Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Projeto quer controlar acesso à rede

SEGUNDA-FEIRA, 6/11


Projeto quer controlar acesso à rede


Leticia Nunes




Leia abaixo os textos desta segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 6 de novembro de 2006




EMIR SADER
Fernando de Barros e Silva


Zero à esquerda


‘SÃO PAULO – Como intelectual, Emir Sader é um zero à esquerda. Não há registro de nada minimamente relevante ou inspirador no que escreve. Desde que a revolução o deixou a ver navios, seu ativismo tosco dedica-se à tarefa de atazanar jornalistas para plantar notinhas na imprensa burguesa que despreza.


Circula pela internet um abaixo-assinado a favor de Sader, contra a decisão do juiz que o condenou, entre outras coisas, à perda do emprego por ter ofendido o senador Bornhausen. A sentença é absurda, de fazer inveja a Kafka, e deve ser revista. Mas não é absurdo nem autoritário o direito do senador de processar quem o chama de ‘assassino’, entre outros afagos. Sorte que a Justiça burguesa dê a Sader o direito de recorrer.


Esse episódio evoca um outro. Corria o ano feliz de 2003 quando o então superpoderoso Delúbio Soares decidiu processar Chico de Oliveira, que havia rompido com o PT e chamado a atenção para o modo de vida gangsterizado de petistas no poder. O tesoureiro exigiu indenização de R$ 50 mil e a retirada de circulação de um livro recém-lançado por Chico.


O peso da máquina do governo foi jogado contra o intelectual dissidente. Tudo indica que o esquema do mensalão tenha pago os advogados de Delúbio. Na ocasião, ninguém abriu o bico. Nem no PT nem na universidade. Onde estavam os milhares que hoje saem em defesa de Sader e a favor da ‘livre manifestação’? Covardia? Silêncio estratégico? Submissão ao poder?


Criticar Bornhausen é tão necessário quanto fácil. É o demônio do lado de lá. Explicar se há e qual é a diferença substantiva entre ele e Jader ou Newtão é um pouco mais complicado. E também mais útil.


A reeleição de Lula destampou a sanha vingativa de parte do baixo clero petista e reacendeu a tentação autoritária que ronda certos áulicos do Planalto, no governo e na mídia. A esquerda intelectual deve estar muito ocupada com a defesa de Sader. Veremos logo quem será o próximo Chico de Oliveira do petismo -não é mesmo, Marco Aurélio?’





TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O ‘timing’


‘‘Saddam condenado à forca’, bradava a manchete no site do ‘Washington Post’. Mais abaixo, previa uma ‘dramática mudança de elenco na estrutura de poder em Washington’, com a esperada vitória dos democratas ‘daqui a dois dias’. Eleição em dois dias, notou também Wolf Blitzer na CNN, perguntando de bate-pronto a Tony Snow, porta-voz do presidente:


– Há sugestões de que Bush manipulou o ‘timing’ da sentença de execução de Saddam Hussein, hoje. Você pode dizer, categoricamente, que os Estados Unidos não têm nada a ver com o dia do veredicto?


– Sim. Quer dizer, a idéia é ridícula. As pessoas, diante de notícias que questionam as coisas que elas vêm dizendo, decidem que nós estamos tramando ou conspirando com os iraquianos. Wolf, o importante é que nós temos um judiciário iraquiano independente.


Expressões como ‘trama’ foram parar na agência AP -e daí aos blogs, caso do democrata The Huffington Post.


MARILSON GOMES DOS SANTOS


Demorou um pouco, mas a foto do brasileiro que levou a maratona de NY tomou de Saddam a home do ‘NYT’. É ‘o primeiro sul-americano’ a vencer. O blog ‘+ corrida’, na Folha Online, tinha avisado pouco antes que ele podia ‘incomodar [o] mais galáctico dos elencos galácticos’.


Claudio Perez/Bloomberg News – detnews.com/Reprodução


O ‘campo de trabalho’ de uma carvoaria de Tucuruí, no Pará


ALEXANDRE PEREIRA DOS REIS


Sob o título ‘Escravos na Amazônia forçados a produzir material usado em carros’, a Bloomberg despachou uma extensa reportagem de Michael Smith e David Voreacos, sobre A escravidão ao longo de Brasil e Peru. A abertura:


– O inspetor trabalhista e seis policiais armados andam cuidadosamente pela fumaça cinza que abraça o campo de trabalho da carvoaria perto de Tucuruí. Envolto na névoa está um homem solitário, de calção vermelho e sandálias gastas… Como centenas de milhares na América Latina, Alexandre Pereira dos Reis nada recebe por seu trabalho.


Ecoou em Detroit, nos EUA, onde a Ford anunciou que não vai comprar mais dos escravocratas brasileiros.


LINK DE AEROPORTO


O ‘Fantástico’ abriu com links ao vivo dos aeroportos de Brasília, Rio, Belo Horizonte, São Paulo -e nada.


Crianças corriam de lá para cá, enquanto os repórters falavam da ‘volta do feriado’ bastante ‘tranqüila’, ao contrário do que se anunciava.


O esforço foi até as estradas, para falar de ‘quem volta de carro’, também ‘sem congestionamentos’ nem nada.


SÓ UM TIPO DE DOR


Daí ao blog de Xico Sá, no post ‘Só sai um tipo de dor’:


– Acabei de chegar da rodoviária, onde atraso faz parte da vida. Fiquei pensando nos aeroportos… Só a dor limpinha da classe média sai.


Num outro post, depois:


– Você viram a sacanagem com os idosos que viajariam de ônibus? Veio mais um feriadão… Mais uma liminar na mão, impediram. Coisa feia!’






