Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Globo


INTERNET


MySpace lucra com filme sobre site rival Facebook


O site de relacionamentos MySpace pode ter perdido para o Facebook o posto de líder do setor, mas acabou se beneficiando do filme sobre seu rival. A Sony usou o MySpace para divulgar o filme ‘The social network’ (‘A rede social’, em tradução livre), que abriu ontem o Festival de Cinema de Nova York. O lançamento comercial do filme nos EUA é em 1ode outubro.


No endereço www.myspace.com/SocialNetworkmovie, além de ver os trailers, os internautas poderão conversar amanhã on-line com os atores Jesse Eisenberg, que encarna Mark Zuckerberg, Justin Timberlake, Andrew Garfield (como o brasileiro Eduardo Saverin, cofundador do site), e com o roteirista Aaron Sorkin (conhecido pela série de TV ‘The west wing’). O evento é às 18h30m (horário de Brasília).


Segundo o jornal britânico ‘Financial Times’, a Sony foi para o MySpace porque o Facebook não permite anúncios que façam referência à própria empresa, a não ser que tenha alguma ligação com o produto — o que não é o caso do filme. Zuckerberg se recusou a colaborar com a produção, que vem recebendo elogios dos críticos. Para o canal ABC news, é ‘um épico sobre as pessoas por trás do site que define nosso tempo’.


 


 


PÚBLICO JOVEM


GLOBO e Kzuka lançam suplemento


O GLOBO, em parceria com o Kzuka, plataforma de comunicação do grupo RBS voltada para o público jovem, vai lançar na próxima segundafeira, dia 27, um suplemento dirigido aos adolescentes.


Em formato tabloide, o Kzuka será uma publicação bimestral feita para os leitores de 13 a 18 anos de idade, estudantes dos níveis médio e fundamental.


Com uma tiragem inicial de 163.500 exemplares, o novo suplemento trará reportagens sobre, por exemplo, comportamento, moda, esportes, música, vestibular e política. O novo produto vem para consolidar uma parceria já iniciada no mês de julho, quando o Kzuka passou a ter uma página de conteúdo dentro da revista ‘Megazine’ — direcionada ao público jovem — do jornal O GLOBO.


Suplemento vai circular em vários bairros da cidade Segundo Ana Paula Pessoa, diretora de Finanças e Novos Negócios da Infoglobo — que edita os jornais O GLOBO, Extra e Expresso, site O GLOBO e Extra Online e a Agência O GLOBO —, o lançamento da publicação reforça o interesse do GLOBO em falar diretamente ao público adolescente, complementando, assim, a comunicação com os jovens — o que já vem sendo feito por meio da ‘Megazine’.


— É importante estreitarmos a conexão com os adolescentes, leitores potenciais do GLOBO, e com forte poder de atração para investimento dos anunciantes — afirmou.


O suplemento terá, inicialmente, três edições que vão trazer temas centrais. Na primeira publicação, o assunto principal será ‘O jovem e o Rio de Janeiro’, com reportagens sobre comportamento, viagens e esportes, além de dicas de shows e filmes.


Nas edições seguintes, será a vez de abordar, respectivamente, tudo sobre viagens de férias e intercâmbio e o que acontece de melhor no Rio durante o verão.


— Esse novo produto faz parte de nossa estratégia de expansão. Acreditamos e apostamos no potencial do mercado fluminense, e nada melhor para se estabelecer num mercado promissor como fechar esta parceria com O GLOBO, um dos mais importantes veículos de comunicação do país — disse Fernando Tornaim, fundador e diretorgeral do Kzuka.


O Kzuka vai circular na Zona Sul, na Barra da Tijuca, no Recreio dos Bandeirantes, em bairros da Zona Norte (Alto da Boa Vista, Andaraí, Catumbi, Estácio, Grajaú, Maracanã, Praça da Bandeira, Rio Comprido, Tijuca e Vila Isabel), em Niterói e São Gonçalo.


Pepsi, Guaraviton, Veris Educacional, CAL Oficina, Met.


Ensino Brasas são alguns dos patrocinadores já fechados para a nova publicação.


