Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Terça-feira, 28 de março de 2006
CRISE POLÍTICA
É uma vergonha!
‘Jamais o Brasil assistiu a tamanho descalabro de um governo. Quem se der ao trabalho de esmiuçar a história do país certamente constatará que nada semelhante havia ocorrido até a gestão do atual ocupante do Palácio do Planalto. Há, desde o tempo do Brasil colônia, um sem número de episódios graves de corrupção e de incompetência. Mas o nível alcançado pelo governo Lula é insuperável.
Não se trata de um ou de alguns focos de corrupção. Vai muito além. Exibe notável desprezo pelas liberdades e pela democracia. Manipula a máquina administrativa a seu bel-prazer, de modo a colocar o Estado a favor de sua inesgotável sanha de poder. Um exemplo mais recente é a ação grotesca contra um simples caseiro, transformado em investigado por dizer a verdade depois de ser submetido a uma ação de provocar náuseas em qualquer stalinista.
Não se investiga o ministro Palocci, acusado de freqüentar um ‘bunker’ destinado a operar negócios escusos em Brasília e de ter mentido a respeito ao Congresso. Tenta-se, a qualquer preço, desqualificar a testemunha para encobrir o óbvio. E o desespero da empreitada conduziu a uma canhestra operação que agora o governo pretende encobrir, inclusive intimidando o caseiro.
Do presidente da República, sob a escusa pueril de dever muito a Palocci (talvez pela conquista do troféu dos juros mais altos do mundo e pelo crescimento ridículo do PIB), só se ouve a defesa pífia dos que não conseguem dissimular a culpa. A única providência das autoridades federais foi um simulacro de investigação, com a cumplicidade da Caixa Econômica Federal.
Todos os limites foram ultrapassados; não há como o Congresso postergar um processo de impeachment contra Lula. Ou melhor, a favor do Brasil.
O argumento para não afastar Lula, de que sua gestão vive os últimos meses, é um auto-engano! A proximidade das eleições faz com que o governo use e abuse ainda mais do poder. Desde o início, este governo é envolvido na compra de consciências, na lubrificação da alma de órgãos de comunicação por meio de gigantescas verbas publicitárias e de perseguir os que lhe negam aplauso.
Outro argumento usado para não afastar Luiz Inácio Lula da Silva é a sua biografia, a saga do trabalhador, do sindicalista que chegou a presidente. Ora, aquele metalúrgico já não existe há muito tempo. Sua legenda enferrujou. Foi tragado por sua verdadeira figura, submetido a uma metamorfose às avessas.
As razões legais para o processo de impeachment gritam no artigo 85 da Constituição, que versa sobre os crimes de responsabilidade do presidente. Basta ler os seguintes motivos constantes da Carta Magna para que o Congresso promova o processo de impeachment de Lula: atentar contra o livre exercício do Poder Legislativo, contra o livre exercício dos direitos individuais ou contra a probidade da administração. Seguem alguns exemplos ilustrativos.
No ‘mensalão’, fato que Lula tentou transformar em um pecadilho cultural da política brasileira, reside um grave atentado contra o livre funcionamento do Congresso Nacional. A compra de consciências não só interferiu na vida do Poder Legislativo como também demonstrou a disposição petista de romper a barreira entre a democracia e o autoritarismo, utilizando a máxima de que os fins justificam os meios.
Jamais as instituições bancárias estatais foram tão agredidas. O Banco do Brasil teve seu dinheiro colocado a serviço de interesse escusos; a Caixa Econômica Federal também, demonstrando que o sigilo bancário de seus depositantes foi posto à mercê da pilantragem política.
No escândalo dos Correios, mais que corrupção, foi posto a nu, além do assalto aos cofres públicos, um cuidadosamente urdido esquema de satrapias destinado a alimentar as necessidades pecuniárias de participantes da mesma viagem. Como costuma acontecer nesses casos, o escândalo veio à tona na divisão do botim.
Causa perplexidade, também, a maneira cínica com que o governo tenta se defender, usando todos os truques jurídicos para criar uma carapaça que evite investigações de suspeitas gravíssimas em torno do presidente do Sebrae, o generoso Paulo Okamotto, pródigo em cobrir gastos do amigo Lula -sem que ele saiba. Aliás, ele nunca sabe de nada…
Lula passará à história, além de tudo, como alguém que procurou amordaçar a imprensa com a tentativa da criação de um orwelliano ‘conselho’ nacional de jornalismo e com uma legislação para o audiovisual, que tentou calar o Ministério Público pela Lei da Mordaça e que protagonizou uma pueril tentativa de expulsar do país um correspondente estrangeiro que lhe havia agredido a honra.
Neste momento grave, o Congresso Nacional não pode abdicar de suas responsabilidades, sob o perigo de passar à história como cúmplice do comprometimento irreversível do futuro do país. As determinantes legais invocadas para o processo de impeachment encontram, todas elas, respaldo nos fatos.
Mas, infelizmente, na Constituição brasileira falta uma razão que bem melhor poderia resumir o que estamos assistindo: Lula seria o primeiro presidente a sofrer impeachment não apenas pela prática de crimes de responsabilidade mas também pelo ímpar conjunto de sua obra.
Boris Casoy, 65, é jornalista. Foi editor-responsável da Folha de 1974 a 76 e de 1977 a 84. Na televisão, foi âncora do TJ Brasil (SBT) e do Jornal da Record (Rede Record).’
CASO NOSSA CAIXA
Caso Nossa Caixa derruba assessor de Alckmin
‘Sob pressão do comando do PSDB, e 24 horas depois de negar que afastaria seu assessor de Comunicação, Roger Ferreira, o governador Geraldo Alckmin exonerou, a pedido, o auxiliar, apontado em reportagem da Folha como um dos coordenadores do direcionamento de recursos da Nossa Caixa para favorecer veículos mantidos ou indicados por deputados estaduais da base aliada.
No início da tarde, após receber o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, Alckmin defendeu Ferreira, que chegou a enviar a parlamentares do partido um texto em que rebatia as acusações. Mas, segundo tucanos, Tasso recomendou que Alckmin fizesse um contraponto a Lula, mostrando que não hesita em momentos de crise. Prevaleceu ainda a idéia de que a saída seria ofuscada pela queda do ministro Antonio Palocci.
