Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Pedro Doria

‘O que há em Hunter Thompson? O principal expoente do ‘jornalismo gonzo’ é um dos escritores favoritos da blogosfera, por conta de seu texto ácido e frenético. Agora, a Editora Conrad traz às livrarias brasileiras uma tradução de ‘A grande caçada aos tubarões’, coletânea de reportagens, artigos e trechos de livros publicada nos EUA, em 1979. Vale, principalmente, por conta de seu trabalho como correspondente freelancer na América Latina dos anos 60 e poucos. O que revela é um Thompson reacionário, imperialista e incrivelmente preconceituoso.

Jornalismo gonzo, a orelha da edição brasileira se apressa a dizer, é a radicalização do new journalism, que alguém por estas praias achou por bem chamar jornalismo literário. Se a idéia do Novo Jornalismo era trazer os recursos narrativos da ficção para o texto de imprensa, digamos que Thompson é o autor beatnik da turma. Mas essa não é uma descrição de todo justa. Ao menos, não com o jornalismo.

Talvez os maiores nomes do Novo Jornalismo sejam dois homens de gerações e formações diferentes, o filho do sul rural Joseph Mitchell e o filho de migrantes italianos Gay Talese. Mitchell publicou dos anos 30 ao início dos 60, Talese de finais dos 50 até hoje.

Tudo que Joseph Mitchell escreveu cabe num livro de 716 páginas, chama-se ‘Up in the old hotel’ – ‘Lá no velho hotel’ – e incluam-se aí alguns contos, ficção mesmo. Tinha, aliás, a mesma queda de Hunter Thompson pelo submundo, pelas pessoas à margem da sociedade. Mas era um virtuoso. Um perfil de operários índios, ele o termina com um longo monólogo dum velho bêbado que fala do que pretende fazer um dia; é discurso direto feito James Joyce, mais de página. Outro perfil, duma mulher barbada casada com um palhaço aposentado, começa cômico, cheio de aventuras e desventuras da vida num circo, e termina uma reflexão a respeito da solidão humana na boca da senhora. Obras completas de um jornalista com 716 páginas não é nada, mas é impossível ler uma reportagem de Mitchell impune, de tão seco, atordoante. Infelizmente, no Brasil, só seus dois perfis do vagabundo John Gould foram publicados em livro, pela Companhia das Letras.

Gay Talese, muito pelo contrário, é prolífico. Quando enjoou de escrever reportagens para revistas, atacou em livros, um após o outro. É virulentamente descritivo, dos ambientes que freqüenta o leitor quase percebe o cheiro. Sempre muito preciso, seja falando do resfriado de Frank Sinatra que o deixa de mau humor e mexe com centenas de pessoas no entorno, seja falando sobre, novamente, os operários índios de Nova York, as dores da morte na construção de uma ponte, as pequenas alegrias e competições de um time miúdo – quem prega placas de aço mais rápido – ou as vitórias e desilusões de engenheiros. Se Joseph Mitchell faz parecer que cada pessoa carrega o peso do mundo nas costas, Talese transforma momentos cotidianos em grandes épicos pessoais. E, naturalmente, em toda vida há de ambos, o peso e o épico.

A qualidade que une dois grandes nomes do jornalismo literário vai além de um texto excepcional em estilos diferentes. É sua capacidade de sentar e ouvir, não importa o quanto. Têm todo o tempo do mundo. Suas reportagens nunca são sobre eles mesmos – e isso é verdade até mesmo quando Talese se coloca no fim de ‘A mulher do próximo’, livro sobre a revolução sexual nos anos 60 e 70. Ele está na terceira pessoa, com o mesmo tratamento de todos os outros personagens.

Com Hunter Thompson, não é nada disso. É, mesmo em suas reportagens desconhecidas da América Latina, sempre sobre ele, sobre o que acha e pensa. Mesmo quando cita outros, é para provar sua tese. Em seu livro mais conhecido, ‘Medo e delírio em Las Vegas’, achincalha com o Sonho Americano e ri das hipocrisias de seu país. Até parece um crítico relevante. Não é: quando desce ao sul do rio Grande, porta-se como o gringo arrogante, igual ao pior dos americanos, em tudo diferente dos melhores.

