Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Primeira Página

QUEM TEM BOCA
Deonísio da Silva

Lula deu conselho ao papa, 16/11

‘Isso mesmo. O presidente Lula aconselhou o papa a dar, nas missas, um ‘conselhozinho’ sobre a crise econômica.

Há uma forte ligação entre a MP 446 e a foto do papa recebendo o presidente Lula, fazendo-se acompanhar de Marisa Letícia, sua mulher, e da ministra Dilma Roussef, candidata à sua sucessão. Ambas estavam de véus escuros, mas não por luto. A Medida Provisória 446 , como se vê, não é medida de miss. As medidas das misses são todas mais provisórias. Logo engordam ou emagrecem e tudo muda.

A MP 446 dá vários privilégios a entidades filantrópicas, chamadas também jocosamente ‘pilantrópicas’, porque há muitos pilantras ganhando rios de dinheiro com tais isenções. Muitas dessas entidades são ligadas à Igreja. Esperemos agora que o Congresso faça a sua parte e separe o joio do trigo.

Nos planos mundial, nacional, estadual e municipal, alguns temas seguem desconcertando os leitores. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, passou oito anos cuidando preferencialmente de si mesmo e de seus negócios e fez muito pouco pela Cultura. Entrevistados pelo Estadão quando Lula indicou o cantor e compositor baiano para o posto, lamentaram a nomeação. Este escritor foi um deles.

E confirmou suas desconfianças em Cuba, em 2005, na sede da Casa de las Américas. Integrava a delegação brasileira que tinha ido à Feira do Livro de Havana e na noite daquelas desilusões estava ali, no meio do público, para ouvir expressões culturais do Brasil e de Cuba, irmanados naquele evento.

No palco, o ministro Gilberto Gil, violão a tiracolo, passou a tocar e cantar suas músicas, aliás belíssimas. Este cronista gosta muito de suas canções e as ouve com freqüência. Não tem o mesmo apreço por suas idéias e ações de homem público. Ele foi um desastre naquela noite. Ministro de Estado, não tomou conhecimento dos brasileiros que ali estavam, entre os quais havia romancistas, contistas, poetas, ensaístas, historiadores, artistas, outros músicos, atores, atrizes, roteiristas de cinema, autores de teatro etc. Cantou e falou de si apenas.

Mas, de repente, o ministro foi perguntado se a atriz, poeta cantora Elisa Lucinda poderia subir ao palco e concedeu-lhe uma pontinha para fazer um dueto com ele. Foram ambos muito aplaudidos. Alguns escritores, entre os quais membros da Academia Brasileira de Letras, criticaram duramente o ministro cantante.

Agora, em Roma, o presidente tratou da crise econômica e financeira com o papa. O presidente reconheceu que a crise chegou ao Brasil? Semanas antes dissera que era uma crise dos EUA e não atravessaria o Atlântico. Sim, veio a pé, por terra, ou passou o Canal do Panamá, mas o fato é que chegou. Depois, ele disse que era uma marola, não era nenhum tisuname, e agora está enfim preocupado.

Que bom, mas preocupado com o quê? Com a sua sucessão! Chegam ao poder e pensam que aquilo é sobremesa e começam a repetir. João Ubaldo Ribeiro, aliás, garante que o candidato de Lula é o próprio Lula. Disse e escreveu várias vezes. Aguardemos para ver se a profecia do baiano se realiza ou não. Vários escritores fizeram profecias. Monteiro Lobato disse que o 88* presidente dos EUA seria um negro. Barack Obama é o 44* e é negro. George Orwell previu o Grande Irmão , que tudo vê, para 1984. O Big Brother chegou antes e hoje o computador Guardião, inventado por professores de Santa Catarina, pode dizer em segundos quem ligou para quem, sobre o que falaram etc. E em muitos lugares, há vários anos, você é avisado ‘sorria, você está sendo filmado’.

Na quinta-feira passada, num encontro de escritores no SESC SÃO PAULO, à Rua Dr. Vila Nova, foram lidos e comentados contos de Machado de Assis, dentro das celebrações que lembram o grande escritor no centenário de sua morte.

Este escritor não gosta de assuntos políticos. Machado gostava. Mauro Rosso, que estava na mesa ao lado deste colunista, e que organizou com o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, o livro ‘O olhar oblíquo do acionista’, comentando suas crônicas sobre finanças, reuniu agora as crônicas machadianas sobre política.

Foram 233 textos, assim distribuídos: um em O Paraíba ,jornal de Petrópolis, 1858; um em A Marmota ,1860; 53 no Diário do Rio de Janeiro 1861-68; sete em Imprensa Acadêmica1863-64; oito em A Semana Ilustrada 1869-76; oito em Ilustração Brasileira 1877-78; nove em O Cruzeiro ,1878; 145 na Gazeta de Notícias 1883-1900; uma no volume Páginas recolhidas (1899).

O que Machado de Assis acharia dessa foto do Lula com o Papa? Outra ironia machadiana: a nossa República anda atormentadíssima no ano em que celebramos o 119* aniversário de sua proclamação. Lula foi queixar-se ao bispo de Roma, o outro nome do papa.’

 

 

 

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