Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

PHA perde nova ação contra Mainardi

Leia abaixo a primeira parte da seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


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Consultor Jurídico


Quinta-feira, 17 de abril de 2008


MÍDIA NA JUSTIÇA
Márcio Chaer


Paulo Henrique Amorim perde nova ação contra Mainardi, 16/4


‘Acusado de fabricar notícias para favorecer quem paga por isso e prejudicar os concorrentes de seus patrocinadores, o blogueiro Paulo Henrique Amorim não gostou de se ver na posição de vidraça. Processou o jornalista Diogo Mainardi, da revista Veja, nas esferas cível e criminal. No primeiro caso, perdeu. No segundo, também. E ainda foi condenado, esta semana, a pagar as custas judiciais e os honorários dos advogados de Mainardi — que foi representado por Lourival J. Santos e Alexandre Fidalgo.


Os advogados de Amorim já recorreram. ‘Esperamos que o Tribunal de Justiça possa prover o recurso’, afirmou José Rubens Machado de Campos.


A iniciativa de Paulo Henrique Amorim chamou a atenção. Afinal, ele ganhou fama pela virulência de seus ataques pela imprensa. Em entrevista à Folha de S.Paulo ele já definiu sua atividade como ‘um exercício de pancadaria verbal’ e as teclas de seu computador como ‘aqueles botões que disparam mísseis’. Segundo Mainardi, Amorim cobrava pelo bombardeio R$ 80 mil por mês. O colunista de Veja afirma que o blogueiro ‘retomou as práticas mais imundas do jornalismo, como a chantagem, a mentira, a propaganda do poder e a matéria paga’.


O portal Observatório da Imprensa já descreveu Amorim como ‘um protótipo do linchador. Paradigma do empastelador. Agente provocador de quebra-quebras’. Mas foi outra atitude que causou mais estranhamento nos processos: ele pediu, e obteve, o manto protetor do segredo de justiça para que as informações a respeito da disputa não fossem divulgadas. Afinal, se o jornalismo se sustenta sobre o princípio da exposição pública é de se imaginar que jornalistas sejam defensores da publicidade e não do segredo.


A juíza Angélica Nagao, do Fórum de Pinheiros, que recusou o pedido de Amorim para punir Mainardi, parece ter entendido que quem gosta de atirar pedras no telhado alheio não deve estranhar goteiras em sua cozinha. E mais: que entreveros entre jornalistas, em geral, são saudáveis. Rompe-se cumplicidades e são raras essas oportunidades em que a imprensa exerce consigo própria o rigor que costuma aplicar aos outros.


Transações nebulosas


No episódio que envolve Paulo Henrique Amorim, por exemplo, vieram à tona acusações relevantes no momento em que se discute a conveniência de uma nova lei de imprensa. Para proteger o livre exercício do jornalismo é preciso deslegitimar o uso da atividade como balcão de negócios. Emprestar as garantias da liberdade de expressão para essa modalidade de crime organizado fere a credibilidade do conjunto dos jornalistas. Se a imprensa não reage, respondem todos como litisconsortes.


‘O Paulo Henrique Amorim poderia explicar, por exemplo, as suas nebulosas transações imobiliárias’, sugere Alberico Souza Cruz, diretor de jornalismo da TV Globo quando Amorim ainda lá trabalhava. Alberico recorda-se da preocupação manifestada por Roberto Marinho quando soube que um empregado da emissora adquirira um apartamento em Nova York. ‘Senhor Alberico, com o que pagamos aqui é possível comprar um imóvel ao lado do Central Park?’ — perguntou o dono da Rede Globo pouco tempo antes de Amorim ser demitido, e passar a atacar a emissora, o que fez também depois de ser demitido da TV Bandeirantes e do iG.


‘Precisamos definir se nosso compromisso é com o leitor ou se estamos todos à venda’, já disse, tempos atrás, em depoimento, o publisher Roberto Civita, da Abril, ao criticar a corrupção na imprensa.


O jeito Amorim de fazer jornalismo é contagioso. Na semana passada, contratado por uma das partes do litígio que envolve a VarigLog, o jornalista Cláudio Magnavita, do Jornal do Brasil, com uma prova ilícita nas mãos (correspondência interceptada), convenceu um juiz não muito perspicaz a punir o concorrente do seu patrocinador. Magnavita fez o que o ministro Gilmar Mendes, do STF, descreve como ‘o truque do mau policial que coloca cocaína no carro da sua vítima e a prende em seguida por porte de cocaína’. A manobra de Magnavita, que também é presidente da Associação Nacional dos Jornalistas de Turismo, turbinou o juiz e o noticiário.