A descrição que faz do golpe de estado peruano em 1963 tem por título ‘A democracia peruana morreu, mas poucos parecem lamentar seu falecimento’. E daí passa a dizer que o presidente norte-americano John Kennedy, aflito para manter a democracia no país, não entende que os peruanos não querem, na verdade tampouco entendem, democracia. O que Thompson nega ao leitor é que o golpe dado pelo general Juan Velasco Alvarado foi impopular nos EUA não por conta de afeição à democracia. Velasco era uma espécie de Hugo Chávez de seu tempo, aquele tipo de populista na linha Leonel Brizola que povoou o cenário político latino-americano na época. E que, naturalmente, encampou empresas norte-americanas e forçou uma reforma agrária. Exatamente o tipo de coisa que os EUA morriam de medo que João Goulart fizesse no Brasil.

Há uma única reportagem sobre o Brasil, míope do início ao fim. Conta de um tiroteio numa boate freqüentada por seus compatriotas em Copacabana, quando um pelotão do Exército a invade – estamos em 1963 – para vingar o espancamento e morte de dois militares pelos seguranças. ‘Podia ter morrido um americano’, diz horrorizado. E é coisa de república de bananas, sem dúvida. Os milicos matam o porteiro e um sujeito não identificado.

Thompson então diz que nos EUA jamais seria possível mobilizar um batalhão das Forças Armadas para executar vinganças pessoais. Mentira. Durante o Vietnã, pelotões se envolveram até em tráfico de drogas. Mas isso seria mais tarde. Forças policiais, no entanto, até os anos 60 eram mobilizadas para linchamentos no sul dos Estados Unidos a toda hora. Mas a carga de preconceitos de Hunter Thompson atrapalha sua visão até do que estava em evidência. Ora pois, no primeiro parágrafo: ‘o Exército brasileiro é o mais estável e simpático à democracia em toda a América Latina’. É piada: fevereiro de 1963. Mas era isso mesmo que pensava o governo norte-americano. Aliás, a interpretação oficial do golpe de um ano depois foi a de uma defesa da democracia, não o contrário. Colocar gente não eleita no governo, desde que favorável aos EUA, podia. Aliás, a bem da verdade, ainda pode.

Jornalismo tem uma função que é contar o que se passa, facilitar ao leitor que compreenda algo do cotidiano. No fim, não importam quais as ferramentas do repórter, se escreve como se fosse um romance ou conto, se prefere um estilo tradicional, do tipo em que no primeiro parágrafo está listado o essencial da informação. O importante é que seja tão exato quanto possível. Não se trata de comprovar teses – e esta é uma falha comum a toda imprensa da qual, honestamente, nenhum jornalista passa incólume pela carreira. Mas, no caso de Hunter Thompson, esta parece sua meta: regurgitar pré-conceitos e forçar os fatos sobre eles.

Ele crê que dar uma idéia do clima é mais relevante que a exatidão – assim descreve o ‘jornalismo gonzo’. Em tese parece até bonito, mas jornalismo não é. Tem valor a literatura beatnik, mas Jack Kerouac nunca chamou seu ‘On the road’ de jornalismo, embora seja baseado numa história real. E Thompson não tem nem a busca angustiada de Kerouac, nem o lirismo de Allen Ginsberg. No fim, é só isso: um texto frenético por nada.

Aliás, nem o tal clima ele consegue passar. Seus leitores do ‘National Observer’ ficaram sem entender nada do que se passava na América Latina no início da década de 60.’



DIVINA COMÉDIA DA FAMA
José Paulo Lanyi

‘Manual maquiavélico da fama’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 27/01/05

‘Na coluna passada, falamos sobre a vida dos famosos (leia BBB para casados). Coerente abrir assim, como se anunciasse a seqüência de um desenho animado: ‘No último episódio, Jambo e Ruivão estavam perdidos na Floresta dos Olhos Tortos. Será que os nossos amiguinhos conseguirão fugir de Matador e Mata-a-dor’?. Como este colunista é sempre bem-humorado (não é mesmo, Fulana?), escreverá mais um desses textos heréticos, à espera do inevitável: será adorável e necessariamente destruído por leitores lógicos e sisudos.

