‘Os livros de capa cor-de-rosa fazem vista nas lojas de todo o mundo e a alegria dos editores. Revigorados depois de sucessos como Bridget Jones e, principalmente, Sex And The City, eles chegam numa velocidade surpreendente para satisfazer todo tipo de mulher. Nos últimos dias, chegaram às prateleiras Janey Wilcox, de Candace Bushnell, e mais um volume da série Gossip Girl, de Cecily von Ziegesar, entre outros.
O mercado cresce e se criam subgêneros, que basicamente acompanham a faixa etária das leitoras. Há desde os livros de Danielle Steel para as mais maduras até os da série Diários da Princesa, para as pré-adolescentes.
‘É um dos segmentos mais estáveis. Você tem poucos livros que fiquem abaixo da média de sucesso’, diz a diretora editorial da Record, Luciana Villas-Boas. A Record é, com certeza, a editora brasileira que investe mais pesado neste tipo de livro, concentrando os títulos de maior sucesso nos Estados Unidos e na Europa. Foi a própria Luciana que, numa tacada digna de uma personagem de Margarida Rebelo Pinto, comprou há dez anos os direitos autorais de Bridget Jones antes mesmo de ele sair na Inglaterra.
Mulheres lêem mais do que homens. E são os números deste segmento que demonstram isso. O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding, vendeu no Brasil 107 mil exemplares; Sex And The City, 25 mil; e Meg Cabot, com sua série Diário da Princesa, já vendeu no Brasil 230 mil exemplares. Marcas todas impressionantes, a se levar em conta o fato de que a tiragem média no País é de 2 mil exemplares.
Não é muito difícil detectar por que este tipo de livro faz sucesso. Ainda que não mudem os rumos da literatura, são bem escritos, ágeis e, sobretudo, bem-humorados. Com Bridget Jones, a mulher descobriu que poderia rir de si mesma. Mas com Sex And The City, de Candace Bushnell, ela percebeu que poderia rir de si mesma e continuar charmosa e bem-vestida. ‘Nós, depois do sucesso de Bridget Jones, notamos que havia uma nova mulher, interessada num livro muito mais baseado no humor. Essa é a grande diferença das autoras antigas, que se baseavam no drama, que queriam provocar o choro’, explica Luciana.’
***
‘Candace Bushnell e a vida da garota moderna’, copyright O Estado de S. Paulo, 27/08/05
‘Candace Bushnell não está para brincadeiras. Em Janey Wilcox, Alpinista Social, (Editora Record, R$ 49,90, 517 págs.) seu novo romance a ser traduzido e lançado no Brasil, a escritora que ficou conhecida por Sex and the City vem dizer do que uma mulher é capaz. Muito diferentemente de Carrie, a heroína charmosa que ganhou vida ao ser interpretada por Sarah Jessica Parker na TV, Janey Wilcox é uma espécie rara de self-made woman que mede esforços para ascender.
Depois de muito batalhar, aos 33 anos, Janey consegue um contrato de modelo da marca de lingerie Victoria’s Secret – coisa que, nos Estados Unidos, é como ser madrinha de bateria num carnaval que dura o ano todo. E tem para si que o campo de batalha mais fértil está mesmo entre lençóis – de seda, por favor.
Por isso, Janey, logo nas primeiras páginas, causa um certo desconforto ao leitor. Principalmente aliás, à leitora, que tende a rejeitá-la e julgá-la, mas que, por fim e se dá conta de que a identificação com uma causa feminina maior é inevitável.
Muitas vezes também cruel com Janey ao longo do livro, nesta entrevista exclusiva ao Estado, Candace defende sua personagem com unhas e dentes, a quem classifica como uma Madame Bovary pós-moderna. E conta um pouco sobre seu novo romance, Lipstick Jungle, que chega às livrarias americanas no começo do mês.
Depois de Carrie Bradshaw, uma heroína clássica, como foi o processo de criação de Janey Wilcox?
