Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Rafael Cardoso

‘Festa da mexerica, Índigo, Editora Hedra, 128 páginas, R$ 23

Esses intrépidos blogueiros e suas magníficas máquinas de misturar palavras! Não precisa ser nenhum internauta calejado para saber que os blogs ameaçam virar a grande praga literária deste início de século 21. (Para os passadistas irregeneráveis, daqueles que ainda lêem cadernos literários impressos, blog é a abreviatura de weblog, ou seja, diário de bordo postado na internet por algum anônimo qualquer.) Libertos, pela tecnologia, da sacrossanta censura do mercado editorial, os diários de adolescentes saíram dos caderninhos espiralados com adesivos de gatinhos, aumentaram um pouco de faixa etária e ganharam vida própria, com direito a galerias de fotos, animações, links e outros apetrechos do espaço virtual. Tornaram-se entidades com nome de monstro: corram, que vem aí… the blog! Toda menina descolada quer ser a próxima Clarah Averbruck. Todo menino cabeça acredita que pode ser o novo Jack Kerouac. (Por que os meninos são sempre mais pretensiosos do que as meninas?) Por esses e outros devaneios, soa como um paradoxo o conceito de literatura de blog. Porém, como quase toda verdade é paradoxal, a verdade é que existe tal coisa.

Pedem-se provas empíricas? Oferece-se Festa da mexerica, livro de contos de autoria de uma certa Ana C. Araújo Ayer de Oliveira, auto-denominada escritora paulista, que atende pelo pseudônimo de Índigo, apelido de orientação nitidamente internética, quiçá blogueira. É forte a acusação? Pois saibam que a autora possui site próprio (http://www.jhendrix.net/indigo), onde anuncia a venda de serviços literários e ainda avisa: ‘Atenção: não escrevo poesia, poemas ou sonetos. Favor não insistir.’ Se não é blogueira por definição, aproxima-se perigosamente da coisa. No mínimo, conhece vários. (Afinal, diga-me com quem andas…) Blogueira ou não, certo que a moça é escritora, e das boas. Aos fatos.

Festa da mexerica, livro contendo 16 contos decalcados do cotidiano e das lembranças de uma mulher-menina na grande metrópole. Desde o realismo fantástico de ‘Íngride toma umas’, em que uma fada irlandesa se entrega às agruras da noite paulistana em busca de uma companhia qualquer para suprir sua carência secular, até o fantástico realismo de ‘O marido acidental’, em que a desesperada narradora tenta entender como seu namorado tatuador transformou-se no temível bicho marido, pasmado no sofá entretido por futebol e brejas geladas. Ao longo do livro, situações surpreendentes, diálogos precisos, uma prosa viçosa e, ao mesmo tempo, curiosamente madura. O simpático projeto gráfico, estruturado em torno de ilustrações de Mônica Monteiro, enfatiza bem a vitalidade que permeia o volume. Pena que a editora Hedra, tendo conseguido atingir no design um nível de qualidade raro mesmo nas grandes editoras, não tenha sabido investir em algo tão corriqueiro quanto uma boa revisão. Sem nem falar na grave deficiência de crases, não dá para deixar passar ‘cafonisse’, assim com dois esses. No saldo, porém, um livro cuidado e uma bela aquisição para qualquer leitor que queira ter prazer com a escrita brasileira atual, especialmente se esse leitor tiver idade abaixo de trinta anos.

E qual a importância de tudo isto, perguntarão aqueles recalcitrantes freqüentadores de cadernos literários, para o desenvolvimento da literatura nacional? Nenhuma, e muita. Nenhuma, porque os contos de Índigo estão misericordiosissimamente livres de qualquer pretensão de impactar os rumos da literatura nacional. Muita, porque, justamente por esta razão, acabam por fazê-lo. A léguas morais de distância de uma certa literatura vanguardeira que se pretende pós-moderna por ser fruto de uma mistura indigesta de Bakhtin com Bukowski, Festa da mexerica traz o sopro benfazejo de uma escrita que é atual por vivência e vocação – não por acaso, com uma inflexão feminina. Trata-se de uma escrita que é contemporânea porque reflete com veracidade o espírito e a expressão de sua época, e não porque foi elaborada a partir de complicadas estratégias narrativas e opacas construções de linguagem, muitas vezes transpassadas por uma escatologia cansada de adolescente travesso. Abre alas, geração 90; a geração 00 pede passagem.’



