Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Presidente da Força Sindical ameaça processar jornais

Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 6 de março de 2008


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Andreza Matais e Sérgio Lima


Presidente da Força Sindical diz que vai processar jornais


‘O presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, disse que irá processar a Folha e ‘O Globo’ em 20 Estados do país por causa da série de reportagens que os dois veículos publicaram sobre o repasse de verbas do Ministério do Trabalho para entidades ligadas à central, repetindo estratégia utilizada pela Igreja Universal do Reino de Deus.


Segundo ele, se o número de ações não for suficiente para que os jornais interrompam as reportagens sobre o repasse de dinheiro do Ministério do Trabalho, comandado por Carlos Lupi (PDT), para as entidades ligadas à Força, os sindicalistas irão ingressar de 1.000 a 2.000 ações em todo o país: ‘A Igreja Universal vai ser fichinha’.


A decisão foi anunciada em reunião da Executiva Nacional do PDT com o ministro Carlos Lupi e confirmada à Folha pelo deputado: ‘Estamos fazendo apenas 20 ações contra a Folha e ‘O Globo’. Liguei para vários jornalistas para explicar que a Força não tem convênio com o Ministério do Trabalho e outros ministérios do governo. E, todos os dias, os jornais citam o meu nome e o da Força. Como eles não ouviram, decidi consultar amigos sindicalistas que estão se sentindo ofendidos e vão entrar com ações em várias partes do Brasil’, afirmou.


Paulinho disse que sua intenção não é ganhar as ações na Justiça, mas ‘dar trabalho’ para os dois veículos. ‘Pode perder, não tem problema. Vou dar um trabalho desgraçado para eles. Meu negócio é dar trabalho para eles. Não é nem ganhar. É só para eles aprenderem a respeitar as pessoas. Eu estou fazendo apenas 20. Se não parar, vou fazer de 1.000 a 2.000 ações contra eles no Brasil inteiro’, ameaçou.


Fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus moveram mais de 60 ações contra a Folha e a jornalista Elvira Lobato, alegando que se sentiram ofendidos por um trecho da reportagem ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’, publicada em dezembro.


Há questionamentos sobre 12 convênios do ministério com entidades e pessoas ligadas ao PDT. A Folha divulgou que a pasta pretendia repassar R$ 7 milhões à CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos), ligada à Força Sindical, para recolocar mão-de-obra em São Paulo.


O valor seria 97% maior que o gasto pelo governo paulista, e comissões do Estado e da prefeitura votaram contra o convênio. A decisão final cabe ao Codefat (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador). Ministério e entidades negam favorecimento.


Paulinho preside a Força desde 1999. Antes, presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de SP (desde 1994). Em 2002, foi candidato a vice-presidente pelo PTB na chapa de Ciro Gomes e, em 2004, a prefeito de São Paulo pelo PDT.’


 


CAÇA À RAPOSA
Kenneth Maxwell


Escondidos diante de todos


‘UMA DAS COISAS mais estranhas sobre o jornalismo brasileiro é o fato de que continue a conferir credibilidade àquilo que os jornais dos Estados Unidos, especialmente o ‘New York Times’, têm a dizer sobre o país.


Por isso, foi muito estranho estar no Reino Unido recentemente, poucos dias depois de ter descoberto nas páginas internas do ‘New York Times’ um mapa do Condado de Devon no qual Tiverton, a antiga cidadezinha que eu estava visitando para ver minha família, ocupava posição proeminente. O mapa ilustrava um longo artigo sobre a caça à raposa, ou melhor, sobre os inimigos da caça à raposa, que estavam ocultos nos arbustos, equipados de binóculos e câmeras, para verificar se a organização local de caça estava obedecendo à nova lei quanto aos esportes de sangue, que, desde 2004, proíbe a caça à raposa com o uso de sabujos, ou pelo menos proibiu que os cachorros façam aquilo que são treinados para fazer -perseguir raposas e, quando as apanharem, matá-las.


Trata-se de um espetáculo repulsivo, com certeza. A raposa é despedaçada pelos cães de caça.


Agora, os caçadores podem caçar, mas os cachorros devem ser controlados, e a raposa tem de ser abatida, a tiro, de forma misericordiosa; uma espécie de compromisso tipicamente inglês, que gerou conflitos infindáveis nos campos entre os caçadores e os defensores dos direitos dos animais.


A correspondente do ‘New York Times’ havia visitado Devon para passar o dia agachada entre os arbustos em companhia dos ativistas que se opõem à caça, à procura dos caçadores de raposa e de seus cães.


Foi uma visita infrutífera, ao que parece. Mas, embora a caçada não tivesse passado pelo local em que ela estava postada, era necessário escrever um artigo. E lá estava o resultado. Eu mesmo estive em Tiverton no ‘boxing day’, o dia posterior ao Natal, no ano passado, e vi, na velha praça do mercado, no centro da cidade, os adeptos da caça à raposa reunidos diante do Half Moon Inn, resplandecentes em suas túnicas vermelhas e acompanhados de quase 300 sabujos inquietos.


Assim, caso a correspondente do ‘New York Times’ volte a se aventurar pelas mais recônditas regiões de Devon, basta que visite Tiverton no ‘boxing day’ se quiser encontrar os caçadores escondidos diante dos olhos de todos.


Mas será que os moradores locais prestaram atenção à reportagem do ‘New York Times’? De maneira nenhuma.