Criar Janey Wilcox foi muito divertido. Ela é mais heroína clássica do que Carrie, literariamente falando. Na maioria das novelas clássicas, a heroína – ou até mesmo a anti-heroína, é uma mulher que não está inserida na sociedade, e está constantemente procurando seu lugar. Madame Bovary é o perfeito exemplo da anti-heroína e acho que Janey está nesta categoria.
Todos gostariam de ser amigas de Carrie. Você gostaria de ser amiga de um tipo como Janey Wilcox?
Eu sou fascinada com as Janey Wilcoxes do mundo. Eu tenho duas amigas, aliás, que foram como Janey. Toda mulher conhece uma mulher com Janey ou tem amigas como ela. Ela é a amiga que está sempre envolvida em algum drama; ela é interessante, porém um pouco perigosa… Enquanto a gente se engana achando que a maioria das mulheres é como Carrie Bradshaw, a verdade é que há vários tipos de mulheres que fogem a este estilo e que não são tão legais assim.
Como você vê este mercado de livros femininos?
Muitos destes ‘chick lit books’ são entretenimento – outros são mesmo estúpidos. O que me deixa um pouco aborrecida é que os leitores se contentam em ler livros que não mudam nada, não fazem diferença. Eu sempre tento fazer diferença com meus livros, ousando com personagens que não são exatamente simpáticos, com Janey Wilcox.
A trajetória de Janey faz lembrar uma música da Madonna, What Is Feels Like for a Girl.
Eu adoro esta música também, é uma letra muito poderosa! O mundo está sempre dizendo a Janey Wilcox para ser uma perdedora, e quando ela fica raivosa e tenta mudar isso, o mundo quer puni-la. Eu sou mais velha que Janey, e é engraçado, porque quando você é mais velha já não sente mais este tipo de pânico diante da vida. Quando você está no meio do caminho, pensa que não vai conseguir sair da situação, mas a verdade é que, quando mais velha, vê que se trabalhar duro e ousar confiar em si mesma, aproveitando as oportunidades, a vida será melhor.
E os novos projetos?
Vou lançar um novo livro em setembro, chamado Lipstick Jungle. É sobre um tipo especial de mulher que se vê em Nova York que é superbem-sucedida e não é uma ‘dragon lady’. Tenho certeza de que ele causará um pouco de controvérsia porque as pessoas (inclusive mulheres) ainda não estão confortáveis com a idéia de que há mulheres mais bem-sucedidas que os homens. As personagens são fortes, vencedoras.’
***
‘Estantes tingidas de rosa e livros com muitos sotaques’, copyright O Estado de S. Paulo, 27/08/05
‘Apesar de totalmente assimilado pelas brasileiras, a literatura tipicamente feminina e modernosa ainda não deu frutos muito expressivos no Brasil. Em Portugal, sim. Margarida Rebelo Pinto se tornou um inesperado best seller logo no seu livro de estréia, Sei Lá, inaugurando a escrita pop portuguesa. Alma de Pássaro (Editora Record, 304 págs., R$ 34,90), chega agora às livrarias brasileiras, depois de Não Há Coincidências.
Margarida mantém as qualidades, usa o mesmo marketing e recebe os mesmos elogios e críticas das suas correspondentes americanas e inglesas. É reverenciada por levar frescor ao mercado português de livros e crucificada por ser comercial – aquela velha discussão sobre ser ou não best seller. Ela dá de ombros e segue feliz da vida.
Como Candace Bushnell, de Sex and the City, ela mantém uma coluna sobre comportamento num jornal, laboratório de seus ensaios sobre a vida nas grandes metrópoles, sobretudo para a mulher. Em Alma de Pássaro, ela fala de Inês, mulher de 35 anos, que tem uma filha e está às voltas com um amor dez anos mais novo. Para o leitor brasileiro, há um charme a mais: a editora opta por não ‘traduzir’ a escrita portuguesa da autora.
PATRÍCIAS
Transitando numa faixa etária mais abaixo, Cecily von Ziegesar tem causado furor entre adolescentes com a série Gossip Girl. Ex-patricinha assumida – se é que tem cura para isso -, ela aproveita sua própria experiência para contar os bastidores pouco singelos da vida das meninas mais ricas de Nova York. O terceiro volume da série, Eu Quero Tudo! (Record, 288 págs., R$ 32,90), acaba de ser traduzido.