Claudio Julio Tognolli

‘Hackers invadem site da USP para atacar o presidente Lula’, copyright Revista Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), 18/05/04

‘Piratas da Internet, os famosos hackers, invadiram parte do site da maior universidade da América Latina, a USP, a partir das 12h30 da última sexta-feira (14/5). O alvo não era apenas e tão somente a USP, mas também o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Ficaram fora do ar — até o fim da tarde desta terça-feira (17/5 — os sites da Rádio USP, do Jornal da USP, TV USP, Agência USP de notícias, da Reitoria e das Pró-Reitorias. A invasão foi detectada a partir do Centro de Computação Eletrônica, CCE, que está baseado na Escola Politécnica da USP.

A partir de um erro de script nas páginas da USP, os hackers invadiram o portal da universidade. Mantiveram o logotipo da USP, mas colocaram em letras garrafais ‘Tec Teen apresenta: Defacement Crew’. Em seguida, apareceu a mensagem:

‘Ei Lula, se f…. Manezão, você só passa sua imagem porca de um presidente para fora de seu país’. Depois, escreveram o baixo calão ‘P.Q.P’, seguido de um ‘vão se f…., seus lamerz’.

O vocábulo ‘lamerz’, na linguagem hacker, é empregado para nomear todo aquele que não entende dos procedimentos técnicos de informática.

A invasão foi assinada, na página da USP, pelos hackers intitulados Memphis e DNSX, que antes de seus nomes escreveram ‘defaced by’, ou seja, site descaracterizado.

Nesta quarta-feira (19/5), o caso será levado por membros do Centro de Computação Eletrônica da Poli, pessoalmente, ao reitor da USP, Adolpho José Melphi.

Até a tarde desta terça-feira, a USP cogitava colocar o delegado da Polícia Civil de São Paulo, Mauro Marcelo Lima e Silva, para investigar o caso. Formado no FBI, ele esclareceu para o governo dos Estados Unidos as ameaças feitas pelo site da Casa Branca contra o presidente Bill Clinton. As ameaças partiram de um brasileiro que morava no interior de São Paulo. Mauro Marcelo dirigiu a primeira delegacia de crimes informáticos no Brasil. É tido como a maior autoridade no assunto na América Latina.

A explicação constante no site da USP apenas registrou: ‘Informamos que alguns sites de Unidades e Centros de Pesquisas da Universidade ficarão temporariamente indisponíveis nesta segunda-feira (17/05). O restabelecimento está previsto para terça-feira (18/05). Gratos pela compreensão’.’



Renato Cruz

‘Brasileiro usa mais internet que americano’, copyright O Estado de S. Paulo, 22/05/04

‘O usuário brasileiro de internet ficou mais tempo conectado que o americano em abril, pela primeira vez desde que o Ibope NetRatings começou a medição, em setembro de 2000. No mês passado, as pessoas que usam a internet em casa ficaram, em média, 13h43 conectadas, comparadas a 13h21 para os americanos.

‘Isto reflete o amadurecimento do usuário brasileiro’, diz o diretor de Marketing e Serviços de Análise da empresa, Marcelo Coutinho. ‘Conforme eles vão se acostumando, usam mais.’ Outro motivo foi o crescimento da internet rápida.

Ao ultrapassar os Estados Unidos, o Brasil ficou em segundo lugar entre os países com mais horas de navegação por mês. Em primeiro, está o Japão, com 14h20. ‘Existe um limite natural para o crescimento no número de horas mensais, entre 15h e 16h’, apontou Coutinho. A exceção é Hong Kong, que pertence à China, onde a média mensal ficou em 22h. ‘No auge da epidemia da Sars, chegou a 27h.’

