Friday, 20 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Petrobrás vai cobrar
Fontes pelo filme Chatô


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 15 de janeiro de 2007


TEORIA DA COMUNICAÇÃO
Carlos Alberto Di Franco


Informação substantiva


‘Arrogância, precipitação e superficialidade têm sido, na opinião de James Fallows, autor do afiadíssimo Detonando a Notícia, a marca registrada de certos setores da mídia norte-americana.


A crítica, contundente e despida de corporativismo, produziu reações iradas, alguns aplausos entusiásticos e, sem dúvida, uma saudável autocrítica. A síndrome não reflete uma idiossincrasia da imprensa estadunidense. Trata-se de uma patologia universal. Também nossa. Reconhecê-la é importante. Superá-la, um dever. Fallows questiona, por exemplo, a aspiração de exercer um permanente contrapoder que está no cerne de algumas matérias. O jornalismo doutrinário do passado, vestígio dos baronatos da imprensa brasileira, ressurge, freqüentemente, sob o manto protetor do dogma do ceticismo. A investigação jornalística não brota da dúvida necessária, da interrogação inteligente. Nasce, muitas vezes, de uma enxurrada de preconceitos.


Há um ceticismo ético, base da boa reportagem investigativa. É a saudável desconfiança que se alimenta de uma paixão: o desejo dominante de descobrir e contar a verdade. Outra coisa, bem diferente, é o jornalismo de suspeita. O profissional suspicaz não tem ‘olhos de ver’. Não admite que possam existir decência, retidão, bondade. Tudo passa por um crivo negativo que se traduz numa incapacidade crescente de elogiar o que deu certo. O jornalista não deve ser ingênuo. Mas não precisa ser cínico. Basta ser honrado, independente.


A fórmula de um bom jornal reclama uma balanceada combinação de convicção e dúvida. A candura, num país marcado pela tradição da impunidade, acaba sendo um desserviço à sociedade. É indispensável o exercício da denúncia fundamentada. Precisamos, independentemente do escárnio e do fôlego das máfias do colarinho-branco, perseverar num verdadeiro jornalismo de buldogues. Um dia a coisa vai mudar. E vai mudar graças também ao esforço investigativo dos bons jornalistas. Essa atitude, contudo, não se confunde com o cinismo de quem sabe ‘o preço de cada coisa e o valor de coisa alguma’. O repórter, observador diário da corrupção e da miséria moral, não pode deixar que a alma envelheça. Convém renovar a rebeldia sonhadora do começo da carreira. O coração do foca deve pulsar em cada matéria.


A precipitação é outro vírus que ameaça a qualidade informativa. Repórteres carentes de informação especializada e de documentação apropriada ficam reféns da fonte. Sobra declaração, mas falta apuração rigorosa. A incompetência foge dos bancos de dados. Troca milhão por bilhão. E, surpreendentemente, nada acontece. O jornalismo é o único negócio em que a satisfação do cliente (o leitor) parece interessar muito pouco. O jornalismo não fundamentado em documentação é o resultado acabado de uma perversa patologia: o despreparo de repórteres e a obsessão de editores com o fechamento. A chave de uma boa edição é o planejamento. Quando editores não formam os seus repórteres, quando a qualidade é expulsa pela ditadura do deadline, quando as entrevistas são feitas pelo telefone e já não se olha nos olhos do entrevistado, está na hora de repensar todo o processo de edição.


O culto à frivolidade e a submissão à ditadura dos modismos estão na outra ponta do problema. Vivemos sob o domínio do politicamente correto. E o dogma do politicamente correto não deixa saída: de um lado, só há vilões; de outro, só se captam perfis de mocinhos. E sabemos que não é assim. O verdadeiro jornalismo não busca apenas argumentos que reforcem a bola da vez, mas, também, com a mesma vontade, os argumentos opostos. Estamos carentes de informação e faltos da boa dialética. Sente-se o leitor conduzido pela força de nossas idiossincrasias.


Por outro lado, ao tentar disputar espaço com o mundo do entretenimento, a chamada imprensa séria está entrando num perigoso processo de autofagia. A frivolidade não é a melhor companheira para a viagem da qualidade. Pode até atrair num primeiro momento, mas, depois, não duvidemos, termina sofrendo arranhões irreparáveis no seu prestígio.


Registremos, ademais, os perigos do jornalismo de dossiê. Os riscos de instrumentalização da imprensa são evidentes. Por isso, é preciso revalorizar, e muito, as clássicas perguntas que devem ser feitas a qualquer repórter que cumpre pauta investigativa: checou? Tem provas? A quem interessa essa informação? Trata-se de eficiente terapia no combate ao vírus da leviandade. O esforço de isenção, no entanto, não se confunde com a omissão. O leitor espera uma imprensa combativa, disposta a exercer o seu intransferível dever de denúncia. Menos registro e mais apuração. Menos fofoca e mais seriedade. Menos espetáculo de marketing político e mais consistência.


