Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Regulação não é censura, diz José Dirceu


Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


 


************


Folha de S. Paulo


Terça-feira, 14 de dezembro de 2010


 


REGULAÇÃO


Rodrigo Rötzsch


Dirceu diz que mídia é contra regulação por ter medo de novos concorrentes


O ex-ministro José Dirceu afirmou ontem, no Rio, que ‘o Brasil precisa entrar no século 21 em matéria de mídia’. Para isso, defendeu a criação de um ente regulador dos meios de comunicação.


‘Regulação da mídia não é censura à mídia. Regulação como existe nos EUA, na França e na Inglaterra, adaptada às nossas necessidades e pactuada. Não é imposto a ninguém. Nós estamos numa democracia, é o Congresso que aprova, se não pactuar, não construir consensos, não aprova.’


O ministro Franklin Martins (Comunicação Social) finaliza um projeto de regulação da mídia para deixar à presidente eleita, Dilma Rousseff.


A Folha revelou que a proposta inclui a criação de uma Agência Nacional de Comunicação, que teria poderes para multar empresas que veicularem programas considerados ofensivos ou preconceituosos.


Para Dirceu, os meios de comunicação são contra a regulação por medo de enfrentar novos concorrentes. ‘O Brasil precisa de mais meios de comunicação, cada vez mais.’


O ex-ministro foi um dos homenageados no prêmio Democracia e Liberdade Sempre, da CUT. O evento também foi um ato de desagravo a Dilma pelo que a entidade viu como ‘criminalização’ de sua luta armada durante a ditadura.


‘Nós não pegamos em armas. Quem pegou em armas foram as Forças Armadas, usurpando as armas que a Constituição deu a elas para impor uma ditadura ao país. Nós só resistimos’, disse.


Ele saudou ainda a notícia de que Lula irá ‘expor a farsa do mensalão’ após deixar a Presidência.


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


A transformação


O ‘60 minutes’, da CBS, dedicou no domingo longa reportagem ao Brasil, ‘a próxima superpotência econômica do mundo?’. Quase sem restrições, o repórter Steve Kroft se concentra no Rio e vai a Brasília para entrevistar Lula. Antes de começar, relata décadas de problemas econômicos, terminando no ‘maior pacote de resgate da história do FMI’:


‘E então este homem entrou no gabinete presidencial. Conhecido como Lula, é um ex-metalúrgico com educação até a quarta série e doutorado em carisma. Está para deixar o cargo com aprovação de 77% e muito do crédito pela transformação do país.’


Ecoou pela cobertura financeira, com o ‘Business Insider’ dizendo que ‘explicou por que os investidores estão loucos pelo Brasil’, mas chega ‘um pouco tarde para o público americano’. A ‘Forbes’ afirmou que, na verdade, ‘muitos americanos já estão atentos ao Brasil há algum tempo’ -e que a questão agora é se ‘está ficando quente demais’.


ADEUS


E no ‘Domingo Espetacular’, da Record, ‘a despedida do presidente mais popular da história’, por Adriana Araújo


Lula & WikiLeaks Em destaque na Folha.com e também pela agência chinesa Xinhua, Lula declarou ontem que pretende estar presente ‘em alguma assembleia, em alguma passeata, em algum protesto, não contra a Dilma’, mas, por exemplo, ‘um protesto porque censuraram o WikiLeaks, vamos fazer manifestação, porque a liberdade de imprensa não tem meia cara’.


Dilma & Twitter Também por Folha.com e outros, o Twitter soltou seu balanço para o ano e ‘Dilma Rousseff é a segunda personalidade mais comentada’, perdendo apenas para Justin Bieber. Ela escreveu em seu perfil, depois, ‘Amigos, muito legal ser tão lembrada no Twitter em 2010. Logo eu, que tive tão pouco tempo para estar aqui com vocês. Vamos conversar mais em 2011’.


IMPRESSÕES


Destacando as expressões ‘teimosa’, ‘forte’ e ‘workaholic’, de um despacho de 2005 vazado via WikiLeaks, para a ‘Foreign Policy’ a embaixada dessa vez ‘acertou’


COM TODAS AS ARMAS


O site do Council on Foreign Relations, de Nova York, influente na política externa americana, destacou ontem ‘O caso legal contra o WikiLeaks’, detalhando que o Departamento de Estado deve ‘processar Julian Assange usando todos os estatutos disponíveis, inclusive o Ato de Espionagem’, de 1917.


Entrevista um ex-assessor legal do Departamento e do Conselho de Segurança Nacional, que indica como foco o ‘dano potencial para informantes’ e não os problemas criados para a política externa. E prevê que não será fácil para os EUA obter a extradição.


EUA NO PRÉ-SAL


Um dia após a revelação via WikiLeaks do lobby de Chevron e Exxon contra as novas regras do pré-sal, que incluíram conversa com José Serra, o destaque de Brasil no Google News foi que a também americana General Electric comprou a inglesa Wellstream, de equipamentos para exploração.


No ‘Wall Street Journal’, ‘o negócio sublinha a importância do Brasil para a GE’. No ‘Financial Times’, ‘um dos maiores atrativos da Wellstream é sua exposição ao Brasil’, que gera a maior parte de seus lucros -junto à Petrobras.


ETC.