Tráfico de influência


O negócio que alavancou a carreira de Paulo Henrique Amorim nos últimos anos foi a guerra comercial das concessionárias de telefonia. O entendimento entre as empresas esvaziou o seu papel e ele foi afastado do portal iG, da Brasil Telecom. Em um processo que corre em Milão, seu nome apareceu no depoimento de uma intérprete e tradutora brasileira que trabalhava para a Italia Telecom. A incumbência de Amorim, disse ela, seria a de produzir notícias contra Daniel Dantas. Quem o colocou na missão foi o empresário Luís Roberto Demarco, que se apresentava aos italianos como elo de conexão com o governo Lula e gabava-se de grande influência junto à Polícia Federal, ao Ministério Público, ao Congresso e a jornalistas. Demarco foi pago por isso. Essas informações constam dos autos de processo judicial em diferentes depoimentos.


Supõe-se que seja a gravidade dessas imputações que levaram Paulo Henrique Amorim a pedir segredo de justiça para seus processos. Não enaltecem a pessoa, certamente.


O empresário Luís Roberto Demarco, que hoje é sócio de Amorim, gaba-se de já ter faturado pelo menos US$ 6 milhões de dólares com a atividade de agir nas dobras dos negócios bilionários das telecomunicações. Demarco e Amorim tentaram conseguir, cada um, mais US$ 100 milhões do Citibank, outro conglomerado que ficou na berlinda nessa história. ‘Se Dantas invadir o inferno, me alio ao Demônio para derrotá-lo’, gaba-se ele em um de seus arrojados textos recentes.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 17 de abril de 2008


FLAGRANTE
O Estado de S. Paulo


Advogado de Cabrini pede relaxamento de prisão


‘O advogado do jornalista Roberto Cabrini, Alberto Zacharias Toron, pediu ontem na Justiça o relaxamento da prisão ou a concessão da liberdade provisória de seu cliente, preso em flagrante por tráfico de drogas na tarde de anteontem em uma favela na zona sul da capital. Para Toron, a prisão ‘foi forjada e feita sob ameaça’ e Cabrini ‘foi vítima de uma grande arbitrariedade policial’. Segundo o criminalista, a promotora do caso se prontificou a dar um parecer hoje e ele acredita que a decisão deve sair até o fim da tarde.


Cabrini foi preso por duas equipes do 100º Distrito Policial, no Jardim Herculano, ao sair com seu carro importado, um Citröen C5 preto, de uma favela da região. Ele estava acompanhado de Nadir Domingos Dias, de 49 anos, conhecida como Nádia. A mulher afirma ser amante do jornalista. No porta-objetos do carro foram encontrados 15 papelotes de cocaína, 4 deles vazios – a droga foi anexada ao inquérito como prova material do flagrante.


No depoimento à polícia, Cabrini disse desconhecer a origem da droga ou ser o dono dela. E afirmou ao delegado do caso, Ulisses Augusto Pascolati, que Nádia era uma de suas principais fontes com a cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) e que marcara o encontro na favela porque ela lhe prometera três DVDs – um com imagens de maus-tratos em presídios e dois com depoimentos de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder máximo da facção criminosa.


Cabrini reclama, no depoimento, que os policiais não teriam voltado diante da padaria em que foi preso, onde os supostos DVDs teriam sido destruídos e jogados na calçada por Nádia.


Na bolsa da mulher, que figura como testemunha no processo, os policiais encontraram um pen drive com três vídeos gravados por um celular, num total de 18 minutos, em que Cabrini é flagrado consumindo cocaína. O jornalista afirmou no interrogatório que consumiu a droga porque teria sido ameaçado com arma de fogo por Nádia.


‘O ato se deu sob ameaça e de forma perversa ele foi filmado por essa mesma mulher que também plantou o flagrante’, acusou o advogado de Cabrini. ‘Obviamente que esse homem não é traficante e não poderia ser tratado como tal ‘, protestou Toron.


Nádia também afirmou que Cabrini a ameaçava. Ela disse que mantinha relações há mais de três anos com o jornalista, que queria se afastar dele e que não conseguia por sua agressividade. Segundo ela, seu filho – autor do vídeo – chegou a comprar drogas para Cabrini consumir na chácara dela, também na zona sul.


Em nota, a rede Record, onde Cabrini trabalha, informa que havia ‘registro interno que o repórter estava desenvolvendo uma reportagem de caráter investigativo’. Ao final, afirma acreditar ‘na Polícia e na Justiça do Estado de São Paulo e espera a correta elucidação dos fatos’.’