Em abril, as pessoas que usaram pelo menos uma vez a internet em casa somaram em 11,9 milhões, de um universo de cerca de 20 milhões que têm computadores capazes de se conectar em sua residência.

Com a entrega de declarações do imposto de renda, o site da Receita Federal ficou em 11.º entre os mais visitados do País, numa lista que inclui os comerciais, e liderou a audiência entre os sites de governo. Ele recebeu a visita de 2,24 milhões de internautas domiciliares em abril, comparados a 2,05 milhões no mês anterior. Em fevereiro, antes de se iniciar o período de entrega das declarações, a audiência da Receita era de 1,21 milhão, com a 19.ª posição entre os mais visitados.’



Lydia Medeiros

‘Professores desplugados’, copyright O Globo, 21/05/04

‘O mundo digital está muito distante do cotidiano do professor brasileiro. Pesquisa realizada pela Unesco com cinco mil professores nos 26 estados e no Distrito Federal traçou um perfil dos docentes de ensino fundamental e médio do país e revela dados inquietantes para a formação das futuras gerações: mais da metade dos professores não tem computador em casa, não navega na internet e sequer usa o correio eletrônico.

A exclusão digital é conseqüência direta da situação econômica em que vivem os professores. Um terço dos entrevistados se classifica como pobre; 65,5% têm renda familiar entre dois e dez salários-mínimos.

– Não há como um professor ensinar aos alunos como usar a informática a não ser que ele saiba. E não sabe nem o potencial nem como proteger os alunos do lado pernicioso da internet. É um absurdo – constata o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein.

O acesso ao computador e à internet é diretamente proporcional à renda. Na faixa salarial mais alta, mais de 20 salários-mínimos, 91,7% dos professores têm máquinas em casa e 89,7% deles usam a rede. Nos países em que a internet é de uso corriqueiro no ensino fundamental e médio, o debate se concentra sobre os efeitos pedagógicos dessa ferramenta.

A pesquisadora Maria Fernanda Rezende Nunes, do convênio Unesco-Unirio, uma das que analisaram os dados, acredita que a alfabetização tecnológica deve ser uma das prioridades nas políticas de investimento em educação. Os pesquisadores recomendam que o computador deixe de ser visto como um bem de consumo e seja encarado como um instrumento fundamental para o trabalho do professor.

Werthein lembra que no Brasil, com 170 milhões de habitantes, só 17 milhões têm acesso a novas tecnologias. Mas a solução não se esgota com a instalação de laboratórios de informática nas escolas. Há muitos ociosos por falta de manutenção ou de conhecimento.

Ele aponta o exemplo do estado de São Paulo como política correta para superar o problema. O governo paulista subsidia a venda de computadores para professores: paga a metade e cobra o resto em prestações.

– É o que deve ser feito. Quando o professor tem a possibilidade de ter computador em casa, há a inclusão digital do núcleo familiar, com um impacto impressionante – diz Werthein.

Carreira proporciona ascensão social

Os dados da Unesco também confirmam os indicadores das profundas disparidades regionais do país. No Nordeste, 12,7% dos docentes recebem até dois salários-mínimos, enquanto no Sudeste esse percentual é de 1%. Entre os nordestinos, só 2% conseguem ter mais de 20 salários no fim do mês. Já no Sudeste, essa é a renda familiar de 8,9% dos professores.

A pesquisa traz uma revelação fora do senso comum: a carreira de professor foi instrumento de mobilidade social para os entrevistados. Os docentes superaram a situação de vida do núcleo familiar de origem: 49,5% têm os pais com o nível fundamental de ensino incompleto; cerca de 15% dos pais e das mães dos professores não têm nenhum grau de instrução e apenas 5,7% têm ensino superior completo. As entrevistas foram feitas entre abril e maio de 2002.’