Na carta em que solicita a exoneração, Ferreira diz que nada fez ‘que ferisse os ditames da ética e do espírito público’ e que não permitiria que sua presença no governo se transformasse em ‘pretexto para provocar desgastes injustificáveis’ à candidatura de Alckmin à Presidência.
Após duas horas de conversa, Tasso até concordou, em entrevista, com a necessidade de mais investigação. Ele incentivou Alckmin a falar à imprensa: ‘Não existe nada que possa ser comprometedor em relação à ética ou à atitude do governador Alckmin. Ele mesmo está aqui para responder. Ele não se esconde’.
Tasso insistiu para que Alckmin falasse sobre o tema. Tanto que, quando o governador já acompanhava o senador em direção à saída da sala onde ocorria a entrevista, Tasso fez questão que ficasse. ‘Não. Fale sobre a Nossa Caixa.’
Alckmin afirmou, então, que gostaria de fazer ‘um reparo sobre o que o jornal publicou hoje [ontem]’. ‘Já houve a investigação, quem fez foi o governo, a própria Nossa Caixa, que abriu uma comissão de sindicância.’
Alckmin também alegou que os e-mails obtidos pela Folha não eram de integrantes do governo: ‘Empresa terceirizada não fala em nome do governo’. Questionado sobre os e-mails de Ferreira, disse: ‘Não, o dele não pede para absolutamente ninguém’.
‘Nós já concluímos essa sindicância. Essa matéria que está no jornal é sindicância feita por nós. Se eu não fosse candidato, isso não viria para o jornal, mas, como eu sou candidato…’, disse.
Ele demonstrou impaciência ao comentar as declarações do deputado Afanasio Jazadji (PFL), de que teria negociado verbas publicitárias diretamente com o governador (leia nesta página). ‘Comigo, não. Ele nem esteve comigo e Afanasio Jazadji é da oposição, oposição 24 horas por dia.’
Alckmin disse que houve um ‘erro formal’ da Nossa Caixa, ao não providenciar a prorrogação dos contratos com as agências de propaganda Full Jazz e Colucci.
‘Isso não foi feito. Quando a Nossa Caixa percebeu que houve um erro lá dentro, fez uma sindicância, demitiu o responsável, comunicou ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas’, disse.
Ferreira foi citado pelo ex-gerente de marketing Jaime de Castro Júnior, afastado do banco, como coordenador das ações de direcionamento de anúncios e patrocínios.O esquema beneficiou os deputados Wagner Salustiano (PSDB), Geraldo ‘Bispo Gê’ Tenuta (PTB), Afanasio Jazadji (PFL), Vaz de Lima (PSDB) e Edson Ferrarini (PTB), a Rede Vida, a Rede Aleluia de Rádio e a revista ‘Primeira Leitura’, criada pelo ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros (governo FHC), da qual se afastou em setembro de 2004.’
***
Pefelista acusa Alckmin de propor publicidade em troca de silêncio
‘O deputado estadual Afanasio Jazadji, vice-líder do PFL, afirmou ontem que recebeu do próprio governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), uma proposta de repasse de recursos publicitários da Nossa Caixa para que o parlamentar deixasse de criticar o governo estadual. Jazadji disse não lembrar com precisão de quando isso teria ocorrido.
Alckmin reagiu com irritação à declaração. ‘Ele nem esteve comigo. E Afanasio Jazadji é da oposição, faz oposição 24 horas por dia. Estranho, né? O governo está beneficiando a oposição?’, afirmou.
Jazadji foi citado numa troca de correspondências eletrônicas entre um funcionário da Nossa Caixa e o presidente de uma agência de publicidade. O objetivo seria liberar dinheiro da Caixa para ‘acalmar’ o parlamentar.
O deputado ter sido procurado, mas recusado-se a participar da distribuição de verbas. ‘Eu teria ajuda desde que deixasse de criticar os secretários da Segurança Pública, da Administração Penitenciária e da Educação nos meus programas de rádio e de TV.’
Investigação
A oposição de Alckmin na Assembléia Legislativa quer abrir duas frentes de investigação para apurar a denúncia de uso irregular de dinheiro do banco estatal Nossa Caixa: uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) e um inquérito na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.
A CPI para apurar as denúncias envolvendo a administração da Nossa Caixa foi solicitada pelo deputado Renato Simões (PT).
Ele quer que sejam investigados contratos entre o banco e as agências Colucci & Associados Propaganda e Full Jazz Comunicação, que operaram sem licitação.
Um dos objetivos é saber como verbas do banco foram utilizadas para beneficiar deputados do grupo de apoio do governador.
A liderança do PT pediu ontem a convocação imediata de quatro pessoas envolvidas na denúncia da Nossa Caixa: do ex-assessor de Comunicação do governo estadual Roger Ferreira, do presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, do presidente da agência de publicidade Contexto, Saint’clair de Vasconcelos, e do ex-gerente de marketing do banco Jaime de Castro Júnior.
O pedido será votado hoje pelos nove integrantes da Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia Legislativa. O PT acredita ter pelo menos cinco votos favoráveis à convocação dos citados: dois do PT, dois do PFL e um do PMDB.’
TODA MÍDIA
Não apareceu o bode
‘Dia de ‘expectativa’, comose lia nos sites desde cedo.
De início, as manchetes do Google Notícias citavam ‘o futuro de Palocci’. Na Folha Online, ‘o destino de Palocci’. A agenda de Lula trazia Aloizio Mercadante. O ministro Paulo Bernardo falava à Globo, ‘tem tudo para se resolver hoje’.
A expectativa se rompeu à tarde, dos sites aos canais de notícias, com um consultor dizendo à Polícia Federal que ‘o presidente da Caixa recebeu extrato’. Não demorou e veio o ‘plantão’ previsto há semanas, até meses. No dizer de Fátima Bernardes, Palocci ‘pediu afastamento’.
De imediato, os blogs abriram debate sobre afastamento ou demissão. O afastamento seria ‘a fórmula Thomaz Bastos’, denunciava Ricardo Noblat, para Palocci não perder a imunidade. Não para Josias de Souza:
_ Informado do caráter irreversível da decisão do presidente, Palocci passou a encenar a pantomima do afastamento.
