Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Proposta de banir palavras estrangeiras gera críticas

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 4 de janeiro de 2008


ESTRANGEIRISMOS
Nelson Motta


Uma chamada para trás


‘SALVADOR – Conheci uma senhora portuguesa em Nova York que não conseguiu aprender inglês e esqueceu o português. Quando deixava recados, em vez de pedir para retornar ou ‘call me back’, dizia ‘chama-me para trás’. O projeto do deputado Aldo Rebelo que proíbe o uso de palavras estrangeiras também soa como um chamado para trás.


Sob pena de multa, mulheres nacionais não farão mais stripteases, mas excitantes ‘tira-provoca’. Os restaurantes terão dificuldades de explicar em seus cardápios que o ‘soprado de queijo’ é o velho e banido suflê e que o ‘marronzinho’ é o ex-brownie. A Aids terá de ser chamada de Sida sob pena de o doente não receber os remédios. E os lobistas, coitados, como se chamarão?


Ninguém falará mais laptop, que deverá ser chamado de ‘ordenador de colo’, já que computador é americanismo e também está fora da lei, só poderemos falar ordenador -macaqueando os franceses e os espanhóis. Falar em PC só se for o do B: os ordenadores pessoais serão os populares OPs, os programas rodarão no sistema ‘Janelas’. Já os CDs terão que ser chamados de DCs, ‘discos-compactos’.


As lanchonetes terão que mudar de nome. Como se chamarão os sundaes? O milk-shake será ‘leite-chacoalhado’? O afrancesado croquete é fácil, vira ‘cocréte’. Assim como as balas Hall’s são chamadas de ‘Rális’ na Bahia.


Estou preocupadíssimo com os publicitários, que terão que fazer muitos seminários para se adaptar a uma nova e estranha língua. Mas eles são criativos, encontrarão boas expressões nacionais para layout, release, top de linha. Pior para os surfistas, que já não tem um vocabulário muito amplo e ainda serão privados do pouco que têm.


Livre da nefasta influência estrangeira, a nossa língua será pura. Nem nós a entenderemos.’


 


EDUCAÇÃO
Maria Helena Guimarães de Castro, Fernando Leça e Salvador A. Barreneches


Rede Ibero-Americana de Ensino Fundamental


‘ARQUITETO DA unidade européia, o político francês Jean Monnet costumava dizer que o ‘c’ de cultura era mais importante que o ‘c’ de comércio. Adotando essa lógica, resolvemos investir na integração ibero-americana por meio da cultura e da educação.


Integrando propósitos e esforços, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, o Grulac (Grupo de Cônsules da América Latina e do Caribe) e o Memorial da América Latina lançaram, no espaço concebido pelo gênio de Oscar Niemeyer, a Rede Ibero-Americana de Ensino Fundamental.


A rede é formada, de partida, por 32 escolas públicas estaduais paulistas que, em suas denominações, homenageiam todos os países da América Latina e do Caribe. Elas têm nomes como escola República da Bolívia, escola Salvador Allende, entre outros.


As escolas passaram a ser apoiadas pelo Grulac, pelo memorial, pelo Instituto Cervantes, pelo portal Universia e pelo banco Santander, o que permitirá à rede levar a cabo diferentes atividades de cooperação educativa e cultural. Com isso, esperamos fazer de São Paulo referência na matéria.


Essa é uma forma de sinalizar um efetivo apreço pelo ideal integracionista e aproximar, mediante o ensino e o intercâmbio cultural, as crianças que no futuro serão responsáveis pela integração de nossos países.


Dentre os projetos para 2008, além do ensino de espanhol, estão aulas especiais de história e geografia de cada país da região, encontros de dança e música folclórica, comemoração das datas nacionais e do Dia da Integração, o Prêmio Monteiro Lobato de Literatura Infantil e o Torneio Esportivo Cidade de São Paulo, com o apoio da ESPN.


Nos próximos anos, comemoraremos o bicentenário das independências de vários países da América Latina, e as crianças precisam conhecer melhor essa história. Pensando nisso, o Consulado Geral da Venezuela em São Paulo doou às bibliotecas de cada uma das 32 escolas da rede livros em português sobre o libertador Simón Bolívar, que lutou nas independências da Venezuela, da Colômbia, do Equador, da Bolívia e do Peru.


Uma das funções da rede é ajudar as escolas ‘apadrinhadas’ a se prepararem para o ensino do idioma espanhol. A cada consulado cabe apoiar ‘suas escolas’, facilitando o ensino do idioma. Para isso, temos o apoio e a participação da Secretaria da Educação, do Instituto Cervantes e das representações diplomáticas espanholas e portuguesas no Brasil.


Na cerimônia de lançamento da rede, foram doados às escolas 290 computadores pelo banco Santander. Os professores serão capacitados a usá-los pelo portal Universia e pelo Instituto Cervantes. A idéia é fazer os alunos dessas escolas começarem a se comunicar em espanhol com alunos de escolas do país correspondente.


A idéia de uma rede foi semeada anos atrás, na reunião de chefes de Estado e de governo, do Grupo do Rio, celebrada em Santiago (Chile), em outubro de 1993. Dentro do relatório de atividades e mandatos do Grupo do Rio, naquela ocasião, se ressaltou ‘a importância da coordenação entre os diferentes organismos regionais competentes para pôr em funcionamento o referido programa’.


Com esse antecedente, o Grulac -criado em 2006- empreendeu a tarefa de identificar as diferentes instituições docentes do Estado de São Paulo que levam o nome de países latino-americanos, de heróis ou de cidadãos exemplares desses países, com o objetivo de formar a rede ibero-americana.


Uma vez concluída a etapa inicial de identificação e criação de novas escolas, a rede propõe desenvolver programas de trabalho com cada consulado geral e suas correspondentes entidades escolares, assim como definir um programa em comum que permita reforçar as ações em São Paulo.


A Rede Ibero-Americana de Ensino Fundamental de São Paulo se converterá na semente de um projeto maior ao estabelecer que, nos demais países ibero-americanos, iniciativas semelhantes à do Brasil prosperem.


O objetivo será, no futuro, contar com uma rede similar por país que permita, por sua vez, a vinculação com outras redes, formando uma rede ibero-americana de escolas de ensino fundamental articulada em toda a região.


MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO, 61, é secretária estadual da Educação de São Paulo. Foi secretária-executiva do Ministério da Educação (2002) e presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) entre 1995 e 2002. FERNANDO VASCO LEÇA DO NASCIMENTO, 67, advogado, é diretor-presidente da Fundação Memorial da América Latina. Foi chefe da Casa Civil do Estado de São Paulo (governo Mário Covas) e secretário do Emprego e Relações do Trabalho (gestão Alckmin). SALVADOR DE JESUS ARRIOLA BARRENECHES é cônsul-geral do México em São Paulo e presidente do Grulac (Grupo de Cônsules da América Latina e do Caribe).’


 


WOODY ALLEN
Sérgio Rizzo


Poderoso Allen


‘Na primavera de 1971, Eric Lax foi convidado pela revista dominical do ‘The New York Times’ a desenvolver um perfil de Woody Allen, então com 35 anos, autor de duas peças de sucesso na Broadway (‘Don’t Drink the Water’ e ‘Sonhos de um Sedutor’) e diretor de dois filmes (‘Um Assaltante Bem Trapalhão’ e ‘Bananas’).


A entrevista inicial, em Nova York, foi um desastre. ‘Ele parecia desconfortável e tímido, e eu, novato em jornalismo, estava nervoso por falar com alguém cujo trabalho admirava’, recorda Lax. Seis meses depois, eles se reencontraram em Los Angeles durante as filmagens de ‘Sonhos de um Sedutor’.


Em seguida, Lax acompanhou a realização de ‘Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo (Mas Tinha Medo de Perguntar)’. Azar de principiante: quando o perfil estava pronto, a revista ‘Time’ soltou matéria de capa sobre o cineasta, o ‘Times’ derrubou a pauta, e Lax enviou o texto não-publicado a Allen, com um pedido de desculpas pelo tempo perdido.


‘Sinta-se à vontade para passar pela minha sala de montagem quando quiser’, respondeu o cineasta. Desde então, é o que Lax tem feito. Suas entrevistas com Allen durante 36 anos -que deram origem aos livros ‘On Being Funny’ (1975), inédito no Brasil, e ‘Woody Allen’ (1991), da Companhia das Letras- estão reunidas em ‘Conversations with Woody Allen’ (ed. Alfred A. Knopf; US$ 20, cerca de R$ 35, mais taxas, em www.amazon.com; 394 págs.).


