A novidade desta segunda-feira é o artigo do professor Denis Rosenfield, publicado no Globo e no Estadão, em que ele ‘denuncia’ o apoio da Petrobrás à revista Sem Terra, editada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Segundo o professor, ‘essa publicação é basicamente política, orientada por um forte viés ideológico esquerdizante, ancorado na supressão das instituições representativas, da economia de mercado e do próprio estado de direito’. Assim, continua o denunciante, ‘pode-se dizer que a Petrobras se põe, no caso, claramente a serviço de um projeto político, afastando-se de qualquer preocupação nitidamente cultural’.
Se a Petrobras não pode publicar anúncio cultural em revista do MST, conforme Rosenfield, o Globo também continua semeando a cizânia na polêmica que já dura duas semanas no meio cultural. Três matérias trazem novas versões dos fatos, incluindo aí uma entrevista com Caetano Veloso na qual ele manifesta a sua admiração pelo ministro Gilberto Gil, ao mesmo tempo em que também destila críticas ao ministério. Alguém já escreveu que é melhor não se meter nesta briga…
Na Folha de S. Paulo, destaque para a notícia de que a TV Globo e o SBT já se preparam para inaugurar as transmissões de TV digital no Brasil em 7 de setembro. ‘As transmissões ocorrerão apenas na Grande São Paulo. Todas as redes se comprometeram a iniciar as transmissões digitais no Dia da Independência, mas Globo e SBT estão mais adiantadas’, informa o repórter Daniel Castro.
Leia abaixo os textos desta segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 9 de janeiro de 2006
CRISE POLÍTICA
Sociedade bem informada
‘Fomos informados de que o presidente da República, de calção vermelho, pança respeitável à mostra, descansa uns dias em praia reservada, no uso de um direito que a Constituição e o bom senso aprovam. Ninguém é de ferro.
Sua vida não tem sido fácil, sobretudo nos últimos tempos. E se até o Todo-Poderoso descansou no sétimo dia, nada demais que nosso presidente, embora menos poderoso, tenha descanso de suas atribulações. É justo e natural que aproveite momentos de lazer e privacidade.
No dever de bem informar a sociedade, a mídia não faz por menos: instala-se nas proximidades para mostrar o óbvio, o homem comum no seu direito comum de tomar banho de mar. Muita gente toma banho de mar todos os dias, mas a sociedade não liga para isso.
Bem verdade que não se trata de um homem comum, é o presidente da República, a sociedade tem o direito de saber tudo sobre ele. Como teve, há anos, de ver Jacqueline Kennedy tomar banho nua numa praia grega. Em escala mundial, pagãos da Manchúria e cristãos da Indonésia foram informados daquela nudez.
Informar a sociedade é mais do que um direito: é um dever dos meios de comunicação. E em nome desse direito e dever tudo é permitido, por mais desnecessária ou óbvia que seja a informação.
Sempre desconfiei que as informações realmente importantes nunca chegam ou chegam tarde à sociedade. Só para dar um exemplo banal: não sabemos até hoje onde estão os ossos de Dana de Teffé. O jornalismo dito investigativo investiga muito, geralmente o que já está ou foi investigado. Mesmo assim, dificilmente entendemos o que nos acontece.
Dificilmente a sociedade se dá por satisfeita. Quer mais. Sabemos quem matou o Lineu daquela novela que já foi esquecida. Mas não sabemos nem saberemos se o presidente sabia ou não sabia do ‘mensalão’.
RÁDIO
Rádio acalma e diverte presas em SP
‘‘Rádio Espaço Livre: só não ouve quem não vive.’ Nome e slogan não poderiam ser melhores. Até porque nenhum ouvinte está em liberdade.
Primeira rádio a funcionar em uma prisão no país, segundo o governo paulista, desde setembro a Espaço Livre anima os almoços de quarta e quinta-feira das 680 detentas da Penitenciária Feminina, em São Paulo.
A rádio é comandada por 11 presas, que aprenderam a operar o equipamento, a produzir reportagens e a fazer a locução com estudantes de jornalismo da Universidade Metodista.
A cada edição, duas se revezam na locução e duas na mesa de som. Uma é responsável por colocar a rádio no ar e as demais vão atrás de reportagens pensadas nas reuniões que ocorrem toda sexta-feira. Os programas, de 45 minutos, são finalizados apenas duas horas antes de começarem, uma vez por semana.
No dia 14 de dezembro, a Folha acompanhou a gravação.
Eram 10h03 quando o slogan deu partida ao programa. Um grupo de 10 pessoas, entre detentas e estudantes, se espremia em uma salinha sob o olhar de um Jesus Cristo crucificado.
Uma das locutoras, Priscila Fernandes de Oliveira, 22, chama a primeira reportagem, sobre prevenção da tuberculose, e a escuta atentamente. Condenada a 12 anos por tráfico e formação de quadrilha, ela sabe que, quanto mais informação tiver, mais fácil será sua sobrevivência. ‘Aqui a gente tem de ficar esperta para não ficar doente.’
