Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Rachel Almeida

‘Em cima da mesa, um catatau de páginas lista as dezenas de atrações que o o secretário estadual de Cultura do Rio, Arnaldo Niskier, sonha em levar para a França este ano. Para que o projeto saia do papel, diz que está disposto a dois meses de trabalho intenso voltado para a captação de patrocínio. Tudo para que o Rio de Janeiro esteja belamente representando na Mostra da Região Sudeste do Espaço Brasil, local que concentrará as principais atividades do Ano do Brasil na França, entre 11 de junho e 25 de setembro. O empreendimento faz parte da temporada cultural lançada oficialmente na terça-feira, em Paris, com a presença do ministro Gilberto Gil e dos ministros franceses das Relações Exteriores, Michel Barnier, e da Cultura e Comunicação, Renaud Donnedieu de Vabres.

– Filtramos as sugestões e agora vamos tentar viabilizar todas as atrações, mas ainda não posso dizer se vão 100, 80 ou 70% da lista. O governo do Estado está bastante empenhado, já que entendemos a importância do evento e da aproximação do Brasil com a França, dois países de cultura latina. Será um diálogo com os franceses e também com os milhões de turistas que passam pelo país durante o verão – comenta Niskier.

Divididas em cinco mostras, uma nacional e quatro regionais, as atividades do Espaço Brasil pretendem revelar uma diversificada e moderna produção cultural brasileira, além de aspectos importantes da nossa tradição, com o objetivo de consolidar a imagem do país no exterior.

O Rio de Janeiro estará dividindo espaço com Minas Gerais e Espírito Santo de 15 de agosto a 4 de setembro no Carreau du Temple, um pavilhão de 2.400 metros quadrados em Paris, onde funcionará o Espaço Brasil. A escolha dos artistas e atrações fluminenses foi feita por uma comissão da Secretaria de Cultura, com curadoria de Reinaldo Roels (arte contemporânea), Lélia Coelho Frota (arte popular), João Luiz Vieira (audiovisual) e Caíque Botkay (música).

A proposta de programação inclui nomes de artistas e grupos como Egberto Gismonti, Água de Moringa, Jongo da Serrinha, Pedro Luís e a Parede e Ney Matogrosso, Afroreggae, Balé Folclórico da Uerj, Intrépida Trupe, Teatro do Anônimo, Antônio Manuel e Cildo Meireles (leia ao lado). Para o módulo gastronômico, que funcionará na área externa do Espaço Brasil, foi indicada a chef Teresa Corção, que desenvolve pesquisas sobre a mandioca. No menu criado para o projeto, foram incluídos dois tipos de feijoada, sete modalidades de farofa e licores de frutas brasileiras.

– O Estado não colocará seu orçamento à disposição desse projeto. O compromisso feito com a governadora foi pela batalha por patrocínio – afirma ele, que acredita que a lista final de atrações estará definida até abril.

Nos planos da comitiva estadual, está ainda uma possível esticada a Londres a pedido de autoridades inglesas.

– Estamos estudando a possibilidade de apresentar o mesmo trabalho em Londres. Mas isso depende, além da questão financeira, da agenda dos artistas escolhidos – acrescenta o secretário.

E, além de toda a atividade cultural, o Espaço Brasil funcionará como uma vitrine de negócios. Uma das estratégias do Rio de Janeiro é a divulgação da Bolsa de Cultura do Rio, criada em parceria com a Bolsa de Valores do Rio, com o objetivo de oferecer subsídios a empresas que desejarem exportar produtos de natureza cultural. Os interessados terão à disposição computadores ligados à internet pelos quais será possível obter as informações necessárias para o fechamento de negócios.

– Lançaremos a Bolsa de Cultura privilegiando a moda brasileira, que já brilha no cenário internacional. Depois, a idéia é ampliar as transações incluindo produtos ligados ao futebol, carnaval, música e folclore. Eles serão divulgados na rede em cinco idiomas: francês, inglês, espanhol, italiano e mandarim – adianta Niskier.

O secretário aproveita a vitrine para alfinetar o jornalista Larry Rohter, correspondente no Brasil do jornal The New York Times, autor da reportagem sobre uma epidemia de obesos no Brasil, e sua troça ao ‘novo modelo de Garota de Ipanema’:

– Vamos mostrar a moda praia para as produtoras de biquíni de Paris, por exemplo. Queremos provar, através desse serviço, que as brasileiras continuam esbeltas e lindas, ao contrário das mulheres de outras partes do mundo que estão cada vez mais feias e obesas – satiriza.’



Pedro Guimarães

‘Gil quer dar tom didático para ações na França’, copyright Folha de S. Paulo, 19/1/05

‘O ministro da Cultura, Gilberto Gil, quer que os eventos culturais do Ano do Brasil na França tenham, para os franceses, um lado didático, explicativo e histórico.

Foi assim que o ministro resumiu, ontem, em Paris, no lançamento oficial das comemorações da cultura brasileira em solo francês, as intenções do governo brasileiro para a empreitada que vai de março a dezembro de 2005.

O ano ‘escolar’ brasileiro na França vai ser dividido em três grandes temas: ‘Raízes do Brasil’ (influência de indígenas, negros e europeus na formação do povo brasileiro), ‘Verdade Tropical’ (eventos ao ar livre com a projeção de filmes, peças de teatro, dança, exposições e até um trio elétrico pelas praias da Côte d´Azur) e ‘Galáxias’ (a modernidade das artes brasileiras).

Gilberto Gil não explicitou o valor do projeto cultural que, além da promoção conjunta entre os governos brasileiro e francês, tem a participação de empresas do setor privado de ambos os países.

Questionado sobre como a empreitada do Ano do Brasil poderia ser revertida em benefícios sociais concretos para o povo brasileiro, Gil desconversou, fez graça e, carismaticamente, passou à pergunta seguinte.

A cidade de São Paulo receberá lugar de destaque no evento cultural brasileiro em terras francesas. A cidade será tema, assim como Brasília e Rio, da retrospectiva anual de filmes do Fórum das Imagens, a antiga Videoteca de Paris. A mostra de filmes ‘Retratos Cruzados’ apresentará ficções e documentários de diversas épocas rodados ou dedicados a São Paulo. Já o filme mudo ‘São Paulo, Sinfonia de uma Metrópole’, de 1929, dirigido por Adalberto Kemeny e Rudolph Lustig, será projetado com acompanhamento em piano no auditório do Museu do Louvre. Veja a programação em www.bresilbresils.org.’