Leia abaixo os textos desta sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006
GUERRA DAS CHARGES
Libaneses fazem megaprotesto contra charges
‘Centenas de milhares de muçulmanos xiitas transformaram ontem uma cerimônia religiosa no Líbano no maior protesto até então contra a publicação de charges do profeta Muhammad. Mas, diferentemente do que vinha ocorrendo nos últimos dias -pelo menos 13 pessoas já morreram em tumultos desde a eclosão dos protestos, no fim de janeiro-, a manifestação foi pacífica.
‘Estamos a seu serviço, Muhammad, profeta de Deus’, entoaram mais de 400 mil pessoas em Beirute durante a Ashura, cerimônia que marca a morte do imã Hussein, neto de Muhammad, há 1.300 anos.
O protesto foi convocado pelo Hizbollah. O líder espiritual do grupo extremista, o xeque Sayyed Hassan Nasrallah, pediu aos fiéis que tomassem posição na polêmica iniciada pela publicação, em setembro, de charges do profeta no jornal dinamarquês ‘Jyllands-Posten’.
‘Hoje estamos defendendo a dignidade do nosso profeta com palavras. Mas que o [presidente dos EUA] George W. Bush e o mundo arrogante saibam que, se for preciso, defenderemos nosso profeta com nosso sangue’, disse Nasrallah. ‘Condoleezza Rice, Bush e todos os tiranos que calem a boca’, disse, aludindo à acusação da secretária de Estado dos EUA de que os governos da Síria e do Irã estão insuflando os protestos e manipulando-os segundo seus propósitos políticos -algo negado ontem por Teerã.
Os fiéis responderam com frases como ‘morte à América’ e ‘morte a Israel’ e com faixas como ‘o que vem depois do insulto a valores sagrados?’.
Nasrallah jurou não ceder até que o governo da Dinamarca peça desculpas. O governo do país afirma que não pode se retratar por desenhos que um jornal publicou sob a vigência da liberdade de imprensa. Já o ‘Jyllands-Posten’ pediu desculpas publicamente.
Copenhague recomendou que seus cidadãos evitassem o Líbano, onde a embaixada do país foi queimada no último fim de semana. Também removeu 40 funcionários de seu corpo diplomático de países islâmicos e recomendou que dinamarqueses que atuam como assistentes humanitários não trabalhassem na Ashura. Além da embaixada em Beirute, a representação diplomática do país em Damasco havia sido queimada, e a de Jacarta, invadida.
Código de ética
A União Européia propôs a criação de um código de conduta da mídia, a ser adotado voluntariamente, para evitar ferir novamente suscetibilidades religiosas.
‘Assim a imprensa enviará ao mundo islâmico a mensagem de que está ciente das conseqüências de exercitar o direito à livre expressão’, disse o comissário da UE para Justiça e Segurança, Franco Frattini, ao jornal britânico ‘Daily Telegraph’. ‘Podemos auto-regulamentar esse direito e estamos prontos para isso.’
O responsável pelas política externa do bloco, Javier Solana, disse, em entrevista à agência de notícias Reuters, acreditar que as erupções de fúria já estejam arrefecendo e que o momento seja oportuno para reconstruir os laços com o mundo islâmico.
Indagado se concordava com a secretária americana sobre a manipulação dos protestos por Teerã e Damasco, Solana disse apenas que algumas manifestações aparentaram ter ‘um excesso de espontaneidade suspeito’.
A fim de amenizar as tensões, Solana visitará a região. Deve ir à Arábia Saudita, ao Egito, à Jordânia -países onde o governo se alinha ao Ocidente (sobretudo aos EUA) e onde não houve grandes protestos- e aos territórios palestinos. Ele irá ainda a Israel.
Ontem, líderes políticos e religiosos no Iraque, no Kuait e na Indonésia pediram moderação. Na véspera, o rei Abdullah da Jordânia fizera o mesmo. Com agências internacionais’
Craig Smith
Conferência islâmica propiciou protestos
‘DO ‘NEW YORK TIMES’, EM PARIS – A reunião de cúpula que reuniu dirigentes de 57 países muçulmanos em Meca, Arábia Saudita, em dezembro, foi dominada por temas como o extremismo religioso. Mas boa parte da discussão envolveu as charges que satirizavam o profeta Muhammad.
O comunicado publicado no encerramento do encontro condenou ‘o incidente recente de profanação da imagem do sagrado profeta Muhammad na mídia de determinados países’. Ainda temia que a liberdade de expressão fosse ‘utilizada como pretexto para difamar religiões’. O encontro atraiu cobertura mínima da mídia internacional.
Mesmo assim, a reunião da Organização da Conferência Islâmica (OCI) foi o ponto de inflexão das atuais manifestações. Depois da reunião, a revolta provocada pelas charges tornou-se mais pública. Em países como Síria e Irã, isso significou cobertura intensa na mídia oficial e a virtual aprovação do governo aos protestos que acabaram com embaixadas dinamarquesas queimadas.
‘A questão não foi grande coisa até a conferência islâmica, quando a OCI condenou as charges’, disse Muhammad Said, vice-diretor do Centro Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos, no Cairo.
Sari Hanafi, professor da Universidade Americana em Beirute, afirmou que, para os governos árabes que rejeitam a investida ocidental pela democracia, as manifestações foram uma oportunidade para reduzir a atração exercida pelo Ocidente sobre os árabes. A liberdade defendida pelo Ocidente, elas pareciam dizer, traz o desrespeito ao islã.
Os protestos também permitiram que governos manobrassem contra o desafio crescente dos movimentos oposicionistas islâmicos, pois eles próprios tomaram a dianteira na defesa do islã.
O ritmo da reação se intensificou no fim do ano, quando ganhou força a possibilidade de boicote. A Organização Educacional, Científica e Cultural Islâmica, que tem mais de 50 países-membros, divulgou uma declaração condenando ‘a campanha agressiva’ travada contra o islã pelo ‘Jyllands-Posten’. Surgiu o plano de boicotar a Dinamarca até que se desculpasse pelas charges.
