Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Orkut deve remover ofensas a Edir Macedo

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 14 de janeiro de 2008


INTERNET
Vinicius Albuquerque


Orkut deve barrar página anti-Edir Macedo


‘O bispo Edir Macedo, dono da Rede Record e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, conseguiu na Justiça que sejam retiradas do site de relacionamentos Orkut páginas de comunidades de conteúdo ofensivo a ele e à igreja. A decisão foi tomada em 13 de dezembro pelo juiz Leandro de Paula Martins Constant, da 34ª Vara Cível de São Paulo.


O juiz condenou o Google Brasil -divisão no país do Google, proprietária do Orkut- a retirar da rede as páginas do site que veiculem ofensa ao bispo ou à igreja, sob pena de multa de R$ 1.000 por página, por dia. O pedido refere-se especificamente a cinco comunidades. Ontem, nem todas haviam sido retiradas. A empresa ainda foi sentenciada a pagar custas e despesas processuais, fixadas em R$ 2.500.


Segundo a decisão do juiz, ‘o caráter ofensivo das expressões componentes’ dos nomes da comunidades é ‘inegável’ -entre eles, estão as comunidades ‘Eu Mataria Edir Macedo’, ‘Edir Macedo Pedágio pro Céu’ e ‘Farsa Edir Macedo’.


O Google Brasil alegou não ter como retirar o conteúdo por ser pessoa jurídica distinta do Google. A sentença, porém, diz que a brasileira forma com o Google ‘inequívoco grupo econômico, sendo delas apenas desmembramento destinado às operações comerciais locais’. Além disso, afirma que o fato de as comunidades serem criadas por terceiros não afasta a responsabilidade da empresa.


‘A ré sabe desde a criação do conteúdo das comunidades formadas pelos consumidores, aceita a sua formalização e retransmite os seus termos de forma ampla a qualquer pessoa que acessar a rede de computadores’, diz a sentença. ‘Não houvesse a aceitação e retransmissão pela ré, não haveria a ofensa.’


Na ação, Edir Macedo ainda quis que fossem disponibilizados os dados dos criadores das comunidades ofensivas. O juiz Constant, no entanto, disse que o Google Brasil ‘não tem a obrigação de informá-los, desde que cessada a lesão’.


De acordo com o juiz, a divulgação dessas informações seria contra a proteção do sigilo das comunicações de dados, prevista na Constituição.


De acordo com informações divulgadas pelo site especializado Consultor Jurídico, o Google também questionou o fato de o pedido de Edir Macedo conflitar com a legislação norte-americana. Como o site é hospedado nos EUA, deveria seguir a legislação daquele país. Mas, para o juiz, não há conflito já que o ato também atingiu o bispo dentro do país. ‘A imagem do autor no Brasil restou atingida e os acessos à internet também ocorrem dentro do território nacional.’’


 


GOVERNO
Hudson Corrêa e Adriano Ceolin


Denúncia contra filho de Lobão é apurada no Senado


‘Se o senador Edison Lobão (PMDB-MA) assumir o comando do Ministério de Minas e Energia, o seu filho e suplente, o empresário Edison Lobão Filho (DEM-MA), assumirá a vaga do pai com dois problemas: a acusação de usar laranja para ocultar dívidas e uma representação, que tramita no próprio Senado, apontando suposta irregularidade na concessão de rádio e TV de suas empresas.


A acusação de que Lobão Filho transferiu ações de uma empresa de bebidas para o nome de uma empregada doméstica, usada como laranja, levou o PSDB e o DEM a pedirem explicações.


Maria Luiza Thiago de Almeida, ex-sócia da distribuidora de bebidas Bemar, afirma que em 1999 as ações de Lobão Filho na empresa foram transferidas para a empregada doméstica dela, Maria Lúcia Martins, com o uso de procuração e documentos falsos.


A intenção de Lobão Filho seria fugir de dívidas do fisco, o que ele nega. O caso foi revelado pela revista ‘Veja’.


Lobão Filho afirma que transferiu as ações a pessoas indicadas pelo seu então sócio Marco Antonio Pires Costa, ex-marido de Maria Luiza, e diz que apresentará hoje documentos provando sua versão.


Segundo Maria Luiza, a dívida da Bemar com o fisco é de R$ 7 milhões e com o Banco do Nordeste, de R$ 5 milhões.


Outro caso envolvendo o filho do provável ministro está no Senado. Em agosto de 2007, a Procuradoria Geral da República mandou ao Senado cópia de representação feita pelo Sindijori (sindicato de trabalhadores em empresas jornalísticas) ‘noticiando possíveis irregularidades na concessão pública para exploração de radiodifusão pela Rádio Curimã e TV Difusora (repetidora do SBT)’, empresas de Lobão Filho.


O Ministério Público Federal no Maranhão investiga se a TV foi irregularmente arrendada a uma ONG, o Idetec (Instituto de Desenvolvimento Tecnológico), do Rio de Janeiro.


Via assessoria, Lobão Filho nega qualquer ilegalidade. Informou que somente o setor comercial da emissora foi entregue a terceiros.


A Mesa Diretora do Senado encaminhou a cópia da representação à Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática.


Apesar de ter chegado no dia 10 de agosto à comissão, o processo ainda está na fase de designação de relator, segundo o sistema da Casa para acompanhamento de processos.


O presidente da comissão, senador Wellington Salgado (PMDB-MG), afirmou que não se lembra de ter visto a representação. Salgado disse que o relator vai ser indicado normalmente, mas não será senador do partido de Lobão Filho, o DEM. A posição da comissão, diz Salgado, será imparcial.