Finalmente, precisamos ter transparência no reconhecimento de nossos eventuais equívocos. Uma imprensa ética sabe reconhecer os seus erros. As palavras podem informar corretamente, denunciar situações injustas, cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações, destruir patrimônios, desinformar. Confessar um erro de português ou uma troca de legendas é fácil. Mas admitir a prática de atitudes de prejulgamento, de manipulação informativa ou de leviandade noticiosa exige coragem moral. Reconhecer o erro, limpa e abertamente, é o pré-requisito da qualidade e, por isso, um dos alicerces da credibilidade.


A força de uma publicação não é fruto do acaso. É uma conquista diária. A credibilidade não combina com a leviandade. Só há uma receita duradoura: ética, profissionalismo e talento. O leitor, cada vez mais crítico e exigente, quer notícia. Quer informação substantiva.


Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia E-mail: difranco@ceu.org.br’


VENEZUELA
Paulo Moreira Leite


Guerra suja envolve ação contra TV


‘O esforço de Hugo Chávez para tirar do ar a mais antiga emissora de TV da Venezuela transformou-se numa guerra de lama. No fim de 2006, depois de contar os votos que lhe deram o terceiro mandato, Chávez informou que não iria renovar o certificado de funcionamento da RCTV, que se extingue em maio. Neste fim de semana, em pronunciamento na Assembléia Nacional, Chávez confirmou a decisão, apesar das pressões da cúpula da Igreja Católica e críticas da Organização dos Estados Americanos. Em tom de desprezo, declarou: ‘Gritem, sapateiem, façam qualquer coisa: acabou a concessão para este canal fascista.’


Em vias de transformar-se num símbolo da questão democrática na Venezuela de hoje, o detalhe da vida real é que a RCTV é uma emissora com histórico respeitável e audiência fiel. Tem tradição em novelas – exibiu o clássico O Direito de Nascer nos anos 60 – e programas de variedades. Possui um elenco de atores populares e programas humorísticos de sucesso. Não é campeã de audiência em Caracas, mas, entre as emissoras de sinal aberto, nenhuma chega a tantas cidades do interior.


A RCTV tem um histórico de jornalismo forte, agressivo até. Para quem chega do Brasil, é como se Diogo Mainardi e Arnaldo Jabor apresentassem todos os telejornais, fizessem todas as entrevistas e comentários, e depois só chamassem os amigos para dar opinião. Os funcionários da TV dizem que essa é uma tradição da emissora, que ajudou a construir um histórico profissional honroso de conflitos com diversos governos. Muitos observadores dizem que isso até é verdade, mas a RCTV nunca foi tão crítica como agora – e é por isso, conforme visão unânime em Caracas, que o governo Chávez decidiu tirá-la do ar.


Em função das peculiaridades do adversário, nos últimos dias aliados e funcionários do governo Chávez foram à luta, num esforço para demonstrar que o episódio é uma banalidade na vida política venezuelana. De certo modo, isso é verdade. Conforme documentos divulgados pelo canal 8, a TV do governo, há 20 anos ocorreu uma barganha quando a mesma RCTV negociava a mesma concessão que vencerá em maio. O governo do presidente Jaime Lusinchi cobrou a saída do diretor do jornal impresso, Diário de Caracas, que pertencia ao mesmo grupo, para manter a concessão de TV.


Em outro depoimento, um executivo do mesmo Diário de Caracas, que mais tarde foi vendido e hoje pertence a um grupo empresarial considerado próximo a Chávez, fez uma revelação vergonhosa. Garantiu que a primeira página da publicação passou a ser definida por assessores do Palácio presidencial de Miraflores – que escolhiam qual notícia deveria ser a manchete, as reportagens que mereciam destaque e aquelas que não deveriam sair.


Há outras revelações. Rafael Caldera, antecessor de Chávez, chegou a ser classificado como um dos ‘piores inimigos da liberdade de imprensa’ pela Sociedade Interamericana de Imprensa. Isso porque, em 1997, um ministro de seu governo apelou aos empresários em termos inaceitáveis para que pressionassem os jornais a trocar anúncios por um noticiário favorável. Como relatou o jornal Últimas Notícias, os termos sugeridos pelo assessor presidencial foram: ‘Eu tenho um interesse, e se vocês publicam notícias contra ele, não anuncio mais em sua publicação.’


Tais episódios são tão constrangedores como instrutivos. Mas, ao agirem dessa forma, aliados de Chávez parecem trocar o juramento ‘pátria, socialismo ou morte’ pelo bordão de um velho personagem do humorista Chico Anísio, que repetia: ‘Sou… mas quem não é?’


‘As pressões sobre os meios de comunicação sempre existiram, mas nunca foram tão fortes’, diz Ivan Ballesteros, titular de um programa da rádio da RCTV, que também está condenada. ‘As emissoras resistiam como podiam. A RCTV sempre foi mais pressionada porque era a mais independente, mas nunca tivemos um governo com empenho tão claro contra a liberdade de imprensa.’


Ballesteros tem um programa diário de comentários políticos. Militar reformado, participou do primeiro governo Chávez. Afastou-se fazendo denúncias de corrupção. ‘Havia irregularidades, desvios, e uma grande distância entre o que se prometia e o que se fazia’, afirma. Conhecido pela linguagem dura, já foi chamado pelas autoridades da área de comunicação do governo para moderar o tom. ‘Não sou o único pressionado assim’, diz. Ballesteros recorda que o governo Chávez chegou a produzir uma Lei de Conteúdo para os meios de comunicação, como uma forma de dirigir seu trabalho. ‘Eles fizeram 50 artigos. Mas havia tantos erros que hoje só restaram 16 artigos.’