CONTROLE NA REDE
Elvira Lobato


Projeto quer controlar acesso à internet


‘A Comissão de Constituição e Justiça do Senado votará, na próxima quarta-feira, um projeto de lei que obriga a identificação dos usuários da internet antes de iniciarem qualquer operação que envolva interatividade, como envio de e-mails, conversas em salas de bate-papo, criação de blogs, captura de dados (como baixar músicas, filmes, imagens), entre outros.


O acesso sem identificação prévia seria punido com reclusão de dois a quatro anos. Os provedores ficariam responsáveis pela veracidade dos dados cadastrais dos usuários e seriam sujeitos à mesma pena (reclusão de dois a quatro anos) se permitissem o acesso de usuários não-cadastrados. O texto é defendido pelos bancos e criticado por ONGs (Organizações Não-Governamentais), por provedores de acesso à internet e por advogados.


Os usuários teriam de fornecer nome, endereço, número de telefone, da carteira de identidade e do CPF às companhias provedoras de acesso à internet, às quais caberia a tarefa de confirmar a veracidade das informações.


O acesso só seria liberado após o provedor confirmar a identidade do usuário. Para isso, precisaria de cópias dos documentos dos internautas.


Críticas


Os provedores de acesso à internet argumentam que o projeto vai burocratizar o uso da rede e que já é possível identificar os autores de cibercrimes, a partir do registro do IP (protocolo internet) utilizado pelos usuários quando fazem uma conexão. O número IP é uma espécie de digital deixada pelos internautas. A partir dele, chega-se ao computador e, por conseguinte, pode-se chegar a um criminoso.


Maiores alvos do cibercrime, os bancos e os administradores de cartões de crédito querem a identificação prévia dos internautas. O diretor de Cartões e Negócios Eletrônicos da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Jair Scalco, diz que não adianta criar leis para punir as fraudes na internet se não houver a identificação obrigatória de todos os internautas. Ele defende que os registros de todas as conexões sejam preservados por pelo menos três anos.


O projeto recebeu muitas críticas. ‘É uma tentativa extrema de resolver a criminalidade cibernética, que não surtirá efeito. O criminoso vai se conectar por meio de provedores no exterior, que não se submetem à legislação brasileira, ou usará laranjas [terceiros] e identidade falsa no Brasil’, afirma o presidente da ONG Safernet (Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos), Thiago Tavares. A entidade é dirigida por professores da Universidade Federal da Bahia e da PUC daquele Estado.


Para Tavares, o projeto, se aprovado, irá burocratizar e restringir o acesso das pessoas à internet.


‘Não se pode acabar com a rede, em nome da segurança, porque ela nasceu com a perspectiva de ser livre e trouxe conquistas muito grandes, como a liberdade de informação e de conexão’, afirma.


Para ele, os provedores tenderão a dificultar o acesso das pessoas à rede mundial de computadores, com medo de serem responsabilizados criminalmente por atos dos usuários.


Lobby


O relator do projeto é o senador Eduardo Azeredo (PSDB), ex-governador de Minas Gerais. Os especialistas do setor dizem que o mentor das mudanças é o assessor de Azeredo José Henrique Portugal, ex-dirigente do Serpro, estatal federal de processamento de dados.


O presidente da ONG Safernet diz que, por trás da identificação e da certificação prévias dos usuários da internet, está o lobby das empresas de certificação digital, espécie de cartórios virtuais, que atestam a veracidade de informações veiculadas pela internet.


De acordo com ele, o projeto está na contramão da democratização do acesso à internet, ou inclusão digital, pretendida pelo governo.’



Autor quer responsabilizar professor na escola


‘O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) -autor do projeto que criminaliza o acesso indevido à internet- sugeriu que as professoras sejam responsáveis pelo uso que os alunos fazem da internet nas escolas.


Uma das críticas ao substitutivo do senador é a de que estaria na contramão da inclusão digital pretendida pelo governo Lula, que tem projeto de interligar as escolas com rede de acesso em banda larga.


Eduardo Azeredo disse que não adianta definir os crimes cometidos via internet, os chamados cibercrimes, se não houver obrigatoriedade de identificação dos usuários. ‘Hoje, o internauta pode navegar com nome fantasia. Pode, até, enviar e-mail com identificação de asteriscos. A quem interessa o anonimato?’, indagou.


Azeredo disse que já discutiu o projeto com o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e que o Ministério das Comunicações ainda não se manifestou oficialmente sobre o caso.


O senador rejeita a proposta de auto-regulamentação, defendida pelos provedores de acesso à internet e pelas empresas de telefonia. ‘Seria muito bonito -e talvez funcionasse- na Suécia. No Brasil, as experiências de auto-regulação não foram exitosas’, declarou.


O advogado Renato Ópice Blum, estudioso dos crimes via internet, defende que os provedores sejam obrigados a armazenar os registros das conexões por pelo menos três anos, como previsto no texto do senador.


O delegado da Unidade de Repressão a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal Cristiano Barbosa Sampaio apóia o ponto de vista dos bancos em relação à exigência de certificação prévia dos usuários da internet. Ele defende que o acesso de menores seja registrado em nome dos pais, os quais seriam responsabilizados pelos atos dos filhos. O delegado lembra que os menores não são imputáveis criminalmente, o que se estenderia aos crimes que viessem a cometer no ciberespaço.


Sampaio diz que os crimes pela internet explodiram nos últimos anos e que o projeto tem o mérito de tipificar crimes novos, decorrentes da internet, que ainda não estão previstos em lei. Cita, como exemplo de crimes ainda não tipificados, a difusão de vírus e o roubo de identidade na internet.


De acordo com o delegado, não há definição legal para o crime de captura de senha, por exemplo. A polícia tem indiciado os suspeitos por furto mediante fraude e por estelionato, que, segundo Barbosa Sampaio, são ‘legislação emprestada’.