O PSOL estuda ingressar com uma representação contra Lobão Filho. Único senador pelo partido, José Nery (PA) disse ontem que pediu à consultoria jurídica da legenda para apurar as denúncias e ver se é o caso de uma representação por quebra do decoro no Conselho de Ética depois que o empresário assumir a vaga.


A cautela deve-se ao fato de que o Senado tem se negado a apurar supostas irregularidades cometidas antes da posse.’


 


Sílvia Freire


Senador declarou R$ 1,6 milhão em bens


‘Na última declaração à Justiça Eleitoral, o senador e virtual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), informou ser dono de bens que somam R$ 1,6 milhão. Entre eles uma casa no Lago Sul (valor nominal de R$ 485,7 mil) e um lote em Brasília, ambos relacionados desde 1978, e uma casa em Maricá (RJ), incluída na declaração desde 1986.


Os dados constam do documento entregue em 2002 -última vez que disputou eleição e quando obteve o atual mandato de oito anos no Senado.


O senador também declarou cinco terrenos em Imperatriz (já relacionado em declarações anteriores), um em São Luís e um em Paço do Lumiar (MA), duas glebas de terra em Monte Alegre (PI), 16% das ações da Destilaria Caiman, aplicações financeiras e um empréstimo de R$ 230 mil (valor nominal) ao filho Luciano Lobão.


A avaliação das declarações entregues por Lobão em todas as eleições de que ele participou mostram que o maranhense já detinha participações em empresas de comunicação antes de ingressar na vida política.


Em sua primeira eleição, em 1978, quando se candidatou a deputado federal, Lobão informou ter cem cotas da Rádio Imperatriz. Ele trabalhava à época como jornalista em Brasília.


A participação declarada de Lobão em empresas de comunicação no Maranhão aumentou nos primeiros anos de sua carreira política, e decresceu ao longo do tempo -em 2002, ele não relacionou veículos de mídia entre seu patrimônio.


Em 1982, quando foi reeleito deputado federal, a atuação de Lobão no setor havia crescido significativamente. Ele declarou ter 7,4 milhões de cotas da TV Carajás e 30 mil cotas da Rádio Guajajara. Também manteve a participação na Rádio Imperatriz.


Em 1986, quando concorreu ao Senado pela primeira vez, Lobão continuava com as cotas das rádios Guajajara e Imperatriz, mas a participação na TV Carajás já não aparecia na declaração. Entre outros bens acrescidos em relação à eleição anterior estavam ações da Destilaria Caiman S.A.


Em 1990, quando Lobão disputou e venceu a eleição para o governo do Maranhão, sua declaração de bens manteve a participação nas duas rádios.


Em 1991, os três filhos do atual senador compraram a TV Difusora, em São Luís. A emissora hoje é o segundo maior grupo de comunicação do Maranhão, com rádio AM e FM e cerca de 80 retransmissoras no interior do Estado. O grupo é administrado pelo filho e primeiro suplente de Lobão, Edison Lobão Filho (DEM-MA). O senador já declarou que o filho irá se afastar da administração se assumir sua vaga no Senado.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Lula sem Fidel?


‘Às vésperas da chegada de Lula a Cuba, Hugo Chávez, que há tempos cobra do brasileiro a visita a Fidel Castro, saiu dizendo que a tentativa de golpe na Venezuela, em 2002, ‘tinha como objetivo afetar a candidatura do Lula’. Foi na fundação de seu Partido Socialista Unido, como noticiou ontem a BBC Brasil e foi depois manchete do Globo Online.


Mas nada de Fidel confirmar o encontro com o brasileiro, seu ‘amigo pessoal’, segundo o porta-voz de Lula, que parte hoje com agenda de comércio mais afeita ao irmão Raul, segundo as agências. Na mídia estatal cubana, nem menção.


E TOME NIEMEYER


Um mês atrás, Fidel Castro saudou o centenário de Oscar Niemeyer com fartos elogios no ‘Granma’.


Duas semanas atrás, o ‘New York Times’ deu crítica de arquitetura falando em ‘deterioração do gênio’, dizendo que ele é ‘a maior ameaça’ às próprias obras-primas e questionando se não é hora de ‘nós -o público e seus clientes- intervirmos’. Afinal, seus ‘últimos prédios são descuidados’, de ‘qualidade em declínio’.


Voltou o ‘Granma’, ontem, e noticiou que ele apresentou o projeto brasileiro da Casa de Las Américas.


‘BIG LEAGUE’


-Sexta no ‘NYT’, capa do caderno de economia, o correspondente Alexei Barrionuevo apresentou o Brasil, com o campo Tupi e as nova refinarias da Petrobras, como aposta ‘para a Grande Liga do petróleo’, até ‘elevando o suprimento dos EUA’. Ecoou no ‘Wall Street Journal’, entre incertezas para o ano no setor


‘RELAX AND COME’


O colunista Roger Cohen, do ‘NYT’, ex-correspondente do ‘WSJ’ no Brasil, passou o ano por aqui e fez três colunas. Na de ontem, ‘O etanol é para todos?’, escreveu de Campos, no Rio, sobre a vida dos bóias-frias. Antes, em ‘Um novo dia nas Américas’, tratou do novo livro de Michael Reid sobre a região, ‘Forgotten Continent’, e proclamou que ‘o futuro do Brasil é agora’.


Antes ainda, em ‘Lições brasileiras para 2008’, resolveu adotar o ‘Karma brasileiro’, do ‘relaxe e goze’ de Marta Suplicy, para enfrentar a ‘vida americana’.