Organizadas por temas, as conversas cobrem sua carreira no cinema, além de teatro, música, literatura e filmes de outros cineastas. A seguir, trechos da entrevista que Lax concedeu à Folha, por e-mail, de Los Angeles, onde mora e atua como diretor do clube de escritores International PEN.


FOLHA – Desde 1971, quais as principais mudanças na maneira de Woody Allen encarar os próprios filmes e o cinema?


ERIC LAX – Ele teve o objetivo de se mover entre comédias e filmes dramáticos. Sua maneira de pensar a respeito de seus filmes e do cinema em geral não mudou muito. Ele prefere assistir a dramas do que a comédias, a filmes europeus do que a norte-americanos (em sua maioria) e continua, ano a ano, a realizar os filmes que sente serem aqueles que mais fortemente precisa fazer.


FOLHA – Como avalia seu trabalho recente?


LAX – Com ‘Match Point’ (2005), ele atingiu a meta de realizar um filme dramático que fosse satisfatório tanto para ele quanto para o público. Seus diversos filmes longe de Nova York -três em Londres e, mais recentemente, um em Barcelona- deram outra aparência à sua obra. Ele gosta de trabalhar na Europa porque tem inteira liberdade para fazer o que quer. É agradável vê-lo ali. Depois de tantos filmes, ele usou virtualmente todos os atrativos visuais que Nova York tinha a oferecer.


FOLHA – Ainda o considera um dos principais cineastas norte-americanos em atividade?


LAX – E como. Ele concluiu um filme por ano durante quatro décadas. A amplitude e a alta qualidade de sua obra são impressionantes por qualquer critério de avaliação no qual possamos pensar.


FOLHA – Quais as suas impressões pessoais sobre ele?


LAX – O homem é muito diferente da persona que vemos no cinema, ainda que se vista exatamente da mesma forma e fale daquele jeito. Tem controle total sobre ele mesmo e seu trabalho e sabe muito bem o que quer fazer, ao contrário de seus personagens. É um homem inteligente, em boa parte autodidata, com um amplo leque de interesses literários e filosóficos. Woody fala a respeito de como um artista não pode ser guiado por críticos ou por ninguém mais, mas apenas pela sua própria visão. De um modo cômico, nós o vimos defendendo essa idéia em ‘Tiros na Broadway’, no qual um jovem simpático com grandes aspirações artísticas percebe que não é, em absoluto, um artista.’


 


Novo filme saiu de peça não-encenada


‘No livro de entrevistas ‘Conversations with Woody Allen’, de Eric Lax, o cineasta conta que o argumento do ainda inédito ‘Cassandra’s Dream’ -rodado na Inglaterra, com estréia no Brasil prevista para 1º de maio- foi desenvolvido, a partir de 2001, como peça a ser encenada pelo Atlantic Theater, de Nova York. Mais tarde, concluiu que ‘não poderia mostrar toda a ação no palco’ e optou por levar a história para o cinema. É um ‘drama muito sério e sombrio’, segundo ele, sobre dois irmãos (Colin Farrell e Ewan McGregor) que pedem empréstimo a um tio (Tom Wilkinson) para pagar dívidas e são surpreendidos por ele com a proposta de retribuir o dinheiro com um crime.


Allen já rodou também seu próximo longa-metragem, ‘Vicky Cristina Barcelona’, filmado na Espanha, com Scarlett Johansson (que trabalhou com ele em ‘Match Point’ e ‘Scoop’), Penélope Cruz, Javier Bardem, Rebecca Hall e Patricia Clarkson. Boa parte da equipe técnica foi recrutada na própria Espanha, como o diretor de fotografia basco Javier Aguirresarobe, que assinou ‘Os Outros’, ‘Fale com Ela’, ‘Mar Adentro’ e ‘Sombras de Goya’.’


 


Contos fazem sátira mordaz dos EUA


‘Antes da consagração no cinema, Woody Allen já era reconhecido nos EUA como comediante que se apresentava em clubes noturnos e programas de rádio e TV e também como escritor de contos humorísticos publicados por revistas de prestígio, como ‘The New Yorker’, da qual é colaborador desde 1966.


‘Cuca Fundida’ (1971), ‘Sem Plumas’ (1975) e ‘Que Loucura!’ (1980) trazem seletas preciosas desses textos, agora reforçadas por ‘Fora de Órbita’, que reúne 18 contos de ‘mera anarquia’, como sublinha o título original.


Ainda que seus livros anteriores tragam um humor mais explosivo e iconoclasta, o retorno ao mercado editorial equivale ao que representou o lançamento alvissareiro do filme ‘Match Point’ para sua carreira no cinema: eis o bom e inconfundível Woody Allen, mesmo que não seja o de safra mais notável.


O formato dos contos varia, mas o princípio é o mesmo: submeter o cenário social, cultural e político dos EUA a uma sátira devastadora com referências eruditas. Em alguns casos, notícias de jornal são ponto de partida para tramas insólitas (e trocadilhos que perdem força na tradução).


Em ‘Uma Surpresa Abala o Julgamento de Disney’, Mickey Mouse testemunha em processo movido pelos acionistas do grupo contra o ex-presidente Michael Eisner. ‘Cuidado, Magnatas Caindo’ satiriza produtores de Hollywood; ‘A Rejeição’, milionários de Nova York cujos filhos estudam em escolas de elite; e ‘Assim Comia Zaratustra’, livros de dieta.


O humor de Allen, bendito seja, não tem compromisso com nada.


FORA DE ÓRBITA


Autor: Woody Allen


Editora: Agir


Quanto: R$ 35 (240 págs.)


Avaliação: ótimo’


 


CINEMA
Mônica Bergamo


O filho


‘O cineasta Luiz Carlos Barreto vai estreitar as negociações com produtoras da Espanha e da França em 2008 para rodar o longa ‘Lula, o Filho de Lindu’, sobre o presidente Lula. Precisa captar R$ 7 milhões -’e apenas com empresas privadas’. ‘Não estamos nem cogitando os editais das estatais. Embora a proposta seja algo como ‘2 Filhos de Francisco’, seria impossível tentar esse tipo de patrocínio para um filme sobre o presidente’, diz ele.


TALISMÃ


A produtora de Barreto produzirá só dois longas neste ano. ‘Vamos focar em televisão.’ Na lista de investimentos, está a minissérie ‘Talismã’, com o Canal 13 da Argentina. Os 13 capítulos do projeto custarão, cada um, US$ 300 mil.’


 


Thiago Ney


Você vai gostar desta garota


‘FILMES SOBRE ou para adolescentes parecem ser um filão inesgotável para Hollywood, mas as tentativas de retratar seus personagens dificilmente escapam de estereótipos manjados. Uma espécie rara nesse segmento é ‘Juno’, que estreou no Natal nos EUA, mas que, acredite, será uma das melhores coisas que passarão pelos cinemas em 2008.


Juno MacGuff tem 16 anos, vive numa cidadezinha de Minnesota com seu pai e a madrasta e descobre estar grávida de um amigo do colégio. Em um filme mainstream de Hollywood, esse ponto de partida provavelmente seria desenrolado com olhar condescendente, moralista; num filme de Larry Clark, Juno certamente iria se tornar viciada em heroína e morreria ao tentar fazer um aborto com algum açougueiro… Mas, com um roteiro surpreendentemente simples e eficaz e com uma direção delicada, ‘Juno’ se mostra um filme esperto e apaixonante.


Juno descobre estar grávida. Ela pensa em aborto, mas logo desiste. Decide encarar a gravidez para, depois, doar o bebê para alguém que possa criá-lo. Por meio de um anúncio em uma revista, encontra o casal perfeito, mulher (Jennifer Garner) e marido (Jason Bateman) que vivem numa bela casa.


O pai apóia a decisão da filha, e a madrasta é bem diferente das madrastas que estamos acostumados a ver no cinema…


Interpretada com perfeição por Ellen Page, Juno é inteligente (mas não nerd), é engraçada (mas não estúpida), bonita (mas não perfeita) e freqüenta a escola como uma garota qualquer (não é a mais popular do colégio nem a mais esquisita). O filme ganha ritmo e humor com suas piadas e referências pop (ela adora Stooges e acha que Sonic Youth faz apenas barulho).