Jorge Moreno entrou no debate, mas logo um novo ‘plantão’ surgia, agora na Globo News. Era Guido Mantega o ministro da Fazenda, não Mercadante _e não Murilo Portugal, substituto em caso de afastamento. Detalhou o Blog do Josias:
_ A última mentira de Palocci foi contada ao presidente. Ele havia assegurado a Lula que nada teve a ver com quebra de sigilo. No depoimento, o presidente da Caixa disse que entregou o extrato nas mãos do ministro.
Márcio Thomaz Bastos informou e aconselhou Lula, daí a demissão. ‘Pedido de demissão’, na expressão do ‘Diário Oficial’, segundo o Globo Online.
Já havia então nova controvérsia na blogosfera _se o crime de quebra do sigilo se restringe a quem vazou o extrato aos jornalistas do Blog Brasil ou envolve todos os elos da corrente.
Curiosamente, foi o Blog Brasil que apontou desde logo o tortuoso caminho dos ‘plantões’ de ontem. Da nota ‘Lexotan’:
_ O clima na Esplanada dos Ministérios é de muita preocupação com o presidente da Caixa. Ele foi muito pressionado a assumir a responsabilidade, mas é considerado imprevisível.
Palocci ‘tentou até a última hora’ _e foi só Jorge Mattoso depor para o ministro jogar a tolha. Na síntese do blog, fim do dia, ‘não apareceu o bode’.
Para registro, a abertura da escalada do ‘Jornal Nacional’:
_ Quebra de sigilo bancário do caseiro derruba o ministro da Fazenda. Presidente da Caixa diz à Polícia Federal que entregou extrato na mão de Palocci.
Boa parte do ‘JN’, vale destacar, se voltou a garantir que Mantega é mais do mesmo:
_ Como Palocci, foi sempre defensor da responsabilidade fiscal e do controle da inflação… Tem perfil técnico, bem estratégico neste momento delicado da crise política, em ano eleitoral… O novo ministro se antecipou dizendo que nada vai mudar.
Aliás, ‘a Bolsa caiu até a notícia da saída de Palocci’:
_ Depois, a Bolsa subiu.
Nos outros telejornais, a mesma coisa. Da escalada do SBT:
_ Mercado respira aliviado. Setores financeiro e produtivo já esperavam a saída de Antônio Palocci e só querem a manutenção da política econômica.
Depois, ao vivo no ‘Jornal das Dez’, o ministro Jaques Wagner foi na mesma direção. Mas o Blog Brasil já avisava, então:
_ Mantega não é Palocci.
MUDOU DE IDÉIA
Do ‘Fantástico’ ao ‘JN’, a outra Caixa
Abrindo a escalada de manchetes do ‘Jornal da Band’:
_ Palocci não resiste à crise e pede afastamento da Fazenda. Secretário de Comunicação de São Paulo também se demite.
O caso vinha do dia anterior, da blogosfera ao ‘Fantástico’, que destacou em sua reportagem que ‘Geraldo Alckmin disse que não pretende investigar caso’ da Nossa Caixa.
Fim de tarde e, em meio aos ‘plantões’ de Brasília, a rádio Jovem Pan, o canal Band News, o site Globo Online e outros noticiaram que o tucano havia mudado de idéia. Na escalada do ‘SBT Brasil’, ‘Pede demissão também o assessor de Comunicação do governo de São Paulo’.
O ‘Jornal Nacional’ foi além, ao retratar a reação do presidenciável à manchete ‘publicada no jornal Folha de S.Paulo’ sobre ‘as verbas publicitárias para aliados políticos do governador’. Começou com a declaração do senador Tasso Jereissati, diante de seu candidato:
_ Eu acho que não existe nada que possa ser comprometedor, em relação à ética ou à atitude do governador. E ele está aí. Ele mesmo está aqui para responder.
Corta para o repórter, que descreve a cena dos dois:
_Mas, antes de responder, Alckmin pediu licença para acompanhar a saída do presidente do partido. Na porta, aconselhado por Tasso Jereissati, ele mudou de idéia, voltou e respondeu às perguntas dos jornalistas.
Ainda assim, nada acrescentou ao que havia declarado no dia anterior. Para encerrar, volta então o repórter:
_ No fim da tarde, o assessor de Alckmin, Roger Ferreira, pediu demissão. E o governador aceitou.
Blogs já ironizam ‘Geraldo ‘Banho de Ética’ Alckmin’.’
SOFTWARE LIVRE
Domínio do Windows retarda inovação
‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – Por volta de 1998, o governo dos Estados Unidos declarou que seu processo antitruste contra a Microsoft não era apenas uma questão de defender a lei, mas também uma batalha pela inovação. A preocupação era que a empresa decidisse brandir seu poder de mercado e usasse sua estratégia de incorporar cada vez mais recursos a seu sistema operacional, o Windows, para bloquear a concorrência e sufocar a inovação.
Passados oito anos, a verdade é que o Windows está de fato sufocando a inovação -na Microsoft.
O longo esforço da empresa para desenvolver uma nova versão do Windows, chamada Vista, sofreu repetidos atrasos. Na semana passada, a Microsoft anunciou o mais recente revés, ao adiar o lançamento da versão pessoal do novo Windows para janeiro.
Nesses cinco anos, a Apple produziu quatro novas versões de seu sistema operacional Mac, levando ao mercado, antes da Microsoft, recursos que farão parte do Vista, como um sistema de busca na máquina, recursos gráficos tridimensionais avançados e ‘widgets’, pequenos programas de propósito único como obter notícias, gerar relatórios de tráfego e localizar mapas meteorológicos.
Assim, o que há de errado com a Microsoft? Afinal, não há escassez de engenheiros de software capacitados na empresa. O problema, ao que parece, é que o sucesso da Microsoft e sua estratégia de incorporar todos os recursos possíveis ao sistema operacional se tornaram pontos fracos.
O Windows está em 330 milhões de computadores pessoais em todo o mundo. Dezenas de milhares de aplicativos de software desenvolvidos por terceiros operam com base no Windows. E um dos motivos cruciais para que a Microsoft detenha participação de mais de 90% no mercado de sistemas operacionais é que a empresa se esforça para garantir que software e hardware que funcionavam com versões anteriores do Windows continuam a funcionar nas mais recentes -’compatibilidade’, em jargão de informática.