MAIS E MAIS RECORD


A ‘Economist’ acompanhou sessão de ‘exorcismo no almoço’, em uma Igreja Universal, para abordar longamente o avanço do pentecostalismo no país -e em especial o de Edir Macedo, com ‘uma poderosa rival para a Globo’ e um canal de notícias. Ironiza que ele ‘desenvolveu engenhosos modelos de negócios’, o que ‘é humano’, não ‘divino’.


E o blog Blue Bus noticia que a Record se prepara para entrar na imprensa, ‘já na montagem de redação’ para ‘uma revista ou um jornal diário’.


GLOBO E A ‘RELAÇÃO’


Saiu na ‘Carta Capital’ que promotor quer saber ‘o grau de amizade’ e muito mais da ligação do maior jogador do mundo, Kaká, com os líderes da Igreja Renascer. Em horas, ecoava no site da Globo, sob o título ‘Juiz intima Kaká por relação com igreja’.


‘KAKÁ INVESTIGADO’


Ecoou mais, avançando no fim de semana pela cobertura de futebol na Europa, do espanhol ‘El Mundo Deportivo’ ao italiano ‘La Gazzetta dello Sport’. Maior destaque na busca de Brasil do Google, foi notícia da agência AP ao chinês ‘Diário do Povo’.’


 


FEBRE AMARELA
Maria Clara Cabral e Ana Paula Ribeiro


Ministro vai à TV negar epidemia de febre amarela


‘No dia em que o número de notificações de casos suspeitos de febre amarela subiu de 15 para 24, o ministro José Gomes Temporão (Saúde) foi à TV fazer um pronunciamento em cadeia nacional para dizer que ‘não existe risco de epidemia’.


O ministério confirmou que, dos 24 casos suspeitos notificados pelas secretarias estaduais de saúde, 5 foram descartados e outros 2, confirmados.


O ministro ressaltou que as suspeitas estão localizadas e restritas a áreas de matas e florestas. ‘Estou aqui para tranqüilizar a população brasileira sobre um assunto que está preocupando os brasileiros nos últimos dias. O temor de que esteja ocorrendo uma epidemia de febre amarela no país. Não existe risco de epidemia.’


Na TV, Temporão disse que desde 2003 a ocorrência de febre amarela silvestre ‘vem caindo gradativamente’. ‘Os casos suspeitos estão localizados e restritos a áreas onde algumas pessoas não vacinadas entraram em florestas e matas nas últimas semanas.’


Ele garantiu que o ministério tomou todas as medidas preventivas para evitar que casos da doença aparecessem, montando uma barreira sanitária nas áreas de risco e protegendo Estados e municípios contra a febre amarela. ‘E, de imediato, convocamos as pessoas que vão viajar ou moram em áreas de mata para tomar a vacina.’


‘Se você não mora ou não viaja para essas regiões, não precisa se vacinar. Quem já se vacinou pode ficar tranqüilo: o efeito da vacina protege as pessoas durante dez anos. Portanto, só procure os postos de saúde se morar ou for visitar as áreas de risco e nunca se vacinou ou foi vacinado antes de 1999’, disse.


O Ministério da Saúde recomenda que sejam vacinadas todas as pessoas que irão viajar para matas ou áreas rurais das regiões consideradas ‘endêmicas’, de ‘transição’ ou ‘risco potencial’ de febre amarela (veja quadro ao lado). Se a visita ficar restrita às áreas urbanas, não há necessidade da vacina.


No pronunciamento, o ministro afirmou que todos os postos de saúde estão abastecidos e que as autoridades sanitárias estão preparadas.


O Ministério da Saúde reforçou o envio de vacinas para os postos de saúde de todo o país. Em janeiro foram distribuídas 3.238.500 doses de vacina. A média mensal de envio em 2007 era de 961 mil doses por mês (11,5 milhões no ano).


O pronunciamento para TV e rádio foi gravado, em Brasília, na última sexta-feira. A decisão de divulgá-lo foi tomada ontem. Segundo a assessoria de imprensa, a iniciativa de ir a público foi do próprio ministro e não houve um pedido da Presidência da República para que essa providência fosse tomada.


Os dois casos confirmados de febre amarela foram o de Graco Carvalho Abubakir, 38, que morreu no último dia 8, e uma mulher de 42, que contraiu a doença em Mato Grosso do Sul e está internada em São Paulo.


O ministério aguarda resultados dos exames do espanhol Salvador Perez, 41, que morreu no sábado em Goiânia (GO) com suspeita da doença.


Dos casos suspeitos ou confirmados, 15 passaram por matas na região de Goiás. Nos demais, as pessoas estiveram em Mato Grosso do Sul, Pará, Minas Gerais ou Rondônia.


Em 2007, o Brasil registrou seis casos de febre amarela, sendo que cinco morreram.’


 


MÚSICA
Bruna Bittencourt


Jazz supremo


‘Durante cinco dias no fim de 1964, John Coltrane se isolou com seu saxofone no sobrado que havia acabado de comprar em Nova York. Quando reapareceu, sua esposa notou que ele estava especialmente sereno.


‘Esta é a primeira vez em que me veio toda a música que quero gravar. Pela primeira vez, tenho tudo, tudo pronto’, disse. No mesmo ano, Coltrane gravava ‘A Love Supreme’, uma suíte-marco da história do jazz, e, em suas palavras, ‘uma oferenda a Ele’.


A passagem acima é um dos relatos de ‘A Love Supreme – A Criação do Álbum Clássico de John Coltrane’, de Ashley Kahn. O autor norte-americano recupera todo o trajeto que Coltrane percorreu até a gravação do disco, em um retrato humano do jazzista, além de um panorama do gênero nas décadas de 50 e 60.


