Nos jornais desta sexta-feira, segue a cobertura sobre os casos levantados no início da semana: a compra da Varig pelo empresário baiano Nelson Tanure, atual controlador dos jornais Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil, que vem sendo alvo de uma verdadeira novela judicial; a censura do Caso Kroll em veículos de comunicação e governamentais; e o grampo na Rede Gazeta do Espírito Santo.
Entre os artigos, a Folha publica interessante texto do físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite sobre a TV Digital; o Valor Econômico traz, na série sobre a imprensa internacional, a análise de Matías Molina sobre o The Washington Post; e o Estadão publica uma crônica de Ignácio Loyola de Brandão sobre Maneco Müller, pioneiro do colunismo social morto nesta semana.
A abertura das ações do UOL na bolsa de valores, no Estadão, e a polêmica entre EUA E UE sobre propaganda de ‘junk food’, no Valor, são outros assuntos destacados nos jornais do dia.
Leia abaixo os textos desta sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Sexta-feira, 16 de dezembro de 2005
CRISE POLÍTICA
A militares, Lula diz ser vítima de ‘infâmias’
‘Visivelmente abatido durante discurso a integrantes das Forças Armadas que classificou de ‘conversa amiga e de coração’, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o governo está sendo vítima de ‘infâmias’ e enfrentando uma ‘saraivada de críticas’ nos últimos meses.
‘Nesses seis meses [de crise], estamos enfrentando uma saraivada de críticas, de acusações e de infâmias, e nós discutimos sempre que o nosso papel não é dizer se quem está acusando está errado ou está certo, mas achamos que tudo que for levantado, de acusação, que seja apurado.’
A declaração do presidente ocorreu um dia depois de ele ter aparecido, em pesquisas Datafolha e Ibope, atrás do prefeito paulistano, José Serra (PSDB), para um eventual primeiro turno nas eleições presidenciais de 2006.
Ontem, voltou a deixar no ar sua candidatura. Disse aos militares que o governo deve agir ‘a curto prazo’, pois seu mandato termina no ano que vem.
Lula participou de um almoço com oficiais generais no Clube da Aeronáutica. Ao iniciar sua fala, deixou de lado o texto escrito por sua assessoria e disse a eles que teria ali uma conversa ‘amiga’ e de ‘coração’, e não da ‘razão’.
O presidente, que chegou a Brasília de madrugada depois de visita à Colômbia, estava abatido, falava baixo e até se esqueceu de retirar os óculos quando passou a falar de improviso. Antes de falar, ouviu palavras do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, que, de forma sutil, lembrou o presidente das restrições orçamentárias de Marinha, Exército e Aeronáutica.
Na fala de ontem, o presidente disse que nunca interferiu na crise. Porém, Lula articulou nos bastidores para tentar barrar a CPI dos Correios, em meados deste ano, e foi contra a convocação extraordinária do Congresso em janeiro e no início de fevereiro.
‘Se alguns imaginaram que o presidente da República iria tomar atitudes que pudessem cercear qualquer investigação, para se fazerem de vítimas, não haverá vítima por falta de investigação.’
Lula aproveitou o discurso de ontem para defender José Alencar de reportagem do último fim de semana da revista ‘Veja’ que indicou favorecimento ao vice-presidente, crítico ferrenho da política monetária, por ter recebido, por meio de sua empresa, empréstimos do governo federal com juros favorecidos.
‘É importante que a gente tenha clareza das coisas que acontecem no país para que a gente não misture tudo num único balaio e depois colha, como resultado, coisas negativas para o nosso país. Quero aproveitar, José [Alencar], para dizer que eu fiquei indignado. Quando a ofensa é pessoal, elas ofendem menos, muito menos do que quando ofendem um companheiro’, afirmou Lula, que, um dia antes, havia sido criticado indiretamente por Alencar sobre sua responsabilidade nos resultados negativos do Produto Interno Bruto no 3º trimestre do ano.
Numa fala de quase meia hora, o presidente reservou os minutos finais para falar justamente sobre o que interessava aos presentes -a reestruturação das Forças Armadas. Neste momento, sugeriu que essa reestruturação deveria ser no ‘curto prazo’: ‘Temos de tomar uma decisão, num curto prazo, eu digo ‘curto prazo’ porque o meu mandato termina em 31 de dezembro do ano que vem’.’
CASO KROLL CENSURADO
Planalto desconhece censura no caso Kroll
‘A Presidência da República não havia sido notificada, até ontem, da censura ao site www.planalto. gov.br, incluído desde novembro entre as páginas da internet obrigadas a retirar informações sigilosas sobre o caso Kroll.
Trata-se da espionagem revelada pela Folha, em julho de 2004, envolvendo Daniel Dantas, Kroll, Brasil Telecom e Telecom Italia, e que teria atingido figuras do primeiro escalão do governo Lula.
Ontem, a Casa Civil rastreou seu protocolo, para tentar localizar algum comunicado da Justiça Federal. A secretaria de Imprensa da Presidência da República informa não saber qual fato foi veiculado no site do Planalto para motivar a censura. Além de notícias da Presidência, a página divulga material fornecido pela Agência Brasil.
A AGU (Advocacia Geral da União) ainda avalia se caberá alguma iniciativa, diante da ordem judicial para retirar, de sites do governo federal, dados protegidos pelo segredo de Justiça.
Os sites do Ministério do Planejamento e da Polícia Federal estão listados na decisão do juiz federal da 5ª Vara Criminal, Sílvio Rocha.
Para cumprir a determinação da juíza substituta, Margarete Sacristan, a Folha recolocou em seus sites 139 textos, sendo 52 da Folha Online e 87 da edição eletrônica da Folha. Permanecem fora do ar 19 matérias do jornal e cinco da Folha Online. O jornal recorrerá, para garantir a manutenção integral do noticiário.
‘A determinação fere o dispositivo constitucional que assegura a liberdade de imprensa e o direito de a sociedade ser informada’, afirmou Fernando Martins, diretor-executivo da ANJ, sexta-feira.
Até ontem, a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais ainda não havia recebido o primeiro ofício de Sacristan. A associação classista reproduziu nota da Polícia Federal sobre o veto.
Na quarta-feira, a magistrada restringiu a censura à divulgação dos conteúdos de intercepções telefônicas, e-mails e documentos bancários e fiscais apreendidos.
A decisão atingiu sites de diferentes atividades, além de órgãos de imprensa. A Exontec, de Londrina, Paraná, que mantém o site www.panacea.com.br, alega que apenas confecciona sites para clientes. O site gaúcho www.defesanet.com.br é dedicado a informações sobre defesa, estratégia e inteligência militar.
O site ‘Vermelho’, do PCdoB, divulgou a proibição recebida. ‘O portal sempre lutou pela democratização das informações e seria um absurdo não ter acesso e não registrar essas informações’, diz o jornalista Pedro de Oliveira.
Jaeldson Damasceno, sócio do provedor Holística, de Irecê, na Bahia, recebeu o ofício da juíza, mas afirma desconhecer o caso Kroll. ‘Não sei do que se trata. Se foi divulgado por algum cliente, provavelmente saiu do ar.’
Os editores do site www.paraiba.com.br, que divulga notícias estaduais, informam que não reproduzirão, a partir de agora, notícias a respeito do caso.’
SERRA vs. MÍDIA
Serra exige que imprensa deixe evento
‘O prefeito José Serra disse ontem que a discussão sobre política econômica no país, sobre alternativas macroeconomicas, ‘tudo isso vai contar’.
A razão: ‘pelo cansaço’. ‘Quando não se aguenta de tanto erro, acaba-se procurando uma saída’, disse ele, após afirmar que há um travamento da discussão de alterantivas hoje no campo da economia.
As afirmações faziam parte de uma palestra sobre economia proferida pelo prefeito na Casa do Saber, entidade que organiza cursos livres frequentados pela elite paulistana.
No intervalo de sua palestra, ao ser abordado pelos jornalistas, o prefeito se negou a responder perguntas e ameaçou não continuar o evento se a imprensa permanecesse na sala. Os repórteres vieram a ser, mais tarde, expulsos do local.
Ao ser questionado, no intervalo, Serra afirmou: ‘Isso não foi combinado’. Reclamou com os organizadores do evento da presença da imprensa e afirmou aos repórteres que o que havia sido dito ali não era para ser publicado.
Ao ouvir que essa decisão cabia ao jornal, o prefeito anunciou que não daria a segunda parte da aula.