Não estou certo de que saibam e muito menos se importem com o que seja o ‘New York Times’. Uma boa lição para os brasileiros.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.


Tradução de PAULO MIGLIACCI’


 


RELIGIÃO E CIÊNCIA
Francisco Borba Ribeiro Neto


A igreja e a defesa da vida


‘SEGUNDO MARCELO Leite (‘CNBB vai às compras’, Mais!, 10/2/08), no texto-base da Campanha da Fraternidade (CF) deste ano, sobre a defesa da vida, a igreja seleciona elementos do discurso científico e acrescenta-lhes seus próprios dogmas. Caberia aqui parafrasear uma frase citada pelo próprio Marcelo Leite: ‘Os meios de comunicação criam uma paródia da ciência para uso próprio. Aí eles atacam essa paródia como se estivessem criticando a ciência’ (em ‘Má ciência e mau jornalismo’, 18/9/05). Substitua-se ciência por Igreja Católica, e a frase também será válida.


A sociedade burguesa se organizou a partir de valores vindos do cristianismo, como a dignidade da pessoa, a fraternidade e a liberdade. Com o tempo, esses valores ganharam novos significados, perdendo seu sentido cristão original. Quem não percebe essa mudança de valores e posturas, em vez de esclarecer, deturpa o cristianismo ao comentá-lo. Mas para a cultura moderna em crise é mais fácil atacar essa paródia de cristianismo criada por ela mesma do que assumir as contradições da modernidade e deixar-se questionar.


Os grandes temas dessa CF são a vida e a pessoa humana, o sofrimento e o amor. Para entendê-los, o texto-base se vale freqüentemente de dados científicos. Mas a ciência nos ajuda a compreender o funcionamento do mundo, os mecanismos que geram a dor e o sofrimento, porém é impotente para responder às perguntas sobre o sentido da vida -mesmo porque essa não é a sua razão de ser.


A reflexão da igreja na CF é ética, e as conclusões não se legitimam nem pelo cientificismo nem pelo dogmatismo. O texto-base dialoga com as ciências (principalmente na primeira parte, o ‘Ver’) e a própria fé católica (na segunda parte, o ‘Julgar’), mas seu grande interlocutor é a experiência humana -o que talvez pareça impossível para quem crê, como Rubem Alves (‘As estrelas brilham, os homens sofrem’, Cotidiano, 19/2/08), que a igreja só olha para as estrelas e não vê a experiência concreta de sofrimento das pessoas.


O que deseja a pessoa humana? Como ela se realiza? O texto da CF parte da reflexão sobre o desejo do coração do ser humano. É um diálogo onde os critérios éticos nascem da compreensão de seu anseio por felicidade, e não de convenções sociais. Esse desejo pode se realizar reduzido a busca de satisfação e fuga da dor? Ou necessita de algo mais, de um amor capaz de se realizar por meio da doação ao outro, capaz de acolher e dar sentido até mesmo a sofrimento, dor e morte?


Seriam essas perguntas sobre o amor e o sentido as tais estrelas que não permitem ver o sofrimento e a experiência concreta das pessoas?


Vicky é ugandense, negra, pobre, soropositiva, abandonada pelo marido doente de Aids porque se recusou a abortar o terceiro filho. Chegou a ter 35 kg, quando foi para um centro católico de acolhida a doentes de Aids. Hoje tem 75 kg e um filho já na universidade. Sobre sua experiência nesse centro de acolhida, escreveu: ‘Era difícil acreditar que havia encontrado mulheres que pudessem viver daquela forma mesmo estando doentes de Aids, tal era a alegria que tinham no rosto; dançavam e estavam felizes, e eu me perguntava como alguém que tinha essa doença podia cantar e dançar… Onde está o poder da morte? Está na perda da esperança e na falta de amor’. A experiência de Vicky, que teve uma carta publicada numa campanha internacional de ajuda a obras sociais, as tendas de Natal, é similar a muitas outras.


Essas experiências são as estrelas para as quais a igreja olha ao se acercar do sofrimento humano. Por isso, acredita na capacidade que o amor e a acolhida têm de superar a dor. Partindo daí, propõe que iniciativas sociais e políticas governamentais devem acolher quem sofre e permitir que opte pela vida, desde seu início e em qualquer circunstância.


Por isso, na proposta da CF, ‘optar pela vida’ não se restringe apenas a ter leis contra o aborto e a eutanásia, por exemplo. Pelo contrário, implica em criar formas pelas quais as pessoas possam acolher uma gravidez indesejada e um doente incurável, sem que isso se torne um obstáculo a sua felicidade, mas sim um caminho para sua realização.


Essa não é uma proposta ‘confessional’ ou uma crença religiosa, mas sim um modo de viver a própria ânsia de felicidade, a experiência do amor e do sofrimento. Um modo de ser mais humanos, que talvez queiram que renunciemos a desejar.


FRANCISCO BORBA RIBEIRO NETO, sociólogo e biólogo, é coordenador de Projetos do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).’


 


Carlos Heitor Cony


O Estado laico


‘RIO DE JANEIRO – Como as bolsas das senhoras e o comprimento das saias, há palavras que entram e saem de moda nos discursos de autoridades e nos textos da mídia. A onda agora deu relevância à transparência, à ética, aos valores republicanos e ao Estado laico.


Desde a Constituição de 1891, o Estado está separado da igreja, mas somente agora os formadores de opinião descobriram no ‘Aurélio’ a palavra ‘laico’. Lembram à saciedade e à sociedade que o Estado é laico.