Segundo ele, o roubo de senha levou a PF a prender 25 pessoas em 2001, 55 em 2003, 77 em 2004, 213 em 2005 e 199 de janeiro a setembro deste ano. Só neste ano, foram registradas 112 prisões por clonagem de cartões de crédito pela internet e 81 por pirataria, comercialização de músicas, softwares e vídeos sem pagamento de direito autoral.’




Uso indevido prevê pena de reclusão


‘O projeto de lei que obriga a identificação dos usuários da internet altera os códigos Penal e Militar e obriga os provedores de acesso à internet a manter o registro de todas as conexões realizadas pelo prazo de, no mínimo, três anos. O texto é a fusão de três projetos de lei sobre crimes cibernéticos, um da Câmara e dois do Senado, um deles de autoria do presidente da Casa, Renan Calheiros.


Foi aprovado, em junho último, pela Comissão de Educação, onde Azeredo também foi o relator. Se passar na CCJ, irá para votação pelo plenário do Senado e, daí, voltará para nova votação pela Câmara dos Deputados, em razão de ter sofrido alterações no Senado.


O projeto passa a considerar crime acessar indevidamente a internet por computador, por telefone celular e até por intermédio da televisão. O advogado Luiz Guilherme Porto, de São Paulo, diz que ele pune mais quem simplesmente acessa sem autorização do que quem entra na rede e destrói arquivos ou rouba dados.


O texto propõe a inclusão do artigo 154-A no Código Penal, que estabelece pena de reclusão de dois a quatro anos, mais multa, para quem ‘acessar indevidamente rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado’, e ainda o artigo 154-B, que determina detenção pelo mesmo período por obtenção indevida de dado ou informação em rede de computadores, e o artigo 154-D, com detenção de um a dois anos, para violação ou divulgação indevida de informações obtidas em bancos de dados.


A diferença entre reclusão e detenção é que, na primeira, o acusado fica preso até que o juiz estabeleça a fiança, o que pode levar vários dias, enquanto na detenção o próprio delegado estabelece a fiança, o que permite que o preso fique livre imediatamente. ‘As penas são absurdas, maiores do que a prevista no Código Penal para o crime doloso’, afirma Porto.’





TV
Daniel Castro


Burocracia provoca demissões e atrasa a TV digital


‘Engenheiros das nove instituições de ensino e pesquisa responsáveis pelas inovações nacionais no Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) estão em estado de penúria. Sem receber do governo desde fevereiro, tiveram que demitir centenas de pesquisadores e praticamente paralisaram os estudos. O Ministério das Comunicações teme mais atrasos na implantação da TV digital no país.


Entre essas entidades estão o Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI), da USP, que demitiu 60 pesquisadores, e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que cortou 20. As pesquisas desses nove centros agregarão tecnologias e ferramentas brasileiras no padrão japonês de TV digital.


Numa primeira fase, o governo gastou R$ 39 milhões com 75 instituições e 1.200 pesquisadores. Em março, o ministro Hélio Costa (Comunicações) liberou mais R$ 4 milhões para os nove centros de pesquisas que apresentaram propostas que serão acopladas ao SBTVD.


Esse dinheiro serviria para as instituições concluírem pesquisas e elaborarem as normas técnicas que regerão o SBTVD, cujo prazo de entrega vence em 20 de dezembro. Mas, até hoje, nenhum centavo chegou a elas.


Segundo Marcelo Zuffo, da LSI-USP, atualmente 15 engenheiros pagos com recursos próprios do laboratório escrevem as normas técnicas. ‘Estamos comendo o pão que o diabo amassou’, lamenta Zuffo.


‘Estamos trabalhando de graça desde fevereiro esperando por esse dinheiro que não chega por excesso de burocracia. Uma coisa impressionante, que nem ministro consegue resolver’, diz Luís Fernando Gomes Soares, da PUC-RJ, que demitirá cinco pesquisadores.


O Ministério das Comunicações culpa a Finep, empresa do governo responsável pelo pagamento das instituições.


A Finep diz que a demora se deve ao rigor na fiscalização e análise dos projetos. O órgão, diz Maurício França, chefe do departamento de tecnologia digital, ainda analisa prestações de contas da primeira fase. ‘Estamos checando se realmente foi tudo realizado. Temos que cumprir os ritos’, afirma.


CONTRA-ATAQUE


A Federação Paulista de Futebol recebeu proposta da Record para transmitir com exclusividade o Campeonato Paulista de 2007. A rede brigará com a Globo pelos direitos dos principais torneios e pela Copa.


SÓ UM MILAGRE 1


Segundo a própria Globo, só um Emmy para ‘Os Amadores’ pode levar o seriado a ocupar uma vaga fixa na programação de 2007. A rede pretende manter programas que já deram o que tinham que dar, como ‘Sob Nova Direção’ e ‘A Diarista’.


SÓ UM MILAGRE 2


Os programas que serão ‘testados’ no final deste ano não têm a menor chance na Globo de 2007. Isso tem gerado descontentamento entre diretores, que vêem falta de ousadia e medo de mudança na cúpula.’






PAULO COELHO E LULA
Monica Bergamo


Pancadaria


‘A caixa postal de Paulo Coelho, sempre cheia, anda lotada -de leitores reclamando por seu apoio público à reeleição do presidente Lula. ‘Muita pancadaria’, diz Coelho, que recebeu ‘mais de mil e-mails reclamando’, mas está ‘convencido’ de que fez o certo. O mago festeja o ‘tom educado’ das correspondências e diz que só recebeu aplausos de 45 leitores.





SYLVIA PLATH
Eduardo Simões


Revista on-line publica soneto inédito de Plath


‘Um soneto inédito da poeta e romancista americana Sylvia Plath (1932-1963), autora de ‘A Redoma de Vidro’, foi publicado na última quarta-feira na revista literária on-line Blackbird (www.blackbird.vcu.edu). ‘L’Ennui’ (o tédio, em francês) foi escrito por volta de 1955, quando Plath, ainda estudante no Smith College, em Northampton, Massachussets, já havia sido submetida a terapia de eletrochoque, por conta de uma depressão severa, e feito sua primeira tentativa de suicídio. A escritora se matou aos 30 anos, inalando gás na cozinha de sua casa.