Também na mesma linha de Candace Bushnell, Cecily parte do princípio de que patricinha é patricinha em qualquer país. ‘As heroínas de Gossip Girl são humanas, iguais a outras adolescentes, mesmo tendo belas roupas e vivendo em apartamentos bacanas’, diz Cecily, em entrevista ao Estado.
Cecily, de certa forma, rejeita a comparação com Candace Bushnell, apesar de o marketing de Gossip Girl vendê-lo como o ‘Sex and the City para adolescentes’. ‘Ali, a cidade era quase um personagem do livro. No meu caso, o lugar pouco importa, o que vale é que estou contando a história de um grupo de adolescentes.’’
TELEDRAMATURGIA
‘TVs investem em oficinas de roteiristas’, copyright O Estado de S. Paulo, 27/08/05
‘Para fugir dos altos salários dos contratados pela Globo, Record e SBT promovem oficina e concurso para roteiristas, com o objetivo de encontrar novos talentos para seus núcleos de teledramaturgia. A Record, que está investindo pesado na área e já comprou estúdios no Rio para produzir novelas simultaneamente, acaba de colocar em seu site o regulamento do concurso.
Os roteiristas têm de mandar uma sinopse inédita de 20 páginas, com listas de personagens, cenários e locações para a sede em São Paulo. O prazo final é dia 31 de outubro.
Os autores das três melhores histórias ganharão prêmio em dinheiro e não necessariamente um emprego. O primeiro colocado embolsará R$ 20 mil. O segundo, R$ 10 mil, e o terceiro, R$ 5 mil. De acordo com o diretor de Teledramaturgia da Record, Hiran Silveira, o mais importante é movimentar a área e, se alguém se destacar, será aproveitado pela casa.
Atualmente, a Record tem três autores contratados. Além de Lauro César Muniz (que estreará o segundo horário de novelas), Tiago Santiago prepara a novela Prova de Amor, em que Marcelo Serrado será o vilão. Tiago trabalha com três colaboradores: Altenir Silva, Anamaria Nunes e Luiz Carlos Maciel. O autor de Essas Mulheres, Marcílio Moraes, conta com a ajuda de Rosane Lima, Bosco Brasil e Cristianne Fridman.
No SBT, em que a promessa para um segundo horário de novelas é antiga, os 15 candidatos selecionados participam de uma oficina – 353 pessoas com experiência na área se inscreveram pela internet entre 29 de julho e 15 de agosto. As aulas, que vão durar sete semanas, são coordenadas pelo diretor de Teledramaturgia David Grimberg e pelo dramaturgo Calixto de Inhamuns. Segundo Grimberg, três alunos serão escolhidos e contratados pelo SBT. Atualmente, o núcleo conta com o escritor Marcos Lazarini, responsável pela trama Os Ricos também Choram (o texto original é da mexicana Inês Rodena) e com três roteiristas: Aimar Labaki, Gustavo Reiz e Conchi.’
TV / MELHORES & PIORES
‘Troféu Brasil 2005 – os melhores e piores programas de TV’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 26/08/05
‘Pelo terceiro ano consecutivo esta coluna tem o privilégio de anunciar os vencedores e perdedores do Troféu Brasil 2005. Trata-se do Oscar alternativo da TV brasileira. Um prêmio, um reconhecimento por parte dos críticos e seus leitores interativos. Em agosto, no mês do desgosto, escolhemos ‘juntos’ os melhores e, principalmente, os piores programas da nossa TV.
Este ano, para variar, tivemos uma verdadeira avalanche de programas ruins. Não faltam exemplos e sugestões dos amigos e leitores. O problema, no entanto, é encontrar os bons programas. Na TV aberta é quase impossível encontrar alguma coisa que não seja porcaria, baixaria ou, simplesmente, programas bons, mas muito, muito chatos. Assim como produto bom e barato, a TV carece de programas bons e divertidos de assistir.