Em 26 de janeiro, numa iniciativa-chave, a Arábia Saudita chamou de volta seu embaixador na Dinamarca, e a Líbia seguiu seu exemplo. ‘Os sauditas fizeram isso porque precisavam marcar pontos contra os fundamentalistas islâmicos’, disse Said, o cientista político do Cairo.
Nas eleições, o sucesso dos islâmicos no Egito e do Hamas na Palestina deram um novo impulso ao movimento de protesto. Tradução de Clara Allain’
***
Editor dinamarquês queria investigar censura das artes
‘A controvérsia em torno das charges sobre Muhammad começou em setembro, quando o jornal de maior circulação na Dinamarca, o ‘Jyllands-Posten’, pediu a 12 cartunistas que desenhassem o profeta do islã.
O editor de cultura do jornal, Flemming Rose, disse ao ‘Washington Post’ que o propósito era jornalístico: apurar se o mundo das artes se autocensurava por temer exaltar radicais islâmicos.
Citou a remoção de possíveis trabalhos ofensivos aos muçulmanos de museus em Londres e na Suécia, o temor revelado por um comediante quanto a piadas sobre o Alcorão (embora ele se sentisse à vontade ao satirizar a Bíblia) e a dificuldade do autor de um livro infantil em seu país de achar um ilustrador para Muhammad -para evitar idolatria, o islã proíbe retratar o profeta.
A maioria das charges é sóbria. Algumas, no entanto, ligam a imagem do profeta ao terror. Com a reprodução dos desenhos, desde dezembro, por outros jornais europeus, os protestos se espalharam pelo mundo islâmico como rastro de pólvora.’
Irshad Manji
Acalmem-se, colegas muçulmanos!
‘No Fórum Econômico Mundial, em janeiro, observei algo revelador. Em uma sessão sobre a direita religiosa americana, um cartunista satirizou um dos mais influentes pastores cristãos dos EUA, Pat Robertson. Na platéia, rindo junto com o resto de nós, estava um destacado muçulmano britânico. Mas seu sorriso desapareceu no instante que nos mostraram uma charge zombando de clérigos muçulmanos.
Desde então, uma batalha acirrada explodiu entre a União Européia e o mundo muçulmano em torno de caricaturas do profeta Muhammad. Meses atrás, o jornal dinamarquês ‘Jyllands-Posten’ publicou charges que mostravam o mensageiro do islã usando, entre outras coisas, um turbante transformado em bomba-relógio. Embora o jornal tenha pedido desculpas, a polêmica já se espalhou como uma metástase.
Em resposta, manifestantes muçulmanos incendiaram missões de países escandinavos na Síria, no Líbano e no Irã. Ameaças de bomba chegaram às redações de mais de um jornal europeu. Vários países árabes já chamaram seus embaixadores de volta de Copenhague. Boicotes de produtos dinamarqueses se espalham por supermercados em todo o mundo árabe, e muçulmanos de países tão distantes quanto a Índia e a Indonésia vêm invadindo as ruas para queimar bandeiras da Dinamarca -que incluem a cruz, um dos mais sagrados símbolos do cristianismo.
Na semana passada, milhares de palestinos gritaram ‘morte à Dinamarca!’. Copenhague retirou seus cidadãos da faixa de Gaza e lançou um aviso urgente para que saiam da Cisjordânia. Muçulmanos também vêm sendo vitimados nos tumultos: 11 morreram só no Afeganistão durante de protestos.
As elites árabes adoram controvérsias como essa porque elas lhes oferecem oportunidades convenientes para desviar a revolta para longe das injustiças locais. Não surpreende que o presidente Emile Lahoud, do Líbano, tenha insistido em que seu país ‘não pode aceitar qualquer insulto a qualquer religião’. Essa é boa. Desde o final dos anos 70, o governo libanês licencia a TV via satélite Al Manar, controlada pelo Hizbollah, uma das emissoras mais violentamente anti-semitas do globo.
Do mesmo modo, o ministro da Justiça dos Emirados Árabes Unidos disse que as charges dinamarquesas representam ‘terrorismo cultural, não liberdade de expressão’. Isso é dito por um país que promove sua capital como sendo ‘a Las Vegas do Golfo’, mas bloqueia meu website -muslim.refusenik.com- por considerá-lo ‘incoerente com os valores morais’. Vai ver meu site deveria ser um cassino online.
Os muçulmanos têm pouca integridade quando exigem o respeito por nossa religião sem demonstrar respeito pelas outras. Quando foi que nos manifestamos contra a política da Arábia Saudita de impedir cristãos e judeus de pisar no solo de Meca?
Nada disso diminui a necessidade de que minha religião seja levada a sério. Afinal, os muçulmanos levam a sério até mesmo a necessidade de serem sérios: o islã tem um ensinamento contra o ‘riso excessivo’. Não estou brincando. Mas isso quer dizer que devemos gritar ‘blasfêmia’ contra retratos nada elogiosos do profeta Muhammad? Por Deus, não!
Para começo de conversa, o próprio Alcorão observa que sempre haverá não-crentes e que cabe a Alá, e não aos muçulmanos, lidar com eles. Ademais, o Alcorão afirma que ‘não existe compulsão na religião’, o que sugere que ninguém deve ser forçado a tratar as normas islâmicas como sagradas.
Ótimo, retrucarão muitos muçulmanos, mas estamos falando do profeta Muhammad -o mensageiro último e, portanto, perfeito de Alá. Entretanto a tradição islâmica reza que o profeta foi um ser humano que cometeu erros. É precisamente porque ele não foi perfeito que sabemos dos chamados Versos Satânicos, uma coletânea de trechos que o profeta teria incluído no Alcorão. Apenas mais tarde é que ele se deu conta de que esses versos glorificavam ídolos pagãos, em lugar de Deus. Segundo a tradição islâmica, Muhammad retratou os trechos idólatras, atribuindo-os a uma peça pregada nele por Satanás.