 


MARKETING
Marili Ribeiro


Philips traz ao Brasil seu exercício de ‘futurologia’


‘Há soluções de pura futurologia que estão em pesquisa sem previsão de chegar ao mercado. Caso do tecido que reage às sensações de quem o usa e se ilumina diante da raiva ou da alegria, ou então a tatuagem que só aparece na pele ao captar as emoções de quem a toque. Mas há casos concretos, como as salas especiais para exames médicos, que existem em 50 hospitais nos EUA. Nela, são transmitidas cenas no teto e nas paredes que ajudam a tranqüilizar o paciente.


Para exibir iniciativas como essas, a companhia holandesa Philips traz para o Brasil o evento ‘ The Simplicity’ que, desde 2005, percorre o mundo – já passou por Paris, Amsterdã, Londres, Nova York e Hong Kong -, exibindo um laboratório de pesquisas, invenções, design de produtos e soluções inéditas. Tudo feito com o objetivo de rejuvenescer a imagem da centenária companhia que, por anos a fio, consolidou-se como a de uma fabricante de televisores e lâmpadas incandescentes.


A Phillips investe entre 6% e 8% do faturamento, que no ano passado foi de 27 bilhões, em pesquisa e desenvolvimento. ‘Temos mais de cinco mil pesquisadores na sede, na Holanda, trabalhando em projetos e estudando tendências que buscam conforto com tecnologia e simplicidade para as pessoas’, diz o vice-presidente de marketing para a América Latina, o ítalo-venezuelano Fábio Di Giammarco. ‘Estamos investindo agora para que as pessoas saibam e foi por isso que trouxemos o ‘Simplicity’ para cá’.


As tendas em que por cinco dias, a partir da próxima segunda-feira dia 21, os cerca de três mil convidados da Philips poderão ter contato com cenas explícitas de futurologia foram montadas embaixo da ponte estaiada da Marginal de Pinheiros.


Entre as inovações tecnológicas que poderão ser apreciadas por lá há as que trafegam em universos pouco conhecidos, mas podem ser imaginadas como corriqueiras na casa do futuro. Um lugar onde o conhecido pincel de aquarela poderá ser substituído por um feixe de luz. Com ele, a criança desenha na parede, sem riscá-la, e ainda poderá ver suas criações ganharem animação.


VENDAS


A Philips vai dobrar os investimentos em publicidade no País este ano. A empresa não divulga valores, mas desde que o presidente da operação brasileira assumiu, Paulo Zottolo, as campanhas ganharam espaço até com a contratação da cantora Ivete Sangalo como garota-propaganda. O resultado deve ter sido positivo, já que as vendas globais recuaram no primeiro trimestre ante o período anterior, mas cresceram na América Latina 15% puxadas pelo Brasil.


A procura por ações de marketing transformadoras da percepção de uma empresa tem sido um exercício recorrente no mercado corporativo nos últimos anos. Assim como a Phillips, que embasou a comunicação no que define por ‘simplicidade e bom senso’ na tentativa de vender tecnologia acessível ao homem comum, a General Eletric abraçou a causa verde. Quer ser conhecida não como uma empresa que fabrica turbinas, mas como uma que cria produtos ambientalmente corretos.’


 


INTERNET
Alice Wignall, The Guardian


Empresas adotam ‘dias sem e-mail’


‘Londres – Quando me sugeriram passar um dia sem usar e-mails, minha resposta foi: ‘você está brincando!’ Mas minha expressão alarmada tinha uma razão: ler e-mails é a primeira coisa que faço pela manhã, e repito constantemente até dormir.


Mas empresas na Europa e nos Estados Unidos instituíram os ‘dias sem e-mail’, segundo elas em benefício de seus empregados. A empresa de tecnologia Intel adotou a medida recentemente, após seu presidente Paul Otellini criticar os empregados que ‘trabalhavam a duas baias de distância e conversavam por e-mail em vez de levantarem-se’. Outras organizações utilizam o ‘dia sem e-mail’ para medir a influência sobre a produtividade.


Um estudo das universidades de Glasgow e Paisley concluíram que um terço dos usuários de e-mail se sentem estressados com a quantidade de mensagens que recebem.


‘O verdadeiro problema é a checagem constante’, diz Penny Johnson, pesquisadora de stress no trabalho da Universidade de Sunderland. ‘Ela leva à hiper vigilância e interfere com o resto do trabalho. Deve haver momentos para deixar o e-mail de lado.’