Voltou para comunicar aos alunos que não poderia continuar o curso por causa da presença dos repórteres. Vários dos presentes protestaram e pediram a saída da imprensa. Os organizadores do evento, por fim, pediram que os repórteres se retirassem.
A imprensa foi convidada pela assessoria da Casa do Saber. Após o incidente, os organizadores disseram que haviam cometido um erro ao fazê-lo.’
TANURE & VARIG
Justiça tira Ruben Berta do comando da Varig
‘Um dia após a Justiça suspender a venda da FRB Participações (Fundação Ruben Berta), controladora da Varig, para a Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure, a companhia aérea pediu o cancelamento do processo de recuperação judicial. No final da tarde, porém, a Justiça do Rio determinou que a FRB fosse afastada do comando da empresa, tornando o pedido sem efeito.
Em decisão proferida pelos juízes Márcia Cunha e Luiz Roberto Ayoub, a Justiça retirou os poderes da FRB de gestão sobre a Varig. Para a juíza, é ‘no mínimo estranho’ o fato de o pedido ter sido feito no momento em que a Justiça suspendeu o negócio com a Docas. Segundo a Justiça, a FRB poderá entrar com recurso.
Cunha disse ainda que o pedido pode ser considerado ‘como abuso de poder do controlador’, já que foi feito nesse momento adiantado do processo e 150 dias após a Varig já ter usufruído dos benefícios da recuperação judicial -credores não podem acionar empresas nessa situação. ‘Eles fizeram o pedido depois de aproveitarem o filé mignon [da recuperação judicial]’, disse ela.
Na interpretação da juíza Cunha, a FRB agiu de ‘má-fé’ ao solicitar o fim da recuperação judicial nesta fase do processo.
Apesar do afastamento da FRB da gestão da Varig, a Justiça manteve a atual direção da companhia, presidida pelo funcionário de carreira da empresa Marcelo Bottini. ‘Ele tem feito, ao que me consta, excelente gestão, com ganhos para o processo de recuperação judicial’, disse Cunha.
Segundo Cunha, só depois de aprovado o plano de recuperação judicial, que será apreciado em assembléia na segunda-feira, é que o comando da Varig poderá ser substituído. Até lá, diz, permanece a equipe de Bottini.
Márcia Cunha disse que a decisão dela e de Ayoub tem como base o artigo 64 da Lei de Falências (11.111/05), que prevê o afastamento do controlador caso sua gestão atrapalhe o processo de recuperação judicial. Ela afirma, no entanto, que a FRB continua controladora da Varig, sem perder o direito à propriedade da companhia. Pode, portanto, vendê-la a quem quiser, desde que obtenha a aprovação dos credores.
Na segunda-feira, os credores irão analisar as propostas de todos os interessados, inclusive da Docas. Nesta semana, a Docas, do empresário Nelson Tanure, arrendatário dos jornais ‘Jornal do Brasil’ e ‘Gazeta Mercantil’ fechou negócio com a FRB, pelo qual pagaria de US$ 112 milhões em dez parcelas anuais por 25% das ações ordinárias e mais usufruto por dez anos de 42% das ações da FRB Participações.
A comissão de juízes que cuida da recuperação da companhia aérea tomou anteontem a decisão de suspender o contrato com base em petição do Ministério Público do Rio, por entender que os credores da Varig deveriam ter aprovado a negociação em assembléia, o que não ocorreu.
Em seu pedido, a Varig alega que a recuperação judicial ‘tem se mostrado claramente infrutífera para a própria consecução de seus objetivos, isto é, contribuir para a viabilização econômica de empresas em dificuldade’.
Em pedido assinado pelo advogado Sérgio Mazzillo, a Varig alega ainda que a lei de recuperação judicial ‘acabou por precipitar a deterioração do próprio capital de giro da empresa, que teve de lidar, entre outros constrangimentos, com a eliminação do fluxo de crédito por parte de bancos oficiais, o fim da possibilidade de comercialização de passagens a crédito e a exigência de depósitos adicionais à Iata’.
O fato de Mazzillo ter assinado o pedido, diz a juíza, também motivou a decisão de retirar a gestão da Varig das mãos da FRB. É que o advogado não tinha procuração nos autos do processo.
Procurada, a assessoria de imprensa FRB informou que todos os curadores da FRB estavam reunidos até o início da noite.
BNDES
O BNDES informou à Justiça ontem que normas internas o impedem de conceder financiamentos a empresas das quais o controlador ou sócio esteja inadimplente com o banco, ainda que a dívida em atraso seja com outra companhia que não que a pleiteia o empréstimo. É o caso de Tanure, que possui, segundo o banco, participação nas firmas Emaq e Sequip -elas devem, juntas, R$ 200 milhões ao BNDES. Colaborou Luciana Brafman, da Sucursal do Rio’
TV DIGITAL
A TV digital e o sushi
‘O Brasil deverá, dentro de poucas semanas, escolher uma entre as três tecnologias básicas disponíveis para instalação de um sistema de TV digital. À primeira vista, o problema aparenta ser puramente técnico e, portanto, de fácil resolução. Não apenas porque a comparação entre peculiaridades puramente tecnológicas -e, conseqüentemente, caracterizáveis por parâmetros mensuráveis- é relativamente simples quando há imparcialidade mas também porque, neste caso, as conseqüências são de alcance meramente financeiro e, com freqüência, de pouca relevância.
Entretanto, a TV digital encerra um potencial de revolução de natureza social e política que transcende, e muito, a esfera meramente técnica, pois traz em seu bojo uma promessa de imenso acréscimo da capacidade de interatividade e acesso à informação. Acredita-se mesmo que não apenas ampliará as funções hoje atribuídas à internet como poderá vir a substituí-las em parte, além de proporcionar um amplo leque de novas oportunidades de negócios.
É importante notar que, como sói acontecer com mudanças tecnológicas profundas, as inovações refletem os anseios das sociedades em que se originam. Assim, no Japão, onde as emissoras de televisão são em sua maioria estatais, a tecnologia adotada é tal que entrega o controle tecnológico e organizacional às próprias emissoras, ou seja, ao governo. A telefonia móvel fica, assim, também submetida ao governo.
O sistema funciona bem naquele país, talvez por causa dos acentuados traços de feudalismo ainda remanescentes. E é certamente pelo mesmo motivo que nenhum outro país adotou a tecnologia japonesa. Nem mesmo aqueles vizinhos que convivem comercialmente com o Japão, tais como Hong Kong, Cingapura, Austrália, Índia etc., que preferiram o sistema desenvolvido na Europa.
Ao contrário do sistema japonês, o europeu, muito mais versátil, permite mais facilmente reorganizações sucessivas e introdução de novos modelos de negócios, além de interatividade ampliada devido à telefonia móvel.
O sistema americano, também baseado em idéias relativas à ‘televisão aberta’, ainda está em evolução.
Quanto à tecnologia desenvolvida por ingentes esforços em várias instituições de pesquisas no Brasil, há suspeitas de que venha vestida de quimono.
Plim-Plim…
É também significativa a condição em que foi desenvolvido o sistema europeu, que, contrariamente ao japonês, em que uma única companhia detém a tecnologia, foi constituído por um consórcio de indústrias e redes de TV, além de instituições de pesquisas procedentes de vários países, o que permite maior flexibilidade no acesso a inovações e, inclusive, a participação de países usuários que venham a adotar essa tecnologia posteriormente -como seria, eventualmente, o caso do Brasil, a compartilhar de pesquisas e desenvolvimento.
Com o Japão, isso seria muito difícil devido a sua tradicional atitude defensiva em tudo que diz respeito à propriedade intelectual.
É, portanto, surpreendente que o ministro das Comunicações, o radialista Hélio Costa, venha reiteradamente afirmar que consultaria principalmente as principais redes de televisão, já que, explica ele, elas são as entidades diretamente interessadas.
Parece que o ministro não entendeu a transcendência dessa escolha, seu alcance social e político, e coloca a raposa no galinheiro. Parece-nos também que o ministro não entende o conceito elementar de Estado e suas próprias responsabilidades, ao apontar como principais interessadas as redes de TV. Os principais interessados, sr. ministro, são os cidadãos, os contribuintes, os usuários finais, e é a eles, em primeiro lugar, que o governo deve satisfações.
Plim-Plim…
Aliás, é incompreensível que essa decisão fique apenas no interior do Ministério de Comunicações, ou, pior ainda, no âmbito do gabinete do ministro. Não há país no mundo em que essa decisão ficasse exclusivamente em um círculo tão restrito. E onde ficam os ministérios de Indústria e Comércio, Exterior e Ciência e Tecnologia? Não apitam nada? E a Casa Civil?
