ELEIÇÕES 2010
Cientistas políticos criticam governador
A decisão do governador Sérgio Cabral de não participar de debates com seus adversários durante a campanha foi criticada por cientistas políticos e historiadores.
Segundo eles, a atitude do candidato do PMDB pode causar prejuízos diante dos eleitores fluminenses ao não aprofundar a discussão dos programas de governo. Já aliados de Cabral evitaram polemizar sobre estratégia eleitoral do candidato, de não se expor aos ataques.
Paulo Baía, cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou que os debates são a oportunidade para que o eleitor conheça os candidatos.
— Quando um candidato não debate, é um atentado contra os valores de um estado democrático de direito.
Trata-se do exercício do autoritarismo. Quem perde é a população. Tudo isso reforça a tese do coronel moderno — disse Baía.
O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, lembrou que a prática de não debater se tornou comum entre os candidatos que disputam a reeleição e lideram as pesquisas: — O presidente Lula fez isso.
O que usualmente pesa mais é a estratégia de campanha.
Isso pode prejudicar o candidato. O adversário vai para o confronto e a outra cadeira fica vazia. De fato, o eleitor fica desinformado.
Ricardo Ismael, professor do Departamento de Sociologia e Política da PUCRJ, fez uma alerta: — O candidato pensa que a eleição está decidida e se isola, se distancia do processo, fica blindado. O eleitor, então, começa a perceber que o candidato está temeroso ou tem algo a esconder. E, com isso, ele perde votos.
O vice-governador Luiz Fernando Pezão, porém, defendeu Sérgio Cabral: — Lula já não foi a debate.
Em Minas Gerais, o (exgovernador) Aécio Neves também não foi. Vamos esperar para ver. A população já conhece nosso trabalho.
Candidato ao Senado na chapa de Cabral, Lindberg Farias (PT) concordou: — É uma decisão pessoal e legítima do governador. Ele tem muita experiência política e sabe o que faz. Penso que ele prefere que o povo o avalie pelos quatro anos de governo. É tradição no Brasil que o candidato que lidera as pesquisas se preserve.
A historiadora Marly Motta, da Fundação Getulio Vargas, ressaltou que debate decide eleição. Ela lembrou da campanha de 1982, quando Leonel Brizola (PDT) se elegeu governador do Rio.
— Brizola tinha apenas 3% das intenções de voto. Estava atrás de Miro Teixeira, de Moreira Franco e de Sandra Cavalcanti. Era a primeira eleição para governador após a ditadura. Mas ainda havia instrumentos da repressão política e não tinha regras para os debates. O confronto foi fundamental para a vitória dele.
Wanderley Guilherme dos Santos, cientista político, disse que é para os eleitores que fica todo o prejuízo da ausência dos candidatos em debates.
— Acho lastimável. Os debates têm de acontecer, sem dúvida alguma. Qualquer formato de debate que permita aumentar a capacidade do eleitor de formar opinião sobre qual candidato atende melhor sua preferência tem de ser bem-vindo. Só tem a perder quem não deseja que isso seja sabido.
Sergio Roxo, Flávio Freire e Juraci Perboni
Serra desiste e debate acaba cancelado
O debate entre os candidatos a presidente que aconteceria na próxima segundafeira, organizado por quatro portais de internet (IG, MSN, Terra e Yahoo), foi cancelado depois que o tucano José Serra desistiu de participar. A petista Dilma Rousseff já havia avisado que não iria. Somente Marina Silva, do PV, confirmou presença, e os portais resolveram cancelar o evento.
A candidata do PV, Marina Silva, criticou a decisão de seus dois principais adversários. ‘Como se não bastasse terem reduzido o leque das candidaturas e das propostas com a exclusão de Ciro Gomes do processo eleitoral, agora querem inibir o próprio eleitor de conhecer, por meio dos debates, as visões, as propostas e as trajetórias dos candidatos à Presidência da República’, escreveu Marina, em nota divulgada anteontem.
Na nota, Marina reafirmou o compromisso de comparecer a todos os debates e citou a luta pela democracia para criticar o cancelamento do evento. ‘A recusa ao confronto das ideias é promover o empobrecimento da democracia pela qual tanto lutamos, inclusive Dilma e Serra.’ Serra foi lacônico ao comentar ontem, em Florianópolis, a desistência.