 


 


TELEVISÃO


Renato Lemos


Uma mestra em ‘desamarrar pessoas’


Naná balança a cabeça e anda pra lá e pra cá na sala do apartamento da atriz Camilla Amado, na Gávea. Está desesperada. Em torno dela estão as outras 11 pessoas que, todas as quartasfeiras, vão até ali fazer aula de teatro com a atriz. Naná está em desespero porque vai estrear um monólogo em duas semanas e ainda não sabe bem o que vai acontecer — na verdade, ela acha que vai acontecer uma catástrofe.


O texto que ela reluta em dizer diante dos colegas é uma espécie de confissão, um mergulho bem-humorado e muito íntimo em sua vida sexual.


Por isso Naná está travada.


— Não vou conseguir, não aqui — diz.


— Imagine, então, que você é uma outra pessoa. Conte uma transa de uma outra pessoa — incentiva Camilla.


— No teatro é mais fácil, aqui é que eu não vou conseguir.


É foda! — É isso, uma foda. Conta uma foda sua. Você não vai querer que eu conte uma das minhas, né? — Quero, Camilla! Conta uma das suas, por favor.


Camilla ri: — Ah, não vai dar, meu amor… Eu até já me esqueci como é…


‘Consultas’ pelo telefone Camilla Amado está com 71 anos e há 30 faz com que gente como Naná — que naquela mesma noite jogou a timidez para o alto e, de enfiada, mostrou parte de seu texto cheio de invenção, humor e sacanagem — encare melhor a arte de representar. Foi assim que conseguiu fazer os meninos de ‘5xFavela, agora por nós mesmos’ aparecerem em cena como se estivessem se divertindo num churrasco na laje.


Seu método é não ter método.


Sua preparação mistura o estudo minucioso do texto, filosofia, piada de salão, sessões de psicanálise, Shakespeare, Rajneesh, vulgaridade, doçura e vida de verdade. Numa época em que a preparação de atores para o cinema — especialmente aquela dirigida a amadores, como em ‘Cidade de Deus’ e ‘Tropa de elite’ — está cada vez mais parecida com um treinamento militar, Camilla acena com a retórica do afeto.


— Eu acho aquilo que vem sendo feito no cinema uma monstruosidade — opina Camilla, que não utiliza trabalho físico na preparação. — Já tive aluna se queixando porque, para fazer uma cena de estupro, teve que ficar nua enquanto o assistente do diretor simulava a violação. Que isso? Educar vem do latim, quer dizer tirar para fora. O que é necessário é desamarrar as pessoas, e eu sei como desamarrar.


Na primeira vez que reuniu toda a equipe de ‘5xFavela’, Camilla teve diante de si mais de 120 pessoas. Estava todo mundo lá: atores, diretores, alguns figurantes, técnicos e produtores. Até chegar naquele ponto, ela já tinha se reunido com a equipe de cada um dos episódios e, separadamente, com os diretores, todos jovens moradores de favelas.


De cada um desses encontros, Camilla saiu com a história, a pretensão e o nome de cada um dos integrantes da equipe na ponta da língua.


Quem esteve por lá diz que, quando tudo acabou, a euforia era parecida com saída do Maracanã em dia de vitória do time da gente: — Nós tínhamos muitos amadores, mas eu não queria uma preparadora que ficasse tentando arrancar o personagem de dentro dos atores, enlouquecendo os atores, torturando, como tem sido feito nos últimos tempos. Isso é uma loucura — explica Cacá Diegues, produtor e idealizador do filme. — Essa pedagogia do sofrimento não é comigo.


A pedagogia da Camilla não é a da dor, é a do amor.


Camilla é filha da educadora (e professora de latim) Henriette Amado e de Gilson Amado, fundador da TVE. Foi expulsa do Sion por mau comportamento, mas, desde cedo, esteve envolvida com os livros.


No escritório de seu apartamento, eles estão em toda parte, catalogados e etiquetados.


Ali se acham as obras completas de Brecht, Platão, Proust e Machado de Assis. Estão também fascículos da Enciclopédia Britânica, um Clarice Lispector todo sublinhado a lápis e um volume de ‘Como emagrecer’, de autor desconhecido.


Ao lado da mesa de madeira que usa para trabalhar, há um altar com santos de várias devoções e o Kikito de melhor atriz coadjuvante, ganho no Festival de Gramado de 1975, por sua atuação em ‘O casamento’, de Arnaldo Jabor.


Na época Camilla estava no topo — e saiu de lá com fama de doida varrida.


No meio da década de 70, ela era apontada como a nova Regina Duarte da praça. Pequenininha, bonitinha, namoradinha.