Na manhã de sábado, artistas, jornalistas e funcionários da RCTV se reuniram para protestar contra o fechamento da emissora. Estavam presentes personalidades, como a veterana atriz Rosário Prieto, 64 anos de idade, 47 de casa, que se prepara para sua novela número 107. A apresentadora de telejornais Nitu Pérez Osuna, uma das mais respeitadas do país, lembrou que foi ali que deu os primeiros passos na profissão. Lembrando a importância que a emissora dá ao noticiário policial, num país onde a criminalidade é uma tragédia permanente, disse que ‘a RCTV é a única que tem coragem de noticiar a violência. Graças a ela, os venezuelanos sabem a realidade em que vivem e é isso que o governo quer esconder.’


Aos poucos, o ato transformou-se em outra banalidade da Venezuela, país onde todas as questões, grandes, médias, pequenas e minúsculas, acabam na figura do presidente Chávez. Um orador chegou a pedir um golpe de Estado: ‘Queremos um novo 11 de abril’, disse, referindo-se à data em que Chávez foi afastado por 48 horas. A luta pela RCTV é justa, mas este argumento não parece bom começo numa campanha em nome da liberdade de imprensa e da democracia.’


POLÍTICA CULTURAL
Beatriz Coelho Silva


Frateschi mantém projetos da Funarte


‘Os projetos da Fundação Nacional de Artes (Funarte) de música popular e erudita, artes cênicas e visuais e e de pesquisa e publicação de livros serão mantidos pelo novo presidente da instituição, o ator Celso Frateschi, mas ele ainda não sabe se mantém a equipe que os implantou: a cantora Ana de Holanda na música popular, o produtor Antônio Gilberto nas artes cênicas e o poeta Xico Chaves nas artes visuais. Na semana passada, Frateschi conversou com o ministro da Cultura, Gilberto Gil e foi à Brasília para ‘tomar pé dos programas, projetos e problemas da Funarte’, conforme disse ao Estado. Ele tem experiência nesse tipo de administração, pois é diretor do Teatro da Universidade de São Paulo (Tusp) e foi secretário de Cultura de Santo André (nas duas administrações de Celso Daniel) e de São Paulo (nos dois últimos anos de Marta Suplicy na prefeitura).


Apesar disso, a mudança teve chuvas e trovoadas, pois Grassi, que assumiu a Funarte em 2003, quando o órgão executor das políticas do MinC estava praticamente inativo e sem verba até para custeio, deixou claro que só saía por imposição de Gilberto Gil, pois gostaria de ver os resultados a longo prazo de sua gestão. ‘Não tenho apego ao cargo, mas gostaria de ver andar os projetos iniciados há quatro anos. Os editais de música, teatro, circo, dança e artes plásticas devem sair ainda este mês’, disse ele ao saber pela assessoria de Gil que seria dispensado. ‘Em 2003, quando chegamos aqui, não havia dinheiro para nada. Agora há recursos para tudo, já no início do ano.’


A notícia da saída de Grassi foi como faísca sobre pólvora. Artistas e produtores culturais de todas as tendências políticas e mesmo aqueles que as evitam, como a a atriz Marília Pera, protestaram publicamente. Ela foi quem melhor resumiu o sentimento geral. ‘Gostaria que eles se entendessem, pois o que quero é fazer esse governo gostar de arte e teatro’, disse. Entre os políticos, mesmo alguns do PT, houve aplausos para a decisão do ministro Gilberto Gil, embora sempre pedindo anonimato. Frateschi foi a segunda opção do ministro, que antes convidou o músico e professor José Miguel Wisnik e recebeu resposta negativa. No entanto, a emenda saiu melhor que o soneto porque, assim como Grassi, Frateschi é militante histórico do PT, que sempre reivindicou maior participação na gestão da cultura. Embora não seja filiado, ele é irmão do presidente do partido em São Paulo, Paulo Frateschi.


Frateschi ainda não marcou a data da posse, que deve acontecer ainda este mês. Ele é só elogios para Grassi, com quem pretende se reunir hoje ou amanhã para tratar da passagem do cargo. ‘Somos muito amigos, de longa data e agora convivemos diariamente, pois estamos na mesma novela da Rede Bandeirantes, Paixões Proibidas’, lembra. ‘Eu também reagi à mudança de comando da Funarte e, por isso, espero contar com a colaboração de Grassi. Além disso, nunca tivemos discordâncias políticas.’ Grassi só teve a conversa definitiva com Gilberto Gil na quinta-feira passada e considera a escolha de Frateschi um elogio a sua gestão. ‘Conheço o trabalho dele em São Paulo e certamente vou colaborar no que ele achar necessário’, disse Grassi na sexta-feira.