Ainda bem que existe a TV a cabo. Após tantos anos de desacertos, continua sendo um privilégio para pouquíssimos brasileiros. Em um universo de mais de 150 milhões de telespectadores, somente 3,5 milhões de brasileiros assistem ‘legalmente’ à programação das TVs por assinatura. É claro que tem sempre o jeitinho brasileiro, tem muito ‘gato’ nas favelas dos pobres e nas favelas da classe média brasileira. Em tempos de mudanças e corrupção, os dois segmentos sociais estão cada vez mais próximos. Mas, se não fosse pela programação menos ruim da TV a cabo, o troféu Brasil certamente só teria lugar para premiar os piores programas. Mas esse ano vamos tentar privilegiar a programação da maioria dos brasileiros que somente assistem à TV aberta.
Então, mais uma vez agradecendo a prestigiosa colaboração dos amigos e amigas, todos como eu, assumidos viciados ou dependentes de TV, indicamos os vencedores do Troféu Brasil para os melhores e piores programas de TV, edição 2005.
Pior Telenovela
Na categoria Telenovela, em primeiríssimo lugar na classificação de Pior Novela de todos os tempos, apesar das belas ‘ninfetas’ que tanto impressionam os críticos e empresários de meia idade, anunciamos a imbatível, a extraordinária novela internacional de Glória Perez, América.
A votação foi unânime e o crítico não pode deixar de conferir e confirmar. Enquanto estive no Brasil, durante três meses, pude conferir diversos capítulos. Não há a menor dúvida. É a novela mais confusa, sem pé nem cabeça e, ao mesmo tempo, a novela mais perigosa que já assisti. Tem muito brasileiro, principalmente oriundo do glorioso estado de Minas Gerais, que assiste à novela para confirmar o desejo de emigrar para Miami. Nos EUA, tudo é uma maravilha. Até os americanos apaixonados pelos encantos irresistíveis da mulher brasileira falam português perfeitamente sem qualquer sotaque.
Sempre tive a maior dificuldade de acompanhar essa novela do crioulo doido. Não sabia nunca quem era americano ou quem era brasileiro. Também não sabia nunca onde os personagens estavam. Ora estavam em Miami e Barretos, cidades tipicamente americanas, ou no maravilhosa e pacato bairro de Vila Isabel – acho que ainda fica no Rio de Janeiro – uma cidade tipicamente brasileira. Pelo menos, na visão global do Brasil e do mundo. Ninguém merece tanta bobagem. É troféu Brasil garantido na categoria a Pior Novela de 2005 e possivelmente a pior novela de todos os tempos!
Grande audiência engana
Ah, mas e a audiência extraordinária. Fácil, fácil de explicar. É só ver o que está passando nos outros canais da TV aberta no mesmo horário. Impressionante. Ninguém ousa competir com novela da Globo naquele horário. Os tais outros programas são ainda piores. O pobre do telespectador que precisa assistir a TV, afinal, não tem mesmo outra opção, é refém do horário. Se colocarem qualquer porcaria, se colocarem qualquer novela no horário vai ser sempre melhor do que os outros. Troféu Brasil de Pior Novela para América, o sonho brasileiro. Sugiro o título da próxima novela no horário. Que tal, em vez de Belíssima, que tal Brasília, o pesadelo brasileiro? Foi só uma sugestão!
Melhor Telenovela
Mas na categoria Melhor Telenovela – ou melhor dizendo, menos ruim, indico a novela da Record, Essas Mulheres. Todos sabem que adoro TV, mas odeio novelas, mas devo confessar que apesar da historinha ser bastante banal e previsível, ‘Aquelas Mulheres’ são ótimas. Cada uma mais bonita da que a outra. Não perdia um capítulo para ver as tais mulheres maravilhosas, o guarda-roupa refinado, boa iluminação e enquadramentos. Até parecia novela de verdade. Também devo confessar que gosto da recriação de época na TV.