Peço licença para insistir na futilidade. Os programas de fofocas e as baratas sobreviverão ao holocausto atômico? Não? Conseguiremos pagar as contas até o fim do mês? Não? Nada disso importa. Trataremos agora do essencial: aparecer, dar sorrisos paras as câmeras, andar em iates ou em ‘busos’ de bandas consagradas de axé-music.

A aura ‘sócio-antropológica’ (tá na coluna anterior) está garantida com a quantidade. Ou você não se lembra dos seus tempos de colégio? Era da turma recatada ou da horda do fundão? Falava mais que a professora? Vivia dando entrevistas na sala do diretor? Estes, os, digamos, extrovertidos, compreenderão melhor a biodiversidade e poderão rir e pensar (as duas coisas juntas, sim, é possível) com um autor que está na minha prateleira há alguns meses (ó, vagabundagem procrastinadora!), juntinho de outros clássicos, como Stendhal, Walter Scott e Thomas Hardy: nada menos do que um autêntico Xico Sá!

O cabra da peste, que tem até fã-clube no Orkut, ombreou com Dante Alighieri e levou a melhor (afinal, Dante já não pode reler as próprias obras), ao escrever a sua ‘Divina Comédia da Fama- Purgatório, Paraíso e Inferno de Quem Sonha ser uma Celebridade’ (Editora Objetiva). Público não lhe falta. Os aparecidos podem até não ser a maioria (ou são?), mas, como nos desenhos, me obrigo a dizer: eles são muitos!- e há vários deles disfarçados…

O livro, irônico como uma bula das profundezas, revela a fiação dessa casa de espelhos, sem se descurar do átrio, tampouco dos vestíbulos, nem mesmo das pocilgas lá dos fundos. Se você é sério, leia para se sentir superior a essa gentinha; se você é gentinha, leia para ser pior do que já é. Ou, talvez, para aprender a ser uma gentinha famosa, o que, acredito, deve ser bem melhor, ao menos dá para comer de graça nos restaurantes finos. Adeus ao vale-refeição. Ou melhor, pelo menos por uns dias, quem sabe meses, e você já está no lucro.

Não vou resenhar nada, mas transcrever passagens, divirta-se com o Xico Sá e esqueça de vez este cronista, cante a todo pulmão: ‘Get back to where you once belonged. Get back Jojo!’.

Propina:

‘Para tentar convencer o colunista Ricardo Feltrin, responsável pela página, a publicar a foto na edição de domingo, único dia em que saía colorida, a assessora ofereceu dinheiro, cash, trocadinho, saído da boca da bilheteria da boate. – Eu disse que não tinha conversa, que isso seria tão corrupto como aceitar dinheiro de um político para falar bem dele.

(…) – No dia seguinte, me ligou a assessora da dançarina e jogou descaradamente: disse que, já que eu não queria dinheiro, a sua cliente estava propondo algo bem melhor. Ela daria a si mesma de presente para mim, por uma noite inteira, para eu fazer o que quisesse…

O colunista disse ‘passar bem’ e a cover de Demi Moore não brilhou no jornal domingueiro’.

Aforismos:

‘A fama é a soma de todos os mal-entendidos que se reúnem em torno de um homem’. Rainer Maria Rilke (1875-1926), poeta tcheco.

‘Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem’.

Millôr Fernandes, escritor e jornalista.

‘A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular, é indispensável ser medíocre’.

Oscar Wilde (1854-1900), escritor irlandês.

Purgatório:

‘O candidato à fama consciente da engrenagem sai na coluna e sabe que a responsabilidade aumenta. Ele tem que ter uma profissão, um ofício, fazer uma coisa qualquer. Mesmo que seja de mentirinha. (….) É de bom-tom escolher logo ou inventar uma função no mundo. Até para dizer, de boca cheia, ‘não sou apenas mais um rostinho bonito’. Seja hostess, DJ, modelo/atriz, personal stylist, fashionista… Se for nesse mundo das novas ocupações, melhor ainda’.