‘O que eu gostei em Juno foi o fato de ela parecer muito mais genuína e honesta do que as adolescentes retratadas pelo cinema’, disse Page à revista ‘Paste’, que classificou ‘Juno’ como o melhor filme de 2007.


Dirigido por Jason Reitman, que é não apenas filho do Ivan Reitman (o cara que nos deu ‘Os Caça-Fantasmas’) mas responsável pelo cáustico ‘Obrigado por Fumar’, ‘Juno’ transita sem atropelar os clichês típicos do gênero e sem apelar para nenhuma curva mais arriscada em seu roteiro.


A história, aliás, é de Diablo Cody, uma escritora que costumava escrever uma coluna de comportamento em um jornal de Minneapolis.


‘Juno’ é seu primeiro roteiro para um longa, e ela já foi escalada para trabalhar em ‘The United States of Tara’, uma série televisiva estrelada por Toni Collette e que está sendo produzida por Steven Spielberg.


Por onde passou, ‘Juno’ foi bem recebido, como nos festivais de Toronto e Roma, o que ajudou a produção a abocanhar três indicações para o próximo Globo de Ouro, cuja cerimônia acontece em 13 de janeiro: para Ellen Page (melhor atriz em comédia/musical); para melhor filme (comédia/ musical); e para Diablo Cody (roteiro).


Juno passará pelos cinemas do Brasil a partir do início de fevereiro. Não deixe de conhecê-la.’


 


Cássio Starling Carlos


Diretora cria melodrama à la Dogma


‘O melodrama é um dos gêneros mais resistentes da história do cinema. As comédias já tiveram altos e baixos, os musicais e os filmes de gângsteres ficaram no passado. Já as histórias de vidas partidas, movidas a sentimentos frágeis e intensos, continuam a ocupar lugar essencial no jogo de sedução de platéias.


O tema da solidão feminina, seja por morte ou por abandono, é um manancial do melodrama e uma oportunidade para atrizes desde os tempos de Griffith até os mais recentes de Almodóvar. É disso que se nutre ‘Coisas que Perdemos pelo Caminho’, estréia da diretora dinamarquesa Susanne Bier em território hollywoodiano, depois de ter se tornado reconhecida como uma das praticantes dos cânones de despojamento do Dogma 95.


A função da diretora fica evidente no tratamento desdramatizado que dá a uma situação emocional demais: com a perda do companheiro, uma mulher enfrenta a realidade de criar sozinha dois filhos pequenos e encontra forças na presença de um amigo do marido, um viciado em heroína que se esforça para abandonar a dependência.


A viúva é encarnada por Halle Berry, num papel que devolve sua fulgurância, apagada desde o Oscar por ‘A Última Ceia’. Ao seu lado, Benicio Del Toro faz o viciado, que serve de outro suporte da estrutura do melodrama, com sua história de decadência e redenção.


Do encontro dessas duas forças, a diretora dinamarquesa explora as vantagens e os tiques desenvolvidos nos filmes do Dogma, com a câmera predominantemente na mão como signo de ‘realismo’, o esvaziamento emocional do ápice dramático por meio de uma apresentação não-linear dos fatos logo no início do filme e um trabalho de atores mais físico e menos psicológico que o habitual no cinema americano.


COISAS QUE PERDEMOS PELO CAMINHO


Direção: Susanne Bier


Produção: Reino Unido/ EUA, 2007


Com: Halle Berry, Benicio Del Toro e David Duchovny


Onde: estréia hoje nos cines Bristol, UOL Lumière, Villa-Lobos e circuito


Avaliação: regular’


 


Folha de S. Paulo


Sean Penn será presidente do júri de Cannes


‘O ator americano Sean Penn será o presidente do júri do 61º Festival de Cannes, que acontece de 14 a 25 de maio. Ele aceitou o convite de Gilles Jacob e Thierry Frémaux e afirmou que ‘Cannes é o epicentro mundial da descoberta dos novos diretores’. Penn recebeu o prêmio de melhor ator no festival em 2004, pela atuação no filme ‘Sobre Meninos e Lobos’, de Clint Eastwood.’


 


Roteiristas protestarão no Globo de Ouro


‘O Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos, em greve há dois meses, informou ontem que fará um protesto durante a entrega do Globo de Ouro, no dia 13 de janeiro, em Beverly Hills. Temendo a repercussão, muitos dos convidados disseram que não irão à cerimônia caso os grevistas estejam lá. Os trabalhadores reivindicam participação nas vendas em DVDs e downloads.’


 


Curta de Buñuel será exibido em Berlim


‘Uma versão restaurada de ‘Um Cão Andaluz’ (1929), curta-metragem de estréia do premiado cineasta espanhol Luis Buñuel, será exibida no Festival de Berlim, que acontece entre 7 e 17 de fevereiro. Serão quatro exibições do curta, ícone do cinema surrealista e escrito em parceria com Salvador Dalí. Três delas serão acompanhadas pelo grupo de músicos espanhóis BCN216.’


 


MERCADO EDITORIAL
Eduardo Simões


Grupo Ediouro compra a editora carioca Desiderata


‘Depois de cerca de sete meses de negociação, segundo apurou a Folha, o grupo Ediouro divulgou ontem à tarde a compra da editora carioca Desiderata. Sem revelar valores, o comunicado apenas ressaltou o ‘prazer’ do grupo de adquirir a editora ‘criada no Rio de Janeiro há quatro anos pela jornalista Martha Mamede Batalha’, que se tornou ‘sinônimo do melhor do humor brasileiro’ publicando autores como Millôr Fernandes, Ivan Lessa, Reinaldo, Alan Sieber e André Dahmer.


O anúncio destacou ainda que o catálogo da Desiderata inclui títulos de sucesso, como as antologias do ‘Pasquim’, e que Martha Batalha permanece na direção.


Criada em 1961, e agora com 15 editoras, a Ediouro é o grupo editorial que mais vem crescendo no país nos últimos anos (ao lado da Record, composto de oito editoras). Em junho de 2005, a Ediouro havia comprado 50% da Nova Fronteira, negociando a metade restante em março do ano passado.


Outras aquisições recentes incluem a Geração Editorial (agosto de 2006), a associação com a Thomas Nelson (janeiro de 2007), gigante americana de auto-ajuda, e um contrato com a Nova Aguilar (junho de 2007), que prevê a prioridade na sua compra após três anos.’


 


MÚSICA
Márvio dos Anjos


Caixa de DVDs revela medos e ambições dos Stones no Rio


‘Quando se fala de Rolling Stones nos dias de hoje, é comum ver gente falando de uma banda/empresa gananciosa, que não soube o momento de parar, movida pela vontade de fama e dinheiro do líder, Mick Jagger. Há no mínimo 20 anos, toda vez que surge um lançamento da ‘Stones Ltda.’, a dúvida é se ainda há rock’n’roll ali.


Desta vez, o pretexto é a segunda caixa de quatro DVDs que a banda lança neste século. ‘The Biggest Bang’ documenta a última turnê dos ingleses, com o enorme show da praia de Copacabana, em 2006.


A extravagância domina o segundo disco e boa parte do documentário do quarto. No primeiro, está registrado um concerto no Texas; no terceiro, trechos de shows no Japão, o primeiro show da história do grupo na China e um show na Argentina -que a banda reconhece como o público mais insano que viu. É, amigo…


Copacabana é o momento em que os Stones mostram mais medo. Jagger manifesta preocupação em relação ao interesse do público; chega a duvidar de que o público possa chegar a 1 milhão. Bom empresário, ele já sabia que estava em jogo a reputação deste DVD, que mostra seu recorde de público -no Rio, 1,2 milhão-, o avanço sobre a China e a conquista do Oeste americano.


O gigantismo da empreitada carioca é o que mais deixou os Stones apreensivos. Copacabana demandou alterações no palco, telões e alto-falantes. É quando se repara que ainda há espaço na banda para temor de ver tudo dar errado.


Documentário


O mais divertido é o documentário dedicado especialmente a Copacabana, no segundo disco. A equipe de montagem de palco simplesmente aceita que os operários brasileiros trabalhem num ritmo ‘mais lento’ que de costume. Muitos deles causados pelo hábito de virar o pescoço para ver alguma bela forma feminina.


Copacabana é o material mais intenso do pacote. Ainda que a banda demore a se situar em cena, o show é empolgante, com imagens eficientes e lindas tomadas aéreas. Lamenta-se apenas o repertório óbvio.