De acordo com Gregory Donovan, editor da revista, o fato de Plath ter colocado seu nome e endereço no canto superior da página (veja reprodução do original à direita) indica que ela pretendia publicá-lo, pois esse era o procedimento da escritora em relação aos poemas que considerava bons o bastante para enviar a periódicos.


O mérito da publicação do soneto cabe a Anna Journey. Estudante de literatura, Journey, 25, pesquisava a obra do escritor F. Scott Fitzgerald na Virginia Commonwealth University (VCU), no ano passado, quando se deparou com transcrições de anotações feitas por Plath na sua cópia de ‘O Grande Gatsby’. Plath escreveu a palavra ‘l’ennui’ ao lado da passagem em que a personagem Daisy Buchanan diz: ‘I’ve been everywhere and seen everything and done everything’ [estive em toda parte, vi tudo e fiz tudo]. Journey descobriu que a Universidade de Indiana, que mantém uma coleção de textos de Plath, tinha cópias de um poema chamado ‘L’Ennui’. E as solicitou para comparar com as anotações.


‘Tanto ‘Ennui’ quanto as anotações de Plath na margem de sua cópia de ‘O Grande Gatsby’ contêm temas semelhantes, como tédio e romantismo frustrado, e figuras como dragões, princesas entediadas etc.’, conta Journey à Folha. ‘Acredito que o poema tenha germinado da resposta criativa de Plath à sua leitura do livro.’


Ao saber que o poema nunca havia sido publicado, Journey enviou cartas aos herdeiros de Plath e, após mais de um ano, conseguiu autorização para veiculá-lo na ‘Blackbird’, que é editada pela VCU.


Para Journey, a publicação do poema é uma celebração da ‘graça formal e alusões estudadas’ presentes nos trabalhos de Plath anteriores a 1956. Ela defende que seria ‘antiintelectual e antifeminista’ acreditar que a habilidade poética de Plath vinha de sua loucura.


Karen Kukil, editora da compilação de diários ‘The Unabridged Journals of Sylvia Plath’, e uma das curadoras da biblioteca do Smith College, que também contém uma seleção de textos de Plath, lembra que em 1955 a poeta escreveu vários sonetos similares para um curso de escrita criativa.


‘Ted Hughes [escritor britânico, viúvo de Plath], que editou ‘Collected Poems of Sylvia Plath’ em 1981, publicou apenas 50 poemas da época, sob o título ‘Juvenilia’. O restante deveria ser publicado para dar aos pesquisadores uma melhor apreciação do quão duro Plath trabalhou até aperfeiçoar sua arte’, diz Kukil à Folha.


Para Nelson Ascher, colunista da Folha, que assina a tradução do soneto apresentada ao lado, ‘L’Ennui’ reflete um esforço de escritores americanos, nos anos 50, de voltar à disciplina do ritmo e das rimas, com um tratamento, no entanto, que não dispensa os recursos da modernidade. ‘O soneto mostra claramente as marcas do aprendizado de Plath com professores como Robert Lowell e John Berryman. Não é tanto a voz pessoal dela que se ouve. É mais um trabalho de transição entre o aprendizado e a mestria’, conclui Ascher.’




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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 6 de novembro de 2006




IMPRENSA ATACADA
Carlos Alberto Di Franco


Patrulhamento explícito


‘Três rompantes de autoritarismo, graves e preocupantes, marcaram a semana pós-eleição. O primeiro foi protagonizado por militantes petistas que se reuniram para receber o presidente Lula no Palácio da Alvorada e na Base Aérea de Brasília. Eufóricos, mas nada democráticos, hostilizaram a imprensa por suposta cobertura tendenciosa durante a campanha eleitoral. Segundo informações, parte dos militantes era gente com cargo comissionado no governo, alguns usavam até crachá funcional. Os petistas e servidores mais exaltados diziam ter saudade do regime militar. ‘Prefiro a ditadura, vamos fechar todos os jornais’, disse um militante. ‘Se perguntarem sobre dossiê, vão levar um dossiê na cara.’ Outro militante do partido avisou: ‘Nada de pergunta sobre mensalão.’


Depois, durante entrevista coletiva do presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, os jornalistas voltaram a ser hostilizados. Garcia ensaiou uma crítica pífia e puramente formal ao comportamento dos militantes. Mas, ao mesmo tempo, aproveitou a oportunidade para concitar os jornalistas a fazer uma ‘auto-reflexão’ sobre ‘o papel que tiveram nesta campanha eleitoral’, pretendendo, em última instância, que os profissionais e os veículos de comunicação se retratassem e pedissem desculpas pelas informações que transmitiram sobre o governo e seus ‘erros’. Para Garcia, por incrível que pareça, a imprensa deve passar a considerar o mensalão como pura invenção, uma obra de ficção. Joguem-se ao mar as palavras do procurador-geral da República, homem sério e nomeado pelo presidente Lula. Como se sabe, o procurador-geral fez constar em seu relatório, expressamente, que uma sofisticada quadrilha, integrada por membros da cúpula do governo e do PT, agia em plano federal com o objetivo de ‘garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores mediante a compra de suporte político de outros partidos’. Invenção da imprensa? Ora, o brasileiro não é idiota.


Em Curitiba, a primeira entrevista coletiva de Roberto Requião como governador reeleito do Paraná foi marcada por ataques à imprensa do Estado e do País. Requião afirmou que quase foi derrotado pelo candidato Osmar Dias por culpa dos meios de comunicação. ‘Houve um bombardeio contra a imagem pessoal do governador, com a colaboração da Rede Paranaense de Comunicação (RPC, jornal Gazeta do Povo e a retransmissora da Globo), dos jornalões, da CBN’, disse. O governador Requião gostaria de contar com uma mídia simpática e oficialista. Aliado de Lula, também é incapaz de entender o necessário papel fiscalizador da mídia.