Como resultado, cada nova versão do Windows carrega a bagagem de seu passado. À medida que o Windows crescia, os desafios técnicos se tornavam cada vez mais assustadores. Milhares e milhares de engenheiros trabalharam para criar e testar o Windows Vista, um projeto de construção de software imenso e complexo, com mais de 50 milhões de linhas de código, 40% mais que seu predecessor, o Windows XP.
‘O Windows se tornou grande e pesado a esse ponto devido ao tamanho de sua base de código, às dimensões de seu ecossistema e à insistência da empresa em manter a compatibilidade com hardware e software mais antigos, e agora o programa torna tudo mais lento’, disse David B. Yoffie, professor de administração da Universidade Harvard.
Em memorando interno divulgado em outubro, Ray Ozzie, vice-presidente de tecnologia da Microsoft, que começou a trabalhar para a empresa no ano passado, escreveu que ‘a complexidade mata. Ela suga a vida das equipes de desenvolvimento, torna difícil planejar, construir e testar os produtos, gera desafios de segurança e causa infinitas frustrações a administradores e usuários’.
Do zero
O Vista também sofreu atrasos porque o projeto teve de ser reiniciado no terceiro trimestre de 2004. Àquela altura, se tornara claro a James Allchin, o executivo de engenharia que comanda a equipe do Vista, bem como a outros da Microsoft, que a maneira pela qual a empresa estava tentando construir a nova versão do Windows, então conhecida como Longhorn, não funcionaria.
Dois anos de trabalho foram jogados no lixo e alguns recursos planejados acabaram abandonados, como o sistema inteligente de armazenagem de dados WinFS.
O projeto retomado, decidiu a Microsoft, adotaria nova abordagem. O Vista foi desenvolvido na forma de módulos que poderiam ser unidos como blocos de Lego, o que tornaria mais fácil administrar o desenvolvimento e os testes.
‘Eles tomaram a decisão certa quando aceitaram que o código do Longhorn era um mixórdia impossível de salvar e começaram de novo’, disse Michael A. Cusumano, professor de administração do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). ‘Mas o Vista continua a ser uma estrutura imensamente complexa.’
Lições da Apple
Céticos como Cusumano dizem que para resolver os problemas do Windows seria necessária uma abordagem mais radical: a disposição de abandonar o passado. Um exemplo instrutivo, dizem, é aquilo que aconteceu na Apple.
Basta lembrar que Steve Jobs voltou à Apple porque os esforços da empresa para desenvolver o sistema operacional Copland fracassaram. Jobs convenceu a Apple a adquirir sua empresa, a Next, em 1996, por US$ 400 milhões, para usar o sistema operacional que ela havia desenvolvido.
Jobs e sua equipe levaram dois anos para reformular e reequipar o Next e fazer dele o que viria a ser o Mac OS X. Quando o novo sistema chegou ao mercado, em 2001, representava essencialmente o completo abandono do sistema operacional anterior da Apple, o OS 9. Os aplicativos concebidos para o OS 9 funcionariam em uma máquina com o OS X, mas só por meio de ativação separada do velho sistema operacional.
A abordagem não era muito elegante, mas permitiu que a Apple adotasse nova tecnologia e um sistema operacional mais estável, com projeto muito mais elegante. O único sacrifício foi a perda da compatibilidade entre o OS X e os programas antigos do Mac, passo que a Microsoft sempre se recusou a dar no caso do Windows.
E a Apple, que produz sistemas operacionais que funcionam apenas nas máquinas que ela fábrica, não precisa lidar com o maciço ecossistema empresarial da Microsoft, com centenas de fabricantes de PCs e milhares de empresas fornecedoras de software.
‘Esse lastro é também um dos pilares da força da Microsoft e motivo para que parceiros setoriais e usuários mantenham o Windows, mesmo que seu tamanho e questões estratégicas retardem inovações. A menos que a Microsoft consiga ganhar agilidade, os consumidores talvez tenham de aceitar um Windows cada vez pior, com o tempo, e isso é lastimável’, disse Yoffie.
Tradução de Paulo Migliacci’
TELEVISÃO
Sônia Braga será escultora sexy em novela
‘O personagem que Sônia Braga fará em ‘Páginas da Vida’, segredo que ela não contou nem ao ‘Fantástico’, será o de uma artista plástica, uma sedutora escultora.
Assim como a atriz, que volta a fazer uma novela inteira depois de 26 anos, a personagem de Sônia, Antônia, mora há muitos anos fora. Seu ponto de partida na trama de Manoel Carlos será um encontro com a dona de galeria de artes Olímpia (Ana Paula Arósio), numa exposição que a escultora está fazendo em Amsterdã (Holanda).
Anos mais tarde (há uma passagem de tempo de cinco anos), Antônia volta a morar no Brasil, e Olímpia a procura para encomendar um trabalho para a galeria que gerencia. Assim, Antônia acabará se envolvendo com o pai de Olímpia, Aristides Martins de Andrade (Tarcísio Meira), um homem mais velho e apaixonado por sua mulher, interpretada por Glória Menezes.
O personagem de Sônia Braga será mais sensual do que a Globo previa inicialmente. A emissora avaliou que a atriz está em ótima forma física e resolveu investir mais em seu lado sexy.
A Globo está tentando manter sigilo sobre aspectos da trama de ‘Páginas da Vida’, que em julho substitui ‘Belíssima’.
Na semana que vem, o diretor Jayme Monjardim embarca com Marcos Paulo (como ator) para a África. As cenas que serão gravadas lá são segredo. Marcos Paulo interpretará um médico.
OUTRO CANAL
Balanço 1 A Globo S.A. (fusão da TV Globo com a holding Globopar, ocorrida em agosto de 2005, em processo de renegociação de dívidas) teve um faturamento líqüido no ano passado de R$ 5,6 bilhões, 4,7% a mais do que em 2004. O lucro antes de impostos, depreciações e amortizações foi de R$ 1,4 bilhão (11% a mais). A dívida caiu quase US$ 1 bilhão (para US$ 1,2 bilhão).
Balanço 2 Os dados estão em balanço divulgado pelas Organizações Globo no final de semana. O relatório não traz mais informações financeiras específicas da TV Globo _que é de longe a principal fonte dos resultados. O balanço só informa que a audiência da Globo caiu de 37 para 35 pontos no horário nobre em 2005.
