigoso (1967), de Luiz Alcoriza, chamado Divertimento, todas pontas insignificantes. Sua consagração ocorreu mesmo com Todas as Mulheres do Mundo.
Dirigido por Domingos Oliveira (um dos diversos homens de sua vida) em 1966, o filme é uma comédia de costumes sobre as aventuras de um rapaz (Paulo José) que paquera as belas mulheres das praias cariocas. Na contramão do cinema brasileiro de então, marcado por produções engajadas, Todas as Mulheres do Mundo revelava uma nova forma de amar e, principalmente, uma nova mulher.
‘Já nessa época, Leila era diferente ao encarar o relacionamento amoroso’, conta Ferreira dos Santos. ‘Ela não queria o homem como antagonista, mas como companheiro. Não um oponente, mas um parceiro.’
Ao entrevistar as pessoas que conviveram com Leila, o biógrafo descobriu detalhes saborosos e pouco conhecidos. Foi com o cantor Sérgio Ricardo, por exemplo, que ela teve sua primeira relação sexual. E a famosa foto em que Leila ostentava orgulhosa sua barriga arredondada, grávida de cinco meses (algo tão ousado que mereceu um espaço minúsculo na revista Cláudia, que publicava uma matéria com ela), foi sugestão da própria. ‘Leila exibia uma naturalidade muito grande em relação ao corpo, que encarava sem moralismo’, diz Ferreira dos Santos.
Uma facilidade também ao falar, comprovada pela famosa entrevista ao Pasquim, em 1969. Novamente, uma quebra de barreira: foi a primeira vez em que uma conversa foi publicada de forma literal, ou seja, com todos os comentários e palavrões. Assim, é possível imaginar olhos arregalados lendo frases como ‘Você pode amar muito uma pessoa e ir para a cama com outra’ ou ‘Eu só tive um homem negro. E não vou comparar meus homens porque é sacanagem’.
Um prato cheio para o regime militar, que resolveu intimar a atriz, promovendo uma história espetacular. Leila era jurada do programa de Flávio Cavalcanti, apresentador conhecido por ser conservador até a medula. Mas, ao perceber que dois policiais estavam no auditório para entregar uma intimação à estrela, ele armou um plano genial. Com o programa no ar, Cavalcanti permitiu que Leila saísse do palco para ir ao banheiro. Nos bastidores, ela entrou em um carro e rumou para Petrópolis, onde vivia o apresentador. ‘Hitchcock assinaria a cena com orgulho’, diz o biógrafo.
Apesar da má fama, Leila tinha sentimentos maternos e amou a filha Janaína até seu último segundo de vida, registrado no diário encontrado nos destroços do avião, na Índia. ‘As saudades de Janaína são muitas’, escreveu ela, cujas derradeiras palavras são arrepiantes. ‘Estamos chegando em Nova Deli. Segundo anunciam, a temperatura local é quase a do inferno. Quente paca. Agora está acontecendo uma coisa es…’
Leila, na Lembrança dos Amigos
‘Eu queria filmá-la nua, venerar a deusa, mostrar ao mundo o deslumbramento que sua alma e seu corpo tinham me causado’
DOMINGOS OLIVEIRA, SOBRE TODAS AS MULHERES DO MUNDO
‘Não cabiam duas mulheres numa mesa em que a Leila Diniz estivesse. Ela fazia o gênero (em que acreditava muito, sempre animada) da mulher que não sofria, que levava a vida brincando. Armava um pedestal, subia nele e ficava.’
DANUZA LEÃO
‘Moça que sem discurso nem requerimento soltou as mulheres de vinte anos presas ao tronco de uma especial escravidão.’
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
‘Fiquei pensando nos significados da existência de uma mulher tão feminina, de seios tão oferecidos, de alma tão disponível, mulher respeitável, desfrutável, uma musa, um enigma.’
ANA MIRANDA
‘Ao exibir na praia sua barriga grávida, Leila demonstrou que a maternidade sem o casamento não era vivida como um estigma a ser escondido, mas como uma escolha livre e consciente.’
MIRIAM GOLDENBERG
‘Leila ganhou importância sobretudo como pessoa humana. Desabusada, alegre, ela teve coragem de assumir em público sua independência de mulher e sua qualidade de mãe solteira.’
RUBEM BRAGA
Leila, por Ela Mesma
‘É difícil ser fiel. O homem não é fiel. Uma mulher deve ser? As mulheres ainda não estão preparadas para essa experiência e para essa igualdade entre o homem e a mulher’
‘Talvez eu seja no fundo a mais ingênua das criaturas, a mais cristã e ideológica que se possa imaginar. Esperava do mundo uma sinceridade e uma honestidade clara e simples como a que eu pretendia e pretendo lhe dar, mas vi que não era bem assim e fiquei um pouco confusa, daí, por isso, minha forma de dar e de receber tenha se modificado um pouco’
‘Quando se está livre de toda a capa de educação, de ?boa educação?, de ?direitinho?, das normas, dos preconceitos e tudo o que é ensinado pra gente, se pode ter uma visão de vida e de mundo, uma maneira de viver muito mais livre e divertida. Muito mais aberta’’
TELEVISÃO
É antes de Pantanal
‘No dia 2, Carlos Nascimento e uma equipe do SBT embarcam para Washington para a cobertura das eleições norte-americanas. De lá, Nascimento vai ancorar o SBT Brasil nos dias 3, 4 (dia da eleição), 5 e 6 de novembro. O jornalista falou ao Estado sobre Obama e sobre as chamadas do SBT, que nem sempre privilegiam o noticiário da casa:
As pessoas estão mesmo interessadas nas eleições nos EUA?
O público brasileiro mudou muito, mas a cobertura do SBT já tinha sido planejada antes de estourar a crise econômica. Hoje, pessoas muito simples sabem quem é o Obama, o que seria impensável 20 anos atrás.
Incomodou aquela chamada do SBT que ignorava o próprio noticiário e pedia ao público que mudasse de canal após A Favorita para ver Pantanal?
De forma alguma. A gente tem o nosso público. A emissora está chamando o público de novela, é uma estratégia partindo do princípio que há um público fiel de novelas. E nós nos beneficiamos com isso: quando a emissora vai bem, o jornal vai bem. O horário político nos atrapalhou um pouco, mas agora vamos voltar a crescer.’
******************
Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.