É verdade que o concerto não está por inteiro, o que certamente obriga o telespectador a assistir aos outros shows, em que há algumas músicas a mais. O bônus de Copacabana é o cover de ‘Night Time Is the Right Time’, de Ray Charles.


Enfim, encerrar as discussões a respeito da ganância de Jagger será impossível. Mas, ao ver o frontman que ele é, cantando a obra que canta ao lado de Keith Richards, a figura que mais encarnou o rock desde que o gênero surgiu -irônico, descomprometido, debochado e genial-, é de se pensar que esse será o único debate a ser sustentado. Porque, em todos os outros, os ‘Stones Ltda.’ continuam ganhando de lavada.


THE BIGGEST BAND


Artista: Rolling Stones


Gravadora: Universal


Quanto: R$ 170, em média


Avaliação: bom’


 


Raquel Cozer


Cultura revê vida e obra de Baden Powell


‘Vinte anos se passaram entre o dia em que um Baden Powell de calças curtas virou pupilo do célebre chorão Meira e a noite na qual, já renomado, deixou Vinicius de Moraes enciumado ao compor um samba com outro parceiro no bar Veloso (RJ).


Naquela segunda ocasião, como lembra Paulo César Pinheiro (o tal outro parceiro; o samba era ‘Lapinha’) no ‘Mosaicos’ que a Cultura exibe hoje, o maior violonista do país contava com apenas 26 anos e já ostentava o status de veterano. A precocidade (inclusive na fama) do gênio franzino e o virtuosismo de quem fazia a mão direita soar no violão como se fosse duas não impediram que, até morrer, em 2000, aos 63, ele abdicasse de várias de suas horas diárias de boemia para se dedicar aos estudos.


Os traços do estilo aparecem aqui e ali nos depoimentos que servem à colagem de imagens de arquivo da emissora. Estas incluem Baden com Pixinguinha em cena de ‘Saravah’ (1972), de Pierre Barouh, e com Vinicius, Tom Jobim, Miúcha e Toquinho no histórico show de 1979 no Olympia, em Paris.


A prolífica parceria com Vinicius obviamente está lá, em ‘Berimbau’, ‘Samba em Prelúdio’ etc., dividindo espaço com o alvo do ciúme do poetinha, Paulo César Pinheiro, com quem Baden Powell compôs, entre outras, ‘Vou Deitar e Rolar (Quaquaraquaquá)’ e ‘Refém da Solidão’.


MOSAICOS – A ARTE DE BADEN POWELL


Quando: hoje, às 21h


Onde: TV Cultura’


 


TELEVISÃO
Laura Mattos


Globo tenta classificar ‘BBB’ para horário livre, mas muda para 22h


‘A Globo informou ao Ministério da Justiça que iria classificar o ‘Big Brother 8’, que estréia na próxima terça, para horário livre, ou seja, programa liberado para qualquer idade.


A solicitação chegou ao conhecimento de defensores dos direitos da criança e adolescentes e gerou mal-estar. A avaliação era de que a emissora, apesar de exibir o programa, no horário de Brasília, após as 22h (para maiores de 16 anos), queria evitar problemas a partir da próxima quarta, quando será obrigada pelo governo a respeitar os diferentes fusos do país -no Acre e em parte do Amazonas, por exemplo, o ‘BBB’ entra às 19h, horário livre.


Antes que se iniciasse uma mobilização, a própria Globo enviou ao Ministério da Justiça a classificação para 16 anos, afirmando ter se equivocado com a primeira solicitação.


De acordo com a nova portaria de classificação da TV, de 2007, as TV são responsáveis por classificar seus programas, e o ministério pode reclassificar se considerar inadequada.


A classificação para as 22h interfere em uma das principais novidades desta edição do ‘BBB’, que é o maior número de edições ao vivo. Para parecer mais ágil, o programa só será gravado às quartas. Mas, se não houver mudanças na nova portaria até quarta-feira, o reality não poderá ser veiculado ao vivo em grande parte do país.


No Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste, as emissoras podem ter de gravar a programação e exibi-la com atraso.


Rubéola


A Globo divulgou anteontem a lista dos 14 participantes do ‘BBB 8’.


A exemplo de edições anteriores, os corpos são ‘sarados’, e boa parte das mulheres já participou de ensaios sensuais.


Ontem, o professor de educação física Gustavo, 23, de Goiânia, foi eliminado por estar com rubéola. O administrador de empresas Gregor, de Araraquara (SP), entrou em seu lugar. Todos estão confinados.’


 


Governo libera TVs de respeitar horário de verão


‘O Ministério da Justiça decidiu ontem que as TVs não serão obrigadas a mudar a programação de acordo com o horário de verão. A partir de quarta, terão de respeitar os fusos. Novela das 21h, por exemplo, não pode ir ao ar mais cedo em Estados com uma ou duas horas a menos que a de Brasília. Mas neste ano o horário de verão fica fora da conta. A Globo disse ontem que exibirá toda a programação gravada com um hora ou duas horas de atraso dependendo da região.’


 


OPERAÇÃO CONDOR
Carlos Heitor Cony


Um pouco da Operação Condor


‘NA ITÁLIA , um juiz fez a Operação Condor voltar ao noticiário. Para quem acompanhou a série de reportagens do jornalista José Mitchell, no ‘Jornal do Brasil’, em 2000, nada de novo está sendo revelado agora. Os militares brasileiros citados pelo magistrado italiano, em diferentes graus de responsabilidade, haviam sido arrolados entre as autoridades que de uma forma ou outra tiveram participação na ‘limpeza do terreno’ feita pela operação em países do Cone Sul que estavam sob ditaduras de direita: Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai.


Situa-se o nascimento da Operação Condor em 28 de agosto de 1975, embora a gestação tenha começado nove meses antes, mas não de forma orgânica: foram movimentos isolados, de grupos autônomos, atiradores livres que se anteciparam ao mecanismo oficial das ditaduras e iniciaram o expurgo de elementos que ameaçavam a paz dos regimes totalitários naquela parte da América do Sul.


Naquela data (28 de agosto de 1975), o coronel Manuel Contreras Sepúlveda, chefe da Direção da Inteligência Nacional do Chile (Dina), subordinada à Presidência da República ocupada pelo general Augusto Pinochet, enviou ao general João Baptista de Oliveira Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações do Brasil (SNI) um ofício confidencial que pode ser considerado a certidão de nascimento da Operação Condor.


‘Distinguido Senhor General, Recebi seu informe de 21 de agosto de 1975 e agradeço a oportuna e precisa informação, expressando minha satisfação por sua colaboração que devemos estreitar ainda mais. Em resposta, cumpre-me comunicar-lhe o seguinte: 1) Compartilho sua preocupação com o possível triunfo do Partido Democrático americano nas próximas eleições presidenciais. Também temos conhecimento do reiterado apoio dos democratas a Kubitschek e Letelier que no futuro poderia influenciar seriamente a estabilidade do Cone Sul do nosso hemisfério; 2) O plano proposto pelo senhor para coordenar nossa ação contra certas autoridades eclesiásticas e conhecidos políticos social-democráticos e democratas cristãos da América Latina e da Europa conta com o nosso decidido apoio.’


O ofício contém mais dois parágrafos pontuais da situação que Contreras e Figueiredo temiam: ‘À medida que for nos chegando a informação relativa à atividade política dos liberados e suas eventuais ligações com os exilados brasileiros, logo lhe transmitiremos.’


Onze meses depois, a 22 de agosto de 1976, num acidente da estrada Rio-São Paulo, morria Juscelino Kubitschek, um dos citados por Manuel Contreras no ofício a João Figueiredo. E um mês depois, a 21 de setembro do mesmo ano, em Washington, morria num atentado a bomba Orlando Letelier, que fez parte do governo de Salvador Allende, deposto pelo golpe militar de Pinochet. Tal como Kubitschek, fora também citado no ofício do chefe do Dina para o chefe do SNI.


O atentado de Washington foi apurado pelo FBI e incriminou o coronel Contreras, que cumpre pena de prisão perpétua no Chile.


A Operação Condor não foi mencionada entre as hipóteses que cercaram a morte de JK e Letelier. Tampouco foi lembrada em outros episódios da mesma época, como as mortes seguidas, do ex-presidente João Goulart, em dezembro de 1976, e do ex-governador Carlos Lacerda, em maio de 1977.