Quando nós, muçulmanos, colocamos o profeta num pedestal, estamos praticando uma idolatria própria. O objetivo do monoteísmo é adorar um Deus único, não um dos emissários de Deus. É por isso que a humildade requer que as pessoas de fé zombem delas próprias -e umas das outras- de vez em quando.
Eis, então, minha tentativa de zombaria: um padre, um rabino e um mulá se encontram numa conferência sobre religião e discutem seus diferentes credos. A conversa passa para o tema dos tabus.
O padre diz ao rabino e ao mulá: ‘Não me digam que vocês dois nunca comeram carne de porco’. ‘Nunca!’ responde o rabino. ‘De jeito nenhum’, insiste o mulá.
Mas o padre reage com ceticismo. ‘Falem a verdade -nem uma só vez? Quem sabe num momento de rebelião, quando vocês eram jovens?’.
‘OK’, confessa o rabino. ‘Quando eu era jovem, eu uma vez mordi um pedaço de bacon.’
‘Confesso’, ri o mulá (mas não excessivamente). ‘Num arroubo de arrogância juvenil, experimentei uma costeleta de porco.’
A conversa passa, então, para as proibições religiosas observadas pelo sacerdote. ‘Não me diga que você nunca fez sexo’, diz o mulá.
‘É claro que não!’, protesta o padre. ‘Fiz voto de castidade.’
O mulá e o rabino reviram os olhos. ‘Quem sabe, depois de alguns drinques?’, brinca o rabino. ‘Quem sabe, num momento de tentação, sua fé não tenha traquejado?’ indaga o mulá.
‘OK’, admite o padre. ‘Uma vez, quando eu estava no seminário e fiquei bêbado, tive relações sexuais com uma mulher.’ ‘É melhor do que carne de porco, não é?’, dizem o rabino e o mulá.
Obviamente, sou tão impura como feminista quanto sou como muçulmana. A diferença é que feministas ofendidas não vão ameaçar me matar. O mesmo não pode ser dito de muitos de meus irmãos muçulmanos.
Que parte de ‘não existe compulsão’ eles não compreendem?
Irshad Manji é autora de ‘Minha Briga com o Islã’. Texto reproduzido com a permissão do ‘Wall Street Journal’. Tradução de Clara Allain’
TODA MÍDIA
Pizza! Pizza!
‘No ‘JN’ , entrou lá pelo meio de uma reportagem:
– A CPI também aprovou, com apoio da oposição, a convocação de Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas que teria feito uma suposta lista de políticos, a maioria do PSDB e do PFL, que teriam recebido dinheiro ilegal na campanha de 2002. Toledo negou a existência da lista. A oposição diz que ela é falsa.
Antes, na mesma Globo, Alexandre Garcia exagerou:
– Outra convocação é a de Dimas Toledo, que tem como pedigree ter sido indicado pelo trio Pedro Corrêa, José Janene e Vadão Gomes, todos do PP.
Para contraste, no registro de Jorge Bastos Moreno, de volta ao blog no Globo Online, ‘a agressividade de FHC contra Lula’ nos últimos dias foi em reação às ‘ameaças de Furnas’.
Josias de Souza, cujo blog na Folha Online não deixou o caso esmorecer nos últimos dias, avançou na história, ouviu Roberto Jefferson e quer mais:
– Já que o fio do novelo começou a ser puxado, a CPI dos Correios não tem como deixar de ouvir também Nilton Monteiro. Depois de divulgar a ‘lista de Furnas’, ele vira e mexe diz ter coisas relevantes a contar à CPI. É preciso ouvir logo o sujeito. Para o bem ou para o mal.
Para o cientista político Fernando Abruccio, ouvido pelo UOL, com os depoimentos de Dimas Toledo e de Duda Mendonça ‘a CPMI dos Correios deve sair da fase de chantagem’.
Diz ele que ‘o pior da crise já passou’ -e a CPI dos Bingos, que tenta sobreviver à CPMI dos Correios, é ‘um desastre’ que ‘não sabe para onde atirar’.
O cientista político nem tinha idéia, mas no momento em que opinava a crise se apresentava, de fato, nas últimas -ao menos para alguns dos personagens. Na manchete do portal iG:
– Pizza! Pizza! Conselho absolve Pedro Henry, do PP.
‘Pela primeira vez desde o início da crise’, registrou o Globo Online, ‘o parecer de um relator pedindo a cassação é rejeitado’. Do próprio relator, após a derrota, no blog de Ricardo Noblat:
– A contrapartida vai se dar agora no plenário, com a absolvição de Roberto Brant, do PFL, e de outros deputados do PP.
PFL e PP, nascidos ambos da Arena, se mostram assim os profissionais de sempre.
Já PSDB e PT, que deram votos para absolver Pedro Henry, só se unem quando saem ambos prejudicados, como nas duas convocações ontem na CPMI.
Na ironia do site Congresso em Foco, tucanos e petistas fecharam um ‘acordão do bem’.
O RENASCIMENTO
Lula, ontem no ‘Jornal da Record’
– Lula desafia incrédulos com renascimento popular.
Era o enunciado do ‘Financial Times’, ontem, para longa reportagem, traduzida por UOL e BBC Brasil, com os resultados da pesquisa Datafolha e toda a ‘enxurrada de boas notícias para o presidente do Brasil’ neste mês.
Além do apoio popular, que ‘voltou aos níveis anteriores à crise’, o jornal destacou como boas novas para Lula ‘os números da produção industrial em dezembro, aparentemente mostrando que o ano passado não terminou com a choradeira que muitos esperavam’, e muito mais:
– A queda do desemprego e dos juros, aumento considerável do salário mínimo, cortes de impostos para indústria da construção, uma colheita enorme a caminho…
Porém, avisa, ‘uma pesquisa não constitui tendência’.