Destaque por ‘FT’ e agências ontem, ‘Embraer avança sobre a defesa’. A empresa ‘diversifica’ para além da aviação civil e passa a fabricar ‘sistemas de comunicação para uso militar e policial’


 


 


WIKILEAKS


David Carr, NYT


WikiLeaks mudou para atrair mais atenção


O WikiLeaks mudou o jornalismo para sempre?


Talvez. Ou pode ser que o oposto tenha acontecido.


Pense sobre o que aconteceu em 2008, quando o WikiLeaks divulgou documentos que sugeriam que o governo do Quênia havia saqueado o país. O interesse da grande mídia pelo tema foi discreto.


Então, seis meses atrás, o site adotou uma abordagem mais jornalística apresentando uma edição de um vídeo gravado em Bagdá em 2007 que mostrava um helicóptero disparando contra pessoas que pareciam desarmadas. A revelação atraiu atenção muito maior da imprensa.


Em julho, o WikiLeaks iniciou o que na prática constitui uma parceria com grandes organizações de mídia, entre as quais o ‘New York Times’, ao lhes oferecer acesso antecipado ao chamado ‘Diário da Guerra no Afeganistão’. A estratégia resultou em volume considerável de reportagens sobre as implicações dos documentos.


Depois, em novembro, o imenso acervo de 250 mil mensagens diplomáticas sigilosas americanas, que descrevem tensões em todo o planeta, foi compartilhado pelo WikiLeaks com ‘Le Monde’, ‘El País’, ‘Guardian’ e ‘Der Spiegel’. (O ‘Guardian’ repassou os documentos ao ‘New York Times’.) O resultado foi imenso: muitos artigos foram publicados, boa parte dos quais análises em profundidade.


Perceba que, a cada lote de documentos vazados, o WikiLeaks adotou visão mais estratégica, e foi recompensado com cobertura mais extensa de suas revelações.


A caminhada do WikiLeaks, de suas origens como site editado por usuários em direção a um modelo editorial mais tradicional, foi longa, mas parece ter ajudado o site a cumprir seu manifesto e divulgar documentos ‘com o máximo impacto possível’.


Julian Assange, criador do WikiLeaks, aparentemente começou a compreender que é a escassez, e não a onipresença, que atrai a cobertura.


Em lugar de remover as cobertas e permitir que todos vissem, começou a limitar as revelações ao conteúdo que pudesse ganhar valor por meio de apresentação, edição e reportagem adicional.


Em certo sentido, Assange, cuja formação é a de programador de computadores, aproveitou o poder de processamento da mídia noticiosa a fim de construir uma história e apresentá-la de maneiras compreensíveis.


E ao publicar apenas uma parcela dos documentos, em lugar de difundir informações a torto e a direito e causar risco desnecessário a terceiros, o WikiLeaks também pôde adotar uma postura de responsabilidade, abordagem que parece contrariar o cerne anarquista de Assange.


Ainda que Assange agora alegue que seu site pratica o que define como uma nova forma de ‘jornalismo científico’, seus escritos do passado sugerem que acredita que a missão do WikiLeaks seja prejudicar o funcionamento daquilo que vê como Estados corruptos, secretos e inerentemente malévolos. Ele iniciou uma conspiração a fim de derrubar algo que vê como conspiração ainda maior.


Ao moderar ligeiramente o radicalismo e colaborar com veículos da grande imprensa, criou uma zona de maior conforto para seus parceiros.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Globo terá no exterior canal só de novelas


A Globo prepara o lançamento de novos canais internacionais em 2011.


A emissora já encomendou estudo junto ao mercado para lançar dois novos canais, segmentados, lá fora: um só com novelas e outro sobre turismo, cultura e culinária brasileira.


Com as novidades, a Globo pretende conquistar não só brasileiros que vivem no exterior, como também a audiência estrangeira interessada no Brasil.


A Globo Internacional fechou 2011 com 580 mil assinantes pelo mundo, no ar em 66 operadoras; dez delas, fruto de novas parcerias fechadas durante o ano.


HO HO HO


O casal Luciana Gimenez e Marcelo de Carvalho durante a gravação do ‘Mega Senha’ (Rede TV!) especial de Natal. Vai ao ar no dia 25, às 22h45


Bolo No dia em que Silvio Santos completou 80 anos, o SBT bateu em audiência a Record com especial sobre o patrão. Ficou em 2º lugar nas duas vezes em que foi ao ar: marcou 8 pontos à tarde, ante 6 da Record, e 9 pontos à noite. (Cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande SP)


Férias ‘TV Xuxa’ sai de férias na Globo no dia 25 sem data para voltar. Em seu lugar entra a ‘TV Globinho’.


Telão Mesmo sem as atrações fechadas, o Multishow já vendeu duas das cinco cotas de patrocínio do Rock in Rio.


‘Existe uma torcida: ‘Vamos desencalhar a Xuxa!’


XUXA


sobre os boatos do seu romance com o cantor Victor, no ‘Domingão do Faustão’


Firma Em sua festa de funcionários na semana passada, a Record prometeu sortear dois carros, mas acabou sorteando três. Motivo: uma das contempladas foi a apresentadora Mylena Ciribelli, que teve seu nome revelado entre vaias e gritos de ‘não vale’.


Firma 2 A Record disse que Mylena vai levar o carro -no valor de R$ 40 mil- e que o 3º sorteio já estava previsto.


Fashion Julia Petit deve ganhar um programa no GNT. Mais um sobre moda, é claro.