Quanto a Goulart, foi pedida mais tarde a exumação de seu corpo pelo juiz Juan Espinoza, do tribunal argentino de Curuzu Guatiá. O governo brasileiro mandou emissários para conversar com as autoridades argentinas, e a exumação não se realizou.


O eixo formado pela Dina e SNI deu apenas cobertura política e policial para a Operação Condor, que tratou de limpar o terreno horizontalmente, caçando o que se poderia classificar de ‘baixo clero’ da contestação aos regimes militares do Cone Sul.


Mas a limpeza, no sentido vertical (JK? Jango? Lacerda?), incluiu certamente o general Carlos Prats, ex-comandante-em-chefe do Exército chileno ao tempo de Allende, vítima de uma bomba que o matou em Buenos Aires. Em igual contexto, foram mortos no Uruguai o senador Zelmar Michelini e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Héctor Gutiérrez, suspeitos de envolvimento com os tupamaros.’


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 4 de janeiro de 2008


TV BRASIL
O Estado de S. Paulo


A TV pública e os esportes


‘Se havia dúvidas com relação ao risco de utilização política da Empresa Brasil de Comunicação, elas foram desfeitas com as recentes declarações do relator da Medida Provisória (MP) 398, que autoriza sua criação, deputado Wagner Pinheiro (PT-BA). Entre as medidas que ele pretende incluir em seu parecer, uma obriga as emissoras privadas de televisão a ceder – sem nenhum custo – à TV Brasil, que é vinculada à Secretaria de Comunicação Social e está no ar desde 2 de dezembro, os direitos de transmissão de eventos de que participem equipes esportivas representando o País cuja exclusividade tenham comprado, mas não queiram exibir.


Segundo Pinheiro, essa medida tem por objetivo impedir uma prática bastante comum nas principais emissoras brasileiras. Em grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo, a Taça Libertadores e os campeonatos mundiais de vôlei e basquete, as maiores redes do País compram os direitos de transmissão de todos os jogos apenas para impedir que as redes concorrentes o façam, prevenindo-se assim contra eventual perda de audiência. Pela proposta do relator, quando a emissora não quiser levar ao ar o jogo cujos direitos de transmissão comprou, ele será transmitido pela TV Brasil. E, se não quiser ceder os direitos, será obrigada a fazer a transmissão.


‘Transmissão esportiva é um drama no Brasil. Os caras compram os campeonatos e não passam. Compram para boicote deles, mas têm de entregar para o público ver’, diz Pinheiro. Além do ‘confisco’ de eventos esportivos, o relator pretende obrigar as emissoras privadas a incluir a TV Brasil em seus pacotes de TV a cabo e estabelecer limites mais rígidos para os patrocínios culturais, sob a justificativa de evitar o que classifica como forma disfarçada de publicidade comercial. ‘Uma coisa é colocar ‘apoio cultural da Caixa Econômica Federal’; outra coisa é dizer ‘apoio da Caixa Econômica Federal, onde suas aplicações rendem mais’. Isso é anúncio’, conclui.


Para aumentar os recursos da TV Brasil e assegurar autonomia financeira, o relator também quer incluir em seu parecer o repasse automático de parte do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) para o caixa da Empresa Brasileira de Comunicação. E pretende ainda criar o cargo de ‘ouvidor’ da TV pública, assegurando-lhe o direito de contar com alguns minutos diários na programação da TV Brasil.


A maioria dessas medidas configura uma ilegítima tentativa de interferência no âmbito da iniciativa privada em matéria de comunicação de massa, e deixa claro o enviesamento político e ideológico que está por trás da criação de uma televisão pública no País. O relator do projeto de criação da TV Brasil, por exemplo, age como se ignorasse que quase todos os grandes eventos esportivos internacionais resultam de investimentos cuidadosamente planejados por empresas das mais variadas áreas e setores. Ou seja, são empreendimentos cujo faturamento tem de cobrir custos de produção e remunerar acionistas. O mesmo acontece com as TVs a cabo. Também são empreendimentos privados, motivo pelo qual não faz sentido a pretensão de que ‘carreguem’ a programação da TV pública.


Em boa hora a oposição começa a se mobilizar para rejeitar a MP 398. ‘Essa MP cria muita desconfiança. Já tentaram controlar os jornalistas, a produção de cinema e, agora, criam uma televisão pública por medida provisória. Qual é a urgência? Por que não um projeto de lei para ser debatido’, diz o líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Carlos Pannunzio. ‘É o tipo de gasto supérfluo, ao lado da criação de milhares de novos cargos’, afirma o líder do Democratas no Senado, José Agripino. Os dois partidos já entraram com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, alegando que não há nem urgência nem relevância que justifique a criação da TV Brasil por medida provisória.


Em diversas ocasiões, o presidente Lula afirmou que a TV Brasil não seria ‘chapa branca’ nem seria utilizada para proselitismo político e partidário. O enviesamento ideológico das propostas que o relator da MP 398 pretende nela incluir com apoio da base governista, contudo, não leva em consideração as palavras de Lula.’


 


ARTE
Jotabê Medeiros


Intelectuais pedem na web estatização do Masp


‘Lançado anteontem, o site SOS Masp, criado com a intenção de pedir a intervenção estatal no Museu de Arte de São Paulo, já conta com a adesão de 358 intelectuais, artistas, curadores, museólogos, acadêmicos e simpatizantes. Entre eles, estão os artistas Nuno Ramos, Alex Flemming, Paulo Pasta e Rosângela Rennó, a atriz Eva Wilma, o cineasta João Moreira Salles, o sociólogo Francisco de Oliveira, o curador João Cândido Portinari (filho de Cândido Portinari, cuja obra O Lavrador de Café foi furtada do museu no dia 20) e José Eduardo de Assis Lefèvre, presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp).


Todos são signatários de documento firmado em 24 de dezembro, que preconiza a transferência da gestão do museu para a administração pública – ou Prefeitura, ou Estado ou governo federal. O site pode ser acessado pelo seguinte endereço: www.sosmasp.com.br


‘Há algo no ar há muito tempo sobre essa administração, que não é muito boa’, disse o sociólogo Francisco de Oliveira, signatário do manifesto.


O Masp teve duas obras de arte, O Retrato de Suzanne Bloch, de Picasso, e O Lavrador de Café, de Portinari, roubadas do segundo andar de seu edifício na madrugada do dia 20. A situação precária de segurança (não havia alarmes nem sensores, e os seguranças eram monitores de público sem treinamento adequado) levou o Ministério Público Estadual a iniciar uma investigação. Anteontem, foram recolhidos documentos contábeis no museu. E ontem, o promotor Roberto Porto, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) disse que o resultado das investigações criminais servirá de base para uma decisão do MP sobre o caso – é possível a abertura de uma ação civil pública pedindo intervenção.


Após 18 dias fechado, o Masp será reaberto na terça-feira, às 11 horas. Dois dias, depois o museu será palco de sua primeira vernissage em 2008: abre-se para convidados a mostra Tatsumi Orimoto, retrospectiva do artista contemporâneo japonês que reúne mil fotografias, 160 desenhos inéditos e 10 vídeos. A mostra vai ocupar o 1º e o 2º subsolos do edifício da Paulista.


Outra mostra, que abre na sexta-feira, é a exposição de fotografias espanholas Caçadores de Sombras. São 92 fotos de 16 artistas que mostram paisagens, faces, objetos, edificações e cenas cotidianas. Vai ocupar o 1º andar do prédio e é resultado de uma parceria entre o Masp e a Sociedad Estatal para la Acción Cultural Exterior (Seacex), com colaboração do Ministério de Assuntos Exteriores, do Ministério de Cultura e da Embaixada da Espanha.


Em agosto, está prevista a chegada da mostra Tesouros da Terra Santa – De 3.000 a.C. a 2.000 a.C, uma exposição de objetos históricos vindos do Museu Nacional de Israel. Uma das exposições em negociação para 2009 terá peças do Museu Reina Sofia, de Madri, Espanha. Curiosamente, é um dos museus que mais gasta com segurança na Europa. Segundo dados do Instituto Catalão de Indústrias Culturais e do Ministério da Cultura da Espanha, o Reina Sofia investe cerca de 2 milhões anuais com segurança (cerca de R$ 5 milhões).’