Também ontem, o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, participou de bate-papo na Folha Online. Dele:
– Como Lula cresceu principalmente entre os mais pobres e menos escolarizados, é razoável supor que os benefícios sociais, o aumento do salário mínimo e as aparições na mídia foram fatores decisivos. [Mas] não dá para dizer ainda que seja uma tendência de crescimento.
Para contraste, destacou o editorial do jornal ‘Valor’:
– As pesquisas revelam um padrão atípico. Mais do que a recuperação da popularidade do presidente, elas apontam para o fato de que a recuperação de Lula passou ao largo dos convencionados ‘formadores de opinião’. As camadas de mais alta renda mantêm o pé atrás… Ao que tudo indica, nas eleições haverá descolamento entre ‘formadores’ e as camadas mais pobres da população.
PADRÃO ATÍPICO
Para contraste, escreveu o editorial do ‘Valor’, sobre os mesmos resultados:
– As últimas pesquisas revelam um padrão atípico. Mais do que a recuperação da popularidade do presidente, as pesquisas apontam para o fato de que a recuperação de Lula passou ao largo dos convencionados ‘formadores de opinião’. As camadas de mais alta renda mantêm o pé atrás… Nestas eleições, ao que tudo indica, haverá um descolamento entre esses ‘formadores’ e as camadas mais pobres da população.
Bolha
Da nova revista ‘Economist’:
– O poder do lobby agrícola leva os EUA a doar bilhões em subsídios ao etanol de milho -e impor tarifas às importações do etanol de cana do Brasil, mais barato e muito mais eficiente.
De sua parte, o ‘Wall Street Journal’ noticiou ‘a bolha do açúcar’, uma corrida dos fundos ao açúcar, estimulada em parte pelo interesse em etanol.
Espaço
Do Valor On Line, ‘Aftosa na Argentina abre espaço para o Brasil’. Da Folha Online, ‘Brasil espera ganhar mercado’.
Já na Argentina, no La Nacion Line, ‘polêmica sobre a origem do vírus: pode ser contrabando’. No Clarín.com, ‘é uma base viral, os focos do Brasil são parte dela’.’
TELEVISÃO
Rede TV! vai fazer ‘Desperate Housewives’
‘O cultuado e premiado seriado americano ‘Desperate Housewives’ vai ganhar uma versão brasileira. Será na Rede TV!, que anteontem fechou contrato com a Disney, detentora da série.
A Rede TV! investiu US$ 2,5 milhões pelos direitos de co-produção do programa, que deverá se chamar ‘Donas de Casa Desesperadas’. Serão 23 episódios de uma hora cada, que começam a ser gravados em junho na Argentina, com elenco e diretor brasileiros.
A Rede TV!, na verdade, participará de um pool de redes latinas para co-produção da série numa escala industrial. Estão no pool a mexicana Azteca, a argentina Artear, a colombiana RCN e uma TV chilena. A parceria será anunciada em festa dia 23, em Miami.
Todas as redes compartilharão o mesmo texto (com adaptações locais), que será quase igual ao americano. Cenários, figurinos e elenco de apoio também serão compartilhados, o que reduzirá custos de produção. De um país para o outro, mudará apenas o elenco e a direção. Todas as gravações serão em estúdios da produtora argentina Polka. A Rede TV! arcará ainda com os salários dos atores e diretor. Para a diretora artística da emissora, Monica Pimentel, a produção será um marco histórico da Rede TV!.
‘Desperate Housewives’ mistura humor negro com drama e conta a vida de quatro donas de casa. A narradora é uma mulher que, cansada da rotina, se matou.
OUTRO CANAL
Babado forte 1 Os teledramaturgos Aguinaldo Silva (‘Senhora do Destino’) e Gilberto Braga (‘Celebridade’) tiveram uma longa conversa anteontem. Silva recebeu um apelo da Globo para preparar urgentemente a sinopse de uma novela das 21h, que poderá entrar no ar já no início de 2007, no lugar da de Gilberto Braga, substituindo ‘Páginas da Vida’, de Manoel Carlos.
Babado forte 2 Pela ‘fila’ da Globo, Silva só deveria entrar no ar após Braga, no final de 2007. Chegou aos ouvidos de Braga a fofoca de que Silva é que queria furar a fila. Silva desmente e diz que enviará hoje à Globo uma resposta dizendo que está de férias e que ‘novela em período de férias é novela extra. E novela extra exige o pagamento de um bônus, de acordo com cláusula contratual’.
Babado forte 3 A Globo, oficialmente, diz que Braga está confirmado após Manoel Carlos e que pediu uma sinopse a Silva para ter uma história de reserva para eventual imprevisto grave.
Novos tempos O SBT estava em festa ontem. Na quarta, a emissora ganhou da Record no horário nobre por dez pontos a nove. Estava virando rotina perder para a Record das 18h às 24h.
Clonagem As imagens do Haiti, exibidas com estardalhaço no ‘Jornal da Record’ anteontem, já tinham sido mostradas, há duas semanas, pelo ‘Jornal da Band’, que pagou R$ 2.000 pela fita.’
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O Globo
Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006
INTERNET
Googleituras
‘Uma queixa que não vai embora: nossos filhos e netos estão lendo cada vez menos. Já escrevi sobre isso, mas, abastecido por novos palpites, gostaria de revisitar o assunto.
A queda no índice de leitura de livros, antes atribuída exclusivamente ao fascínio pela televisão, parece ter hoje mais dois responsáveis de peso: o iPod (forma de ouvir música pelo menos bem educada: o som vai exclusivamente para os ouvidos do paciente) e o computador.