Já que novela é mesmo uma ‘droga televisiva’ por excelência, nada como assistirmos a um outro exemplo de ‘escapismo’ em outros tempos do Rio de Janeiro e do Brasil. Pelo menos em Essas Mulheres todos, inclusive os telespectadores, sabem onde os personagens estão, para onde vão e que língua falam. O português é meio erudito, antigo e esquisito. Mas não é o português, ou seria, inglês, falado em Barretos ou Miami, aquelas cidades americanas da novela América. Ninguém merece! Para quem gosta ou para quem não vive sem telenovelas, Essas Mulheres é um bom exemplo de entretenimento e conteúdo histórico na TV. Não compromete, não nos confunde e deseduca e ainda nos lembra a luta pela libertação dos escravos e emancipação das mulheres em nosso país. Mas o bom mesmo são as mulheres da novela. Imperdível!
Pior Telejornal
Na categoria telejornais, o Troféu Brasil 2005 para o pior telejornal do ano de todos os tempos vai para o SBT. Calma, gente. Não é o polêmico telejornal de caras, bocas e efeitos especiais da Ana Paula Padrão. Quem sabe, no próximo ano. O Troféu Brasil 200 para o pior telejornal vai para …. suspense de Oscar…. O Notícias Breves e Pernas Longas. Mais conhecido pelos telespectadores e pela crítica como o telejornal das pernas. E tinha mesmo que ser no mesmo SBT que receberia o telejornal da Ana Paula Padrão.
Confesso que em todos os meus anos como telespectador, pesquisador e crítico de TV não tinha visto algo tão ruim e ao mesmo tempo tão engraçado. Tenho que reconhecer que as pernas eram lindíssimas. Mas não conseguia jamais ouvir o que as belas apresentadoras diziam. O enquadramento radical que privilegiava as pernas, as longas pernas das jornalistas, além do enorme monitor ao fundo, transformavam a notícia em mero acessório. E, ainda por cima, para distrair ainda mais o pobre do telespectador ou crítico de TV, tinha a tal esperada coreografia das longas pernas das apresentadoras. Ao mudar de tema, de maneira muito bem ensaiada, elas movimentavam as pernas ora para a direita, ora para a esquerda. Não percebi nenhuma conotação ideológica. Ainda bem.
Mas ficava sempre ansioso aguardando uma possível e tresloucada reencenação daquela cena famosa do filme Instinto Selvagem durante o interrogatório da Sharon Stone. Lembram? O enquadramento do jornal das pernas era muito semelhante.
Em termos de ousadia e criatividade telejornalística, Notícias Breves deve ter se inspirado em outro telejornal polemico, o Naked News – The only newscast with nothing to hide (o único telejornal que não tem nada para esconder, ou algo semelhante). Lembram dessa experiência televisiva? Curiosos? Ver aqui.
Trata-se de um telejornal onde as apresentadoras não mostravam somente as pernas. As pobres ‘jornalistas’ tiram as roupas enquanto apresentam as notícias ou entrevistavam as autoridades, celebridades ou pessoas em geral. É um programa que comprova que nem tudo que é novo em telejornalismo ou em TV é necessariamente bom ou positivo. Mas pode ser sempre curioso e ‘engraçado’.
TV de qualidade exige experimentação, mas também exige pesquisa, investimento e análise de conteúdo e recepção. Ou seja, dá trabalho e não é feito em poucos meses nos bastidores do SBT.
Mas para tristeza de muitos telespectadores que sempre buscam avidamente por esse tipo de baixaria na TV brasileira, a chegada da Ana Paula Padrão coincidiu com retirada estratégica do Notícias Breves. Era engraçado! Acho que a ex-jornalista global não gostou das pernas ou não quis enfrentar a competição. Pena!
Melhor telejornal
Na categoria, melhor telejornal, o Troféu Brasil 2005, a escolha vai para o Bom Dia Brasil com o Renato Machado e sua apresentadora escada, a belíssima Renata Vasconcellos? Apesar da preferência declarada do crítico – ver artigo recente sobre os telejornais matinais – os meus informantes destacaram o sempre incompreendido e pouco assistido Jornal da Cultura e o Jornal da Band com Carlos Nascimento. Recebem menções honrosas. Quem sabe, no próximo ano. Apesar de não acreditar em âncoras, reconheço o trabalho discreto, às vezes meio tímido, porém sempre consistente do Carlos Nascimento. O seu telejornal tem tudo para ser uma alternativa ao quase monopólio do JN.
