Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Patrícia Villalba

‘A mudança de estratégia do governo para tentar regular o mercado de audiovisual não encerrou nem tampouco acalmou os ânimos do meio cinematográfico. Ainda nessa discussão, o ministro da Cultura Gilberto Gil causou polêmica, ao declarar na segunda-feira que o cinema nacional precisa de ‘um choque de capitalismo’. Tanto os independentes quanto os representantes do chamado ‘cinemão’ entenderam e, na dúvida, os dois se sentiram ofendidos. Isso ocorre num momento especialmente delicado, quando faltam apenas alguns dias para o resultado do edital da Petrobrás, a maior patrocinadora do cinema nacional, que tem R$ 18 milhões disponíveis para investir.


O secretário do Audiovisual, Orlando Senna, no entanto, explica que não há novidade alguma na declaração do ministro. E garante que a política para o audiovisual continua a mesma, na busca pela sustentabilidade da nossa indústria, com espaço tanto para os blockbusters quanto para os independentes. ‘É curioso, porque ao mesmo tempo em que André Sturm e Luiz Carlos Barreto dizem que, ao democratizar os recursos, o Minc põe em risco o cinema industrial, o cinema independente acha que vamos fomentar o cinema industrial em detrimento deles.’


E de que se trata, afinal, o choque de capitalismo? ‘Choque é um mercado regulado adequadamente. E o capital privado tem de atuar de forma efetiva. O modelo que usamos há dez anos no cinema caminha para a fadiga. O cinema brasileiro não pode manter seus níveis de crescimento, como o alcançado em 2003, se não tiver reformulado o seu universo como um todo. Precisamos tomar previdências para que seja criado um modelo que não esteja ancorado nos cofres públicos’, defende.


O secretário garante que o MinC não prefere o blockbuster – como o fenômeno Carandiru, de 2003 – ao cinema independente. Ressalta, aliás, que qualquer indústria cinematográfica que se preze convive com os dois modelos.


O cineasta e distribuidor André Sturm diz ‘que há um exagerada canalização dos recursos públicos para filmes pequenos, com pouca perspectiva comercial’. Concorda de certa forma com Senna, mas com uma ressalva: ‘Sou a favor de diversidade e eficiência. Não adianta dar R$ 500 mil para 60 diretores. É melhor dar R$ 2 milhões para 15 filmes. Isso não é democracia, é distributismo.’


Todos concordam que a situação se reflete na bilheteria. A previsão é que os filmes brasileiros ocupem 10% do mercado neste ano. ‘Um pouco disso é em razão dos filmes que têm sido produzidos. Só para citar dois filmes de que eu gosto muito e que têm seu público, Cabra-cega e Quase Dois Irmãos. Não dá para ter filmes só como estes dois.’


Toni Venturi, diretor de Cabra-cega, diz que mal desempenho da bilheteria nacional não pode ser creditado aos independentes. ‘O cinemão já disputa, com grande vantagem, verbas de patrocínio com o cinema independente, autoral produzido a duras penas em todo o País’, avalia.


Sobre o assunto, Cadu Rodrigues, diretor executivo da Globo Filmes, declarou: ‘Dos nossos 33 filmes, só 3 foram totalmente produzidos por nós. O restante foi parceria com independentes. Mas há alguns arautos do apocalipse que já estão decretando a morte do cinema brasileiro diante da queda da bilheteria. Temos que admitir de uma vez que fazer cinema no Brasil é coisa de quatro, cinco anos. O resultado de hoje foi plantado em 2001, 2002. Cadê a nossa carteira para 2005? Para a Globo Filmes produzir oito filmes por ano é preciso, no mínimo, de 30 projetos. É questão de planejamento.’’



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‘‘Fundo não é política cultural’ ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 3/06/05


‘Para o secretário de Estado de Cultura, João Batista de Andrade, foi muito desgaste por nada o que se passou na Assembléia Legislativa de São Paulo na noite de terça-feira. Plenário lotado de artistas, a oposição tentou na marra pôr em votação o projeto que autoriza a criação do Fundo Estadual de Cultura, com uma previsão de R$ 100 milhões em recursos. Uma manobra orquestrada pelos governistas, no entanto, adiou a votação. Agora, o projeto de autoria do deputado Vicente Cândido (PT) tem de passar por várias comissões da Casa antes de voltar à apreciação.


A proposta já tramita há dois anos, mas no que depender do secretário não será votada. Ele, inclusive, acrescenta que trabalha num projeto mais amplo de política cultural para o Estado, que combina um fundo de Cultura com leis de incentivo – este, sim, terá apoio do governador Geraldo Alckmin e, por isso, mais chances de ser aprovado. Nesta entrevista ao Estado, João Batista detalha o que pretende fazer e fala das suas impressões sobre a confusão de terça-feira.