Depois de semanas pregando que debates são importantes para apresentação de propostas e ideias ao eleitor, o tucano mostrou-se incomodado ao tocar no assunto.
— Houve realmente um problema sério de agenda — afirmou, sem dar mais detalhes.
Horas depois, em Blumenau, Santa Catarina, novamente perguntado sobre o motivo que o levou a desistir do debate, Serra deu outra versão. Disse que não havia confirmado sua presença no evento.
— Eu não desisti porque nada estava marcado, então não é o caso de ter desistido.
A organização do debate informou que Dilma havia comunicado terça-feira que não participaria.
Serra avisou na quinta-feira que não iria por problema de agenda, depois de ter confirmado ‘formalmente a presença’.
Marina disse ainda que ‘querem criar no Brasil o anonimato eleitoral, em que o anônimo passa a ser o cidadão brasileiro privado de ter acesso sobre o que cada candidato pensa’.
O primeiro debate da eleição presidencial deve ser realizado pela TV Bandeirantes, em 5 de agosto. Outros quatro encontros estão programados para acontecer até o primeiro turno, no dia 3 de outubro.
Na Bahia, o governador Jaques Wagner (PT), candidato à reeleição, desistiu do debate marcado para 11 de agosto alegando ‘compromissos marcados anteriormente’. A desistência provocou uma saraivada de críticas dos adversários, em especial do peemedebista Geddel Vieira Lima, que chamou o governador de ‘fujão’.
TECNOLOGIA
A Índia apresentou esta semana o protótipo do que chamou de o tablet mais barato do mundo. Parece um iPad, mas custa muito menos: apenas US$ 35.
O ministro do Desenvolvimento de Recursos Humanos, Kapil Sibal, exibiu o computador com tela sensível ao toque e que é destinado a estudantes.
— Chegamos a um ponto de desenvolvimento hoje em que placa-mãe, chip, processador, conectividade, tudo junto, tem custo de cerca de US$ 35, incluindo memória, tela, tudo — disse.
Segundo Sibal, o ministério já iniciou negociações com fabricantes internacionais para dar início à produção em massa do aparelho. O governo espera que o computador comece a ser produzido até o fim de 2011.
Baseado no sistema operacional Linux, o protótipo tem tela sensível ao toque, navegador de internet, leitor de documentos em PDF, processador de textos e capacidade para realização de videoconferência. Além disso, o hardware foi criado com flexibilidade para incorporar novos componentes, de acordo com o perfil do usuário. O aparelho também tem opção para uso de energia solar, embora isso tenha um custo adicional.
Governo pretende subsidiar o computador A Índia planeja subsidiar o custo para seus estudantes, de modo que o valor de compra fique em no máximo US$ 20.
Mas o objetivo do governo é reduzir ainda mais o preço, para US$ 20 ou até mesmo US$ 10.
O computador foi desenvolvido por equipes de pesquisa do Instituto Indiano de Tecnologia e do Instituto Indiano de Ciências.
‘Esta é a nossa resposta ao computador de US$ 100 do MIT (Massachusetts Institute of Technology, dos EUA)’, disse Sibal ao jornal ‘Economic Times’.
Em 2005, o MIT lançou um protótipo de US$ 100 para crianças de países em desenvolvimento.
A Índia rejeitou o modelo, afirmando ser muito caro, e iniciou um projeto de desenvolvimento de um modelo próprio.
A versão do MIT acabou custando US$ 200, mas a associação One Laptop per Child — ligada ao fundador do laboratório de mídia do MIT — planeja lançar um tablet a US$ 99.
O tablet indiano faz parte de uma ambiciosa iniciativa governamental de inserção da tecnologia na educação. O objetivo da Índia, que investe cerca de 3% de seu orçamento anual em educação, é levar a banda larga a 25 mil faculdades e 504 universidades e oferecer os materiais de aula on-line.
Até o momento, quase 8.500 faculdades estão conectadas à internet e 500 dispõem de cursos à distância, baseados em videoconferência via internet, que podem ser baixados no YouTube e em outros sites.
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