Em termos de cobertura internacional – assunto que tenho interesse particular – a idéia de fazer uma parceria com a BBC Brasil foi simplesmente brilhante. Tem tudo pra dar certo, se os enormes cortes de pessoal e de recursos da rede britânica não atingirem o serviço brasileiro nos próximos meses. Cobertura internacional não precisa ser milionária para ser eficiente. Insisto. Correspondente internacional não deveria ser premiação para jornalista famoso no Brasil ou fim de carreira de nossos profissionais de TV. Com as novas tecnologias, uma pauta na cabeça e uma câmera na mão, muitos jovens poderiam estar espalhados pelo mundo, enviando matérias internacionais alternativas.
A nossa dependência das agências internacionais é mais uma questão de preguiça e falta de ousadia. Deveríamos acreditar no potencial dos jovens jornalistas brasileiros para nos mostrar um outro mundo. Vivo em algum país distante e interessante, lavo pratos durante o dia para sobreviver e, de vez em quando, envio matérias para as TVs e empresas brasileiras. A era dos correspondentes milionários com vida de diplomata brasileiro acabou. Jornalista tem que aprender a conviver com os freelancers e, ao invés de receber pautas, tem que aprender a ‘vender’ suas matérias. Mas isso é assunto para uma outra coluna.
Troféu Brasil para o melhor
Então voltamos com a indicação do grande vencedor do Premio Brasil para o melhor e pior Programa de TV brasileira em 2005.
O Oscar alternativo da TV para melhor programa vai para… A Sessão da Tarde no Congresso Brasileiro, os maravilhosos programas da CPI, estrelados por verdadeiros artistas da política brasileira. Para os melhores participantes, com performances extraordinárias, inesquecíveis, dignas de nossas melhores telenovelas, destacamos deputado Roberto Jefferson e o ex-ministro Dirceu. Os programas da CPI comprovam a tese de que não há necessidade de cenários suntuosos, efeitos especiais ou grandes recursos para produzirmos programas de sucesso. Em 2005, os brasileiros transformaram o horário vespertino em horário de grande audiência. O programa era meio repetitivo.
Mas em matéria de ficção televisiva nunca presenciamos a tantas mentiras proferidas com tamanha cara de pau. Melhor do que assistir ao Brasil derrotar a Argentina na Copa das Confederações é assistir todas as tardes às baixarias de Brasília. Programa imperdível e digno de prêmio.
Aproveito também para citar e indicar uma menção honrosa – não confundir com menção horrorosa – para o novo Vitrine da TV Cultura. A dupla de apresentadores Rodrigo Rodrigues e Sabrina está de parabéns. O começo da nova fase foi meio inseguro, mas a idéia de levar os apresentadores para fora do estúdio, em busca de matérias, tornou o programa ainda mais dinâmico. Uma boa alternativa de programa jovem e inteligente. Não demora muito, assim como o Real Madrid leva nossos melhores jogadores, a Globo resolve eliminar a competição e leva as estrelas para o Jardim Botânico. Em TV, nada, ou quase nada, se cria. Tudo se copia ou se compra.
E para o pior programa…
Agora o prêmio mais aguardado. O troféu Brasil para o Pior Programa da TV Brasileira vai para o maior exemplo de que baixaria na TV não se resume a palavrão, sexo ou telenovela de mau gosto. Baixaria na TV é, antes de tudo, desrespeito com o público telespectador e, principalmente, desrespeito com os ingênuos participantes do pior programa da TV brasileira. O pior programa da TV brasileira em 2005 é outra Sessão, uma sessão da madrugada, a imbatível ‘Sessão Descarrego’. Uma aberração!
Confesso que não tinha visto nada tão deprimente em todos os meus anos de TV. Vocês já assistiram? A Sessão Descarrego costuma ser transmitida bem tarde da noite pela Igreja Universal na Rede Record. Menos mal. É programa de TV impróprios para menores, e principalmente, para maiores. Deveria ser impróprio para todos que acreditam que TV – uma concessão pública – não é lugar para esse tipo de programa.