E por que foi criado esse fogoso Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social? Seria um mero enfeite? E o Congresso Nacional, porque não chama a si a responsabilidade de uma ampla discussão? Ou será que o poder das redes de televisão cresce tanto com a proximidade das eleições que ninguém ousa contrariá-las?
Plim-Plim…
Rogério Cezar de Cerqueira Leite, 74, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro do Conselho Editorial da Folha.’
TELEVISÃO
Redes reagem contra classificação indicativa
‘m seminário anteontem na Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) marcou a reação das grandes redes e do mercado de cinema contra a ‘nova’ classificação indicativa de filmes e de programas, que será editada pelo Ministério da Justiça até março.
A tendência é a classificação ficar mais rigorosa. Ontem, o ministério concluiu consulta pública que embasará suas propostas de mudanças _algumas formais, como a adoção de símbolos para informar a classificação dos programas no ato da exibição.
O seminário serviu para as emissoras mostrarem ao Ministério da Justiça que são contra a classificação indicativa, que a consideram ‘censura’ e prejudicial financeiramente _foram citadas as ‘absurdas’ classificações, nesta semana, do novo ‘King Kong’ para 14 anos e de ‘Pocahontas’, o filme infantil, para apenas após as 20h na Globo.
‘Achamos inconstitucional impor sanções às TVs pelo não-cumprimento da classificação’, afirma a advogada Claudia Telles, representante da Abert (associação das TVs), que ameaça ir à Justiça contra a regulamentação.
As TVs querem que a classificação seja apenas um instrumento de ajuda aos pais, sem ser obrigatória, sem determinar o horário de exibição do programa. Defendem a ‘liberdade de programação’ e o bloqueio de conteúdos, pelos pais, pela implantação de novas tecnologias (V-Chip).
OUTRO CANAL
Jatobá A Record finaliza negociações com Dudu Braga, filho do cantor Roberto Carlos, que na novela ‘América’ (Globo) era apresentador do mal-acabado programa sobre deficientes físicos ‘É Preciso Saber Viver’. O locutor dividirá com Bianca Rinaldi o ‘Ressoar’, programa de responsabilidade social da Record.
Belezura No esforço da Globo para melhorar a audiência da novela ‘Bang Bang’, vai sobrar até para o visual do mocinho da história, Ben Silver (Bruno Garcia). Pesquisas detectaram rejeição ao estilo ‘sujo’ do rapaz. Em breve, ele aparecerá com barba aparada.
Buraco Para não ter que prorrogar contratos com atores que vencem no final de mês, o SBT desistiu de prolongar a novela ‘Os Ricos Também Choram’ até março, quando deve estrear ‘Cristal’. A novela fica no ar até 20 de janeiro. Silvio Santos ainda não decidiu o que irá substituí-la, mas não deverá ser uma trama mexicana.
Gratidão A Record ficou 17 minutos à frente da Globo, em primeiro no Ibope, ontem de manhã com jogo do Liverpool no Mundial de Clubes. Os direitos do torneio foram cedidos pela própria Globo.
Paratodos O Canal Brasil promove festa hoje no Rio para entregar o primeiro prêmio ‘Urubu de Coco’, para profissionais de cinema que pouco aparecem (como maquiadores) e para categorias inusitadas, como ator que mais aparece (Lázaro Ramos é favorito).’
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O Globo
Sexta-feira, 16 de dezembro de 2005
CENSURA NA GAZETA
PF recebe documentos sobre grampos
‘O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, recebeu ontem da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) documentos sobre os grampos feitos pela Polícia Civil do Espírito Santo nos telefones da Rede Gazeta, a maior rede de comunicação do estado. Bastos repassou os documentos à Polícia Federal. O diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, disse que está disposto a ajudar mas que as investigações, a princípio, são de competência da própria Polícia Civil capixaba.
Bastos disse também que decidiu enviar ao Congresso até o fim do mês o projeto que restrinja os casos de escuta e classifica como crime a divulgação de gravações telefônicas autorizadas ou não pela Justiça. O caso de espionagem – que resultou em gravações de conversas de 200 jornalistas da TV Gazeta, jornal ‘A Gazeta’ e Rádio CBN – também foi denunciado à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Dois dias depois da divulgação do caso, o secretário de secretário de Segurança Rodney Miranda foi afastado do cargo. Mas a Fenaj considera o caso extremamente grave e espera medidas mais duras do governador Paulo Hartung. O ministro concordou:
– É um caso grave, assim como o grampo ilegal. Não pode ter censura no Brasil. Eu acho que é necessário ter cuidado com aquilo que se pareça censura, porque um dos fundamentos da democracia brasileira é a liberdade de imprensa – disse Bastos.
O presidente da Fenaj, Sérgio Murillo, entregou a Bastos uma cópias de dois CDs com o conteúdo de gravações clandestinas de conversas de jornalistas. Segundo Murillo, são conversas de jornalistas com familiares, amigos e diversas autoridades locais que abastecem o noticiário de informações, algumas delas fornecidas com o compromisso da não divulgação da fonte. Para a Fenaj, foi uma violência contra a atividade profissional e a vida íntima dos jornalistas.
O presidente da Fenaj entregou a Bastos cópias da decisão em que o desembargador Pedro Valls Feu Rosa, do Tribunal de Justiça local, autoriza a prorrogação do prazo de escuta do telefone da TV Gazeta. Entre os papéis está também um relatório da operadora de telefonia Vivo com os nomes dos proprietários dos telefones grampeados. Para a Fenaj, o documento é uma prova de que autoridades da Polícia Civil e do Judiciário sabiam que a escuta telefônica era dirigida contra jornalistas da TV Gazeta.
A escuta foi pedida pela delegada Fabiana Maioral, encarregada das investigações sobre o assassinato do juiz Alexandre Martins. O juiz foi assassinado em março de 2003, depois de condenar integrantes do crime organizado.’
O GLOBO
PREMIADOO Globo
Um ano de prêmios para jornalistas do GLOBO
‘A vida de migrantes nordestinos no Rio; o sofrimento de moradores de rua; a legião de brasileiros sem nome pelo país; as vítimas da Aids na África; os escambos na economia; os desperdícios no consumo de energia e nos gastos públicos em geral, como na saúde e nas estradas. Estes foram alguns dos temas de trabalhos de repórteres, colunistas, fotógrafos e diagramadores do GLOBO que receberam, ao longo deste ano, 31 prêmios em diversos concursos. Esta semana, O GLOBO recebeu o Prêmio Esso Especial 50 anos pela série ‘Vida Severina: da miséria do sertão à realidade da favela’, na qual os repórteres Paulo Marqueiro e Selma Schmidt mostraram a luta de retirantes nordestinos que continuam vindo para o Rio de Janeiro para morar em favelas, muitas delas dominadas por traficantes de drogas, e o Prêmio Esso na categoria Informação Científica, Tecnológica e Ecológica, pela série ‘Natureza à deriva’, em que Tulio Brandão e novamente Paulo Marqueiro mostraram a poluição num dos cartões-postais do Rio, a Baía de Guanabara, e o fracasso do programa de despoluição depois de uma década de obras. Por conseguir explicar as dificuldades da economia brasileira e incluir as injustiças sociais no jornalismo econômico, a colunista Míriam Leitão recebeu da Universidade de Columbia o prêmio Maria Moors Cabot, um dos mais importantes dos Estados Unidos. Além de cadernos especiais, foram premiadas publicações periódicas do jornal, como o CARROetc – com duas medalhas num importante prêmio dado nos Estados Unidos – o Boa Viagem, o Morar Bem e o Boa Chance.
As principais conquistas de 2005
Prêmio Esso Especial 50 anos pela série ‘Vida Severina: da miséria do sertão à realidade da favela’, de Paulo Marqueiro e Selma Schmidt.
Prêmio Esso pela série ‘Natureza à deriva’ , de Paulo Marqueiro e Tulio Brandão, na categoria Informação Científica, Tecnológica e Ecológica.
VII Prêmio Imprensa Embratel pela série ‘Vida Severina: da miséria do sertão à realidade da favela’, na Região Sudeste.
VII Prêmio Imprensa Embratel pelo caderno ‘Órfãos da violência’, de Elenilce Bottari e Paulo Marqueiro, na categoria Reportagem Investigativa (Prêmio Tim Lopes).