Entre uma reportagem e outra, música. Quem inaugura a seção é Zeca Pagodinho. No começo da rádio, lembram as presas, as ouvintes queriam que a programação fosse apenas musical. Até que se acostumaram com a proposta e hoje ficam atentas às dicas dos departamentos de saúde e jurídico.
Mas o grande sucesso está por vir: o horóscopo. Bastam os signos serem anunciados para o silêncio se instalar no refeitório (onde ficam as duas caixas de som), conta Karla Meneses, 35, condenada por seqüestro.
A diretora da penitenciária, Maria Risola Dias diz que, no início, ficou com medo de autorizar a rádio. Mas agora a recomenda para outros presídios. ‘O comportamento das detentas mudou: estão mais disciplinadas’, afirma.
Oito estudantes da Metodista participam do projeto, um trabalho de conclusão de curso. Para viabilizá-lo, gastaram R$ 5 mil na compra do equipamento, doado às presas. ‘Não tivemos problema nenhum com as detentas’, diz Fernanda Vergueiro, 23. ‘No começo a gente não entendia as gírias mas, em pouco tempo, nos entrosamos.’
Os alunos continuarão ajudando as presas na rádio por mais seis meses e, a partir daí, esperam que estejam seguras para tocá-la sozinhas.’
TV DIGITAL
Globo e SBT inauguram TV digital em 7/9
‘Globo e SBT já se preparam para inaugurar as transmissões de TV digital no Brasil em 7 de setembro, em plena campanha eleitoral à Presidência da República. A data foi definida pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa.
Essas transmissões ocorrerão apenas na Grande São Paulo. Todas as redes se comprometeram a iniciar as transmissões digitais no Dia da Independência, mas Globo e SBT estão mais adiantadas.
A Globo já está construindo uma nova torre sobre um prédio na alameda Santos. A torre terá 115 metros de altura. A atual torre sobre o edifício da TV Gazeta, na avenida Paulista, será mantida para as transmissões analógicas.
Segundo Octávio Florisbal, diretor-geral da Globo, torre e transmissor digitais serão instalados antes da Copa. Ainda neste ano, segundo o executivo, os estúdios do Projac (Rio) serão adaptados para gravações em alta definição (HDTV), uma das vantagens da TV digital. Em 2007, começam as transmissões digitais no Rio.
O SBT, segundo Roberto Franco, diretor de tecnologia, já tem estudo para comprar equipamentos para gravar novelas em HDTV. A torre da emissora no Sumaré já está pronta para receber antena e transmissor digitais.
A Band também usará sua atual torre, na Paulista, para a TV digital. Mas aguarda a definição, pelo governo, do padrão de modulação (japonês ou europeu) para iniciar os investimentos.
OUTRO CANAL
Hospital O jornalista Paulo Henrique Amorim está internado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Segundo a Record, ele foi hospitalizado na última segunda-feira, para retirada de pedras nos rins, e deve ter alta amanhã. Amorim deve voltar a apresentar o ‘Tudo a Ver’ no próximo dia 23.
Suspeito 1 André (Marcello Antony) será o principal suspeito pelo desaparecimento de Bia Falcão (Fernanda Montenegro) em ‘Belíssima’. Antes da ‘morte’ (ela deve reaparecer, viva, no final da novela) da vilã, Bia mostrará a André um dossiê sobre sua vida.
Suspeito 2 O dossiê contra André revelará também que o aparentemente bonzinho Seu Quiqui (Serafim Gonzalez), pai do falso mocinho, foi um ‘bandidão’ no passado, de acordo com Sílvio de Abreu, autor de ‘Belíssima’.
Avental Lançado pela Globo, o ator português Ricardo Pereira, que foi protagonista da novela ‘Como uma Onda’, agora é da Record. Entrará em ‘Prova de Amor’, como o médico Marco Aurélio, colega de hospital de Joana (Bianca Rinaldi). Outra novidade na novela da Record será Daniel Andrade, que fará um policial.
Prazo A Record promete divulgar em 31 de março, em seu site, o resultado de concurso de roteiristas, que pretende revelar um novo autor de novelas e reuniu 600 candidatos.’
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O Globo
Segunda-feira, 9 de janeiro de 2006
SEM TERRA
COM PETROBRASDenis Lerrer Rosenfield
O MST e a Petrobras
‘Assaz curioso é o apoio que a Petrobras dá à Revista ‘Sem Terra’, do MST. Por exemplo, em seus números de setembro/outubro e novembro/dezembro de 2005, a estatal, ao patrociná-la, o faz utilizando-se também dos logotipos do Ministério de Minas e Energia e do Governo Federal. Trata-se, portanto, de um financiamento oficial, feito em nome da cultura. O anúncio traz o seguinte dizer: ‘A Petrobras é a maior patrocinadora de cultura do Brasil.’ Ora, essa publicação é basicamente política, orientada por um forte viés ideológico esquerdizante, ancorado na supressão das instituições representativas, da economia de mercado e do próprio estado de direito. Neste sentido, pode-se dizer que a Petrobras se põe, no caso, claramente a serviço de um projeto político, afastando-se de qualquer preocupação nitidamente cultural. A pergunta que se impõe é: qual é a relação entre o MST e a cultura, salvo sob a forma da endoutrinação revolucionária, procurando subverter a democracia representativa e as instituições republicanas?