A propósito das células-tronco, no uso e no direito de ter e de expressar a sua opinião, a igreja manifesta-se contrariamente à medida, em coerência com outras posições que ela adota há 2.000 anos, sendo como é a instituição mais antiga da história ocidental.


Ela não tem o poder de substituir o Estado, que é laico desde 1891. Nem por isso pode abdicar do dever de expressar a sua opinião sobre qualquer assunto. É um direito que outras religiões também usam. E não só as igrejas, mas associações disso e daquilo, as ONGs, as entidades que representam classes, arquitetos, advogados, médicos, bispos, pais-de-santo, jornalistas, filatelistas, homossexuais, columbófilos, escolas de samba – todos têm seus órgãos representativos, que emitem opiniões sobre questões que julgam de seu interesse.


Dentro de um Estado laico, há religiões e seitas que proíbem as transfusões de sangue, a participação em guerras, o uso de certas vacinas, de certos alimentos e de bebidas. Nenhuma delas quer ocupar a jurisdição do Estado, que todas elas reconhecem como laico.


Os cultos afro-brasileiros têm também suas regras pétreas e não são acusados de substituir o Estado. A igreja -repito- tem o direito constitucional e moral de se manifestar. E seus crentes dispõem de livre-arbítrio para acompanhá-la.’


 


DIVULGAÇÃO
Paulo Peixoto


Aécio gasta mais com publicidade em 2007


‘O governo de Minas Gerais registrou, no ano passado, o maior gasto com publicidade desde o primeiro mandato de Aécio Neves (PSDB).


No primeiro ano após a reeleição do tucano, a despesa realizada com ‘Comunicação Social – Divulgação Governamental’ pela administração direta foi de R$ 80,7 milhões.


O levantamento feito pela Folha no Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira) mostra que o valor nominal é 103% maior do que o gasto com publicidade ocorrido em 2006 (R$ 39,6 milhões), ano da reeleição, quando havia restrições legais à publicidade oficial.


É 20% maior do que o gasto em 2005 (R$ 67,2 milhões), até então o maior volume aplicado na publicidade por Aécio.


Em relação às despesas globais realizadas pelo Executivo, considerando todo o Orçamento fiscal, o maior comprometimento com propaganda ocorreu em 2005 -0,26% do total dos gastos de todos os programas governamentais. No ano passado, foi de 0,24%. Os valores não incluem despesas de estatais e algumas residuais de comunicação descentralizada para órgãos da administração direta e indireta, como o Fundo Estadual de Saúde.


Mesmo com os valores corrigidos até dezembro de 2007 pelo IPCA, indicador de inflação calculado pelo IBGE, os gastos publicitários no ano passado continuam sendo os maiores desde 2003, primeiro ano de Aécio como governador.


Com a correção, os valores foram: R$ 41,6 milhões em 2006, R$ 72,4 milhões em 2005, R$ 42,7 milhões em 2004 e R$ 16,4 milhões em 2003.


O primeiro ano de gestão foi marcado pelo aperto fiscal, já que Aécio assumiu o Estado com um déficit de R$ 2,4 bilhões no Orçamento.


Apesar de o levantamento ter os mesmos números publicados pela Secretaria da Fazenda (no ‘Balanço Geral’ dos anos de 2003 a 2006, os já disponibilizados), a Secretaria de Planejamento diz, segundo a assessoria do governo, que os valores incluem custeio da Subsecretaria de Comunicação, o que reduz o valor de 2007, por exemplo, em 1%: R$ 79,9 milhões. Ainda assim, é o maior gasto.


Na propaganda oficial de 2007, ganharam destaque programas como o Poupança Jovem (voltado para alunos carentes matriculados em escolas públicas) e a Linha Verde (via expressa ainda em construção que liga os cerca de 40 km do centro de Belo Horizonte até o aeroporto em Confins).


Incrementos


A propaganda da gestão Aécio, potencial presidenciável de 2010, recebeu incremento especialmente no primeiro semestre de 2007, quando partidos aliados ao governo divulgaram, em inserções partidárias na TV, ações do Executivo. Foi assim com PDT, que tratou de educação, PP (desenvolvimento) e PTB (investimentos).


O PT, opositor, foi à Justiça Eleitoral contra o PPS, que falou sobre o Poupança Jovem. Para petistas, houve ‘desvio de finalidade na propaganda partidária’. A Justiça não acatou.’


 


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Gasto segue o Orçamento, diz assessoria


O governo de Minas Gerais, por meio de sua assessoria, disse que o Orçamento do Estado cresceu em todas as áreas ao longo dos últimos anos e que, ‘por conseqüência’, o valor aplicado em propaganda acompanhou esse crescimento. Mas ressaltou que não houve aumento desse gasto em relação ao total do Orçamento geral.


‘O Orçamento executado pelo governo vem crescendo ao longo dos últimos cinco anos. Entre 2004 e 2007, houve crescimento no volume das despesas e investimentos executados em todas as áreas do Estado. Por conseqüência, houve acréscimo também no volume de recursos destinados às campanhas de divulgação sobre ações e programas oficiais e com a prestação de contas por meio de publicidade nas áreas governamentais’, declarou o governo.


O Estado ressalta que em 2003 havia problemas de déficit fiscal e que, por isso, o orçamento para a propaganda naquele ano foi ‘irreal’. Após destacar que 2006 foi um ano eleitoral, a assessoria afirmou que os anos de 2004 e 2005 seriam os melhores para estabelecer uma comparação com 2007.