Foi precipitada a tentativa de votação do fundo?


Sim. Desde que entrei na secretaria (há um mês) estou trabalhando num projeto de lei mais abrangente para a Cultura. O fundo é só uma tentativa de resposta a uma necessidade de dinheiro, não é uma política cultural. Meu projeto prevê mais recursos e incluiu um fundo.


O sr. ficou surpreso com a iniciativa do presidente da Casa, Rodrigo Maia, de aceitar levar a proposta à votação?


Sim. Uma semana antes, eu havia me encontrado com ele na Assembléia. Eu disse que precisava de um mínimo de paciência para que a proposta fosse apresentada. Então, acho que foi uma decisão apressada.


O que o projeto tem de errado?


Ele é ruim e mal encaminhado. A tentativa de levá-lo à votação é para criar conflito com o governo, que neste momento se propõe a criar uma lei para a Cultura. A rigor, essa movimentação toda é para aprovar uma lei que não cria nada. O artigo primeiro já diz que ele autoriza o governador a criar o fundo, mas o governador não vai criar nada. Então, foi uma mobilização carregada de emoção, com desejos justos, para nada. Só serviu para alimentar conflitos políticos dentro do Legislativo, entre situação e oposição.


Mas não podemos creditar toda essa emoção justamente à demora na construção de uma política cultural para o Estado?


Sim, mas a política cultural também é política. Ali na Assembléia, estamos fazendo política, não peças de teatro, filmes e exposições. Temos conflitos políticos, que são dinâmicos. A entrada de uma pessoa na administração pública muda os rumos e ninguém quis prestar atenção nisso. O processo foi atropelado pela pressa de se pôr aquele projeto em votação. E com o objetivo de se ganhar do governo, o que só gera desgaste. Qualquer política cultural deve beber dessa verve da luta cultural, mas é preciso achar um caminho político para realizar esse desejo. Esse é o papel que eu posso exercer em São Paulo.


O que dizer a artistas como o dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa, a atriz Denise Fraga, o ator Sérgio Mamberti, entre outros, que foram à Assembléia esperando a votação e saíram de lá, à meia-noite, de mãos vazias?


É preciso tomar cuidado para não entrar numa farsa política. Estou trabalhando nos espaços que a política nos permite trabalhar. Os artistas que estavam lá são maravilhosos, tenho o maior respeito por eles, mas é outra discussão lá na Assembléia. A questão é política e você não pode entrar numa questão política sem ter uma visão clara do que está acontecendo. Estou sinceramente em paz com isso. Vou continuar trabalhando na minha proposta, que o governo assumirá como um projeto viável. Tenho esperança de que a gente saia de tudo isso ganhando.


Como é o seu projeto?


É uma conjugação de fundo com lei de incentivo. Não é bom na cultura você ter uma janela única para obtenção de recursos. A produção cultural que tem uma relação melhor com o marketing pode usar as leis. E os recursos públicos ficam para os projetos de pouco recursos. É a democratização do acesso, com mais recursos do que prevê aquele outro projeto. É mais correto, menos problemático e burocrático.


Será a tão esperada lei de incentivo estadual?


Sim, com renúncia de ICMS e eventualmente outros impostos. E se o Estado ajuda os seus produtores locais, eles passam a obter mais facilmente os recursos federais.


Já há uma data?


Não. Mas sei que o governo tem pressa com essa questão. O governador está comigo.


Por que o sr. criou um plano emergencial para o teatro?


Quando eu cheguei, vi que a secretaria não tinha mais as suas comissões de área. Só o cinema conseguiu criar um conselho e o teatro não tinha nada. Expus essa situação insustentável para o governador. E obtive uma sinalização positiva.


É um edital?


Sim, de R$ 3 milhões. É dinheiro para produção e popularização do teatro, além de apoio à dança.’