A convivência entre Grassi e Gil é cordial, mas sempre teve arestas. O ator nunca reivindicou o Ministério da Cultura, mas seu partido, o PT, reagiu à indicação do músico que, além de tudo, é do PV, embora tenha sido cabo eleitoral de Lula, desde o primeiro momento, em 2002. No fim do ano passado, quando Gil decidia se permanecia ou não no cargo, a comissão de cultura do PT emitiu um documento em que pedia a sua permanência e afirmava que, caso ele decidisse ir embora, o nome ideal para substituí-lo seria Grassi.’


INTERNET
John Markoff


Botnets ampliam efeito de vírus, envio de spam e roubo de dados


‘Em sua persistente campanha para romper as defesas da internet, os vilões afiam as armas e aumentam o poder de fogo. Com crescente sofisticação, eles tiram proveito de programas que se instalam em segredo em milhares ou até milhões de computadores pessoais, reúnem essas máquinas num involuntário exército de zumbis e usam o poder coletivo dessa rede para cometer crimes na internet.


Essas redes, chamadas de botnets, estão sendo responsabilizadas pelo enorme surto de spams que atormentou a internet nos últimos meses, e também por fraudes e roubo de dados.


Os pesquisadores de segurança já se preocupam com as botnets há algum tempo, pois elas automatizam e amplificam os efeitos dos vírus e outros programas maliciosos. A novidade é a escala do problema, que cresce exponencialmente – e a precisão com a qual alguns programas podem examinar computadores em busca de informações específicas, como dados corporativos e pessoais, para retirar dinheiro de contas bancárias e corretoras de ações online.


‘É o crime perfeito, com risco baixo e lucro alto’, disse Gadi Evron, pesquisador de segurança de computadores de uma firma baseada em Israel, Beyond Security, que coordena um esforço voluntário internacional de combate às botnets. ‘A guerra para tornar a internet segura foi perdida há tempos. Precisamos decidir o que fazer agora.’


No primeiro semestre do ano passado, foi descoberto numa agência de uma guarda costeira estrangeira um programa que buscava sistematicamente documentos com programações de remessas de mercadorias e os encaminhava para um endereço de e-mail na China, segundo David Rand, diretor da Trend Micro, firma de segurança baseada em Tóquio.


Embora as estimativas do índice de contaminação geral variem muito, a escala e o poder dos programas botnet claramente se tornaram enormes. De acordo com David Dagon, pesquisador do Instituto de Tecnologia da Geórgia e co-fundador da Damballa, companhia recém-criada que se concentra no controle das botnets, o consenso entre os cientistas é de que os programas botnet estão presentes em cerca de 11% dos mais de 650 milhões de computadores conectados à internet.


AMEAÇA


Pragas de vírus e outros programas maliciosos varrem a internet periodicamente desde 1988, quando havia apenas 60 mil computadores online. A cada vez, gerentes de segurança e usuários limparam os danos e taparam buracos nos sistemas.


Nos últimos anos, contudo, tais ataques tornaram-se cada vez mais endêmicos, forçando respostas de segurança cada vez mais severas. E o surgimento das botnets alarma não só os peritos em segurança, mas também os especialistas que criaram a infra-estrutura inicial da internet.


‘Isso representa uma ameaça, mas é difícil de explicar’, disse David J. Farber, cientista de computação da Universidade Carnegie Mellon. ‘O que me preocupa é que o alcance do problema ainda não está claro para a maioria das pessoas.’ Referindo-se aos computadores com Windows, ele acrescentou: ‘As máquinas populares são muito fáceis de invadir. É assustador.’


Até agora, as botnets infectaram principalmente computadores baseados no Windows, embora haja relatos isolados de ataques a máquinas com os sistemas operacionais Linux e Macintosh. Os programas são freqüentemente criados por pequenos grupos de autores de código na Europa Oriental e outros lugares e distribuídos de várias maneiras, entre elas anexos de e-mail e downloads de usuários desavisados. Eles podem estar até mesmo no software pirata vendido em sites de leilão. Uma vez instalados em PCs conectados à web, eles podem ser controlados por meio de um acessível sistema de comunicações chamado Internet Relay Chat, ou IRC.


A ShadowServer, organização voluntária de especialistas em segurança que monitora a atividade das botnets, identifica hoje mais de 400 mil máquinas infectadas e cerca de 1.450 sistemas de controle IRC, chamados de servidores de Comando e Controle.


O perigo financeiro das botnets pode ser visto num relatório técnico apresentado em meados do ano passado por um especialista em segurança que analisou as informações contidas num arquivo de 200 Mb interceptado. O arquivo foi gerado por uma botnet que reunia informações roubadas sistematicamente e então as escondia num local secreto onde os dados podiam ser recolhidos pelo dono da rede.


Os dados no arquivo foram recolhidos ao longo de 30 dias, segundo Rick Wesson, executivo-chefe da Support Intelligence, companhia baseada em San Francisco que vende informações sobre ameaças de segurança de computadores a corporações e agências federais.


Os dados vieram de 793 computadores infectados, gerando 54.926 identificações para conexão e 281 números de cartão de crédito. As informações roubadas envolviam 1.239 companhias, afirmou Wesson, incluindo 35 corretoras de ações, 86 contas bancárias, 174 contas de comércio eletrônico e 245 contas de e-mail.