No editorial, o MST conclama todos os seus leitores a lutarem por uma ‘agenda popular’, onde se destaca, por exemplo, a reforma política. O problema, contudo, reside no que essa organização política entende por ‘reforma política’, aquela que muda ‘o processo de representação e adota mecanismos de democracia direta’. Ressalte-se que esse número da revista e outros adotam a mesma linha de crítica sistemática da democracia representativa, por seu caráter ‘formal’ e ‘burguês’ e, desta maneira, necessariamente imperfeito, como se lhe faltasse um conteúdo, de natureza propriamente revolucionária. Deve-se aqui evitar cair na armadilha de considerar essa formulação como sendo apenas complementar à da democracia representativa, como seria o caso de referendos e plebiscitos, que se encaixariam perfeitamente ao sistema da representação política, como ocorre em países como França e Suíça. O seu objetivo é bem outro, a saber, o da sua substituição por formas que teriam sua origem nas experiências petistas do Orçamento participativo, que são formas de manipulação da população por instâncias partidárias e governamentais. Mais especificamente, seriam esboços de transplante para o Estado brasileiro das formas de controle emessistas dos seus acampamentos e assentamentos, considerados como formas de ‘organização popular’ e ‘participativa’.
Num outro artigo sobre a reforma agrária, o agronegócio é considerado como representante da nova oligarquia rural, dado o seu caráter eminentemente capitalista. A questão da produtividade rural passa completamente a segundo plano, se é que ainda preenche uma função do ponto de vista teórico e político, pois o que passa a interessar é o seu caráter eminentemente burguês. O conceito utilizado é o de ‘agronegócio burguês’, marcando o seu caráter de classe, que é objeto da luta empreendida pelo MST, identificado a um movimento ‘popular’. Recorre-se ao conceito marxista de luta de classes, tendo, de um lado, a burguesia e, de outro, os trabalhadores. Cabe ressaltar que essa formulação se encontra em quase todo o PT, inclusive em seus intelectuais, que têm atribuído a crise ética atual ao caráter de uma sociedade de classes, que não aceitaria um ‘operário’ na Presidência da República, advogando por uma radicalização do processo político em termos de uma oposição entre ‘direita’ e ‘esquerda’. O instrumental teórico marxista serve de baliza para analisar a sociedade brasileira, vista sob a ótica de uma ‘luta de classes’.
Numa entrevista central com um obscuro professor cubano, a revista dá destaque a um tipo de intelectual que segue as ordens do governo/partido, cumprindo literalmente a função de um ‘intelectual orgânico’, ou seja, aquele que obedece a uma orientação ideológica, pondo-se a serviço de uma ‘causa’, num total descompromisso com a verdade. Eis o tipo de intelectual prezado pelo MST e por esses setores da esquerda, apenas preocupados em fazer avançar a revolução e os seus dogmas. Aliás, é significativo que o referido professor trabalhe na Universidade de Havana, ‘onde preside a cátedra de estudos Antonio Gramsci’. O título mesmo da matéria é revelador: ‘A única saída para a América Latina é o socialismo’. Essa é a cultura financiada aqui pela Petrobras.
DENIS LERRER ROSENFIELD é professor de filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.’
POLÊMICA CULTURAL
‘Um Gilberto Gil bem-disposto foi o que viram as centenas de pessoas, entre elas Caetano Veloso, que se aglomeraram em frente ao palco do Oi Noites Cariocas, no topo do Morro da Urca, entre a meia-noite e as 2h deste domingo. Gil começou o show com músicas de seu mais recente CD, ‘Eletroacústico’. Empolgado, ele dançou bastante durante toda a apresentação e muitas vezes puxou palmas da platéia (sendo sempre prontamente atendido). Quando seu microfone falhou, no início da canção ‘A Rita’, de Chico Buarque, Gil parou de tocar e pediu que ajeitassem o som, mas com um bom humor que evitou constrangimentos. No meio do diversificado público, que unia gerações de pais e filhos, entreouviam-se sotaques estrangeiros, mas quase todos conseguiam acompanhar a voz de Gil, fossem nos clássicos internacionais, como ‘Imagine’, de John Lennon, ou nos de sua autoria, como ‘Aquele abraço’.
Ao fim do show, Caetano Veloso se encontrou com o velho amigo atrás do palco e posou para fotos abraçando-o. O papo entre os dois não teve referências ao bate-boca público sobre o ministério da Cultura (MinC) travado inicialmente entre o poeta Ferreira Gullar e o secretário de Políticas Públicas, Sérgio Sá Leitão, e que acabou envolvendo Gil e Caetano, colocando-os em posições opostas.