IV prêmio de jornalismo ‘Sociedad para Todos 2005’, em Bogotá, pelo caderno ‘A dinastia das ruas’, de Ruben Berta, Cristiane de Cássia, Selma Schmidt e Taís Mendes.
Menção honrosa do Prêmio Ibero-americano de Comunicação pelos Direitos da Infância e da Adolescência, do Unicef, com ‘A dinastia das ruas’.
II Prêmio Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) de Jornalismo pela série ‘Vida severina: da miséria do sertão à realidade da favela’, na categoria especial.
Prêmio Sociedade Interamericana de Imprensa , pela série ‘Homens de bens da Alerj’, de Angelina Nunes, Alan Gripp, Carla Rocha, Dimmi Amora, Flávio Pessoa, Luiz Ernesto Magalhães e Maiá Menezes.
Prêmio da Associação de Correspondentes da ONU pelo caderno ‘A África agoniza’, sobre a Aids no continente, de Roberta Jansen e Marizilda Cruppe.
Menção especial de melhor investigação jornalística do Instituto Imprensa e Sociedade e da Transparência Internacional Latino-Americana e Caribe, pela série ‘Homens de bens da Alerj’.
Medalha de prata na 26 edição do Best of Newspaper Design/2005 (o melhor do design de jornais), pelo projeto gráfico do caderno ‘Órfãos da violência’, de Renata Maneschy.
III Prêmio Alexandre Adler de Jornalismo em Saúde,com a série de reportagens ‘A conta do caos na saúde’, de Alba Valéria Mendonça, Demétrio Weber, Luiz Ernesto Magalhães, Maria Elisa Alves e Paulo Marqueiro.
X Prêmio Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) de Reportagem, pela série ‘O lixo da Baía’, de Paulo Marqueiro e Tulio Brandão, na categoria reportagem.
Prêmio da Associação Brasileira de Concessionárias Rodoviárias pela série ‘Calamidade nas estradas’, sobre o abandono das estradas brasileiras, de Bernardo de la Peña, Letícia Lins, Isabela Martin e equipe.
Prêmio Justiça e Direitos Humanos (3 lugar), pela série ‘Brasileiro sem nome’, concedido pelo Movimento de Direitos Humanos do Rio Grande do Sul. A série, de Fernanda da Escóssia e equipe, mostra os brasileiros sem registro de nascimento e sem cidadania.
Medalha de prata no 15th. International Automotive Media Awards pela reportagem ‘Corvette na idade do lobo’, de Rogério Louro, publicada no caderno CARROetc. Pela primeira vez uma publicação brasileira foi agraciada com o prêmio, entregue nos Estados Unidos.
Medalha de bronze no 15th. International Automotive Media Awards pela reportagem ‘V16 – uma visita a Cranbrook’, também de Rogério Louro, do CARROetc.
Prêmio Fecomércio de Jornalismo , primeiro lugar, com a reportagem ‘Trocas, um grande negócio’, de Luciana Rodrigues.
Prêmio Procel Edição 2005 (organizado por Eletrobrás/Procel) pela reportagem ‘De olho no desperdício: enegia que vai pelo ralo’, de Ramona Ordoñez. A reportagem revelou que, mesmo depois do racionamento de energia em 2001, o país joga fora o equivalente a 47 milhões de quilowatts-hora (kWh) de energia por ano.
Prêmio ABS de Jornalismo (da Agência Brasil de Segurança) – Primeiro lugar na categoria Jornalismo impresso pela reportagem ‘As vítimas dos agrotóxicos’. A reportagem, de Cássia Almeida, Aguinaldo Novo, Letícia Lins e Geralda Doca, mostrou que, segundo estudos, há no país 1,5 milhão de trabalhadores intoxicados.
Prêmio ABT de Jornalismo (da Associação Brasileira de Telemarketing) concedido a Nadja Sampaio pela reportagem ‘Novos canais para reclamar de atendimento’.
Prêmio AMB de Jornalismo (da Associação de Magistrados Brasileiros), terceiro lugar, com a reportagem ‘Golpe contra o trabalhador’, de Cássia Almeida. Segundo a reportagem, o Ministério Público do Trabalho investigava 270 empresas do Rio por forjarem ações de ex-trabalhadores na Justiça, buscando reduzir as verbas rescisórias e conseguir uma quitação geral, o que impedirá o trabalhador de processar a empresa novamente por direitos desrespeitados.
Prêmio Orilaxé (do Grupo Cultural Afro Reggae) para Flávia Oliveira, na categoria Jornalismo. O prêmio é concedido a pessoas ou instituições que se destacaram em causas ligadas aos movimentos sociais.
Prêmio Arco-Íris de Direitos Humanos (categoria Imprensa) concedido a Fernanda da Escóssia pelo Grupo Arco-Íris. É dado a jornalistas que se destacaram na cobertura de direitos humanos, em especial nas questões de gênero.
Prêmio Jornalista Amigo da Criança (oferecido pela Agência de Notícias dos Direitos da Infâncias, Andi) para Flávia Oliveira, Chico Otavio e Demétrio Weber.
Prêmio de Jornalismo da Comissão Européia de Turismo para o Boa Viagem, eleito o melhor suplemento de turismo.
Prêmio de Jornalismo da Comissão Européia de Turismo pela reportagem ‘Saborosa sopa de letrinhas’, sobre a Polônia, de Carla Lencastre.
Prêmio Travel Writer da Travel Industry Association of America pela série sobre o estado de Nova York: ‘Altos e baixos de NY’, ‘Primeiros passos’ e ‘Montanhas de água’, de Carla Lencastre.
Prêmio Abecip de Jornalismo, na categoria SFI com a reportagem ‘Construtoras atrás de investidores’, de Luciana Casemiro, do Morar Bem.
Personagem de mídia homenageada pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), na comemoração de 15 anos da entidade, para Fabiana Ribeiro, do Boa Chance, por sua contribuição ao desenvolvimento do franchising no país.’
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O Estado de S. Paulo
Sexta-feira, 16 de dezembro de 2005
CRISE POLÍTICA
A falta que faz um Lacerda…
‘A semana começou com o presidente Lula tachando a oposição de ‘golpista’. A incontinência verbal de Sua Excelência, os seus atentados à gramática, bem como a terminologia imprópria de que se costuma valer são por demais conhecidos da opinião pública. Já é de hábito, entre nós, não tomar as suas palavras pelo valor de face. Concede-se a elas um deságio generoso, desconto que jamais foi concedido a nenhum de seus antecessores.
Mas acusar de golpismo os seus opositores, mais do que uma enormidade, é uma injustiça flagrante. Fosse eu o presidente, agradeceria ao Santíssimo todos os dias por contar com adversários tão tíbios e pusilânimes. Fossem estes os inimigos de Collor, o ex-presidente teria terminado tranqüilamente o seu mandato. Faz falta à oposição atual um destemido cruzado à semelhança de um Carlos Lacerda. Vivo fosse, ele já teria feito desembarcar do Planalto, com desonra, o presidente, seu partido e todos os seus demais acólitos. Bastar-lhe-iam cinco ou seis virulentas catilinárias, na tribuna parlamentar ou nas redes de rádio e TV, e o povo, furioso, estaria, em uníssono, exigindo nas ruas a defenestração sumária do atual governo.
Mas Lacerda não está mais entre nós. E os carbonários que lhe sucederam, sem o mesmo talento, foram os zangados militantes do PT. Por mais de duas décadas infernizaram a República, até que um dia chegaram ao poder. Deveria haver um outro PT, à semelhança da antiga União Democrática Nacional (UDN), para fazer-lhe oposição. Como não existe um partido com tais características, a tarefa de contestar o governo fica a cargo dos ultramoderados parlamentares do PFL e do PSDB.
Personalidades como o tribuno carioca fazem falta. Como um Bayard, o cavaleiro sans peur et sans reproche (sem medo e sem jaça) Lacerda se impunha no cenário político porque não havia flancos por onde atacá-lo. Não temia nada nem ninguém. Podia-se condená-lo pelo seu radicalismo, mas jamais pela sua conduta pessoal. Como governador da Guanabara, portou-se de forma coerente com a sua pregação moralista. Os políticos atuais não se arriscam a imitá-lo. Os do PT já não podem fazê-lo porque, uma vez no poder, demonstraram ter todos os vícios imagináveis. Os da oposição também não podem porque já ocuparam o governo e nele cometeram as suas próprias faltas.