Perseguição 1 Nikos (Tony Ramos) e Taís (Maria Flor) vão se envolver numa trama policial nos próximos capítulos de ‘Belíssima’. Eles ajudarão a polícia a prender o traficante de mulheres que está tentando levar Suzi (Juliana Kametani) para se prostituir no Egito (mas diz a ela que é para trabalhar de modelo).
Perseguição 2 Antes da ajuda de Nikos e Taís, traficante conseguirá escapar da polícia no aeroporto. E ameaçará entregar fotos de Suzi nua ao pai dela caso a garota deponha na polícia.
Voz Unilever (Seda), Claro e Semp Toshiba serão os patrocinadores de ‘Ídolos’, que será exibido às quartas e quintas no SBT.’
Série reconstitui histórias de sobrevivência
‘Quando o israelense Yossi Ghinsberg, 47, entrou na selva amazônica no início dos anos 80, ele e dois amigos de viagem procuravam apenas aventuras e novos conhecimentos. De lá, só dois -incluindo o protagonista da história- saíram vivos.
A tragédia está no primeiro episódio da série ‘Sobrevivi’ (‘I Shouldn’t Be Alive’), estréia do Discovery Channel que rastreia pelo mundo histórias de sobreviventes de tragédias, divididas em nove capítulos de uma hora cada um. ‘A minha principal preocupação depois que eu saí de lá foi passar a história adiante, em benefício de outras pessoas, para que não acontecesse mais’, disse à Folha Ghinsberg, autor de um livro e de um site para alertar viajantes dos perigos de uma aventura sem planejamento.
Os três estavam em La Paz (Bolívia) quando decidiram entrar na selva. Conheceram um falso guia, que mais tarde os abandonaria no meio da viagem. Sem rumo, eles enfrentaram animais, cruzaram rios e dormiram várias noites ao relento. ‘Eu percebi que estava em perigo alguns dias depois, quando achei que não encontraria mais o Kevin [um fotógrafo norte-americano que conhecera em La Paz] e comecei a pensar que iria morrer. Mas eu não sabia o quão forte poderia ser’, afirmou.
O desespero inicial, no entanto, deu lugar a uma experiência de vida. Trauma? O sobrevivente nega, tanto que voltou ao mesmo local dez anos depois e pretende visitar novamente o Brasil nos próximos anos. ‘Eu fiquei esperando o trauma vir, mas ele não veio. Hoje, eu moro numa casa na floresta australiana, num parque nacional.’
Apesar das histórias interessantes, o programa peca pelas reconstituições, dramatizadas por atores e entrecortadas por depoimentos. No episódio da Amazônia, por exemplo, erra ao mostrar um macaco nitidamente de pelúcia cair no colo dos aventureiros após ser atingido por um tiro disparado por um deles.
Sobrevivi
Quando: hoje, às 21h, no Discovery Channel’
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O Globo
Terça-feira, 28 de março de 2006
CASO NOSSA CAIXA
Denúncias derrubam assessor de Alckmin
‘SÃO PAULO. Denúncias de fraudes no governo de São Paulo derrubaram ontem Roger Ferreira, assessor especial de comunicação do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Alegando que não gostaria de servir de pretexto para atrapalhar a candidatura de Alckmin à Presidência, Ferreira pediu exoneração depois de ter o seu nome envolvido no esquema de direcionamento de verbas da Nossa Caixa para deputados aliados na Assembléia Legislativa. Embora afastado do governo, Ferreira terá função estratégica na campanha de Alckmin, segundo interlocutores. A bancada do PT tenta aprovar ainda hoje a convocação de Ferreira para depor na Assembléia Legislativa.
Na carta, o assessor disse não ter feito nada na sua gestão que ‘ferisse os ditames da ética e do espírito público’. Ferreira é acusado de trocar correspondências eletrônicas com um ex-diretor do banco para a instituição dar atenção especial a veículos de comunicação ligados a aliados do governador.
Alckmin chama denúncias de eleitoreiras
Ainda ontem, Alckmin classificou como eleitoreiras as denúncias de ingerência política nos negócios da Nossa Caixa. Segundo ele, as denúncias que surgiram no fim do ano passado apenas voltaram à tona porque ele agora é candidato à Presidência da República.
– Nós já concluímos uma sindicância. Essa matéria que está no jornal refere-se à sindicância feita por nós. Se eu não fosse candidato, isso não viria para os jornais, mas como eu sou candidato.. – disse Alckmin, procurando, inclusive, desqualificar a descoberta da troca de e-mails entre um de seus assessores e o ex-gerente de marketing do banco Jaime de Castro Junior.
Os e-mails mostram que o dinheiro de publicidade do banco foi usado em jornais, revistas e programas mantidos ou indicados pelos deputados estaduais Wagner Salustiano (PSDB), Bispo Gê (PTB), Afanázio Jazadji (PFL), Vaz de Lima (PSDB) e Edson Ferrarini (PTB). Segundo o governador, as denúncias foram pinçadas em cinco dos cerca de 500 veículos que recebem verba da Nossa Caixa.
– Estamos falando de 500 veículos de comunicação e foram pinçados cinco casos. Não há ingerência política. A Nossa Caixa está no novo mercado, tem governança corporativa e total transparência de ações.
Sobre a troca de e-mails, o governador foi enfático:
– O e-mail não é do governo, estão pegando um e-mail que não tem ninguém do governo. Se eu citar você quer dizer que isso é verídico – disse Alckmin, aos jornalistas.
Ao comentar as denúncias, o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, disse não acreditar que o caso possa ser usado pelo PT na campanha contra Alckmin.
– O governador já deu as explicações necessárias e para mim o assunto está encerrado.
Além de Ferreira, a Assembléia quer ouvir o presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, o presidente da agência de publicidade Contexto, Saint Clair Vasconcelos, e Jaime de Castro Júnior, ex-gerente de marketing da Nossa Caixa, que denunciou o suposto esquema de uso de verbas de publicidade para fins políticos. Os depoimentos serão pedidos pela oposição na Comissão de Orçamento e Finanças da Assembléia.
Alckmin abafou 69 pedidos de CPI
Com um sólido time governista na Assembléia, capitaneado pelo presidente da Casa, Rodrigo Garcia, o governador Geraldo Alckmin conseguiu abafar todos os 69 pedidos de CPIs apresentados pela oposição em seu governo. O pedido de CPI do caso Nossa Caixa, por exemplo, foi apresentado em fevereiro, mas ainda não foi aprovado.