– Adorei o show e conversei com Gil sobre as músicas do ‘Eletroacústico’, que ainda não tinha visto ele tocar. Não falei com ele sobre o ministério. Aquilo não foi uma questão pessoal. Pode haver uma discordância de pontos de vista, mas não chegou a ser uma coisa pessoal. O ministério de Gil é forte pela mera presença dele e com isso as discussões aparecem mais. Eu me posicionei nessa questão porque achei desproporcional a reação que veio do porta-voz do ministério (Sá Leitão) ao que Ferreira Gullar disse. Ele (Gullar) não falou nada de novo, o que disse é lugar-comum. Esse problema da centralização, ele próprio comentou que é uma coisa antiga. A resposta que veio do ministério pareceu confirmar o que ele disse – opinou Caetano, assegurando que a amizade com Gil nunca foi abalada.
Gil diz que seu secretário tem síndrome de jornalista
O ministro da Cultura também adotou um tom conciliatório e chegou mesmo a condenar, pela primeira vez, a censura que seu secretário fez a Ferreira Gullar.
– Acho que ele (Sá Leitão) não deveria ter feito aquilo. O que eu disse a ele sobre isso? Disse que ele tem síndrome de jornalista – alfinetou, entre gargalhadas, Gil, que logo antes atribuíra à imprensa uma parcela de culpa pela polêmica que o contrapôs a Caetano. – É impossível brigar com Caetano. Isso é a trucagem que a imprensa faz, atribuindo atitudes e palavras e sentimentos e pensamentos que não são exatamente aqueles, nem dele (Caetano) nem de outros. É essa questão complicada que é a complexidade da sociedade moderna e o papel da mídia nisso e a política nisso e a cidadania nisso. Tem muita exigência cidadã verdadeira, autêntica, como é o caso do Caetano, que é dedicado a essa exigência, o que é extraordinariamente bom para um país como o Brasil, como para o mundo. É bom pra humanidade – concluiu Gil.
Descontraído, o ministro disse que seu próximo projeto é lançar um disco de samba, o que pretende fazer ainda este ano. Ao descerem juntos no bondinho, Gil perguntou a Caetano sobre a gravidez da mulher de seu filho Moreno Veloso. O amigo respondeu que será avô, pela primeira vez, a qualquer momento.’
Arnaldo Bloch
‘Tenho muita saudade de Gilberto Gil’”Mesmo em meio às batalhas verbais em que se envolve, Caetano mantém o ritmo: dorme de dia, vive a noite e usa as madrugadas para trabalhar e responder a e-mails, como os que resultaram na entrevista abaixo, sobre a atual polêmica e sobre a gestão de Gil.
Estamos a um passo do totalitarismo?
CAETANO: O Sérgio Sá Leitão, em nome do ministério, chamou Ferreira Gullar de totalitário, stalinista, centralista. Só usei o termo porque argumentava contra ele, dizendo que o poder público não pode exigir aprovação, e que deve, sim, explicações ao cidadão. Jamais insinuei que o governo Lula, o MinC ou o Gil estivessem a um passo do totalitarismo. Apenas que o gesto de Leitão, estava, e o de Gullar, não. Sá Leitão está, aliás, em desacordo com o governo, que mantém uma política econômica neoliberal firme, apoiada por uma imprensa que se mostra livre para investigar, criticar e mesmo agredir os poderes públicos.
Cabeças vão rolar?
CAETANO: Zelito Viana disse em entrevista que queria a cabeça de Leitão. A ‘Folha’ disse a Gil que ‘a classe’ pedia a cabeça de Leitão. Em algum lugar saiu que eu queria a cabeça de Leitão. Detesto a idéia. Gosto que Gil diga que não dá a cabeça de Leitão. Mas não que ele e Leitão insistam que foram razoáveis ao responder a Gullar como responderam. Quanto a brigar com Gil, isso para mim continua parecendo impossível.
Como avalia o trabalho que Gil vem fazendo na política?
CAETANO: Eu não queria que Gil fosse ministro. Nem todo mundo pode ter relações diretas com o poder. Votei em Lula porque Ciro pirou. Mas nunca tive boas expectativas em relação ao governo do PT, outra razão pra não querer meu amigo lá. Mas não me sinto mal vendo-o lá agora. Gil deu visibilidade nacional e internacional ao ministério. Algumas inoportunidades passaram por ele, o projeto da Ancinav, por exemplo, mas é importante que ele discuta as novas questões relativas a direitos na era da reprodutibilidade digital e da internet com os ativistas mais avançados do mundo.
Gil disse que não é obrigado a voltar à música, e que está ‘tocando outros instrumentos’.