Talentosa. Esteve em cartaz no teatro por mais de três anos com ‘As desgraças de uma criança’, ao lado de Marco Nanini, seu grande amigo até hoje. Emendou com ‘A Dama das Camélias’, peça que botava gente pelo ladrão no João Caetano. Tinha contrato com a TV Globo, dava autógrafos nas ruas e, por fim, se preparava para viver o papel principal de ‘Escalada’, novela das oito escrita por Lauro Cezar Muniz. Faria par com Tarcísio Meira. Em cima da hora, Camilla jogou tudo para o alto e, depois de 30 capítulos gravados, foi substituída por Susana Vieira.


— Botei o pé no freio. Na TV não há espaço para a subjetividade.


Fiquei com fama de louca, mas escolhi esse caminho solitário — explica a atriz. — Não me arrependo. Até hoje vejo atrizes com contrato na TV e que vivem deprimidas porque não conseguem trabalho. Ou quando conseguem é para entrar num caminhão e entregar prêmio de programa de auditório no interior. Peguei outro rumo para a minha vida.


O rumo de Camilla a levou a meditar no Tibete, a ensaiar teatro na China, a tomar daime na Amazônia e a penar no quinto dos infernos — que é o local em que, imagina-se, possam viver os atores que estão fora da televisão. Faz análise há 50 anos (‘Coisa de maluco, né?’). Foi casada por 14 anos com o ator Stepan Nercessian.


Já fez teatro com presidiários em Bangu e com moradores de favela e conjuntos populares.


Na Cruzada, durante uma encenação de ‘Othelo’, de Shakespeare, ela chegou a ligar para Barbara Heliodora pedindo que a crítica de teatro do GLOBO fosse lá conferir a cena final da tragédia, embalada por uma versão de ‘Casinha pequenina’, do repertório de Silvio Caldas.


— Ela só gritava: ‘Que horror, que horror.’ Não foi. Perdeu, a boba. Era lindo — conta Camilla, que uma vez por semana vai até a casa de Barbara estudar Shakespeare. — Eu continuo estudando, sempre.


Camilla usa uma camisa de algodão, calça larga, cabelo preso num coque e alterna os óculos de aros grossos que coloca no rosto: o marrom para ler e o preto para olhar de longe.


No dia 8, estará nos cinemas em ‘A suprema felicidade’, o novo filme de Jabor. Está feliz. Ela mostra uma orquídea mandada pela atriz Cláudia Jimenez, junto com um bilhete escrito à mão (‘Sem você não haveria o triunfo…’) agradecendo pela preparação do elenco de ‘Mais respeito que sou tua mãe!’. À tarde, o diretor Karim Aïnouz, angustiado, passou por ali com uma jovem atriz que se preparava para um teste no mesmo dia.


Karim saiu encantado. O ator Silvio Guindade, que trabalhou com ela em ‘5xFavela’, diz que o pulo do gato da atriz é descobrir o que o outro quer.


— Ela é uma grande intelectual, mas não fica no degrau de cima, consegue se misturar — diz Sylvio. — Ela sabe lidar com o ator.


Camilla — que já deu ‘consulta’ pelo telefone — acha graça: — Às vezes eu me sinto como um pronto-socorro para atores.


Abraços e beijos antes da aula O pronto-socorro de Camilla funciona num apartamento de janelas coloridas, paredes cobertas de quadros, fotografias por todos os lados, teto alto, uma cadela assanhada e muitas garrafas térmicas com café.


Uma bagunça mais ou menos organizada. A cantora Danni Carlos — que está ali em busca de maior segurança no palco — pega o violão e mostra uma música (‘Embalagem’) que fez inspirada em uma aula sobre máscaras e personagens. Antes da aula, os alunos se abraçam, se beijam e esfregam as mãos, como se estivessem prestes a encontrar a namorada na porta do cinema. Durante três horas eles vão fazer confissões, trocar opiniões, mostrar o trabalho que estão produzindo, contar piadas, ler poesia e ouvir atentamente o que Camilla tem a dizer.


— Eu não ensino ninguém a ser ator. Para o ator, estar no palco é uma necessidade, sem o palco ele estaria morto. É isso que eu tento mostrar — diz Camilla. — O resto é fácil. É decorar o texto, respirar nos momentos certos e cuidar para não esbarrar no cenário.


 


 



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