Blush Ainda no GNT, o ‘Superbonita’ renovou contrato com o maquiador/fotógrafo Fernando Torquatto, mas não com a atriz Alice Braga. O programa vai ganhar uma nova apresentadora e tem gente apostando em Luana Piovani para a função.


Despedida Laura Cardoso (Mariquita) fez a equipe de ‘Araguaia’ (Globo) chorar ao gravar cenas em que sua personagem pede para a empregada cuidar de Solano (Murilo Rosa) quando ela morrer. Mariquita terá Alzheimer e deverá sair antes do final da novela.


Surpresa Geraldo Luís voltou ao ar ontem na Record, sem alarde, às 6 horas, em nova edição do ‘Balanço Geral’. Registrou média de 2 pontos.


com SAMIA MAZZUCO


 


 


Vitor Moreno


Apresentadora Hebe Camargo vai deixar o SBT após quase 25 anos


Hebe Camargo, 81, vai deixar o SBT, onde comanda o ‘Programa Hebe’ há quase 25 anos.


O anúncio foi feito pela própria apresentadora, que leu uma carta de despedida durante a gravação do especial de Réveillon da emissora, na tarde de ontem.


Algumas pessoas da produção ficaram sabendo da saída da apresentadora na hora.


Ao se despedir, Hebe disse em tom de brincadeira que estava de mudança para a TV Globo.


No domingo, ao receber homenagem no programa ‘Domingão do Faustão’, da Globo, a apresentadora afirmou que trabalharia na emissora se tivesse convite.


Nos bastidores, porém, a informação é de que ela está negociando com a Rede TV!.


Segundo o empresário -e sobrinho- de Hebe, Cláudio Pessutti, o motivo da saída é o descontentamento com a proposta de trabalho feita pelo SBT para 2011. O atual contrato termina no final do ano.


Especula-se que a emissora queria reduzir o salário de Hebe, mas Pessutti nega que a decisão esteja relacionada ao valor do contrato. ‘Ela está em busca de renovação’, afirma.


O último programa apresentado por Hebe no SBT deve ir ao ar no dia 27. Ela também comanda um especial com convidados do próprio SBT que vai ao ar na próxima segunda-feira (leia mais na E8).


No ano que vem, ela deve estrear em outra emissora. Os novos planos, porém, só serão divulgados em janeiro, segundo Pessutti.


Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa do SBT diz que vai se pronunciar a respeito nos próximos dias.


 


 


Gustavo Fioratti


Celebridades do SBT pagam mico para homenagear Hebe


O especial de fim de ano de Hebe Camargo, que vai ao ar na próxima segunda, está uma gracinha. Especialmente por conta dos divertidos micos que algumas personalidades do SBT tiveram de pagar em frente às câmeras.


De vestido rosa e falsos brilhantes, Eliana imitou Marilyn Monroe, dublando uma versão da música ‘Diamonds Are a Girl’s Best Friend’, do filme ‘Os Homens Preferem as Loiras’.


Ao fim do pocket show, Hebe perguntou: ‘Mas por que a Marilyn?’. Eliane respondeu: ‘Você é a nossa Marilyn’. Estava aberta a sessão de elogios mútuos.


Ratinho fez dupla com o cantor Daniel em sessão que intercalou música caipira e uma poesia sobre um caboclo triste. Depois, sofá.


O melhor ainda estava por vir. Os apresentadores Christina Rocha e Carlos Alberto de Nóbrega dançaram bolero cantado por Raul Gil. Ela o conduziu sem disfarces.


A supernanny Cris Poli também dançou com o marido, Luciano. Mais preparada, a dupla foi surpreendida apenas pelas perguntas sempre ambíguas de Hebe. Do tipo: ‘Tango ajuda na hora do amor?’.


NA TV


Hebe


Especial de final de ano


QUANDO dia 20, às 20h15, no SBT


CLASSIFICAÇÃO livre


 


 


INTERNET


Carolina Matos


Acesso à internet cresce mais no Nordeste


O Nordeste é a região do país em que as visitas à internet mais aumentaram nos últimos seis meses, de acordo com a Serasa Experian.


A empresa de informações financeiras -que vende dados para clientes como bancos e varejistas- detectou, em estudo exclusivo para a Folha, crescimento de 7,53% dos acessos dos nordestinos à web no período de 5 de junho a 4 de dezembro.


Essa expansão representou um aumento de 12,1% para 13% do peso do Nordeste no total de visitas à rede.


O Norte manteve estabilidade de participação em 2,7%. E nas demais regiões -Sudeste, Sul e Centro-Oeste- houve queda, embora o Sudeste siga como líder nessa área, com fatia de 61,1%.


BAHIA


O estudo apontou ainda que a Bahia é o Estado nordestino mais conectado, com 4,43% das visitas à web.


As categorias de sites mais procuradas pelos baianos são: ferramentas de busca (40%), redes sociais (24,8%), e-mails (10,7%), portais (7,9%), vídeo e multimídia (4,8%) e esportes (1,9%).


O levantamento monitorou, com autorização prévia, 500 mil pessoas que navegaram por 270 mil websites em todo o Brasil.


‘Em troca, os internautas receberam benefícios on-line, como acesso a jogos’, diz Juliano Marcílio, presidente da unidade de serviços de marketing da Serasa Experian para a América Latina.


O acompanhamento regional é atualizado semanalmente. ‘Com os dados, comprovamos que a maior representatividade do Nordeste na economia do país tem se refletido também no acesso à internet’, diz Marcílio.