CAETANO: Questão de foro íntimo. É bom que ele toque como música sua agenda de discursos, viagens, encontros. Sinto saudade da música. E tenho muita saudade de Gilberto Gil . Agora ele não tem tempo. Mas Gil sempre pôs sua musicalidade meio de lado em favor de outros níveis de atuação. Era assim, mesmo dentro da música. Sem isso, não teríamos o Tropicalismo. Vendo Gil no ministério lembro do pai dele, Dr. Gil. E de sua aproximação com o movimento estudantil em Salvador.
Na atual polêmica, você usa Hollywood como modelo. Não é um pouco simplificador?
CAETANO: Não devemos tomar o modelo americano para nós. Mas veja, o caso de Bergman foi o extremo oposto: um gênio artístico privilegiado num país seletivo mas social-democrata. Não é admissível que Cacá Diegues precise explicar-se por conseguir produzir filmes com freqüência. Nem Guel Arraes, Mariza Leão ou Paula Lavigne devem temer má-vontade só porque já produziram três ou quatro sucessos. Consagrar-se ainda é, no Brasil, uma espécie de pecado pelo qual se tem que pagar. Eu, pessoalmente, me sinto superprestigiado mas já estou acostumado a ter que enfrentar agressões sucessivas. Nos EUA é o contrário. Vencer, fazer sucesso, é bom. Não acho necessariamente ruim que sejamos diferentes nisso. Mas veja: imitamos os americanos em quase tudo. Inclusive na reverência às suas celebridades, enquanto desqualificamos as nossas facilmente.
Mas não haveria, no Brasil, uma certa centralização?
CAETANO: É fato que aqui se exibem mais filmes de estreantes do que em qualquer outro lugar. De que é mesmo que estão reclamando? Podemos não querer ter algo como Hollywood, mas descentralização não é algo muito congenial a uma indústria como o cinema. Na Índia, Bollywood. Na Itália, Cinecità. Na França, Paris. Etc. Conseguimos fazer produção, qualidade e bilheteria no Brasil crescerem com um esquema X. Para mexer no esquema, no momento em que estava funcionando melhor, seria preciso um cuidado extremo. O que veio foi demagogia e agressividade. Não posso achar isso saudável. Ou então vamos linchar Bergman, para dar o exemplo.’
Alessandra Duarte
Diretores reforçam queixas ao MinC‘O imbróglio que se formou com as críticas trocadas entre o poeta Ferreira Gullar e Sérgio Sá Leitão, secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, continua na classe artística, principalmente na área de cinema, que em dezembro encabeçou um abaixo-assinado a favor de Gullar, e que se queixa de centralização de recursos para o setor.
Segundo Sá Leitão, a motivação do abaixo-assinado, liderado por Zelito Viana e Luiz Carlos Barreto, é o fato de eles não estarem mais recebendo recursos para projetos. O diretor Zelito Viana rebate a acusação:
– Ele fala isso para desviar a atenção das pessoas da sua atitude de desrespeito contra o Gullar. Edital é edital, você ganha ou perde. Eu perdi alguns, mas não me sinto prejudicado ou discriminado – diz Zelito. – Eu estou quase escrevendo uma carta ao presidente Lula dizendo ‘conforme solicitado pelo ministro Gil, venho por meio desta pedir a cabeça dele a Vossa Excelência’.
Lista do BNDES deve sair até dia 16 deste mês
Para o diretor Roberto Farias, está havendo centralização de recursos pelo MinC:
– Não tenho como me sentir prejudicado porque há mais de dez anos não faço filme, em parte até pelo desânimo que me dá na hora de captar verba. Mas acho que essa tendência de centralização existe. Não sei se é uma simples coordenação do MinC ou se é a centralização como a que o Luiz Gushiken queria fazer um tempo atrás. Se for assim, se houver uma orientação de recursos para determinados grupos ou assuntos, é dirigismo cultural.
Segundo Roberto Farias, profissionais veteranos do cinema estão sendo discriminados.
– Não se pode discriminar gente que vem levando a luta do cinema, vem fazendo filmes profissionais, que contribui para a existência de um cinema brasileiro, sem grandes experimentações mas com a eficiência do bem-feito. É preciso financiar os estreantes, mas não se pode inverter a lógica. Estreante é estreante, e a hora dele vai chegar – diz Farias, acrescentando que achou ‘uma bobagem’ o ministro Gil falar para pedirem sua cabeça. – Qualquer exagero é demais. Achei exagero essa frase do Gilberto Gil, como também foi um exagero a resposta de Sérgio Sá Leitão ao Ferreira Gullar.
A produtora Gláucia Camargos, mulher do diretor Paulo Thiago, diz estar ‘deprimida ao ver personalidades como Gil e Caetano discutindo por questões políticas’.
– Não me incluo nesse termo ‘ex-privilegiados do cinema’ (usado por Sá Leitão em sua crítica ao abaixo-assinado) porque nunca fui privilegiada. Adoraria ser uma ex-privilegiada – diz Gláucia. – Há uma tentativa de centralização de recursos públicos, sim, dá para sentir isso. Mas, ao mesmo tempo, há um discurso de descentralização da produção cultural, o que é contraditório.