Comparação


‘As despesas com publicidade equivaleram, em 2007, a 0,25% da dotação orçamentária executada. Em 2005, foram 0,26% da dotação final. Em 2004, 0,17%. O comparativo é importante para demonstrar que não houve sobreposição da despesa com publicidade sobre outras despesas do Estado’, disse a assessoria.


Ainda segundo o governo, ‘as principais ações e eventos de divulgação são as campanhas anuais de educação escolar e os dois balanços semestrais’.


Embora os números levantados sejam rigorosamente os mesmos informados no Balanço Geral de 2003 a 2006 publicado pela Secretaria da Fazenda, sob a nomenclatura ‘Divulgação Governamental’, no item ‘Comunicação Social’, a Secretaria de Planejamento, segundo a assessoria, trabalha com valores menores, alegando estar incluído custeio da Subsecretaria de Comunicação.


A diferença -1% em 2007 e 2005; 3,6% em 2006; 1,8% em 2004 e 9% em 2003- envolve 41 tipos de despesas, como pagamento de diárias, locação de veículos e equipamentos, material fotográfico e cinematográfico, táxi, serviços de impressão, limpeza, assinaturas de jornais e combustíveis.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Sem guerra


‘Dos ‘think tanks’ às revistas on-line tipo Slate e aos jornais americanos, europeus etc., a ‘guerra’ prosseguia, já com análises geopolíticas e outras.


Até que surgiu na home do ‘El Tiempo’, em manchete, ‘Colômbia aceitou que violou a soberania do Equador, mas não receberá sanção da OEA’, com foto do equatoriano Rafael Correa com Lula (acima). Entraram ainda no acordo uma missão de inquérito e, informalmente, o anúncio por Álvaro Uribe de que ‘se dispõe a revisar’ a denúncia de Hugo Chávez em Haia. Na versão na Folha Online, ‘OEA declara violação de soberania do Equador, mas não condena Colômbia’. Lula, à Reuters Brasil, considerou a decisão ‘madura’.


LADOS OPOSTOS


O ‘Financial Times’ deu em título que a ação ‘pôs EUA e América Latina em lados opostos’, quanto à violação da soberania do Equador.


E o cientista político Olivier Dabène falou ao ‘Le Monde’ que ‘esta não é mais a OEA de 20 anos atrás, instrumento na mão dos Estados Unidos’. Agora ‘muito mais ativa’, sua diplomacia no episódio une os esforços de Chile e Brasil.


CHÁVEZ, CHÁVEZ


O ‘New York Times’, com o correspondente em Caracas, mantém o foco em Chávez e suas ‘forças na fronteira da Colômbia’ -enunciado da longa reportagem datada de hoje, adiantada ontem no site. Fala dos ‘dez batalhões’, dos ‘tanques na televisão’ etc.


O ‘Washington Post’ foi além, em editorial, e tratou Chávez, assim como Correa, por ‘aliado do terrorismo’.


O FATOR ‘SNL’


O site Politico.com adiantou, antes mesmo de Texas e Ohio, por que Hillary Clinton voltou a ter chances. Antes de mais nada, ‘O fator ‘SNL’, de ‘Saturday Night Live’ -o humorístico da NBC que saiu em apoio à democrata, contra os jornalistas enviesados. Já com os resultados, ‘NYT’, ‘Washington Post’, ‘Boston Globe’ foram pela mesma linha, dizendo que começou no ‘SNL’ do dia 23, com Tina Fey, o novo ‘tom’ da cobertura, desfavorável a Obama. E receptivo ao jogo de Clinton, até o mais baixo.


PRÓXIMOS CAPÍTULOS


Mais Politico.com. O site diz em suma, sobre Texas e Ohio, ‘Lição de Hillary: atacar Obama funciona’. E já faz a previsão do próximo ataque, dizendo que o tema é evitado por jornalistas e será cobrado por Hillary: o julgamento do ex-arrecadador Antoin ‘Tony’ Resko, de Obama.


A VOLTA DA CNN


As três grandes redes, avalia o ‘NYT’, ‘não cobrem mais’ campanha, que entra só como ‘post-it’ na programação. Mas a CNN está ‘de volta ao jogo’. Começou com os 7,6 milhões de audiência no dia 21, com o debate. Diz o ‘NYT’ que até voltou a bater a Fox News, depois de sete anos.


A INFLAÇÃO DO ETANOL


George W. Bush, em dia de campanha com John McCain, arrumou tempo para falar do ‘efeito do etanol no preço dos alimentos’, após editoriais seguidos sobre o tema no ‘NYT’, ‘WP’, ‘FT’. Falou vagamente em ‘fazer algo’, mas não ‘voltar atrás’. Descreveu como ‘incrível’ (amazing) o avanço dos EUA no setor -e deu o exemplo ‘incrível’ da ‘noz de babaçu’, que ‘cresce no Brasil’ e ajudou ‘um avião do tamanho de um 747’ a levantar vôo.


‘VOCÊS PAGAM’


O ‘Wall Street Journal’ deu com aberta ironia o relatório sobre aquecimento global anunciado ontem pela OCDE, o ‘clube dos países ricos’.


Se os emergentes Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) participarem do esforço como propõem os ‘ricos’, seus PIBs ‘perderiam três vezes mais do que os PIBs das nações do clube’. Daí o título usado pelo ‘WSJ’, ‘OCDE: Nós todos agimos, mas vocês pagam’.