Os petistas agora querem passar um pente-fino nos contratos da agência Contexto com o governo Alckmin. Segundo Tato, desde 1997 foram 23 contratos no valor de R$ 130 milhões.
O Ministério Público de São Paulo também investiga os contratos. Segundo o promotor Sergio Turra Sobrane, a empresa é investigada desde o fim do ano passado e o primeiro depoimento está marcado para dia 12: Jaime de Castro Júnior, que, demitido da Nossa Caixa, apresentou um dossiê com as denúncias de manipulação das verbas publicitárias.
COLABOROU Tatiana Farah, especial para O GLOBO’
CASO PIMENTA NEVES
Cega e reumática
‘De vez em quando é necessário relembrar o caso trágico e extraordinário do jornalista Antonio Pimenta Neves, que matou uma ex-namorada, a jornalista Sandra Gomide, com dois tiros (na cabeça e nas costas) em agosto de 2000.
O crime pelo amor perdido não é raro. Numa sociedade muito mais machista do que alguns pensam, a rejeição pela mulher mais jovem às vezes leva homens de todas as classes sociais a se vingar brutalmente de suposta ofensa grave à sua masculinidade. Fazem-no, muitas vezes, com extrema violência. Por isso mesmo, o castigo desse tipo de crime deveria ser, tanto quanto possível, exemplar. E rápido. O que não impediria o reconhecimento de atenuantes, se e quando existissem.
Os seis anos de demora no processo de Pimenta provam a sobrevivência no sistema judiciário de instrumentos que permitem a quem pode pagar a bons profissionais escapar por muito tempo a um julgamento. Sempre em liberdade, ou não valeria a pena.
Amigos do jornalista podem alegar que, livre ou preso, ele vive uma tragédia. Com certeza. Mas não está em questão o crime e sim como a Justiça o trata.
Fora da cadeia e com dinheiro para gastar, qualquer réu de crime passional pode ter até direito a que se lamente sua sina. Mas é preciso lastimar mais ainda a sobrevivência no sistema penal de uma quantidade de modos e maneiras de retardar a ação da Justiça.
Será razoável o sistema que permite tanto sucesso à estratégia da lentidão? Principalmente se não se discute a autoria do crime brutal?
Seis anos depois do homicídio, o julgamento de Pimenta fora finalmente marcado para 3 de maio. Acaba de ser mais uma vez adiado. Seus defensores levaram ao Superior Tribunal de Justiça a tese de que ele não poderia ser acusado de ter matado por motivo torpe (que seria o ciúme da ex-namorada). O STJ não aceitou o argumento – mas a defesa pode recorrer contra essa decisão. E mais distante ficará a decisão do caso.
Ninguém pode prever o que acontecerá e quando. Mas já é suficientemente óbvio que o tempo ajuda quem sabe usá-lo.
Não cabe a nenhum de nós, na platéia do episódio, jogar pedras no acusado nem em seus defensores. Não é de nossa competência, graças a Deus, condená-lo ou absolvê-lo. Temos apenas o dever de estranhar que uma coisa ou outra ainda não tenha acontecido. Há motivos suficientes para usar o caso como prova de que a reforma do Judiciário ainda tem muito chão pela frente.
Principalmente quando comparamos a tragédia do jornalista, velha de seis anos, com outra história em que não havia dúvida sobre crime e culpa. Foi o caso da empregada doméstica Angélica Teodoro. O STJ a libertou outro dia, depois de passar quase cinco meses na cadeia: tinha roubado um pote de manteiga valendo R$ 3,10.
A idéia de que a Justiça deve ser cega simboliza o princípio de que deve ser igual para todos. Pena que a nossa pareça sofrer um reumatismo incurável – cujos efeitos não são iguais para todos.’
MERCADO EDITORIAL
‘Expresso’, o novo jornal para as classes C e D
‘Chegou ontem às ruas do Rio o jornal ‘Expresso’, a nova publicação da Infoglobo, que também edita o GLOBO, o ‘Extra’ e o ‘Diário de S. Paulo’. Em formato tablóide e com tiragem inicial de cem mil exemplares, o produto foi criado para atender à população das classes C e D do estado que ainda não lê jornal. Pelos cálculos do mercado, são 3,2 milhões de potenciais leitores nesse segmento. O ‘Expresso’, que terá 32 páginas em média e preço de capa de R$ 0,50, vai circular de segunda a sexta-feira em todo o Rio. A distribuição será mais forte na Baixada Fluminense, na Zona Oeste, na Leopoldina e na área da Central do Brasil.
Números preliminares da Infoglobo indicam uma venda de 50 mil exemplares em todo o Estado do Rio no primeiro dia de circulação do ‘Expresso’.
– É um número importante para o primeiro dia. Fizemos um lançamento diferente, com algumas ações apenas nas ruas, mas os leitores demonstraram muita curiosidade pelo novo jornal. Acreditamos que esse número amadureça nos próximos dias – disse João Carlos Rosas, gerente-geral de Circulação da Infoglobo.
Publicação terá papel de atrair novos leitores de jornal
O diretor executivo da Infoglobo, Agostinho Vieira, lembra que o Estado do Rio é o que concentra o maior número de leitores de jornal do país, com 5,1 milhões de consumidores. Ele acredita, no entanto, que há espaço para crescer para algo entre seis e nove milhões e que a maior oportunidade de expansão está nas classes C e D.
– São três milhões de não-leitores nas classes C e D que podemos atingir com a nova publicação. Até o fim do ano queremos ser líderes nesse mercado – explicou Vieira.
O executivo frisou, ainda, que o ‘Expresso’ cumprirá o papel de incluir a camada da população que ainda não tem acesso à leitura de jornal. Para Vieira, hoje falta um produto específico para esse segmento:
– Esse jornal tem o papel de trazer gente (para o mercado) que hoje não lê jornal. Seja porque não tem tempo ou dinheiro ou porque não há um produto adequado.