Uma das queixas mais recentes de profissionais do setor quanto à captação de recursos foi o edital para cinema lançado ano passado pelo BNDES, no valor total de R$ 10 milhões. Houve mudanças, com a adoção, pela primeira vez, de profissionais de fora do banco na comissão avaliadora dos projetos e a criação de uma terceira fase de avaliação, a apresentação oral dos projetos.
O BNDES informou que as mudanças tiveram como objetivo melhorar o processo de seleção, e que a última fase de seleção ocorreu no fim de dezembro, quando 30 candidatos pré-selecionados expuseram seus projetos. A lista final dos selecionados deve sair, segundo o banco, até dia 16 deste mês.
Para Sá Leitão, episódio é ‘muito rico e revelador’
Preferindo não se manifestar sobre a questão do financiamento ao cinema, o diretor Cacá Diegues comentou a discussão Gullar-MinC-Caetano:
– Considero inaceitável que um servidor público se dirija a um cidadão brasileiro nos termos em que esse rapaz do MinC se dirigiu ao poeta Ferreira Gullar. Ainda mais se tratando de um brasileiro como este. O ministro Gilberto Gil costuma responder às críticas que recebe, sejam justas ou injustas, sempre de um modo sereno, cortês e altivo. Não há razão nenhuma para que um assessor dele seja tão desastradamente grosseiro.
Perguntado sobre sua permanência no cargo, Sérgio Sá Leitão se diz tranqüilo.
– Como diz a música de Walter Franco, estou com a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo. Acho esse episódio muito rico, e muito revelador das reais motivações dos envolvidos – analisa Sá Leitão, que se refere à repercussão da carta de resposta a Gullar como ‘ossos do ofício’. – O ministério me solicitou essa resposta, e eu fiz. Não é algo que deva ser pensado em termos de arrependimento ou não.’
ECOS DA DITADURA
Justiça condena governo a informar‘BRASÍLIA. O juiz federal substituto de Goiânia Waldemar Cláudio de Carvalho, em sentença inédita, determinou que o ministro da Defesa e vice-presidente da República, José Alencar, numa audiência reservada, comunique aos familiares do desaparecido político Marcos Antônio Dias Batista onde estão localizados os seus restos mortais, as circunstâncias que levaram à sua prisão, tortura e morte e entregue a ossada aos parentes.
A União ainda foi condenada pelo juiz a pagar indenização de R$ 500 mil à mãe de Marcos, Maria de Campos Batista, por danos morais decorrentes do desaparecimento de seu filho, em 1970. Alencar tem 90 dias para cumprir a decisão, prazo que expira na próxima semana. A sentença é do final de setembro de 2005.
Forças Armadas correm contra o tempo
O Ministério da Defesa informou que está tomando as medidas para cumprir a decisão. Os três comandos militares – do Exército, da Aeronáutica e da Marinha – foram ouvidos pela consultoria jurídica do ministério. Os comandantes já teriam informado a José Alencar que nada consta nos arquivos sobre a localização da ossada de Marcos e informações sobre como se deram seu desaparecimento e morte.
Se Alencar não cumprir a determinação do juiz de entregar os restos mortais à família, a União terá de pagar uma multa diária de R$ 1 mil. A assessoria de comunicação do Ministério da Defesa informou apenas que estão sendo tomadas todas as providências para que se tente cumprir a decisão. O governo, por meio da Advocacia Geral da União (AGU), estuda se irá recorrer da sentença.
Jovem sumiu quando tinha apenas 15 anos
Marcos Batista é o mais jovem desaparecido político da esquerda brasileira. Ele foi preso e desapareceu, em Goiânia, quando tinha 15 anos e militava no movimento estudantil. Era dirigente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) e fundou a Frente Revolucionária Estudantil. Marcos integrava o grupo Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares), que combatia a ditadura. Seu nome foi incluído na relação dos 136 perseguidos que integravam a lista anexa da lei que criou a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, em 1995. Na época, o Estado reconheceu a culpa pela morte de Marcos e a família recebeu indenização de R$ 137 mil.
A mãe de Marcos, Maria de Campos Batista, hoje com 87 anos, classificou como ‘histórica’ a decisão do juiz Waldemar Carvalho. Ela disse que vive a expectativa do encontro com José Alencar e não acredita numa resposta negativa do governo justamente no momento que se anuncia a abertura dos arquivos dos órgãos de repressão.
– Há 35 anos procuro o meu filho. Espero que isso agora chegue ao fim. Preciso, primeiro, ter a certeza de que ele está morto e depois enterrá-lo numa sepultura digna, ao lado de seu pai. A ossada do meu filho me pertence – disse Maria Batista.