A Experian já oferece ferramentas semelhantes em mercados estrangeiros, como EUA, Inglaterra e Austrália. E começa a comercializar o produto hoje no Brasil.


RECORTES


A Serasa diz ainda que as empresas assinantes podem refinar a pesquisa para, por exemplo, saber quais sites o internauta acessa antes e depois da página preferida.


No Brasil, o Ibope Nielsen Online também faz levantamentos sobre a atividade na internet, mas não oferece detalhamento regional.


Além disso, o IBGE acompanha a evolução do número de internautas no país, inclusive por região. Mas a atualização é anual e não especifica os sites acessados.


 


 


Vazamento de óleo é nº 1 no Twitter em 2010


O vazamento de óleo ocorrido no golfo do México foi o assunto mais comentado do Twitter em 2010, segundo o blog oficial do site.


Em maio, um acidente em uma plataforma da BP causou um enorme vazamento de petróleo, provocando um desastre ambiental.


Somente um mês após o acidente o vazamento começou a ser controlado.


De acordo com a lista divulgada pelo Twitter, dos dez assuntos mais comentados no ano, três tiveram relação com a Copa do Mundo, incluindo a vuvuzela e o polvo Paul, morto recentemente.


Apesar de ter figurado durante dias entre os assuntos mais comentados do mundo, o ‘Cala Boca, Galvão’ não entrou na lista.


Foram enviadas pelo Twitter mais de 25 bilhões de mensagens neste ano.


Os tópicos mais comentados, chamados de ‘trending topics’, são calculados por meio de um algoritmo que o sistema atribui a cada palavra contida nas mensagens -que podem ter, no máximo, 140 caracteres.


 


 


 


************


O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 14 de dezembro de 2010


 


REGULAÇÃO


Alfredo Junqueira


Para Dirceu, mídia ‘teme concorrência’


O ex-ministro da Casa Civil e deputado federal cassado José Dirceu (PT-SP) afirmou ontem que os grandes veículos de imprensa temem a concorrência de novas empresas privadas. Em discurso durante o evento Democracia e Liberdade Sempre, promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), o líder petista disse ainda que o País passa por uma batalha no campo da comunicação social.


‘Não é uma batalha simples. Vai ter muitas nuances, muitas formas’, afirmou. ‘O que eles não querem é concorrência. É o que eles temem. Não é imprensa alternativa, de esquerda ou sindical. É a própria concorrência capitalista’, acrescentou.


Questionado se sugeria abertura do mercado brasileiro para grupos estrangeiros no setor de comunicação, Dirceu negou. Disse que defendia apenas a ampliação do número de veículos no País. O petista ainda afirmou ser favorável à regulação da mídia.


‘Regulação da mídia não é censura à mídia. Ter um órgão regulador, como existe nos EUA, na França e na Inglaterra, adaptada às nossas necessidades e pactuada. Nós estamos numa democracia. É o Congresso que aprova. Se não pactuar, não construir consensos, não se aprova.’


Dirceu disse que a eleição de Dilma Rousseff representa a chegada da geração de 68 ao poder, mas evitou fazer declarações sobre o futuro governo, para, segundo ele, evitar polêmica.


No discurso, o petista falou sobre a luta armada e o processo de redemocratização brasileiros. Lamentou que a redemocratização tenha ocorrido a partir de frente ampla controlada pela centro-direita. ‘Uma hegemonia que prevaleceu até a vitória do Lula. E que ainda tem presença nos nossos governos pelas condições e características do nosso processo político.’


Argumentou que a resistência, na ditadura, ocorreu como resposta ao ataque inicial das Forças Armadas. ‘Quem pegou em armas foi a ditadura. As armas que a nação entregou às Forças Armadas para defender a Constituição e a democracia, elas usurparam para impor ao País uma ditadura’, disse Dirceu. ‘E foi contra ela que nós nos levantamos e resistimos.’


 


 


WIKILEAKS


David Carr, The New York Times


O WikiLeaks, a mídia e o novo jornalismo


Será que o WikiLeaks mudou o jornalismo para todo o sempre? Talvez. Ou quem sabe o que aconteceu foi exatamente o contrário.


Em 2008, o WikiLeaks divulgou apenas documentos que sugeriam que o governo do Quênia havia saqueado o país. A imprensa em geral não se manifestou a este respeito. No início de 2010, o WikiLeaks passou a adotar um enfoque mais jornalístico – editando e comentando um vídeo de 2007 sobre Bagdá, no qual um helicóptero Apache abria fogo sobre um grupo de pessoas aparentemente desarmadas. Os comentários foram os mais variados, mas dessa vez a revelação recebeu uma atenção muito maior da mídia.


Em julho, o WikiLeaks deu início a uma espécie de parceria com veículos de comunicação oferecendo-lhes uma primeira visão do chamado ‘Diário da Guerra do Afeganistão’, uma estratégia que resultou numa série de artigos sobre as implicações dos documentos secretos. Então, em outubro, o WikiLeaks decidiu abrir para os jornais Le Monde, El País, The Guardian e Der Spiegel o filão de ouro, até então secreto, de 250 mil telegramas diplomáticos dos EUA que descrevem as tensões em todo o globo.