É preciso registrar que a garotada lê e escreve sem parar nos computadores. Eles tanto praticam jogos eletrônicos como conversam entre si (talvez um pouco mais as meninas do que os meninos, mas não tenho certeza) o tempo todo. Mas o idioma não é o português que conhecemos: usam (aqui e em outros países) uma linguagem altamente sincopada, inundada de expressões em inglês básico. Fazem-no, garantiram minhas fontes, em nome da pressa – e, se dá para entender, que mal que tem? A pergunta é retórica e estamos dispensados de responder.
Ainda bem que estão escrevendo para se comunicar – mas é pena que isso não seja um caminho na direção de algum apreço pela língua pátria e pela literatura como fábrica de prazer pessoal. (A propósito, lamente-se que um dos canais de TV por assinatura da NET tenha aderido à heresia, legendando alguns filmes no idioma cifrado da garotada).
Deixando os meninos em paz, passemos, em corajosa demonstração de imparcialidade, a uma pergunta aos adultos que se dizem viciados na chamada cultura livresca: quantas vezes ultimamente vocês têm sido levados a ler um livro novo ou reler um capítulo de outro, em busca de informação e atualização sobre questões a que são chegados? Andam metendo o nariz nos volumes com a intensidade de antigamente, ou pescam quase tudo que querem no Google?
Honestamente, todos nós que trabalhamos com as letrinhas amamos o Google pela rapidez com que nos fornece informações específicas sobre quase tudo – freqüentemente permitindo que aparentemos uma sapiência inexistente.
Trata-se, claro, de eficiente fornecedor de dados – mas é preciso não esquecer que ele está longe de ser o instrumento cultural que só o livro pode ser. Nem tem qualquer pretensão nesse sentido. Não sei se a imagem é adequada, mas diria que o Google é onde pescamos, não onde nadamos nem mergulhamos. E onde encontramos o que sabíamos que precisávamos – não o que nos fazia falta, mas disso não sabíamos.
Meu conselho (que até pretendo seguir, a partir de segunda-feira sem falta) é só recorrer à mina de ouro dos rapazes quando absolutamente necessário e urgente. E, sempre que possível, refrescar a memória freqüentando velhas e boas estantes. Livros não oferecem apenas a informação que buscamos: também nos dão aquelas que sequer sabíamos existir.
Além disso, nenhuma estante esconde o seu recheio – enquanto o Google fez um papelão e abriu perigoso precedente ao aceitar a censura oficial na China.
Episódio sobre o qual o site produziu versão cuidadosamente pasteurizada. Podem conferir: está no Google.’
O Globo
Yahoo teria ajudado a China a prender ativista
‘PEQUIM. A Yahoo Inc. forneceu informações às autoridades chinesas que levaram à prisão de um escritor independente que vinha usando a internet para se expressar, segundo acusações feitas ontem por ativistas e advogados. Este é o segundo caso sobre cerceamento à liberdade de expressão na China envolvendo grandes companhias americanas de internet. Interessadas em abocanhar um mercado com um potencial de milhões de internautas, as corporações estão se submetendo aos limites políticos impostos pelo governo chinês.
A mais recente tempestade a se abater sobre empresas do setor que atuam no país asiático ocorre apenas duas semanas depois de a gigante Google ter ficado sob fogo cerrado, por ceder às pressões do governo da China para censurar o acesso a informações consideradas ‘sensíveis’ na versão chinesa de seu site.
Empresa diz que é obrigada a fornecer informações
O escritor e ativista veterano Liu Xiaobo afirmou que a Yahoo – uma das maiores potências da internet, que oferece uma variada gama de serviços, como ferramenta de busca e e-mails – cooperou com a polícia chinesa nas investigações que levaram à prisão, em 2003, de Li Zhi, que acabou sentenciado a oito anos de prisão, depois de tentar se filiar ao proscrito Partido Democrático da China.
A Yahoo teria fornecido aos agentes de segurança detalhes do registro de Li como usuário do site, acusou Liu em um artigo publicado no Boxun, um portal de notícias em língua chinesa sediado nos Estados Unidos. Liu citou um depoimento de defesa dos advogados de Li.
Mary Osako, porta-voz da Yahoo, disse que a empresa está examinando a denúncia e que a internet é um fator positivo na China.
– Os governos não são obrigados a informar aos provedores de serviços o motivo pelo qual estão solicitando determinadas informações e normalmente não informam – disse a porta-voz. – Não temos como saber se o pedido de informações se refere a um caso de assassinato, seqüestro ou outro crime.
Mas a organização Repórteres Sem Fronteiras afirmou que o argumento da Yahoo de que simplesmente respondeu à demanda das autoridades não se sustenta. ‘A Yahoo certamente sabia que estava ajudando a prender dissidentes políticos e jornalistas, e não criminosos comuns’, disse a organização, em nota divulgada ontem.
O grupo, ao lado do Comitê de Proteção a Jornalistas, também está cobrando da Yahoo que divulgue uma lista com os nomes de todos os jornalistas de internet cujas informações cadastrais ela repassou às autoridades chinesas.
O caso é o exemplo mais recente dos atritos entre a obtenção de lucro e a defesa de princípios que vêm atingindo empresas de internet na China, hoje o segundo maior mercado do setor.’
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Google interativo
‘SÃO FRANCISCO e NOVA YORK. A Google Inc. está oferecendo uma nova ferramenta que vai transferir automaticamente dados de um computador para outro, permitindo a troca de informações entre internautas, ou até mesmo entre o trabalho e a casa. Para isso, o usuário tem de especificar que informações podem ser indexadas e dar a permissão à Google para transferir o material, que será criptografado, para seus próprios arquivos. Assim que um computador integrado àquela rede for ligado, as informações serão transferidas automaticamente. A Google se compromete a apagar os dados depois de 30 dias e não examinar seu conteúdo.