A chegada do ‘Expresso’ consolida, ainda, de acordo com o diretor executivo da Infoglobo, uma nova categoria no mercado de jornais. São os chamados compactos, cujas principais características são o preço baixo, o formato tablóide e a leitura rápida e fácil. Assim, o mercado do Rio hoje está dividido em três categorias de jornais: Quality Papers (GLOBO e ‘Jornal do Brasil’), Populares (‘Extra’ e ‘O Dia’) e Compactos (‘Expresso’ e ‘Meia-Hora’).
O lançamento do ‘Expresso’ foi precedido por mais de um ano de pesquisas conduzidas pela Troiano Consultoria de Marca. Foram 24 grupos de discussão e 1.800 entrevistas individuais. Ao longo desse período foram feitos os ajustes necessários para atender às demandas das classes C e D.
Campanha leve e divertida como a publicação
Uma das preocupações foi a escolha das cores e dos tamanhos das letras que seriam usadas nos textos da publicação, já que uma das características do jornal é a leitura nos transportes coletivos.
O editor do ‘Expresso’, Marcelo Senna, ressaltou que o jornal vai cobrir todas as áreas, com ênfase nos assuntos de cidade, polícia, economia popular, TV, lazer e esporte. A equipe própria é composta por dez profissionais.
– O jornal tem que ser útil para o leitor. Vamos usar o conteúdo das demais publicações da Infoglobo, mas também teremos diferenciais, como uma seção que mostra quais os produtos que estão mais baratos na feira – disse.
A Contemporânea foi a agência escolhida para fazer a campanha de lançamento do jornal. Com o slogan ‘Direto ao que interessa’, a publicidade será voltada para os locais freqüentados pelo público-alvo, como terminais rodoviários e meios de transporte coletivo, além de rádio e outdoors.
– Vamos valorizar o leitor e o valor pago pelo jornal. A linguagem da campanha será simples e direta, mas também leve e divertida, traduzindo a alma do ‘Expresso’ – disse Mauro Matos, da Contemporânea.’
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Público-alvo tem forte potencial de consumo
‘As classes C e D no Rio têm, juntas, 5,8 milhões de consumidores, dos quais apenas 2,6 milhões são leitores de jornal, segundo dados consolidados de 2005 da consultoria Marplan. Com o aumento do potencial de consumo dessa camada da população – que apenas no ano passado movimentou US$ 137 bilhões na economia – surge uma nova oportunidade de negócio e 3,2 milhões de possíveis novos leitores de jornal.
O ‘Expresso’ foi criado para atender às classes C e D do Rio, que representam 64% da população do estado. No Brasil, esse segmento já representa 28% do consumo total. De acordo com o diretor executivo da Infoglobo, Agostinho Vieira, o lançamento do ‘Expresso’ é resultado de uma tendência mundial do setor.
– Acreditamos, hoje, que os jornais gratuitos não funcionariam no Brasil, como acontece na Europa e nos Estados Unidos. Mas um jornal como o ‘Expresso’, que chamamos de compacto popular, com preço baixo, tem grande potencial de crescimento – explicou o executivo da Infoglobo.
Dados da Marplan mostram que 633 mil pessoas das classes C e D têm automóveis e 923 mil pretendem comprar um. Já o total de cartões de crédito nesse segmento é de 1,2 milhão de unidades, enquanto o número de contas-correntes chega a dois milhões.’
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 28 de março de 2006
CASO NOSSA CAIXA
Alckmin rebate denúncias, mas assessor cai
‘O assessor especial de Comunicação do governo de São Paulo, Roger Ferreira, pediu ontem exoneração, imediatamente aceita pelo governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência. A saída do jornalista do Palácio dos Bandeirantes ocorreu depois de seu nome ter sido citado em denúncias de irregularidades na intermediação de verbas de publicidade da Nossa Caixa para favorecer veículos de comunicação mantidos ou indicados por deputados da base aliada na Assembléia Legislativa.
Na carta enviada a Alckmin, Ferreira assegura que ‘nada fez’, no desempenho das suas funções, ‘que ferisse os ditames da ética e do espírito público’. O jornalista ressalta, ainda, que ao sair do cargo evitaria que sua presença no governo fosse usada como pretexto ‘para provocar desgastes injustificáveis à candidatura’ do governador à Presidência.
Logo depois de ter recebido a carta, Alckmin aceitou o pedido de demissão do assessor. ‘Aceito, sensibilizado, seu pedido de exoneração. Ele demonstra mais uma vez sua lealdade e alto espírito público, que sempre estiveram presentes no seu trabalho nesta administração’, respondeu, por escrito, o governador.
As irregularidades que teriam ocorrido na Nossa Caixa foram reveladas pelo jornal Folha de S. Paulo. Os supostos esquemas irregulares do banco vieram à tona e obrigaram a instituição a abrir uma sindicância. Em dezembro passado, o então diretor de Marketing da Nossa Caixa, Jaime de Casto Júnior, foi demitido. Ele admitiu ter feito pagamentos ilegais, mas porque cumpria ordens.
O Ministério Público investigou a Nossa Caixa porque o banco usou serviços das agências de publicidade Full Jazz e Colucci, sem a renovação de contrato, durante setembro de 2003 e julho de 2005.
Antes de aceitar o pedido de demissão de Ferreira, Alckmin reafirmou que o governo de São Paulo não praticou nenhuma ingerência política no banco. ‘A Nossa Caixa está no mercado, tem governança corporativa, total transparência de suas ações. Não há nenhuma, nenhuma ingerência.’ Alckmin sugeriu que a divulgação do caso tem relação com a sua pré-candidatura.
Nossa Caixa: ‘Não houve ingerência’
O presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, disse ontem não ter havido ‘ingerência política’ do governo de São Paulo na instituição financeira. Ele negou, com veemência, as denúncias de que tenha ocorrido direcionamento de recursos de publicidade do banco para favorecimento de aliados políticos do governador Geraldo Alckmin (PSDB) na Assembléia Legislativa. ‘O que houve foi uma grave irregularidade formal’, afirmou ele, ao explicar que o então gerente de marketing do banco lhe dissera que ele estava ‘sem contrato’ com as agências de publicidade Full Jazz e Colucci. ‘O contrato ficou vencido de 2003 a junho de 2005’, disse Monteiro, ressaltando que a investigação foi feita por iniciativa do próprio banco e então levada ao Ministério Público.’