TUPI E OS EUA


Em fase protecionista, a CNN começa a questionar o Brasil, dizendo que a eventual entrada na Opep elevaria o preço do petróleo, que ontem bateu recorde, novamente.


Mas um especialista em energia, Peter Z. Grossman, já reagiu ontem com artigo no ‘Christian Science Monitor’, de Boston. Diz que ‘Petróleo do Brasil pode desestabilizar a Opep, não os EUA’, no título, e que Tupi é só ‘boa notícia’.’


 


INTERNET
Julio Wiziack


Celulares impulsionam o acesso à banda larga no país


‘O uso de celulares para a conexão à internet de alta velocidade está ajudando o Brasil a avançar entre os campeões em acessos via banda larga.


Segundo um levantamento da Cisco e do IDC (International Data Corporation), em dezembro de 2007, 4% dos brasileiros navegaram pela internet rápida, contra 3,4%, em junho do mesmo ano. Com essa marca, o Brasil se aproxima de países como Argentina e Chile, com taxas maiores que 5%.


Ao todo, foram 8,095 milhões de conexões, considerando os 602 mil assinantes de celulares que usaram a internet móvel. Segundo a Cisco, a banda larga móvel cresceu 124% entre o primeiro e o segundo semestre do ano passado. Trata-se da primeira vez em que os dados foram incluídos no levantamento.


Segundo o estudo, até 2010, 15 milhões de conexões serão feitas via banda larga, sendo 3 milhões por meio de celular. ‘O leilão da telefonia de terceira geração trará investimentos em infra-estrutura, e isso terá um forte impacto nas conexões’, diz Roberto Gutierrez, diretor de pesquisa do IDC.


O crescimento da banda larga superou 30% em 2007, mas ficou abaixo dos 40% registrados em 2006.’


 


CRIME
Folha de S. Paulo


Polícia prende outro suspeito de matar editor


‘A polícia deteve mais um acusado pela morte do editor de imagens da TV Cultura Alexandre Martins de Paula, 25. O suspeito, de 17 anos, foi detido na favela do bairro da Água Branca (zona oeste de São Paulo), ontem à tarde.


Segundo a polícia, ele assumiu a participação no crime, mas negou ter atirado em Martins. Outro suspeito, de 17 anos, foi detido no dia do crime com um revólver calibre 38.


Martins saía do trabalho na noite de 27 de fevereiro, quando foi abordado -ele teria levado um tiro ao chamar policiais militares que passavam pelo local.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record sobe, mas é nanica perto da Globo


‘O novo slogan da Record, ‘A Caminho da Liderança’, faz parecer que a rede do bispo Edir Macedo está na iminência de alcançar a Globo. Na verdade, a Record está mais próxima da Rede TV!, lanterna no Ibope nacional, do que da líder.


A Record fechou fevereiro com média diária de 7% da audiência domiciliar nacional. A Globo registrou 2,6 vezes esse ibope _19,3% na faixa das 7h à meia-noite. O SBT ficou com 6,1%, a Band com 2% e a Rede TV!, com 1%.


Em relação a fevereiro de 2007, a Record cresceu 28%, ou 1,5 ponto percentual a mais no índice de audiência. A Globo caiu 9%, de 21,3% para 19,3%. Isso quer dizer que a Globo está perdendo público não só para a Record, mas também para outras redes e mídias (DVD, TV paga, internet). O percentual de televisores ligados caiu em um ano de 42% para 41,3%.


No horário nobre, a Globo tem o triplo da audiência da Record (29,8% contra 9,9%). Há um ano, essa proporção era maior: a audiência da Globo equivalia a 4,2 vezes a da Record. Na faixa mais nobre da TV, a das 20h às 22h, a supremacia da Globo continua devastadora: tem cinco vezes a audiência da vice-líder.


A força da Record é maior em capitais como São Paulo, Rio e Recife. Em janeiro, o SBT foi vice-líder absoluto em todos os horários em Porto Alegre. Em Belo Horizonte, a Record só venceu o SBT entre 18h e 20h.


APERTO O paredão de anteontem não foi apenas o recordista em votos (64 milhões), mas também o mais equilibrado da história do ‘Big Brother Brasil’. Ao longo da terça, Marcelo e Juliana se alternaram na preferência do público para deixarem o programa. Em muitos momentos, a diferença era de décimos. Somente no final Juliana passou a receber mais votos. Ficou com 50%, contra 47% do rival.


PRÓXIMOS DIAS A prova que definirá o próximo líder do ‘BBB 8’, hoje à noite, será uma espécie de jogo de damas. Antes, o ‘big fone’ indicará um competidor que não poderá participar da prova do líder nem receber imunização. E, no sábado, todos (menos o líder e a vítima do ‘big fone’) irão passear no autódromo de Jacarepaguá (Rio).


FALTOU CAJUÍNA A ‘tímida’ Gyselle do ‘BBB’ já participou de um reality show na França. O programa era igual ao ‘Ilha da Tentação’, que o SBT exibiu em 2002, e a ‘sister’ conseguiu separar um casal. A direção do ‘BBB’ esperava que, com esse currículo, ela incendiasse a casa.


CONSTELAÇÃO Angélica voltou nesta semana a gravar o ‘Estrelas’. Ela está em Búzios, litoral do Rio de Janeiro, acompanhando Caio Junqueira e Juliana Knust.