Flávia Guerra


‘TV ainda resiste a se aliar ao cinema e aos independentes ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 3/06/05


‘‘A TV não deve nada ao cinema. No Brasil, foi desenvolvida sem incentivos e não depende do Estado, nem quer depender. Falar em marco regulatório, taxar, num país que tem a maior carga tributária do mundo. Tirar dinheiro de uma atração gratuita (a TV aberta) para dar para outra paga, como o cinema, é abuso. O cinema não quer depender do Estado, mas vai começar a depender da TV? Quando se fala em conteúdo audiovisual, fala-se sempre ao cinema. A Globo exibe 83% de sua programação de conteúdo audiovisual brasileiro.’ A declaração de Cadu Rodrigues, que representou a Globo Filmes no painel A Nova Fase da Relação Cinema/TV, encerramento do 6.º Fórum Brasil de Programação e Produção, na quarta-feira, em São Paulo, dá o tom que a discussão tomou após Geraldo Moraes, presidente do Congresso Brasileiro de Cinema (CBC) ter afirmado que é necessário estabelecer marcos regulatórios para que haja uma verdadeira relação entre os dois setores. ‘As relações continuam as mesmas. O cinema continua sustentado pelo Estado. Pouco importa se o cinema ainda está condenado a não viver do mercado. A questão fundamental não é discutida porque implica em redesenhar o audiovisual no Brasil’, exaltou-se Moraes após ouvir as apresentações de Cadu e Claudio Petraglia, diretor da Band Filmes.


Moraes afirmou que o setor cinematográfico realizou várias reuniões com a Rede Globo, para discutir a melhor forma de a emissora valorizar e veicular conteúdo audiovisual nacional. ‘Mas não foi o proposto hoje que nós conversamos. Conteúdo nacional é o que a nação produz e não o que um exemplo isolado produz’, disse Moraes, em referência às idéias apresentadas por Cadu para levar o cinema nacional à grade da Globo. ‘Além do Cena Mágica, que apresentou os bastidores de vários filmes nacionais nos últimos domingos, o Fantástico terá em breve um novo quadro, que exibirá trechos de documentários inéditos brasileiros. Para se inscrever, basta mandar a sinopse ‘, explicou Cadu. Outra nova atração será o Intercine Brasil, que vai exibir 48 filmes nacionais até o fim deste ano. A idéia da Globo de exibir trechos de documentários causou polêmica na platéia do fórum e na comunidade cinematográfica. Um participante questionou: ‘De onde a Globo tirou que pode exibir documentários sem pagar?’ Cadu foi categórico: ‘A Globo não precisa de produção independente. A população saberá o que é um documentário, isso é informativo, e não tem valor comercial. Vamos exibir trechos. Oferecer ajuda simbólica é esmola. Ninguém é obrigado a entregar nada.’’



TV GLOBO


Daniel Castro


‘Medo dificulta gravação de novela em SP’, copyright Folha de S. Paulo, 3/06/05


‘A produção de ‘Belíssima’, próxima novela das oito da Globo, está tendo dificuldades para contratar locações em São Paulo, onde a trama será ambientada.


‘Está muito difícil conseguir locações, principalmente para o universo rico da novela. As pessoas não querem expor suas casas e edifícios por questões de segurança, mas a gente não vai dar o endereço de ninguém. As empresas dizem que não podem parar, então teremos que gravar nos finais de semana’, afirma Denise Saraceni, diretora-geral da novela, que estréia em novembro.


A produção procura casas nos Jardins, região nobre de São Paulo, e edifícios comerciais nas avenidas Paulista e Luís Carlos Berrini e na alameda Santos.


Por enquanto, a única locação fechada é a da fábrica de lingerie comandada pelas personagens de Glória Pires e Fernanda Montenegro. Será na Valisère.


A novela terá gravações em toda a cidade, a partir de julho, todas as semanas, até o final. ‘Queremos reproduzir a São Paulo de verdade. Não vamos mostrar a cidade de helicóptero, mas viver dentro dela, estar nos cartões-postais, colocar câmeras em boates e restaurantes’, diz Saraceni.


Em cidade cenográfica, no Rio, será construída apenas uma rua, mistura de Campos Elíseos e Bom Retiro (centro). Abrigará a classe média, ‘um mix’ dos diferentes povos da cidade (gregos, turcos, judeus, italianos, japoneses).


OUTRO CANAL


Tarja A Globo queria que ‘Belíssima’ fosse classificada para as 20h (imprópria para menores de 12 anos). Mas o Ministério da Justiça, no ‘Diário Oficial’ de ontem, considerou a novela inadequada para antes das 21h (14 anos), por conter ‘violência (assassinato)’.


Beleza Fora do ar há um ano, a atriz e apresentadora Angelita Feijó será secretária de Glória Pires em ‘Belíssima’.


Caso antigo O SBT fez anteontem uma nova proposta à Televisa para manter ‘Chaves’. A Televisa queria US$ 1,5 milhão por ano, o triplo do que o SBT aceitava pagar. A nova proposta é menor do que a feita pela Globo, mas a Televisa tende, por questões empresariais (tem outro acordo por telenovelas) a ceder a Silvio Santos.