Com isso em mente, fiz a experiência de ficar um dia sem e-mail. Uma série de acontecimentos me fez passar o dia atrás do telefone de 200 pessoas para pedir a mesma informação, enquanto um e-mail coletivo teria sido bem mais prático. A primeira lição foi de que o e-mail pode ser realmente útil. Entretanto, a idéia de que eu podia simplesmente ignorar todas aquelas mensagens que chegavam até o dia seguinte era adorável. A segunda lição era de que realmente era bom ‘desligar’ um pouco.


Paul Otellini, CEO da Intel, defende que diminuir a quantidade de e-mails torna o executivo mais comunicativo com seus colegas. E conversar com pessoas sobre assuntos de trabalho aumenta a sensação de produtividade. Há um outro lado a se observar, no entanto. Enquanto olhar e-mails diminui o ritmo de trabalho, a atividade pode servir para cobrir um espaço de ‘bloqueio’, enquanto não há nada que se possa fazer.


Johnson diz que olhar mensagens duas vezes ao dia é o suficiente. ‘Como você vai conseguir priorizar tarefas se se interrompe constantemente para responder mensagens?’ Não discordo.


Porém, ter de localizar todas as pessoas por telefones ou pessoalmente me fez entrar diversas vezes em uma intrincada rede de recepcionistas, telefonistas e secretárias eletrônicas. A idéia era reduzir o stress, mas devido a essas dificuldades, eu não me senti muito relaxada.


Nem quando cheguei ao escritório no dia seguinte e dei de cara com minha caixa de e-mails deixada desde o dia anterior. Um dia sem e-mail é uma maneira excelente de se afastar da loucura do dia-a-dia, mas funciona apenas quando todos na empresa adotam a medida.


BOAS MANEIRAS NO USO DO E-MAIL


Necessidade: Avalie se é realmente necessário enviar a mensagem que você pensa em escrever. Se ela for destinada a apenas uma pessoa, cogite a possibilidade de telefonar. Se a pessoa trabalha próxima a você, vá até a mesa.


Quantidade: Se você já enviou uma mensagem, segure a vontade de enviar outra perguntando ?você recebeu??. Para isso existem ferramentas de aviso de recebimento. Também evite a tecla ?Responder a Todos? quando a resposta que você vai enviar não interessa a todos os listados.


Vocabulário: Fora ao conversar com colegas próximos, escreva as palavras inteiras. Evite gíria de internet.


Conteúdo: Nunca repasse correntes, simpatias e arquivos grandes não solicitados.’


 


TELEVISÃO
Luiz Alberto Weber


Desenho animado provoca polêmica


‘Com a CPI do mundo real presa a um enredo de poucas emoções, um grupo de deputados resolveu investigar mazelas de ficção. Integrantes da Comissão de Defesa do Consumidor promoveram ontem audiência sobre o conteúdo do canal de desenhos Cartoon Network, veiculado pela TV paga.


Os deputados identificaram o suspeito de desvirtuar os bons costumes: Harvey, o advogado, reencarnação animada do super-herói Homem-Pássaro. Os personagens passam por experiência existenciais, algumas vezes eróticas. Isso provocou revolta na Câmara.


Os deputados Celso Russomanno (PP-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG) chegaram a advertir o diretor-executivo jurídico da Net TV, André Muller Borges, de que ele tinha sorte por depor em uma comissão temática, e não em uma CPI. O deputado Barbosa Neto (PDT-PR), que convocou a audiência, se disse chocado com os desenhos. O procurador do Cartoon, Antonio Celso Fonseca Pugliese, disse que o canal ‘é de animação e não infantil’.’


 


Patrícia Villalba


‘Guerra pode atrapalhar inovação’


‘Guel Arraes comanda hoje o núcleo responsável por não mais que 13 minutos das duas horas e meia do Fantástico, da Globo. Mas não é que esse tempinho parece bem mais? Talvez seja porque, fora o texto bem amarrado, o diretor tenha escalado algumas das mais carismáticas estrelas globais que fazem humor – Ingrid Guimarães, Otávio Muller, Heloísa Périssé, Fernanda Torres, Evandro Mesquita. É, claro, um dos caminhos tentados para reverter a queda de audiência do programa dominical, hoje em torno de 23 pontos. E, também, um avanço no modelo que Guel vem testando, uma mistura bem sacada de jornalismo e ficção.


O quadro Sexo Oposto é assim. Fernanda e Evandro divertem expondo as diferenças entre homens e mulheres, com piadas embasadas por dados científicos. Sobre ele, o diretor, dramaturgo e roteirista falou ao Estado, numa entrevista em que repassa sua carreira na TV e parte de suas influências.