O terceiro surto foi ainda mais chocante. Refiro-me à vexatória tentativa de intimidar três jornalistas da revista Veja, no momento em que prestavam depoimento à Polícia Federal (PF). A Polícia Federal ‘republicana’, do ministro Márcio Thomaz Bastos, que nada tem que ver com a verdadeira PF, integrada por inúmeros homens de bem e profissionais competentes, deu um recado àquele veículo e, indiretamente, a todos os demais. Testemunhas podem ser transformadas em ‘suspeitos’, dependendo da firmeza crítica das matérias publicadas. Chavismo quimicamente puro.


É curioso, caro leitor, como os governos com vocação autoritária convivem mal com a liberdade de imprensa e de expressão. O partido do presidente Lula, quando na oposição, usava e abusava de seu estilingue contra as vidraças do Palácio do Planalto. Lei da Mordaça, nem pensar. E as CPIs, que proliferavam como coelhos, eram defendidas como instrumento indispensável no combate à corrupção. De alguns anos para cá, a coisa mudou. Abertura de CPI virou conspiração contra a governabilidade. E a Lei da Mordaça foi transformada em ‘instrumento legítimo para controlar a irresponsabilidade da mídia e dos promotores’. Os jornalistas, segundo algumas lideranças petistas, estariam extrapolando o seu papel e assumindo funções reservadas à polícia e ao Poder Judiciário.


O presidente Lula foi reeleito pela vontade maciça dos brasileiros. Seu mandato deve ser, por óbvio, respeitado. Isso não significa um aval à impunidade. Ademais, o próprio presidente da República tem insistido na necessidade de que as investigações avancem e os culpados sejam punidos. Não se pode brincar com as palavras. Não se deve achincalhar o sentimento de justiça dos brasileiros. É importante que o Ministério Público, no cumprimento de seus deveres constitucionais, prossiga no seu ânimo investigativo. É fundamental que os políticos e os governantes saibam que a imprensa, que não se acovardou nos piores momentos da ditadura militar, cumprirá o seu papel, independentemente de patrulhamentos, ataques e pressões. Mas, sobretudo, é essencial que o Judiciário, serenamente e sem engajamentos espúrios, esteja à altura da justa indignação nacional.


A informação, gostem ou não as autoridades de turno, é a base da sociedade democrática. Precisamos, constantemente, melhorar os controles éticos da notícia, combater as eventuais manifestações de prejulgamento e as tentativas de transformar a mídia em passarela para o desfile de vaidades. Mas, ao mesmo tempo, não podemos deixar de criticar os injustos e abusivos ataques à liberdade de imprensa e de opinião.


O presidente Lula, que sofreu na própria carne a violência do autoritarismo militar, tem o dever intransferível de cobrar limites aos excessos praticados por seus funcionários, aliados e liderados. É o que a sociedade tem o direito de esperar.


Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em estratégia de Mídia’





TRANSIÇÃO
Renato Cruz


Geração pós-internet acelera mudanças no setor de tecnologia


‘Para Tayná Fregoneze, de 10 anos, a internet sempre existiu. Ela nasceu em 1995, ano de estréia do acesso comercial no Brasil e um ano depois de a Netscape ter lançado seu navegador, software responsável pela popularização da World Wide Web. ‘Uso a internet antes de ir para a escola e depois que eu chego’, conta Tayná.


‘Eu faço pesquisas, ouço músicas, converso e jogo pelo MSN.’ Normalmente, ela se dedica a mais de uma atividade dessas ao mesmo tempo. Tayná fica conectada de duas a três horas por dia, quando tem aula. Assim como a maioria dos colegas de sua sala, tem página no Orkut. E passa mais tempo em frente ao computador que à televisão. ‘Assisto meia hora, ou uma hora por dia, antes de dormir.’ Bem abaixo da média nacional, de quatro horas e cinqüenta e oito minutos por dia, segundo o Ibope.


Alguns usam o ano de 1982 como o primeiro dessa nova geração. Outros começam a contar a partir de 1985. Nos Estados Unidos, são chamados de geração M, de ‘multitarefa’ ou de ‘mileniais’. A mudança de comportamento trazida por esses jovens, quando comparados à geração anterior, tem impactos profundos no mercado de tecnologia.


‘É a primeira geração que cresceu com internet e celular’, diz o diretor de Tecnologia e Marketing de Produtos da Lucent – fabricante de equipamentos de telecomunicações -, Esteban Lazaro Diazgranados. No Brasil, 36,9% da população tem até 19 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se a faixa de corte for de 24 anos, a fatia passa a 46,2%.


Um dos serviços que sofrem impacto do comportamento dessa geração é a telefonia fixa. Esses jovens acostumaram-se ao celular e às conversas via internet. Vêem o telefone fixo como um serviço disponível em casa, pago pelos pais. ‘O telefone fixo como é hoje está com os dias contados’, afirma Diazgranados. ‘Mesmo a voz sobre protocolo de internet nem nasceu direito e já está virando commodity. Para essas pessoas é natural usar o serviço sem precisar pagar por ele.’


O número de telefones fixos no Brasil estacionou em 39 milhões desde 2002. Os celulares, por outro lado, aumentaram 11,2% do fim de 2005 até setembro deste ano, quando chegaram a 95,9 milhões. ‘Mesmo no celular, eles preferem as mensagens de texto ao serviço de voz’, explica o diretor da Lucent.