Kahn já havia se debruçado sobre os bastidores da gravação de outro importante álbum do jazz, em ‘Kind of Blue – A História da Obra-Prima de Miles Davis’ (ed. Barracuda). Ex-editor de música do canal VH1, professor da Universidade de Nova York, onde leciona uma matéria sobre Davis, Kahn conversou com a Folha por telefone. Leia trechos da entrevista.


FOLHA – Coltrane era extremamente dedicado a sua música. Depois de tantos anos praticando incessantemente, você acha que sua disciplina ultrapassou seu talento natural?


ASHLEY KAHN – Acho que ultrapassar não é o termo correto, mas potencializar. Ele trabalhou muito duro para levar seu saxofone ao nível que ele queria que sua música alcançasse. Era por isso que praticava e estudava teoria e harmonia da música sozinho, mesmo depois de deixar a escola de música -e muitos artistas param de estudar depois de atingir um certo nível. Ele não era um prodígio; Miles Davis também não. Os dois chegaram à sua sonoridade com sua carreira avançada. As pessoas não falaram de Coltrane ser um líder de sua música antes de ele ter 32, 33 anos. Não acho que ninguém tenha trabalhado tão duro quanto ele.


FOLHA – O que mais lhe surpreendeu durante a processo de pesquisa de ‘A Love Supreme’?


KAHN – Coltrane era muito atento e atuante no lado prático de sua carreira, do ‘business’. Ele lidava com contratos, por exemplo; não era aquele santo que não podia tocar no dinheiro. Era bem esperto e consciente sobre o que estava fazendo com sua carreira.


FOLHA – A década de 60 foi a das religiões, de uma nova espiritualidade, material para Coltrone compor ‘A Love Supreme’. Você acha que o disco teria a mesma aceitação se fosse lançado nos dias de hoje?


KAHN – Provavelmente não. Também não acho que o disco teria a mesma forma. ‘A Love Supreme’ veio na hora certa. A espiritualidade dos anos 60 começou em 1965, 1966, o que coincide com o período do disco. Obviamente, não foi a única razão pela qual as pessoas se tornaram espirituais – veja os Beatles. Mas a espiritualidade da banda parecia indefinida e barata comparada à enorme dedicação de alguém como John Coltrane.


FOLHA – Como você escreveu, é difícil falar sobre Coltrane sem parecer exagerado. Como lidou com isso?


KAHN – Foi difícil. A verdade é que Coltrane era mesmo um indivíduo incrível. Era um herói espiritualmente e musicalmente. Don Cherry, que tocou com Ornette Coleman, conta sobre a atenção que ele tinha em viver bem, o que o tornou um músico melhor. Dia a dia, ele se preocupava em ganhar dinheiro, em montar sua banda. Isso é o que tentei fazer: mostrar o grande homem por trás da música.


FOLHA- Alguns críticos acham que Coltrane foi a última grande inovação do jazz. Você concorda?


KAHN – Ele foi uma das últimas grandes influências. Há sempre coisas novas acontecendo no jazz, mas nada importante o suficiente para a cena se mover em outra direção. Se você quiser mesmo medir onde o jazz está hoje, terá que ir além dele para achar onde estão seus limites -a palavra ‘jazz’ não abriga todas essas experimentações e fusões com outros estilos. E se você pensar no jazz deste jeito, ele progrediu de muitas maneiras desde a morte de Coltrane. Isso foi tão importante quanto ele? Não. Músicos como Coltrane não surgem com freqüência.


FOLHA – Depois de escrever ‘Kind of Blue’ e a ‘Love Supreme’, como você compara Coltrane e Davis? O que eles representam para o jazz, assim como esses dois discos?


KAHN – Ambos representam o início do mais influente período da improvisação moderna – não me refiro somente ao jazz, porque suas influências vão além do gênero. Eles traduziram e evoluíram o som de Charlie Parker e Dizzy Gillespie -o verdadeiro começo do jazz moderno. E ainda estamos lidando com suas descobertas. Não acho que se possa dizer que estes sejam seus álbuns representativos, já que suas trajetórias compreendem muitas mudanças de estilo. Mas são álbuns que representam o retrato da música deles, a emoção de suas personalidades: a serenidade de ‘Kind of Blue’ é Miles Davis, assim como a passionalidade e espiritualidade de ‘A Love Supreme’ é Coltrane.


FOLHA – Seus três livros sobre jazz focam a mesma época, as décadas de 60 e 70. Você acha que este foi o período mais fértil do gênero?


KAHN – Nos anos 60, diferentes estilos de jazz estavam acontecendo ao mesmo tempo, nos mesmos clubes e festivais. Havia Louis Armstrong, Duke Ellington, Count Basie, Dizzy Gillespie e muitos outros nomes do bebop. Havia ainda gente nova, como Davis e Coltrane, começando a acontecer; Ornette Coleman e o avant-garde. Foi um período muito especial para o jazz.


FOLHA – Seu livro é acessível mesmo para quem não é familiarizado com o jazz. Você acha que o gênero é tratado com uma erudição desnecessária?


KAHN – Claro. Esse foi meu objetivo. Muito da literatura do jazz é feita para pessoas que já conhecem aquilo. Jazz é música que entra pelos ouvidos e vai para o coração -e é só o que você precisa para ouvi-lo. Muitos alunos me dizem que até gostam de jazz, mas que não sabem muito a respeito. O conhecimento, porém, não é necessário para ouvir.’


 


TELEVISÃO
Lúcio Ribeiro


‘Lost’ estréia pela metade nos EUA


‘Os seguidores da série ‘Lost’ nos EUA (e na internet) já têm data para soltar a respiração, presa desde a espetacular reviravolta que foi o episódio final da última temporada, a terceira, exibido em 23 de maio de 2007. O truncado ano quatro, com um total de apenas oito episódios, começa a ir ao ar na TV a partir de 31 de janeiro, com seu enredo já bastante especulado no mundo virtual.