TV deveria, mas, infelizmente, não precisa educar. Mas não pode humilhar ou enganar o público. Ninguém precisar assistir na TV pessoas humildes, desesperadas e muitas vezes com óbvios problemas mentais, pagando caro para entreter o público televisivo. Salvação Evangélica não deveria ser confundida com lucro em programa de TV.
Nada contra as crenças e religiões. Cada um acredita no que quiser. Mas retirar o demônio, o ‘encosto’, de centenas de brasileiros humildes, ingênuos e, seguramente, desavisados na frente de inúmeras câmeras em cadeia nacional não é um bom exemplo de conteúdo televisivo. Assim como combatemos a exploração de menores, deveríamos também lutar contra a exploração dos maiores em nossas TVs.
Assisti a várias edições da Sessão Descarrego e não vi nada tão humilhante. Televisão não foi feita para isso. E já que estamos em clima de investigação, CPI dos Correios, do Mensalão e tantas outras denúncias televisivas, que tal uma CPI da Igreja Universal?
Assim como deveríamos investigar de onde veio e para onde foram as malas de dinheiro apreendidas com os deputados da Igreja Universal, também deveríamos investigar o conteúdo desse tipo de programa de TV em suas redes de TV e rádio.
Em programas que lucram tanto com a humilhação de seus semelhantes, as pessoas, por acaso, estão cientes de que estão sendo gravadas? Compreendem as implicações? Recebem dinheiro para serem figurantes nesses programas? Assinaram termos de compromisso que autorizam a veiculação daquelas imagens? Utilizar efeitos para não reconhecermos seus rostos não basta. A humilhação transcende a imagem e a identidade dos fiéis que participam desse verdadeiro show dos horrores. Esses programas se transformaram em um Coliseu televisivo para entreter um público ávido por desgraças e humilhações. Vale tudo em nossa TV.
O problema com programas como a Sessão Descarrego chegou a tal ponto que a Justiça Federal concedeu liminar que obriga as redes Record e Rede Mulher a conceder direito de resposta aos religiosos e representantes de entidades de culto de religiões como o candomblé e a umbanda. Ainda segundo a decisão da justiça, os religiosos devem ter o direito a se defender das agressões sofridas durantes os programas da Igreja Universal, transmitidos pelas duas emissoras.
‘Não há como negar o ataque às religiões de origem africana e às pessoas que as praticam ou que delas são adeptas. Nos programas gravados há depoimentos de pessoas que antes eram adeptas das religiões afro-brasileiras e que se converteram; nos templos da nova religião, essas pessoas realizam ‘sessões de descarrego’ ou ‘consultoria espiritual’. Assim, é de se concluir que não negam as tradições e os ritos das religiões de matriz africana, porém afirmam que nos terreiros os seguidores praticam o mal, a feitiçaria e a bruxaria’, refere a decisão.
Segundo o coordenador da Frente Parlamentar pela Ética na TV e um dos autores da representação, o deputado estadual em São Paulo Sebastião Arcanjo (PT-SP), ‘a liminar concedida simboliza um avanço no combate à intolerância religiosa. É importante que as emissoras de televisão tenham consciência de que cumprem uma função social’, afirma o deputado.
(ver aqui).
O problema é que, apesar da decisão da justiça, a Sessão Baixaria, quero dizer Sessão Descarrego, continua no ar. Impressionante! É sem duvida o pior programa da TV brasileira em 2005. Troféu Brasil para os seus produtores, e, principalmente, para seus patrocinadores.
Mas, em verdade, há muitos outros programas quase tão ruins ou talvez ainda piores. É só procurar. A TV brasileira, principalmente a nossa TV aberta, é um grande repositório de péssimos programas. E tem gente que ainda defende a qualidade da nossa programação. Mas, agora, com a palavra, os nossos leitores. Para você, quais são os melhores e os piores programas da TV brasileira em 2005?’