No Brasil, a comunicação de dados, que inclui os torpedos, responde por 5% a 10% do faturamento das operadoras de celulares. Tayná tem celular, que usa principalmente para tirar fotos. ‘Também uso bastante para mensagens e como despertador’, conta a menina, que chega a enviar três torpedos por dia. Ela não costuma fazer ligações. Quando fala ao celular, normalmente é porque um de seus pais liga para ela.


Tanto Tayná quanto o irmão Murilo, de 7 anos, sentem mais falta da internet do que da TV, quando os serviços saem do ar. ‘Eu converso no MSN, tenho página no Orkut e jogo’, diz Murilo, sobre suas atividades na rede. Mesmo assim, ele diz que gosta bastante de TV.


‘A TV tradicional também vai desaparecer’, acredita Diazgranados. ‘Os mileniais não têm paciência para ficar muito tempo na frente da televisão. Eles preferem o computador, em que, além de assistirem a vídeos, podem fazer outras coisas ao mesmo tempo.’ Um exemplo disso é o sucesso do YouTube, comprado pelo Google por US$ 1,65 bilhão no mês passado. Todos os dias, internautas de todo o mundo mandam 65 mil vídeos para o site e assistem a 100 milhões.


O diretor da Lucent destaca que a geração multitarefa tem mais facilidade de resolver problemas coletivamente, via rede. ‘A anterior, chamada geração X, era mais individualista.’ Em cinco ou dez anos, são eles que começarão a estar à frente das empresas, o que deve trazer transformações em vários setores.


‘As crianças estão muito mais antenadas’, afirma o advogado Ronaldo Farias, pai de Tayná e de Murilo. ‘Pela internet, acabam lendo e se inteirando mais do mundo adulto. A Tayná veio discutir comigo o que achava das eleições, a partir do que ela tinha lido na internet.Antes de ler, o Murilo já navegava com o mouse. Eu me preocupo que eles ficam muito presos, preferem o computador a sair, a brincar de bola ou boneca.’’





ZÉ DO CAIXÃO
Flávia Guerra


A volta do Maldito


‘Em um estúdio da Vila Mariana, em São Paulo, a cena era tarantinesca. Em uma ante-sala, um grupo de mães, pais e avós tenta conter o ânimo de bebês que esperavam para fazer um teste para uma campanha de produtos alimentícios. Na mesma ante-sala, a veterana atriz de cinema Helena Ignez aguarda sua vez para fazer um teste de maquiagem de um novo filme, o ‘singelo’ Encarnação do Demônio.


Enquanto os pimpolhos brincam, atrás de uma das portas do estúdio, é a vez de Jece Valadão, testar a maquiagem para seu mais novo vilão no cinema. O ‘mocinho’ desta história supervisionava Valadão enquanto também fazia seu próprio teste. Como é alérgico, estava preocupado com a reação de sua pele aos materiais que terá de usar. Digamos que vão muito além do tradicional pancake e que a lista inclui sangue, pele artificial e imensas unhas de resina. Digamos também que o ‘mocinho’ atende pelo nome de José Mojica Marins. Sim, Zé do Caixão está de volta. Mais forte, sanguinário e… mais velho e sofisticado.


É a primeira vez em quase 30 anos que o cineasta vai dirigir um longa. Também é a primeira vez que Mojica filma com verba captada pelas leis de incentivo. Para quem fazia filmes artesanais, os cerca de R$ 1 milhão que o novo filme vai custar serão suficientes para a carnificina cinematográfica.


Meses depois de preparação, procura de elenco, testes de maquiagem, o massacre começa amanhã com filmagens no Hipódromo, que serve de locação para a prisão onde Zé do Caixão esteve esse tempo todo. Assim como para o criador, os anos também passaram no estranho mundo do personagem de terror mais brasileiro que já houve. O sanguinário coveiro não morreu em Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967). Para alegria dos fãs, foi salvo do pântano em que se afogava, enlouqueceu e foi preso . Cumpriu sua pena por 30 anos e agora volta, fortalecido e determinado a encontrar a mãe de seu herdeiro.


E Zé do Caixão está mais implacável com a humanidade. Vai ter de se acostumar com a nova e nada glamourosa vida. Vilão brasileiro não mora em castelo mal-assombrado. Bruno (Rui Resende), seu fiel servo, construiu o QG em uma favela. É um mundo ainda mais desiludido, cínico e miserável que o vilão encontra.


Muitos não sabem onde acaba o Zé e onde começa o Mojica. As unhas são um bom começo. ‘O Zé jamais cortaria suas unhas. Eu cortei. Depois de anos, estavam tão grandes que minha mão corria o risco de atrofiar’, conta o cineasta, enquanto prova as postiças feitas em resina.


Zé do Caixão não é mais o mesmo? ‘É e não é. Estou adorando ter produtores, estrutura. Mas já avisei que tenho jeito próprio de dirigir. Amanhã, quando começarmos a filmar é que vai ser a hora da verdade.’


De fato, Zé do Caixão nunca esteve tão sofisticado. Mojica, famoso por trabalhar em um esquema único, ganhou até um fiel escudeiro, bem ao estilo do personagem Bruno: o fanático Dennison Ramalho (diretor do curta Amor Só de Mãe). Zé também vai ter um sósia-dublê ‘importado’ dos EUA (o fã Raymond Castille), contará com um exército de figurantes (mais de 300) e terá pela primeira vez produtoras como Olhos de Cão, de O Prisioneiro da Grade de Ferro, que tem à frente Paulo Sacramento, e Gullane Filmes, de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias.