Dá para perceber que é cada vez maior a dose de dramaturgia no Fantástico. Por quê?


Sempre procuramos fazer pelo menos um quadro que misturasse ficção e jornalismo, como o Retrato Falado, porque combina com o Fantástico, que é uma revista. Mas a gente tinha a intenção de integrar ainda mais a ficção ao jornalismo. Resolvemos criar uma redaçãozinha e trabalhar como o Fantástico trabalha. Os redatores de humor participam da reunião de pauta e, às vezes, criam quadros ligado ao programa, que não pára para exibir um esquete e recomeça – o humor fica diluído.


Já tem a medida de até que ponto quadros como esses podem contribuir para melhorar a audiência do programa, uma vez que vocês escalam alguns dos atores mais carismáticos da casa?


Como agora temos mais formatos, podemos variar mais o elenco. Mas não sei quanto isso contribui para a audiência. Nossa medida é mais ou menos a de que, se estamos empolgados para fazer, pode estar empolgando. Temos a sensação, pelo menos, de estar num processo diferente. Você termina sempre contando as mesmas histórias, mas o caminho é diferente.


Mas a queda de audiência do Fantástico é algo que preocupa você?


O que se chama briga pela audiência existe desde sempre. Ninguém quer ficar falando enquanto o público dá as costas. Pode ser visto por esse lado e também pelo lado do ‘vamos fazer qualquer coisa pela audiência’. Mas o lado ‘vamos interessar’ é uma preocupação, mesmo quando você não olha o número. O que houve é que agora isso está mais presente. Quando eu comecei a fazer novela na Globo, nem sabia qual era a audiência que ela dava. Sabia às vezes no fim, quando a novela acabava, como um balanço. Hoje, você vê dia por dia.


Por que temos a impressão de que a TV dos tempos do Armação Ilimitada, da TV Pirata e da novela Vale Tudo era mais experimental que a de hoje? Tem a ver com a Abertura Política e a maior liberdade?


Acho que tem um pouco disso, era uma época de muita empolgação. E entrou uma nova geração na TV, houve todo um contexto favorável. E era mais fácil, porque não existia guerra de audiência, então havia mais possibilidade de experimentação. Acho que a briga pela audiência, embora tenha um lado bom, tem um outro ruim, porque os projetos-limite, num curto prazo, ficam ameaçados. Na hora da concorrência, você vai no que tem retorno certo. Mas a médio prazo, esses projetos, ao contrário, terminam mais valorizados, porque quando a audiência equilibra um pouco, se diferencia quem faz algo além do feijão com arroz. Temos de tomar cuidado para, na guerra de audiência, não jogar o bebê na água do banho.


Já ouvi falar da turma do Guel Arraes. Ela existe mesmo, é superdifícil entrar nela?


Eu faço parte de uma turma, só tomo cuidado para que não vire panelinha. Se tem uma coisa que a gente inventou, como método de trabalhar em TV, é a TV de turma. Deve vir da nossa formação. Nos anos 70, a gente fazia tudo em grupo, e a minha formação é dessa época. A TV é um meio extremamente competitivo e setorizado, por isso, acho que esse espírito de turma é a melhor coisa. Tem o perigo de você se fechar e não renovar, mas tem a vantagem de você ter uma companhia de autores e atores que aceleram o processo de um trabalho para outro.


Você vê trabalhos seus, como O Auto da Compadecida, como parte do cinema do sertão pop, como Lírio Ferreira e Cláudio Assis? Se sente parte do cinema pernambucano?


Se você for ver, em 20 e tantos anos de carreira, eu tive dois trabalhos nordestinos, o Auto e o Lisbela e o Prisioneiro. Eu costumo dizer que fui repernambucalizado, por causa do Auto, basicamente. Seria pretensão minha dizer que tenho a ver com aquilo lá (o cinema pernambucano). O Auto é um projeto que tem coisas mais modernas, mas é quase uma tirada de chapéu à geração anterior, a Ariano, a meu pai. É muito diferente do trabalho do pessoal de lá. O Lisbela tem um pouco mais a ver, é um mergulho no universo brega, mas mesmo assim é mais parecido com a nossa tradição de comédia. Cineastas como Lírio e Cláudio Assis nasceram do movimento mangue, são mais genuínos. Tenho essa memória, mas a minha formação profissional não veio daí.


Sua formação vem do cinema francês, com Godard e Glauber Rocha como referências. Depois, você caiu na chanchada de Silvio de Abreu, que é antítese do Cinema Novo. E ficou na TV, por fim. Teve crises de consciência ou essa transição foi leve?