AO MORTO Em seu segundo dia no ar, o ‘novo’ ‘Aqui Agora’ estreou selo informando que determinadas imagens são ao vivo. E o repórter João Leite Neto contrariou o manual do programa e deixou escapar um ‘elemento de alta periculosidade’.’


 


Cristina Fibe


Barbatuques leva sons do corpo à TV


‘Treze pessoas abrem o ‘Ensaio’ de hoje, às 21h, na TV Cultura, batendo nos próprios corpos, com coordenação perfeita e um agradável resultado sonoro. O grupo Barbatuques, idealizado por Fernando Barba, mostra no programa os experimentos musicais que faz sem instrumentos.


Não se trata de usar objetos como panelas ou latas de lixo.


Os sons saem de batidas no peito, assobios, estalos de dedos, palmas, sapateados e efeitos vocais e se transformam em ritmos que vão do samba ao rap.


Depois de abrir o ‘Ensaio’ com ‘Barbapapa’s Groove’, de quase cinco minutos, o compositor Barba conta que a música o lembrou ‘do desenho ‘Barbapapa’s’, com seres que viravam qualquer coisa, qualquer instrumento. É um pouco o que a gente faz aqui’.


‘Sempre gostei muito de música, dos instrumentos. Procurava o som das coisas, batucava no chuveiro, com os talheres’, diz Barba, que, no início, criou um grupo de estudos em busca de ‘traduzir ritmos brasileiros para o corpo’.


Traduziram tanto que viraram ‘grupo de percussão corporal’, foram parar no exterior e absorveram também ritmos de fora. Aos dez anos, com dois CDs e um DVD, o Barbatuques continua ministrando oficinas -neste mês, elas acontecem no Sesc Pinheiros, em SP, onde também fazem shows, nos dias 15 e 16.


ENSAIO – BARBATUQUES


Quando: hoje, às 21h


Onde: na TV Cultura’


 


LITERATURA
Marcos Strecker


O livro-confusão de Francis


‘Waaal… Demorou dez anos, mas finalmente ficou pronto. Chega às livrarias no próximo dia 15 o aguardado romance inédito de Paulo Francis (1930-1997), prometido há mais de uma década e que fecharia o ciclo iniciado com ‘Cabeça de Papel’ e ‘Cabeça de Negro’. Antes mesmo da sua publicação, ‘Carne Viva’ já tem uma longa história. A começar pelo título, que originalmente seria ‘Jogando Cantos Felizes’.


Aos fatos. O livro, que agora será lançado pela Landscape (editora que comprou o catálogo da editora Francis, fundada em 2002), seria publicado em 1998 pela Companhia das Letras. Antes de morrer (em 1997), Francis mostrou os originais para o editor Luiz Schwarcz, que sugeriu modificações. Segundo a jornalista Sonia Nolasco, viúva de Francis, ele não concordou com todas as mudanças.


‘Concordou com a maioria, que fez à mão. A editora Francis tem cópias, e também o Luiz. Como editora do livro, eu respeitei tudo’, afirma Nolasco. A versão que chega agora às livrarias, portanto, tem alterações que teriam sido decididas de comum acordo entre Francis e Schwarcz, executadas por Sonia Nolasco.


Luiz Schwarcz confirma e diz que ‘seria difícil avaliar se o resultado está próximo do sugerido’, pois afirma que não guarda mais o original. Há um ano, Roberto Nolasco, irmão de Sonia e então responsável pela editora Francis, já planejava a publicação do livro. Disse na época que cogitava chamar amigos do jornalista para que fizessem três finais para a obra. Sonia nega enfaticamente que o livro estivesse inacabado. ‘Carne Viva’ foi completado, totalmente, muito antes da morte do autor’, afirmou à Folha.


Perda de entusiasmo


Lucas Mendes, que ancorava o programa ‘Manhattan Connection’ (do canal pago GNT), em que Francis tinha presença marcante (participou de 1993 até sua morte), diz que ‘ele comentou pouco sobre o livro’. ‘Às vezes Francis dizia que as idéias estavam jorrando como uma cachoeira, mais depressa do que conseguia escrevê-las. Mas, de repente, perdeu o entusiasmo. A Sonia Nolasco me disse que foi porque ficou emburrado com as 160 sugestões de mudança do editor’, disse.


‘Carne Viva’ tem como personagem central Francisco Guerra, um banqueiro que freqüenta a classe alta carioca. Numa das suas estadas em Paris, ele testemunha as agitações estudantis de Maio de 68. É um momento-chave do livro, antes que o protagonista seja levado de volta ao Brasil para um balanço emocional de sua vida.


‘Acho que o livro não vai trazer nenhuma luz sobre 68 em Paris’, diz Mendes. ‘Ele estava mais interessado na burguesia brasileira do que nos estudantes nas ruas, e o livro é sobre isto. Pelo que eu entendi, essa é a parte boa do livro’, afirma Lucas Mendes.


Para Caio Blinder, o ‘melhor inimigo’ de Francis no ‘Manhattan Connection’, o referencial ‘emocional’ do jornalista eram os anos 50 e 60. ‘Ironicamente, Francis e Sartre eram companheiros de armas na condição de intelectuais engajados. Mas o francês errou muito mais, por ser ‘gauche’ toda vida’, diz Blinder.


Diogo Mainardi, atual comentarista do programa e colunista da revista ‘Veja’, assina a orelha de ‘Carne Viva’ dizendo que o livro é ‘premonitório’.