‘Mas faço questão de manter algumas coisas toscas dos filmes anteriores. Efeitos especiais, por exemplo, só nos créditos’, diz Mojica que, no roteiro de Encarnação do Demônio, escrito com Ramalho, fecha a trilogia iniciada em 1964 por À Meia-Noite Levarei sua Alma. O coveiro sádico, que quer garantir a continuação de sua linhagem, em vez de eleger uma só vítima, seqüestra sete jovens.Típicas ‘gostosas’.’Zé, por que nos seus filmes as mulheres têm sempre de ser lindas e aparecem nuas?’, pergunta o Estado, que teve acesso exclusivo a este estranho mundo. ‘Cheguei à conclusão de que se não tem mulher linda sofrendo não tem impacto’, responde o diretor que, nos tempos das vacas magras enveredou pelo terreno do erótico e dirigiu filmes como Mulheres do Sexo Violento. Mas só tem mulher bonita? ‘Não. Tem feia. No purgatório, está cheio.’


Em Encarnação do Demônio , até Iemanjá entra na dança. Ou melhor, no esgoto. ‘Surge de águas fedorentas e literalmente vira do avesso’, conta o cineasta, enquanto acompanha o teste de maquiagem de uma atriz que será mutilada por ele no filme. Sem estragar surpresas, é possível adiantar que a lista de carinhos nas vítimas inclui banhos em tonéis de vísceras, queimaduras, ‘uma mulher estuprada por um rato vivo’, canibalismo. Para tantas atividades recreativas, a equipe precisa de muitos figurantes. A pequena loja dos horrores montada pela equipe na Vila Mariana (o QG é chamado de ‘Projaca’ devido à jaqueira no quintal) já recebeu vários tipos desses que leram os ‘chamados divinos’ da equipe em jornais e sites. ‘Apareceram figuras interessantes, é sempre bom ter opção’, comenta a produtora de elenco Alessandra Tosi, enquanto se diverte com os mascotes do filme: cobras, lagartos, ratos.


Aos 70 anos, o cineasta festejadíssimo no exterior, que levou décadas para ser reconhecido em seu País e recebeu em 2005 a Ordem do Mérito Cultural, prova que terror no Brasil vai além de Delírios de um Anormal. ‘Sem rancor. Fiz as pazes com o Brasil. Se conseguir terminar Encarnação, morro satisfeito.’ Se depender da legião de fiéis Brunos mundo afora, Mojica ainda levará muitas almas ao cinema.’





TV
Cristina Padiglione


Transição abala SBT Brasil


‘Uma tal de ‘transição’ é conversa que tem abalado o humor do Jornalismo do SBT. Uma versão corrente na Anhangüera atesta que Ana Paula Padrão deixaria o expediente diário para comandar uma versão de Fantástico na TV de Silvio Santos, bem nas noites de domingo.


A equipe montada por ela ficaria então com Carlos Nascimento ou iria para o novo programa? Eis o suspense que incomoda a equipe.


Não que seja esta a vontade da âncora. Muito menos a da Redação, mas o descaso da cúpula com o SBT Brasil pode pesar nos passos a seguir.


Agora no ar às 21 horas, bem diante da novela das 9 da Globo, o SBT Brasil tem enfrentado seu pior momento, com 4 pontos no Ibope em São Paulo. Ana Paula preferiria a faixa das 19 h, quando o noticiário ao menos fazia cócegas na audiência da Record.


Mas a direção do SBT alega que o SBT Brasil tem melhores condições de se pagar às 9 da noite, quando os intervalos comerciais são mais caros. Para devolver o noticiário à faixa das 19 h, Silvio quer que o produto abra mão de 30% de seu custo. Quer cortes. Diante do que se propõe, ela resiste em assumir a tarefa de sacrificar a equipe. Resignou-se ao horário das 21 h.


Ao oba-oba promovido há pouco mais de um ano, SS emendou uma série de equívocos com o jornal, não só em função da inconstância de horário, mas também do mau aproveitamento do negócio.


O exemplo mais recente deu-se no primeiro pronunciamento de Lula como presidente reeleito: o SBT foi um dos três veículos da imprensa brasileira selecionados para fazer uma pergunta a Lula, tinha link pronto para entrar ao vivo, mas não se deu ao trabalho de interromper o filme O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel. Globo, Cultura, Gazeta, Band e RedeTV! mostraram ao vivo a pergunta do repórter do SBT.’



Shaonny Takaiama


Band quer financiamento de novelas


‘Durante o lançamento da novela Paixões Proibidas, no Rio, Marcelo Parada, vice-presidente da Band, defendeu o financiamento de novelas pelo BNDES. ‘Assim como o BNDES financia a indústria automobilística e outros ramos da economia, acho importante que a TV também seja vista como um ramo importante e seja passível dessas leis de financiamento.’ E aproveitou para alfinetar a concorrência: ‘Não temos dízimo, vivemos dos nossos próprios recursos.’ De fato.


Mas entre os recursos da Band estão os dividendos do evangélico R.R. Soares, que recolhe dízimo e loca a faixa nobre da Band.’





PINTURA
Tonica Chagas


Dedo de Picasso na pintura dos EUA


‘Vista antes como acadêmica e provinciana, a pintura americana passou por uma transformação fundamental no século 20 e a relação de artistas americanos com a arte de Pablo Picasso está no centro dessa mudança. O dedo do espanhol sempre foi visto apontando o rumo que tomou a produção de Arshile Gorky, Willem de Kooning, Jasper Johns e outros nomes importantes para o desenvolvimento da pintura nos Estados Unidos. Agora essa influência é demonstrada sistematicamente e analisada num livro de 400 páginas e na exposição Picasso and American Art, que o Whitney Museum exibe em Nova York até 28 de janeiro.


O livro e a exposição resultaram de extensa pesquisa feita pelo crítico e escritor Michael FitzGerald, um especialista em Picasso que é professor do Departamento de Belas Artes na Trinity University, em Connecticut. FitzGerald começou esse trabalho depois de organizar Picassoid, uma pequena mostra de desenhos abordando a profunda fascinação de vários artistas americanos por Picasso, exibida no mesmo Whitney em 1995.