Tive um pouco, sim. Foi uma guinada radical na que eu imaginava que ia fazer. Eu tinha saído do Brasil com 17 anos (para viver na França, por causa do exílio político do pai, Miguel Arraes), voltei com 28. Saí do Recife, voltei para o Rio. Saí na ditadura, voltei na Abertura. Era outro país, e eu era outra pessoa. Tinha o Brasil idealizado por mim, que era mais o Cinema Novo, e o Brasil real, digamos, que era mais o que aparecia na TV. A TV foi pra mim uma carnavalização. Eu achava que estava passando uma chuva, que ia só fazer um trabalho e depois ia fazer cinema. Mais fui ficando. Só uns meses depois, fui entender a importância do que estava fazendo.


TV, CINEMA E LINGUAGEM


NOVELAS: ‘Escapei, não quis mais. Sofria muito fazendo novela, sabe? É impossível fazer novela se você não é bom de improviso. Eu ficava desesperado, preciso de tempo para preparar (as cenas). Percebi que não era o melhor que eu poderia fazer na televisão, e fui fazer o Armação Ilimitada, que era um programa por mês. Foi onde eu me encontrei.’


ARMAÇÃO ILIMITADA (1985): ‘Fui convidado pelo Daniel Filho para fazer. O Armação Ilimitada tinha um elenco pequeno, apenas três atores principais (Andréa Beltrão, Kadu Moliterno e André di Biase). A gente gravava num estúdio meio abandonado na Tijuca, eu fazia com uma câmera só. Descobri como baixar os custos e trabalhar com uma estrutura menorzinha.’


TV PIRATA (1988): ‘ TV Pirata teve muita luta. Embora tivesse tido a encomenda de um programa de humor, até a última hora quase que a gente não faz. Ali era uma loucura, pau para todos os lados. Foi o programa mais difícil que eu já fiz. Para a gente, aquilo era o equivalente profissional à adolescência. Era meio como jogar pedra em todo mundo. ‘


LINGUAGEM: ‘A TV aberta não pode ter uma pesquisa radical de linguagem, que precisa haver no cinema e no teatro. Pesquisadores de linguagem como o Zé Celso e o Antunes (Filho) são importantes para quem trabalha com televisão também. Você não pode cobrar que a televisão tenha a mesma função, porque falamos para muita gente.’


TV X CINEMA: ‘Fiz pouco cinema em relação à televisão, mas as coisas mais arrojadas que fiz foi na televisão. É claro que a televisão tem muita coisa ruim, é impossível não ter com essa quantidade de produção. Mas sobra muita coisa boa. O cinema, ao contrário, tem muita coisa legal, mas a produção é reduzida. Então, o que sobra de coisa boa é bem menos.’


TV E PRECONCEITO: ‘É uma burrice enorme. Se você pegar o ciclo de produção da Globo, que começou a bombar nos anos 60, e jogar fora tudo o que acha que não presta, pode dar uns 95%? Mas se fizer uma enquete, mesmo o mais intelectual vai apontar Grande Sertão: Veredas, do Avancini, ou A Vida Como Ela É…, do Daniel Filho, como programas incríveis.’’


 


Keila Jimenez e Patrícia Villalba


Cultura adia Castelo


‘Com estréia prevista para este ano, a animação fruto do Castelo Rá-Tim-Bum voltou para a fila de produção da TV Cultura.


Um contrato quase fechado na administração anterior previa uma parceria entre a Cultura e a produtora TV Pingüim para a criação de uma primeira temporada do desenho do Castelo. A idéia era que a fornada de estréia tivesse 52 episódios, de 15 minutos cada.


Só que o negócio subiu no telhado. Segundo a TV Pingüim, com a mudança na direção da emissora, não se voltou mais a falar na parceria.


Já na Cultura, a informação é que o desenho do Castelo segue em produção, mas sem a TV Pingüim na jogada. Reavaliando a proposta de parceria, a emissora chegou à conclusão de que seria um negócio de risco, uma vez que, se criasse os personagens em animação do Castelo, a TV Pingüim poderia, mais adiante, comercializar o desenho para outros canais, pois seria detentora desse produto.


A Cultura informa que está criando o produto por conta própria, para depois avaliar se quer ou não parceira no projeto, que ficou para 2009.’


 


CINEMA
Roberta Pennafort


O ano em que Tropa levou 9 troféus


‘Tropa de Elite ganhou nove prêmios na noite de gala do cinema nacional, promovida pela Academia Brasileira de Cinema, mas ficou sem o de melhor filme, concedido a O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias. Com 13 indicações cada um, os dois já premiados longas eram os recordistas de indicações ao Grande Prêmio Vivo do Cinema (O Ano levou três troféus).