‘Estamos perdendo essa guerra de lavada’, disse Wesson. ‘Até os vendedores entendem que estamos perdendo a guerra.’ De acordo com o relatório anual de inteligência da MessageLabs, firma de segurança de computadores baseada em Nova York, mais de 80% de todos os spams vêm hoje de botnets. No mês passado, pela primeira vez, um único provedor de serviços de internet gerou mais de 1 bilhão de mensagens spam num período de 24 horas. Isto indicou que as máquinas dos clientes do provedor haviam sido reunidas numa rede gigante, com um único ponto de controle usando-as para o envio.


NOVAS VERSÕES


O alcance da ameaça foi sublinhado nos últimos meses pelo surgimento de uma versão do programa furtivo que adiciona computadores à botnet. A versão recente do programa, que pesquisadores de segurança chamam de ‘rustock’, infectou milhares de computadores conectados à internet e então começou a gerar grandes quantidades de mensagens de spam como parte de um esquema de manipulação de mercado com informações falsas sobre ações.


O autor do programa, que participa de grupos de discussão técnica na internet e diz morar no Zimbábue, encontrou uma maneira de esconder o agente invasor sem deixar nenhuma das pegadas digitais que vinham permitindo a detecção desses programas. Além disso, embora o rustock seja usado para a distribuição de spam, ele é uma ferramenta que pode ser usada em muitas outras formas de atividade ilegal na internet.


‘Ele também pode ser usado para outros tipos de programas maliciosos’, disse Joe Stewart, pesquisador da SecureWorks, firma de segurança de computadores baseada em Atlanta. ‘É uma arma com mais capacidade de agir em segredo.’


Especialistas em segurança de computadores advertem que os botnet estão evoluindo mais rápido do que as firmas de segurança podem responder e já representam uma ameaça fundamental à viabilidade da internet comercial. Muitos provedores de internet o ignoram ou reduzem sua importância.


A indústria de segurança de computadores, de US$ 6 bilhões, oferece um conjunto de produtos e serviços destinados a operadores de redes, corporações e usuários de PCs. Mas o setor tem até agora um histórico ruim no combate da praga.’


Pedro Doria


Trapalhadas no bloqueio ao YouTube


‘Ao exigir das empresas de comunicação que bloqueassem o acesso ao YouTube, a Justiça fez o Brasil passar por ridículo. País que bloqueia acesso a site informativo é como China, Irã, Arábia Saudita, Cuba. Ditaduras.


Este foi, talvez, o primeiríssimo caso de censura violenta por motivo fútil.


É fútil por revelar algo tipicamente brasileiro: um mal-entendido após o outro que mostra, no fundo, que os conceitos não estão claros. A eles:


1. No filmete em que a VJ Daniela Cicarelli se diverte com o namorado numa praia espanhola há de tudo menos violação de privacidade.


Privacidade é aquilo que você tem o direito de esperar dentre as quatro paredes de sua casa, no quarto que alugou, dentro de sua bolsa, de seu computador, de sua câmera. O sujeito que revela suas fotos não pode apresentá-las a outro. Há áreas cinzentas: o que está em sua máquina, no trabalho, pertence a você ou ao empregador?


A rua, a repartição pública, a praça – a praia -, são públicos. Ambientes públicos não são privados. Se não quer ser exposto, faça num ambiente privado. Não é conceito difícil.


2. Após a digitalização do mundo, após câmera digital, celular com câmera e gravador, após MP3, principalmente após a internet, o registro de qualquer coisa é fácil, barato e a distribuição, ágil.


Quer dizer o seguinte: copiar música ou gravar em filme, qualquer um faz. Sempre que houver interesse por tal música, foto ou filme, ele será visto, distribuído. Uma vez na internet, nunca mais sai.


Então aquilo feito em espaço público não terá mais, por audiência, apenas quem estiver lá na hora. A audiência é o mundo. Um senhor de uma certa idade pode ser desculpado por não ter percebido, ainda, o quanto o mundo mudou. A moça e seu namorado não têm essa desculpa. O mundo digital é o seu mundo. Por certo, eles têm câmeras, celulares bacanas, iPods, acesso fácil e rápido à internet.


Fez na frente de todos, todos verão. Não adianta choro.


3. A censura é impossível. Não há muito mais o que dizer a respeito. Pode-se tentar a censura, a tentativa se verá frustrada. Podem bloquear um milhão de sites. O bloqueio não será pleno; vários conseguirão rompê-lo. E a informação proibida será encontrada alhures.


A moça diz que foi o namorado quem pediu a censura. Não importa: foi em nome do casal. O público dela, na MTV, é justamente o público que mais acessa o YouTube.


O YouTube não é, embora pareça, uma coleção de videocassetadas. Há informação ali. Senador nos EUA já foi abatido em vôo reeleitoral pelo que disse e saiu no YouTube. Lula e Alckmin, candidatos, já foram expostos no que não queriam. Bloquear o YouTube é censurar imprensa.


A MTV diz que não tem nada a ver com isso. Tem. Sua VJ é seu rosto público. Se censura é pedida em nome de seu rosto público, que a MTV conviva com isto ou mude o rosto. Só não pode é lutar contra os fatos como são.


O juiz cometeu um erro. Mandou censurar o site todo quando queria apenas bloquear o filme. Bloquear o filme não é possível, censurar o site todo é censura prévia ao que será publicado lá. É igual fechar um jornal.