 


FUTEBOL
Eduardo Maluf


Na contramão das celebridades


‘Kaká deixou de ir a uma festa badalada, na noite de 31, para passar a virada do ano na igreja. O caso ganhou repercussão mundial. E causa surpresa em muita gente. Foi eleito melhor jogador de 2007 – em todas as eleições -, campeão europeu, campeão mundial, é milionário e famoso. O craque é celebridade internacional. Mas leva vida simples, bem mais simples que as de astros de seu calibre.


Sua renda anual de cerca de 12 milhões, entre salário e contratos de publicidade, poderia lhe comprar mansão como a de Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno ou até de estrelas de Hollywood, como George Clooney e Julia Roberts. O meia do Milan prefere, no entanto, a discrição. Discrição de quem mora num bom apartamento, mas sem extravagância. De quem trata bem as fãs, mas recusa seus convites, por mais atraentes que sejam fisicamente. De quem não troca uma boa festa de família por concorridos encontros de famosos.


Kaká é o ídolo número 1 do Milan – adorado por Silvio Berlusconi – e tem o maior salário do elenco (aproximadamente 9 milhões). Poderia viver numa suntuosa casa em Milão. Mas, após o casamento com a estudante Caroline Celico, em dezembro de 2005, resolveu mudar-se para um apartamento de classe média alta na cidade italiana, com três dormitórios, uma sala ampla, tevês de LCD, num bairro valorizado. Não quis uma supercasa, como a de boa parte de seus ricos colegas. Costuma dizer a pessoas próximas que não precisa mais do que isso. Vive bem, confortavelmente, de forma discreta. Não sai gastando US$ 100 mil em relógios. Não faz investimentos como o amigo Roberto Carlos, que bancou grupo musical na Europa e patrocina uma equipe de Stock Car no Brasil.


Seus pais, Bosco e Simone, e o irmão, Digão, também moram na Itália, no apartamento cedido pelo Milan ao jogador, na assinatura do contrato, em 2003. A família não se separa. Todos foram com o craque, em dezembro, à premiação da France Football, em Paris, à festa da Fifa, em Zurique, e ao Mundial de Clubes, no Japão. ‘Sempre o acompanhamos’, conta, orgulhoso, Bosco, que divide as funções de pai e empresário.


Kaká recebe as mais variadas propostas das fãs. Recentemente, uma delas lhe pediu ‘uma noite, só uma noite, e mais nada’. Ele não vacilou para dizer ‘não’, contou um amigo. ‘Não sei se é um defeito ou uma virtude, mas sou fiel’, afirmou Kaká à garota. Ele diz ter se casado virgem.


O casamento vai bem. Nas folgas, o craque não se separa da mulher. Caroline é parecida, também freqüenta a Igreja Renascer e não gosta de baladas – é diferente da mãe, Rosângela Lyra, diretora da Christian Dior no Brasil. O programa predileto dos dois é ir a restaurantes, cinema e shopping.


O ano novo promete mais conquistas. O casal terá o primeiro filho (um menino) no primeiro semestre. E Kaká, cada vez mais famoso e assediado pelo mundo da publicidade, vai certamente receber novas ofertas de grandes empresas – já é garoto-propaganda da Gillette, da Adidas e da Armani – e engordar ainda mais a conta bancária.’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Johnny com Johnny


‘É num bar do Baixo Gávea, no Rio, onde se encontram, à tarde, Johnny e Johnny, isto é, João Guilherme Estrella e Selton Mello, que o interpreta no filme Meu Nome Não É Johnny, de Mauro Lima, estréia de hoje em salas de todo o Brasil. Meu Nome Não É Johnny não foi feito com esta intenção, mas bem pode ser a resposta da classe média a Tropa de Elite, de José Padilha, onde ela foi acusada de patrocinar o tráfico. ‘Chama o Capitão Nascimento’ foi o bordão de 2007. O quadro histórico agora é outro. A própria figura do traficante de Meu Nome Não É Johnny é outra. Nada de arma na mão. João, que faz questão de dizer que seu nome não é Johnny, trafica e consome, mas sua quadrilha é de um homem só. Outros tempos. Bons tempos?


João Estrella, hoje produtor musical, preparando-se para lançar o primeiro CD neste começo de ano, viveu a vida do filme – uma vida que parece mesmo de cinema. Ele forneceu o pó que movimentou as noites agitadas do Rio, nos anos 90. Viveu extravagantemente, como um rei, drogas, mulheres, rock’n’roll, jóias, viagens à Europa. João foi preso e, se não fosse a juíza Marilena Soares (interpretada por Cássia Kiss), que o considerou viciado, não chefe de quadrilha, o desfecho dessa história seria outro. João foi preso, mas sobreviveu ao manicômio judiciário. Hoje, limpo, ele dá conselhos aos jovens para que não sigam seu exemplo. Isso já o fez ouvir críticas como: ‘Qual é, cara? Você curtiu pra caramba e agora vem dizer que a gente não siga seu exemplo?’


Selton Mello também já ouviu sua cota de críticas. ‘Muita gente acha que eu pego leve com o João, que faço o personagem sedutor, que transformo a experiência dele numa coisa divertida. Estou metido numa encrenca’, diz Selton. A encrenca, para ele, começou quando deu uma entrevista, no Festival de Búzios, por ocasião do lançamento de Meu Nome Não É Johnny, admitindo que já experimentara drogas. O mundo caiu em cima de Selton. Ele agora mede mais as palavras. Para o ator, a história de João Estrella tinha de ser contada. O próprio João sentiu essa necessidade, num determinado momento. O livro sobre ele, escrito por Guilherme Fiúza, foi como uma viagem a um período turbulento. Deu seu depoimento ao escritor de forma descontraída, exatamente como ele é. O peso veio depois, quando leu o livro e reviveu toda aquela euforia e aquele horror.


João não quis se envolver no filme, quase não foi ao set. Na única cena em que foi, teve um choque. ‘Foi a cena da prisão, todos aqueles carros de polícia, o Selton algemado. Era como se eu estivesse me revendo naquela situação. Foi barra.’ Selton não pensou muito no que o personagem poderia trazer para sua carreira. Não é assim que ele trabalha. O que o atraiu foi a complexidade do personagem, de Johnny. Existem todas essas cenas que talvez pareçam glamourosas, mas depois virá o reverso. O que o tocou foi a dimensão humana, familiar. A relação de João Estrella com o pai, a mãe. No filme, ela é interpretada por Júlia Lemmertz. Toma um choque ao ver o filho sendo denunciado como traficante na televisão. A mãe de João não gosta de dar entrevistas. O filho conta que ela reconhece o valor social do livro, como documento e alerta, mas a experiência foi (e ainda é) muito dura. Ela ‘quase’ não foi ver o filme. Quando finalmente o assistiu, não agüentou e saiu no meio.


Algumas das melhores cenas referem-se à ruptura de João com a mulher, interpretada por Cléo Pires. Sofia vai visitá-lo na prisão, diz a João que está tudo acabado entre eles e mais tarde ele a reencontra, casada e mãe. A cena é filmada de longe, o que de alguma forma aumenta a emoção. O espectador fica livre para criar, no seu imaginário, o que pode ter sido o diálogo entre duas pessoas que se amaram e se necessitaram tanto, e agora são como dois estranhos. O grande barato de Meu Nome Não É Johnny, para o ator como para o personagem, é levantar a discussão sobre usuários que terminam virando traficantes para pagar o próprio vício. ‘Tudo começa muitas vezes como simples brincadeira. Daqui a pouco, o jovem começa a pensar que, se vender, sei lá, cinco balas (de ecstasy), vai poder bancar a própria necessidade’, diz Selton. ‘A juventude hoje, ao contrário do João, consome drogas sintéticas, que são tanto ou mais perigosas do que a cocaína. O filme pode contribuir para chamar a atenção dos pais – veja se seu filho não está tomando muitas balas. Tem esse valor de advertência, mas é uma ficção, não é um documentário, não é a coisa real, vivida e isso me permitiu ser leve, bem-humorado, mesmo que o assunto seja barra-pesada.’ Selton sabe que Meu Nome Não É Johnny poderá provocar o debate contrário a Tropa de Elite, mas acha a discussão oportuna e estimulante. ‘Nossa idéia não foi fazer um filme chato, mas a história do João é edificante em si. Tudo o que ele passou, o que superou. Ele pode ser um exemplo.’