Cao Hamburger fez cara e discurso de surpreso ao ouvir seu filme ser anunciado campeão da categoria longa de ficção, depois de ter perdido em tantas outras para Tropa – inclusive a de diretor, ganha por José Padilha, que não foi à premiação, segundo o produtor Marcos Prado, porque estava com suspeita de dengue, que acabou não confirmada. ‘Estou surpreso mesmo. Mas o que a gente faz é filme. A gente não é criador de cavalo de corrida para ganhar’, disse Cao.


Antes de entregar o troféu batizado de Troféu Grande Otelo, o presidente da Academia, o cineasta Roberto Farias, havia saído em defesa de Tropa de Elite, que sofreu críticas duras de todos os lados, dentro e fora do Brasil. ‘Vocês já perceberam como nós somos muito severos com o cinema brasileiro? Se não faz sucesso, a gente cobra. Se faz, a gente cobra também. Viram como cobraram do Tropa de Elite?’, disse Farias, que aproveitou para ratificar que as escolhas da Academia não têm ‘conotação política’. A entidade é formada por atores, diretores e produtores, que este ano escolheram entre cem filmes, lançados entre julho de 2006 e dezembro de 2007.


Realizada no Vivo Rio, casa do patrocinador, a premiação foi longa, por vezes confusa, e começou com duas horas de atraso. Mas a noite foi salva por alguns discursos inspirados. Wagner Moura, escolhido melhor ator, fez graça: ‘Fui membro da Academia por dois anos, só que desta vez esqueci de pagar. Nesses dois anos, eu votei em mim, mas não ganhei.’ Ele foi um dos muitos que dedicaram o prêmio aos filhos. Hermila Guedes despediu-se do público assim: ‘Filhota, eu estou chegando já pra te dar de mamar!’ Ela conseguiu para O Céu de Suely seu único prêmio da noite, o de melhor atriz.


Tropa de Elite não deixou para ninguém: venceu nas categorias maquiagem, fotografia (Lula Carvalho venceu o pai, Walter, indicado por O Céu de Suely e também pelo documentário Santiago), ator coadjuvante (Milhem Cortaz), som, montagem, efeito especial, ator, diretor e ainda no voto popular (dado por celular e pela internet). O Ano… ficou com direção de arte e roteiro original, além de melhor filme de ficção.


Esta edição teve até filme feito para celular (coisas do patrocinador…): o eleito foi Putz. Santiago, de João Moreira Salles, ganhou do superpremiado Estamira, de Marcos Prado, e de Jogo de Cena, do mestre Eduardo Coutinho. No quesito figurino, deu Zuzu Angel. O Centro Brasileiro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro foi reconhecido por seu trabalho de preservação de filmes antigos. Os estrangeiros Pequena Miss Sunshine, americano, e A Vida dos Outros, alemão, venceram como melhor longa-metragem internacional, o primeiro pelo voto popular; o segundo pela escolha do júri. Cartola, Música para os Olhos, levou ‘melhor trilha sonora’.


Momentos de destaque: Marcos Prado abrindo a bandeira do Tibete; Wagner Moura abraçando efusivamente Paulo José, que lhe entregou seu prêmio, Drica Moraes e o amigo Vladimir Brichta (apresentadores da festa); Camila Pitanga desfilando deslumbrante com sua imensa barriga de grávida, escoltada pelo pai, Antonio, e o irmão, Rocco.


Renato Aragão, homenageado pelo conjunto da obra (quatro décadas de carreira, 46 filmes, vistos mais de 120 milhões de espectadores), emocionou a todos. Depois de ver um clipe de cenas de Didi Mocó e seus companheiros trapalhões, já subiu ao palco chorando bastante. ‘Eu vim da minha terra pra fazer cinema. Quando fiz meu primeiro filme, eu já estava feliz, realizado, achei que podia voltar pra minha terra’, lembrou. ‘(Nos filmes), os bandidos me batiam de um lado e a crítica de outro. Quanto mais batiam, a bilheteria subia.’