O juiz despachou a ordem porque não entende a natureza da internet. Ouviu o caso, viu a lei, interpretou-a, deu de cara com uma realidade que não conhece lá muito bem, passou por cima dela.


Juízes não podem não entender a internet. Isso quer dizer que não entendem em que mundo estão vivendo. A eles não é facultado tal direito. Ninguém precisa entender melhor o mundo do que o juiz.


O festival de trapalhadas revela pessoas que não entendem o mundo em que vivem. Uma delas é VJ da MTV – surpreendente. No final, fizeram do Brasil um Irã, uma Arábia Saudita.’


TELEVISÃO
O Estado de S. Paulo


Público define roteiro


‘A interatividade hoje na TV se dá por telefones e torpedos e pela internet – para desclassificar big brothers, para comprar produtos, para game shows… A Globo teve sucesso com o extinto Você Decide, em que o telespectador escolhia o desfecho do episódio. E o formato ainda persiste em redes de outros países.


Porém, esse mecanismo já pode ser considerado obsoleto. Segundo reportagem de Owen Gibson, para o jornal inglês The Guardian, há uma nova tecnologia em fase de implementação que permite ao telespectador intervir até mesmo em diálogos de personagens, alterando o roteiro da atração. Tudo isso via mensagens de texto.


Diz Gibson: ‘A sofisticada tecnologia, usada pela primeira vez no mês passado em uma comédia romântica chamada Accidental Lovers, permite que os telespectadores tomem o controle e influenciem o roteiro, usando o sistema ShapeShifter TV.’ De acordo com o artigo, os telespectadores de Accidental Lovers são convidados a opinar, por exemplo, sobre o romance entre uma cantora de cabaré de 61 anos e um popstar de 30. As mensagens são analisadas e um gráfico mostra a evolução da história. Segundo Gibson, a BBC quer desenvolver o sistema para suas atrações.’


AllTV notifica Globo por anúncio do G1


Primeiro canal de TV da web, a AllTV enviou notificação extrajudicial à Globopar, holding das Organizações Globo, para pedir que um anúncio publicado nos dias 12 e 13 de dezembro não volte a ser veiculado. O anúncio era sobre o G1, novo canal de notícias da Globo na internet. O que incomodou a AllTV foi o uso de expressões que indicam ‘reprodução textual do conceito da AllTV’: ‘Completo como jornal / Ágil como o rádio / Envolvente como a TV / Interativo como a internet.’ Procurada pelo Estado, a Globo.com., responsável pelo anúncio, preferiu não se manifestar.


entre- linhas


O Warner Channel exibe hoje, às 22 horas, a cerimônia de entrega do Globo de Ouro. O evento será transmitido ao vivo de Los Angeles.


O Discovery Channel estréia hoje, às 20 horas, a nova temporada de Overhaulin’, que mostra Chip Foose e sua equipe de mecânicos remodelando veículos.


O GNT reprisa o bate-papo entre Bono Vox e Oprah Winfrey, no ar hoje, às 20 horas.


O SPTV 1.ª Edição exibe, a partir de hoje, a série Eu Faço Carnaval, sobre pessoas que produzem o carnaval em São Paulo.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 15 de janeiro de 2007


CRATERA EM SP
Editorial


Desastre no metrô


‘O COLAPSO nas obras da futura estação Pinheiros do metrô paulistano não deve ser subestimado. Foi o maior acidente já registrado desde que a rede subterrânea começou a ser implantada, em 1968. Suas conseqüências são trágicas para todas as vítimas do desabamento -as pessoas soterradas e seus familiares, bem como as famílias que perderam, provisória ou definitivamente, as suas residências.


A imagem da cratera de 80 metros de diâmetro, com os caminhões tragados para o seu centro e uma grua de 50 toneladas ameaçando desabar, ficará na memória. Funcionará como um lembrete de que as lições desse desastre precisam ser devidamente absorvidas por construtores e autoridades, a fim de que outros acidentes não se repitam.


Não é o momento, evidentemente, de precipitar-se em busca de causas e responsáveis pelo acidente. É preciso dar tempo para que uma detalhada e complexa investigação independente seja realizada. As expectativas a esse respeito estão depositadas na apuração do reputado Instituto de Pesquisas Tecnológicas.


Foi infeliz, porque no mínimo precipitada, a nota das empreiteiras que constroem a Linha 4 do metrô ao identificar nas chuvas fortes a possível causa do colapso. Outras obras de engenharia tão complexas quanto a escavação do túnel próximo ao rio Pinheiros já enfrentaram condições climáticas e geológicas adversas -até mesmo em São Paulo-, mas não sucumbiram.


Neste momento as energias das autoridades municipais e estaduais devem concentrar-se nos esforços de emergência. O resgate das vítimas, o conforto às famílias impossibilitadas de habitar suas casas e as providências para impedir o agravamento do desastre -retomando, o mais depressa possível, o fluxo de veículos nas pistas da marginal Pinheiros- são prioritários.