Sem medo e, sobretudo, sem jaça não existe mais ninguém. E é por isso que Lula enfrenta uma oposição tão escrupulosa. É uma enorme injustiça chamá-la de golpista. Mesmo nos momentos mais negros da atual crise política, ninguém se levantou sequer para aventar a possibilidade de um impeachment. Ao contrário. O que mais se falou foi na necessidade de preservar a ‘governabilidade’. Quando Lula estava com os flancos desprotegidos, ninguém se animou a tentar um xeque ao rei – que poderia facilmente transformar-se num xeque-mate.
Por falta de um Lacerda, ficamos assim nessa situação nebulosa. O suborno de parlamentares pelo PT está mais do que comprovado. Que Lula sabia de tudo, não há no País quem duvide. Mas não há quem se arrisque a dar o passo seguinte, qual seja o de processar o presidente por crime de responsabilidade.
‘Falta o povo nas ruas’, desculpam-se os líderes oposicionistas. Ora, o povo não sai às ruas espontaneamente. Há que existir alguém, com autoridade moral para tanto, que se disponha a arengar às massas, explicar-lhes a gravidade do que está ocorrendo e conclamá-las a demonstrar a sua insatisfação. Se mantida a atual apatia, a crise será superada com a cassação de Roberto Jefferson, José Dirceu e mais meia dúzia de parlamentares. ‘Falta alguém em Nuremberg’, diria David Nasser. Na verdade, falta mais gente do que se imagina.
Por que ninguém se anima a desentranhar as contas do PT no exterior, que serviram, entre outras coisas, para remunerar o sr. Duda Mendonça e internalizar os presumíveis dólares doados por Fidel Castro (há quem diga que de Kadafi também…)? Esses eventuais donativos não configuram um gravíssimo atentado à soberania nacional?
Por que ninguém se dispõe a vasculhar de onde vieram, na verdade, as dezenas, talvez centenas de milhões de reais que Marcos Valério alega ter tomado ‘emprestados para ajudar o PT’? Uma vez comprovado o fato de que os fundos de pensão estatais obedeciam às ordens de Luiz Gushiken e que eles tiveram um gigantesco ‘prejuízo’ na gestão petista, por que não se procede a uma verdadeira devassa nas contas dessas instituições?
Por que ninguém, até agora, se propôs a convocar o filho do presidente para explicar os motivos por que a Telemar se interessou em investir milhões de reais em sua firma de fundo de quintal? Não é a Telemar uma concessionária de serviços públicos? Parte da Telemar não pertence ao governo, via BNDES?
Será que existe alguém, na ‘leal oposição de Sua Majestade’, que acredite, realmente, que Delúbio Soares, orientado por Dirceu, e o ex-ministro da Casa Civil são os únicos responsáveis por toda essa bandalheira que ocorreu?
Não, Lula não tem motivos para acusar a oposição de golpista, nem sequer de radical ou intransigente. Ele deve, isso sim, dar graças aos céus por não existir mais nenhum partido com a ira cívica e a determinação da antiga UDN.
Lacerda tinha lá os seus defeitos. Era radical, incendiário e se comprazia, de maneira quase sádica, em demolir a reputação dos poderosos de plantão. Mas há momentos em que gente assim faz falta.Tivesse Lula, por azar, topado com alguém como ele, já de há muito teria voltado para seu apartamento em São Bernardo do Campo.
João Mellão Neto, jornalista, foi deputado federal’
POLÍTICA CULTURAL
Gil alfineta a mídia e a Fazenda em São Paulo
‘O ministro da Cultura, Gilberto Gil, mostrou alguma ironia ao encerrar ontem em São Paulo, no Sesc Anchieta, o Ano do Brasil na França. Seus alvos foram a mídia e também os ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Ao anunciar o balanço dos eventos que mobilizaram 15 milhões de espectadores naquele país, ele disse: ‘Os números são eloqüentes, falam alto e em bom som. Tão ao gosto do Ministério da Fazenda, do Planejamento e a mídia, que gostam dos números, da chamada equação custo-benefício. Valeu a pena? Valeu muito a pena’.
Foram investidos R$ 61 milhões, com R$ 41 milhões saídos diretamente dos cofres do governo e R$ 20 milhões vindos da iniciativa privada. Gil anunciou que o sucesso do Ano do Brasil na França já motivou convites de Itália, Espanha e Canadá. Também está nos planos um Ano da França no Brasil, em 2008. O ministro ainda conclamou ‘o próximo governo que vier’ a continuar apostando no projeto de exportação cultural. Ao final, Gil fez um desabafo sobre críticas que tem recebido na condução do MinC. ‘Sei que desagradei algumas pessoas quando resolvi assumir o Ministério da Cultura. Muita gente não aprovou e continua não aprovando’, disse. ‘Saímos de uma cultura de auto-referência, da produção artística que é engavetada, contemplada apenas no espelho. É preciso que alguém faça o deslocamento’.’
INTERNET
UOL lança hoje ações na Bovespa
‘O provedor de acesso Universo Online (UOL), que pertence ao Grupo Folha e à Portugal Telecom, faz hoje sua oferta inicial de ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Trata-se da segunda pontocom brasileira a se tornar uma empresa de capital aberto este ano. Em março, o varejista virtual Submarino lançou ações. Antes deles, a IdeiasNet, uma holding de empresas de internet, já havia aberto o capital na Bovespa, ainda em 2000.
O preço das ações do UOL foi definido em R$ 18 cada uma. A oferta soma R$ 555,271 milhões. O valor da ação ficou no teto da nova faixa de preços, estipulada pela empresa no último dia 12, entre R$ 15,50 e R$ 18. O intervalo previsto no edital que comunicou a oferta ao mercado, em 28 de novembro, era entre R$ 13,50 a R$ 16,50. Ele foi elevado, segundo pessoas próximas à operação, por causa da forte procura pelos papéis. A demanda total teria sido cerca de 14 vezes maior que a oferta, segundo as mesmas fontes.
A empresa colocou à venda somente ações preferenciais (sem direito a voto). A oferta totaliza 30,8 milhões de papéis. O Pactual e a Merril Lynch coordenam a operação. O código de negociação das ações será UOLL4.
O UOL chegou a preparar sua abertura de capital para 2000, mas seus planos foram atrapalhados pelo estouro da bolha de tecnologia na Nasdaq, bolsa eletrônica americana, que aconteceu naquele ano.COLABOROU: RENATO CRUZ’
TELEVISÃO
Globo amplia reforma às 19 h
‘Ele foi escalado para dar uma ‘forcinha’, mas a participação de Carlos Lombardi na equipe de salvamento de Bang Bang tomou proporções maiores que a anunciada. Prova disso é o fato de Lombardi ter trocado São Paulo pelo Rio para acompanhar de perto a produção da trama das 7 da Globo. O autor foi recrutado dias atrás para dar uma espécie de ‘assistência técnica’ à trama, que empacou na casa dos 25 pontos de audiência, uma das mais baixas da história do horário.
Um dedinho de Lombardi aqui, outro lá bastaram para que algumas cenas da trama – que já sofria atraso nas gravações – tivessem de ser regravadas. Resultado: mais correria.
Apostando no humor e deixando de lado o romance, Lombardi deve, em breve, imprimir outra marca registrada sua ao folhetim: atores que funcionam como pé de coelho para ele. Nos bastidores da Globo já é dada como certa a participação especial de Marcos Pasquim nos próximos capítulos. Pasquim esteve, se não em todos, em quase todos os recentes sucessos de Lombardi na Globo.
ESCANTEIO
Tamanha participação na recuperação de Bang Bang fez com que Lombardi deixasse um pouco de lado sua nova novela, que deve estrear em 2006.
Será uma comédia rural, fruto do cruzamento da história de seis personagens que aparentemente não têm nada em comum. Para o elenco, o autor já pensa em Murilo Benício, que deve ser o protagonista, Juliana Paes, Nair Bello, Beth Lago, Pasquim – é claro -, Luana Piovani e Débora Secco.
Isso se nenhum desses atores estiver reservado para outra trama, problema que se tem tornado corriqueiro na Globo – como se não houvesse um vasto time de bons atores anônimos a ser descoberto fora da TV.’