A misteriosa série dos sobreviventes de um acidente de avião numa ilha estranha e aparentemente sem comunicação com o resto da humanidade chega ao Brasil em sua quarta temporada em algum momento de março ou abril, em data a ser definida ainda pelo canal pago AXN. Na TV aberta, a Globo passa a mostrar a terceira temporada, a que tem Rodrigo Santoro, a partir de 26/2.


Há praticamente oito meses longe da TV, a série quase não volta à TV americana em 2008, devido à greve dos roteiristas nos EUA. Com metade dos episódios prontos dos 16 programados para a nova temporada, os produtores de ‘Lost’ decidiram que vão para o quarto ano da série com o que tem. A série declaradamente durará mais três temporadas, contando com a quarta. Para 2008, se a greve acabar (e logo), os produtores podem voltar à idéia de 16 episódios. Mas, como tudo em ‘Lost’, são só suposições.


Jack e Kate fora da ilha? Quem ficou lá? Quem está morto naquele caixão? Kate está grávida de quem? Quem são as pessoas no barco que vão ‘salvar’ os sobreviventes? Michael volta? Como assim Charlie e Libby, que morreram na ilha, retornam vivos à trama?


Deixando no ar muito mais perguntas do que de costume, ‘Lost’ terminou a terceira temporada com uma surpresa em sua estrutura narrativa. Desde 2004 intercalando flashback (a vida pré-acidente dos personagens) com cenas do presente (a sobrevivência na ilha), sem avisar ‘Lost’ mesclou cenas capitais da ilha com ‘flash-foward’ (acontecimentos à frente do tempo da ação). Muitos fãs perceberam a mudança quase no fim do episódio.


O ator principal da série, Matthew Fox, começou as filmagens do episódio final achando que estava encenando os flashbacks. No ‘futuro’ de ‘Lost’, ficamos sabendo que Kate (Evangeline Lilly) e Jack (Fox) escaparam da ilha, de alguma forma. Jack se encontra em desespero. Foi a um velório de alguém que lamentou muito. Está viciado em bebida e remédio. E passa os dias estudando mapas e voando o trajeto fatídico entre Los Angeles e Sydney, torcendo para que o avião caia e ele assim voltar à ilha, a qual continua sem a mínima idéia da localização.


Os trailers da quarta temporada estão há tempos no YouTube, que contém ainda um vídeo que resume as três temporadas em oito minutos e 15 segundos. A duração faz parte dos números malditos de ‘Lost’. Mas aí já é outra história.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 14 de janeiro de 2008


NYTIMES
O Estado de S. Paulo


Jornal relata casos de crimes de veteranos


‘O jornal The New York Times deu início ontem a uma série de reportagens sobre soldados envolvidos em crimes nos EUA. O diário levantou 121 casos de veteranos do Iraque e Afeganistão, envolvidos em casos de homicídios depois de voltarem para casa. Os casos revelam a crescente dificuldade dos militares de lidarem com o stress da guerra.’


 


TV DIGITAL
Renato Cruz


Parceria na TV digital é exceção


‘A TV digital que estreou em dezembro na Grande São Paulo é resultado de uma parceria entre o Brasil e o Japão. O sistema brasileiro é uma evolução do sistema japonês, com um padrão mais avançado de compressão de vídeo e um software de interatividade criado por pesquisadores do Brasil. ‘É um padrão nissei’, brinca Virgílio Amaral, diretor de Tecnologia da TVA.


Em 2000, a Universidade Mackenzie comparou o padrão japonês com o americano e o europeu. A tecnologia do Japão teve a melhor performance, e foi escolhida como base do sistema brasileiro. É o padrão mais bem preparado para a mobilidade, com recepção em celulares.


O lançamento da TV digital aproxima o Brasil do Japão no setor de tecnologia, e abre espaço para a cooperação tecnológica e o intercâmbio comercial.


‘Existe um estímulo de ambos os governos para alianças’, afirmou Yasutoshi Miyoshi, presidente da Primotech21, que representa fabricantes japoneses de componentes eletrônicos no País. Vários técnicos japoneses, de empresas como NEC e Toshiba, vieram ao Brasil para auxiliar no lançamento da TV digital.


Em abril de 2006, um grupo de representantes do governo brasileiro visitou Tóquio para negociar um acordo de TV digital com o Japão. Participaram os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores), Hélio Costa (Comunicações) e Luiz Fernando Furlan (então à frente do Desenvolvimento). Em junho do mesmo ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que oficializou a escolha. O ministro japonês do Interior e das Comunicações, Heizo Takenaka, participou da cerimônia em Brasília.’


 


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Festival de Cannes terá mudanças


‘A 55ª edição do Festival Internacional de Publicidade de Cannes, que acontecerá entre 15 e 21 de junho na Riviera Francesa, deu largada no último dia 10, com a abertura das inscrições para os delegados que movimentam o maior encontro do meio publicitário mundial. No ano passado, passaram pelo evento cerca de 9 mil profissionais de 85 países. A expectativa para este ano é semelhante.


Entre as novidades da programação para 2008 estão desde a introdução de Design como uma nova categoria, com direito aos troféus em forma de Leões, até a confirmação, como palestrante, do magnata das comunicações Rupert Murdoch, dono da News Corp., que recentemente adquiriu o americano Wall Street Journal, um dos mais respeitados jornais de economia do mundo. Na edição anterior, o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, foi a estrela do evento, com sua cruzada em prol do meio ambiente.