Intriga Gugu Liberato e a produção do ‘Domingo Legal’ não estão nada felizes com as negociações entre o SBT e o elenco do ‘Pânico na TV’. É que Silvio Santos oferece aos humoristas um programa idêntico ao da Rede TV! aos domingos, às 19h. Assim, Liberato perderia justamente a uma hora e meia mais nobre de seu programa.


Metamorfose Ex-diretor do ‘Domingo Legal’, Roberto Manzoni, o Magrão, resolveu atacar de apresentador. Terá um programa na Gazeta, um ‘talk-show’ semanal com o título de ‘O Poderoso Magrão’, com cenário inspirado em filmes de máfia. Só falta entrevistar os falsos encapuzados do PCC.’



Keila Jimenez


‘Globo perde liderança lusitana ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 3/06/05


‘A hegemonia das novelas da Globo em Portugal está ameaçada. Isso é o que move atualmente José Eduardo Moniz, diretor-geral da TVI, um dos maiores canais de Portugal e concorrente direta da SIC, que exibe as tramas da Globo lá. Moniz, que esteve anteontem no 6.º Fórum Brasil de Programação e Produção, garantiu que boa parte da retomada de crescimento da TVI – que começou em 2000 – se deve ao investimento da rede em teledramaturgia local, isso é, sem sotaque brasileiro.


‘Começamos com um horário e hoje temos três novelas ao dia, mais duas séries de humor e uma novelinha juvenil. Tudo feito aqui em Portugal’, conta Moniz. ‘Com essa mudança, vimos nossa audiência saltar de 15% para 35% no prime time (faixa nobre), horário em que durante anos fomos dominados pelas produções da Globo’, conta ele. ‘Em muitos horários nossas novelas já vencem as produções brasileiras compradas pela SIC.’


Um dos exemplos citados pelo executivo é Ninguém como Tu, que estreou há pouco na TVI e já vence em audiência Senhora do Destino , exibida pela SIC e que entra em sua reta final em Portugal.


As tramas exibidas pela TVI são produções independentes, o que barateia os custos, mas Moniz garante que têm qualidade como as da Globo, sem ser cópia. Mas o conhecimento brasileiro na área ainda é referência, visto que o mercado, lá, continua importando do Brasil parte de sua mão-de-obra, incluindo técnicos e diretores.


‘Não é uma atitude xenófoba e nada contra a Globo, mas por que tínhamos de assistir para sempre um produto que não tem identificação com nossa cultura?’, questiona.’



CNN, 25 ANOS


Luciana Coelho


‘CNN faz 25 anos e lega cobertura de guerra’, copyright Folha de S. Paulo, 3/06/05


‘Quando a CNN foi lançada nos EUA, em 1º de junho de 1980, não havia em lugar nenhum do planeta um canal que se propusesse a transmitir 24 horas por dia de notícias. É de se esperar, portanto, que a emissora do milionário Ted Turner -hoje convertida numa rede a cabo que serve quase 100 milhões de lares, mas cuja audiência é minada pela conservadora Fox News- tenha desempenhado papel de destaque nas principais coberturas jornalísticas do último quarto de século.


É isso que tenta mostrar o especial ‘Defining Moment: Stories That Touched Our Lives’ (Momentos decisivos: histórias que tocaram nossas vidas), que a rede exibe neste fim de semana.


O programa é uma espécie de retrospectiva das grandes coberturas internacionais da rede. Da queda do Muro de Berlim (1989) ao tsunami que varreu a costa sul asiática no fim do ano passado, passando pelo imbróglio da eleição de George W. Bush (2000), está tudo ali, entremeado por depoimentos dos jornalistas, cinegrafistas e diretores que trabalham ou trabalharam para a rede.


É nas coberturas de guerra, no entanto, que a CNN se tornou quase imbatível. Afinal, como bem lembra a chefe dos correspondentes internacionais da rede, Christiane Amanpour, foi na Guerra do Golfo (1991) que a CNN nasceu para o mundo, ao se tornar a primeira a televisionar uma guerra ao vivo.


Mais importante ainda, o programa rememora outras coberturas de guerra igualmente importantes, mas menos lembradas pelo público, como a do genocídio em Ruanda (1994) e a da Guerra da Bósnia (1992-95).


Igualmente impressionante, no entanto, é observar que a rede -ao menos em suas versões americana e internacional, já que o programa não abrange o trabalho da CNN en Español, criada em 1997- tem uma atuação nada além da mediana ao cobrir a América Latina. Das 26 sucursais internacionais da rede, apenas duas estão na região (Havana e Cidade do México) -nenhuma delas na América do Sul.


Defining Moments


Quando: sábado, às 8h e às 18h, e domingo, às 0h, 9h, 14h e 20h na CNN’