MEMÓRIA
Saudades de Maneco Müller
‘Cesar Giobbi, Joyce Pascovitch, Mônica Bergamo, Ricardo Boechat, Joaquim Ferreira dos Santos, Hildegarde Angel, Giba Um, Márcia Peltier, hoje, e em décadas passadas Alik Kostakis, Tavares de Miranda, Mattos Pacheco e outros colunistas dito sociais, mas cujas colunas ultrapassaram os limites das notinhas de sociedade, acrescentando política, economia, cultura, esportes, perderam na semana passada o seu DNA. Morreu no Rio de Janeiro, aos 82 anos, Jacinto de Thormes, o decano, o papa, mais do que isso, o inventor no Brasil de um novo tipo de colunismo. Jacinto nasceu Manoel Bernardes Müller e era chamado pelos amigos de Maneco Müller. O pseudônimo ele foi buscar em Eça de Queiroz e assim assinou a vida inteira. À sua sombra, nos anos 50, nasceu e se desenvolveu Ibrahim Sued que o imitou e seguiu carreira paralela. O homem que o Brasil inteiro lia e teve o Rio aos seus pés nas década de 50 e parte de 60, lido, comentado, invejado, nos últimos anos estava afastado de tudo, isolado, esquecido pela sociedade, mas não por alguns amigos chegados. Foi acolhido pela ex-mulher e sempre amiga Gilda. Saía pouquíssimo e em ocasiões especiais, eventualmente para um café da manhã ou um jantar com poucos.
Entre esses poucos estava Cláudia Fialho, do Copacabana Palace, que foi quem me passou a notícia por meio de um e-mail. Quando comecei a abrir o computador e li: Saudades do Maneco, entendi que meu amigo tinha partido. Não vinha bem havia algum tempo. Nosso último telefonema foi há dois meses, quando liguei a fim de que me contasse coisas sobre Turquinha Muniz de Souza, para uma matéria da revista Vogue. Lembrou pouco, a memória não andava boa: ‘Era uma mulher engraçada, espirituosa e elegante, fui algumas vezes à sua casa, era uma casa maravilhosa, mas não consigo dizer onde era.’ Logo ele que sabia tudo, convivia com poderosos, a elite do País, os intelectuais, artistas. Na verdade, há alguns anos ele tinha decidido ‘esquecer’ o que o tornou famoso, a sociedade. Gostava, isso sim, de falar de futebol, de jogadores e técnicos, chegou a escrever uma biografia de Nilton Santos, o zagueiro do Botafogo do Rio de Janeiro, da seleção brasileira, e um de seus ídolos. Jacinto, apesar de magro, foi goleiro do Botafogo em tempos remotos e mantinha a paixão pelo clube. Toda a revolução feita no colunismo brasileiro ele deixava de lado, sua paixão estava dentro dos estádios. Gostaria de voltar a escrever sobre o futebol de hoje e foi uma pena que não o tivessem ‘redescoberto’. Escrevia bem, era um homem de estilo, criou uma forma peculiar de se expressar, foi copiado e influenciou positivamente. Uma vez, me mandou alguns contos que prometeu burilar. Não o fez.
Filho de diplomatas, andou pelo mundo, falava línguas, era culto, lia tudo. Quando pediram a ele que fizesse uma coluna social, no fim dos anos 40, perguntou: Posso fazer à minha maneira? Como lia jornais americanos, Maneco estava acostumado aos colunistas sindicalizados que falavam de tudo. Quando estruturou sua ‘crônica’, com notas de economia, política, gente, cultura, entremeadas com sociais, moda, algum gossip, mudou tudo. A partir dele, as velhas colunas que falavam de aniversários, casamentos, bodas, ficaram rançosas. Ele citava festas, conchavos, vernissages, encontros secretos, mulheres elegantes, um general, um senador, um economista, um professor, um barman, uma atriz, e assim uma mescla democrática. Uma coisa nova tinha surgido no Brasil. Em poucos meses Jacinto se tornou um personagem do Rio de Janeiro, apontado, citado, comentado. Bonito, elegante e charmoso. Quando, recentemente, minha mulher o conheceu, ela acrescentou: um ser raro hoje em dia, educado, cortês, cavalheiro, coisas que desapareceram. Ele que noticiava, ao mesmo tempo era notícia, freqüentava tudo, tornou-se famoso. Tempo ainda em que as notícias em primeira mão eram chamadas de ‘furos’. Jornalistas liam a coluna dele para se informar e suas fontes estavam por toda a parte, no Senado, nos boates, nos restaurantes e hotéis, nas casas grã-finas.
Escrevia com elegância e humor – e às vezes com profunda ironia, senão sarcasmo – e criou um vocabulário particular que se tornava coloquial imediatamente. Inventou expressões como gente bem ou café society, entre outras. Seu cachorro se chamava William Shakespeare. Quando a rainha Elizabeth, da Inglaterra, esteve no Brasil, Jacinto foi o seu intérprete, quando ela foi ao Maracanã assistir a um jogo. Ele criou as listas das mulheres mais elegantes e no fim do ano havia uma fila de marido correndo atrás dele para saber quem apareceria na lista. Teve gente que tentava comprá-lo e desaparecia para sempre da coluna, Jacinto era íntegro. Editou a revista Sombra, e além de goleiro foi surfista, quando o esporte engatinhava no Rio, precedeu Arduino Colsanti e outros. Ia pelo mundo ‘pegar’ onda. Magro, tranqüilo, eu costumava vê-lo na Última Hora, para onde foi levado pelo Samuel Wainer, depois que o Diário Carioca fechou. Estava sempre em um terno Príncipe de Gales. A última vez que nos vimos no Rio, há dois anos, jantamos no Cipriani a convite de Cláudia Fialho, amigo fiel, ele estava com um Príncipe de Gales. Falava mansamente, não tinha ressentimentos nem mágoas pelo ostracismo, entendia o mundo e as pessoas.
Nessa noite, contei a ele que o adolescente Loyola, em Araraquara, na década de 50, descobriu que, sabe-se lá por que razão, o Diário Carioca chegava à Biblioteca Municipal. Único jornal do Rio a transpor 800 quilômetros e bater naquela terra. Assim eu lia Jacinto de Thormes, verificando que o colunismo podia ter dignidade. Naquele momento, além de crítico de cinema, passei a assinar também a primeira crônica social da cidade. Chamava-se Coisas da Cidade e a estrutura era a mesma que Jacinto inventara ou recriara. Prossegui, do jornalismo enveredei pela literatura, em que luto. Ele gostou de saber, sorriu. Com a morte de Jacinto de Thormes, ou melhor, de Maneco Müller – não vi quase nada na mídia -, a imprensa brasileira perdeu um pioneiro, desbravador, um criador do colunismo moderno, como é feito hoje. Da mesma maneira que no Rio vem ocorrendo o resgate de algumas figuras fundamentais, como Vinicius de Morais e Antônio Maria, bem poderia acontecer a de Jacinto, ou, melhor dizendo, de Maneco.’
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Valor Econômico
Sexta-feira, 16 de dezembro de 2005
IMPRENSA MUNDIAL
Mais próspero e mais moderado
‘‘JEEEEESUS. Você vai pôr todo esse lixo no jornal? Desminto tudo. As tetas da Katie Graham vão ser colocadas em um enorme torniquete se isso for publicado.’
Quem usou esta linguagem, colorida e ameaçadora, nas altas horas de uma noite de setembro de 1972, foi John Mitchell. Ex-ministro da Justiça dos EUA, mas que no momento coordenava a campanha para a reeleição do presidente Richard Nixon. Sua reação foi provocada por um telefonema de Carl Bernstein, repórter de ‘The Washington Post’ — que com Bob Woodward fazia a cobertura do escândalo de Watergate. Bernstein disse que estava publicando a informação de que ele, Mitchell, quando era ministro, controlava os fundos secretos da campanha de Nixon, um ato ilegal. Graham, cuja anatomia foi colocada em risco, era presidente e proprietária de ‘The Washington Post’. Era Katharine ou Kay para os mais íntimos, mas nunca ‘Katie’. A informação sobre Mitchell foi publicada. No dia seguinte, Graham perguntou a Bernstein se tinha mais recados para ela.
Este episódio mostrou um jornal ameaçado que não se curvava ante o poder. Os seios de ‘Katie’ permaneceram intactos e dois anos mais tarde, Nixon renunciava. Watergate deu ao ‘Post’ um extraordinário prestígio nacional e internacional. Era o único rival à altura de ‘The New York Times’. Seu editor-chefe, Benjamin Bradlee, se tornou uma figura lendária.