‘É o relato de um Brasil sem Paulo Hesse [protagonista de ‘Cabeça de Papel’] e sem Paulo Francis’, escreve.


Projeto antigo


O livro era um projeto antigo de Francis. Na edição com suas memórias ‘O Afeto que se Encerra’, de 1980, ele já anunciava: ‘Bato bola para enfrentar o último volume da trilogia romances, ‘Cabeça de Papel’, ‘Cabeça de Negro’, e ‘Cabeça’ (inédito). Este vai ser trabalho maior que os anteriores’. Em artigo publicado na revista ‘Bravo!’, em janeiro de 2007, Sonia Nolasco descreveu o livro inédito como ‘um romance político’. ‘Desde 1997, Europa e Brasil têm o destino que Francis previu’, escreveu na revista.


Lucas Mendes conta que sempre achou os romances de Francis ‘muito confusos’: ‘Aqueles ‘Cabeças’ eu lia fazendo anotações, porque em três páginas ele já tinha citado cem autores e filósofos, e tinha personagens que se chamavam Alice Maria ou Maria Alice que apareciam na página 20, por exemplo, e reapareciam, sem maiores explicações, 70 páginas depois. De vez em quando, apareciam alguns parágrafos geniais, mas acho que [Francis] não vai ser lembrado como romancista’, diz.


Agora que ‘Carne Viva’ finalmente chega às livrarias, o próprio público de Francis vai poder tirar suas conclusões.’


 


TRECHO


‘Mas ali, em Saint Germain, Guerra se deixou envolver pelo paradisíaco. Viu um velho deblaterando.


Perguntou a um garoto quem era. ‘Sartre’, respondeu. ‘E como fala. Pedimos a ele que fosse breve, e não pára de falar. Marguerite Duras passou por aqui há pouco.


Estava uma onça porque não conseguiu ‘placer un mot’, ela reclamou, por causa da verborréia de Sartre.’


Guerra espiou melhor Sartre, nanico, de terno e gravata, mecha de cabelo caindo sobre a testa […]. Impossível ouvir. A platéia não parecia prestar muita atenção. Um casal se acariciava ao alcance do cuspe de Sartre, e a moça ajeitou o cabelo do rapaz; ele beijou seu pescoço, esquecidos do mundo.


Extraído de ‘Carne Viva’, de Paulo Francis’


 


ISTO É FRANCIS


‘Nome: Franz Paulo Trannin da Matta Heilborn


Nascido em 2/9/1930, no Rio, e morto em 1997, em Nova York


Nos anos 50, integra companhias teatrais e escreve suas primeiras críticas


Entre 58 e 70, passa por publicações como ‘Senhor’, ‘Última Hora’ e ‘O Pasquim’


Em 75, estréia na Folha a coluna ‘Diário da Corte’


Em 90, a coluna migra para ‘O Estado de S.Paulo’; em 92, passa a ser publicada também no ‘O Globo’


Em 93, integra a 1ª formação do ‘Manhattan Connection’


Livros: ‘Cabeça de Papel’ (1977), ‘Cabeça de Negro’ (1979), ‘O Afeto que se Encerra’ (1980), ‘Filhas do Segundo Sexo’ (1982), ‘30 Anos Esta Noite’ (1994) e ‘Waal – O Dicionário da Corte de Paulo Francis’ (1996)’


 


Vinicius Torres Freire


Memórias de um esnobismo kitsch e clichê


‘Jamais publicar ‘inéditos maus de bons escritores já mortos’, pregava ‘Klaxon’, revista dos modernistas brasileiros. Quem tem simpatia por Paulo Francis gostará de imaginar que o jornalista teria preferido seguir ‘Klaxon’ e engavetar esse ‘Carne Viva’.


O romance compõe-se de uma série de retratos de uma elite carioca que o autor pretende equiparar a aristocratas de Tolstói; de gente com ‘dinheiro antigo’ à procura de um sentido para a ‘boa vida’. A costura tênue do texto é a relação triangular entre Guerra, banqueiro ‘charmoso’, refinado mas nada intelectual, e Bea, filha da aristocracia dedicada a cuidar da família após romance com o doutor em filosofia Beau.


Além de memórias sobre um Rio mítico, os tempos do romance são maio de 68 e Brasil, 1990. Seu assunto é o elogio dos ‘poucos e bons’, gente ‘bem nascidérrima e distinta’, do ‘tempo das capitanias’ e suas reações progressivamente alérgicas a esquerdismos, ecologia, à sujeirada imigrante e à política; o elogio da família e da integridade nas relações pessoais.


Tudo isso pode ser bom material, mas o fascínio pelo exclusivismo social é de uma reverência kitsch. Não há ironia no sonho franciscano de ‘suprema elegância, poder e cultura’, para citar um personagem de Paulo Emílio Salles Gomes, um antípoda de Francis. Os tipos de ‘Carne Viva’ são quase sempre ‘insiders’ acima do bem e do mal. A caracterização disso é bisonha, com sinais conspícuos de riqueza e ‘cultura’ sendo arremessados na cara do leitor com mão pesada.