Nota-se que a cada divulgação sucessiva, o WikiLeaks ia aperfeiçoando sua estratégia, e foi recompensado com uma cobertura cada vez mais séria e mais ampla de suas revelações. Julian Assange, fundador do WikiLeaks, começou a compreender que o que norteia a cobertura dos eventos é a escassez, e não a abundância. Em vez de simplesmente arrancar o pano para que todos pudessem ver, ele passou a limitar as revelações às que poderiam acrescentar valor mediante uma apresentação condizente. E publicando apenas uma parte dos documentos, em lugar de despejar as informações aleatoriamente e descuidadamente pondo em risco a vida de pessoas, o WikiLeaks também assumiu uma posição de responsabilidade, numa estratégia que parece ir contra o próprio anarquismo fundamental de Assange.


Embora este agora afirme que o site está interessado no que definiu uma nova forma de ‘jornalismo científico’, seus primeiros escritos sugerem que ele acredita que a missão do WikiLeaks consiste em jogar areia na atuação de países que considera corruptos, fechados em si mesmos e particularmente malignos. Ele iniciou uma conspiração com a finalidade de desmontar o que considera uma conspiração maior ainda.


‘A ideia de que esta experiência teria mudado profundamente o jornalismo, ou seja, a maneira como a informação surge, parece um tanto exagerada’, disse Bill Keller, diretor executivo do New York Times. ‘A escala em que isto aconteceu foi inusitada, mas será que foi tão diferente dos Papéis do Pentágono ou da revelação de Abu Ghraib ou das interceptações realizadas pelo governo? Provavelmente não.’


Neste caso, foi um conforto para as editoras jornalísticas saber que o tesouro não continha, com algumas notáveis exceções, nenhuma revelação capaz de abalar o planeta. Mas como ficou cada vez mais evidente que o WikiLeaks estava mudando a maneira de divulgar e consumir as informações, surgiram indagações a respeito do valor do enfoque jornalístico tradicional.


O WikiLeaks com certeza não se beneficia da mesma proteção dada aos outros veículos de informação nos países livres. Ao contrário, sofreu fortes ataques quando o PayPal, Amazon e Visa tentaram impedir o acesso aos seus serviços, medida que pareceria impensável se tomada contra jornais.


Mas Assange é um parceiro complicado. Até o momento, o WikiLeaks esteve envolvido com uma frutífera colaboração, uma nova forma de jornalismo híbrido que surgiu no espaço entre os chamados ‘hacktivistas’ e os veículos de comunicação tradicionais, mas sua relação é instável. Talvez, por enquanto, o WikiLeaks esteja querendo jogar bola com os jornais, mas não compartilha dos mesmos valores ou objetivos. A imprensa tradicional talvez gaste muito tempo tentando cavar informações oficiais, mas ela opera em grande parte com base na convicção de que o Estado é legítimo e tem o direito a resguardar pelo menos alguns dos seus segredos.


Por outro lado, Assange colocou sobre a mesa uma mensagem apocalíptica: ele disse que se a existência do WikiLeaks for ameaçada, a organização publicará indiscriminadamente todos os documentos que ela possui, ignorando as eventuais consequências fatais deste ato. E se o WikiLeaks não gostar do modo como um dos seus parceiros da imprensa tratou das informações que ele forneceu ou não gostar da cobertura dispensada ao site? As mesmas armas da guerra da informática postadas contra seus adversários políticos e seus concorrentes na internet poderão se voltar contra os veículos de comunicação.


Steve Coll, presidente da New America Foundation, escritor e colaborador da revista New Yorker que tem escrito frequentemente sobre o Afeganistão, disse que a permanência do modelo do WikiLeaks é uma questão em aberto.


‘Tenho minhas dúvidas de que uma divulgação deste porte venha a ocorrer novamente’, afirmou, ‘em parte porque os interesses envolvidos e o estado de direito tendem a frear com rigor movimentos incipientes. Basta lembrar do impacto inicial do Napster e do que aconteceu com a rede’.


Evidentemente o Napster deixou de existir, mas o ato de rebelião que ele representou quase ameaçou a indústria fonográfica. ‘Neste momento, os veículos de comunicação estão tratando deste caso como uma transação com uma organização jornalística legítima’, ele disse. ‘Mas a certa altura, o site terá de evoluir e tornar-se uma organização com endereço e identidade, do contrário este tipo de colaboração acabará.’ / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA


 


 


Lula volta a defender Assange e site WikiLeaks


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender ontem o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e afirmou que pretende participar de protestos contra a censura do site, que publicou documentos secretos da diplomacia americana. ‘Com certeza vamos protestar contra aqueles que censuraram o WikiLeaks. Vamos fazer manifestação, porque liberdade de imprensa não tem meia cara, liberdade de imprensa é total e absoluta. Não pode desnudar apenas um lado, precisa desnudar tudo’, disse Lula durante a entrega do Prêmio Nacional de Direitos Humanos.


‘Não ficarei dentro de uma redoma de vidro. Vou fazer política. Então, podem estar certos que nós vamos nos encontrar em algum lugar, em alguma assembleia, passeata, ato público ou protesto. Mas não contra Dilma’, afirmou o presidente, em discurso.