Hoje, quase 30 anos depois, o panorama é bem diferente. Nixon, Mitchell e Katharine Graham estão mortos. Bradlee está aposentado. Bernstein deixou o ‘Post’ há muito. O prestígio de Woodward, que continua no jornal, foi recentemente abalado porque, segundo jornalistas do próprio ‘Post’, parece mais preocupado em proteger os homens no poder do que em questioná-los. Exatamente o contrário do que ele e Bernstein fizeram no caso Watergate. ‘The Washington Post’ é também um jornal muito diferente. A circulação cresceu, é mais próspero, mais sóbrio e moderado. É melhor feito tecnicamente – e menos estimulante. A empresa é presidida e controlada por Donald (Don ou Donny) Graham, filho de Katharine. É tido como equilibrado e altamente responsável, mas pouco propenso a assumir riscos elevados. Tem orgulho de sua prudência empresarial e da disciplina financeira da companhia. Hoje, ‘The Washington Post’ não é o maior negócio de The Washington Post Co. Ficou em segundo lugar, atrás da Kaplan, a divisão de temas educacionais.
O ‘Post’ é comparado com ‘The New York Times’. Mas na comparação é necessário algum cuidado. O ‘Times’ é um jornal de elite, publicado em Nova York, mas de circulação nacional. É feito para um grupo diferenciado de pessoas, de alta escolaridade e de grande poder aquisitivo, espalhado pelo território americano. Não precisa brigar com os outros dois jornais de Nova York pelos leitores menos qualificados. O foco do ‘Post’ é muito diferente. Donald Graham resistiu às pressões internas para torná-lo um jornal nacional, como o ‘Times’, ‘USA Today’ ou ‘The Wall Street Journal’. O foco do ‘Post’ é a cidade de Washington e seu entorno. Cortou a distribuição para outras áreas.
O ‘Post’ está na mesa do café da manhã dos congressistas, dos inquilinos temporários da Casa Branca, dos membros da Corte Suprema, da Reserva Federal, da alta administração pública, dos jornalistas e lobistas, das embaixadas. Washington é a capital do poder e o ‘Post’ é o seu jornal mural. Seu único concorrente, em influência, nos EUA é ‘The New York Times’. Mas o ‘Post’, ao contrário do ‘Times’, é também o jornal dos outros habitantes da região. Tem que atrair leitores com escasso interesse na política internacional, nas disputas no Senado ou nos detalhes dos gastos do Pentágono. Preferem saber de sua cidade e de seu dia a dia. O ‘Post’ precisa ser também o jornal do taxista, da cabeleireira, do escriturário, do funcionário público.
Este foco local deu resultados. Como disse Donald Graham em uma de suas raras entrevistas, ‘The Chicago Tribune’ e ‘Los Angeles Times’, excelentes jornais, têm uma penetração de uns 20% em sua área de circulação (…). A do ‘Post’ é mais de duas vezes superior’.
Como a maioria dos jornais dos EUA, a circulação de ‘The Washington Post’ está em queda. É de 681,6 mil nos dias úteis e de 974,9 mil aos domingos, 3,9% abaixo do ano passado, mas cerca de seis vezes superior à de seu único concorrente, ‘The Washington Times’, muito deficitário, publicado pela seita do reverendo Moon.
‘The Washington Post’ nasceu em 1877. Foi lançado por Stilson Hutchins. Era um órgão favorável ao Partido Democrata. Em pouco tempo tornou-se influente e rentável. Mudou de mãos em 1888 e de novo em 1905, quando foi adquirido por John McLean. O jornal ficou mais interessado em escândalos e esportes do que na política, mas ainda era sólido ao ser herdado por seu filho Edward, que fez dele um órgão racista e primário. Sua preocupação era extrair do jornal até o último centavo e promover seu amigo, o presidente Warren Harding. Faliu e foi vendido em hasta pública.
Quem comprou foi Eugene Meyer, um rico financista de origem judaica que tinha ocupado uma série de altos cargos públicos. Nos anos 20, Meyer fez uma oferta de US$ 5 milhões pelo ‘Washington Post’, que não foi aceita. Em 1933, comprou o jornal no leilão por apenas US$ 825 mil – embora estivesse disposto a pagar US$ 2 milhões. O principal ativo era o antigo prestígio do título. Dos cinco diários da cidade, era o último em circulação e o primeiro em prejuízos. Segundo Meyer, o jornal estava ‘falido mental, moral, fisicamente e em qualquer sentido’.
Meyer iniciou um lento trabalho de recuperação, no qual disse ter cometido todos os erros possíveis. Mas fez do ‘Post’ um jornal decente. Contratou gente de alto nível para fazer os editoriais e a opinião do jornal voltou a ter peso. O ponto mais fraco foi, durante anos, a precariedade da informação. A circulação aumentou dos duvidosos 50 mil exemplares para mais de 120 mil em pouco tempo, o que não evitou um longo período com perdas anuais em torno de US$ 1 milhão.
Uma filha de Eugene, Katharine, casou-se com Philip Graham, brilhante advogado em fulgurante ascensão e amigo dos principais políticos do momento. Quando, por insistência do presidente Truman, em 1946, Eugene se tornou o primeiro presidente do Banco Mundial, cedeu a Philip a gestão da empresa. Dois anos depois, ele passou ao genro, mas não à filha Katharine, o controle acionário: ‘Um homem nunca deve trabalhar para sua mulher’, disse.
O diário que Graham recebeu tinha dois rivais. O primeiro, ‘The Washington Star’, um vespertino, era o jornal da elite e o de maior volume de anúncios. O segundo, o ‘Washington Times-Herald’, irreverente e conservador, disputava com o ‘Post’ os leitores do período matutino. Os editoriais do ‘Post’ eram esclarecidos e influentes. Nos anos 50 foi o jornal mais crítico do demagogo extremista Joseph McCarthy. Pela suas posições, foi chamado ‘Washington Pravda’.
Ainda muito frágil financeiramente, tinha poucos jornalistas Um único repórter, por exemplo, informava sobre a Casa Branca e o Departamento de Estado. Um contemporâneo disse que o ‘Post’ era um jornal excitante porque você nunca sabia em que página encontraria uma notícia de primeira página.
Como única saída, Graham decidiu incorporar o ‘Times-Herald’, que tinha 250 mil exemplares, em comparação com os 204 mil do ‘Post’. Em 1954, pagou US$ 8,5 milhões. Ele percebeu que as principais âncoras do ‘Times-Herald’ eram as tiras em quadrinhos, a seção de esportes e alguns colunistas. Decidiu manter todos eles no novo jornal, cujo nome temporário foi ‘The Washington Post and Times-Herald’. Conseguiu aumentar a circulação em 180 mil exemplares, ultrapassando o ‘Star’. A compra do concorrente, que lhe deu o monopólio da manhã, garantiu a sobrevivência do ‘Post’. Em 1962, Graham adquiriu a revista ‘Newsweek’, deficitária e à sombra da concorrente ‘Time’. Nos anos seguintes incorporou emissoras de televisão e de rádio. Para competir em prestígio com ‘The New York Times’, Graham, que já tinha uma empresa próspera, decidiu montar uma rede de correspondentes internacionais. O ‘Los Angeles Times’ também tinha o mesmo projeto e os dois jornais fizeram um acordo. Se um deles nomeava um correspondente em Hong-Kong, por exemplo, o outro jornal instalava um em Roma e intercambiavam as informações. Este serviço internacional foi vendido a terceiros, com excelentes resultados.
Ainda em 1962, Philip, que tinha momentos de profunda depressão, suicidou-se. Katharine, insegura e inexperiente, assumiu o controle. Recusou as ofertas dos compradores e os conselhos para manter-se afastada da gestão da empresa. A decisão de chamar Benjamin Bradlee para dirigir a redação do ‘Post’, em 1965, foi uma das mais acertadas em toda sua gestão.
Bradlee, de uma tradicional família de Boston, experiente, irreverente e bem relacionado, era o chefe da sucursal da ‘Newsweek’ em Washington. Disposta a trocar a direção do jornal, Katharine convidou Bradlee para almoçar e lhe perguntou o que queria fazer no futuro. ‘Daria minha bola esquerda para ser o editor-chefe do ‘Post’, respondeu. Meses depois ocupava o cargo sem necessidade de mutilação. Bradlee passou a cuidar apenas das páginas informativas do jornal. A opinião e os editoriais estavam a cargo de Russell Wiggins, que respondia diretamente a Katharine. Wiggins deu total apoio à guerra do Vietnã. Os argumentos do ‘Post’ eram mais articulados e convincentes na defesa do conflito que os do próprio presidente Johnson. A situação mudou quando o jornal enviou correspondentes à zona de combate, que mostraram aspectos que os editoriais ignoravam. Wiggins, desconfortável, deixou o ‘Post’. Os editoriais adotaram uma postura mais crítica.