A partir dali, ele selecionou nove dos principais pintores americanos do século passado, estudou a carreira deles minuciosamente e recolheu tudo o que pôde de documentação sobre trabalhos do pintor espanhol nos EUA. Dessa forma, FitzGerald demonstra como e quando aqueles nove artistas tiveram acesso a quais obras de Picasso e o que absorveram delas para, então, analisar a relação entre eles.


A seleção dos nove foi determinada pela decisão de focalizar artistas que trabalharam sobre pinturas e esculturas de Picasso antes da morte dele, em 1973, ou seja, que se relacionaram com uma força viva na arte moderna. Em ordem cronológica, os escolhidos foram Max Weber (1881-1961), John Graham (1886-1961), Stuart Davis (1894-1964), Arshile Gorky (1904-1948), Willem de Kooning (1904-1997), David Smith (1906-1965), Jackson Pollock (1912-1956), Roy Lichtenstein (1923-1997), e Jasper Johns, que continua na ativa aos 76 anos de idade.


A exposição no Whitney reúne cerca de 120 trabalhos deles, justapostos a 35 obras de Picasso pertencentes a coleções públicas e particulares americanas, européias e japonesas. Há também algumas obras de outros artistas inspirados por Picasso como Louise Bourgeois, Lee Krasner, Man Ray, Alfred Stieglitz, Claes Oldenburg e Andy Warhol.


Picasso nunca pôs os pés nos EUA. Pela investigação feita por FitzGerald, foi Max Weber, imigrante russo que morava em Nova York, quem provavelmente trouxe a primeira pintura do espanhol para o país, em 1909. Weber passou quatro anos estudando em Paris, onde freqüentou os saraus da escritora americana Gertrude Stein, uma das primeiras fãs de Picasso. Lá ele comprou uma pequena natureza-morta pintada a óleo em 1908, na qual Picasso, influenciado por entalhes africanos, simplifica as formas de um pote de porcelana branca e alguns legumes sobre um canto de mesa. Naquele período, Picasso e Georges Braque estavam dando as primeiras pinceladas no cubismo e Weber foi um dos primeiros americanos a seguir a trilha aberta por eles.


Foi Weber também quem convenceu o fotógrafo Alfred Stieglitz a promover a primeira exposição de Picasso em Nova York, em 1911, na sua galeria, a 291. A mostra era composta apenas por desenhos esquemáticos e de poucas cores, como o carvão sobre papel representando uma mulher nua e em pé, criado em 1910, que o próprio Stieglitz comprou. O fotógrafo admirava tanto o desenho que conseguiu relacionar sua geometria cubista em fotos como Da Janela dos Fundos, 291, de 1915, exibida ao lado dele no Whitney.


Durante a década de 20, obras de Picasso foram vistas nos EUA em algumas exposições coletivas, outras individuais esporádicas e reproduções em preto-e-branco com a qualidade possível dos meios da época. A abertura do Museum of Modern Art (MoMA) em Nova York, em 1929, permitiu que alguns poucos trabalhos dele fossem vistos, ao vivo e em cores, em exibição permanente. A partir daí, a reação dos artistas americanos à originalidade do espanhol chega, em alguns casos, à obsessão.


Foi o que aconteceu, por exemplo, com o imenso (149,9 x 231,2 cm) óleo sobre tela O Estúdio, que Picasso pintou entre 1927 e 1928, o qual entrou para a coleção permanente do MoMA em 1935. Depois de três anos de esforços, em 1936 Gorky veio com o seu Organização, no qual empresta a geometria e a cor brilhante da pintura de Picasso para criar uma composição quase abstrata centralizada numa palheta de pintor. Na segunda metade da década de 30, O Estúdio também foi a base para Graham, De Kooning e Smith se voltarem para o diálogo entre abstração e representação que definiria a arte americana na década seguinte.


De Kooning era mais atraído pelos retratos femininos de Picasso. As Senhoritas de Avignon, de 1907, quadro adquirido pelo MoMA em 1939, foi o ponto de partida para o seu Três Mulheres, produzido por volta de 1948. Embora tenha reduzido as figuras de cinco para três, ele imitou cuidadosamente as posições das prostitutas francesas imortalizadas pelo espanhol. Uma delas reaparece ainda em Mulher e Bicicleta, que De Kooning pintou entre 1952 e 1953.


Pollock criticava De Kooning dizendo que ele não era ‘nada além do que um pintor francês’, mas também não conseguiu escapar da força exercida por Picasso. A complexidade da figura em estilos contrastantes de Moça diante de Espelho, de 1932, foi um exemplo crucial para ele, assimilado e respondido na composição espelhada de duas cabeças abstratas de Imagem Mascarada, criada entre 1938 e 1941. Pollock se refere à mesma Moça em mais dois quadros trazidos para a exposição, Espelho Mágico, de 1941, e Retrato e um Sonho, de 1953.


As mulheres de Picasso fascinaram Lichtenstein durante toda sua vida e cinco dos 11 quadros dele escolhidos para compor Picasso and American Art fazem referência a elas. Quando esteve em Paris como soldado, em 1945, Lichtenstein comprou um portfólio onde havia uma reprodução de Mulher em Cinza, de 1942. Vinte anos depois, ele escolheu aquela reprodução como base de sua primeira variação pop sobre Picasso, reduzindo-a ao mínimo de linhas e cores na sua Mulher de Chapéu. Moça com Bola de Praia III é a soma de dois retratos de Marie-Thérèse Walter pintados por Picasso em 1932, Moça diante de Espelho e Mulher Sentada com Relógio de Pulso, mais as heroínas de revistas em quadrinhos das próprias pinturas de Lichtenstein nos anos 60.


Em Picasso and American Art vê-se como os nove artistas imitaram, contestaram e rejeitaram Picasso enquanto construíam seus estilos, ganhavam projeção e mudavam a arte em seu país. Como afirma FitzGerald, o lugar que ela tem hoje no panorama internacional é um dos maiores legados do maior artista do século 20.’




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