ERA DIGITAL
Internet, o novo caminho da imprensa
‘O jornalista Juan Luís Celebrián, fundador do prestigioso jornal espanhol El País, deu entrevista imperdível ao Estadão na semana passada. Destacou o novo cenário que se aproxima com o fim da era industrial e a consolidação da era digital.
Nos primórdios do jornal, alguém escrevia, muitas vezes em manuscrito, o tipógrafo escolhia letra por letra os tipos, compunha a página que outros revisavam, diagramavam e imprimiam.
Foi a era dos gráficos. Impresso, o jornal era empacotado, posto no carro de transporte e só então, muitas horas depois, o leitor tomava conhecimento de uma notícia que podia mudar sua vida.
Mas daí veio o rádio, que narrava o acontecido minutos depois de ocorrido e às vezes na mesma hora em que ocorria, como os jogos de futebol e as tragédias. Seguiram-lhe o cinejornal e a televisão, que traziam em imagens aquilo que no rádio só tinha sido áudio.
Esta tríade – o jornal, o rádio e a televisão – transformaram de tal modo o quarto poder, como era chamada a imprensa, que o conjunto passou a terceiro, a segundo e às vezes a primeiro poder. Executivo, Legislativo e Judiciário ainda hoje parecem submissos à mídia, pois não é mais imprensa apenas, é mídia, incluindo a internet, arma poderosíssima, ainda fora de controle de qualquer poder, espécie de terra de ninguém, onde todos mandam e ninguém obedece, ou, quem sabe, onde ninguém manda porque ninguém pode mandar, por não encontrar quem lhe queira obedecer, já que a internet criou um mundo sem hierarquia nenhuma.
Tivemos a catedral, o castelo e o mosteiro, unidos em controles de poder até o alvorecer da Idade Moderna. Ao contrário do que sempre se afirmou durante séculos, a Idade Média não foi tão ruim como apregoavam, já que foi nos mosteiros que se conservou, preservou e cultuou a Antiguidade Clássica. À sombra da Igreja, especialmente de algumas ordens religiosas, a arte, a cultura, a ciência e a técnica floresceram.
Até hoje as figuras solares daquele rico período que lhe seguiu, o Renascimento, permanecem com suas contribuições eternas. Não fosse a Igreja ter cultuado tanto as nossas inevitáveis transcendências, teríamos tido Michelângelo, Leonardo Da Vinci, Dante Alighieri, Beethoven, Mozart?
Juan Luís Celebrían lembra que a internet é um fenômeno novo e que não sabemos ainda que futuro aguardam os meios de comunicação, os partidos políticos e os sindicatos nesse mundo desintermediado.
O jornalista lembrou que ano passado, só nos EUA, cerca de 600 jornais foram fechados. Como na evolução das espécies, sobrevivem aqueles que sabem adaptar-se, não os mais fortes. Fosse assim, o homem não teria sobrevivido, é um dos animais mais indefesos que conhecemos.
O jornal precisa adaptar-se imediatamente. Ou morrerá. Cada vez mais gente está lendo jornais…na internet. As tiragens, mesmo permanecendo as mesmas, estão diminuindo, pois são menores ou as mesmas do tempo em que tínhamos um terço da população de hoje.
Não é só o jornal que precisa mudar. São escolas e universidades que produzem ou não leitores.’
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Folha de S. Paulo