Bradlee acabou com a parcimônia dos gastos na área editorial. Em três anos, triplicou o orçamento. Ampliou a cobertura informativa e abriu sucursais pelos EUA. Contratou os melhores repórteres e deu-lhes liberdade para escrever. Queria fazer um jornal brilhante, ousado, que provocasse uma reação de surpresa no leitor, que todas as manhãs deveria dizer ‘holy shit!!!’ ou algo parecido. O ‘Post’ tornou-se mais influente, atrevido, bem escrito, inesperado. Tinha energia e estilo.
Nem todos os jornalistas se adaptaram ao novo regime, que segundo eles incentivou um ambiente artificialmente competitivo, de ‘tensão criativa’. A redação foi definida como um ‘ninho de serpentes’. Havia mais jornalistas do que espaço disponível para publicar matérias. Com freqüência, dois ou três repórteres eram destacados para a mesma cobertura e brigavam mais entre si do que com a concorrência. Alguns dos melhores profissionais saíram. Depois de aposentar-se, Bradlee empenhou-se em desmentir que tivesse criado esse ambiente de propósito. Deixou fama de elitista e de proteger repórteres de boas famílias. Outros críticos mencionavam sua escassa capacidade de concentração, a superficialidade, e diziam que sua predileção por reportagens brilhantes o levava a ignorar ou evitar as matérias analíticas ou complexas.
O ‘Post’, porém, não protegia os amigos da proprietária. Ela dizia que tinha cuidado para evitar que os jornalistas soubessem quais eram suas amizades, impedindo assim inevitáveis alfinetadas. Mas ficou conhecida pela sua atitude em relação aos executivos. Dizia-se que quando ficava insegura, demitia-os sem explicação.
Em 1971, ela enfrentou um dos seus mais difíceis testes no caso dos Documentos do Pentágono, material secreto sobre a guerra do Vietnã, cuja divulgação o governo tentou impedir. Os advogados e os executivos do ‘Post’ eram contra a publicação. O governo ameaçou com medidas extraordinárias. The Washington Post Co. tinha aberto o capital dois dias antes. Qualquer conflito público seria um desastre para o desempenho das ações. Katharine arriscou o futuro da empresa e mandou publicar. Esta decisão e o caso Watergate tornaram o ‘Post’ temido e respeitado.
Nos anos 70, o jornal enfrentou uma greve dos gráficos, cuja remuneração era bem superior à de qualquer outro jornal dos EUA. Eles quebraram as máquinas e boicotaram a circulação. O ‘Post’ saiu vitorioso e com a imagem arranhada, talvez injustamente.
Muito pior, para sua reputação, foi o caso de Janet Cooke, jornalista negra que ganhou em 1980 um Prêmio Pulitzer, o mais importante da imprensa dos EUA, com a série de reportagens ‘O Mundo de Jimmy’, um menino de 8 anos, viciado em heroína. As reportagens eram inventadas. O ‘Post’ devolveu o prêmio e pediu desculpas. Depois, percebeu-se que o currículo da jornalista também era falso. Ninguém tinha checado.
Nos anos 80, as páginas de opinião do ‘Post’ tornaram-se cada vez mais conservadoras. É certo que tinha, e ainda tem, colunistas liberais, mas a maioria deles e, principalmente, os editoriais foram abertamente favoráveis ao governo Reagan. A orientação conservadora continua.
Katharine se afastou aos poucos. Donald Graham assumiu em 1991. Ele tinha passado dois anos no Vietnã e, antes de trabalhar na empresa – onde foi motorista de caminhão, vendedor de anúncios e editor da seção de esportes -, serviu como policial de rua em Washington. No cargo, Graham quis baixar a temperatura da redação. Para substituir Bradlee, escolheu, em 1991, outro jornalista da casa, Leonard (Len) Downie Jr. O ‘Post’ passou a dar mais destaque ao noticiário local, que Bradlee considerava chato. O ‘Post’ continua sendo um excelente jornal. Supera com freqüência a cobertura do ‘Times’. Nunca foi tão bem escrito nem tão bem apresentado. É mais regular e mais respeitável do que antes, porém menos brilhante e surpreendente. Enquanto a maioria dos jornais encolhia o tamanho das redações, Donald Graham contratou mais jornalistas, abriu mais sucursais e não transigiu com a qualidade. Ele diz que não pensa no curto prazo nem dá importância ao que pensam os analistas de Wall Street. Mas afirma-se que ao ‘Post’ mais conservador de Donald falta clima para uma cobertura como a de Watergate, durante a qual sua mãe arriscou o futuro da empresa, além de sua própria integridade.’
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Propaganda de ‘junk food’ é polêmica nos EUA e UE
‘Não há dúvidas de que a propaganda influencia o que as crianças pedem aos pais. Algumas parecem ter a capacidade de vislumbrar os arcos dourados do McDonald’s a mais de um quilômetro de distância. E logo eles aprendem que um ‘McLanche feliz’ vem com um brinquedo, sempre baseado em algum personagem de histórias em quadrinhos ou desenhos animados. Mas será que esse marketing também ajuda a provocar a obesidade na infância? Estudos recentes feitos nos Estados Unidos e Europa mostram que os governos terão que agir, a menos que a propaganda da chamada ‘junk food’ seja restringida às crianças.
As críticas mais duras são do Institute of Medicine (IOM) dos EUA. Ele avalia que a maioria dos cerca de US$ 10 bilhões gastos no ano passado com propaganda de comidas e bebidas para os jovens americanos envolveu produtos com altas taxas de calorias e poucos nutrientes. Isso, diz a instituição, ‘coloca em risco a saúde das crianças no longo prazo’. Cerca de 16% das crianças americanas com idades de 6 a 19 anos são consideradas obesas hoje – três vezes mais que nos anos 60.
Se a indústria alimentícia não começar voluntariamente a promover alimentos menos calóricos, com menos gorduras, sal e açúcar, então o IOM acredita que o Congresso deverá agir. Uma área com a qual ele está particularmente preocupado é o uso sob licença de personagens de desenhos animados.
Governos da Europa também estão preocupados. Na semana passada a Comissão Européia lançou uma consulta pública para encontrar meios de reduzir a obesidade, que segundo ela está crescendo em um ‘ritmo alarmante’. A Comissão está analisando várias idéias, entre elas convencer as indústrias dos alimentos e da propaganda a restringirem voluntariamente a propaganda de junk food.
Na indústria alimentícia dos EUA, alguns ficaram assustados com o estudo do IOM e o compararam ao estudo feito em 1964 pela Surgeon General sobre o fumo, que acabou levando à proibição da propaganda de cigarros. Essas pessoas criticaram o estudo sobre a fast-food por ele não ter levado em conta o que já se conseguiu nessa área – cerca de 4,5 mil produtos alimentícios mais saudáveis já foram lançados nos EUA nos últimos três anos, segundo a American Advertising Federation (Federação de Publicidade America, em uma tradução livre). Ela acredita que as crianças estariam melhor protegidas se fossem encorajadas a fazerem exercício, ao invés de protegê-las dos anúncios. As pessoas são gordas, diz a federação, por causa da ‘falta de atividade’.
Mesmo assim, algumas companhias de alimentos estão encontrando oportunidades para vender produtos mais saudáveis. E diante da queda das vendas antes mesmo do golpe dado pelo cineasta Morgan Spurlock com seu filme ‘Super Size Me’, o McDonald’s já vinha alterando seu cardápio. As vendas de saladas, frutas, água engarrafada e sanduíches mais leves podem ser pequenas se comparadas às dos hambúrgueres e batatas fritas, mas a maior rede de fast-food do mundo acredita que seus novos produtos estão contribuindo para o seu crescimento, além de melhorar sua imagem.
O setor da propaganda e a Grocery Manufacturers Association (Associação de Fabricantes de Mantimentos dos EUA) querem preservar o sistema atual de auto-regulamentação. Mas hoje em dia a propaganda depende menos da mídia tradicional, como a televisão e as revistas, e mais da internet e das promoções.
Uma pesquisa feita pelo National Consumer Council (Conselho Nacional do Consumidor do Reino Unido), constatou que o varejo faz duas vezes mais promoções de alimentos com altos teores de gordura e açúcar , do que de frutas e vegetais. Como essas promoções fazem os alimentos gordurosos parecerem uma pechincha, alguns especialistas em saúde afirmam que eles encorajam as pessoas mais pobres a comerem de forma menos saudável. Mas isso não precisa ser assim.’
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