Guerra viaja a Paris num dia de maio de 68. De manhã, ouve de um banqueiro francês informações de coxia sobre o que Pompidou e De Gaulle farão da revolta. De noite, revê Bea, no Ritz, que namora Beau, não só um dos líderes da insurreição como amigo de Cohn-Bendit, de Carlos, o Chacal, e do pessoal do Baader-Meinhof, com quem praticará terrorismo, apesar de admirador basbaque de Moisés, Gandhi e Tolstói. No Ritz encontra ainda Mariazinha Vendange, aristocrata que se tornou lésbica, caricatamente ‘culta e sarcástica’ e cujo pai foi amigo de Mostesquiou, que inspirou o nobre gay Charlus de Proust. E ature-se o ‘name dropping’ e citações erradas e clichês da ‘sofisticação’.


‘Carne Viva’ é narrado em discurso indireto livre. Mas como não há modulação de tom, expressão e idéias, quase todos os tipos do livro parecem manifestações do esnobismo kitsch do narrador, o que causa contrastes grotescos entre o que são e o que dizem. Em ‘conversas decisivas’ sobre moral e o destino do mundo, como as filosofices trocadas por Guerra e Beau, os personagens fazem discursos sobre história, economia ou costumes que parecem verbetes do almanaque capivarol ou, no caso raro de discursos diretos, miniensaios pomposos, ‘versões editadas’ de conversação casual que soam cômicas de artificiais.


A série de verbetes e retratos só tem fim com tiros e explosões, típico de Francis, mortes que levam os personagens a descobrir ‘o sentido da vida’, manifesto em frases de um melodramatismo de novelas de TV. Grotesco? É isso mesmo.


CARNE VIVA


Autor: Paulo Francis


Editora: Francis/Landscape


Quanto: R$ 38 (264 págs.)


Avaliação: ruim’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 6 de março de 2008


TECNOLOGIA
O Estado de S. Paulo


Yahoo ganha tempo para buscar alternativa


‘O Yahoo prorrogou o prazo de nomeação de diretores para seu conselho, o que lhe oferece tempo para procurar alternativas ou negociar termos mais amistosos que a oferta de US$ 41,7 bilhões feita pela Microsoft. O prazo original, 14 de março, poderia ter colocado a Microsoft e o Yahoo em uma disputa de acionistas, na semana que vem.’


 


CRIME
José Dacauaziliquá


TV Cultura: preso suspeito de assassinato


‘A polícia deteve, ontem à tarde, um adolescente de 16 anos apontado como o segundo suspeito de envolvimento na morte do editor da TV Cultura Alexandre Martins de Paula, de 25 anos. Ele foi assassinado na semana passada, durante uma tentativa de assalto, quando saía da emissora, na Água Branca, zona oeste de São Paulo.


No dia do crime, um rapaz de 17 anos foi detido pela polícia com um revólver calibre 38. ‘Um empurra para o outro, nenhum dos dois adolescentes assumiu a autoria do tiro que matou a vítima’, disse o delegado-titular do 7º DP (Lapa), Renato Ferreira, que não descarta a possibilidade de uma terceira pessoa ter participado do crime. Os jovens alegam que mataram o editor porque ele gritou para pedir ajuda da polícia.’


 


LITERATURA
O Estado de S. Paulo


Inaugurado no México o Museu do Escritor


‘O Museu do Escritor foi inaugurado anteontem no México e, apesar de reunir mais de 800 primeiras edições de autores do calibre de Gabriel García Márquez, Juan Rulfo, Rafael Alberti e Edgar Allan Poe, necessita de espaço e fundos suficientes. O ambicioso museu é projeto da fundação coordenada pelo romancista mexicano René Avilés, mas que dispõe apenas de 20 m2 – uma pequena sala e uma parede – para expor todo o seu material. Mais de 400 primeiras edições autografadas por seus autores, mais 500 sem assinaturas, cerca de 250 cartas, gravuras, quadros e fotografis originais de distintas personalidades também integram o acervo.’


 


Irmã de autora denuncia falsa autobiografia


‘O mercado literário americano deparou-se ontem com novo caso de falsa autobiografia, após a irmã da autora denunciar a fraude. Love and Consequences, de Margaret B. Jones, recém-lançado, está cheio de mentiras. Ao contrário do que a autora dizia na obra (jovem mãe solteira e órfã, sobrevivente de bairro de Los Angeles marcado por gangues e drogas), ela cresceu em confortável região de LA com a família biológica e seu real sobrenome, Seltzer, não tem relação com suposta mistura racial. Ela admitiu as invenções, os livros foram recolhidos e alegou: ‘Pensei que era a oportunidade de dar voz a pessoas que não são ouvidas.’’


 


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Vitrine de produtos


‘O Big Brother Brasil 8 pode não estar um estouro de audiência, mas a Globo está faturando com os anunciantes e merchandisings, principalmente com as ações da Schincariol no programa. Prova disso é que o mercado publicitário pediu ao Controle da Concorrência, empresa que monitora as inserções publicitárias na telinha, para que os merchandisings sejam separados por categoria, para fornecer dados mais precisos e tornar possível o cálculo do retorno do investimento por parte dos clientes que fazem esse tipo de ação.


Seguindo os novos critérios, os merchandisings foram separados em testemunhal, quando há interrupção do programa por um apresentador que divulga o produto; estímulo visual, quando aparece somente a marca do produto, sem consumo; e ação integrada, quando há ação de consumo ou de manipulação do produto. Este último tipo tem sido visto aos montes no BBB8, com consumo de bebidas, uso de xampus, de protetor solar, entre outros.


Desde a estréia do BBB8 até o dia 2 de março, o reality contabilizou 973 aparições de marcas no programa, referentes a 11 anunciantes diferentes.’


 


 


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