Por causa da idade da mãe, a sentença determina ainda que o Poder Executivo e a Justiça dêem prioridade ao caso. A decisão obriga que o ministro da Defesa seja comunicado com a máxima urgência e que cumpra a decisão imediatamente, ‘independente do trânsito em julgado dessa decisão’.
Nas suas ações como militante político, Marcos Antônio participou de atos terroristas e chegou a jogar bombas em um carro de um delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de Goiânia.’
FOTOGRAFIA
‘Em 18 anos de trabalho, a fotojornalista Márcia Foletto calcula ter clicado mais de cem mil cenas e pessoas. A convite do Centro Cultural Telemar, ela selecionou 36 fotos para serem ampliadas e exibidas na série ‘A arte do fotojornalismo’. A exposição, intitulada ‘Quando o ofício encontra a arte’, será inaugurada hoje, às 19h, e ficará em cartaz até o dia 15. Além das fotos ampliadas, haverá projeção de slides com outras 200 imagens do seu acervo, publicadas no GLOBO nos últimos 15 anos.
– Tem um pouco de tudo: personagens famosos, como Betinho e Tom Jobim, imagens de beleza e de dor da cidade, e acontecimentos marcantes. Na projeção de slides, há trabalhos específicos: o Piscinão de Ramos, a Central do Brasil e viagens por outros estados brasileiros – explica Márcia.
O título da exposição faz referência a uma característica que a fotojornalista preza no seu ofício.
– A foto tem que levar informação ao leitor do jornal. Isso é básico. O desafio é fazer isso de uma forma instigante e plástica. No meu trabalho, tento me manter invisível e procuro sempre observar bem a situação antes de clicá-la – conta Márcia, que se apaixonou por fotografia no curso de jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Contemplar uma cena antes de focá-las com a câmera, contudo, nem sempre é possível. Ao se ver no meio de um tiroteio nas ruas do Méier, em 1996, Márcia só teve tempo de fazer um registro fugaz antes de correr junto com policiais e passantes. A foto é uma das que chamam atenção, na exposição, pelo desespero dos retratados, bem como a que mostra pessoas escalando o gradeado do Jardim Botânico para escapar de uma inundação, naquele mesmo ano. Essa foi feita de um helicóptero.
Em muitas outras, é a beleza plástica que sobressai, como na de uma devota de Iemanjá fazendo uma oferenda na praia no último dia de 2005, sob balões coloridos.’
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 9 de janeiro de 2006
PUBLICIDADE
‘‘Como pode um peixe vivo/Viver fora d’água fria/Como pode um peixe vivo/Viver fora d’água fria/Como poderei viver/Como poderei viver/Sem a tua, sem a tua/Sem a tua companhia?’. Não é só a folclórica ciranda de roda que a minissérie JK, em exibição pela TV Globo, trouxe de volta no início deste ano. No retrovisor do período em que o Brasil foi governado por Juscelino Kubitschek, está a propaganda de um período em que o País, em particular Minas Gerais, descobriu a modernidade dos traços da arquitetura, sem perder o glamour que cercava os anos 50 e atravessou a primeira metade dos anos 60.
Nessa fase, nas penteadeiras – um objeto que, pela acentuada diminuição da área dos quartos e banheiros, virou peça de museu – não podiam faltar marcas como Cashmere Bouquet, Leite de Rosas, Phebo, Kolynos, Rastro, Eucalol e Vale Quanto Pesa. Nem Hipoglós para a assadura dos bebês e Brilhantina Glostora ou Gumex para os cabelos masculinos. O pente Flamengo era outro item obrigatório de toucador e no bolso dos paletós.
Os autores da minissérie JK, Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, empreenderam grande pesquisa para manter intactos esses valores, que ainda estão na mente de muitos brasileiros. São objetos que influenciaram um padrão de comportamento, dentro e fora de casa. Nas cenas externas, gravadas para a cerimônia de posse presidencial, no Rio, novos letreiros foram substituídos, em estúdio e por efeitos de computação, pelos antigos, de época, de bancos e grandes redes de departamentos que só sobrevivem hoje na memória, como Ducal e Mesbla.
Ao vender a idéia do desenvolvimento, o Plano de Metas de 50 anos em 5, JK também estimulou a indústria, sobretudo a automobilística, a lançar produtos que se tornariam ícones de gerações de brasileiros. Entre eles, as Lambretas, que abriram espaço para a juventude, até os clássicos Simca Chambord e JK FNM-Alfa Romeo, além do Aero Willys. Isso, sem falar nos carros mais populares dos anos 60, como Volks, Gordini, DKW e Vemaguete. Já a indústria de eletroeletrônicos apresentava inovações que muitos hoje desconhecem, como as enceradeiras GE, para ‘deixar o chão do seu lar brilhando’. O que tem a ver com o papel que a mulher desempenhava, de dona de casa, em sua maioria ou, no máximo, professora.