Maneiro – foi o que João pensou quando soube que Selton Mello seria o intérprete de seu papel em Meu Nome Não É Johnny. Do outro lado, Selton comenta seu primeiro personagem real. ‘Ah, é diferente fazer alguém que está vivo, que você pode encontrar, que não é uma ficção da cabeça de diretores e roteiristas. Como o João não é tão conhecido, eu não tinha a responsabilidade do Daniel de Oliveira, quando fez o Cazuza, que todo mundo conhecia e podia cobrar. Eu tive liberdade para criar o meu João, mas vou dizer uma coisa. Aonde eu chegava e dizia que ia fazer um filme sobre o João, todo mundo sabia, todo mundo conhecia. Ouvi muita gente dizer que consumiu o pó do João. Se eu o fiz simpático, desculpem, mas é assim. João é articulado, é brilhante, mas ele pagou um preço e o filme deixa isso bem claro.’


O próprio João comenta esse ‘preço’. ‘Quando me lembro da experiência no manicômio… Cara, foi psicologicamente terrível. Acho que o livro e o filme podem fazer pensar neste inferno. Antes de ser bandido, eu, como qualquer pessoa envolvida no tráfico, na contravenção, fui criança, tive meus sonhos, que, na verdade, só agora, aos 43 anos, estou realizando. É muito duro pra gente, pra família. Se não fosse a juíza Marilena, não sei se minha história teria tido volta. Gostaria que as pessoas pensassem nisso, e os demais juízes, também.’ O novo João Estrella – este cara cujo nome ‘não é Johnny’ – lança em janeiro seu CD. ‘Vai ter composições próprias e é produzido por Kadu Menezes, que toca bateria no Kid Abelha. Tem participações do baixista Rodrigo Santos (do Barão Vermelho)e do guitarrista Sérgio Serra (Ultraje a Rigor). O som é pop, tipo Capital Inicial e Jota Quest, e o título será Para Onde Se Vai?, como uma das músicas do filme.’’


 


Luiz Zanin Oricchio


Johnny, sem tempo para pensar


‘O ano cinematográfico brasileiro começa com uma carta forte e, em plenas férias de verão, lança um filme para o público adulto. De certa forma, Meu Nome Não É Johnny pode ser visto como continuidade da discussão aberta por Tropa de Elite no ano passado. Neste, o tráfico de drogas era visto na sua intimidade, como um assunto dos morros, da polícia e da classe baixa. A classe média entrava no papel de vilã, fomentadora do crime a cada vez que acendia um baseado. Agora, no filme de Mauro Lima, a classe média assume o papel central pois vem dela o protagonista, João Guilherme Estrella.


O filme é baseado no excelente livro homônimo do jornalista Guilherme Fiúza, que está sendo reeditado pela Record para acompanhar o lançamento do filme. É um trabalho interessante e que permite ao leitor um mergulho não no ‘submundo’ do crime, a não ser que se entenda que dele façam parte alguns points badalados do Rio como o baixo Leblon e o baixo Gávea, áreas de atuação preferencial de Estrella.


Há um momento, como se diz no livro, em que a cocaína entrou na corrente sanguínea da cidade. Nesse instante, a droga deixa de ser contabilizada em casos episódicos, uma festinha aqui, uma carreira acolá, para se tornar sistêmica. Isso não quer dizer que toda uma coletividade cheire. Quer dizer que a droga se dissemina e cria uma cultura própria. E é nesse momento que o garotão da zona sul passa de usuário a traficante.


A história do rapaz que se mete com o tráfico para descolar cocaína para si mesmo, e depois como forma de levar um vidão desregrado, é contada a todo vapor, se a expressão não for descabida nesse contexto. Mauro Lima teve a esperteza de captar esse dado do texto e transformá-lo em linguagem cinematográfica. O filme teria de exibir a velocidade e a intensidade da vida que João Estrella (Selton Mello) escolheu para si próprio.


De narrativa simples, porém nada quadrada, Meu Nome Não É Johnny se divide em algumas etapas. Numa, a ‘evolução’ profissional de João e sua escalada na hierarquia do tráfico, até participar de uma conexão internacional para envio da droga, refinada no Mato Grosso, à Europa. Depois, a sua queda e a experiência da prisão e do manicômio judiciário. São, naturalmente, etapas contrastantes da biografia do personagem, e assim devem se traduzir na tela. Mas há um lado ‘festivo’ em João, que passa de uma fase para outra e que, provavelmente, fez com que ele pudesse se sair bem em situações muito diferentes. Ele consegue escapar do vício e da convivência com traficantes, experiências que costumam ser perigosas. Depois, mostra-se apto a sobreviver em cárceres infectos e manicômios que se revelam muito mais enlouquecedores do que terapêuticos.


João é um sobrevivente nas selvas. E suas armas são a inteligência rápida, a simpatia, o charme. Enfim, um papel para Selton Mello e para ninguém mais.


E talvez aí esteja outro dos trunfos do filme – a feliz escolha do elenco. Selton era, claro, talhado sob feitio para este personagem. Concilia o senso de humor com a energia. E assim dá credibilidade a um tipo que vai se afundando cada vez mais como se estivesse participando da mais inocente das gincanas. Há mesmo esse lado meio doidivanas em João e ignorar a euforia onipotente provocada pelas drogas é uma maneira muito boa de não entendê-las. Só causam dependência porque provocam muito prazer, mesmo que depois cobrem um preço absurdo por esse paraíso artificial.


Daí o calibre justo – e, portanto, nada moralista – escolhido pela direção para contar a história de João Guilherme Estrella. Daí o acerto da escolha de Selton. E também, em boa parte, de sua parceira de vida, Sofia, Cléo Pires no filme. Tão doidinha quanto João, Sofia o acompanha na trip em que a vida de ambos se converte. E está com ele até o momento em que é preso.


Sem ser moralista, há, no entanto, uma ‘moral’ do filme, naquilo que antigamente se chamava a sua ‘mensagem’. Filme popular e educativo, não poderia deixar grande margem de dúvida sobre onde põe os pés. Deixa claro que sua posição é antidrogas e que apenas mostra as aventuras de João para melhor destacar quanto ele pagou e sofreu por elas.


O filme, no entanto, é melhor quando mostra a ascensão do personagem do que quando se concentra em sua queda. Estrella é mais interessante na delinqüência que no arrependimento. Mais convincente nos subterfúgios de marginal simpático do que nas promessas do cidadão cumpridor das leis. Se o malandro é melhor personagem do que o cidadão honesto,a culpa não é do cinema, mas das expectativas de quem vai assistir aos filmes. O desejo de transgressão ainda é algo a ser levado em conta.


Serviço


Meu Nome Não É Johnny (Brasil/2007, 107 min.) – Drama. Dir. Mauro Lima.


14 anos. Cotação: Bom’


 


Luiz Carlos Merten


Diretor fala do desafio de filmar uma vida no limite


‘Para Mauro Lima, é uma virada e tanto. O diretor de Tainá 2 não apenas foi contratado pela produtora Mariza Leão para dirigir a adaptação do livro Meu Nome Não É Johnny, de Guilherme Fiúza, sobre João Guilherme Estrella, como assina o roteiro com a própria Mariza. Mauro, de 39 anos, conseguiu transformar um projeto de encomenda num filme autoral. Johnny, afinal, tem muito mais a cara dele, sua pegada, do que Tainá 2, mas ele acha que valeu fazer o filme anterior.


Mauro é um cara bem-humorado, característica que compartilha com Selton Mello e o biografado de seu filme, João Guilherme Estrella. Mal havia lido o livro, ele viu uma entrevista em que os dois Guilhermes, o Fiúza e o João Estrella, anunciavam que haviam vendido os direitos para Mariza Leão. Mauro ligou para a produtora e se ofereceu para dirigir. O amigo Selton o ajudou. ‘Ele deu força para que a Mariza me contratasse, dizendo que eu só precisava de uma chance para mostrar do que era capaz.’ O que o universo de Meu Nome Não É Johnny teve de tão atraente para Mauro Lima? ‘O filme, como o livro, trata de personagens que vivem no limite, impulsivamente, e isso é sempre interessante de transformar em cinema.’


Ele não se furta ao que promete ser a maior polêmica envolvendo Meu Nome Não É Johnny. No ano passado, surgiu Tropa de Elite, em que o diretor José Padilha praticamente coloca a culpa do tráfico na classe média, transformando a vítima em culpado, na medida em que os drogados de seu filme é que movimentam a roda do crime. Meu Nome Não É Johnny não nasceu com essa intenção, até porque o estouro do filme de Padilha é posterior ao projeto de Mariza e Mauro, mas de certa forma Johnny tira esse peso da classe média. Mauro Lima, de qualquer maneira, ressalta que o quadro de seu filme é outro. ‘João traficava para pagar o próprio vício. O tráfico evoluiu muito, está muito mais organizado e violento, e hoje a corrupção da polícia também é muito maior.’