Em dezembro de 2005, a Google respondeu por 48,8% das buscas feitas nos EUA, segundo pesquisa divulgada ontem pela Nielsen/NetRatings, contra 43,1% um ano antes. A Yahoo ficou estável em 21,4% e a MSN, da Microsoft, recuou de 14% para 10,9%.’
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Wikipedia põe senadores dos EUA sob suspeita
‘WASHINGTON. A mais popular enciclopédia online, Wikipedia, acusou funcionários do Congresso americano de realizar mudanças numa série de biografias de senadores. O conteúdo do site é aberto a mudanças de seus usuários e seu acesso é gratuito, o que leva milhares de pessoas do mundo inteiro a consultá-lo diariamente.
A Wikipedia afirmou que pesquisadores rastrearam acessos do Congresso para remover fatos desagradáveis descritos em biografias de senadores. Alguns textos, disse o site, foram destruídos. Uma investigação foi aberta depois de funcionários do deputado republicano Marty Meehan admitirem ter alterado a biografia dele.
A biografia do presidente George W. Bush já foi modificado tantas vezes – não apenas por meio dos computadores do Congresso – que a Wikipedia bloqueou as alterações.
De liberal na juventude, senador passou a ser ativista
Analisando as alterações nos textos, pesquisadores chegaram a vários computadores ligados ao Senado americano e identificaram as mudanças. O site divulgou algumas biografias alteradas, entre elas as dos senadores Norm Coleman, Dianne Feinstein e Tom Harkin.
O gabinete de Coleman disse que funcionários fizeram mudanças em sua biografia para corrigir imprecisões e deletar informações que não refletiam sua política. No trecho em que o senador era descrito como um liberal quando era universitário, ele passou a ser descrito como ativista. Também foi apagada uma referência ao fato de ele ter votado a favor do presidente George W. Bush em 98% das votações de 2003.
Já os funcionários de Harkin removeram um parágrafo segundo o qual ele havia mentido ao afirmar ter participado de missões de combate na Guerra do Vietnã.’
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O Estado de S. Paulo
Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006
GUERRA DAS CHARGES
Polícia pede silêncio aos cartunistas dinamarqueses
‘O dinamarquês Mogens Blicher Bjerregard tem uma nova e grande responsabilidade sobre os ombros. Além de ser presidente do Sindicato dos Jornalistas da Dinamarca, sua mais nova função é falar em nome dos 12 desenhistas cujas charges de Maomé causaram a onda de protesto muçulmano em todo o mundo. Um dos cartunistas, Claus Seidel, disse ao Estado por telefone: ‘Desculpe-me, mas a polícia nos recomendou não falar com nenhum jornalista. Quem fala em nosso nome é Bjerregard.’
A recomendação policial visa a evitar expor ainda mais os cartunistas, já que suas cabeças foram postas a prêmio por extremistas islâmicos do Paquistão. Como conseqüência, o telefone de Bjerregard não pára de tocar. ‘Estou tendo muito trabalho’, disse ao Estado. ‘Nos últimos dias conversei com 40 jornais e canais de televisão sobre o assunto.’
Mas a declaração não é um lamento. Bjerregard entende que essa intermediação é necessária para garantir que o esforço de segurança criado pelo governo e a polícia do país funcione bem. ‘O sindicato está fazendo tudo o que pode para ajudá-los nesse período difícil.’ E, apesar das ameaças de morte, o presidente afirmou que eles estão vivendo normalmente. ‘A proteção policial é feita de forma muito profissional, o que minimiza os riscos e o drama’, comentou.
No entanto, o aparato de segurança não ameniza o temor e o sentimento de culpa dos desenhistas: ‘Eles estão com medo e também sentem o peso da responsabilidade em seus ombros, embora não seja culpa deles o mundo ter explodido como explodiu.’ Quem seria o responsável, então? ‘Essas 12 charges não podem ter sido a única causa de todas essas manifestações’, opina. ‘Há várias intenções sob esses protestos. A questão religiosa é a mais explícita, mas também há motivações políticas.’ Na quarta-feira, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, acusou a Síria e o Irã de estimular os protestos.
Bjerregard organizava havia um ano um seminário para reunir cartunistas dinamarqueses e da África do Norte, Oriente Médio e região do Golfo. ‘Por causa dos protestos, tivemos de adiar o encontro, que seria no fim do mês’, disse. ‘Lamento, pois é muito importante usar o diálogo para chegar à compreensão mútua. Espero conseguir remarcar o seminário o mais breve possível.’’
INTERNET
Yahoo! ajuda a deter dissidente chinês
‘ASSOCIATED PRESS E EFE, PEQUIM – A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) acusou ontem o servidor e buscador de internet Yahoo! de passar informações para as autoridades chinesas que ajudaram na prisão do dissidente Li Zhi. Este seria o segundo caso envolvendo a companhia americana.
‘A empresa diz que simplesmente responde às citações judiciais e geralmente não é informada para que os dados serão utilizados’, informou a RSF em um comunicado enviado à imprensa. ‘Este argumento já não tem fundamento, pois Yahoo! sabia que estava ajudando a prender dissidentes políticos e jornalistas e não apenas criminosos comuns’, acrescentou o comunicado. A porta-voz do Yahoo! em Sunnyvale, Califórnia, Mary Osako, disse que o Yahoo Hong Kong não teve acesso à conta chinesa de Li. Ela acrescentou que a empresa está investigando se o Yahoo China, dirigido por uma empresa subsidiária, forneceu as informações.
Li foi preso em 2003 acusado de desafiar o poder do Estado e condenado a 8 anos de prisão após tentar unir-se ao dissidente Partido Democrático da China. Ele foi acusado de subversão após criticar na internet a corrupção oficial.
Em setembro, a RSF denunciou que Yahoo! ajudou as autoridades chinesas a identificar o jornalista Shi Tao que, segundo o governo chinês, forneceu a jornais estrangeiros um comunicado oficial advertindo sobre a possibilidade de tensões sociais pelo aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial.