O publicitário Lula Vieira, que comanda a agência VS Propaganda e é um dos maiores colecionadores de propaganda no País, não resistiu e adquiriu uma coleção completa da revista O Cruzeiro, um dos símbolos das décadas de 50 e 60, para avaliar a evolução da comunicação e dos costumes. E lançar um olhar crítico sobre a publicidade da era JK: ‘Foi o momento em que o País, nos trilhos da modernidade, descobriu eletroeletrônicos, inovações têxteis, automobilísticas e de produtos de beleza’, diz, referindo-se a campanhas como a do fio Helanca, que prometia roupas de banho mais confortáveis.
Só que, nessa época, só se usavam maiôs, tanto femininos como masculinos, com muito pano e até cinto. Mais: o fio Helanca era mais duro que seu sucessor, o elastano (a marca mais conhecida é a Lycra), o que hoje transmitiria uma clara sensação de desconforto.
Todas as inovações da era JK foram embaladas pelo som da bossa nova, um estilo musical que acabaria, em composição de Juca Chaves, virando codinome de JK, ‘o presidente bossa nova’. Vieira diz que o estilo musical foi perfeito para acompanhar o momento, com os primeiros grandes lançamentos imobiliários e a descoberta da classe média, com seus aparelhos domésticos, os carros e as viagens. ‘Na porta do Simca Chambord estava o símbolo de Brasília, era a classe média abraçando o moderno.’
Nos jingles, entre os destaques está o dos cobertores Parahyba (‘Tá na hora de dormir, não espere mamãe mandar’) e o da Varig (‘Estrela brasileira no céu azul’). Só que chique nessa época era viajar nas asas da Panair. ‘Para a propaganda foi um momento rico, único. Uma busca pela aliança entre o glamour e o moderno, mas é uma página virada, como o salão de bailes da Pampulha.’
Afinal, hoje para namorar não são necessárias as famosas matinês dançantes, nem meninas envoltas em casaquinhos de Banlon e saias plissadas e meninos de ternos quadriculados. ‘É um alívio saber que aquele terno Clube 1, da Ducal, de xadrez vermelho e calça amarela, não volta mais’, diz Vieira.’
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Kaiser usa até a internet para atrair consumidores
‘A Kaiser estréia amanhã a sua campanha de verão, com quatro comerciais (em forma de rápidos videoclipes) e peças impressas, que vão reforçar o mote ‘Vida’. Com orçamento de marketing para o ano de R$ 180 milhões, a Kaiser também prepara ações nas praias, o chamado teste cego, e no programa de televisão Pânico, com o qual manterá parceria.
Criada pela agência de publicidade Giovanni, FCB, as peças exploram ‘os melhores momentos da vida’, sem os tradicionais estereótipos da categoria de cerveja: mulheres com pouca roupa, pagode e futebol.
A empresa também abriu espaço na internet (www.kaiser.com.br) para projeto interativo criado pela Euro RSCG 4D. ‘O podcast e o videocast são formas democráticas de expressão. O consumidor pode assistir e ouvir o que quiser e montar sua programação da maneira que desejar no site’, diz Marcello Ursini, gerente corporativo de Marketing da marca Kaiser.’
TV BANDEIRANTES
Band testa público das 22 horas
‘A estréia de Mandacaru, hoje, às 22 h, na Band, é a tentativa de inaugurar um novo horário na teledramaturgia da emissora, motivada pelo sucesso da novelinha infanto-juvenil Floribella, que estréia sua segunda fase ainda este mês. Serve também para testar o tom da novela junto ao público. ‘Vamos ver como os telespectadores reagem à exibição de Mandacaru. É nossa intenção ter uma trama no horário que retrate dramas, voltada para um público mais adulto’, diz o diretor de programação Juca Silveira.
Mandacaru, uma das últimas novelas exibidas pela Manchete, foi dirigida por Walter Avancini. É recheada de cenas fortes, como cabeças decepadas e ousadas seqüências entre casais, como Xica da Silva, exibida recentemente no SBT. Dependendo da reação da platéia, algumas dessas cenas podem ser cortadas. ‘Há possibilidade de reedição’, afirma o diretor.
A novela, exibida pela TV Manchete em 1998, tem 259 capítulos – o que totaliza dez meses no ar. O diretor acredita que a trama deve ser condensada para cerca de seis meses, o tempo para preparar uma novela própria – no caso, Amor de Perdição, um projeto de Herval Rossano que está na geladeira há algum tempo. ‘A previsão é de que os últimos acertos sejam feitos até o fim deste mês. Enquanto a novela passa, vamos preparando nossa produção’, explica Juca. Elenco, por enquanto, é um assunto que nem foi colocado em pauta.
Mandacaru foi comprada da Bloch Som & Imagem, uma razão social criada à parte da TV Manchete para produzir novelas e outros programas e possibilitar posteriores negociações (ou tudo ficaria à disposição da massa falida, quando a empresa fechou). Segundo Juca Silveira, a emissora assumiu os custos do pagamento de direitos autorais ao elenco e ao autor, Alberto Ratton.’
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