O repórter reclama do letreiro final, que destaca a frase da juíza Marilena Soares. Ela diz que João Guilherme Estrella é a prova de que os indivíduos podem ser recuperados. Mas isso já é tão evidente no relato, não dava para confiar um pouco mais no espectador, deixando que ele chegasse a essa conclusão? ‘Pode ser, eu também não gosto da solução, mas a frase é real e fornece um bom fecho para esta história que, no fundo, fala de regeneração.’


Tainá, Johnny. Qual será o próximo passo da surpreendente trajetória de Mauro Lima? ‘Agora já é oficial. Estou trabalhando na adaptação de Dias de Ira.’ O livro do jornalista Roldão Arruda, do Estado, poderá representar um desafio maior ainda para Mauro Lima. Conta a história do michê Fortunato Botton Mello, que criou fama como ‘Maníaco do Trianon’, sendo acusado de diversos assassinatos de homossexuais. ‘Está provado que ele não cometeu todos os crimes que lhe atribuíram, mas é importante contar essa história contextualizando os assassinatos de Fortunato no quadro de uma sociedade homófoba.’ Novamente, Mauro Lima assinará o roteiro. O assunto é forte. Poderá vir mais polêmica por aí.’


 


Luiz Carlos Merten


O show biz demolido pela ironia


‘Foi exatamente num outro mês de janeiro, em 1972 – há 36 anos -, que Ross Bagdasarian morreu, aos 53 anos. Há um crédito de dedicatória para ele no final de Alvin e os Esquilos, produzido por seu filho, Ross Bagdasarian Jr. e dirigido por Tim Hill. Ambos agradecem ao escritor por ter sido louco a ponto de criar três esquilos cantores que se transformaram em ícones da cultura pop, atravessando os últimos 50 anos seguidos por uma legião de fãs que se espalha pelo mundo.


Alvin e os esquilos ganham agora nova versão no cinema, mas antes de falar sobre o filme estrelado por Jason Lee, da série My Name Is Earl, talvez seja bom lembrar um pouco a origem dos esquilos cantores e do tema musical por eles protagonizado, que se tornou um favorito do Natal nos EUA (e não apenas lá ) – The Chipmunk Song (Christmas Don’t Be Late). Em 1958, Ross Bagdasarian era um músico e compositor sem sorte, mais ou menos como o personagem de Jason Lee na abertura de Alvin e os Esquilos. No desespero – e com uma família para sustentar -, Bagdasarian inspirou-se num livro infantil (Duel With The Witch Doctor) para criar Witch Doctor, que terminou sendo um grande sucesso.


A canção tinha um refrão (OO EE OO Ah Ah) que terminou sendo a base para The Chipmunk Song, mesmo que a música ainda não tivesse esse título, já que os esquilos simplesmente ainda não haviam surgido na obra do compositor. Alvin surgiu durante um passeio de Bagdasarian com a família, incluindo seu filho agora produtor, pelo Parque Nacional de Yosemite. Um esquilo saltou na frente do carro e o encarou. Bagdasarian diria mais tarde que era como se ele o desafiasse a prosseguir com o carro. Aquele esquilo virou Alvin, que ganhou mais dois companheiros, Simon e Theodore. Desde então – e tendo surgido como bonecos, ao lado do próprio Bagdasarian, no Ed Sullivan Show -, Alvin e os Esquilos percorreram várias mídias, virando um sucesso musical que o cinema tenta recuperar com este filme que busca realizar o cross-over, ou seja, comunicar-se com o público de diferentes idades e faixas sociais.


Adultos e crianças estão sendo convidados a viajar na fantasia de Tim Hill, que dirigiu o número 2 de Garfield, usando a mesma técnica de animação do gato balofo para criar os esquilos. Antes que você pense que o filme, ao contrário da revista Piauí, se destina a quem tem um parafuso a menos, saiba que Hill tem duas especializações – em literatura francesa e cinema – pela Universidade Berkeley. Como ele já disse em inúmeras entrevistas – e no site dos esquilos -, os personagens passaram por significativas mudanças de estilo e atitude para sua estréia no cinema. ‘Estes não são mais os esquilos de seus pais, ou avós’, diz Hill. ‘Sua aparência e seus movimentos diferem bastante das versões anteriores. Eles viraram, definitivamente, popstars… com pêlos.’


Na abertura do filme, Jason Lee, como Dave Seville – o próprio Ross Bagdasarian foi o primeiro intérprete do papel -, levou o fora da namorada, que não agüenta mais sua instabilidade emocional, que se manifesta na dificuldade para construir uma família. A essa rejeição se soma outra, porque Ian Hawk, no papel de executivo da gravadora, tenta persuadir o herói de que ele não tem vocação para a música e jamais encontrará artistas interessados em gravar suas canções. É quando entram em cena os esquilos. Desalojados de seu hábitat, eles vão parar na cidade. Adotam Dave, ou são por eles adotados, e viram os cantores de suas músicas, que estouram nas paradas. O problema é a ganância de Hawk – gavião, em inglês -, que explora Alvin e os esquilos como se fossem simplesmente uma máquina de fazer dinheiro.


O tema do filme, por assim dizer, é o amadurecimento de Dave, que vai perceber a importância da família – e amadurecer para o casamento -, justamente ao defender Alvin e a turma das garras de Hawk. O filme é isso, uma mistura de musical com animação e live action. Co-escrita por John Vitti, da série Os Simpsons, o filme desenvolveu as características dos esquilos, acrescentando novos comportamentos a outros já existentes. Alvin continua sabe-tudo e demolidor, mas ficou mais vulnerável. Simon continua sendo o intelectual do trio, mas agora enfrenta Alvin com a arma do humor. E Theodore, o mais doce dos três, continua louco por comida, mas ganhou uma fragilidade que faz com que todos, Theodore, Dave e o próprio Alvin, queiram protegê-lo. OK, o filme sentimentaliza a virulência dos Simpsons, como olhar sobre a família norte-americana tradicional, mas a ironia de John Vitti permanece inteira, ao ser destilada contra o universo do show biz.


Serviço


Alvin e os Esquilos (EUA/2007, 90 min.) – Comédia-Animação. Dir. Tim Hill. Livre. Dublado. Cotação: Regular’


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Desfalque no BBB8


‘Até nos percalços o BBB anda se repetindo. Às vésperas da estréia da oitava edição do reality, um participante foi trocado. O motivo: pegou rubéola. O azarado da vez foi Gustavo, de 23 anos, que acabou cedendo sua vaga a Gregor, de 34 anos.


Não é a primeira vez que o BBB sofre troca de participantes de última hora.


No Big Brother Brasil 6, Leandro Moraes, de 30 anos, chegou a ter sua foto divulgada como um dos concorrentes, mas, horas depois, foi sacado do programa pela própria Globo. O motivo: a relação de Leandro com alguns funcionários do canal, o que teria facilitado sua entrada no programa.


Entre os participantes da nova edição do BBB estão uma professora de inglês de Brasília, três modelos, uma produtora de moda do Rio, uma bartender, um psiquiatra de São Paulo e uma porção de estudantes.


O participante mais velho tem 34 anos e o mais novo, 21. Segundo a direção da Globo, os 14 participantes foram selecionados entre 150 finalistas que chegaram à etapa de entrevistas para o programa.


A disputa por R$ 1 milhão e 15 minutos de fama estréia na terça.’


 


PUBLICIDADE
O Estado de S. Paulo


Publicidade vai usar canções dos Beatles


‘O catálogo musical dos Beatles será disponibilizado ao setor empresarial para que as músicas mais famosas do grupo possam ser utilizadas em anúncios publicitários. Um dos casos mais conhecidos relativos a direitos autorais ocorreu há 20 anos, quando representantes do grupo pediram US$ 15 milhões da Nike pelo uso não autorizado da música Revolution em uma campanha. As ofertas estão sendo estudadas pela Sony/ATV Music Publishing, donos dos direitos das 259 músicas de John Lennon e Paul McCartney. A empresa não precisará mais do aval dos dois Beatles vivos – Paul McCartney e Ringo Starr – para fechar os acordos.’


 


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