Principais Premiados


FILME: O Ano em Que Meus País Saíram de Férias


DOCUMENTÁRIO: Santiago, de João Moreira Salles


DIREÇÃO: José Padilha (Tropa de Elite)


ATOR: Wagner Moura (Tropa de Elite)


ATRIZ: Hermila Guedes (O Céu de Suely)


ATOR COADJUVANTE: Milhem Cortaz (Tropa de Elite)


ATRIZ COADJUVANTE: Silvia Lourenço, por O Cheiro do Ralo


FOTOGRAFIA: Lula Carvalho (Tropa de Elite)


DIREÇÃO DE ARTE: Cássio Amarante (O Ano em Que…)


ROTEIRO ORIGINAL: Cláudio Galperin, Cao Hamburger, Bráulio Mantovani e Anna Muylaert (O Ano em Que Meus Pais…)


ROTEIRO ADAPTADO: Heitor Dhalia e Marçal Aquino (O Cheiro do Ralo)


FIGURINO: Kika Lopes (Zuzu Angel)


MONTAGEM: Daniel Rezende (Tropa de Elite)’


 


Luiz Carlos Merten


Técnica x humanismo: foi esse o recado da noite?


‘E o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro foi para… O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger. Muita gente ficou surpresa com as duas principais escolhas da Academia Brasileira de Cinema, na terça-feira à noite, mas não se pode dizer que elas não tivessem sido anunciadas. Santiago ganhou como melhor documentário, para indignação dos que apostavam em Jogo de Cena, mas João Moreira Salles (e não Eduardo Coutinho) havia sido indicado para o prêmio de direção. Tropa de Elite ganhou nove prêmios, incluindo o de melhor filme segundo o júri popular. A maioria foi formada por prêmios ‘técnicos’, sendo a culminação de todos eles o prêmio de melhor diretor para José Padilha, mas O Ano já recebera o troféu de roteiro.


Reproduziu-se, pelo menos em parte, o que já fora a tendência da comissão que apontou O Ano… como indicado do Brasil para uma vaga no Oscar (que o filme não obteve). A Academia parece ter feito uma divisão, algo esquizofrênica, mas não incoerente, entre ‘técnica’ e humanismo. Tropa, o filme brasileiro mais falado de 2007, venceu em categorias como fotografia (Lula Carvalho, brilhante), montagem (Daniel Rezende, impactante) e direção (José Padilha – a Academia sacramentou a vitória dele com o Urso de Ouro no Festival de Berlim). O prêmio de melhor ator para Wagner Moura marcou o que havia de mais humano no filme – a fissura do Capitão Nascimento, a sua fragilização emocional, que Wagner soube expressar tão bem. Os prêmios de roteiro e filme foram para uma obra de perfil nitidamente humanista.


Alguns prêmios foram engraçados – como o de melhor trilha para Cartola, autor das músicas, mas não, obviamente, da (bela) coletânea que elas formam no documentário que Lírio Ferreira e Hilton Lacerda dedicaram ao grande compositor. Lula Carvalho bateu o pai, Walter Carvalho. Seu trabalho de câmera na mão é prodigioso em Tropa e, como disse Luiz Zanin Oricchio, crítico do Estado e comentarista da festa (no Canal Brasil), Walter deve ter recebido muito bem a vitória de sua cria. Daniel Rezende já foi indicado até para o Oscar, em Hollywood, pela montagem de Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. A expectativa é de que Tropa de Elite, preterido na indicação para o Oscar de melhor filme estrangeiro (já no Brasil…), seja indicado a partir de seu lançamento nos EUA, como ocorreu com o filme de Meirelles. A montagem seria, ou é, uma das categorias às quais o Tropa se habilita.


Daniel Filho, que dirigiu Renato Aragão em O Cangaceiro Trapalhão, comandou a homenagem a Didi Mocó. Ele foi emotivo, mas Didi, moleque como sempre, dessacralizou o próprio prêmio com uma piada de mestre – ‘Não desanimem’, ele pediu aos indicados que não ganharam nada. ‘Eu demorei 40 anos (e 47 filmes) para ganhar este prêmio.’ A deixa de Renato Aragão/Didi foi justa porque, em várias categorias, os demais indicados eram tão bons que qualquer um, ou uma, poderia ter vencido. Hermila Guedes foi a melhor atriz, por O Céu de Suely, mas alguém teria reclamado se Carla Ribas (A Casa de Alice) ou Andréa Beltrão (Jogo de Cena) tivessem recebido o prêmio? Wagner Moura levou, e ele é bom demais, mas por acaso Selton Mello não mereceria o prêmio, por O Cheiro do Ralo? Tão bons eram os concorrentes que isso valoriza ainda mais a disputa (e a vitória). A festa, propriamente dita, teve bons e maus momentos. A iluminação no palco não era boa, faltou glamour. Certo – o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro não é o Oscar. Hollywood é lá.’


 


 


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