BRIGA
Record tenta constranger ‘Folha’ com ataques
‘SÃO PAULO. A Rede Record desencadeou, esta semana, uma campanha de ataques contra o jornal ‘Folha de S.Paulo’. Desde a última terça-feira, a TV Record divulgou pelo menos 12 minutos de críticas ao jornal em três edições de noticiários da emissora.
A ira da Record, segundo editorial da ‘Folha’ publicado ontem, ‘é o desagrado diante da independência da coluna de TV publicada pelo jornal’.
Assinada pelo jornalista Daniel Castro, a coluna revelou, na edição de 13 de março, que a Record News não conseguiu atrair audiência. O texto dizia: ‘Lançada em setembro de 2007 com a presença do presidente Lula e ameaçando quebrar o ‘monopólio’ da Globo, a Record News ainda não saiu do traço no Ibope.
O mau desempenho do canal de notícias, que estaria dando prejuízo a Edir Macedo, frustrou expectativas. Na época, Walter Zagari, vice-presidente comercial da Record, afirmou que a meta era faturar R$ 100 milhões no primeiro ano. Zagari afirma agora que o canal faturou R$ 48 milhões em 2008, mas analistas do mercado duvidam. Em seu melhor mês, a Record News teria faturado R$ 1,5 milhão. Não teria ultrapassado R$ 10 milhões no ano. O maior indicador de falta de dinheiro é a exibição, desde o início deste mês, de comerciais da Polishop, conhecida por pagar ‘preço de pinga’. A previsão para 2009 é faturar R$ 72 milhões. Zagari nega que a Record News esteja dando prejuízo, mas afirma que lucro também não há’.
Em resposta à informação do jornalista, a Record passou a usar seus telejornais para atacar a ‘Folha de S.Paulo’, como já fizera ano passado por causa de reportagem sobre o ‘império empresarial’ montado por Edir Macedo, dono da Record e chefe da Igreja Universal.
No último ataque, ontem à noite, a Record chama o jornal de ‘Folha de Mentiras’. Afirma que o jornal tem sofrido ‘uma queda brutal’ no número de leitores e diz que há seis meses a ‘Folha’ desrespeita o ‘direito de resposta’ sobre supostas informações inverídicas, como a repercussão de que Edir Macedo estaria doente.
Em resposta aos ataques da Record, a ‘Folha de S.Paulo’ afirmou em seu editorial de ontem que a Record ‘pretende mover algo como uma campanha, pois a mesma mixórdia de reportagem canhestra e investida comercial tem sido repetida à exaustão’. E afirma que ‘negócios e religião não deveriam caminhar juntos. A atividade religiosa é isenta de impostos.
Até por esse motivo, a sociedade tem todo o direito de conhecer os vasos comunicantes que ligam a Igreja Universal aos tentáculos de seus vários ramos de negócios’, diz o editorial do jornal.
A ‘Folha’ afirma ainda que o jornal tem procurado agir com máxima isenção, ‘sobretudo em face do duelo feroz entre a Record e a emissora líder no país, a Rede Globo. Entre ambas, a ‘Folha’ toma o partido de seu leitor, que deseja ser informado’, diz o jornal. E afirma ainda que ‘o que é prática de jornalismo verdadeiro se torna — na percepção tosca dos atuais dirigentes da Record, acostumados a reduzir qualquer questão ao seu aspecto comercial — uma suposta campanha contra a emissora’.
Foi essa mesma concepção que teria levado a Igreja Universal, do mesmo grupo, a ‘orquestrar litigância de má fé na Justiça contra este jornal e a repórter Elvira Lobato’, diz o editorial.
Elvira ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 2008, com a reportagem ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’. Adeptos da igreja ajuizaram 107 ações na Justiça contra a ‘Folha’ por causa da reportagem. Segundo o jornal, 66 sentenças já publicadas foram favoráveis ao jornal e à repórter.
Em suas reportagens com ataques ao jornal, a Record tem contestado os números de audiência divulgados pela coluna de Daniel Castro e afirmado que a ‘Folha’ perdeu 41% de seus leitores nos últimos dez anos. A Record pede que a ‘Folha’ publique uma correção dos números sobre a audiência e ameaça recorrer à Justiça
CENSURA
ANJ protesta contra censura a jornal
‘A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou nota ontem condenando a decisão do juiz da 16 aVara Cível da Comarca de For taleza, Benedito Helder Afonso Ibiapina, de proibir o jornal ‘O Povo’ de divulgar reportagem sobre o processo que corre na Justiça Federal a respeito do jogo de bicho no Ceará.
Segundo a ANJ, na liminar concedida pelo magistrado, o jornal foi proibido de noticiar, inclusive, a decisão do juiz da 11 aVara Federal que tornou indisponíveis os bens pessoais de João Carlos Mendonça, denunciado pelo Ministério Público Federal em ação penal derivada da Operação Arca de Noé, realizada pela Polícia Federal no ano passado.
A ANJ considera que a proibição do juiz Helder Ibiapina é censura prévia à imprensa.
‘A ANJ considera que o segredo de justiça obriga apenas as partes envolvidas no processo. J á a proibição da veiculação de notícias obtidas legitimamente sobre os fatos é uma descabida censura prévia que viola frontalmente o espírito e a letra da liberdade de expressão assegurada pela Constituição federal’, diz a nota da associação assinada por Júlio César Mesquita, vice-presidente da ANJ e responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão da entidade que congrega a direção de todos os jornais brasileiros.
Segundo a Associação, a decisão judicial viola o direito constitucional do cidadão de ser livremente informado pelos veículos de comunicação que atuam no país.
‘A medida judicial em questão viola também o princípio que assegura aos cidadãos brasileiros o direito de serem livremente informados do que se passa na sociedade’.
A ANJ espera que o jornal ‘O Povo’ recorra da proibição e que o Poder Judiciário, que decidiu pela censura prévia, ‘restabeleça o primado constitucional, uma vez que não é por meio da censura ou do controle de informação que se faz justiça.
O direito à informação , mais do que dos meios de comunicação, é de toda a sociedade’, segundo a nota da associação.’
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