Paraíso:

‘Um fotógrafo por segundo. Claro que eles vão fotografar tudo. E você vai apelar para a proteção mínima. Mesmo que por falsidade. ‘Respeitem a minha privacidade’, dirá, em tom indignado. Só por charme, repetirá o discurso dos célebres. Pega bem dizer que tem vida privada. Afinal de contas, você precisa se fazer de difícil, personalidade forte, em algum capítulo desse drama. Todo famoso que se preza tem personalidade marcante’.

Inferno:

‘Vai rolar escalação para o elenco de novela do SBT, você sonha. As esperanças estão vivas. Um amigo prometeu um papel em uma peça caça-níquel, cheia de ex-celebridades, gente como você. Outro pensou em seu nome para um daqueles humorísticos de sábado à noite na televisão. Solidariedade, isso existe. Você não está sozinha’.

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Agora me dei conta de que o livro do Xico Sá está mais próximo de Maquiavel que o do outro italiano. É ‘O Príncipe’ do neo-olimpo, é uma aula de como chegar lá, de como se manter por uns tempos e de como saber descer de lá. Ainda, aos que contarem com a sorte e com a astúcia, de como cair e conseguir voltar para lá. Os assessores de imprensa das celebridades devem tê-lo na cabeceira. Xico Sá, você não presta. O seu texto é engenhoso e realista, disseca os costumes da nossa época. O leitor que saiba o que vai fazer com tudo isso.’



NOVAS PAUTAS
Eduardo Ribeiro

‘Repensando o repertório de pautas’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 26/01/05

‘O colega Cláudio Amaral, que há alguns meses abalou-se de São Paulo para assumir, em Campo Grande, a Direção de Redação d`O Estado MS, tem-se mostrado feliz com a evolução vivida pelo jornal no período. Evolução que levou o diário a filiar-se ao IVC, que verifica a tiragem e a circulação oficial de jornais e revistas pelo País afora, e à ANJ, a Associação Nacional de Jornais, onde já figura, há anos, o Correio do Estado, jornal mais antigo e ainda líder de circulação no Mato Grosso do Sul. O Estado, segundo diz o próprio Cláudio, está investindo firme na busca da liderança, e parece estar próximo de lá chegar.

Contratado inicialmente como consultor, o novo diretor de Redação acabou convidado a permanecer por lá, sobretudo para pôr em prática várias das idéias que levou e debateu com a cúpula da empresa. Uma dessas idéias, que ele próprio considera simples, quase simplória, tem feito a diferença no desempenho e no astral do jornal: a criação de um banco de pautas. A proposta básica é que cada jornalista d`O Estado fique atento, muito atento, ao que se passa ao redor, e leve para o jornal boas pautas. As que não puderem ser aproveitadas de imediato vão para o banco. Ele próprio assumiu essa postura, ao abdicar, por exemplo, do automóvel a que tinha direito com o cargo assumido, para andar de ônibus e, com isso, ter contato direto com as pessoas da rua, com a cidade, com seus dramas e encantos. Claro que fazer isso em Campo Grande é relativamente mais fácil do que em São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília, mas ainda assim mesmo nos grandes centros o contato com a população e com os problemas é fundamental para não se descolar da realidade. Cláudio, aliás, freqüenta os lugares populares tanto quanto as festas importantes, de olho numa boa história. Descobriu várias, como a do padre japonês, que atua na capital sul-matogrossense, uma raridade em se tratando de igreja católica. São histórias que estão ganhando espaço no jornal e leitores na cidade.

Em São Paulo, para reforçar e ilustrar a tese de Cláudio, um dos bairros mais importantes e pujantes da cidade – a Zona Leste – simplesmente não existe no noticiário cultural, econômico e político. No entanto é um dos campeões no que diz respeito às páginas policiais. E sabem por quê? Porque lá moram pouquíssimos jornalistas, em comparação com os bairros tradicionais, sobretudo os das zonas mais centrais. Não moram, não vêem e, conseqüentemente, não pautam. O assunto é tão sério e tão ruim para a audiência dos jornais, que os veículos que cobrem a cidade já descobriram a falha e tentam saná-la contratando jornalistas da região que continuem morando por lá.