A colaboração dos gigantes da internet com Pequim aumentou no mês passado, quando o também americano Google lançou na China um buscador que censura certos temas desagradáveis para o Partido Comunista. O Google chinês também exclui e-mails e blogs. Para alguns analistas, essa medida é parte de uma estratégia para evitar ter de fornecer informações ao governo chinês.
Em seu informe anual dos últimos dois anos, o RSF tem considerado a China como ‘a maior prisão do mundo para jornalistas’, já que mantém detidos 32 jornalistas e 62 dissidentes que veicularam informações e artigos críticos do governo chinês por meio da internet.
A Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Representantes dos EUA realizará no dia 15 uma audiência sobre a responsabilidade ética das empresas que mantêm negócios com a China.
‘Agora sabemos que Yahoo! trabalha regularmente com a polícia chinesa’, afirmou o Repórteres Sem Fronteiras. A organização pediu às empresas de internet que utilizem nos ‘países repressivos’ servidores localizados nos EUA, para que os governos tenham de obedecer à legislação americana ao obter informações sobre os usuários.’
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Pactos suicidas via web batem recorde no Japão
‘AP TÓQUIO – O número de suicídios coletivos mediante pactos pela internet registrou um recorde no ano passado no Japão, segundo dados oficiais. ‘Pelo menos 91 pessoas suicidaram-se em 2005 em 34 pactos feitos através da web em comparação aos 55 mortos nos 19 pactos de 2004’, revelou Yoshikuni Masuyama, porta-voz da Polícia Nacional.
Na maior parte dos casos, as vítimas são jovens que não se conhecem, mas têm um objetivo comum: o suicídio. Usam a internet para agir em conjunto. Uma das formas mais usuais é a morte por aspiração de monóxido de carbono.
Masuyama acrescentou que o total de suicídios por essa prática triplicou desde 2003, quando a polícia se deparou com os primeiros casos. Mas destacou um dado positivo registrado no último trimestre do ano passado, quando novas táticas de combate foram postas em prática.
A polícia pediu a colaboração dos provedores e passou a receber deles nomes e endereços de usuários suspeitos. ‘Interviemos com êxito em 12 casos, evitando o suicídio de pelo menos 14 pessoas’, ressaltou o porta-voz da polícia japonesa. ‘Nos últimos três meses de 2005, o total de suicídios coletivos caiu de 36 ocorridos no mesmo período de 2004 para 11.’ O Japão é, ao lado dos países europeus, um dos lugares em que mais acontecem suicídios.’
TV DIGITAL
TVs e teles disputam receita de nova tecnologia
‘Emissoras de TV e empresas de telefonia deixaram evidente ontem, durante seminário sobre políticas de telecomunicações, suas divergências em relação à transmissão de programas por novos meios, como o celular. A disputa se concentra principalmente em torno de uma nova receita, que surgirá com a TV digital e a convergência entre televisão, internet e telefonia. Um exemplo disso será a venda, pelas telefônicas, de pacotes de programação dirigidos a públicos específicos, como já ocorre na TV a cabo.
O presidente da Bandeirantes, João Carlos Saad, disse que a diferença entre os setores de radiodifusão e de telefonia é que o primeiro movimenta 7% da receita desse mercado, enquanto as operadoras detêm 93% da receita. ‘Nosso negócio é anônimo. Não sei quem está assistindo e entrego para o telespectador gratuitamente.’ Segundo ele, a receita das TVs está lastreada na publicidade e não há cobrança pelo serviço como na telefonia.
O presidente da operadora Oi, do Grupo Telemar, Luiz Falco, rebateu dizendo que as empresas de telefonia também têm 93% do investimento feito no Brasil, onde foram aplicados R$ 150 bilhões nos últimos anos. ‘Pagamos 44% de imposto, enquanto a mídia paga 15%.’ Falco disse que tanto o mercado como o cliente já nasceram convergidos. ‘Não nasceu metade voz, metade dados, metade novela.’
Falco é favorável à criação de uma legislação para o setor com a TV digital e com a nova Lei de Comunicação de Massa que não amarre o mercado. ‘Se quisermos regular o mercado, vamos ficar para trás.’ Ele previu que no fim do ano serão 110 milhões de celulares no Brasil. ‘Juntos, podemos ganhar muito dinheiro.’
As emissoras de TV querem preservar o domínio que detêm sobre o transporte e a distribuição do conteúdo. ‘Queremos nosso carro próprio. Precisamos do nosso fusca’, disse o vice-presidente de Relações Institucionais da Globo, Evandro Guimarães.
Antes, o vice presidente de Assuntos Regulatórios da Embratel, Luiz Tito Cerasoli, havia chamado atenção para o fato de que é no transporte dos sinais que pode surgir o monopólio, ou seja, na estrada por onde trafegam os produtos. E, se ela ficar restrita a um segmento, os produtos não chegam aos clientes.
Segundo Guimarães, a recepção da imagem será feita pelo aparelho celular e não pelo serviço de telefonia móvel. ‘É o desgraçadinho do celular que receberá a TV digital posta no ar pelas emissoras que têm diploma concedido pelo Executivo, com contratos claros.’
As emissoras de TV usam a Constituição como argumento para que as empresas de telefonia não façam transmissão de conteúdo. O artigo 222 estabelece limite de 30% de participação de capital estrangeiro nas empresas de radiodifusão e as telefônicas são, em sua maioria, controladas por estrangeiros.
Mas, segundo o presidente da Brasil Telecom, Ricardo Knoepfelmacher, as empresas de telefonia não querem fazer radiodifusão e também, ‘em princípio’, não querem produzir conteúdo. ‘Estão misturando estações. Nosso negócio não é radiodifusão. Queremos distribuir o conteúdo que os outros fazem. Não queremos fazer novela.’’