Na semana passada, Lula criticou a prisão de Assange. ‘Estranho é que o rapaz que estava desembaraçando a diplomacia americana foi preso e não vejo nenhum protesto’, disse o presidente durante evento na quinta-feira. ‘Dilma (Rousseff) tem de saber e falar para os seus ministros que, se não tiver o que escrever, não escrevam bobagens, que passem em branco a mensagem’, afirmou o presidente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


 


 


CORRESPONDENTE


Timothy Garton Ash


Correspondente em extinção


Marlene Dietrich costumava cantar I still have a suitcase in Berlin(Eu ainda tenho uma mala em Berlim). Eu ainda tenho quatro latas de gasolina em Skopje. Eu as comprei para dirigir um 4X4 da Macedônia a Kosovo, imediatamente depois de a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) invadir a província devastada em 1999, quando não se podia confiar nos postos de gasolina para conseguir combustível.


Dirigi aquele Lada sacolejante por vários dias, conversando com albaneses kosovares que tinham fugido temendo que os sérvios cometessem um genocídio e agora estavam retornando a suas casas, com seus trailers puxados por tratores carregando crianças, para um comandante implacável do Exército de Libertação do Kosovo, Ramush Haradinaj, que me confidenciou em seu inglês atrapalhado: ‘Eu não poderia ser nenhuma Madre Teresa.’ (Depois de virar primeiro-ministro do Kosovo independente por um curto período, ele está em Haia, enfrentando novo julgamento por crimes de guerra.)


A viagem saiu cara. Como a maioria dos correspondentes estrangeiros, usei um quebra-galho, um jornalista local que arrumava encontros, fazia acertos de viagens, e um intérprete. Um jornal pagou. Fiquei sabendo de coisas que são perceptíveis apenas pessoalmente. E não estava sozinho. Cerca de 2.700 pessoas ligadas à mídia foram para Kosovo: um jornalista para cada 800 habitantes.


Uma década depois, quantos haveria? Num momento tão bélico, provavelmente ainda muitos. ‘Mas como regra geral e mesmo para países e matérias muito importantes: menos, cada vez menos. O correspondente estrangeiro, um tipo brilhantemente satirizado por Evelyn Waugh em seu romance Scoop (no Brasil, O Furo), e celebrado por Alfred Hitchcock em seu filme Correspondente Estrangeiro, é uma espécie ameaçada. Algumas grandes organizações como BBC e NYT têm redes mundiais de correspondentes residentes em sucursais no exterior.


Não faz sentido lamentar isso. Precisamos é estabelecer como pode ser preservado o que tinha real valor no trabalho do correspondente do século 20, e como podemos aproveitas as novas oportunidades que não existiam na era do telégrafo e do telex.


Minha impressão é que há três características do trabalho do correspondente que deveríamos preservar, e melhorar, em novas formas de coleta e transmissão de notícias. São elas: testemunhar de maneira independente, honesta e, até onde for possível, precisa e imparcial eventos, pessoas e circunstâncias; decifrá-los e colocá-los no contexto local, explicando quem é quem e um pouco o por quê; e, por último, interpretar o que está ocorrendo, num quadro comparativo e histórico mais amplo. Testemunhar, decifrar, interpretar.


Sobre testemunhar, há novas maneiras fantásticas de fazê-lo hoje em dia – por vídeo, câmera de telefone celular, etc. – que não estavam disponíveis havia pouco tempo. Evidentemente, a câmera com frequência mente, por isso é sempre bom saber quem está atrás dela. Mas, uma multiplicidade de relatórios de testemunhas oculares e blogs, muitos mantido por pessoas do local que realmente falam a língua (diferentemente de muitos correspondentes), podem produzir uma ótima evidência. Se tivéssemos dependido somente de correspondentes, nossos relatos sobre a morte de Neda Agha-Soltan, a jovem morta em 2009 nos protestos em Teerã contra os resultados das eleições, provavelmente seriam todas de segunda mão – e sem aquelas imagens inesquecíveis.


A decifração local não é necessariamente mais bem feita por um estrangeiro. Observei muitas vezes como correspondentes apóiam-se em quebra-galhos, intérpretes, jornalistas locais e algumas fontes julgadas confiáveis – enquanto eles apenas acrescentam umas pinceladas de cor, um punhado de clichês interpretativos e, claro, a hipérbole. Por que não deixar as vozes locais falarem diretamente, complementadas pelas de especialistas acadêmicos de fora dos países em questão? Isso requer uma edição cuidadosa e competente, é claro, mas certamente será mais barato do que uma sucursal completa.


Quanto à sucursal estrangeira enxugada de hoje, com um único correspondente multitarefa correndo como uma lebre maluca, tentando desesperadamente cumprir os prazos diferenciados para online e impresso, o problema é que o pobre jornalista tem pouquíssimo tempo para pesquisar a fundo qualquer matéria, nem de parar de parar para pensar. Não é por acaso que as melhores reportagens estão em revistas como New Yorker, escritas por jornalistas que dispõem de meses para a elaboração.


Isso nos traz à terceira dimensão: a interpretação. Para isso, ajuda ter alguém experiente, que viu as coisas ocorrerem em lugares e épocas diferentes, que leu e pensou sobre o como e o por quê. Agora ouço dizerem: bem, aí está o futuro dos jornais. Um excesso de informações, ‘notícias’ no sentido mais amplo, são despejadas sobre nós a cada dia. Temos um problema de profusão. O trabalho do jornal de qualidade será peneirar, situar em contexto, dar sequência, como The Guardian e The New York Times fizeram com o tesouro do WikiLeaks.