O tema é obviamente recorrente, mas não deixa de ser, apesar disso, atualíssimo. Com a perda sistemática de leitores e receitas, o meio Jornal enfrenta, em todo o mundo, uma crise sem precedentes e um imenso desafio, o de estancar a queda de audiência e voltar a crescer. O problema é que a vida, para eles, não continuará fácil, sobretudo ao se saber que a cada dia, como diz com muita propriedade o vice-presidente da Editora Abril, Thomaz Souto Corrêa, nas palestras que faz por esse Brasil afora, morre leitor de jornal impresso e nasce leitor de jornal on-line. Os três maiores jornais brasileiros – Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de S.Paulo -, por exemplo, que o digam. Os três perderam nos primeiros anos desta década 20% de circulação. Em 2004 a situação parece ter sido menos ruim. Ao menos para a Folha que manteve-se estável, com 310 mil exemplares de tiragem diária média. Para quem já tirou, nos anos de ouro, mais de 1 milhão de exemplares, esse é um número muito tímido. E olha que a superioridade atual da circulação da Folha é de cerca de 15% sobre O Globo e de 32% sobre O Estado de S. Paulo.

Para 2005, o quadro é um pouco melhor, no caso da Folha. A empresa espera fechar o ano com crescimento de 10% na circulação e vai investir para isso.

Vários são os fatores que podem ser apontados como decisivos nessa crise. A queda de receita, a acomodação dos times a uma situação de poucos recursos e muita informação semi-pronta chegando ‘de graça’ às redações, uma profissionalização sem precedentes do segmento de assessoria de imprensa, a falta de ousadia e visão para quebrar o atual paradigma, e, obviamente, redução drástica de equipes, com dispensa inclusive de grandes talentos (maiores salários). Junto com a experiência, talento e ousadia foram-se milhares de leitores que estão fazendo falta tremenda atualmente.

Se a idéia é buscar o tempo perdido, não custa nada bater na tecla de que, entre as mudanças necessárias, a pauta, a qualidade das matérias, a proposta editorial de um jornal podem fazer a diferença e ajudar nesse processo de recuperação. Há, é claro, uma série de outros fatores e todos são importantes, mas o fundamental é que a reflexão seja feita e as mudanças realizadas.

Sair da mesmice, buscar o novo (e muitas vezes ele está nas coisas simples da vida), contar boas histórias, colocar o cidadão comum em destaque no jornal da cidade, podem ser contrapontos importantes e poderosos em relação ao jornalismo sem criatividade e burocrático que a significativa maioria das redações brasileiras tem praticado.

Todos sabemos a importância de resgatar o meio jornal para as futuras gerações, até em nome da sobrevivência de inúmeras empresas e de milhares de empregos. Mexer na pauta é um tema que muito tem-se debatido. Outro é o de olhar a notícia por seu ponto futuro e não passado, sobretudo porque o factual, a notícia pura e simples do que aconteceu no mundo, no país e na cidade, virou commoditie dos veículos on-line e da mídia eletrônica (rádio e tevê), que são muito mais ágeis que os meios impressos.

O assunto é tão sério que o maior jornal do País, a Folha de S.Paulo, também está pensando nele e ensaia mudanças, como apurou este Jornalistas&Cia – Cenários. Uma delas envolve exatamente o repertório das pautas, ao lado de medidas como uma nova reformulação gráfica, contratação de novos colunistas e um estreitamento dos vínculos entre a Folha e o Folha Online. O objetivo é aproximar mais o jornal do interesse concreto, prático, imediato da maioria dos leitores e manter, ao mesmo tempo, o perfil de um jornal de qualidade, de leitura e de reflexão crítica.

Se tivermos também melhores salários, jornadas de trabalho civilizadas, maior liberdade de ação (e cobrança de resultados dela decorrente), tempo e gente para buscar as boas histórias onde elas estiverem – e não apenas para receber as boas histórias que chegam prontas ou semi-acabadas às redações – aí sim a equação estará completa, iniciando-se, quem sabe, um novo ciclo de prosperidade – como todos desejam.’