O metrô é o meio de transporte coletivo em que a população paulistana deposita mais crédito. Com apenas 60 km de extensão (Londres conta com mais de 400 km), a rede subterrânea vem tomando passageiros dos transportes de superfície. Essa adesão popular não está relacionada apenas à rapidez e à eficiência do metrô. Funda-se também no histórico de segurança associado à operação cotidiana dos trens e às obras de expansão da malha.


A confiabilidade do metrô está sendo agora colocada em questão. Agir com responsabilidade e rapidez nas tarefas emergenciais em torno do desastre na estação Pinheiros é um modo de impedir que essa tragédia abale a imagem do metrô de modo duradouro. Apurar as falhas -quer de projeto, quer de execução, quer de fiscalização- que levaram ao colapso e, com base nelas, reformar procedimentos futuros também é uma ação necessária.


Multiplicar a minúscula malha metroviária nos próximos anos é imperativo para evitar que se concretizem os prognósticos catastróficos acerca do trânsito de São Paulo. Mas é preciso assegurar que essa desejada pulverização de canteiros de obras ocorra sob o mais estrito e atualizado protocolo de segurança.’


ABIN & SIGILO
Editorial


Sigilo sob controle


‘É INCONVENIENTE a proposta da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de alterar a Constituição para possibilitar a seus agentes fazer gravações telefônicas e instalar escutas desde que autorizadas pela Justiça.


Num Estado democrático, o sigilo de correspondência e de comunicações telefônicas e de dados é uma garantia individual de primeira grandeza. No Brasil, ele é assegurado pelo inciso XII do artigo 5º da Constituição. A inviolabilidade só pode ser suspensa por ordem judicial, mediante suspeita fundamentada no âmbito de investigação criminal ou instrução processual penal.


Agentes da Abin não são policiais nem pertencem ao Ministério Público. Não podem, portanto, conduzir investigações nem instruir ações penais. Assim, conceder-lhes o poder de requisitar quebras de sigilo à Justiça é não só desnecessário como ainda potencialmente perigoso.


A missão da Abin não se confunde com as diligências de polícia judiciária. Cabe aos agentes de inteligência, nos termos da lei nº 9.883/99, municiar o presidente da República com informações que possam ajudá-lo na tomada de decisões, proteger conhecimentos sensíveis de interesse do Estado e avaliar ameaças à ordem constitucional.


São atividades que, por sua natureza, não devem ser alardeadas aos quatro ventos. Por vezes, é até necessário que os agentes do órgão de inteligência trabalhem em sigilo. Mas não devem dispor de poderes que transcendam sua esfera de atuação.


Serviços secretos precisam ser muito bem controlados por outras esferas de poder, num sistema de freios e contrapesos, para evitar que adquiram vida e agenda próprias. O equilíbrio é difícil. Não pode haver nem tanta transparência que comprometa as atividades dos agentes nem tanto resguardo que converta o órgão num poder paralelo.’


CASO CHATÔ
Rodrigo Mattos e Silvana Arantes


Petrobras cobra R$ 2,6mi de Fontes pelo filme ‘Chatô’


‘A Petrobras e a BR Distribuidora cobram judicialmente da produtora Guilherme Fontes Filmes Ltda. a devolução de R$ 2,6 milhões investidos na produção do longa inacabado ‘Chatô – O Rei do Brasil’.


É a primeira ação na Justiça em que patrocinadores do filme exigem a restituição do dinheiro gasto. A produção de ‘Chatô’, também dirigido por Fontes, arrasta-se desde 1996.


As filmagens foram interrompidas em 1999, depois que o MinC (Ministério da Cultura) levantou suspeitas de desvio de dinheiro público na produção.


O MinC havia autorizado Fontes a captar R$ 12,5 milhões, em 1996 (o maior orçamento de um filme brasileiro) com benefício das leis Rouanet e do Audiovisual -de incentivo à cultura, por meio de renúncia fiscal (o patrocinador aplica em projetos culturais parcela do Imposto de Renda devido).


Prestação de contas


Fontes havia reunido até 1999 R$ 8,64 milhões em patrocínio, com 16 empresas, incluindo Petrobras e BR. Depois que o TCU (Tribunal de Contas da União) inocentou Fontes das acusações de fraude e aprovou a prestação de contas do filme, no fim de 2001, as estatais decidiram investir mais R$ 1,8 milhão em ‘Chatô’. No total, a BR aplicou R$ 1,1 milhão, e a Petrobras R$ 1,468 milhão.


O segundo repasse das estatais foi considerado imprudente pela CGU (Controladoria Geral da União). Na avaliação do órgão, em 2002, quando os recursos foram liberados, havia indícios de que o filme poderia jamais vir a ser concluído.


Segundo a Folha apurou, o parecer da CGU foi determinante para que as estatais decidissem pedir na Justiça a devolução do dinheiro. Procuradas pela reportagem, Petrobras e BR disseram, por meio de suas assessorias de imprensa, que não comentariam o assunto.


O processo por ‘repetição de indébito e perdas e danos’ corre na 31ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, desde outubro de 2006.


Fontes disse que não foi informado da ação e não quis comentar a decisão das estatais de pedir o dinheiro de volta.


‘Se eles não comentam, eu também não.’ O produtor e cineasta disse, porém, que é credor da Petrobras. Ele afirma ainda ter R$ 700 mil em patrocínio a receber, segundo contrato que fez com a estatal. ‘O filme não acabou até agora porque a Petrobras não liberou a totalidade dos recursos’, disse.