TELECOMUNICAÇÕES
BrT nega rumores de que será vendida
‘O presidente da Brasil Telecom (BrT), Ricardo Knoepfelmacher, negou ontem que as 800 demissões anunciadas na semana passada de funcionários da empresa signifiquem um preparativo para a venda da operadora. ‘Não é para vender, foi uma necessidade, para valorizar a empresa’, disse ele após participar de um seminário sobre políticas de telecomunicações.
Também na semana passada, voltaram a circular no mercado informações de que o Citigroup e fundos de pensão, atuais controladores da Brasil Telecom, teriam retomado as negociações com a Telecom Italia para vender a parte deles para a sócia italiana.
‘Estamos só conversando, como sempre, as conversas nunca foram interrompidas. Agora, se está mais quente ou menos quente isso é muito relativo’, respondeu o presidente da Telecom Brasil sobre a possibilidade de essas negociações estarem agora mais avançadas.
Knoepfelmacher assegurou que, por enquanto, não haverá mais demissões. ‘A Brasil Telecom é uma empresa extremamente eficiente, mas estava inchada. Nós tratamos o assunto com a decência e a justiça que a situação merecia. Tudo foi feito da melhor maneira possível, mas era uma necessidade, não era uma opção nossa fazer ou não fazer. Não tem a ver com vender, tem a ver com valorizar.’
COBRANÇA POR MINUTO
A Brasil Telecom, segundo ele, vai gastar neste ano R$ 300 milhões com a mudança na forma de calcular a duração das ligações locais da telefonia fixa, que passará de pulsos para minutos a partir de março.
De um total de R$ 2 bilhões de investimentos previstos para 2006, R$ 600 milhões serão aplicados em ajustes para adequar a rede da empresa a exigências impostas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Segundo ele, até julho, 98% dos telefones da Brasil Telecom terão cobrança em minutos. Nas localidades onde a mudança não for feita, a empresa não vai cobrar as ligações locais, só assinatura básica, interurbanos e chamadas para celular.
O presidente da Brasil Telecom revelou, no entanto, que a empresa está tendo dificuldade em encontrar fornecedores de equipamentos para fazer a mudança, que exige a troca das centrais que encaminham as chamadas telefônicas.
‘Como nos últimos anos não há mais investimentos em expansão de rede fixa no mundo inteiro, só há novas centrais sendo vendidas em países periféricos, como os da África’, afirmou Knoepfelmacher.’
Graziella Valenti e Téo Takar
Em parceria com Embratel, Net vai vender telefonia
‘A Net e a Embratel firmaram um acordo que complementa o anúncio realizado em novembro do ano passado, sobre a parceria para transmissão de serviços de telefonia por meio da rede de cabos da Net. Pelo acordo, ficou estabelecido que a Net cuidará das vendas, instalação e relacionamento com os clientes do novo produto, enquanto a Embratel fornecerá os ‘insumos de telecomunicações’ necessários ao serviço de voz. A Embratel, que pertence à mexicana Telmex, participa do controle da Net.
Para os analistas, muitas questões ficaram sem resposta. Mesmo assim, o sentimento geral foi positivo. O comunicado divulgado pelas empresas sinalizou mudanças significativas no modelo de negócios e na parceria anunciados anteriormente. Pelo acordo anterior, a Net forneceria apenas a ligação da rede com a casa do cliente, chamada última milha de rede, mas a comercialização e todo o atendimento seriam de responsabilidade da companhia de longa distância.
No passado, o presidente da empresa de TV a cabo, Francisco Valim, havia enfatizado diversas vezes que cada companhia ficaria em seu negócio, indicando que o negócio da Net não era a transmissão de voz. Apesar da contradição com as novidades, o executivo preferiu não atender à imprensa.
Na opinião da analista da BES Securities Luciana Leocádio, o novo modelo significa que a Net terá acesso ao potencial de crescimento que o negócio de telefonia via internet pode representar.
Anteriormente, a empresa ficaria apenas com uma receita fixa pelo aluguel de sua rede à Embratel. Mas, para isso, a empresa também dividirá os riscos do negócio, uma vez que assumirá responsabilidades comerciais. Segundo Luciana, o modelo triple play – provedora de voz, dados e vídeo – adotado pela Net é importante para manter a base de assinantes.
Rogério Tostes, do Banco Safra, acredita que a notícia é positiva, especialmente para a Net. O mercado estava um pouco frustrado com a baixa participação que a companhia teria no primeiro modelo para voz sobre IP (sigla em inglês de protocolo de internet), pois seria apenas provedora da última milha. Para a maioria dos especialistas, o novo modelo é o mais correto, pois a empresa de TV a cabo é que possui realmente a maior experiência no relacionamento com clientes.’
TELEVISÃO
Filhas de Silvio Santos ganham espaço
‘Demorou, mas o interesse das filhas do patrão pelo patrimônio da família enfim vai ganhando fôlego. Não faz muito tempo que Silvio Santos se queixou da falta de atenção de suas herdeiras nas empresas do grupo. Até alguns anos atrás, a prole de Senor Abravanel de fato só parecia ir à sede da Anhangüera para passear. A exceção era Cintia Abravanel, que tomou as rédeas do Teatro Imprensa e lá plantou princípios bem distintos da mexicanização do SBT.
Agora Daniela e Rebeca vão conquistando respeito na emissora. Daniela tem dado expediente na produção da versão local de American Idol, reality show meio na linha do Fama. E, num movimento à parte do cordão de bajuladores que invariavelmente se forma em torno de herdeiros, Daniela tem sido bem aplaudida pelos colegas de trabalho – até pelas costas.
Rebeca, outra filha de Silvio, trocou recentemente a realidade pela ficção. Deixou de trabalhar no jornalismo e agora se juntou à turma da dramaturgia. A moça já mostra iniciativas úteis e antenadas rumo à era digital – mais que o próprio pai, arriscam alguns.
Nada mal para quem acabou de chegar ao métier.’
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