O festival também se adapta aos novos tempos digitais com a criação de uma subcategoria na mais prestigiada das premiações, a de filmes, que contempla os comerciais criados para televisão e que deu origem à premiação na década de 50. Cannes 2008 vai contemplar também os filmes criados para outras plataformas. ‘No ano passado, a campanha que se sagrou vitoriosa (o filme viral da Unilever para a linha Dove, visto no YouTube, e que conquistou a categoria máxima, o Grand Prix de Filmes) foi criada para a internet, mas teve de ser veiculada uma vez na televisão para poder concorrer’, lembra Marcello Serpa, sócio e diretor de criação da AlmapBBDO .


Para Serpa, o crescimento de outros suportes, como o próprio YouTube, não pode mais ser deixado em segundo plano. Basta lembrar que a Rainha Elizabeth II, usou a internet para dar a sua tradicional mensagem de fim de ano aos ingleses. O fundador da Microsoft, Bill Gates anunciou, na semana passada, sua aposentadoria utilizando um divertido filmete, que também faz sucesso na web.


‘Qualquer agência hoje em dia cria filmes para outros canais que não a televisão’, diz Serpa, ao reconhecer a necessidade da premiação diferenciada. Mas, para ele, a discussão deveria ser diferente. ‘Há um exagero em se valorizar a plataforma, quando o que conta é o conteúdo. Os jurados vão se preocupar é com a idéia.’


Mas, se a subcategoria em filmes ganha apoio, a recém-criada Design chega com atraso, na opinião de Alessandra Garrido, sócia-diretora da Design Absoluto, empresa que, há cinco anos, se dedica a buscar soluções com essa ferramenta de comunicação para clientes como Unilever, Danone, Kraft e Hershey?s. ‘É difícil achar profissionais nessa área para contratar porque é um segmento pouco valorizado’, diz. ‘Espero que, com o glamour de Cannes, o design ganhe impulso.’


Já estão definidos alguns dos presidentes dos dez júris que vão escolher os melhores trabalhos entre as mais de 25 mil peças que todos os anos são inscritas. Na categoria de projetos de Mídia, o selecionado é Dominic Proctor, que comanda a MindShare Worldwide, uma das maiores empresas de gerenciamento de investimentos em canais de comunicação. Para ele, nunca o papel desse profissional foi tão valorizado, já que definir onde e como a mensagem do anunciante deve ser veiculada tornou-se uma tarefa bem mais complexa com o avanço das tecnologias digitais.


Os aparelhos móveis, como celulares, palms e tocadores de MP3 e MP4 vão se tornando parte central do comércio, do sistema de pagamento e da circulação de conteúdo na vida contemporânea, um caminho sem volta na avaliação de muitos analistas. E esses canais são mídias a serem trabalhadas. ‘Integrar todos eles requer profissionais mais preparados. Isso já está acontecendo e é ótimo que Cannes valorize essa tendência’, diz Ângelo Frazão, diretor de Mídia da McCann Erickson.


Além das premiações, Cannes também é importante para o meio publicitário por contar com uma extensa pauta de assuntos que discutem a natureza do negócio. ‘Ali se cria um ambiente de discussão que se tornou imprescindível para o profissional da área’, diz Claudio Santos , diretor-corporativo de Publicidade do Grupo Estado. O jornal O Estado de S. Paulo é o representante oficial do festival Brasil.’


 


LITERATURA
Antonio Gonçalves Filho


A virada da José Olympio


‘Ela começou como uma editora de auto-ajuda, em 1931, publicando um livro americano que prometia o conhecimento por meio da auto-análise. Transformou-se mais tarde na casa que abrigou alguns dos maiores autores brasileiros do século 20, entre eles José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Rachel de Queiroz. Hoje um braço do grupo Record, a editora José Olympio revive os bons tempos com uma diretora que segue os passos de seu fundador, a jornalista Maria Amélia Mello, veterana da área editorial que trabalhou ao lado de um mito do mercado livreiro, Ênio Silveira (1925-1996), responsável, nos anos 1950, pela mudança de perfil da editora Civilização Brasileira, hoje também incorporada ao grupo Record. Em nova fase, a José Olympio traz de volta para casa autores e títulos fora de catálogo, passando este ano a reeditar a obra completa de alguns de seus maiores escritores.


O relançamento mais recente é o delicioso livro do advogado, jornalista e acadêmico fluminense José Cândido de Carvalho (1914-1989), O Coronel e o Lobisomem, retrato bem-humorado de um Brasil patriarcal construído com lendas do folclore da zona açucareira do norte fluminense. Outros grandes autores vão fazer companhia a Cândido de Carvalho na estante das obras completas da José Olympio: Aníbal Machado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz. Além de colocar novamente nas livrarias obras que estão fora de catálogo, a editora Maria Amélia, desde 2002 no grupo Record, criou há um ano a coleção Sabor Literário, que alimenta o mercado com textos inéditos ou inusitados: Thoreau, Virginia Woolf e João do Rio abriram uma lista imensa que este ano cresce com livros de Elias Canetti, Alice Walker e Hermann Hesse.


Não satisfeita, a editora foi atrás das obras de grandes escritores norte-americanos hoje injustamente esquecidos, como Arthur Miller, Lillian Hellman e Carson McCullers, procurando ainda seus possíveis sucessores (leia nesta página textos sobre eles). Selecionou alguns candidatos, entre eles Arthur Phillips, autor de 39 anos educado em Harvard que fez um enorme sucesso com Praga, publicado aqui em tradução da mesma José Olympio, que lança este ano O Egiptólogo, seu penúltimo romance (o último é Angélica, publicado em abril do ano passado nos EUA).