O perigo reside em fazer uma separação muito rígida entre o intérprete e a testemunha. Por mais que se tenha milhares de filmagens, blogs e transcrições online, nada se compara a estar lá. Foi somente depois de comprar aquelas latas de gasolina, guiar aquele 4X4 e ver o sofrimento com meus próprios olhos, que pude realmente compreender e interpretar de maneira menos inadequada o que se passou em Kosovo. Não se pode fazê-lo somente de uma poltrona. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK


É COLUNISTA E ESCRITOR


 


 


TELEVISÃO


Hebe Camargo deixa o SBT após quase 25 anos


Hebe Camargo anunciou ontem, ao fim da gravação de seu programa, que está deixando o SBT, após quase 25 anos. Ela estreou lá em 4 de março de 1986. ‘É hora de mudar’, disse, em carta lida ao público, ‘ir em busca de novos desafios’. O programa está previsto para ir ao ar no dia 27, mas a direção do SBT ainda não confirma se exibirá a despedida da apresentadora.


Ao jornal O Estado de S. Paulo, o sobrinho e empresário de Hebe, Cláudio Pessutti, negou que ela tenha destino certo em outro canal. No sábado passado, Hebe esteve nos estúdios da Globo no Projac para receber o Troféu Mário Lago, homenagem do Domingão do Faustão. ‘Claro que adoraria trabalhar na Globo, qualquer artista gostaria de trabalhar aqui’, disse ela na ocasião, brincando.


A Globo, por meio de sua assessoria de imprensa, nega que os novos desafios de Hebe estejam lá. A bolsa de apostas está voltada agora para a RedeTV! – Hebe tem excelente relacionamento com o dono da emissora, Amílcare Dallevo, que compareceu ao auditório da loira no início do ano, quando ela retomava o expediente após dar início a um tratamento contra o câncer.


De cinco anos para cá, Hebe recusou pelo menos duas propostas concretas da Record, embora tenha manifestado diversas vezes insatisfação com as decisões de Silvio Santos. As sucessivas mudanças de horário de seu programa na grade do SBT, por exemplo, já foram motivo de desabafo no ar. Só neste ano, a atração da loira trocou duas vezes de horário.


Outro motivo de divergência ocorreu em 2008, quando Silvio Santos reduziu os salários dos principais apresentadores da casa – caso de Hebe – e modificou alguns contratos, para o sistema de parceria, em que dividia com o apresentador gastos e lucros das produções. Porém, em 2009, quando Gugu Liberato migrou para a Record, Silvio contratou outra leva de apresentadores, como Roberto Justus e Eliana, a peso de ouro.


Embora Pissutti negue que a decisão de Hebe tenha a ver com corte de salário, há especulação que os honorários da loira – que seriam de R$ 1,5 milhão em 2008, R$ 1 milhão em 2009 e R$ 500 mil em 2010 – poderiam passar para R$ 250 mil em 2011, fato que desagradou a apresentadora. ‘Só o que posso dizer é que a proposta geral de trabalho não era condizente ao que ela queria’, diz o sobrinho de Hebe. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


 


 


Patrícia Villalba


Tudo pronto para o Boeing de ‘insensato coração’ decolar


Com a voz de trovão mais famosa a ecoar pelos corredores da Central Globo de Produção em Jacarepaguá (Projac), o diretor Dennis Carvalho assusta num primeiro momento, mas surpreende quem passa mais de cinco minutos ao seu lado. Nos bastidores de Insensato Coração, novela das 9 que substitui Passione em 17 de janeiro, ele é de fato exigente e intempestivo, mas nada além do que são alguns paizões enérgicos e adoráveis que a gente conhece bem. ‘Gosto de dirigir novela porque gosto de dirigir ator. Isso para mim é mais importante do que fazer grandes imagens’, diz ele. ‘É claro que as pessoas gostam de ver paisagens bonitas, mas na hora que pega a história, é ela que interessa.’


Novela de Gilberto Braga, por tradição, é ruidosa – Dancin’Days, Vale Tudo, Celebridade, Paraíso Tropical. Mas Insensato Coração, assinada com Ricardo Linhares, já deu o que falar meses antes da estreia, e por motivos capazes de tirar o sono de Dennis – primeiro, pela saída de Ana Paula Arósio, que interpretaria a protagonista, Marina, papel que ficou com Paola Oliveira; depois, pelo afastamento de Fábio Assunção, para poder continuar tratamento contra dependência química. Ele seria o vilão Léo e foi substituído por Gabriel Braga Nunes. Ao Estado, na sua sala no Projac, o diretor fala publicamente pela primeira vez sobre o assunto e, claro, dá detalhes sobre a sempre aguardada ‘parceria Gilberto Braga/Dennis Carvalho’:


Insensato Coração fala sobre o quê?


Sobre relações familiares. As famílias são núcleos muito fortes, e os conflitos acontecem dentro delas. São conflitos que o Gilberto sabe escrever como ninguém. É um retrato da família tradicional, com todos os seus problemas. E não é só a família central como a do Pedro (Eriberto Leão), mas outras famílias também. As histórias vão se entrelaçando, é muito legal.


E por que Florianópolis?


Só pela beleza das praias e do lugar. O Rio já está muito explorado, tem de ir para fora mesmo.


Como passou esses dias de turbulência?