Mesmo com os repasses que foram efetuados, prestadores de serviços que seriam pagos com dinheiro das estatais não receberam, afirma o advogado Gustavo Martins, que representa quatro profissionais do filme. Por meio de Martins, um produtor-executivo processa Fontes, para receber R$ 21 mil. ‘No contrato com a produtora de Fontes, está previsto que ele seria pago com dinheiro da Petrobras’, diz o advogado.


Já na ação da BR e da Petrobras contra Fontes, é cobrada a devolução dos R$ 2,6 milhões mais correção monetária e juros. Fontes foi alvo de cobrança também da Ancine (Agência Nacional do Cinema). No fim de 2005, a agência lhe enviou carta-cobrança, exigindo a devolução de R$ 30 milhões.


Pelos cálculos da Ancine, esse é o valor corrigido do total de dinheiro público gasto no filme. Fontes refutou a cobrança.


A Ancine pediu então ao TCU reabertura do processo contra Fontes, esperando que ele seja obrigado pelo tribunal a devolver o dinheiro de ‘Chatô’ e fique impedido a novas captações. O pedido da agência foi atendido, e a Tomada de Contas Especial está outra vez em andamento no tribunal.


Elogios


Fontes prevê finalizar ‘Chatô’ no próximo mês de maio. O diretor afirma que, recentemente, mostrou a um amigo do mercado cinematográfico uma versão semipronta do filme.


‘Ouvi elogios que me deixaram muito feliz e a melhor de todas as frases: ‘Jamais podia imaginar que veria isso’, disse.


Além de trabalhar na finalização de ‘Chatô’, Fontes retoma neste ano sua atuação como ator de TV. Ele fechou contrato de cinco anos com a Globo e passou a integrar o elenco da novela juvenil ‘Malhação’.’


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Riofilme estuda ir à Justiça para reaver R$ 1,3 mi


‘A distribuidora Riofilme, vinculada à Prefeitura do Rio de Janeiro, estuda ir à Justiça neste semestre, para tentar reaver o R$ 1,3 milhão que investiu no longa ‘Chatô – O Rei do Brasil’, em 2003.


‘Guilherme Fontes está inadimplente com a Riofilme. Ele nos deve o filme pronto’, afirma o diretor comercial da distribuidora, Antônio Urano.


De acordo com Urano, pelo contrato com Fontes, a Riofilme teria os direitos de lançamento de ‘Chatô’ em cinema, DVD e TV por assinatura, em contrapartida ao investimento que fez no filme.


Prazo


A data prevista no contrato para a conclusão de ‘Chatô’ era 30 de maio de 2004. Esse prazo chegou a ser prorrogado para novembro daquele ano, mas também não foi cumprido.


Em ação extrajudicial a Riofilme já cobrou de Fontes a devolução do dinheiro ou a entrega imediata do filme. ‘É uma situação complicada essa relação dele [Fontes] com o filme e com quem apostou no filme. Mas estamos empenhados em resolver, usando o instrumental jurídico possível’, diz Urano.


Ele afirma que o aporte feito na produção de ‘Chatô’, de R$ 1,3 milhão, ‘é alto para o padrão histórico da Riofilme’ e que a decisão de investir esse valor foi baseada na avaliação ‘da época’ de que ‘o filme tem supostamente uma importância’.


‘Chatô – O Rei do Brasil’ é uma adaptação para as telas do livro homônimo em que Fernando Morais biografa o magnata das comunicações Assis Chateaubriand (1892-1968). Lançado em 1994, ‘Chatô’ teve êxito de público e de crítica.


‘Tenho muito respeito por Urano, mas certamente ele está mal informado’, afirma Fontes. ‘A Riofilme colocou um produtor-delegado para acompanhar meu filme, que jamais foi ao set, jamais discutiu ou falou com qualquer pessoa da minha equipe. Ou seja, recebeu um salário, contra a minha vontade, e jamais foi ao set de filmagem. O que a Riofilme pode falar de mim?’, diz Fontes.


Urano afirma que a Riofilme aguardará até março antes de ir à Justiça, porque recebeu de Fontes um aceno de que o filme ficaria pronto nesse mês e também porque ‘essas ações envolvem custos altos’.


A informação de que Fontes mostrou uma versão quase pronta do filme a amigos circula no Rio há duas semanas.


Urano disse que um profissional de uma distribuidora alemã também lhe contou haver visto trechos do filme.


Fontes diz que, para ter a cópia finalizada de ‘Chatô’, ainda falta arrematar efeitos especiais relacionados à ambientação de época do filme.


Orçamentos


Somados, os R$ 2,6 milhões que Petrobras e BR exigem de volta e o R$ 1,3 milhão que a Riofilme quer reaver, caso Fontes não conclua o filme, correspondem à média dos orçamentos na atual produção brasileira. ‘Se Eu Fosse Você’, de Daniel Filho, líder do ranking nacional 2006 (3,6 milhões de espectadores), captou R$ 4,3 milhões pelas leis de incentivo, segundo dados da Ancine. (RM e SA)’


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