Por fidelidade à linha original da editora, os autores nacionais são privilegiados nesta retomada, a começar pelo poeta Manuel Bandeira, que ganha ainda este mês a antologia Belo Belo e Outros Poemas, edição ilustrada destinada a atrair leitores jovens para a obra do poeta recifense. Além de ter abrigado os maiores nomes do regionalismo nordestino, a José Olympio abriu espaço para a poesia moderna de Drummond e contemporâneos. Fiel a esse espírito pioneiro, a editora publica este ano o novo livro do poeta maranhense Ferreira Gullar (ainda sem título), relançando ainda Muitas Vozes (1999). E, para a geração que não conheceu os poetas dos anos 1960 a 1980, reservou uma antologia poética preparada pelo professor Italo Moriconi com poemas de Ana Cristina César, Leminski, Torquato Neto e Wally Salomão, quase todos mortos ainda jovens.


Essa volta ao passado não significa retromania nem nostalgia. A editora Maria Amélia, assídua freqüentadora dos sebos cariocas, se diz impressionada com o número de títulos que evaporam sem deixar vestígios no mercado editorial. E, num ‘trabalho de ourives’, garimpou alguns deles, colocando o Brasil para repensar sua história. Começa já este mês com a publicação de uma obra fundamental sobre a formação das elites na sociedade colonial brasileira: O Teatro dos Vícios, do sergipano Emanuel Araújo. É um grande livro, publicado há 15 anos e escrito por um pesquisador morto há oito anos e um tanto esquecido pelos editores.


Outro autor dedicado à história do Brasil lembrado este ano é o fluminense João Felício dos Santos, que tem algumas de suas biografias históricas relançadas pela José Olympio. O cineasta Cacá Diegues, que o dirigiu em Xica da Silva, baseado em seu livro, não cansa de exaltar as qualidades de ficcionista do escritor, cujas biografias de Carlota Joaquina, Mestre Athayde, Calabar e Anita Garibaldi voltam às estantes numa iniciativa da editora.


O dramaturgo, romancista, poeta e pintor paraibano Ariano Suassuna, que completou 80 anos em 2007, ganha de presente ainda neste primeiro semestre uma seleção de suas crônicas publicadas em jornais desde 1961, Almanaque Armorial. Por falar em 80 anos, o modernista Raul Bopp (1898-1984) tem nova edição de seu poema Cobra Norato no ano em que se comemoram oito décadas do Manifesto Antropofágico escrito por Oswald de Andrade. E, para não esquecer o centenário de morte de Machado de Assis, o escritor será lembrado na nova edição do estudo crítico e biográfico do modernista gaúcho Augusto Meyer, de 1935.


Veteranos redescobertos


Poucos editores se interessariam por uma história em que uma garota judia, não particularmente bonita, casa com um comunista e dele se divorcia para viver uma vida independente quando o marido traído volta da guerra, mesmo que essa história tenha sido escrita por um dos maiores dramaturgos norte-americanos, Arthur Miller (1915-2005). O livro, Plain Girl (traduzido como Feia de Rosto), é uma das pérolas da coleção Sabor Literário e traduz a intenção de resgatar do limbo editorial títulos que outros editores considerariam veneno de livraria.


Miller vai juntar-se a outra grande autora do teatro americano, Lillian Hellman (1905-1984), nessa coleção de pequenos grandes livros com um discreto projeto gráfico identificado por uma cerejinha. Primeira mulher a ser indicada para o Oscar de melhor roteirista, Hellman foi perseguida pelo comitê de atividades antiamericanas em 1952 e amargou um longo período de ostracismo, sendo colocada na lista negra a exemplo de Miller, ambos denunciados pelo cineasta Elia Kazan. Dela, a editora Maria Amélia Mello resgatou a peça The Little Foxes, de 1939, crítica corrosiva de Hellman à ambição americana na figura de uma mulher em busca de dinheiro e poder.


O caso de Lillian Hellman mostra como a editora persegue obsessivamente suas metas. Ela não conseguia encontrar a tradução da peça por Clarice Lispector (e Tati de Moraes), pois o título brasileiro (Os Corruptos) em nada correspondia ao original. Finalmente, conseguiu localizá-la e ela sai no primeiro semestre, trazendo na esteira Carson McCullers (1917-1967). Dela a José Olympio relança A Balada do Café Triste, romance de 1951 sobre um desequilibrado triângulo amoroso. E a lista de veteranos não fica por aí. A editora já recuperou a obra de John Fante e ataca brevemente na Europa, trazendo de lá um conto autobiográfico do escritor suíço-alemão Herman Hesse, A Infância do Mago.


Novas apostas


Como reconhecer um autor novo capaz de fazer uma carreira literária respeitável é um talento para poucos editores. Mas, desde que o norte-americano Arthur Phillips estreou em 2002 com sua ambiciosa novela Praga, a atenção da editora Maria Amélia Mello voltou-se para ele (que completa 39 anos em abril) e outros nomes de sua geração, como Jon Fasman. No mesmo ano em que Phillips estreava, Fasman se mudava para Moscou e começava a preparar o ambicioso primeiro livro The Geographer?s Library (A Biblioteca do Geógrafo), lançado nos EUA em 2005. O que ambos têm em comum é a imaginação delirante. Phillips, em O Egiptólogo, ambienta seu livro no Egito dos anos 1920, cruzando a história de um obscuro arqueólogo e um faraó visionário, no melhor estilo Umberto Eco. Fasman é um Dan Brown intelectualizado, que combina histórias de detetive com filosofia.