(risos) Sabia que você ia falar disso… Foram dois casos diferentes. O primeiro caso, daquela senhora que abandonou a novela, que nem sei o nome dela (Ana Paula Arósio), a gente estava em Florianópolis, no começo da gravação. Claro que foi tumultuado, terrível, uma surpresa. Todo mundo lá esperando e, de repente, ela liga e diz ‘não vou’. Foi a atitude mais antiprofissional que vi na minha vida. O difícil foi encontrar uma substituta, porque não havia atriz disponível. Tudo isso foi uma tensão muito grande, e eu lá em Florianópolis, resolvendo tudo pelo telefone. Até que acertamos com a Paola (Oliveira). Estou adorando trabalhar com ela, que é um amor e tem um ótimo caráter. Isso para mim é o mais importante. Eu a tranquei por três dias num quarto de hotel, decorando os capítulos. Sobre o outro caso, do Fábio (Assunção), não tenho comentários a fazer. É meu irmão.


O que será feito para recuperar esse atraso?


Estávamos querendo estrear com 18 capítulos de frente (prontos). Talvez diminua um pouco, porque vai ficar apertado. Mas não vai mudar a data de estreia. Chegamos a pensar em pedir, por favor, uma semana a mais. Mas o Silvio de Abreu já escreveu o último capítulo de Passione. Vamos adaptar alguma coisa que foi gravada em Florianópolis com o Fábio, e regravar umas 20 cenas dele.


No Brasil, os autores são muito conhecidos pelo público em geral – o que não costuma acontecer com os roteiristas lá fora. Nesse sentido, no caso da autoria da obra como um todo, você sente que o diretor fica um pouco para trás com relação ao autor?


Você tem razão: nem minha mãe sabia o que eu fazia. Ela dizia ‘o que você faz na TV, meu filho, que nunca te vejo?’. O publicão de novela não sabe o que o diretor faz. E a própria Globo faz a chamada pelo nome do autor ‘uma novela de…’. Então, criou-se o hábito. Mas não sinto que o diretor fique para trás na autoria. não. O autor bota no papel, e a partir dali, a responsabilidade é do diretor. De tudo: música, figurino, cenário, logotipo, festa de lançamento, tudo. É como levantar um boeing.


Esse boeing levanta com quantos passageiros?


(risos) Não contei, mas é mais personagem do que normalmente o Gilberto usa. Ele estreava com 50 ou 60, mas esta novela deve ter uns 70. Tem muitos personagens que entram e saem. O (Hugo) Carvana, por exemplo, fica 15 capítulos; a Fernanda Machado, 7.


O que achou do sucesso da reprise, no Canal Viva, de Vale Tudo, que você dirigiu em 1988? A audiência passa um recado quando consagra uma novela que foi feita há mais de 20 anos?


Sempre soube que Vale Tudo era uma puta novela, mas não imaginava essa repercussão, ainda mais nesse horário (0h45). Você vê como o público está carente de uma boa história. O sucesso de Vale Tudo é a história. É muito bom a gente ver o que fez há 20 anos. Lá em Florianópolis, via quase todos os dias. É bom ver as pessoas mais jovens e também lembrar como eu fazia as cenas. Dá para perceber o salto técnico que tivemos – as câmeras eram precárias, as imagens são horríveis.


Com essa discussão, que nunca termina, sobre o futuro da telenovela e a pulverização da audiência, qual é o sentimento de começar uma novela, sabendo que audiência não será a mesma dos trabalhos anteriores?


Acho que o gênero é difícil acabar, embora esteja correndo um grande risco de ficar repetitivo e cansativo. Os autores tentam se renovar, mas não podem sair do formato do folhetim – amor, traição e assassinato são ingredientes que não podem faltar. Mas, por enquanto, não vejo, infelizmente, concorrência. Seria muito bom se a Record estivesse ameaçando a Globo, se as novelas de lá estivessem dando ibope. Porque para nós, do meio, quanto mais concorrência, melhor. Torço pela Record.


PRÓXIMOS CAPÍTULOS


Música


Em Insensato Coração, a música, sempre especial nas novelas de Gilberto Braga, vai gerar quatro CDs: um de samba, um de músicas nacionais, um de ‘músicas de boate’ e outro de temas internacionais.


De mudança


Gilberto deixa Copacabana, seu cenário preferido, e leva a trama para os bairros do Horto e Gamboa. O primeiro, reduto da classe média carioca, foi sugestão de Ricardo Linhares.


Cenário


A equipe de cenografia trabalha a todo vapor para construir duas cidades cenográficas. Na maior, de 10 mil metros quadrados, está o shopping de Vitória Drumond (Nathália Thimberg), e a boate Barão da Gamboa, palco onde Lázaro Ramos será o ‘rei da noite André’. A menor, de 6 mil metros quadrados, reproduz uma praça do Horto.


Número


Fora a cidade cenográfica, a novela tem cerca de 112 cenários montados em estúdio.


Arco-íris


Kleber, personagem de Cássio Gabus Mendes, deve causar polêmica – jornalista investigativo, tem como defeito a homofobia.


Reprise


Além de Cássio, Glória Pires, Nathália Thimberg e Antônio Fagundes estavam em Vale Tudo (1988), e voltam a trabalhar agora com a dupla Gilberto Braga/Dennis Carvalho em Insensato Coração.


Bem na fita


O elenco tem três bons atores que deixaram a Record recentemente: Gabriel Braga Nunes, Tuca Andrada e Petrônio Gontijo. Na antiga casa, vale lembrar, os três tiveram excelente desempenho em Poder Paralelo, de Lauro César Muniz.


 


 


 


************