ITÁLIA
TVs de Berlusconi sob fogo cruzado
‘O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, enfrentou ontem duras críticas sobre seu império de comunicação, com líderes da oposição acusando sua rede de televisão de fazer uma cobertura tendenciosa das eleições gerais do dia 9.
O líder de centro-direita Romano Prodi anunciou o boicote aos três canais da Mediaset de Berlusconi, enquanto um seu aliado esquerdista, o ex-primeiro-ministro de centro-esquerda Massimo D’Alema disse que queria forçar Berlusconi a vender seus 38% na empresa de comunicação ou deixar a política.
‘(Mediaset) tornou-se um instrumento tendencioso na campanha eleitoral’, disse Piero Fassino, líder do maior partido de oposição, Democratas de Esquerda.
Berlusconi, proprietário da maior empresa de telecomunicação privada da Itália, tem enfurecido a esquerda nesses cinco anos no poder. A esquerda acusa o magnata das comunicações de usar o cargo político para ajudar a aumentar sua fortuna pessoal.
O bilionário desmentiu qualquer conflito de interesse e ontem acusou seu rivais de tentarem intimidá-lo. ‘Vejo que os ataques de Prodi e dos outros contra mim e minha empresa continuam’, disse Berlusconi. ‘Ainda vivemos em um país no qual um lado ainda deve temer o outro lado vencedor. Isso mostra que ainda não temos uma democracia total.’
Informações publicadas ontem no jornal Corriere della Sera indicam que os canais da Mediaset deram a Berlusconi um espaço total de 10 horas, 21 minutos e 4 segundos entre 1º de janeiro e 15 de março. Em comparação, Prodi teve apenas 1 hora, 35 minutos e 21 segundos.
Na semana passada, o órgão de controle da mídia multou dois canais da Mediaset em 300 mil (US$ 361.300) por quebrar as regras eleitorais que garantem o mesmo tempo na TV para os vários partidos.
Emma Bonino, da coligação de esquerda, ampliou o debate ontem ao denunciar que Berlusconi a estava impedindo de aparecer esta semana em um programa na TV estatal RAI 3, tradicionalmente um reduto da esquerda.
‘Esta manhã, eles me disseram que o primeiro-ministro tinha vetado minha presença’, disse Bonino ao canal Sky TG24. Berlusconi deve aparecer nesse mesmo programa da RAI.’
TELEVISÃO
BBB agrada e continua no ar, diz Boninho
‘Sem grande alarde, mas ainda com um ibope alto, termina hoje a sexta edição do Big Brother Brasil. Mara, Mariana e Rafael já disputam, desde domingo, a preferência do público, que decidirá quem fica com prêmio de R$ 1 milhão. Novela que é, o BBB vinha mantendo grande repercussão nas cinco edições anteriores e a falta de polêmica desta vez deixa a impressão de que a fórmula do reality show cansou. Um cansaço que parece contagiar até mesmo os participantes, que passaram quase todo o programa chorando, conversando sobre o próprio jogo, lamentando sua origem humilde e entoando o mantra ‘já está acabando, já está acabando’.
Amparado em números, o diretor do programa, José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, diz em entrevista ao Estado que a atração continua no ar – mas não confirma a informação de que a Globo renovou o contrato com a produtora Endemol, dona do formato do Big Brother, até 2010. Em dia de paredão, o BBB6 tem registrado média de 47 pontos no ibope. É a mesma marca das edições anteriores, com exceção da quinta edição que, considerada excepcional, fez 52 pontos. Leia a entrevista de Boninho.
Ficou a impressão de que o BBB6 não foi bem, em comparação aos outros. Isso pode ser creditado ao fato de que essa é a mais comportada de todas as edições? Você acha que a polêmica é mesmo um termômetro de sucesso para esse tipo de programa?
Não. Cada programa tem sua particularidade. Nesta edição, eles resolveram ser ‘bonzinhos’, provavelmente impressionados com a repercussão do BBB5 (quando a chamada ‘turma do mal’ foi eliminada com altos índices de rejeição). O importante é que o formato agrada ao público e isto está comprovado.
Até que ponto a escolha dos participantes pela produção pode influenciar no sucesso do programa? Quando vê um candidato a participante, você consegue prever se ele vai funcionar no programa ou não?
Os participantes são tão importantes quanto o formato, mas não se pode prever claramente como cada um vai se comportar. O que dá o tom é o grupo, como eles se relacionam.
Depois de todas estas edições, parece que se instalou a idéia de que os participantes mais pobres têm mais chances. É algo repetido bastante nesta edição. A previsibilidade incomoda você?
Quem dá o veredicto final é o público, portanto o que eles pensam um do outro é irrelevante para essa decisão. Além disso, o perfil de vencedor nunca se repetiu nas seis edições.
Os participantes, a cada edição, entram sabendo mais do jogo. Isso não atrapalha?
Não existe essa possibilidade, já que uma das chaves é o relacionamento. Se você não sabe quem serão seus oponentes, fica impossível montar uma estratégia.
Foi divulgado que a Globo renovaria o contrato com a Endemol. Quantos BBBs ainda serão feitos?
O que vai definir a permanência do programa é a direção da Globo e o mercado. Enquanto a fórmula estiver agradando, o Big Brother Brasil continuará no ar.’
Cristina Padiglione
Game, novela e RPG
‘Primeiro canal de TV da internet, a AllTV lança, na próxima segunda-feira, uma espécie de game-novela. É um enredo com oito finais distintos, que começa como um Você Decide e depois vai se desdobrando na linha RPG. A equipe do canal realizou ontem um teste para colocar a história no ar de fato a partir do próximo domingo. Segundo o diretor do canal, Alberto Lucchetti, o número de acessos quadruplicou durante os testes, chegando a 18,4 mil no horário (17h30).
Incidente no Lago é a história que inaugura o gênero, batizado como Em Aberto. O ponto de partida é um casal que trava uma discussão num parque – o Ibirapuera, claro. Um acaba morto e o público deve decidir se o outro assume ou não o crime. A partir daí, há a hipótese de jogar o corpo no lago e os resultados vão se desenhando com possibilidades de oito desfechos.
A versão com oito finais deverá ser lançada em DVD após o fim da série, que é uma criação do escritor e diretor Henrique Santilli. O programa contou com a participação de dez atores e já consumiu 15 dias de gravações, a produção de cem cenas e 13 locações.’
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