O livro de Fasman, A Biblioteca do Geógrafo, foi descrito pela crítica americana como uma coleção de histórias interligadas dentro do gênero ?arcane thriller? – em que um acadêmico tenta desvendar mistérios de sociedades secretas . Pertenceria, enfim, à estirpe de O Código Da Vinci e outros best sellers, como A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafon, não fosse Fasman um erudito ainda mais ambicioso.


No terreno da erudição, o troféu ainda fica com Edward P. Jones, afro-americano de 57 anos, autor de The Known World (O Mundo Conhecido) e ganhador do Pulitzer (2004) de ficção por esse segundo livro que coloca senhores de escravos e escravos (brancos e negros) em conflito. Um deles, Moses, come sujeira para que seu alimento seja compatível com a vida que leva.


Outra aposta da editora é a vietnamita Monique Truong, de 39 anos, que mora nos EUA desde 1975 e é autora do premiado O Livro do Sal, que será lançado ainda este ano. O livro conta a história (inventada) do cozinheiro de Gertrude Stein e Alice B. Toklas, sem destino quando suas patroas voltam para os EUA. E a José Olympio garante que não pára por aí. Novas surpresas aguardam os leitores.’


 


FOTOGRAFIA
Roberta Pennafort


A Paris sem pressa de Fernando Rabelo


‘Deslumbrante, convidativa e cheia de surpresas a cada esquina, Paris talvez seja a cidade mais fotografada do mundo. Mas mesmo quem já se deslumbrou com as imagens clássicas, em preto-e-branco, de Henri Cartier-Bresson, André Kertész e Robert Doisneau, não deixa de se encantar com novos ângulos, cores e facetas da capital francesa, registrados por profissionais ou mesmo por viajantes embevecidos.


O fotógrafo mineiro Fernando Rabelo, que viveu por lá de 1973 a 1979 (era adolescente e foi levado pelos pais, perseguidos pela ditadura militar), descobriu o amor pelo ofício em meio às suas pontes, edifícios, igrejas e avenidas. Quase 30 anos depois, em 2005, já tendo passado pelas maiores redações de jornal do País (foi editor de Fotografia do Jornal do Brasil), ele voltou a Paris. O resultado desse reencontro está em Imagens de Um Flâneur Brasileiro em Paris, exposição em cartaz até o dia 27 no Centro Cultural Justiça Federal, na Cinelândia, no centro do Rio.


A mulher envolta numa cortina numa loja de Montmartre, as estátuas pichadas no cemitério Père Lachaise, o homem solitário caminhando à beira do Sena, o porco assado no espeto no Quartier Latin, o bistrô em Marais, a Ile de la Cité – tudo isso compõe a nova Paris de Rabelo, que, quando jovenzinho, fazia seus cliques despretensiosamente.


‘A cidade mudou muito. É preciso ter disposição de flâneur para capturar essas imagens’, ele explica, lançando mão da figura mítica que caminha pelas ruas aparentemente desatento, sem destino, sem pressa. Pressa é algo que nada teve a ver com a experiência do fotógrafo em Paris. São 40 imagens produzidas entre setembro de 2005 e junho de 2006, com todo o tempo do mundo para esperar a melhor luz e o instante mágico. ‘Eu não tinha compromisso. Se precisasse, voltava no dia seguinte para fazer a foto’, conta.


Nesta incursão, Rabelo retornou a lugares em que havia estado quando garoto. Munido de sua câmera (analógica) e tripé, flanou dia e noite. Captou a mulher lendo preguiçosamente nos Jardins de Luxemburgo, o Trocadero, a fachada da nova Ópera de Paris, o Palais Royal. E ainda algumas manifestações violentas de estudantes. Prédios, parques, pontes – à luz do sol ou sob bela iluminação artística, um pouco do encanto de Paris está na mostra, abrigada no majestoso prédio do Centro Cultural Justiça Federal.’



TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Lost pode ser visto na internet


‘A terceira temporada de Lost pode chegar antes à internet e deixar a Globo para trás. O Terra adquiriu um pacote de atrações da Buena Vista e já está exibindo em seu portal os episódios da primeira fase da série de Damon Lindelof. Os vídeos são divididos em quatro partes e podem ser acessados gratuitamente pelos internautas a qualquer hora. E nem é preciso ser assinante para conferir as atrações.


A primeira temporada de Desperate Housewives acaba de estrear no Terra TV, que ainda exibe os primeiros anos de Criminal Minds, Ghost Whisperer e Commander in Chief – a atração protagonizada por Geena Davis, que durou apenas uma temporada -, assim como o último ano de Alias, a série cult de J.J. Abrams. Em breve, o portal vai estrear Grey’s Anatomy, outro programa de peso da gigante Buena Vista, e Scrubs.


Segundo o presidente do Terra, Paulo Castro, a negociação com estúdios e produtoras começou em 2006. Hoje o portal conta com conteúdos da Fox, da Discovery, da Turner, além do pacote da Buena Vista, que também inclui filmes. ‘O conteúdo é gratuito porque é baseado em publicidade e, após a estréia, as atrações ficam disponíveis em arquivos para o internauta assistir quando quiser’, fala Castro.


Os episódios das séries não possuem uma periodicidade certa para estrearem no portal, mas Lost, por exemplo, terá um capítulo por dia no ar.


Castro explica que a janela para a exibição das séries é igual à de TV aberta, ou seja, quando um título está disponível para ir ao ar em redes abertas, ele está também liberado para ser colocado na internet. Seguindo essa política, se a Globo seguir adiando a exibição de Lost, o Terra vai mostrar antes os episódios inéditos na TV aberta e, o melhor, com legendas.’


 


 


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